Lição 4 Jeremias: suas crises e solidão. 23 de abril de 2017 Texto Áureo Jeremias 1.18 “Porque eis que te ponho hoje por cidade forte, e por coluna de ferro, e por muros de bronze, contra toda a terra, contra os reis de Judá, contra os seus príncipes, contra os seus sacerdotes, e contra o povo da terra”. Verdade Aplicada Os escritos de Jeremias nos mostram que os servos de Deus também passam por momentos de angustia e solidão. Objetivos da Lição Destacar a importância de confiar na ajuda divina e nas horas difíceis; Entender o quanto é importante valorizar o amor de Deus; Revelar como sentir-se seguro no Senhor. Glossário Impetuoso: Agitado, violento; Legado: Determinado benefício, de natureza patrimonial; Sórdidos: Asqueroso, repugnante, torpe, vil, indecente, vergonhoso. Leituras complementares Segunda Sl 73.1 Terça Sl 73.2 Quarta Sl 73.3 Quinta Jr 12.4 Sexta Jr 12.5 Sábado Jr 12.6 Textos de Referência. Jeremias 12.1-3 1 Justo serias, ó Senhor, ainda que eu entrasse contigo num pleito; contudo, falarei contigo dos teus juízos. Por que prospera o caminho dos ímpios, e vivem em paz todos os que cometem o mal aleivosamente? 2 Plantaste-os, e eles arraigaram-se; avançam, dão também fruto; chegado estás à sua boca, mas longe do seu coração. Obs: alterei a edição conforme a RC (revista “mas longe dos seus rins”) 3 Mas tu, ó Senhor, me conheces, tu me vês e provas o meu coração para contigo; impele-os como a ovelhas para o matadouro e prepara-os para o dia da matança. Hinos sugeridos. 33, 169, 394 Motivo de Oração Ore para que o Senhor fortaleça as mãos dos obreiros para prosseguir em Sua obra. Esboço da Lição Introdução 1. Vocação: um convite para servir. 2. Jeremias lamenta sua condição. 3. Vale a pena confiar em Deus. Conclusão Introdução
Nesta lição estudaremos as crises do profeta Jeremias. Observaremos que em todas as ocasiões, ele corajosamente sustentou a sua fé e convicção no Eterno Deus de Israel.
Jeremias foi um personagem de emoções em conflitos permanentes. Os seus escritos trazem as marcas, não apenas de sua personalidade, mas também de suas crises e solidão (Jr 20.1418). Diferente de muitos, Jeremias não fora chamado para ser populista. Ele não era “homem do povo” e nem era obcecado por índices de aceitação. Ao contrário, ele desafiou e contestou as injustiças, as infidelidades, as hipocrisias e as apostasias de sua época, viessem de onde viesse (Jr 2.4-5; 11-13; 7.1-10; 22.13-16; 23.1-4; 9-12; 26.7-8; 28.15-17). Por conta disto, Jeremias sofreu duras e amargas perseguições: a) Seus vizinhos em Anatote, por exemplo, procuraram matá-lo (Jr 11.18-21); b) Sua própria família o perseguia (Jr 12.6); c) Os sacerdotes e oficiais do templo se opuseram e procurava maltratá-lo (Jr 20.1-2; 29.1); d) Os seus compatriotas de Judá os rejeitaram (Jr 23.9; 26.8; 28.1; 29.8); Os ocupantes dos palácios reais e os falsos profetas tentavam neutralizar suas mensagens, usando métodos diversos, no intuito de fazer calá-lo (Jr 36.23,26), sendo lançado numa prisão (Jr 37), numa cisterna (Jr 38), e levado para o Egito contra a sua vontade (Jr 43). Por fim, se a tradição estiver correta, ele foi apedrejado em Daphne, no Egito, pelo povo que estava irado e impaciente, devido as suas denúncias de idolatria. Tudo isso, contribuiu para que Jeremias se tornasse o profeta mais sofrido e solitário de todos os tempos. Ele próprio disse: “... Olhem ao redor e vejam se há sofrimento maior do que o que me foi imposto...“ (Lm 1.12 NVI). 1. Vocação: um convite para servir. Deus chamou Jeremias, ainda bem jovem, para uma missão especial e de grande importância, e deu a ele os recursos necessários dos quais careceria para combater os sórdidos ataques dos inimigos. A missão de Jeremias não seria nada fácil. O apóstolo Paulo deixou bem claro como deve agir um servo de Deus: negar-se a si mesmo, perdoar erros, aceitar opinião a ser visionário (Rm 15.1, 6). Servir a Deus é servir aos outros (Gl 5.13). Verdadeiros servos de Deus são prestativos e não egoístas.
Apesar de comumente associarmos o termo vocação a uma aptidão natural e/ou a um chamamento para realização de um serviço específico. A verdadeira vocação não é apenas o dom ou convite em si mesmo, mas a resposta positiva a esse dom ou chamamento. Em outras palavras, vocação é a disposição de atender e realizar determinada missão. Do ponto de vista humano aquele jovem tímido, sensível e retraído não dava sinal de aptidão natural para aquela tarefa tão árdua e difícil (Jr 1.6-7). No entanto, a única coisa que nos desqualifica quando Deus chama, é não atendê-lo. Quando atendemos, Deus assume a responsabilidade de capacitar e executar através de nós. O Senhor prometeu estar com ele: “Não tenha medo deles, pois eu estou com você para protegê-lo, diz o Senhor” (Jr 1.8 NVI); prometeu realizar com ele: “A todos a quem o enviar, você irá e dirá tudo o que eu lhe ordenar” (Jr 1.7b NVI); prometeu também capacitá-lo e fortalecê-lo para resistir aos ataques dos inimigos: "E hoje eu faço de você uma cidade fortificada, uma coluna de ferro e um muro de bronze, contra toda a terra: contra os reis de Judá, seus oficiais, seus príncipes e povo da terra. Eles lutarão contra você, mas não o vencerão, pois eu estou com você e o protegerei, diz o Senhor” (Jr 1.18-19 NVI). Se o Senhor te chamou para alguma missão e você não se sente capaz. Se entregue inteiramente a essa tarefa e Deus se responsabilizará por você. O importante é você atender o convite para servi-Lo. 1.1. O perigo de ser mal compreendido.
O profeta Jeremias foi impetuoso na mensagem que o Senhor lhe transmitiu: “Porque o meu povo fez duas maldades: a mim me deixaram, o manancial de águas vivas, e cavaram cisternas, cisternas rotas, que não retém águas”. (Jr 2.13). As palavras e Jeremias foram pesadas. Ele sabia que Deus o havia blindado dos seus inimigos. Na nossa jornada, seremos mal interpretados, mal compreendidos, mas, quando isso acontecer, deixe que Deus seja o seu defensor, não existe outro. Ninguém jamais possuiu ou possuirá as Suas qualidades (1Jo 2.1). Deus preveniu o profeta Jeremias das dificuldades que teria pela frente, mas lhe deu plena certeza da presença dEle para orientá-lo a encarar todos os problemas (Jr 1.18-19). Quando falamos que deus é o nosso juiz, Ele é o julgador das nossas aflições, nosso escudo, nosso defensor que nos protege, pois estamos colocando nossa confiança de maneira imparcial nEle.
Ser mal compreendido foi uma das realidades mais presente no ministério profético de Jeremias, e certamente, será também no ministério de todos aqueles que pregam a Verdade. Até nos dias de Hoje, Jeremias, ainda é mal compreendido, principalmente, nos relatos de suas queixas e lamentações (Jr 20.14-18). Quantos não criticam ou ficam horrorizados com Jeremias, quando leem sobre suas invocações de vingança? “Atende-me, ó Senhor; ouve o que os meus acusadores estão dizendo! Acaso se paga o bem com o mal? Mas eles cavaram uma cova para mim. Lembra-te de que eu compareci diante de ti para interceder em favor deles, para que desviasses deles a tua ira. Por isso entrega os filhos deles à fome e ao poder da espada. Que as suas mulheres fiquem sem filhos e viúvas; que os seus homens sejam mortos, e os seus rapazes sejam mortos pela espada na batalha. Seja ouvido o grito que vem de suas casas, quando repentinamente trouxeres invasores contra eles; pois cavaram uma cova para me capturarem e esconderam armadilhas para os meus pés”. (Jr 18.19-22 NVI). Veja ainda Jeremias 11.20; 15.15; 17.18. Não estaria Jeremias apenas pleiteando a justiça e a retidão plena de Deus sobre todos? Não devemos e nem podemos ser injusto e muito menos julgá-lo pelo modelo neotestamentário, pois a sua compreensão de “justiça divina” era compatível com a estrutura que tinha o Antigo Testamento (2 Rs 2.23-25) e não a que tem o Novo Testamento (At 7.60). Talvez não tenha havido em toda história bíblica um profeta tão mal compreendido e impopular como foi Jeremias. 1.2. Vivendo entre inimigos. A palavra audaciosa do Senhor por intermédio de jeremias deixou muita gente irritada. Elas não queriam que seus pecados fossem revelados e combatidos (Jr 11.21). A pregação da Palavra de Deus raramente acarreta amizade. Os indivíduos que são alcançados pela mensagem de repreensão do Senhor, na maioria das vezes, apelam a medidas extremas para calar o mensageiro ou para acabar com ele. Os “doutores da lei” entregaram Jesus a Pilatos pelo simples fato de falar a verdade (Jo 19.11). Não foi diferente com Jeremias. O Senhor mostrou para Jeremias que os homens estavam maquinando matá-lo, inclusive pessoas da própria cidade natal dele, Anatote (Jr 11.21). Ao líder não há muito o que fazer quando existe a falta de compreensão de suas mensagens. Jeremias optou por ficar do lado do Senhor, mesmo custando a sua própria vida. Devemos obedecer a voz de Deus, pois ninguém além dEle sabe o que é perfeito para nós e o que Ele quer é que sejamos felizes, mas, se formos pelo caminho que “achamos” apropriado, sempre iremos quebrar a cara. A bondade de Deus nos ajuda a peregrinar com passos largos. Devemos recorrer a Ele em todos os momentos, entendendo que, no Senhor, somos mais que vitoriosos (Sl 18.50). Necessitamos andar no caminho (Jo 14.6), e praticar o que Deus quer que façamos, caso contrário, as coisas ficam difíceis. “Há caminho que parece direito ao homem, mas o seu fim são os caminhos da morte”. (Pv 16.25).
O que fazer quando todos os esforços e energias são gastos em favor de alguém e estes são retribuídos com provocações, ciladas ou perseguições? Jeremias se propôs viver entre seus patrícios e continuar levando a mensagem de arrependimento e aviso de juízo vindouro, mesmo estes rejeitando o caráter de suas mensagens e de sua pessoa. No entanto, em alguns momentos ele se sentia solitário e certa vez ele expressou seu desejo de se afastar para um lugar deserto para ficar longe de todos. (Jr 9.2). Em outro trecho ele expressa com certo tom de angustia, nunca ter participado de festa ou eventos sociais com os seus patrícios: "Jamais me sentei na companhia dos que se divertem, nunca festejei com eles. Sentei-me sozinho, porque a tua mão estava sobre mim e me encheste de indignação" (Jr 15.17 NVI). Jeremias além de ter feito poucos amigos, também foi privado de casar-se (Jr 16.1). 1.3. Amigos inimigos. Não foi apenas Jeremias que sofreu rejeição da família por fazer a obra do Senhor. O próprio Jesus também sofreu este mal. Seus irmãos diziam que “estava fora de si” (Mc 3.21). Davi era rejeitado pelos próprios de sua casa, seu pai e seus irmãos. Jesse fala de Davi com descaso (1Sm 16.11). O outro exemplo é José, que passa a ser odiado por seus irmãos por Deus ter um chamado especial na vida dele (Gn 37.20). De acordo com a Palavra de Deus, Jeremias sofreu rejeição por sete classes diferentes de pessoas: seus vizinhos (Jr 11.21); sua própria família (Jr 12.6); os sacerdotes (Jr 20.1-2); seus amigos (Jr 20.10); Todo o povo (Jr 26.8); os profetas (Jr 28.10-11); o rei (jr 36.26). Jeremias, além de ser abandonado por todos, por ser porta-voz da palavra de Deus, foi flagelado, depositado em uma prisão como cativo (Jr 37.15-16), e ainda o colocaram numa cisterna que só tinha lama, onde ficou atolado (Jr 38.6). Apesar de rejeitado por todos, o profeta Jeremias jamais foi abandonado pelo Senhor. Em meio a tantos desgostos e amarguras. Jeremias descobriu singeleza e encanto ao consumir intimamente a Palavra de deus, a qual jamais queria abandonar (Jr 15.16).
É um sentimento doloroso e conflitante ter nossos familiares ou amigos como nosso inimigo. A lição apresenta alguns exemplos bíblicos de pessoas que tiveram histórias de rejeição de pessoas próximas. No início de seu ministério, por exemplo, Jeremias estava sofrendo perseguições por parte de seus vizinhos nativos (Jr 11.19-21). Isto preocupou e inquietou Jeremias, que foi questionar a Deus. No entanto, Deus revelou que a situação era pior do que ele imaginava, e disse: “Até mesmo os seus irmãos e a sua própria família traíram você e o perseguem aos gritos. Não confie neles, mesmo quando lhe dizem coisas boas” (Jr 12.6 NVI). Não eram apenas os vizinhos ou habitantes de sua cidade nativa que tramavam contra ele, eram também os seus próprios familiares. Essa realidade, com certeza, aumentou mais ainda a sua angustia. No entanto, Deus conforta Jeremias, dizendo que era exatamente assim que ele também se sentia: “Abandonei a minha casa, deixei a minha propriedade e entreguei aquela a quem amo nas mãos dos seus inimigos. O povo de minha propriedade tornou-se para mim como um leão na floresta.”. (Jr 12.7-8 NVI). Dificilmente refletimos sobre as decepções que o Senhor também experimenta. 2. Jeremias lamenta sua condição. O livro de Jeremias nos mostra que, enquanto os outros profetas procuravam esconder suas fragilidades, Jeremias deixa bem claro seu estado de sofrimento pelo povo. Ele escreveu seu livro com a alma e o coração, nos dando relatos comoventes de sua vida e de suas crises interiores. A fidelidade a Deus muitas vezes gera perseguição e morte (2 Tm 3.12).
Os escritos de Jeremias não são apenas uma combinação de história e profecia, mas também de autobiografia. Há discretamente uma parte biográfica, que se misturam às demais partes do livro, no qual revela o caráter e as fragilidades do profeta. Devido a isto, sabe-se mais da vida pessoal de Jeremias do que qualquer outro profeta do Antigo Testamento. Enquanto, a maioria costuma esconder seus pontos fracos em suas autobiografias, Jeremias, ao contrário, não esconde suas crises e solidão (Jr 9.2; 11.20; 15.15; 17.18; 18.19-22; 20.14-18). 2.1. Pare de reclamar e comece a viver. Jeremias não entendia a razão pela qual o Senhor havia deixado o caminho dos ímpios prosperarem (Jr 12.1). Somente pessoas que tiveram uma real experiência de conversão a Jesus Cristo e estão firmadas na Palavra de Deus terão a força necessária para prosseguir até o fim desta caminhada. A resposta de Deus ao tormento de Jeremias foi profunda. Deus exortou o profeta Jeremias por ter se afligido por tão pouca coisa: “se fatigas correndo com homens que vão a pé, como poderás competir com cavalos? Se tão somente numa terra de paz estás confiado, que farás na enchente do Jordão?” (Jr 12.5). O apóstolo Paulo, um exemplo de persistência, foi um líder que jamais desistiu ou reclamou de sua missão. Ele foi até o fim de seu objetivo, deixando sua marca por onde passava. Pelos relatos bíblicos, parece que os indivíduos que são separados por Deus para transmitir a Sua Palavra são os que mais sofrem, pois sua sensibilidade ao mal e à injustiça aumenta a níveis quase que insuportáveis. Ao abordar as dores assumidas por Paulo, deve-se dizer que ele suportou uma autêntica angustia, causada por algo que era maior que suas dores: seu amor por Cristo! As maiores dores na presente vida não o fizeram calar um só segundo. As marcas de Cristo estavam presentes em seu corpo, mas, principalmente, em seu coração.
No capítulo 12, por exemplo, depois sofrer uma conspiração do povo de sua cidade natal, Jeremias questiona Deus querendo entender o motivo pelo qual Ele tolerava a perversidade e os permitia que prosperassem (Jr 12.1-2). No entanto, a resposta do Senhor àquela angustia de Jeremias, não foi como ele esperava. Ao invés de confortar Jeremias, que estava ameaçado de morte (Jr 11.19-21), o Senhor faz uma pequena repreensão, dizendo: "Se você correu com homens e eles o cansaram, como poderá competir com cavalos? Se você tropeça em terreno seguro, o que fará nos matagais junto ao Jordão?" (Jr 12.5 NVI). Na verdade, Deus estava chamando a atenção de Jeremias por ter ficado abatido com uma “pequena” provocação que estava sofrendo. Deus estava combatendo em Jeremias a autopiedade. Como servos de Deus, devemos ter cuidado e cautela e evitarmos sentir pena de nós mesmos. Parafraseando o texto acima, Deus estava dizendo para Jeremias: Pare de reclamar e se prepare para as próximas! Estas são apenas para te fortalecer, afim de que você possa suportar as outras que virão! Se você já está assim por conta dessas pequenas provações, como poderá enfrentar outras piores, que ainda estão por vir?(Jr 12.5-6). 2.2. Como evitar conflitos existenciais. Jeremias, como qualquer indivíduo, não se sentiu confortável em ser excluído de todo o contexto social (Jr 15.17). O fato de estar sempre sozinho fez com que Jeremias se voltasse contra o Senhor, dizendo: “Porque dura a minha dor continuamente, e a minha ferida me dói e não admite cura? Seria tu para mim como ilusório ribeiro e como águas inconstantes?” (Jr 15.18). Antes, Jeremias havia dito que Deus era “manancial de águas vivas” (Jr 2.13), mas agora o chamou de riacho seco. Um dos grandes testes em atender ao chamado de Deus em tempos difíceis é como você lida com seus conflitos. Chegando a idade de se casar, Deus vetou Jeremias de fazê-lo (Jr 16.1-4). O principal motivo da proibição se deu pelo fato de que não havia futuro imediato para Judá. O ministério do profeta Jeremias não foi fácil.
Ele passou por crises existenciais em busca de respostas para os seus questionamentos. A narrativa a respeito deste profeta apresenta o retrato de um grande homem que, no entanto, experimentou o medo e desespero. Jeremias servia a Deus com toda devoção e, quando se encontrava sem forças, recorria ao Senhor.
Ninguém estar imune de conflitos existenciais. Só o fato de existirmos, como seres humanos, estamos sujeitos a ter várias crises. Diante de conflitos existenciais é comum nos colocarmos em posição de coitados, sentir-se sozinhos e fazer queixas. À medida que a Palavra, por ele proclamada, era rejeitada por todos à sua volta, mas crescia a sua angustia. Um dia, depois de retornar exausto da missão, Jeremias entrou em novo diálogo com Deus. Em seu relato, passou a se posicionar como coitado, dizendo que não tinha feito nada para merecer tamanho horror (Jr 15.10); Depois, expressou se sentir solitário: “Jamais me sentei na companhia dos que se divertem, nunca festejei com eles. Sentei-me sozinho, porque a tua mão estava sobre mim e me encheste de indignação” (Jr 15.17 NVI); E, finalmente lamenta sua situação, dizendo: "Por que é permanente a minha dor, e a minha ferida é grave e incurável? Por que te tornaste para mim como um riacho seco, cujos mananciais falham?" (Jr 15.18 NVI). Como bem colocado pelo comentarista da lição: “antes Jeremias havia pregado que Deus era ‘fonte de água viva’ (Jr 2.13), mas agora o chama de ‘riacho seco’”. (Jr 15.17b). Jeremias, assim como eu, você ou qualquer outra pessoa estamos sujeitos a fraquejar. Mas, a resposta do Senhor veio à altura: "Se você se arrepender, eu o restaurarei para que possa me servir; se você disser palavras de valor, e não indignas, será o meu porta-voz. Deixe este povo voltar-se para você, mas não se volte para eles" (Jr 15.19 NVI). 2.3. Uma questão de confiança. Deus nunca chamou alguém para ser um fracassado. Quando chama, Ele arca com todas as necessidades de quem chamou: “Entrega teu caminho ao Senhor; confia nele, e ele tudo fara.” (Sl 37.5). Jeremias sabia que precisava colocar sua confiança em Deus: “Bendito o varão que confia no Senhor, e cuja esperança é o Senhor. Porque será como a árvore plantada junto as águas, que estende as suas raízes para o ribeiro e não receia quando vem o calor, mas a sua folha fica verde; e, no ano de sequidão, não se afadiga nem deixa de dar fruto.” (Jr 17.7-8). Podemos extrair muitos ensinamentos estudando a vida do profeta Jeremias. Ele era um homem com uma mensagem ríspida, mas de coração afetuoso e humilhado. Sua angustia crescia à medida que a Palavra de Deus era rejeitada por todos à sua volta.
Deus nos ensina através do Profeta Jeremias, que aqueles que confiam demais em si mesmo ou nos outros, para obter sucesso, naturalmente alcançarão decepção. Se o preço da decepção é alto, mais alto ainda é o preço do fracasso, quando desistimos em resposta à indiferença da maioria. Só Deus é a nossa força, não o homem mortal. Nossa confiança no homem não pode nos afastar de Deus e nem podemos confiar nos homens no mesmo nível em que confiamos em Deus. Assim, se quisermos evitar a decepção e o fracasso, o conselho de Deus é:"Maldito é o homem que confia nos homens, que faz da humanidade mortal a sua força e cujo coração se afasta do Senhor. Ele será como um arbusto no deserto; não verá quando vier algum bem. Habitará nos lugares áridos do deserto, numa terra salgada onde não vive ninguém”. (Jr 17.5-6 NVI). Depois das decepções que passara, Jeremias sabia que tudo agora era uma questão de confiança em Deus: “Mas bendito é o homem cuja confiança está no Senhor, cuja confiança nele está. Ele será como uma árvore plantada junto às águas e que estende as suas raízes para o ribeiro. Ela não temerá quando chegar o calor, porque as suas
folhas estão sempre verdes; não ficará ansiosa no ano da seca nem deixará de dar fruto" (Jr 17.7-8 NVI). 3. Vale a pena confiar em Deus. O profeta Jeremias nos inspira a confiar somente no Senhor e nos orienta a desenvolver um relacionamento íntimo com Deus, que requer de nós uma adoração perfeita (Jr 17.7).
A confiança é o alicerce de tudo em nossas vidas. Confiar em Deus é a atitude mais acertada que um ser humano pode ter. Isto porque essa confiança nos dá segurança, alegria e força para enfrentar qualquer desafio. Todavia, a plena confiança no Senhor não surge de uma hora para outra. Ela é gradativa. Vai crescendo aos poucos. O exercício da confiança se faz a partir da primeira resposta aos apelos e às promessas de Deus através da sua Palavra. Depois ela precisa crescer e desenvolver ao ponto de estarmos aptos a esperar e crer mesmo quando não houver o menor motivo para crer. Este é o clímax da confiança. Vale a pena confiar em Deus, pois Ele jamais nos decepcionará (Jr 17.7). 3.1. O legado de Jeremias. Quando buscamos nas escrituras alguma pessoa que se encaixe em uma vida de lealdade ao Senhor, nossos olhos incidem sobre a vida do profeta Jeremias. Os Heróis da fé tiveram algum pecado narrado em sua biografia: Abraão mentiu; Isaque cometeu o mesmo pecado do pai, Abraão; Jacó enganou; Moisés matou, Davi adulterou e Pedro blasfemou. Diferentemente destes homens, Jeremias teve a sua trajetória marcada por chorar pelo povo. Mesmo observando várias vezes seu íntimo sendo tomado por intensa agonia, Jeremias nunca se afastou do caminho desenhado para ele por Deus. O profeta Isaias nos adverte a confiar somente no Deus de Israel: “Confiai no Senhor perpetuamente, porque o Senhor Deus é uma rocha eterna.” (Is 26.4). Provérbios 22.1 diz: “Mais digno de ser escolhido é o bom nome do que as muitas riquezas; e o ouro.”. O profeta Jeremias teve sua visa exposta na Bíblia e não encontramos nada que desabone a sua conduta. Não sirva de fiador a ninguém. O cristão tem que ter nome limpo na praça (Pv 6.1, 4; 2Tm 2.15).
Quando buscamos analisar nas Escrituras, vemos também outros grandes homens, além de Jeremias, que decidiram ser fiel a Deus em qualquer circunstância. Por este motivo agradaram o coração do nosso Deus.Tudo o que fazemos será lembrado pelo Senhor. Por isso, pratiquemos o bem, andando na luz e fazendo a diferença no meio desta geração perversa e conturbada. Em Ezequiel, Deus mostra claramente o quanto se lembra dos atos de justiça do homem, citando três pessoas da narrativa bíblica que se destacaram e os usa como modelo para uma grande lição. São eles Noé, Daniel e Jó (Ez 14.14). Quando tomamos atitudes de agradar a Deus, independente da situação que nos encontramos o Senhor também se agradará de nós e poderá nos usar como referência em meio a este mundo corrupto (Ml 3.16-18). 3.2. Crescimento na mudança. Jeremias talvez fosse um pouco infantil, sem maldade, pois confiava demais nos outros e não notava que eles maquinavam contra ele (Jr 11.19). Talvez seja esta a razão porque apanhava e sofria (Jr 15.10). O próprio Deus advertiu, dizendo: “Não te fies neles, ainda que te digam coisas boas.” (Jr 12.6). Com este alerta, Jeremias aprendeu que não poderia confiar nos seus irmãos e na casa do seu pai. Para obter o sucesso na sua chamada, ele aprendeu que sua vitória estava em obedecer a voz do de Deus: “Assim diz o Senhor: Maldito o homem que confia no homem, e faz da carne o seu braço, e aparta o seu coração do Senhor.” (Jr 17.5).
Somos abençoados quando depositamos nossa confiança em Deus. Somos comparados a uma árvore plantada junto às águas que suas raízes se estendem para o ribeiro e que, mesmo vindo o calor e a sequidão, a folha fica verde, e não deixa de dar fruto e prosperar (Jr 17.8).
Crescer na mudança é um exercício desafiador, pois exige muitas vezes o abandono da zona de conforto. Exige o desenvolvimento de novas habilidades, a busca por novos caminhos, a superação de limites e a coragem para não retroceder. Jeremias sofreu muitas injustiças, insultos, açoites, prisões por pregar as verdades de Deus, mais aprendeu que muitas vezes decepções e tribulações são também provenientes ou agravadas pelo excesso de confiança que depositamos nas pessoas em nossa volta. Jeremias, apesar de apresentar um caráter extremamente firme nas suas mensagens, tinha também, um coração bom, terno e sensível e confiava demais nas pessoas em sua volta (Jr 11.18-19a). Foi preciso o próprio Deus alertá-los dizendo que eles aparentavam serem amigos, mas, na verdade, eram inimigos (Jr 12.6), e que o sucesso de sua missão, dependeria do Senhor e não do “braço” do homem (Jr 17.5). 3.3. Um profeta dependente de Deus. O profeta Jeremias mostrou um espírito de inteira dependência ao Senhor. Ao receber a missão profética, sabia que precisaria viver conforme a vontade divina. Uma maneira exemplar de dependência total ao Senhor foi a compra de um terreno de seu primo em Jerusalém, mesmo quando já havia profetizado a destruição daquela cidade (Jr 32.6-9). Com este ato, Jeremias demonstra sua absoluta confiança em Deus. O profeta tinha convicção de que o Senhor restabeleceria aquela nação. A confiança de estar nas mãos de Deus é uma das características de uma pessoa que atende ao chamado do Senhor. Judá estava rodeada pelo inimigo. Seu aniquilamento era uma questão de dias. Em meio esta desordem, Jeremias compara do seu primo Hananel um terreno na cidade de Ananote. Deus deu ao povo, através da compra da propriedade por meio de Jeremias, uma esperança: “E comprar-se-ão campos nesta terra, da qual vós dizeis: Está deserta, sem homens nem animais; Está dada nas mãos dos caldeus” (Jr 32.43).
Quando os tempos estão difíceis, nossa tendência é olhar para o presente como se não houvesse futuro. Jeremias pregava um tempo de iminente ruína e destruição sobre Judá, mas pregava também que viria um tempo de restauração. Ensinava que depois da catástrofe haveria um futuro para o seu povo. A Babilônia já sitiava Jerusalém e para demonstrar sua inteira confiança nas promessas de Deus, Jeremias resolve atender um pedido de compra de um terreno de seu primo, muito embora a cidade já estivesse “entregue” nas mãos dos Babilônios. Jeremias fez questão de comprar, pagar e selar as assinaturas da escritura na presença de inúmeras testemunhas. Ainda, na presença destes, instruiu Baruque, que pegasse as cópias e originais da escritura, colocasse num jarro de barro para que se conservasse, pois segundo a palavra do Senhor, aqueles campos e vinhas voltariam a ser negociados naquela terra (Jr 32.1-25). Quem em sã consciência compraria uma propriedade em pleno tempo de destruição e ruína? Jeremias com este ato estava apenas mostrando na prática sua absoluta confiança e dependência de Deus. Conclusão. O relacionamento do profeta Jeremias com Deus vinha em primeiro lugar. Depois vinha o árduo compromisso de anunciar a Palavra de Deus ao seu povo. Porém, tal atitude não o tornava muito popular entre o povo de Israel.
A maioria dos profetas, na sua caminhada com Deus, tiveram êxitos ocasionais para alegrarlhe o coração no meio das dificuldades. O profeta Jeremias, por sua vez, só acumulou
sofrimentos e oposições os quais geraram angústias e profundas dúvidas no seu coração, enfrentando situações que ele próprio muitas vezes não entendia (Jr 4.19; 8.18,21; 9.1,10; 13.17). Humanamente, as recompensas de seu trabalho ao invés de serem de “reconhecimentos”, foram ofensas; ao invés de gratidão, foram hostilidades; ao invés de amor, ódio (Lm 3.1-20). Todavia, Deus nos deu um registro que torna Jeremias um dos maiores profetas de todos os tempos. Questionário. 1. Segundo o apóstolo Paulo, como deve agir um servo de Deus? R: Deve negar-se a si mesmo, perdoar erros, aceitar opinião e ser visionário (Rm 15.1, 6). 2. Como se chamava a cidade natal de Jeremias? R: Anatote (Jr 11.21). 3. O que a fidelidade a Deus muitas vezes gera? R: Perseguição e morte (2Tm 3.12). 4. O fato de estar sempre sozinho fez com que Jeremias se voltasse contra quem? R: O Senhor (Jr 15.18). 5. De quem Jeremias comprou um terreno em Jerusalém? R: Do seu primo (Jr 32.9).