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2. Jó

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LIVROS POÉTICOS

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O Livro de Jó ocupa um lugar muito particular na Palavra de Deus. Ele tem um caráter totalmente próprio, e ensina lições que não vamos achar em nenhuma outra parte do inspirado volume. Não é o nosso propósito abordar a questão da autenticidade deste precioso Livro nem aportar as provas da sua divina inspiração. Estas coisas temos por certas; e não temos a menor dúvida em quanto à sua veracidade, por quanto deixamos tais provas em mãos mais capazes. Recebemos o Livro de Jó como parte das Sagradas Escrituras e, portanto, para proveito e bênção do povo de Deus. Não precisamos de provas para nós, nem pretendemos oferecer nenhuma delas aos nossos leitores.

O Livro de Jó tem um prólogo (1.1-2.13) muito bem escrito e um igualmente magnífico epílogo (42.1-17). Entre esses capítulos de abertura e encerramento se encontra registrado uma série de conversações que ocorreram entre Jó e seus amigos (capítulos 3 a 37). Suas falas formam a parte principal do Livro e estão registradas com detalhes, de forma que podemos compreender as angústias de Jó, como também, pessoas bem-intencionadas podem entender erroneamente os propósitos soberanos de Deus para os homens.

A estrutura do Livro de Jó é essencial para compreendê-lo. Jó era conhecido na tradição hebraica como um homem santo como está escrito: “havia um homem na terra de Uz, cujo nome era Jó; e este era homem sincero, reto e temente a Deus; e desviava-se do mal” (Jó 1.1). O diálogo poético (3-31) lida com o profundo problema teológico do significado do sofrimento na vida de um homem justo.

Que o pecador sofra, todos entendemos! Mas o justo? Aquele que faz de tudo para agradar a Deus? Jó não entende as causas dessas calamidades, mas consola-

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-se com o pensamento de que Deus envia aos homens tanto o bem quanto o mal. É sob esta ótica que o Livro vai se desenvolver no problema do sofrimento humano.

Em uma série de debates Jó defende sua integridade contras as acusações de três amigos que pensam estar defendendo a Deus. Nos capítulos 29-31 ele encerra o debate com um protesto formal de sua inocência e lança um desafio a Deus, neste momento Eliú interfere para falar contra Jó (32-37). Finalmente o Senhor intervém para fazer dois discursos (38-41) e Jó tem uma reação final (42).

2.1 AUTORIA

A autoria do Livro de Jó é incerta, várias são as hipóteses levantadas quanto à autoria deste livro. Nomes semelhantes aparecem nos textos egípcios e nas Cartas de Armana, tanto a derivação, quanto o significado do nome bwya (Iyyôb) permanecem incertos.

A tradição judaica (Baba Bathra 14b e 15a) declara que o autor foi Moisés, bem como alguns estudiosos, outros a Eliú e ainda outros a Salomão e por fim ao próprio Jó.

O fato é que não há nenhuma fundamentação consistente quanto à autoria desta obra. Tudo o que se pode saber do autor está neste Livro.

2.2 ASSUNTO DO LIVRO

O Livro de Jó investiga questões que têm perturbado o ser humano desde o princípio – o sofrimento do justo. A pergunta que ecoa por todo o Livro é: Por que sofrem os justos? Desde muito tempo as pessoas têm se preocupado com as terríveis desigualdades da vida e perguntam: Como um Deus bom pôde fazer um mundo como este, onde existe tanto sofrimento? Como pode um servo de Deus continuar convencido de que Ele é justo, quando freqüentemente abatem sobre si tragédias e desolação? Assim sendo, é oportuno que este Livro trate de um dos problemas mais antigos que afeta toda humanidade. O drama de Jó oferece uma solução para este problema.

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Gleason Archer Jr. faz uma interessante análise do tema de Jó dizendo: “Este Livro trata com o problema teórico da dor na vida dos fiéis. Procura responder à pergunta: Por que os justos sofrem? Esta resposta chega de forma tríplice: 1. Deus merece nosso amor à parte das bênçãos que concede; 2. Deus pode permitir o sofrimento como meio de purificar e fortalecer a alma em piedade; 3. Os pensamentos e os caminhos de Deus são movidos por considerações vastas demais para a mente limitada do homem possa compreender, já que o homem não pode ver os grandes assuntos da vida com a mesma visão ampla do Onipotente. Mesmo assim, Deus realmente sabe o que é o melhor para sua própria glória e para nosso bem final. “Esta resposta é dada em contraste aos conceitos limitados dos três consoladores de Jó: Elifaz, Bildade e Zofar”.1 Se a princípio é indesejável a experiência do sofrimento, o seu propósito, de acordo com a soberana vontade de Deus, é sempre sublime. O Livro de Jó ensina que Deus “tem um propósito ao enviar o sofrimento aos homens; que ele castiga o homem com a intenção de trazê-lo mais perto de si mesmo. Deus usou as aflições para experimentar o caráter de Jó e como um meio de revelar-lhe um pecado do qual até então não se tinha dado conta: autojustiça”. 2

2.3 DATA DA COMPILAÇÃO

O Livro de Jó é um dos mais difíceis Livros do Antigo Testamento para se traduzir. Esta afirmação é feita com base nas diferenças existentes entre versões modernas e antigas do texto de Jó. O Livro tem muitas palavras raras, o que torna dificílima sua tradução, forçando os tradutores a fazer cautelosas suposições. É desconhecida a data em que foi escrito o Livro, entretanto várias datas têm sido sugeridas pelos estudiosos como: no período interbíblico, na época de Salomão, no período mosaico etc.

1. ARCHER JR, Gleason. Merece confiança o Antigo Testamento. 3ª ed. São Paulo: Vida Nova, 2000. 2. PEARLMAN, Myer. Através da Bíblia Livro por Livro. São Paulo: Editora Vida, 1999, p. 91.

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Existem várias datas propostas: a) Na época de Salomão: Keil, Delitzsch, Haevernick b) No século VIII (antes de Amós): Hengstenberg c) No princípio do século VII: Ewald Riehm d) Primeira metade do século VII: Staehelin, Noeldeke e) Na época de Jeremias: Koenig, Gunkel, Pfeiffer f) No exílio babilônico: Cheyne, Dillmann g) No século V: Moore, Driver, Gray, Dhorme h) No século IV: Eissfeldt, Voltz i) No século III: Cornill

2.4 ESTRUTURA DO LIVRO

A estrutura do Livro de Jó segue um esquema lógico e literariamente harmônico. O Livro foi escrito seguindo uma seqüência coerente, tendo em vista o seguinte esquema: a) Prólogo – composto numa prosa em que resume a existência de Jó antes do seu sofrimento, e as acusações que Satanás levantou contra ele perante o Senhor Deus. b) Diálogos – mediante três diálogos, Jó discute com seus amigos o tema principal deste Livro: o sofrimento do justo. c) Monólogos – dois são os monólogos do Livro: o de Eliú e o de Deus. O primeiro afirmando que Deus tem o direito de provar os seus servos, com a finalidade de que estes alcancem a perfeição. O outro, o monólogo de Deus que, leva Jó a compreender seus desígnios. d) Epílogo – narra a restauração de Jó, onde seu último estado se torna melhor do que o primeiro.

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2.5 DEUS EM JÓ

Há uma variedade de nomes divinos no Livro de Jó. No prólogo e no epílogo, o narrador se dirige a “YHWH” na forma israelita normal (o Senhor), o verdadeiro Deus e Senhor Supremo como também o termo genérico Elohim (Deus). Fora isso, três nomes de Deus são adotados consistentemente: El (Deus), eloah (Deus), e shadday (o Todo Poderoso).

PESSOAS-CHAVE: Jó, Elifaz, Bildade, Zofar e Eliú.

2.6 ESBOÇO DE JÓ

Introdução (1.1-2.13). a) Jó é consagrado e rico (1.1-5). b) Satanás desafia o caráter de Jó (1.6-12). c) Satanás destrói as propriedades e os filhos de Jó (1.13-22). d) Satanás ataca a saúde de Jó (2.1-8). e) Reação da esposa de Jó (2.9-10). f) A visita dos amigos de Jó (2.11-13).

I. Diálogo entre Jó e os seus três amigos (3.1-26.1). a) Clamor de desespero de Jó (3.1-26). b) Primeiro diálogo (4.1-14.22). c) Segundo diálogo (15.1-21.34). d) Terceiro diálogo (22.1-26.14).

II. Discurso final de Jó aos seus amigos (27.1-31.40).

III. Eliú desafia Jó (32.1-37.24).

IV.Deus responde de um remoinho (38.1-41.34).

V. A resposta de Jó (42.1-6).

VI. Parte histórica final (42.7-17).

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