5 minute read

5. Eclesiastes

LIVROS POÉTICOS

5

Advertisement

ECLESIASTES

O título “eclesiastes” é derivado da tradução grega de “qoheleth”, que significa “pregador”. O Livro de Eclesiastes contém uma análise das experiências adquiridas por seu autor ao longo de sua vida e uma conclusão sobre o verdadeiro significado da mesma: longe de Deus tudo é vazio, oco, sem sentido, enfim, “tudo é vaidade”.

Esse tema é desenvolvido em vários discursos, sendo que o primeiro bloco demonstra a insignificância da vida e o segundo esboça deduções éticas das suas observações sobre a vida. Enfaticamente, cerca de 27 vezes, alerta que está relatando sua observação nas eventualidades que ocorrem “abaixo do sol”, excluindo, portanto, a realidade “além do céu ou sol”!

A conclusão de que tudo é vaidade e aflição de espírito é, por conseguinte, inevitável, e a mensagem de Eclesiastes é que a vida longe de Deus é repleta de canseira e desapontamentos. Dessa maneira, “o problema que Salomão enfrentou foi como achar felicidade e satisfação longe de Deus (1.1.-3). Ele buscou na ciência (1.4-11), mas não teve resposta. Buscou-a na filosofia (1.12-18), mas em vão. Descobriu que o prazer (2.1-11), a alegria (v.1), a bebida (v.3), a construção (v.4), as possessões (v.5-7), a música (v.8) são todos vazios. Ele experimentou o materialismo (2.12-26), o fatalismo (3.1-15), o deísmo (3.1-4.16), mas esses também eram vãos. A religião natural (5.1-8), a riqueza (5.9-6.12) e mesmo a moralidade (7.1-12.12) mostraram-se igualmente inúteis”.6

5.1 AUTORIA

Encontramos alusão à sabedoria (1.16), à riqueza (2.8), aos servos (2.8), aos prazeres (2.3) e a atividade de edificação espalhadas por todo o Livro. Assim sendo, têm-se atribuído a Salomão a autoria desse Livro devido à informação oferecida

6. MEARS, Henrietta. Estudo Panorâmico da Bíblia. São Paulo: Vida, 2006.

29

LIVROS POÉTICOS

nos dois primeiros versículos do capítulo inicial. A tradição judaica é pacífica em atribuir ao rei Salomão sua autoria. 7

Stanley Ellisen afirma que “caso Salomão não fosse seu autor, a falsa personificação do mais sábio de todos os homens sábios teria sido descoberta há muito tempo pelos rabinos de Israel, e esses não permitiriam a inclusão do Livro no Cânon”. 8 Note o seguinte:

a) O autor afirma “venho sendo rei em Jerusalém” (1.12 ARA). b) A descrição de Eclesiastes (2:1-11) confere com as riquezas que Salomão possuiu e construiu (2 Crônicas 8.1-9.28). c) O autor identifica-se como aquele que reuniu e organizou muitos provérbios (12.9). d) Ninguém possuiu tanta sabedoria, prosperidade e expressão mundial no período monárquico, quanto Salomão, de fato, ele se tornou uma referência em muitos sentidos para seus posteriores.

5.2 TEMA

O escritor se dispõe a explorar o significado da vida, e conclui dizendo: “Vaidade de vaidades! Tudo é vaidade! Esse é o tema que será desenvolvido por todo o Livro.

O “Pregador” como é chamado, escreve sob a perspectiva humana, só neste mundo, olhando para frente, para trás e para os lados, porém quando olha para cima, vê Deus e encontra respostas para o anseio de sua alma e fica satisfeito.

O autor apresenta uma experiência de frustração, procurou a felicidade nos bens materiais e, quando conseguiu tudo o que desejou seus olhos, concluiu que “tudo era vaidade e correr atrás do vento, e nenhum proveito havia debaixo do sol” (2.10-11). Se esta declaração fosse pronunciada por um homem pobre, poder-se-ia chamá-lo de leviano. Porém advinda de um homem que tudo possuía, e que nada faltava, torna-se então uma máxima verdadeira.

Os judeus lêem este Livro na Festa dos Tabernáculos. O rabino David Gorodovits explica a razão desta prática entre os judeus “sendo Sucót considerado Zeman Simcha-

7. Eclesiastes/ Rei Salomão Ben David. São Paulo: Ed. Maayanot, 1998, prefácio. 8. ELLISEN, Stanley A. Conheça melhor o Antigo Testamento. São Paulo: Editora Vida, 1999, p. 191.

30

LIVROS POÉTICOS

tênu, ou seja, ‘época de nossa alegria’, quando, em Israel, os celeiros estão abarrotados com os frutos da colheita, seria fácil entregar-se a futilidades e lazer, esquecendo de onde veio a benção que resultou no sucesso do trabalho. É exatamente quando a leitura do Cohelét, com suas mensagens profundas, conscientiza-nos da bondade e da justiça do Eterno, sem as quais nenhum sucesso pode ser alcançado pelo ser humano”. 9

5.3 DATA DA COMPILAÇÃO

Estudiosos modernos têm argumentado que este Livro não poderia ter sido escrito antes do exílio, devido ao gênero filosófico do Livro e suas muitas palavras distintas. Entretanto a corrente mais conservadora tem datado o Livro na época de Salomão, por volta dos séculos VIII ou VII a.C.

Gleason Archer, de linha tradicional, afirma que foi Salomão quem escreveu, argumentando: “Esta suposição é confirmada por numerosas referências internas, tais como as referências à sua incomparável sabedoria (1.16), suas riquezas sem igual (2.8), seu séquito de inúmeros servos (2.7), suas oportunidades para o prazer carnal (2.3), e suas atividades extensivas de construções (2.4-6). Nenhum outro descendente de Davi se enquadra nestas especificações senão o próprio Salomão”.10

5.4 ESBOÇO DE ECLESIASTES

I. Prólogo (1.1-2). a) Identificação do Livro (1.1). b) Resumos das investigações do Pregador (1.2).

II. Estabelecimento do Problema (1.3-11). a) Pode-se encontrar algum valor verdadeiro nesta vida? (1.3). b) Uma refutação das soluções humanísticas (1.4-11).

III. Tentativas de solução para o problema (1.12-2.26). a) A refutação da razão pura: A sabedoria humana, sozinha, é inútil (1.12-18).

9. MELAMED, Meir Matzliah. Torá a Lei de Moisés. São Paulo: Sefer, p. 669. 10. ARCHER JR, Gleason. Merece confiança o Antigo Testamento. 3ª ed. São Paulo: Vida Nova, 2000, p.436.

31

LIVROS POÉTICOS

b) O fracasso do hedonismo: O prazer não tem sentido em si mesmo (2.1-11). c) O fracasso da compensação: O sábio e o tolo encaram um fim comum (2.12-17). d) O fracasso do materialismo (2.18-26).

IV. Desenvolvimento do tema (3.1 - 6.12). a) Inutilidade dos esforços humanos em mudar a ordem criada (3.1-15). b) Inutilidade de um fim igual a criaturas desiguais (3.16-22). c) Inutilidade de uma vida oprimida (4.1-3). d) Inutilidade da inveja (4.4-6). e) Inutilidade de ser sozinho (4.7-12). f) Inutilidade de uma monarquia hereditária (4.13-16). g) Inutilidade do fingimento numa religião formal (5.1-7). h) Inutilidade de sistemas de valores materialistas (5.8-14). i) Inutilidade de deixar para trás, na morte, os produtos do trabalho (5.15-20). j) Inutilidade da futilidade de uma vida despojada (6.1-9). k) Inutilidade do determinismo da natureza (6.10-12).

V. A sabedoria prática e os seus usos (7.1 - 8.9). a) Provérbios moralizantes sobre vida e morte, bem e mal (7.1-10). b) A sabedoria e as suas aplicações (7.11-22). c) Observações sábias variadas (7-23 - 8.1). d) A sabedoria na corte do rei (8.2-9).

VI. Um retorno ao tema (8.10 - 9.18). a) Inutilidade da compensação (8.10 - 9.12). b) Inutilidade da natureza instável do homem (9.13-18).

VII. Mais sobre a sabedoria e seus usos (10.1 - 11.6).

VIII. O único valor é temer a Deus e obedecê-Lo (11.7 - 12.7). a) O primeiro resumo das conclusões (11.7-10). b) O segundo resumo: alegoria da velhice e morte (12.1-7). IX. Epílogo: Confirmação da conclusão (12.8-14). a) Resumo das conclusões do Pregador (12.8). b) Resumo das conclusões do pregador através de um discípulo (12.9-14).

32

This article is from: