Parque Linear Guarapiranga

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KEROLLAY PEREIRA DA SILVA ANDRADE

PARQUE LINEAR GUARAPIRANGA

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Centro Universitário Senac com exigência parcial para obtenção do grau de Bacharel de Arquitetura e Urbanismo. Orientação: Prof Ms. Marcella de Moraes Ocke Mussnich. São Paulo 2017



AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiramente a Deus pela oportunidade de ter vivenciado essa trajetória de muitos obstáculos mas também de muitos momentos que estarão eternizados dentro de mim. Aos meus pais, em especial, a minha mãe Lucineide Pereira que desde o momento em que eu passei no vestibular, viveu esse sonho louco comigo. A minha orientadora Marcella Ocke por ter me ajudado a concluir mais uma etapa da minha vida e ser além de professora, uma pessoa com o coração nobre. E por fim, aos meus amigos maravilhosos da faculdade e da vida que de alguma maneira me acompanharam e me ajudaram nesse longo percurso de aprendizado.


RESUMO

Os parques urbanos são espaços públicos arborizados destinados a recreação e possibilitam melhor qualidade de vida para seus usuários, acompanhando juntamente as transformações urbanísticas da cidade. A criação dos parques urbanos em São Paulo começou com a participação pública e privada, alguns nasceram de vazios urbanos e de glebas particulares e já outros de áreas designadas em loteamentos, que é o caso dos parques localizados em represas. Como protagonista da área de intervenção deste Trabalho de Conclusão de Curso (TCC), a Represa Guarapiranga abastece uma grande parcela da população e é considerada uma das principais represas da cidade de São Paulo, porém no decorrer dos anos ela acabou se tornando não só um espaço atrativo de lazer social e contemplativo, mas também uma área que apresenta crescimento desordenado. Portanto, o trabalho a ser apresentado propõe a recuperação e requalificação de um trecho escolhido à margem da Represa, localizado na Av. Atlântica – Zona Sul, que tem como resultado a criação de um parque linear de caráter ambiental.

PALAVRAS-CHAVE: Represa Guarapiranga, Manancial, Recuperação, Requalificação, Parque Urbano, Parque Linear, Áreas verdes e Ambiental.


ABSTRACT

KEY WORDS: Guarapiranga Dam, Source, Recovery, Requalification, Urban Park, Linear Park, Green Areas and Environmental.

The urban parks are wooded public spaces destined for recreation and allow a better quality of life for its users, accompanying together the urban transformations of the city. The creation of urban parks in São Paulo began with public and private participation, some were born from urban voids and from private lands and others from designated areas in subdivisions, which is the case of parks located in dams. As protagonist of the intervention area of this Course Completion Work (TCC), the Guarapiranga Dam supplies a large part of the population and is considered one of the main dams in the city of São Paulo, but over the years it has become not only a attractive space of social and contemplative leisure, but also an area that presents disorderly growth. Therefore, the work to be presented proposes the recovery and requalification of a stretch chosen to the banks of the Dam, located at Av. Atlântica - Zona Sul, which will result in the creation of a linear environmental park.


SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO

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2. FUNDAMENTAÇÃO

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2.1 PARQUES URBANOS 2.1 PARQUES URBANOS

3. ESTUDOS DE CASO

3.1 PARQUE MANANCIAL DAS ÁGUAS PLUVIAIS, CHINA 3.2 PARQUE DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL PROFESSOR MELLO BARRETO, RJ 3.3 PARQUE LINEAR CANTINHO DO CÉU, GRAJAÚ

4. ANÁLISE DO TERRENO

4.1 JUSTIFICATIVA 4.2 CONTEXTO HISTÓRICO 4.3 REPRESA GUARAPIRANGA 4.4 ÁREA DE INTERVENÇÃO

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4.5 MEIO FÍSICO 4.6 LEGISLAÇÃO

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5. PARQUE LINEAR GUARAPIRANGA

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6. CONSIDERAÇÕES FINAIS

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7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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8. LISTA DE IMAGENS

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5.1 SETOR I 5.2 SETOR II 5.3 SETOR III 5.4 SETOR IV

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1. INTRODUÇÃO

A necessidade das cidades em criar espaços para o lazer, nasceu no fim do séc. XVIII e a cada dia que passa novos parques urbanos evoluem acompanhando as mudanças urbanísticas. Já os parques lineares surgiram no séc. XIX em países da Europa e hoje são bastante planejados no mundo todo e acabaram se tornando uma alternativa de projeto urbanístico para frear a degradação de áreas urbanas com cursos d’aguas e áreas marginais. Em São Paulo, a maioria dos parques urbanos foi implantado pelo poder público, mas alguns contaram com a participação da iniciativa privada. Alguns vazios urbanos sem ocupação, compra de glebas particulares ou em outros casos, áreas designadas em loteamentos também fazem parte da construção dos parques urbanos na cidade (Kliass, 2010). Hoje em dia existe uma má distribuição de parques em São Paulo e com isso acaba existindo uma carência desses espaços em bairros periféricos. Os bairros periféricos da cidade estão afastados do centro e muitas vezes o deslocamento acaba dificultando o acesso ao lazer e cultura. A Represa Guarapiranga abastece uma grande parcela da população e é considerada um dos principais mananciais da cidade de São Paulo, porém no decorrer dos anos ela acabou se tornando não só um espaço atrativo de lazer social e contemplativo, mas também uma área que apresenta crescimento desordenado de residências, bares e restaurantes ao redor. Com isso o objetivo dessa pesquisa

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é entender as dificuldades que essas áreas de manancial enfrentam com a proximidade do tecido urbano e propor um projeto com diretrizes de recuperação e requalificação e a criação de um desenho paisagístico. Após uma análise inicial da região, o perímetro escolhido para a realização do projeto foi uma área à margem da Represa que está localizada em uma importante avenida do extremo Sul de São Paulo: a Avenida Atlântica – Socorro. Essa avenida tem como característica principal uma tipologia de uso do solo que varia de residências de gabarito baixo à alta concentração de comércio e serviços. Como eixo de ligação viário para o centro, durante a semana o fluxo de carros e ônibus é intenso durante o dia e ao anoitecer principalmente aos finais de semana, a avenida que é conhecida pela implantação de alguns bares e casas noturnas famosas na região, fica movimentada de pessoas procurando diversão. A recuperação e requalificação da área foi feita através de um projeto paisagístico de um parque linear. Precisamente entre o perímetro do antigo Iate Clube Santa Paula e o Parque Praia do Sol, o parque além de trazer mais verde, lazer e qualidade de vida para os visitantes, é também um instrumento fundamental para frear o crescimento desordenado que vem acontecendo à margem da Represa, preservando a paisagem e agregando de forma respeitosa o contato entre o homem e a área de manancial.


2. FUNDAMENTAÇÃO



2.1 PARQUES URBANOS ESPAÇOS PÚBLICOS – ESPAÇOS LIVRES LAZER RECREAÇÃO QUALIDADE DE VIDA VEGETAÇÃO

Fig. 1 Central Park, Nova York. Séc. XIX

Consideramos então como parque todo espaço público destinado a recreação em massa, capaz de incorporar também intenções de conservação do espaço.

“O espaço livre é aqui entendido como todo espaço (e luz) nas áreas urbanas e em seu entorno, não cobertos por edifícios.” Magnoli (2006)

O parque urbano é um produto da cidade da era industrial e nasceu no fim do séc.XVIII da necessidade de atender espaços adequados para a demanda social: o lazer e contrapor –se ao ambiente urbano. De acordo com Frederick Law.Olmsted (2010), criador do projeto para o Central Park, Nova York, parque significa:

Fig. 2 Central Park, Nova York

“... Reservo a palavra parque para lugares com amplidão e espaços suficientes e com todas as qualidades necessárias que justifiquem a aplicação a eles daquilo que pode ser encontrado na palavra cenário ou na palavra paisagem, no seu sentido mais antigo e radical, naquilo que os aproxima muito do cenário.”

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Para Kliass (1993), a definição de parque corresponde à:

“Espaços públicos com dimensões significativas e predominância de elementos naturais, principalmente cobertura vegetal, destinados a recreação.” A principal referência para a criação dos primeiros parques urbanos na Europa foi o modelo paisagístico dos jardins ingleses do séc. XVIII. Houve o rompimento com a tradição dos jardins barrocos e uma nova linguagem

informal de linhas com curvas, relevos em colinas, rios e lagos e extensos gramados e grupo de flores caracteriza os jardins ingleses. Em Paris, Haussmann juntamente com arquitetos e engenheiros renomados, estabelece para os parques um sistema de áreas verdes em diferentes escalas, interligadas pelas grandes avenidas. Já em relação aos parques americanos, como citei anteriormente, o arquiteto e paisagista Frederick Law Olmsted é o grande responsável pelo movimento de embelezamento das cidades norte americanas.

De acordo com Kliass (1993),

“transformações mais efetivas na concepção dos parques urbanos começam a despontar logo após a Primeira Guerra Mundial. Depois da Segunda Guerra Mundial, as experiências das cidades novas da Inglaterra, na França e nos Estados Unidos introduziram uma nova concepção urbanística e, consequentemente, em relação as áreas verdes, incorporando os conceitos da Carta de Antenas e do arquiteto e urbanista Le Corbusier. Fig. 3 Projeto paisagístico de parque para a Praça São Bento em Niterói, RJ, realizado por Arsenio Puttemans.

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Fig. 4 Projeto paisagístico de um parque estilo jardim inglês.


Fig. 5 Parque Temático Disney World.

Os parques urbanos evoluíram nos últimos dois séculos sempre acompanhando as mudanças urbanísticas das cidades e as novas funções que vão sendo adicionadas no decorrer do tempo, funções essas relacionadas ao lazer, conservação ecológica, etc. Depois do séc. XX novos estilos de parques vão sendo criados nas cidades como por exemplo, os parques temáticos e os parques ecológicos. Com relação aos parques urbanos no brasil, os primeiros parques foram criados para serem figuras complementares do cenário da elite. Na cidade do Rio de Janeiro por exemplo, os parques que na época eram jardins botânicos, só foram desenhados por causa da vinda da realeza de Portugal para a cidade. Já em São Paulo, o primeiro parque urbano foi o jardim público que hoje é conhecido como Parque da Luz.

Fig. 6 Parque Estadual da Cantareira.

Fig. 7 Parque da Luz

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Após grandes transformações na cidade paulista, a maioria dos parques urbanos começaram a ser implantados pelo poder público, já em alguns outros houve a participação da iniciativa privada. Alguns vazios urbanos sem ocupação, compra de glebas particulares ou em outros casos, áreas designadas em loteamentos também fazem parte da construção dos parques urbanos na cidade. Exemplos:

Novas formas projetuais de parques começam a surgir no final do século a medida que a sociedade exigiu a revisão e elaboração dos programas tradicionais. Como exemplo, o Parque Burle Marx(1995) que eram antigos jardins privados que foram abertos para a população. (Fig. 10)

Fig. 8 Parque Ibirapuera, antigo vazio urbano que foi designado a parque

Fig. 9 Parque do Carmo, g l e b a particular designado a parque.

Fig. 10 Parque Burle Marx

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O estilo calçadão parque também se torna uma característica bem própria do país:

Fig. 11 Parque Linear Calçadão Itapema.

“Apesar de admitir alguns elementos decorativos de influência nitidamente externa e pós - moderna como pórticos, essa figura urbana possui princípios projetuais mais ou menos similares em todos os pontos dos países.” -Macedo (2006) Os desenhos dos parques evoluem continuamente apresentando novas soluções e tipologias de traços. Segundo Macedo (2006), “podemos traçar a evolução do parque em 03 arranjos: a linha eclética, a moderna e a contemporânea”.

Fig. 12 Orla de Santos

• Linha Eclética: O ecletismo foi o modo de construção no final do séc. XIX e início do séc. XX. O primeiro espaço público criado no Brasil foi no estado do Rio de Janeiro - o passeio público; que seguia um modelo europeu. As principais características dessa linha que podem ser observados nos parques urbanos são: - grandes estruturas morfológicas; - são espaços criados totalmente para contemplação; - ás áreas dos parques são ocupadas e conectadas por caminhos que se cruzam e formam traços orgânicos; - a água é um elemento bastante importante; - o uso da vegetação é bem elaborado.

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•Linha Moderna: Entre 1930 e 1940 surge uma nova linha de raciocínio, influenciando diversos setores da cultura nacional. O movimento moderno não só marca uma nova em diferentes áreas culturais, mas também em uma nova concepção estética aos espaços públicos. As principais características são: - Possui a mesma estrutura morfológica dos parques ecléticos porém, sem a intenção de obter uma paisagem europeia; - linhas de desenho mais despojadas, geométricas, definidas e limpas; - os caminhos são desenhados para fazer comunicação com os equipamentos urbanos; - a água ainda possui um caráter contemplativo; - todo espaço é definido pela sua funcionalidade; - a pre sença de elementos construtivos.

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•Linha Contemporânea: Os anos 80 marcam o início de um processo de liberdade na concepção cultural, onde tudo pode, tudo é possível. A linha contemporânea paisagística é caracterizada por experimentações e o conceito ecológico se torna um importante instrumento de preservação. São identificadas as seguintes características: - programa funcional; - desenvolve-se o interesse de preservação de ecossistemas naturais; - linhas antigas anteriormente descritas retornam para os projetos; - parques temáticos; - a água permanece ainda com um importante elemento.


2.1 PARQUES URBANOS Os primeiros projetos de parque linear surgiram no séc. XIX em alguns países da Europa. O Plano de Birkennead Park de Joseph Paxton, em 1843 na Inglaterra e o Plano para a cidade de Berlim – Alemanha, criado por Lenné entre 1840 e 1850. Segundo Giordano(2004) “o primeiro plano tinha como proposta os aspectos ambientais dentro de um sistema viário. Já o segundo plano estabelecia um sistema de parques e canais de comunicação com o rio Spree, integrando soluções para assegurar a navegabilidade e a defesa contra as cheias”. (apud FRIEDRICH, 2007) Fig. 13 Planos de Lenné para Berlim

O arquiteto, paisagista e agricultor Frederick Law Olmsted foi também o percursor da ideia de parque linear. Para alguns críticos, Olmsted introduziu o conceito de parkways que seriam caminhos de ligação entre parques e outros espaços abertos ligados entre si e com suas vizinhanças. Nos anos de 1866 e 1867 Olmsted e o arquiteto inglês Calvertvaux projetaram o Brooklyn’s Prospect Park, um dos primeiros parques lineares a ser implantado e que atualmente faz parte do BrooklynQueens Greennay. Juntos, realizaram mais alguns projetos destacando o Emerald Necklance, entre 1887 3 1895, que foi considerado como a maior realização de parques lineares, compondo um arco ao redor da cidade de aproximadamente 7,2 km de extensão. De acordo com Little (1990), entre 1890 e 1920, novos sistemas de parques com conectores foram projetados em Mineapolis e St. Paul; Boston e em Chicago. A partir de 1920

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destaca-se Robert Moses como sendo a pessoa que mais construiu parques lineares e parkways nos Estados Unidos. (apud FRIEDRICH, 2007). O parque linear a partir do séc. XXI além de ser contemplativo e de lazer, ele acaba se tornando também um alternativa para frear a degradação sócio ambiental que as áreas urbanas vem enfrentando, principalmente, em relação a áreas com cursos d’água e marginais. Se partimos desse princípio, o conceito de parque linear, hoje reside então em agregar o uso humano em áreas ambientais pois até hoje, o que se observa é a falta de contato entre o homem e o ambiente natural. Para Magalhães (1996), “o conceito contemporâneo de parque linear pretende preservar as estruturas fundamentais da paisagem, que em meio urbano penetram no tecido edificado de modo tentacular e contínuo, assumindo diversas formas e funções cada vez mais urbanas que vão desde o espaço de lazer e recreio, à simples rua ou praça arborizada”. (apud FRIEDRICH, 2007). Segundo Mascaró e Yoshinaga (2005), o parque linear acaba se tornando também uma alternativa mais econômica de projeto, por ocuparem um espaço onde a rede de infra -estrutura seria utilizada somente em um lado da via. (apud FRIEDRICH, 2007) Conforme Little(1990), os parques lineares podem ser classificados em cinco categorias gerais:

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- parques lineares criados como parte de programas de recuperação ambiental, geralmente ao longo de rios e lagos; - parques lineares criados como espaços recreacionais, geralmente ao longo de corredores naturais de longa distância, tais como canais, trilas ou estradas abandonadas; - parques lineares criados como corredores naturais ecologicamente significantes ao longo dos rios ou linhas de cumeada, que podem possibilitar a migração de espécies, estudos da natureza e caminhadas a pé; - parques lineares criados como rotas cênicas ou históricas ao longo de estradas, rodovias, rios e lagos; - rede de parques baseado em formas naturais como vales ou pela união de parques lineares com outros espaços abertos, criando infra-estruturas verdes alternativas (apud FRIEDRICH, 2007).


3. ESTUDOS DE CASO



Neste capitulo serão apresentados 3 estudos de casos que foram analisados e são referências para o desenvolvimento do projeto paisagístico. O primeiro caso é o projeto Parque Manancial de Águas Pluviais localizado na China e desenvolvido pelo escritório Turenscape. O objetivo principal do projeto foi transformar a área de manancial que estava inativa em um parque de águas pluviais urbana, ou seja, recolher, filtrar e armazenar águas pluviais. O segundo estudo de caso é o Parque de Educação Ambiental Professor Mello Barreto, Rio de Janeiro desenvolvido pelo arquiteto e paisagista Fernando Chancel. O projeto é realizado em uma área protegida da Lagoa da Tijuca que estava sendo atingida por ocupações irregulares. Foi planejado a recuperação dessa faixa de proteção e um projeto paisagístico para o local. O último estudo de caso é o Parque Linear Cantinho do Céu localizado em São Paulo e projetado pelo escritório Boldarini. O projeto foi desenvolvido à margem da Represa Billings configurado com uma faixa de 7km de extensão, entretanto, apenas 1,5km de parque foi executado. O partido inicial desse projeto foi a remoção de casas irregulares que estavam em situação de risco e propor a recuperação dessa área através da criação de um parque linear, assim freando a massa urbana para a Represa e transformando – a em áreas de lazer e contemplação.

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3.1 PARQUE MANANCIAL DAS ÁGUAS PLUVIAIS, CHINA Fig. 14 Foto aérea do parque

Fig. 15 Relação entre o entorno e o parque

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Como zona especial protegida, o Parque Manancial de Águas Pluviais foi projetado pelo escritório Turenscape, na China. O local é cercado nos quatros lados por estradas e com desenvolvimento denso, com isso as fontes de água para essa área foram sendo cortados e o manancial estava ameaçado. A estratégia adotada pelo escritório foi transformar a área inativa em um parque de águas pluviais urbanas, ou seja, recolher, filtrar, armazenar águas pluviais e se infiltrar no aquífero. Além de salvar o manancial com risco de extinção, também iria fornecer vários serviços de ecossistemas para a nova comunidade urbana.


Fig. 16 Vista do anel externo

Fig. 17 Zonas de transição do parque.

Fig. 18 Foto mostrando as plataformas e assentos.

Fig. 19 Diagrama de camadas desenhadas para o parque.

O diagrama ao lado realizado pelo escritório, explica as 5 camadas que foram desenhadas para o parque. A primeira corresponde a marcação e estudo do entorno, já a segunda camada é a representação do desenho de piso que são plataformas de madeira niveladas ao terreno, a terceira e quarta camadas são os anéis desenhados a cima do solo para passagem e contemplação do manancial. Já a quinta e última camada demostra a finalização do projeto.

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3.2 PARQUE DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL PROFESSOR MELLO BARRETO, RJ Localizado adjacente à Gleba E, o parque é protegido por lei como parte integrante da faixa marginal de proteção da Lagoa da Tijuca e apresentava invasões, ocupações irregulares, causando degradação da área. A população que vivia no local era de baixa renda e as casas foram construídas com materiais precários. Para a construção do parque foi feito em primeiro momento a remoção e deslocamento dos moradores para conjuntos de casas, em área próxima, feita pela prefeitura.

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Retomado o espaço público, com parceria do Governo Municipal e da iniciativa privada, foi criado o projeto para a recuperação da faixa marginal de proteção. Além da recuperação dos manguezais que existiam na área, foi realizada a recriação de um novo ambiente apropriado para o plantio e cultivo tanto da futura vegetação quanto da vegetação devastada. Os colaboradores pelo projeto do parque consideraram a existência de árvores exóticas plantadas pelos antigos ocupantes da área, incorporando – os no próprio traçado do parque. Fig. 20 Área considerada de preservação permanente e protegida pela Carta magna brasileira degradada pelas invasões e aterros para implantação de residências.


Fig. 21 Trabalho de terraplanagem do terreno.

Fig. 23 Perspectiva de setor onde foi localizado o jardim das bromélias.

Fig. 22 Área em fase final da terraplanagem.

De acordo com Chancel (2004), a proposta do parque buscou trazer e afirmar uma vegetação da flora litorânea, enfatizando – a pôr um jardim de bromélias e por um setor apenas dedicado a plantas da restinga. Caminhos e locais para parar e estar foram desenhados ao longo do parque. Uma ciclovia e uma arena, ponto de concentração e dispersão dos visitantes, além de dois “piers” de atração para pequenas embarcações (únicos elementos construtivos) completam os equipamentos do parque.

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Fig. 24 Gralharia das รกrvores do mangue.

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Fig. 25 Contrastes da vegetação.

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3.3 PARQUE LINEAR CANTINHO DO CÉU, GRAJAÚ

Fig. 26 Diagrama explicando as fases de projeto do parque.

Desenvolvido pelo arquiteto e urbanista Marcos Boldarini, o parque é configurado por uma faixa de aproximadamente 7km de extensão às margens da represa Billings, entretanto, apenas 1,5 km de parque foi executado até o momento, o restante da área, algumas segue em fase de projeto e já outras ainda não saíram do papel. A área a ele destinada foi delineada a partir da identificação das construções em situação risco e daquelas com impossibilidade de conexão aos sistemas de saneamento básico. Um planejamento inicial foi adotado considerando as diferentes características do relevo, hidrografia, remanescentes de vegetação, acessos existentes. Após essa análise, o escritório definiu seis trechos de intervenção, classificados em dois grupos, um voltado à conservação e preservação, outro ao lazer e recreação. O parque implantado tem 1,5 km de extensão e começou a ser executado em 2008, no entanto, essa extensão foi projetada e executada em partes à medida que as áreas de remoção fossem liberadas. Esse trecho está localizado no Residencial dos Lagos. Fig. 27 Mirante

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Fig. 28 Implantação do trecho do parque localizado no Residencial dos Lagos.

Fig. 29 Área de esportes

O programa do parque foi dividido em áreas destinadas à preservação e áreas que oferecem atrativos de lazer, recreação, esporte e contemplação. São diversas áreas com usos específicos que permite a população de todas as faixas etárias um local para seu lazer, seja na pista de skate, de caminhada, na quadra, no cinema, nos playgrounds, nos decks ou nos demais espaços projetados. O projeto do parque teve como objetivo também trabalhar com as faces cegas das edificações com as quais ele confrontava, foi realizado então um tratamento destas que acabou virando painéis em cores e ritmos integrado ao parque, compondo uma paisagem com o ambiente natural e construído. Fig. 31 Fachadas cegas transformadas em painéis coloridos.

Fig. 30 Cinema ao ar livre

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4. ANÁLISE DO TERRENO


4.1 JUSTIFICATIVA

Como uma frequentadora da região e conhecendo a importância da Represa Guarapiranga como meio hídrico e ambiental para a cidade, após uma análise inicial surgiu então não só o desejo de recuperação e requalificação dessa área apresentada ao lado, mas também a criação de um projeto paisagístico. O terreno escolhido para o projeto está situado a margem da represa, na Avenida Atlântica, Região do Socorro. O parque linear será instalado no perímetro entre o antigo Iate Clube Santa Paula e o Parque Praia do Sol, porém isso não significa que o desenho será finalizado mas sim, a possibilidade de continuidade do projeto para ser desenvolvido futuramente em toda extensão da avenida.

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Mapa 1 Ortofoto 2004, MDC


4.2 CONTEXTO HISTÓRICO A Prefeitura Regional da Capela do Socorro, ao sul do munícipio de São Paulo, foi criada oficialmente em 1938 e é formada pelos distritos: Socorro, Cidade Dutra e Grajaú. Seu trecho corresponde a cerca de 134km² e é abastecida pelas Represa Billings e Guarapiranga. Buscando a história do bairro, o início das primeiras habitações da região foram aldeias que pertenciam aos índios guaianases no século XVI. Já no início do século XVIII a área passou a ser conhecida então por Socorro – algumas fontes afirmam que o nome do bairro vem da Nossa Fig. 32 Largo Treze, 1920.

Senhora do Socorro. Mais foi somente no século XIX que o local começou a receber habitantes, principalmente depois do início da construção da Represa de Guarapiranga, que era conhecida como Represa Velha de Santo Amaro. (PONCIANO, 2004) Por volta de 1920, uma grande área foi loteada e algumas indústrias se instalaram nas imediações o que trouxe um crescimento rápido para o bairro. Em 1938, a Capela do Socorro que já era um bairro industrial, foi elevado à categoria de subdistrito. Uma das principais vias de acesso é a avenida Atlântica, antigamente conhecida como avenida Roberto Kennedy. (PONCIANO, 2004) Hoje em dia, a região conta com uma pequena parcela da sociedade de classe média alta em áreas com loteamento desenhados padronizados, característica de bairros planejados. Já a grande parcela é de moradores de classe baixa que vivem em pequenas vilas que vem se formando desordenadamente.

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4.3 REPRESA GUARAPIRANGA Fig. 33 Represa Guarapiranga

A Represa Guarapiranga está localizada na Zona Sudoeste da Região Metropolitana de São Paulo, a cerca de 25km do centro, e sua bacia hidrográfica é rodeada pelos munícipios de Cotia, Embu, Juquitiba, São Lourenço da Serra, São Paulo, Embu Guaçu e Itapecerica da Serra. O Reservatório é responsável pelo fornecimento de água potável a cerca de 3,7 milhões de pessoas residentes na zona sudoeste da capital paulista. Atraídos pelo lazer, resultado da transformação urbana da região, a Represa se destacou gerando especulação imobiliária nos loteamentos vizinhos. Chácaras, clubes de campo e náuticos se instalaram a beira destes afluentes impulsionando ainda mais o seu desenvolvimento. A construtora imobiliária AESA – Auto Estradas, realizou investimentos de infraestrutura urbana com o objetivo de zonear lotes para camadas de maior poder aquisitivo, no entanto, muito dos terrenos foram ocupados por comércios e restaurantes e muitos outros, ocupados por trabalhadores atraídos pela proximidade do trabalho nas indústrias e pelo baixo custo da terra. Aglomerações se formaram

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Fig. 34 Represa Guarapiranga


e bairros continuavam a crescer quase sempre sem preocupações urbanísticas ou critérios de planejamento. A região é protegida pela Legislação de Proteção aos Mananciais que regulamenta o uso do solo na bacia, ainda assim, configura-se um quadro incontrolável de proliferação de loteamentos clandestinos, ocupações irregulares e formação de favelas.

“...foi estabelecida a Legislação de Proteção aos Mananciais, composta pelas seguintes leis estaduais: Lei nº 898, de 1975, que disciplina o uso do solo para a proteção dos mananciais, cursos e reservatórios de água e demais recursos hídricos de interesse da Região Metropolitana de São Paulo; Lei nº 1.172, de 1976, que delimita as áreas de proteção relativa aos mananciais a que se refere a Lei nº 898, estabelecendo normas de restrição de uso do solo em tais áreas, e dando providências correlatas; previa também uma reserva de, no mínimo, 0,5% de extensão em cada área de proteção, para implantação de parques metropolitanos situados junto aos corpos de água principais, destinados ao esporte, lazer e recreação da população; Decreto nº 9.714, de 1977, que institui as competências dos órgãos envolvidos, além dos procedimentos para aprovação dos empreendimentos, aplicação de sansões e penalidades.” (Elizabeth Borelli,2006)

No início de 2006, foi aprovada a Lei Específica da Área de Proteção e Recuperação da Guarapiranga – a APRM Guarapiranga (Lei Estadual nº 12.233) estabelecendo a área de proteção e recuperação ambiental Guarapiranga. Esta nova legislação é diferente da lei vigente desde a década de 70 pela definição de áreas, instrumentos e ações para a recuperação ambiental. A nova lei inclui ações integrada de descentralização dos procedimentos para licenciamento, fiscalização e monitoramento, a serem realizadas pelas prefeituras ou por estas em parceria como o Estado, no âmbito do Subcomitê da Bacia Cotia-Guarapiranga A lei prevê também três categorias de áreas de intervenção, quais sejam, áreas de restrição à ocupação, áreas de ocupação dirigida e áreas de recuperação ambiental. São também definidas condições para a adequação dos sistemas de tratamento e disposição de resíduos sólidos, bem como um conjunto de diretrizes voltadas aos sistemas de esgotamento sanitário.

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4.4 ÁREA DE INTERVENÇÃO

O trecho da área da Represa Guarapiranga escolhida para a intervenção está localizado na Av. Atlântica, região do Socorro – SP. Uma importante avenida para quem mora/ trabalha no extremo sul de São Paulo. O perímetro que foi escolhido para a realização do parque linear começa entre o antigo Iate Clube Santa Paula projetado pelo arquiteto Artigas e que hoje encontra-se abandonado; e termina com uma ligação para o Parque Praia do Sol já existente. Com uma extensão aproximadamente de 2km, o terreno é configurado em duas tipologias. A primeira se refere a parte inferior que são as áreas de várzea, restos de flora que estão no nível da represa. Já a segunda tipologia, é a parte inferior do terreno onde encontramos restaurantes, corpo de bombeiro, áreas de circulação e de embarcações pequenas.

Fig. 35 Restaurante existente na avenida.

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Fig. 36 Restaurantes existentes na avenida.


Fig. 37 Campos de vรกrzea atrรกs dos restaurantes.

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Fig. 38 Vistas da Avenida Atlântica.

Em trechos vistos pela avenida nota-se áreas totalmente degradadas. Com pouca vegetação arbórea, todo o campo analisado acaba não tendo utilidade já que é envolvido por um gradil impossibilitando o acesso, entretanto apesar dos problemas a paisagem existente é muito bonita e que tem um potencial paisagístico e contemplativo muito interessante.

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À margem da represa existe uma construção projetada pelo arquiteto Artigas que abrigava o antigo Iate Clube Santa Paula e que hoje está deteriorado e abandonado. Há uma proposta do Plano Estratégico da Capela do Socorro para a intervenção e futuro uso associado ao âmbito ambiental. Fig. 39 Iate Clube Santa Paula

Fig. 40 Iate Clube Santa Paula

O acesso à essas áreas de várzea por exemplo é bastante restrito, pois não há entradas e as poucas que existem são primeiramente dos restaurantes e depois aos fundos possui pequenas brechas sem fluxo de pessoas, o único acesso para a represa é feito pelo Parque Praia do Sol que fica aberto diariamente. Essa área com relação a avenida é quase inexistente para quem está passando na rua pois, ao decorrer do percurso as construções em primeiro plano ficam mais evidentes. Em intervalos de uma para outra, é que se nota a existência desses campos de várzea e de vegetação.

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Fig. 41 Entrada do Parque do Sol

Fig. 42 Ao decorrer da avenida, entradas existentes fechadas

Fig. 43 Acesso para o estacionamento nรกutico.

Fig. 44 Contraste entre a avenida, ciclovia e calรงada.

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Fig. 45 Pontos de ônibus na Av. Atlântica

Mapa 2 Rede de Transporte Público.

Fig. 46 Pontos de ônibus na Av. Atlântica

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No que diz respeito a ocupação, analisando juntamente com o mapa de zoneamento e o levantamento de ocupação do solo realizado em 2017, nota-se o desenho de lotes caracterizados como bairro planejado. Em relação ao comércio e serviços a maioria deles encontram-se na avenida, como: postos de gasolina, mercados, restaurantes, casas noturnas, etc. Mapa 3 Zoneamento – Lei 16.402/16

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A extensão em destaque é indicada como Zona Especial de Proteção Ambiental e o perímetro delimitado para a criação do parque faz parte da área com isso, o uso a ocupação é restrita.


4.5 MEIO FÍSICO

Mapa 4 Ocupação do Solo. Realizado em 2017.

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Mapa 5 Variação do nível da água da represa.

O mapa 5 apresenta dados importantes a serem analisados para o desenho paisagístico da área. A linha mais escura representa o nível da Represa Guarapiranga no ano de 2004 e o tom azul que ultrapassa essa linha escura representa hoje o nível máximo da represa. O mapa 6 apresenta tipologias de solo encontrados na região do Socorro. A área escolhida para o parque linear apresenta terra mole e solo compreensível, ou seja, o programa e equipamentos urbanos devem serem desenvolvidos de acordo com a tipologia do solo existente.

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Mapa 6 Tipologia do solo.

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4.6 LEGISLAÇÃO

Como pode ser observado no mapa 7 e 8, o perímetro escolhido para a realização do parque linear que começa entre o antigo Iate Clube Santa Paula e termina no Parque Praia do Sol é uma área caracterizada como Macrozona de Proteção e Recuperação Ambiental. De acordo com o Plano Diretor – Lei 16.050/14, Seção II da Macrozona de Proteção e Recuperação Ambiental, o Art.16 diz:

“A Macrozona de Proteção e Recuperação Ambiental, conforme é um território ambientalmente frágil devido às suas características geológicas e geotécnicas, à presença de mananciais de abastecimento hídrico e à significativa biodiversidade, demandando cuidados especiais para sua conservação.” A Macrozona de Proteção e Recuperação Ambiental divide-se em 4 (quatro) macroáreas: Macroárea de Redução da Vulnerabilidade e Recuperação Ambiental, Macroárea de Controle e Qualificação Urbana e Ambiental, Macroárea de Contenção Urbana e Uso Sustentável e Macroárea de Preservação de Ecossistemas Naturais.

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Mapa 7 Área de projeto identificada como Macrozona.

A Macroárea que faz parte da Macrozona identificada no perímetro do projeto é a de Controle e Qualificação Urbana e Ambiental. Conforme o Art. 19, Subseção II da Macroárea descrita no PDE-2014:

“A Macroárea de Controle e Qualificação Urbana e Ambiental é caracterizada pela existência de vazios intraurbanos com ou sem cobertura vegetal e áreas urbanizadas com distintos padrões de ocupação, predominantemente horizontais, ocorrendo, ainda, reflorestamento, áreas de exploração mineral, e algumas áreas com concentração de atividades industriais, sendo este um território propício para a qualificação urbanística e ambiental e para provisão de habitação, equipamentos e serviços, respeitadas as condicionantes ambientais.”

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Mapa 8 Macroárea de Controle e Qualificação Urbana e Ambiental.

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Além disso, o PDE -2014 diz no Art. 24, Subseção II sobre a Rede Hídrica Ambiental:

“A rede hídrica ambiental, é constituída pelo conjunto de cursos d´água, cabeceiras de drenagem, nascentes, olhos d´água e planícies aluviais, e dos parques urbanos, lineares e naturais, áreas verdes significativas e áreas protegidas, localizado em todo o território do Município, que constitui seu arcabouço ambiental e desempenha funções estratégicas para garantir o equilíbrio e a sustentabilidade urbanos”.

Já o Art.25 descreve os objetivos urbanísticos e ambientais estratégicos relacionados à recuperação e proteção da rede hídrica ambiental:

“I - ampliar progressivamente as áreas permeáveis ao longo dos fundos de vales e cabeceiras de drenagem, as áreas verdes significativas e a arborização, especialmente na Macrozona de Estruturação e Qualificação Urbana, para minimização dos processos

erosivos, enchentes e ilhas de calor; II - ampliar os parques urbanos e lineares para equilibrar a relação entre o ambiente construído e as áreas verdes e livres e garantir espaços de lazer e recreação para a população; III - integrar as áreas de vegetação significativa de interesse ecológico e paisagístico, protegidas ou não, de modo a garantir e fortalecer sua proteção e preservação e criar corredores ecológicos; IV - proteger nascentes, olhos d´água, cabeceiras de drenagem e planícies aluviais; V - recuperar áreas degradadas, qualificando-as para usos adequados; VI - articular, através de caminhos de pedestres e ciclovias, preferencialmente nos fundos de vale, as áreas verdes significativas, os espaços livres e os parques urbanos e lineares; VII - promover, em articulação com o Governo Estadual, estratégias e mecanismos para disciplinar a drenagem de águas subterrâneas.”

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Mapa 9 Parques identificados na รกrea de estudo.

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As áreas verdes correspondentes ao PDE-2014 e identificadas no mapa aparecem em duas situações diferentes no perímetro da área de estudo. O Parque Praia do Sol foi um projeto urbano de caráter municipal que está concluído. Já o Parque Orla Guarapiranga que também é um projeto urbano municipal, ainda está em fase de planejamento. Essa área do novo parque é aonde está localizado o Antigo Iate Clube Santa Paula e provavelmente à o interesse de recuperação desse patrimônio e a requalificação do espaço. Com esses dados apresentados no mapa 9, podese concluir que há uma intenção pequena, porém importante por parte da Prefeitura de São Paulo em recuperar e requalificar áreas protegidas que sofrem com o crescimento desordenado da massa urbana. O Parque Linear Guarapiranga é uma proposta de projeto com grande potencial e que não foge da realidade aqui apresentada.

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5. PARQUE LINEAR GUARAPIRANGA


PARQUE LINEAR GUARAPIRANGA

O Parque Linear Guarapiranga foi criado para além de trazer mais verde, lazer e qualidade de vida para os visitantes, ser também um instrumento fundamental para frear o crescimento desordenado que vem acontecendo a margem da Represa, preservando a paisagem e agregando de forma respeitosa o contato entre o homem e a área de manancial. O projeto em principio foi analisado a forma do terreno e as curvas de nível. A margem máxima da represa hoje se encontra na cota 738.0 e a Avenida Atlântica (de acordo com o perímetro do parque) está na cota 740.0. Com aproximadamente 1,5km de extensão de terreno, essa declividade não é percebida e com diversas variações dentro dessas duas cotas principais, o desenho do parque foi desenhado. O desenho do parque começa depois da faixa verde preservada às margens da represa. Essa faixa verde foi delimitada para além de ser um extenso mirante de contemplação, frear possível aumento do nível da represa que possa futuramente

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acontecer. A ideia do piso principal ter um formato ondulado foi pensado no desenho das cotas de nível do terreno já existente, trazer para o projeto a sensação das pessoas estarem caminhando na orla da praia e uma releitura das ondas do mar. Conforme as curvas foram sendo desenhadas, áreas verdes foram surgindo e sendo conectadas com o desenho de piso. Além do piso principal, pisos secundários também foram desenhados em pontos estratégicos do parque para além de demarcar os principais programas, possibilitar aos visitantes pontos de encontro. Com um olhar para a avenida, houve a preocupação de criar conexões com o parque linear. A primeira conexão proposto no projeto paisagístico foi em relação a ciclovia existente da avenida que também passará a pertencer ao parque através do desenho que borde-a toda a margem da represa. A segunda conexão é feita com os desenhos de piso do parque que são introduzidos na calçada da avenida, assim levando para o pedestre que está passando a sensação de estar dentro parque. Como já foi falado no capítulo anterior, a área do terreno é toda envolvida por gradil


impossibilitando a entrada em alguns trechos, pensando nisso, a última conexão proposta foi a remoção desse gradil deixando o parque aberto para a avenida, não tem entrada/ saída demarcada, a Avenida Atlântica é o principal portal. Como justificativa, o Parque Linear Guarapiranga foi criado para a região, por que então não ser aberto?! O partido do projeto possui três grupos principais de programas para o parque: 1- criação de espaços que integrem os visitantes com a represa, havendo o contato saudável entre ela e o tecido urbano, como exemplo, píer localizados em pontos estratégicos ao longo do parque. 2- programas de educação ambiental - espaços destinados para a construção de um borboletário e um orquidário e uma possível intervenção no antigo Iate Clube Santa Paula que hoje se encontra “abandonado” e que poderia ser usado para eventos culturais, oficinas e workshops direcionados ao tema ambiental. 3- áreas destinadas ao lazer e esporte - playground, quadras e equipamentos de ginástica para terceira idade.

IMPLANTAÇÃO A0 - em anexo PARQUE LINEAR GUARAPIRANGA |

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5.1 SETOR I No setor I está localizado o antigo Iate Clube Santa Paula projetado pelo Arquiteto Artigas e que encontra –se abandonado. A intenção do projeto é realizar uma intervenção com a finalidade de usá-lo como centro cultural para abrigar diferentes atividades, oficinas, apresentações e workshops direcionados ao tema ambiental. Espaços de permanência com bancos foram criados para que o lugar não seja apenas de passagem ou para os frequentadores do centro cultural, mas também locais de conversa, descanso e encontros. Já o píer foi projetado para conectar as pessoas com a represa de forma saudável e trazendo para o parque espaços de contemplação.

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PARQUE LINEAR GUARAPIRANGA |

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5.2 SETOR II

Caracterizado por uma área que concentra a maioria dos restaurantes do perímetro do parque linear, no setor II foi proposto um espaço entre os restaurantes existentes com mesas, cadeiras e pequenos quiosques para que as pessoas possam fazer piquenique, ter outras opções que não seja só os restaurantes para comer e até mesmo quem está passando na calçada poder frequentar.

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PARQUE LINEAR GUARAPIRANGA |

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5.3 SETOR III

No setor III fica toda a infraestrutura de esporte do parque. Com quadras poliesportivas e de basquete, a área além de oferecer essas atividades ainda promove pontos de encontro e locais de permanência. O recorte dos pisos demarca as áreas verdes e de passagem e os espelhos d’agua desenhados ao longo do parque além de ser esteticamente agradável, acaba sendo um respiro para os dias ensolarados.

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PARQUE LINEAR GUARAPIRANGA |

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5.4 SETOR IV Foi proposto para esse setor outras áreas de lazer, como playground para as crianças e equipamentos de ginástica para a terceira idade. Além disso, a demarcação do espaço para o orquidário sendo mais um programa de educação ambiental para os visitantes. Existe também um espaço destinado para food trucks já que aos finais de semana por conta dos bares e baladas que existe na avenida, muitos ficam estacionados na calçada dificultando a passagem ou nas ruas locais sem nenhuma estrutura. Como é um programa muito usual, propor espaços para esses tipos de eventos contribui também para que o parque seja frequentado a noite.

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PARQUE LINEAR GUARAPIRANGA |

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6. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Propor um novo espaço público para a cidade é fundamental para a melhoria da qualidade de vida. Os parques urbanos foram e são projetados para trazer não só mais áreas verdes para a cidade mas também novos lugares públicos de lazer para a população. Já os parques lineares além de oferecer programas de lazer e contemplação, hoje acabou se tornando também uma alternativa de projeto urbanístico para frear a degradação de áreas urbanas com cursos d’aguas e áreas marginais, como no caso, a área de intervenção escolhida para o projeto. A Represa Guarapiranga abastece uma grande parcela da população e é considerado um dos principais mananciais da cidade de São Paulo. O principal objetivo deste trabalho foi a recuperação e requalificação da área escolhida da Represa que está localizada na Avenida Atlântica, Zona Sul de São Paulo. Através das referências bibliográficas e dos estudos de casos estudados, algumas diretrizes ambientais de proteger à margem da represa foram discutidas e pôr fim, a conclusão de todas essas pesquisas resultou na elaboração

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de um parque linear com programas voltados não só a questões ambientais mas também programas de lazer e cultura. O Parque Linear Guarapiranga foi desenvolvido para preservar a represa, porém trazer para a região um espaço público que atenda às necessidades e prazeres do seus visitantes. Esta pesquisa não pretende encerrar o assunto, mas sim apresentar possibilidades de desenho para uma área protegida ambientalmente mas que sofre ameaças com o crescimento desordenado da região.


7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BORELLI, Elizabeth. A Bacia do Guarapiranga: Ocupação em áreas de Mananciais e a Legislação Ambiental. ISSN 01048015, Política do Trabalho. Revista de Ciências Sociais, n. 25. 2006. CORMIER, Nathaniel S.; PELLEGRINO, Paulo Renato Mesquita. Infra – Estrutura Verde: Uma estratégia paisagística para a água urbana. CHANCEL, Fernando. Paisagismo e Ecogênese. 2 ed. Rio de Janeiro: FRAIHA, 2004. FERREIRA, José Carlos; MACHADO, João Reis Machado. Infra – Estruturas Verdes para um futuro Urbano Sustentável. O Contributo da Estrutura Ecológica e dos Corredores Verdes. FRIEDRICH, Daniela. O Parque Linear como Instrumento de Planejamento e Gestão das áreas de fundo de vale urbanas. Dissertação. Porto Alegre, 2007. GALENDER, Fany. Sistema de Espaços Livres – Sobre o sistema de espaços livres da cidade de São Paulo. Rio de Janeiro.

GORSKI, Maria Cecília Barbieri. Rios e Cidades: Ruptura e Reconciliação. São Paulo: SENAC, 2010. KLIASS, Rosa Grena. Parques Urbanos de São Paulo. São Paulo: PINI, 1993. MACEDO, Silvo Soares; SAKATA Francine Gramacho. Parques Urbanos no Brasil. 3 ed. São Paulo: EDUUSP, 2010. MACEDO, Silvo Soares. Sistema de Espaços Livres – Analise do Sistema de Espaços Livres da cidade brasileira – uma metodologia em elaboração. MAGNOLI, Miranda Martinelli. O Parque no Desenho Urbano – Fundamentos: Ensaio n 21, São Paulo, 2006. PONCIANO, Levino. 450 Bairros São Paulo 450 anos. São Paulo: SENAC, 2004 PREFEITURA DE SÃO PAULO. Lei nº 16.050, de 31 de Julho de 2014 – Plano Diretor Estratégico do Município de São Paulo. QUAPÁ-SEL. Sistema de Espaços Livres – Um projeto de pesquisa de rede. Rio de Janeiro.

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8. LISTA DE IMAGENS

Imagem 1: Central Park, Nova York, séc. XIX. Fonte: http:// casavogue.globo.com/Colunas/Studio-Arthur-Casas/ noticia/2015/07/parques-urbanos.html. Imagem 2: Central Park, Nova York. Fonte: http://www. infoescola.com/meio-ambiente/parques-urbanos/ Imagem 3: Projeto paisagístico de parque para a Praça São Bento em Niterói, RJ, realizado pelo Arsenio Puttemans. Fonte: http://www.esalq.usp.br/parque/ingles.htm. Imagem 4: Projeto paisagístico de um parque estilo jardim inglês. Fonte: http://www.esalq.usp.br/parque/ingles.htm. Imagem 5: Parque temático Disney World. Fonte: http:// www.dicasdelasvegas.com.br/. Imagem 6: Parque Estadual da Cantareira. Fonte: http:// www.saopaulo.sp.gov.br/conhecasp/parques-e-reservasnaturais/parque-estadual-da-cantareira/.

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Imagem 7: Parque da Luz. Fonte: http://www.catracalivre. com.br/. Imagem 8: Parque Ibirapuera. Fonte: http://parqueibirapuera. org/. Imagem 9: Parque do Carmo. Fonte: http://www.saopaulo. sp.gov.br/conhecasp/parques-e-reservas-naturais/parquedo-carmo/. Imagem 10: Parque Burle Marx. Fonte: http://www. parqueburlemarx.com.br/. Imagem 11: Parque linear Calçadão Itapema. Fonte: http:// www.minube.com.br/. Imagem 12: Orla letouristeblog.com.

de

Santos.

Fonte:

http://www.

Imagem 13: Planos de Lenné para Berlim. Imagem retirada


da Dissertação “O Parque Linear como Instrumento de Planejamento e Gestão das áreas de fundo de vale urbanas” de Daniela Friedrich. Imagens 14, 15, 16, 17, 18 e 19: Parque Manancial de Águas Pluviais. Fonte: http://www.archdaily.com.br/br/01-166572/ parque-manancial-de-aguas-pluviais-slash-turenscape. Imagem 20, 21, 22, 23, 24 e 25: Parque de Educação Ambiental Professor Mello Barreto. Fotos retiradas do livro “Paisagismo e ecogênese” de Fernando Chancel.

Imagem 33 e 34: https://pt.wikipedia.org/wiki/Represa_de_ Guarapiranga. Todos os mapas apresentados foram retirados do Mapa Digital de São Paulo, disponíveis em: http://geosampa. prefeitura.sp.gov.br/PaginasPublicas/_SBC.aspx. As demais fotografias e mapeamentos não indicados a cima, são de autoria própria.

Imagens 26, 27, 28, 29, 30 e 31: Parque Cantinho do Céu. Fonte: https://www.archdaily.com.br/br/01-157760/ urbanizacao-do-complexo-cantinho-do-ceu-slash-boldariniarquitetura-e-urbanismo. Imagem 32: Largo Treze, 1920. Fonte: https://br.pinterest. com/pin/828521662667410004/.

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