Mobiliário multifuncional para habitações com metragem reduzida

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Agradeço aos meus amigos e familiares que foram pessoas importantes e fundamentais em todo esse processo de apoio e aprendizado. Agradeço também a instituição de ensino e meu orientador que me proporcionaram a realização desse sonho.


Elaborada pelo sistema de geração automática de ficha catalográfica do Centro Universitário Senac São Paulo com dados fornecidos pelo autor(a). Fehr, Bruna Mobiliário Multifuncional para espaços com metragem reduzida / Bruna Fehr - São Paulo (SP), 2016. 74 f.: il. color. Orientador(a): Gabriel Pedrosa Trabalho de Conclusão de Curso (Bacharelado em Arquitetura e Urbanismo) - Centro Universitário Senac, São Paulo, 2016. 1.habitação mínima 2.mobiliário 3.multifuncional 4.arquitetura 5.studio I. Pedrosa, Gabriel (Orient.) II. Título


Bruna Mendes Fehr

MOBILIÁRIO MULTIFUNCIONAL Para apartamentos com metragem reduzida

Trabalho de conclusão de curso apresentado ao Centro Universitário Senac - Campus Santo Amaro, como exigência para obtenção do grau de Bacharel em Arquitetura e Urbanismo. Orientador: Prof. Dr. Gabriel Pedrosa São Paulo, 2016



RESUMO

ABSTRACT

O século XX foi marcado por diversas mudanças políticas que influenciaram mudanças sociais, e a arquitetura teve que adaptar-se a isso. Marcos como a revolução industrial e a segunda guerra mundial fizeram com que novo modos de produção surgissem, muitas vezes substituindo o trabalho do homem por máquinas, o que fez com que os grandes centros urbanos ficassem extretamente saturados. A Arquitetura Moderna surge para tentar amenizar os efeitos que esse novo estilo de vida tiveram na sociedade, propondo um novo jeito de morar, porém as pessoas deveriam adaptar-se à essa nova arquitetura e não a arquitetura que era feita para o estilo de vida atual. Após estudar a origem, as consequências e a situação atual das habitações com metragem reduzida, este trabalho tem como objetivo o projeto de um mobiliário multifuncional que atenda essa tipologia de apartamentos com metragem reduzida que estava há algum tempo sendo pouco utilizado e nos últimos anos vêm tomando cada vez mais força.

The twentieth century was marked by several political changes that influenced social changes, and architecture had to adapt to that. Landmarks such as the industrial revolution and World War II caused new modes of production to emerge, often replacing man’s work with machinery, which made the large urban centers extremely saturated. Modern Architecture comes to try to soften the effects that this new way of life had in society, proposing a new way of living, but people should adapt to this new architecture and not the architecture that was made for the current lifestyle . After studying the origin, consequences and the current situation of the dwellings with reduced size, this work has the objective of designing a multifunctional furniture that meets this type of apartments with reduced size that was for some time being little used and in recent years come Taking more and more strength.

Palavras-chave: habitação mínima, mobiliário, multifuncional, arquitetura, studio.

Keywords: minimal housing, furniture, multifunctional, architecture, studio.



ÍNDICE 1. INTRODUÇÃO 9 2. TEORIAS E CONCEITOS DA HABITAÇÃO MÍNIMA 12 2.1. Habitação mínima no século XX e o movimento moderno 13 2.1.1. Archigram 16 2.1.2. Metabolistas 19 2.2.1. Crescimento da tipologia 20

3. ESTUDO DE PLANTAS DE HABITAÇÃO COM METRAGEM REDUZIDA 22 4. ESTUDO DE CASO: MOBILIÁRIO 25 5. PROJETO

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CONSIDERAÇÕES FINAIS 71 LISTA DE IMAGENS 72 BIBLIOGRAFIA

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1. INTRODUÇÃO

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O século XX foi marcado por diversas mudanças que impulsionaram uma revolução na arquitetura, fazendo-se necessária uma nova forma de pensar sobre as necessidades das pessoas quando se trata de sua habitação. O tema que será abordado neste trabalho trata da necessidade que ambientes com metragem reduzida têm de otimizar o espaço. Com as metragens cada vez menores nos imóveis, soluções que tiram o melhor proveito do espaço existente se tornam essenciais. No primeiro capítulo é feita uma pesquisa com base em livros e arquivos digitais com o intuito de entender o percurso da habitação mínima com ênfase na Europa e no Japão. Nesse percurso, é levado em consideração a importância do Movimento Moderno, que alavancou uma série de questionamentos sobre as reais necessidades do indivíduo, sendo Walter Gropius e Le Corbusier grandes nomes nesse tema. Com o modernismo, surgiram grupos de arquitetos importantes que questionaram as ideolo-

gias impostas pelo Movimento Moderno, como o Archigram que contestou a Carta de Atenas, e os Metabolistas que tiveram que lidar com o problema da falta de terra e trabalharam bastante em cima do tema da habitação mínima. Nesse capítulo, é criada uma linha do tempo até introduzir essa tipologia no Brasil. O segundo capítulo trata da necessidade desse tipo de habitação com metragem reduzida no Brasil, citando Adolf Heep como o arquiteto que introduziu essa tipologia aqui e também Oscar Niemeyer, com o Copan. Além disso, o capítulo mostra como são as plantas que as construtoras vêm construindo nos dias atuais, e uma breve análise é feita, a fim de encontrar os erros que existem em comum nelas e tentar resolver a falta de espaço projetando um mobiliários multifuncional. No terceiro capítulo começa-se a entrar em contato mais direto com mobiliários multifuncionais e soluções de design para a ocupação de residências de área reduzida. O capítulo

ficou organizado por ordem hierárquica das referências, de menor relevância para maior, sendo os últimos mais desenvolvidos e mais explicados por se tratarem de referências mais próximas ao que o projeto será. Referências como Charles e Ray Eames são extremamente importantes nesse capítulo. O quarto capítulo fala do projeto em si. Resultado de todas as pesquisas, nesse capítulo surgem as diretrizes do projeto, as referências que foram de maior relevância e o produto que será esperado nesse trabalho, como modelagem virtual, desenho técnico, etc. Como o projeto ainda não está bem desenvolvido nessa etapa, há apenas croquis e ideias do que poderá surgir adiante. O quinto capítulo trata de todo o processo de criação do mobiliário até o produto final. O projeto foi todo pensado numa modulação, que foi sofrendo algumas mudanças no decorrer do processo, tendo de se adequar à cada situação diferente. 11


2. TEORIAS E CONCEITOS DA HABITAÇÃO MÍNIMA

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“Até aquela data (final do século XIX), a ala comunista do movimento operário não havia dado um peso excessivo ao problema das edificações populares ou econômica, entendidos como problemas específicos da sociedade moderna, se não como a solução de alguns males (tais como a superdensificação dos bairros considerados populares, a falta de serviços e de equipamentos, etc)” (AYMONINO, 1973, p.10) A questão da habitação mínima não se resume à restrição de área, incluindo também os esforços que são feitos para suprir as necessidades e tornar os locais de área reduzida habitáveis. A dinamização do espaço é um deles, e serve para criar a percepção de um espaço mais amplo através da versatilidade. Os ambientes de uma casa variam muito de acordo com as necessidades de cada um, porém, em quase todos os casos, eles são projetados visando a compartimentação para aumentar a privacidade do indivíduo no espaço. Essa compartimentação pode variar muito de acordo com as questões culturais, que geram diferentes necessidades. 2.1. Habitação mínima no século XX e o movimento moderno O início do século XX, principalmente o período entre as décadas de 10 e 50, foi marcado por grandes mudanças na arquitetura. O novo

pensamento modernista buscava romper todos os ideais anteriores. A revolução industrial é um dos principais fatores de tantas mudanças. Ela começou em 1760, mas é apenas em 1860 que ela sai de Londres e começa a se espalhar pela Europa. Com ela, surgiram diversas inovações tecnológicas nunca antes imaginadas, o que provocou o êxodo rural e consequentemente o crescimento da população nas cidades, que gerou um grande aumento da produção, contribuindo para a reestruturação da sociedade e das cidades. Com esse crescimento totalmente desordenado, a economia começou a dar indícios de que a arquitetura poderia ser um empreendimento bastante lucrativo. Além do crescimento populacional, uma nova massa operária chegava à cidade, que agora tornava-se caótica. Esse crescimento impulsionou a especulação imobiliária, e, com isso, os operários tinham que viver em péssimas condições de vida, com falta de segurança e

saneamento básico, para poder sobreviver aos altos custos da moradia. Essa falta de estrutura e higiene foi responsável pela disseminação de epidemias como a cólera e a tuberculose. Havia também a exploração dos operários que contavam com jornadas de 12 horas de trabalho, e até mesmo mão-de-obra infantil. Nesse contexto, começam a surgir os movimentos operários. A partir dessas ideias, surge o principal pensamento da Arquitetura Moderna: industrialização e produção em série; os edifícios devem ser utéis, econômicos, limpos e racionais. A intensa industrialização começou na Inglaterra, cidades da França e Bélgica e depois espalhou-se pela Europa, e com ela, teve início o problema da habitação. Essa problemática só foi vista dessa maneira durante o movimento moderno no início do século XX. Até então, as questões de qualidade de vida e a relação disso com o trabalho nunca haviam sido associadas. 13


Figura 1 – Corte de um palácioa em 1853 mostra os pobres no sótão.

O camponês, que agora é o operário, teve de se adaptar às mudanças da vida urbana. Ele, que estava acostumado a ter quintal, agora vive em uma unidade habitacional de apenas um cômodo, sem cozinha e sem banheiro, apenas com uma sala, cama e um armário. O capitalismo, sem dúvidas, contribuiu para os avanços no ramo da construção civil, como por exemplo as inovações técnicas e as instalações sanitárias. Porém, não há como negar que ele também foi responsável pelo aumento do custo do solo e, por consequência, da moradia. Com esses problemas de moradia, os governos de alguns países europeus começaram a tomar algumas atitudes, e passaram a investir na construção de moradias. A partir daí, surgem algumas leis para tentar melhorar essas condições. No ano de 1844, em Londres, por exemplo, foi definido requisitos mínimos de higiene para os alojamentos de aluguel; em 1846 ficou proibido o uso de alojamentos sub14

Figura 2 – Apartamento modelo inglês 1851. Legenda: 1. Circulação 2. Hall 3. Sala 4. Dormitório 5. Copa 6. Banheiro.

terrâneos como habitação. Os primeiros apartamentos foram projetados em 1849 por Henry Roberts, em Londres, na Inglaterra. O prédio tinha 5 pavimentos, janelas guilhotina e fachada de tijolinho. O programa consistia em 3 dormitórios, sala, copa, hall e um banheiro. A opção pelo 3º dormitório era para separar os filhos por sexo. Quando o problema da habitação mínima começou a se espalhar por toda Europa, em Frankfurt, começou-se um extenso programa de estudos para melhoria das condições de moradia, sob a direção de Ernst May. Os conjuntos habitacionais começaram a ser extremamente racionalizados, e até os móveis que seriam inseridos nos apartamentos foram pensados. Foi nesse contexto que surgiu a Frankfurter Küche (Cozinha de Frankfurt), que foi um projeto de racionalização dos armários, realizado pela arquiteta Grete Schütte-Lihotzky, e foi utilizado em quase todos os apartamentos da época.

Figura 3 - Franfurt Kuche.

“Toda uma série de pesquisas e estudos deram origem ao protótipo da cozinha de Frankfurt: pesquisas realizadas com as mulheres para conhecer seus desejos, mas também estudos sobre comportamento das mulheres no trabalhos, seus gestos, os passos dados na cozinha, etc. Essas pesquisas e observações resultaram em diagramas de circulação dentro da cozinha e na localização ótima dos equipamentos que a compõem. Simultaneamente, outras pesquisas foram realizadas junto aos fabricantes de móveis e de material de cozinha.” KOPP, Anatole. Quando o moderno não era um estilo e sim uma causa. São Paulo: Nobel/ Edusp, 1990, p. 56.


Fig. 5 - Franfurt Kuche: 1. Fogão(na maioria das vezes à gás e não elétrico); 2. Bancada de Apoio; 3.”Kochkiste”; 4. Tábua de passa roupa dobrável; 5. Armário para alimentos; 6. Banco com altura ajustável; 7. Mesa; 8. Recipiente para lixo; 9. Bancada para escorrer os pratos; 10. Pia; 11. Gaveteiro; 12. Armário para panelas; 13. Armário para vassouras e lixeira; 14. Aquecedor; 15. Bancada de apoio recolhível.

Fig. 4 - Planta padrão de uma unidade-Frankfurt.

Por toda essa importância, Frankfurt foi escolhida para sediar o CIAM II (Congresso Internacional de Arquitetura Moderna), em que o tema era Habitação Mínima, sob orientação de Ernst May, considerado, então, o maior especialista em habitação social. O resultado disso foi o documento “Habitação para as necessidades mínimas”. “(...) São os arquitetos alemães, junto com Le Corbusier, que insistirão no fato de que o problema da habitação mínima não é apenas aquele colocado por sua área, composição e o preço de seu aluguel. Trata-se também de obter que seus habitantes vivam de outra maneira. Para isso, não apenas a concepção e a construção devem ser racionalizadas, mas também o comportamento dos habitantes dentro das residências deve tornar-se racional. Para essa racionalização três condições são essenciais… Viver de outra maneira, ou seja, que cada habitan-

te tenha seu próprio quarto ‘não importa quão pequeno’, dirá Gropius; que a cozinha seja concebida de maneira a simplificar ao máximo o trabalho doméstico e que a mobília, enfim, não imite o mobiliário burguês, mas seja, ao contrário, concebida em função de uma manutenção simples, de condições de vida higiências e de um preço baixo. Assim é toda a concepção de habitação que deve ser posta em causa.” KOPP, Anatole. Op.Cit., p.53 Falar de Movimento Moderno e não citar Le Corbusier, ou Walter Gropius, é impossível. Foi ele que insistiu na ideia de que a problemática da habitação mínima não se resumia apenas à restrição de sua área, mas tratava-se de uma nova maneira de viver. Para isso, não apenas a arquitetura deveria ser racionalizada, mas o comportamento de quem utiliza o espaço também.

“A grande indústria deve-se ocupar da construção e estabelecer em série os elementos da casa. É preciso criar o estado de espírito da série. O estado de espírito de construir casas em série. O estado de espírito de residir em casas em série. O estado de espírito de conceber casas em série.” CORBUSIER, Le. Por uma Arquitetura, 1998. p. 189 Os arquitetos do movimento moderno acreditavam que eles deveriam mudar a sociedade, mudar a maneira como as pessoas estavam acostumadas a viver. Nesse contexto, não era a sociedade que construía uma arquitetura para suas necessidades, e sim, o homem que tinha que se adaptar à essa nova arquitetura. O Team X foi um grupo de jovens arquitetos modernos que iniciaram uma crítica aos preceitos dos CIAM, principalmente em relação ao urbanismo, ao contestar a Carta de Atenas de Le Corbusier. Os principais integrantes do 15


grupo foram Jaap Bakema, Georges Candilis, Aldo van Eyck, Giancarlo De Carlo, Alison e Peter Smithson e Shadrach Woods. Eles não negavam o movimento, porém queriam uma revisão crítica. O grupo criticava o fato de que o movimento moderno usava o coletivo e ignorava as particularidades, com isso, eles queriam trazer de volta aos projetos o homem real, e abandonar o “Modulor” idealizado por Le Corbusier. A Carta de Atenas pretendia eliminar os conflitos da modernidade, e o Team X queria o contrário, pois diziam que era esse caos que tornava cada cidade mais seduzente. 2.1.1. Archigram “Uma nova era da arquitetura deve surgir com formas e espaços que parecem rejeitar os preceitos do ‘Moderno’ porém, também, conservando estes preceitos. Optamos por ignorar a imagem Bauhaus em decomposição, que é um insulto ao 16

funcionalismo.” BARATTO, Romulo. The Plug-In City, 1964 / Peter Cook. Com o trauma da segunda guerra mundial, muitos países do primeiro mundo entraram em um período de expansão econômica, e, principalmente, tecnológica. O surgimento da robótica, das redes de comunicação, dos computadores e o aparecimento da televisão, tudo indicava uma revolução tecnológica. Nesse contexto, muitos arquitetos da época acreditavam que era necessário uma revolução total da arquitetura. É o caso do grupo Archigram, formado por Peter Cook, Ron Herron, Warren Chalk, Dennis Crompton, David Greene e Mike Webb. Eles queriam romper todo e qualquer vínculo com a tradição e suas propostas sempre tinham caráter inovador. O grupo, inicialmente, é constituído por estudantes de arquitetura e urbanismo recém graduados que se reuniram para publicar uma revista de caráter provocativo. O nome dessa

revista é Archigram e vem da junção das palavras architecture e telegram. A idéia era lançar uma publicação que fosse mais simples e mais ágil que uma revista comum e que tivesse a instantaneidade de um telegrama. A comunicação visual da revista foi baseada em bricolagem e textos contrapondo-se à monotonia do que era visto até o momento. Durante o século XX, muitos arquitetos tinham projetos em suas gavetas de cidades, e não foi diferente com o grupo Archigram. Eles idealizavam implantações urbanas a fim de integrar unidades habitacionais com os equipamentos urbanos, tentando resolver os problemas daquele contexto. A plug-in-city ou Cidade Interconexa, foi projetada por Peter Cook em 1964. A proposta dela era a de uma cidade tentacular a partir de uma mega-estrutura em forma de rede (network), com peças pré-fabricadas. Todas as partes da edificação teriam comunicação entre si com conexões físicas e informacionais.


Fig. 6 - Cápsula Plug-in-City.

A cidade foi projetada com o objetivo de suprir as necessidades dos moradores. Nela existia hotel, supermercado, restaurante, etc. As instalações tinham aparelhos eletrônicos para apoiar as funções domésticas. As cápsulas ou unidades habitacionais poderiam ser levadas para qualquer lugar que o proprietário fosse, e assim, ele conectaria a sua cápsula em qualquer cidade. Essas cápsulas foram criadas a partir do olhar do “arquiteto do futuro”, pois foram planejadas para serem práticas e confortáveis, através da sofisticação tecnológica. A ideia do grupo era projetar uma unidade que fosse autônoma, com máxima flexibilidade e praticidade. Nesse tema, os projetos mais importantes do grupo são o Living Pod Project e The Cushicle.

Fig. 7 - Plug-in-City.

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Fig. 8 - Corte Living Pod.

Fig. 9 - Modelo Living Pod Project,

Fig. 10 - Desenho Living Pod.

Living Pod Project - David Greene É o estudo de uma casa cápsula que poderia se transformar em um trailer, podendo ir para uma cidade como a plug-in-city, na qual a pessoa insere a sua cápsula na estrutura urbana, ou também poderia ser transportada e implantada numa paisagem aberta, demonstrando liberdade e flexibilidade em sua implantação. É possível observar o gosto do arquiteto por formas orgânicas. David Greene, reavalia o que seria o habitar, o lar para uma só pessoa, um envoltório único, sua roupa, seu Living Pod, sua bolsa.

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“Basicamente, poderia ser definida como uma cápsula hermética, pequena e confortável, com compartimentos internos planejados para múltiplos usos. Uma arquitetura híbrida constituída pelo espaço em si e pelas máquinas anexadas a ele. A maquinaria acoplada à estrutura principal era equipada com aparelhos de última geração, transformando o ambiente numa perfeita máquina de morar, planejada para ser implantada até no fundo do mar” COOK, Peter e outros. Archigram. London: Studio Vista Publishers, 1972, p. 52.


Fig. 11 - The Cushicle. Fig. 12 - Planta Nakagin Capsule Tower.

The Cushicle - David Greene O Cushicle era uma cápsula transportável ainda mais compacta, e era voltada para estadias rápidas e lugares desabitados. Possuía uma tecnologia que permitia ao viajante ficar termicamente confortável. Dobrável e desmontável, poderia ser levado dentro do carro pelo viajante, ou até mesmo ser carregado nas costas. Essa barraca high tech possuía duas partes: o chassi, feito de armaduras dobráveis e desdobráveis que serviam para estruturá-lo, e o envelope que envolvia e protegia o ambiente. Esse envelope era feito de lona e funcionava como uma casca de proteção. Esse projeto permitiria ao indivíduo carregar consigo uma casa instantânea. Era uma unidade nômade completa, um pacote inflável contendo serviçoes mínimos, que habitaria “o explorador, o vagabundo, ou qualquer outro itinerante a um grau de conforto pelo mínimo esforço.” WEBB, Michael. Archigram. London: Studio Vista Publishers, 1972, p. 64.

2.1.2. Metabolistas Um dos principais idelizadores deste grupo de japoneses fundado em 1959 foi Kenzo Tange. Além dele, outros arquitetos como Kiyonori Kikutake, Kisho Kurokawa, Masato Otaka, Fumihico Maki e Noburu Kawazoe faziam parte do movimento. Eles imaginavam o futuro das cidades habitadas por sociedades de massas. Os ediíficos, sempre em grande escala, com estruturas flexíveis e extensíveis, foram muito influenciados pelas ideias do Archigram. O movimento surgiu, principalmente, pela superlotação e falta de território no pós-guerra. Nesse Figura 13 – Ocean City. contexto, eles cogitavam a ocupação dos oceanos para solucionar o problema, e foi dessa ideia que surgiram alguns projetos, como o Ocean City. Nakagin Capsule Tower - Kisho Kurokawa Projetado por Kisho Kurokawa, a Nakagin Capsule Tower era constituída por dois núcleos de

Fig. 13 - Vista Nakagin Capsule Tower.

concreto que abrigavam 140 cápsulas pré-fabricadas com medidas de 2,5 x 4 x 2,5 metros, com equipamentos básicos como televisão, cama, armários, mesa de trabalho, fogão, refrigerador e banheiro. As janelas circulares são as responsáveis pela ventilação e iluminação. Cada cápsula conecta-se com a estrutura principal através de 4 parafusos para facilitar a manutenção. Essa ideia remete bastante à Plug-in-city do Petter Cook, em que ele pensa uma cidade completamente nômade, onde as pessoas conectam suas cápsulas nas estruturas. Na sua extremidade superior, cada núcleo torna-se o volume da caixa d’água. Ambos estão revestidos por placas onduladas de aço e são cortados obliquamente por uma mesma linha virtual superior, configurando dois volumes diagonais fisicamente separados, mas virtualmente e materialmente unidos. (BRITTO, Fernando, 2013) 19


Fig. 14 - Edifício Atlanta.

2.2.1. Crescimento da tipologia Em meados dos anos 40, surge uma nova forma de morar, estar e trabalhar, no Brasil, que coincidia com as transformações nos parâmetros disciplinares que orientavam o discurso e a prática arquitetônica no Brasil. A população de renda mais baixa tinha o desejo de habitar as áreas mais centrais da cidade, não só pela proximidade do trabalho mas também pelo desejo de inserção social e pela infraestrutura. Além disso, essa tipologia foi impulsionada pelo novo estilo de viver em função dos novos arranjos sociais, como pessoas solteiras e casais sem filhos. E, nesse contexto, surgem os apartamentos quitinetes, com áreas que variavam entre 25 e 40m². Segundo, Joana Mello de Carvalho, Adolf Franz Heep veio para o Brasil e trazia na bagagem a experiência em Frankfurt ao lado de Ernest May e Adolf Meyer, e a vivida em Paris com Le Corbusier, com quem trabalhou entre 20

Fig. 15 - Edifício Copan.

1928 e 1932. No momento de sua chegada, em 1947, o mercado imobiliário em São Paulo não só passava por uma profunda reestruturação como já se demonstrava sensível à nova linguagem da arquitetura moderna, seja em função da preocupação com a racionalização da construção (especialmente em função dos lucros imobiliários), seja porque as necessidades da sociedade em questão de espaço estavam mudando. Nesse quadro econômico e social, a quitinete surge em São Paulo com a contribuição de Heep, no projeto do Edifício Atlanta. No projeto, o arquiteto expressa a intenção de associar os problemas técnicos e infraestruturais com as soluções arquitetônicas típicas da produção moderna de arquitetura. Os ambientes têm um desenho preciso que qualifica os espaços, além dos móveis que foram planejados dando suporte ao ambiente. A cozinha foi projetada com os móveis que dão suporte ao seu funcionamento, e assim a sua área ficou reduzida

apenas ao necessário. Na passagem para o ambiente que abriga as múltiplas funções de dormitório, sala de estar e de jantar há um armário e uma luminária, provavelmente desenhados pelo arquiteto, que marcam a transição para o espaço íntimo do apartamento. Outro edifício importante é o Copan, projetado em 1952 por Oscar Niemeyer. Ele surgiu como um monumento aos paradigmas da capital paulista naqueles anos: verticalização e adensamento populacional. O edifício é composto por 1160 apartamentos e área comercial no térreo, com 73 lojas, além de cinema. O programa do edifício pretendia atender a várias fatias do mercado, com apartamentos de dois quartos, três quartos, sala quarto e depois, em uma ponta, apartamentos maiores.


Fig. 16 - Planta 1 morador Edifício Copan.

Fig. 17 - Planta 2 moradores Edifício Copan. Fig. 19 - Planta 1 morador Edifício Copan. Fig. 18 - Planta 1 morador Edifício Copan.

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3. ESTUDO DE PLANTAS DE HABITAÇÃO COM METRAGEM REDUZIDA

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Fig. 20 - Even 30m².

Essa tipologia está tomando cada vez mais conta do mercado, por se tratar de uma modalidade que atende às principais necessidades das pessoas, tendo um bom custo-benefício para casais jovens e pessoas que procuram moradia em áreas centrais com um custo mais baixo. Com a ascenção desse público que procura algo mais acessível e funcional, a venda de apartamentos com apenas um dormitório cresceu 133% nos últimos 12 meses. Além disso, a sua participação no total de unidades vendidas passou de 6% para 21%. O apartamento de dois dormitórios ainda é o segmento dominante, porém, suas vendas caíram 50% nesse mesmo período. “Em 2013, quando o mercado começou a ficar mais difícil, começou o crescimento dos compactos: de 20, 30 e 40 metros quadrados”, diz Celso Petrucci, economista-chefe do Secovi-SP. De 2004 a 2014, segundo dados do Secovi-SP, a oferta de apartamentos de 1

Fig. 21 - Even 33m².

dormitório foi de 12% para 34% das unidades lançadas. Mesmo com esse crescimento significativo de apartamentos com metragem reduzida, que acabam apresentando uma série de problemas, como os de armazenamento, dificuldade na divisão dos usos do espaço e também da falta de usos essenciais como área para trabalho, o mercado voltado para o design ainda não conta com mobiliários multifuncionais para atender a esse público. Algumas construtoras vêm investindo bastante nessa tipologia, por se tratar de um novo modo de habitar que resolve alguns problemas de habitação atuais, como, por exemplo, a escassez de terra nos grandes centros urbanos que já contam com uma boa estrutura para se viver. Com isso, uma população que muitas vezes não teria condições de viver num local com uma infraestrutura boa, pode ter essa oportunidade, pois as habitações com metragem reduzida costumam ter um valor mais acessível,

Fig. 22 - Even 36m².

dando melhores condições de vida para quem provavelmente iria morar nas zonas periféricas, quase sempre longe do trabalho. Apesar de parecer ideal, a maioria desses apartamentos apresenta diversas falhas de projeto, muitas vezes porque o layout é muito mal distribuído. Em muitos casos o mobiliário poderia solucionar parte desses problemas. A Even e a You Now são construtoras que vêm investindo bastante nesse tipo de planta. Algumas plantas foram selecionadas para um estudo da disposição dos mobiliários, visando as questões funcionais do apartamento, e sempre pensando como o morador do apartamento irá utilizar aquele espaço. Com variações de 30 a 36m², foram escolhidas 3 plantas de prédios distintos da construtora Even, porém as três apresentam problemas similares. A figura 1 é a do apartamento que possui maior metragem, porém é o mais problemático. Ele não consegue resolver os usos, misturando a área de jantar com os armários, 23


Fig. 23 - You,Now 34m².

Fig. 24 - You,Now 30m².

e também falta uma cama exclusivamente para dormir, deixando o sofá cama livre para outra pessoa poder usar. Ao contrário da figura 1, a 2 resolve melhor essa relação da área de dormir com a área de estar. A figura 3 não consegue fazer a transição da área da cozinha para a sala/quarto. As plantas selecionadas, da You,Inc, são de um prédio que fica localizado no bairro Aclimação, na região central de São Paulo. Por ter facilidade de acesso a todos os tipos de serviço de lazer, essa tipologia é muito requisitada nessas regiões. O prédio conta com 3 tipos de planta diferentes (fig. 4, 5, 6) e variam de 33 à 40m². Ao contrário do layout da Even, essas plantas resolvem melhor a questão da estação para trabalho e o layout está um pouco mais organizado em relação a separação dos espaços. A planta 4, por ser a de maior metragem, consegue resolver bem a questão da área íntima x social, apenas com um aparador para a TV, que poderia até ser uma estante do piso 24

Fig. 25- You,Now 33m².

ao teto, criando uma barreira visual também. A separação da sala para a cozinha é evidenciada apenas pela disposição da bancada, o que já é um padrão nessa tipologia de metragem reduzida. Após analisar as plantas das duas construtoras, foi identificado que há alguns problemas em comum: pouco espaço para armazenagem, estação de trabalho inexistente (ou pequena) e não há divisórias para separar os usos no apartamento o que faz com que um uso acabe atrapalhando o outro, tendo em vista que os apartamentos são, na maioria das vezes, para casais.


4. ESTUDO DE CASO: MOBILIÁRIO

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“Ferramentas estendem as capacidades naturais do homem. Nós batemos mais forte com um martelo, bebemos mais fácil com um copo e - quase sempre - ficamos mais rápidos com um carro.” MOLLERUP, Per. Collapsibles, 2006, p. 174. Devido a já mencionada tendência de os espaços residenciais atuais apresentarem metragem reduzida, o mobiliário precisou adaptar-se a esses ambientes e suas necessidades. Para esse tipo de moradia, o mobiliário deve apresentar conceitos de versatilidade, multifuncionalidade e praticidade, pois só assim essa nova tendência conseguirá tornar os ambientes mais habitáveis com cada vez menos espaço. Hoje, o mais comum para esse tipo de situação é adaptar os móveis que existem no mercado, ou então utilizar serviços de móveis planejados, o que acaba sendo uma solução mais cara. A partir do século XX, o papel do design na ocupação dos espaços residenciais vem se tornando cada vez maior e sendo cada vez mais valorizado. Muitos arquitetos e designers começaram a fazer projetos que visavam à funcionalidade com foco na compactação das peças, podendo ser empilháveis (fig.1 e 6), dobráveis (fig. 2 e 4) ou compactáveis (fig. 3 e 5). Fig. 26 - The Concertina bed, autor desconhecido.

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Fig. 27 - Mesas Afra & Tobia Scarpa.


Fig. 28 - Louis XX, por Philippe Starck, 1991.

Fig. 29 - GF Chair, por David Rowland.

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Theatre Seating - Bernt Essa cadeira foi projetada para o Ishoj Theater, no sul de Copenhagen, em 1985, por Bernt, que desenvolveu um sistema específico para este projeto. Quando o teatro não está mais sendo utilizado para espetáculos, as articulações das cadeiras permitem que elas se dobrem e virem um plano, que pode ser empilhado, deixando toda a platéia livre para qualquer outro tipo de evento.

La Barca - Piero de Martini

Tisch Table - Ludwig Roner

Essa peça foi desenhada pelo designer Piero de Martini. De acordo com o uso, essa mesa por ser utilizada em dois tamanhos diferentes. A solução que ele encontrou para conseguir esse desenho foi utilizar dobradiças fazendo com que a peça se dobre e fique fechada, tanto na tampa como nos pés que sustentam a mesa.

Projetada por Ludwig Roner em 1986, a mesa pode ser dobrada para aumentar o seu tamanho em até 2 vezes, quando aberta as duas partes laterais. Também é possível fechar a mesa totalmente, dobrando os pés para dentro, fazendo com que ela fique totalmente compactada. Além disso, a mesa pode ser extensível, utilizando mais de uma lado-a-lado.

Fig. 31 - Theatre seating, 1985.

Fig. 33 - La Barca, por Piero de Martini. Mesa dobrada.

Fig. 32 - Theatre seating, 1985.

Fig. 34 - La Barca, por Piero de Martini. Mesa aberta.

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Fig. 35 - Diferentes usos da mesa.


Fig. 36 - Diferentes usos da Stockwerk.

Stockwerk - Meike Harde Essa peça funciona de duas maneiras: quando totalmente compactada é um banquinho, e quando aberta transforma-se em uma estante, de altura ajustável. A estrutura de madeira sólida se torna um objeto dobrável devido a cortes nas suas laterais, que agem como uma alternativa para ligar e unir os parafusos. Não necessitando de montagem, a peça é entregue fechada, pronta para ser utilizada, necessitando apenas puxar para fora as prateleiras. A altura final da peça é personalizável, porque varia de acordo com a necessidade das prateleiras ficaram abertas ou fechadas. Rápida de instalar, a natureza “dobrável” do mobiliário também faz com que seja fácil de transportar. (MEIKE, Harde. 2013) A dobra da madeira só é possível devido ao ângulo em que as chapas foram cortadas nas laterais, possibilitando a dobra e travando a peça quando totalmente aberta.

Fig. 37 - Detalhes de como a prateleira dobra.

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Mobili Intelligenti - Poppi Desk Projetado para um ambiente com metragem extremamente reduzida, o móvel, quando fechado, mede apenas 310x1023x2160mm e consegue desempenhar 3 funções muito bem. A primeira função que ele desempenha é a de um aparador. Em seguida, a tampa da mesa, que encontra-se fechada na posição anterior, é aberta, virando uma estação de trabalho para uma pessoa, bastante espaçosa. Na terceira configuração, a mesa é dobrada novamente, e uma cama é aberta. Essa categoria apresenta todos os mobiliários que são modulares, com objetivo de adequar-se a qualquer ambiente, podendo servir para espaços reduzidos e também para espaços maiores, dependendo de como utilizado.

Fig. 38 - Móvel totalmente fechado.

Fig. 39 - Móvel funcionando como mesa.

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Fig. 40 - Móvel funcionando como cama.


SMART-KID - Heiki Must e Pavel Sidorenko Esse mobiliário multifuncional consegue ser utilizado desde o momento em que a criança nasce até a adolescência, apenas através da variação em como os módulos são colocados. As gavetas que funcionavam para guardar as roupas quando bebê, servem agora como parte da estação de trabalho, podendo guardar cadernos, livros e materiais de escritório. A tábua verde do berço, antes era apenas um fundo que funcionava como barreira, e depois é utilizado como lousa. A base onde o berço é apoiada é a peça chave: é do tamanho de uma cama de solteiro, sendo utilizada depois para o adolescente. E a lateral gradeada do berço é utilizada mais tarde como cabeceira.

Fig. 41 - Dois usos diferentes para o móvel. Ideal para as diferentes idades.

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Fig. 42 - Módulo 01.

Square System - Joe Colombo

l

Nesse projeto Joe Colombo imaginou peças de mobiliário que poderiam ser usados em muitas maneiras diferentes, procurando a flexibilidade. Esses módulos quadrados oferecem exatamente isso, abrigando uma gama de possibilidades através de seus módulos empilháveis que podem ser organizados como um mini-bar, mesas laterais, armazenamento de escritório, bem como aplicado em banheiros e cozinhas. Originalmente produzida em plástico, também pode ser produzida em alumínio.

Fig. 45- Composição dos módulos.

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Fig. 43 - Módulo 02.

Fig. 44 - Módulo 03.


Eames Modular Storage - Charles e Ray Eames As mesas Eames e unidades de armazenamento representam a visão de Charles e Ray Eames usada na solução de problemas de mobiliário de casa. Como resultado do trabalho que tinham feito para uma exposição de 1949, no Instituto de Artes de Detroit, as peças revelam a “máquina estética” e influências japonesas importantes para os Eames no momento. Os suportes de arame transversais usados nas mesas e unidades de armazenamento representam outros desenhos clássicos dos Eames. Os módulos resultantes são práticos e se adaptam a todos os tipos de espaços: pequenos e grandes escritórios, empresas ou em casas.

Figura 46 – Módulos separados.

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Figura 47 – Módulo empilhado. Possibilidades diferentes

Figura 48 – Módulo empilhado. Peças mais coloridas.

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Figura 49 – Módulo empilhado. Tonalidades mais sérias.


Eames Contract Storage - Charles e Ray Eames Segundo Daniel Ostroff(OSTROFF, 2016), em 1961, o casal Charles e Ray Eames encarou os dormitórios de faculdade como o extremo da problemática de armazenamento. A Hermann Miller inicialmente comercializou esses mobiliários exclusivamente para dormitórios de faculdades, porém, o casal acreditava que esse sistema poderia ser útil em residências também. Eles explicam que se esse sistema pode “sobreviver a esse extremo” (dormitório de faculdade), eles acreditam que criar mobiliários nessa mesma tipologia para residências convencionais não será um problema.

Figura 50 – Eames Contract Storage exposto no The Bechtler Museum of Modern Art.

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Figura 51 – Corte e planta do Eames Contract Storage.

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Figura 52 - Um: Uma unidade com três prateleiras e um espelho de vestir e cesto de roupa na parte de trás da porta. Dois: Duas prateleiras e espaço para pendurar roupas como camisas, além de armazenamento de sapatos e um cesto de roupas. Três: Espaço para roupas mais compridas como casacos e vestidos, com uma prateleira na parte superior. Também é possível armazenar os sapatos. Quatro: Unidade de estudo com estação de trabalho, cadeira, prateleiras de livros, gaveta, e luz. Cinco: Uma cama que se dobra com prateleira e luz de leitura.

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Figura 53 – Detalhe fechadura porta.

Dentre todas as características da ECS a mais importante é a de caber em uma unidade com metragem reduzida. A cama se dobra para fora do caminho, criando mais espaço quando não está em uso. A mesa embutida também ajuda a maximizar o uso do espaço, enquanto continua a fornecer o espaço que os estudantes necessitam para estudar. Como parte do processo de design, Charles e Ray consideram como a área ao redor da ECS poderia ser limpo, explicando que, “Ele deve ser interessante para donas de casa... que os painéis do sistema não toquem as paredes ou no teto ou no chão”. A dupla de designers também considerou a questão da higiene, que muitas vezes é uma preocupação com os adolescentes, fazendo com que as gavetas ficassem mais ventiladas, pensando no acúmulo de roupas mais pesadas que ficam muito tempo guardadas. Tal como acontece com todos os seus projetos, eles acreditavam que: “Os detalhes não são detalhes, eles fazem o produto, assim 38

Figura 54 – Detalhe maçaneta porta.

como detalhes fazem a arquitetura. A espessura do arame, a seleção da madeira, o acabamento das peças moldadas, as ligações, as conexões. Esses detalhes que prestam serviço aos clientes e dão ao produto a sua vida “.(EAMES, Charles e Ray. 2015) Problemas de armazenamento são um fator em todas as nossas vidas. A solução de Charles e Ray Eames é mais do que uma coleção de peças bem feitas; sua ECS atende às necessidades de todas as pessoas que entram em contato com ela, incluindo aqueles que usam, aqueles que limpam e aqueles que pagam por isso.

Figura 55 – Detalhes do Eames Contract Storage.

Figura 56 – Detalhes do Eames Contract Storage.


5. PROJETO

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Pensando na necessidade de um mobiliário que pudesse ser utilizado na maior parte dos apartamentos hoje em dia, e tendo em mente que os mais necessitados são os de metragem reduzida, alguns problemas foram pontuados até chegarmos ao produto final. Dentre eles, os mais importantes e que tiveram maior influência foram as questões de armazenamento, divisão de ambientes e falta de espaço para trabalho. Com isso em mente, o projeto parte da ideia de que ele deverá exercer estas funções, em uma única peça. Partindo da necessidade de separar os ambientes, a primeira peça que foi pensada servia de divisão entre quarto e cozinha. Além de poder ser usada como armário para armazenar utensílios de cozinha, podia ser utilizada para guardar roupas no quarto. Outra parte importante desse mobiliário é que havia uma mesa que, quando não estava em utilização, era guardada para não ocupar espaço nenhum do apartamento. 40

Figura 59 – Primeiro croqui com a ideia inicial.


Esse partido foi importante porque foi quando ficou evidente a necessidade de o projeto ser algo modular, por se tratar de ambientes extremamente pequenos e com diferentes plantas. Um armário desse tamanho dificilmente caberia sem atrapalhar a circulação em um studio de 30m2, por exemplo. Logo, ficou definido que o projeto seria dividido em módulos, mas conservaria as funções previstas inicialmente. A ideia de serem vários módulos, é que, de acordo com as possibilidades de cada planta, é formado um mobiliário diferente, o que o torna mais utilizável e atinge um público maior, resolvendo o layout de unidades habitacionais pequenas e podendo ser utilizado perfeitamente até em apartamentos maiores.

Figura 60 – Croqui mostrando a relação da mesa com o ambiente. Planta e vista.

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Paralelo aos módulos dos armários, surgiu a ideia de criar uma barreira visual utilizando cubos, criando uma estante que poderia ser utilizada junto com os módulos em armários para separar os ambientes, ou sozinha. Uma malha foi pensada para que os dois módulos seguissem a mesma padronagem de medidas, dando unidade ao projeto. Entretanto, o conjunto acabou ficando com um excesso de nichos, e o primeiro módulo ficou apenas com gaveteiro e cabideiro, mas, ainda sim, seguindo a mesma malha que os nichos. Não era necessário haver uma continuidade física para que eles tivessem alguma conexão. A própria malha conecta os dois módulos. Tendo essa malha como partido para as outras peças que seriam pensadas, um ponto importante que surgiu no projeto foi a ideia de associar a mesa à porta do armário que poderia girar para os dois lados, possibilitando uma variedade enorme de usos. Porém, ela limitou bastante a variação da malha, porque a mesa 42

Figura 61 – Relação dos cubos com os nichos do armário.

Figura 62 – Primeiros desenhos do armário sem os nichos.


Figura 63 – Modelo com a porta fechada.

Figura 64 – Modelo com apenas a mesa aberta.

Figura 65 – Modelo com porta e a mesa aberta.

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Figura 66 – Modelo em papel. Vista com a porta aberta.

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deveria se manter numa altura entre 72cm e 75cm. E isso resultava normalmente em dois quadrados da malha ou um quadrado e meio. Optando pela opção da malha com 50x50cm, a mesa ficou com um quadrado e meio e com isso também foi possível resolver a questão da profundidade do armário, que caso fosse muito estreito não poderia ter cabideiro. Outra solução para isso seria utilizar dois quadrados da malha, desse modo, porém, o armário ficaria muito profundo. Os módulos foram todos desenhados nessa nova malha de 50x50cm e, aparentemente, estavam fechados. Quando os módulos foram inseridos na planta da construtora Even, de 30m², eles se mostraram extremamente grandes e desproporcionais para aquela realidade com uma metragem tão reduzida. A profundidade dos armários (50cm) ficou muito grande e as portas dos módulos, com 1m de raio, em quase nenhuma situação conseguiriam ser abertas. Foi necessário voltar para os desenhos e rever a malha, ajustando o

desenho para uma medida em que a altura da mesa continuasse dentro do intervalo de 72cm a 75cm, mas revendo a profundidade da mesa e a largura do módulo, para que a porta não ficasse com um raio de abertura muito grande.


Figura 67 – Modelo mesa fechada. Vista frontal.

Figura 67 – Modelo mesa aberta. Vista frontal.

Figura 66 – Modelo mesa aberta. Vista lateral.

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O PROJETO Para conseguir o módulo com as medidas ideais, alguns pontos foram modificados e hierarquizados. A altura da mesa foi entendida como o principal, e não poderia mudar; a largura do módulo do armário precisava ser menor que 80cm, por causa da porta que tem que abrir em espaços pequenos; e, por fim, era preciso resolver o cabideiro. Foi possível manter a altura da mesa e a largura da porta em 72cm, porém o cabideiro teve que ficar na transversal, por causa da profundidade do armário que ficou em 36cm. O partido do projeto é um mobiliário que possa se adequar a espaços de metragem reduzida, podendo atender a alguns problemas que foram identificados nas plantas, como falta de espaço para armazenar objetos, ausência de divisão entre os usos e a necessidade de espaços para trabalho. Pensando nisso, o projeto agrega em dois módulos várias possibilidades de uso, podendo ser comprado separadamente de acordo com a necessidade. 46

São 10 peças em madeira compensada, que podem ser compostas de diferentes maneiras, compondo o ambiente de acordo com as preferências do usuário e possibilidades da planta. Além disso, há a possibilidade de revestir a madeira compensada com formica, podendo compor um mobiliário colorido ou mais simples. São 5 cores disponíveis para utilizar nas peças. O módulo básico necessariamente vem com uma prateleira fixa, que não pode ser alterada em sua altura, pois ela funciona como uma trava para o móvel. Essa prateleira possui um recuo que serve para quando é optado por colocar o fundo ou o meio-fundo, para que as medidas do módulo não sejam alteradas.


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A partir do módulo básico, de acordo com as possibilidades em planta, é possível acrescentar peças, como uma porta simples, ou uma porta com mesa, prateleiras, meio-fundo ou fundo inteiro. Ou se preferir, deixar apenas o módulo básico com a prateleira fixa, que serve como travamento da peça. 48


EXEMPLO DE COMPOSIÇÃO

CUBO 100x50cm

CUBO 50x50cm 49


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Perfil em “L” para fixação do fundo no módulo básico. Esse tipo de fixação faz com que a peça seja encaixada por dentro da parte de trás do módulo básico, não alterando em suas medidas.

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Conforme foi indicado no capítulo 3, o layout das plantas dos apartamentos deixam muitos aspectos importantes de lado. Pensando nisso, os módulos foram projetados para resolver da melhor maneira esses problemas. A planta da construtora Even de 36m² foi a mais problemática em questão de layout e por esse motivo foi escolhida para sugerir uma possível solução com os módulos. Os principais problemas da planta eram a questão da falta de divisão entre os ambientes, não ter um espaço esclusivo para o dormitório, além da área de jantar ficar junto com os armários. Por isso, no layout proposto, a área do dormitório fica dividida utilizando os módulos em cubos, criando cheios e vazios e fazendo o papel de estante. Já na sala, para dividir a sala da cozinha, os armários foram dispostos de maneira que pode-se usar a porta com mesa na cozinha para auxiliar na hora de preparar as refeições e na sala como ambiente de trabalho. Figura 68 – Planta da Even 36m²

com layout original. 67


Figura 69 – Planta com layout utilizando os módulos.

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Figura 69 – Vista da cozinha para a sala e o quarto. Armário amarelo pode ser utilizado como mesa auxiliar na hora do preparo da refeição.

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Figura 70 – Vista da sala para o quarto. Mesa para trabalho e divisão do quarto e da sala.


CONSIDERAÇÕES FINAIS Este trabalho sempre teve como objetivo projetar um mobiliário que fosse multifuncional e que pudesse ser usado de diversas maneiras, possibilitando uma variedade de usos de acordo com as possibilidades de cada planta. Porém, ele era tido como uma única peça. Após estudar todas as referências, principalmente as do casal Charles e Ray Eames e do Joe Colombo, ficou claro que como módulos, seria mais prático alcançar mais possibilidades de usos. Assim, o projeto começou a se desenvolver em cima de um partido, que foi definido através da análise de plantas existentes hoje no mercado imobiliário. Essas plantas tinham muitas carências e defeitos, e resolver esses problemas se tornou o objetivo deste trabalho. O partido do projeto era desenvolver um mobiliário que resolvesse a falta de espaço para armazenagem, a ausência de locais para trabalho e a falta de divisão entre os usos.

Com isso, o resultado do trabalho é o projeto de módulos que podem ser compostos de acordo com as possibilidades de cada planta, conseguindo se adequar à todo tipo de ambiente, especialmente os com metragem reduzida.

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LISTA DE IMAGENS

project.php?id=82

Figura 1 - SCHOENAUER, 2000, p.597

Figura 10 - http://archigram.westminster. ac.uk/project.php?id=82

Figura 2 - FRENCH, 2006, p. 8 Figura 3 -http://collections.artsmia.org/ art/95937/frankfurt-kitchen-margarete-schuette-lihotzky Figura 4 - BENEVOLO, 2006, p. 497 Figura 5 -http://humanforhumanssake.blogspot.com.br/2010/09/nyc-dreaming-moma-exhibition%20counter.html Figura 6 - Archigram Archives (http://archigram.westminster.ac.uk/) Figura 7 - Archigram Archives (http://archigram.westminster.ac.uk/)

Figura 11 - http://architecturewithoutarchitecture.blogspot.com.br/p/cushicle-and-suitaloon-were-conceptual.html Figura 12 - http://www.archdaily.com. br/36195/classicos-da-arquitetura-nakagin-capsule-tower-kisho-kurokawa> Figura 13 - http://www.archdaily.com. br/36195/classicos-da-arquitetura-nakagin-capsule-tower-kisho-kurokawa> Figura 14 - http://www.cimentoitambe.com.br/ wp-content/uploads/2015/01/Edificio_Atlanta_1.jpg

Figura 8 - http://archigram.westminster.ac.uk/ project.php?id=82

Figura 15 - http://cdnstatic.visualizeus.com/ thumbs/5c/5a/architecture,copan,photography,saopaulo-5c5a363d21ca60b27a5714d1d9f2a7c2_h.jpg

Figura 9 - http://archigram.westminster.ac.uk/

Figura 16, 17, 18 e 19 – GALVÃO, Walter

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José Ferreira. ORNSTEIN, Sheila Walbe, p. 5, 6 7 e 8. Figura 20 – http://casa.abril.com.br/materia/ apartamento-de-36-m2-dribla-a-falta-de-espaco-com-muito-planejamento Figura 21 - https://www.even.com.br/sp/sao-paulo/brooklin/residencial/newage-michigan Figura 22 - https://www.even.com.br/megastore/empreendimento/linea-perdizes Figura 23 - http://www.youinc.com.br/you-now-aclimacao Figura 24 - http://www.youinc.com.br/you-now-aclimacao Figura 25 - http://www.lopes.com.br/imovel/apartamento-1-dormitorio-aclimacao-sao+paulo-com-garagem-43m2-ref-6968 Figura 26 – MOLLERUP, 2006, p. 207. Figura 27 – MOLLERUP, 2006, p. 223. Figura 28 – MOLLERUP, 2006, p. 199.


Figura 29 – MOLLERUP, 2006, p. 197. Figura 31 e 32 – MOLLERUP, 2006, p. 204. Figura 33 – MOLLERUP, 2006, p. 216. Figura 34 – MOLLERUP, 2006, p. 216.

com/design/joe-colombo-furniture-karakter-09-05-2015/ Figura 45 - http://www.designboom. com/design/joe-colombo-furniture-karakter-09-05-2015/

Figura 35 - http://www.wogg.ch/product/tables/6/#

Figura 46, 47, 48 e 49 – http://www.hermanmiller.com/products/bedroom/storage/eames-desks-and-storage-units.html

Figura 36 - http://www.designboom.com/ design/meike-harde-assembles-the-wooden-stockwer

Figura 50, 51, 52, 53, 54, 55 e 56 - http:// www.eamesoffice.com/blog/an-eames-solution-to-college-students-storage-problems/

Figura 37 - http://www.designboom.com/design/meike-harde-assembles-the-wooden-stockwerk-shelf-by-folding-12-16-2013/ Figura 38, 39 e 40 – http://www.mobiliintelligenti.com.br/produto.php?id=23&mainline_id=1 Figura 41 - http://materialicious.com/2012/09/ multi-functional-furniture-2.html Figura 42, 43 e 44 - http://www.designboom. 73


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BENEVOLO, Leonardo. História da Arquitetura Moderna. São Paulo: Perspectiva, 1976. BENEVOLO, Leonardo. História da Cidade. São Paulo, 1983.

FOLZ, Rosana Rita. MOBiliário na HABitação POPular. Tese de Mestrado. São Carlos, 2002. BANHAM, Reyner. Teoria e projeto na primeira era da máquina. São Paulo, 1979.

ARGAN, Giulio Carlo, Walter Gropius y el Bauhaus, Buenos Aires, Ed.Nueva Visión, 1961

SILVA, Ricardo Dias. Habitação Mínima na Primeira Metade do Século 20. Monografia de Doutorado, 2006.

MONTANER, Josep Maria, Después del Movimiento Moderno, Barcelona, Ed.Gustavo Gili,2002

FONSECA, Nadja Maria Ribeiro. Habitação Mínima – O paradoxo entre a funcionalidade de o Bem-Estar. Coimbra, 2011.

COOK, Peter e outros. Archigram. London: Studio Vista Publishers, 1972

CASELLI, Cristina Kanya. 100 Anos de Habitação Mínima – Ênfase na Europa e Japão. Tese de Mestrado. 2007.

Romullo Baratto. “The Plug-In City, 1964 / Peter Cook, Archigram” 09 Jan 2014. ArchDaily Brasil. Acessado 23 Abr 2016. <http://www. archdaily.com.br/166703/the-plug-in-city-1964-peter-cook-archigram> Fernanda Britto. “Clássicos da Arquitetura: Nakagin Capsule Tower / Kisho Kurokawa” 27 Abr 74

2013.ArchDaily Brasil. Acessado 25 Abr 2016.


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