CENTRO UNIVERSITÁRIO SENAC BACHARELADO DE ARQUITETURA E URBANISMO
Helena Violin
A IMAGEM DA LUZ: Requalificação urbana, cultura e patrimônio
São Paulo 2016
HELENA VIOLIN
A IMAGEM DA LUZ: Requalificação urbana, cultura e patrimônio
São Paulo 2016
TERMO DE APROVAÇÃO Helena Violin
Trabalho de Conclusão de Curso- TCC A IMAGEM DA LUZ: Requalificação urbana, cultura e patrimônio Monografia apresentada como requisito para obtenção de grau de Arquiteto e Urbanista pelo Centro Universitário Senac, pela seguinte banca examinadora: Orientador: ______________________________________ Profº. Ms. Ralf José Castanheira Flôres
Membros : ______________________________________
______________________________________
6
Aos meus amados pais Marco e Lourdes.
7
Agradecimentos: Agradeço a Deus por tecer seus planos com tanta maestria e criatividade, por ser inspiração e motivação da minha perseverança. Agradeço ao meu pai, Marco Antonio, por desde a minha infância alimentar em mim o amor pela História. Gratifico minha mãe, Maria de Lourdes, por me inspirar com sua sensibilidade e criatividade. Agradeço a ambos, por me alimentarem de todo o conhecimento que podem. Agradeço a minhas desbravadoras companheiras de curso, Talita Passos, Sarah Maciel, Paloma Kato e Mariana Engels, por todo apoio e companheirismo. Reconheço também a paciência, compreensão e respaldo das companheiras de vida Jaqueline Neves, Bruna Ribas, Mariana Pais, Caroline Castilho, Carolina Vitor, Sandra Esher e Vanessa Scherer, que tiveram que se abster da minha companhia por muitos finais de semana, mas continuaram acreditando nesse trabalho. Gratifico meus colegas Arthur de Sousa, Maria Carolina Fernandes e Samuel Ferreira e a prof.ª Solange de Lima por me guiarem em minha primeira imersão investigativa; e ao orientador deste trabalho, prof.º Ralf Flôres, pelo seu tempo e direcionamento.
Resumo:
A região da Luz, inserida na área central da cidade de
voltadas para essa área com o objetivo de minimizar
São Paulo, concentra diversos equipamentos culturais,
os conflitos de interesses das populações residente e
edifícios de grande valor histórico e arquitetônico. É um
flutuante e os usos cultural e turístico. Esse trabalho
polo industrial e de comércio varejista, além de ser o
pretende abordar as principais propostas voltadas para
ponto de encontro de várias linhas férreas pela avenida
a região da Luz nos últimos 40 anos e discutir, à luz
que dá acesso à mais importante saída da cidade.
da atualidade, as razões para sua falta de aplicação
Essa é uma região dotada de infraestrutura urbana,
efetiva ou fracasso. Com enfoque em promover
mas
em
conexão entre os equipamentos culturais, reduzir as
seus
tensões sociais e restaurar a imagem e identidade da
potenciais estão os equipamentos culturais, que se
Luz pretende-se chegar, através de uma análise mais
encontram em situação desconexa entre eles, sendo
aproximada da área, a uma proposta de reabilitação
que os mesmos são alvos de ações de conservação
que corresponda à realidade atual dessa região.
que
contraste
isoladas
apresenta com
do
problemáticas
os
seu e
muitas seus
propostas de escala
potenciais.
entorno.
dos
tensões
Por
problemas urbanísticas
sociais Dentre
conta
dessas
sociais,
diversas
foram criadas
Palavras-chave: Região da Luz, equipamento cultural, patrimônio cultural, patrimônio arquitetônico, centralidade, reabilitação urbana, requalificação urbana.
Lista de figuras: P. 18 - FIGURA 1. Estação da Luz em meados do século XIX. Fonte:http://leiturasdahistoria.uol.com.br/eslh/Edicoes/6/imprime74831.asp. Acesso em 01/06/2016. P. 25 - FIGURA 2. Perímetro de intervenção do Projeto Luz Cultural, destaque dos equipamentos culturais e espaços públicos. Fonte: COELHO JR, Marcio Novaes. Projetos de Intervenção no bairro da Luz: patrimônio e cultura urbana em São Paulo. Dissertação de Mestrado, FAUUSP, 2004. P. 31 - FIGURA 3. Divisão por distritos no perímetro de estudo. Fonte: Plataforma GeoSampa, Base Gegran. Disponível em http://geosampa.prefeitura.sp.gov.br/PaginasPublicas/_SBC.aspx. Acesso em 26/05/2016. P. 31 - FIGURA 4. Divisão por bairros no perímetro de estudo. Fonte: Google Maps, Base Gegran. Disponível em http://geosampa.prefeitura.sp.gov.br/PaginasPublicas/_SBC.aspx. Acesso em 26/05/2016. P. 32 - FIGURA 5. Mapa de delimitação de Intervenções Urbanas e perímetro de estudo. Fonte: MEZA MOSQUEIRA, Tatiana. Reabilitação da região da Luz - Centro histórico de São Paulo: Projetos urbanos e estratégias de intervenção. Dissertação de Mestrado, FAUUSP, 2007. P. 33 - FIGURA 6. Mapa de densidade demográfica. Fonte: Plataforma GeoSampa. Disponível em http://geosampa.prefeitura.sp.gov.br/PaginasPublicas/_SBC.aspx. Acesso em 27/05/2016. P. 33 - FIGURA 7. Mapa do Zoneamento de 2015. Fonte: Plataforma GeoSampa. Disponível em http://geosampa.prefeitura.sp.gov.br/PaginasPublicas/_SBC.aspx. Acesso em 27/05/2016. P. 35 - FIGURA 8. Mapa de ferrovias na região da Luz. Fonte: Plataforma GeoSampa. Disponível em http://geosampa.prefeitura.sp.gov.br/PaginasPublicas/_SBC.aspx. Acesso em 27/05/2016. P. 36 - FIGURA 9. Mapa de linhas e pontos de ônibus na região da Luz. Fonte: Plataforma GeoSampa. Disponível em http://geosampa.prefeitura.sp.gov.br/PaginasPublicas/_SBC.aspx. Acesso em 27/05/2016. P. 39 - FIGURA 10. Mapa de instituições educacionais na região da Luz. Fonte: Plataforma GeoSampa. Disponível em http://geosampa.prefeitura.sp.gov.br/PaginasPublicas/_SBC.aspx. Acesso em 27/05/2016.
P. 40 - FIGURA 11. Mapa do Zoneamento de 2015. Fonte: Plataforma GeoSampa. Disponível em http://geosampa.prefeitura.sp.gov.br/PaginasPublicas/_SBC.aspx. Acesso em 27/05/2016. P. 41 - FIGURA 12. Base GEGRAN 2004. Mapa de imóveis tombados. Fonte: da autora. P. 42 – FIGURA 13. Mapeamento dos pontos de tensão. Fonte: Google Maps. Disponível em https://www.google.com.br/maps/@-23.5313453,46.6270969,2813m/data=!3m1!1e3?hl=pt-BR. Acesso em 27/05/2016. P. 42 – FIGURA 14. Delimitação da Praça da Luz. Fonte: Imagem do Google Maps. Disponível em https://www.google.com.br/maps/@23.5313453,-46.6270969,2813m/data=!3m1!1e3?hl=pt-BR. Acesso em 05/05/2016. P. 44 – FIGURA 15. Volumetria do entorno da Praça da Luz. Fonte: Google Maps. Disponível em https://www.google.com.br/maps/@23.5269541,-46.6383512,804a,20y,160.76h,55.44t/data=!3m1!1e3?hl=pt-BR. Acesso em 05/05/2016. P. 45 – FIGURA 16. Perímetro da área de tensão. Fonte: Google Maps. Disponível em https://www.google.com.br/maps/@-23.5342678,46.6425476,588m/data=!3m1!1e3?hl=pt-BR. Acesso em 05/05/2016. P.46 – FIGURA 17. Praça em frente à atual entrada da estação. Fonte: Google Maps.Disponível em https://www.google.com.br/maps/@23.5279545,-46.6406455,705a,20y,187.91h,44.74t/data=!3m1!1e3?hl=pt-BR. Acesso em 25/05/2016. P. 47 – FIGURA 18. Volumetria da área de tensão. Fonte: Google Maps. Disponível em https://www.google.com.br/maps/@-23.5351669,46.6501612,509a,20y,83.28h,59.67t/data=!3m1!1e3?hl=pt-BR. Acesso em 05/05/2016. P. 48 – FIGURA 19. Rua Helvétia. Fonte: Google Maps. Disponível em https://www.google.com.br/maps/@-23.533866,46.6424591,3a,75y,1.95h,92.6t/data=!3m6!1e1!3m4!1slTPdOXpUzfZcK8xMgVs1cQ!2e0!7i13312!8i6656?hl=pt-BR. Acesso em 05/05/2016. P. 49 – FIGURA 20. Perímetro da área de tensão. Fonte: Google Maps. Disponível em https://www.google.com.br/maps/@-23.5353941,46.6378864,392m/data=!3m1!1e3?hl=pt-BR. Acesso em 27/05/2016. P. 49 – FIGURA 21. Volumetria da área de tensão. Fonte: Google Maps. Disponível em https://www.google.com.br/maps/@-23.5310106,46.6347912,475a,20y,204.51h,53.03t/data=!3m1!1e3? hl=pt-BR. Acesso em 27/05/2016. P. 50 – FIGURA 22. Perímetro da Favela do Moinho. Fonte: Google Maps. Disponível em https://www.google.com.br/maps/@-23.5286373,46.6497389,935m/data=!3m1!1e3?hl=pt-BR. Acesso em 05/05/2016.
11
P. 52 – FIGURA 23. Volumetria do entorno da Favela do Moinho. Fonte: Google Maps. Disponível em https://www.google.com.br/maps/@23.5204828,-46.6400374,651a,20y,217.42h,61.1t/data=!3m1!1e3?hl=pt-BR. Acesso em 05/05/2016. P. 56 – FIGURA 24. Mapa das regiões das Docklans. Fonte: Buchana, 1989. Disponível em http://www.fau.usp.br/docentes/depprojeto/e_nobre/docklands.pdf. Acesso em 04/06/2016. P. 57 – FIGURA 25. Eixo formado pela Avenida de Mayo, Casa Rosada e ponte pedonal. Fonte: Google Maps. Disponível em https://www.google.com.br/maps/place/Puerto+Madero,+Cidade+Aut%C3%B4noma+de+Buenos+Aires,+Argentina/@-34.6589655,58.4028027,5785a,20y,17.13h,47.23t/data=!3m1!1e3!4m5!3m4!1s0x95a334d9c2d70389:0xe7b5e9ee316678f!8m2!3d-34.6177194!4d58.3620561?hl=pt-BR. Acesso em 06/06/2016. P. 61 – FIGURA 26. Diagrama de zoneamento e eixos de circulação. Fonte: GIACOMET, 2008. Disponível em http://www.lume.ufrgs.br/handle/10183/14975?locale-attribute=pt_BR. Acesso em 06/06/2016. P. 61 – FIGURA 27. Foto aérea da Praça Mauá e Museu do Amanhã em construção. Fonte: Luiz Ackermann/ Agência O Globo. Disponível em http://oglobo.globo.com/rio/a-cidade-pos-olimpica-que-rio-quer-18773456. Acesso em 06/06/2016. P. 61 – FIGURA 28. Foto da Praça Mauá, em vista o Museu de Arte do rio. Fonte: G1. Disponível em http://g1.globo.com/rio-dejaneiro/noticia/2015/09/apos-4-anos-praca-maua-no-rio-e-reinaugurada-com-shows-gratuitos.html. Acesso em 06/06/2016. P. 61 – FIGURA 29. Mapa de subdivisões por vocações da OUCPM. Fonte: Projeto Porto Maravilha. Disponível em http://www2.rio.rj.gov.br/smu/compur/pdf/projeto_porto_maravilha.pdf. Acesso em 06/06/2016. P. 62 – FIGURA 30. Mapa de subdivisão da OUCPM. Fonte: Reconversão Urbana. Disponível em https://reconversaourbana.wordpress.com/page/2/. Acesso em 06/06/2016. P. 65 – FIGURA 31. Mapa da área Praça Mauá da OUCOM. Fonte: Reconversão Urbana. Disponível em https://reconversaourbana.wordpress.com/page/2/. Acesso em 06/06/2016. P. 66 – FIGURA 32. Espacialização das diretrizes. Fonte: da autora, Base GEGRAN 2004. P. 67 – FIGURA 33. Localização do terreno de intervenção. Fonte: da autora, Base Google Maps. P. 67 – FIGURA 34. Edifício Hotel Queluz. Fonte: da autora P. 67 – FIGURA 35. Edifício Hotel Federal Paulista. Fonte: da autora.. 12
P. 67 – FIGURA 35. Foto tirada na praça, com vista para a Estação da Luz e a Pinacoteca. Fonte: da autora. P. 68 – FIGURA 37. Edifício Hotel Federal Paulista visto da praça . Fonte: da autora P. 69 – FIGURA 38. Implantação da situação atual da praça. Fonte: da autora P. 70 – FIGURA 39. Mapa de uso, ocupação e fluxos. Fonte: da autora. P. 72 – FIGURA 40. Mapa de Fluxos e residências. Fonte: da autora. P. 74 – FIGURA 41. Mapa de setorização. Fonte: da autora. P. 75 – FIGURA 42. Implantação Final da Praça da Estação da Luz. Fonte: da autora. P. 75 – FIGURA 43. Planta de cobertura da praça. Fonte: da autora. P. 76/77 – FIGURA 44. Corte BB. Fonte: da autora. P. 78/79 – FIGURA 45. Corte AA. Fonte: da autora. P. 80 – FIGURA 46. Perspectiva da marquise em frente ao Hotel Federal Paulista. Fonte: da autora. P. 81 – FIGURA 48. Perspectiva da marquise na região central da praça. Fonte: da autora. P. 82 – FIGURA 48. Perspectiva da praça com vista pra o edifício residencial projetado. Fonte: da autora.
13
SUMÁRIO PRIMEIRO CAPÍTULO
SEGUNDO CAPÍTULO
TERCEIRO CAPÍTULO
QUARTO CAPÍTULO
QUINTO CAPÍTULO
13 15 15 20 23 23 25 26 27 29 31 32 34 42 42 45 58 49 51 51 54 58 63 64 66 84
Introdução Contextualização 1. Histórico da Região da Luz 2. Processo de “decadência” Propostas de intervenções urbanas 1. Renovação Urbana (1974) 2. Luz Cultural (1974) 3. Polo Cultural Luz (1998) 4. Programa Monumenta (2002) 5. Nova Luz (2005) A Luz hoje 1. Dados socioeconômicos e demográficos 2. Aproximação com a área 3. Quatro pontos de tensão 3.1. Praça da Estação da Luz 3.2. Praça Júlio Prestes e quadras da imediação 3.3. Quadras das três ruas 3.4. Favela do Moinho Estudos de caso 1. Docklands, Londres 2. Puerto Madero, Buenos Aires 3. Operação Urbana Porto Maravilha, RJ Proposta 1. Diretrizes
2. Projeto Referências Bibliográficas 14
INTRODUÇÃO Desde o início da modernização e metropolização da cidade de São Paulo o Bairro da Luz é considerado uma região de grande relevância para o tecido urbano, tanto por conta de ser por muitos anos a principal ‘porta de entrada’
da
cidade,
tanto
por
concentrar
diversos
equipamentos de função cultural, cívica e religiosa. No início da República, a expansão ferroviária permitiu um maior escoamento de produtos agrícolas e industriais,
justificando
o
aparecimento
de
estabelecimentos comerciais e indústrias na região lindeira às estações. Decorrente desse tipo de ocupação houve a formação de cortiços e vilas operárias nas áreas próximas a
estes
estabelecimentos.
Concomitantemente,
a
expansão da urbanização da cidade ao sudoeste do centro histórico atrai as classes dominantes, que antes se instalavam nos arredores da Estação da Luz e Estação Sorocabana, para bairros estritamente residenciais e distantes da desorganização da ocupação das classes menos favorecidas. Esse deslocamento carregou consigo
15
as obras de modernização da infraestrutura urbana, como
maioria popular, cria-se a ideia de que ele
energia elétrica, calçamento de vias e saneamento.
está se deteriorando. (2001)
A criação de uma nova centralidade na cidade de O contraste existente entre o potencial do polo
São Paulo, motivada pela dinâmica de segregação social
cultural, o intenso comércio de varejo, a concentração de
(Villaça, 2001), fez com que a região da Luz, antes um dos
patrimônios e infraestrutura urbana com a complexidade
principais focos da efervescência comercial e residencial,
social presente na Luz passam a ser motivadores de
se tornasse uma área residual da cidade. O lugar que no
propostas de “requalificação” e “revitalização” dessa
início do século XX atraiu grandes investimentos de
região. O objetivo desse trabalho é analisar as propostas
infraestrutura urbana, é neste momento abandonado pelas elites
paulistanas,
que
direcionam
a
de intervenções urbanas voltadas para a região da Luz,
especulação
bem como as políticas de iniciativa dos poderes públicos,
imobiliária e os investimentos públicos para o quadrante
atuando junto ou separadamente ao setor privado. Ainda
sudoeste da cidade. A partir desse momento começa-se a
pretende-se analisar a relação que a população residente
discutir a “decadência” da região central do município,
e flutuante da região estabelece com os equipamentos
incluindo o bairro e região lindeira à Estação da Luz. A
culturais e patrimônios, qual a importância deles no
imagem de ‘deterioração’ e ‘decadência’ em zonas centrais
contexto da cidade e compreender a construção da
de metrópoles é atribuída por Flávio Villaça como
imagem da região da Luz tanto pelos seus usuários quanto
responsabilidade da classe dominante, que
por aqueles que não a frequentam.
abandona o centro, dele retirando suas lojas, escritórios, cinemas etc., e mesmo suas moradias. Justamente a partir do momento em que o centro deixa de ser patrocinado pelas elites e passa a ser patrocinado pela
16
1. CONTEXTUALIZAÇÃO
1.1. Histórico da região da Luz A região da Luz era conhecida como campos de Guaré, local onde se cultivava gado no XVI. O lugar que antes era a planície do Rio Tietê, mais tarde se tornou rota principal para a saída ao Norte da cidade. No caminho da Guaré (atual Avenida Tiradentes) havia uma ermida com a imagem de Nossa Senhora da Luz, passando então a ser alcunhado de “caminho de Nossa Senhora da Luz”. (SIMÕES JR., 2004) A rua da Constituição (hoje Florêncio de Abreu) fazia parte do percurso para o triângulo central da cidade (Rua Direita, Rua São Bento e Rua XV de Novembro) à saída para a fazenda Santana e Minas Gerais, mas de um ponto ao outro havia uma grande diferença de topografia, motivo pelo qual o percurso pela rua da Alegria (ou rua Brigadeiro Tobias) era mais utilizado. Apesar do caminho ser mais longo, a topografia da rua era plana e, portanto, permitia o transporte de carga. No século XVIII, a 17
morfologia
dessa
de
Já no início do século XIX, durante a administração
rotas
de João Theodoro, começou-se a oferecer infraestrutura
comerciais que já cruzavam a região. (REIS F., 2004;
para urbanização da região (JORGE, 1988; apud COELHO
LANGENBUCH, 1971; MOSQUEIRA, 2007)
JR, 2010). O antigo caminho da Luz foi alinhado e
mercadorias,
via
possibilitou
instigado
pela
o
transporte
concentração
de
Além de chácaras e algumas residências, a região
arborizado. Em uma de suas extremidades, o terreno de
da Luz era formada por alguns edifícios institucionais como
árvores nativas e diversificadas intitulado de “Horto
hospitais, colégios, pousos de tropas e até cemitérios
Botânico”, que antes não possuía nenhum atrativo agora
(todos estabelecimentos que requeriam grandes terrenos).
ganha destaque, com chafarizes e grandes portões.
A ermida de Nossa Senhora da Luz, depois de ser
Quando foi aberto à população em 1825, ganhou o nome
transformada em capela, deu lugar ao Mosteiro da Luz em
de Jardim da Luz.
obra
concluída
em
1802,
constituindo
o
conjunto
As áreas de várzea foram aterradas, permitindo a
arquitetônico do período colonial mais importante da
expansão dos locais de ocupação.(outra pessoa) Além de
cidade (SIMÕES JR., 2004). Essa é uma região próxima
edifícios institucionais, a região era ocupada por chácaras
do Rio Tamanduateí e do Rio Tietê, portanto de várzeas.
com construções de taipa usadas com fins lazer ou
As áreas mais procuradas para se estabelecer residências
residência pertencentes às camadas mais altas da
eram as que tinham topografia mais privilegiada, como as
sociedade. O adensamento desse tipo de ocupação é
próximas da colina central (atual centro histórico e centro
justificado por COELHO JR., pelo fato de que,
novo). Foi por não atrair outros interesses de ocupação tais propriedades apresentavam melhores
que
a
região
acabou
por
abrigar
tantos
edifícios
condições
de
higiene,
uma
vez
que
institucionais. Além, é claro, de se tratar de uma
frequentemente
localização de encontro de rotas comerciais, conforme
privadas, resolvendo o problema do precário
mencionado anteriormente.
abastecimento de água da época. Tinham
18
possuíam
suas
fontes
também espaço suficiente para o cultivo e
maiores, se estabelecia as elites (COELHO JR., 2010;
preparo
DIAFÉRIA, 2001; apud. MOSQUEIRA, 2007).
de
alimentos
e
a
criação
e
alojamento de animais, tão necessários para
O Caminho da Luz era então um dos eixos de saída
o transporte. (2010, p. 201)
da cidade para o Norte e importante via de fluxo de O comércio ainda se restringia a feiras livres que
atividades comerciais. Em 1867, na Caminho da Luz, um
aconteciam próximo ao pequeno porto fluvial do rio
dos eixos de saída da cidade para o Norte e importante via
Tamanduateí (JORGE, 1988). Mas no final do século XIX,
de fluxo de atividades comerciais, foi implantada a linha
o auge da economia cafeeira e desenvolvimento das linhas
férrea Santos-Jundiaí, da São Paulo Railway, criada para
férreas (principais responsáveis pelo escoamento desse
suprir a necessidade de escoamento da produção do café
produto) gerou um forte empreendedorismo e crescimento
nas imediações da cidade de São Paulo até o Porto de
no setor comercial, imobiliário e industrial, com o
Santos,
surgimento das primeiras fábricas de tecido na região. A
paisagem
do
Caminho
da
Luz
(avenida
travessando a cidade de São Paulo por
Tiradentes) em meados de 1870 era de grandes palacetes
suas várzeas, margeando a área central e com a estação principal implantada no
e residências da elite cafeeira e grandes edifícios de uso
coração do Bairro da Luz, determinando
institucional. No bairro de Campos Elíseos, casarões
inevitavelmente o forte crescimento e a
isolados ocupavam o meio dos lotes, enquanto no Bairro
transformação de usos e ocupação não
Santa Ifigênia, a tipologia de ocupação era bem mais
apenas daquela área, mas de todo o
densa. A estrutura de segregação social já era evidente ao
entorno do trajeto que percorria. (COELHO JR.; 2010: 201)
observar que na colina central da cidade a presença de escravos diversificava a população daquele espaço, enquanto em regiões mais periféricas, onde os lotes eram 19
A área que mais se adensou em decorrência da
adensamento por edifícios institucionais e residências
construção da Estação foi a região de Santa Ifigênia, que
operárias oriundos do processo de industrialização e do
atraiu usos como hospedaria e comércios em seus
progresso da economia cafeeira, migram para bairros
palacetes de arquitetura eclética. Em decorrência da
estritamente residenciais no quadrante sudoeste da
imigração, alguns cortiços começaram a se desenvolver
cidade, e levam consigo a maioria dos investimentos
nas ruas estreitas do bairro, causando grandes problemas
públicos de infraestrutura (REIS F., 2004; SEMPLA, 1985;
com higiene e disseminação de doenças. Nessa época, a
apud COELHO JR., 2010).
região já atraia atenção para a necessidade de soluções para as tensões sociais e conflitos em relação à conservação dos edifícios históricos. (RUBIES, 2007; apud. COELHO JR. 2010) Entre a última década do século XIX e as primeiras décadas do século XX a cidade de São Paulo iniciou seu processo de metropolização (REIS F., 2004, apud. MOSQUEIRA,
2007.).
A
urbanização
das
chácaras
acontecia na direção dos eixos de saída da cidade, como a Avenida Tiradentes, Rua Barão de Itapetininga e Ladeira do Carmo (SIMÕES JR., 2004). O aumento populacional provocado principalmente pela imigração promoveu uma demanda crescente por terrenos para loteamento de
Figura 1. Estação da Luz em meados do séc. XIX. Fonte: site Leituras da História
bairros. A população de classes mais altas, que já não viam possibilidade de crescimento na região devido ao 20
Na Avenida Tiradentes, novos edifícios projetados
viabilizavam o acesso. De forma geral, a ocupação de uma
por Ramos de Azevedo traduzem a boa fase econômica do
região sempre era possibilitada pela promoção de
país, a exemplo da Escola Prudente de Moraes, em 1897,
infraestrutura aliada dos interesses do setor imobiliário.
que em 1920 se tornou Pinacoteca e Escola de Belas
Nessa fase de intensificação da industrialização, a
Artes e o conjunto de edifícios da Escola Politécnica, na
região do Bom Retiro abrigou muitas indústrias, as quais
Praça Fernando Prestes. A modernização da linha da São
eram rodeadas, em ruas estreitas e lotes pequenos, por
Paulo Railway, em 1895, com a construção da nova
residências operárias, vilas e cortiços. Mas essa não era a
Estação da Luz e rebaixamento da calha ferroviária
única tipologia predominante da região, a presença de
também
indústrias encadeou o surgimento de estabelecimentos
foram
uma
evidência
desse
período
de
prosperidade econômica.
comerciais, em sua maioria administrados por imigrantes,
A expansão da cidade era promovida por iniciativas
que vieram à São Paulo para trabalhar nas fazendas de
particulares, que promoviam os novos loteamentos e o
café mas acabaram se estabelecendo na cidade e
estado provia infraestrutura e medidas corretivas nessas
passaram a exercer outros tipos de ofício. A rua José
áreas. Um exemplo disso é a o Jardim da Luz, que passou
Paulino, antes conhecida por rua dos imigrantes já era
de um horto subutilizado para jardim de passeio e
caracterizada por ocupação comercial. Por também ser
sociabilidade das elites e cartão postal da cidade
conexão entre a região Norte e o centro da cidade ela
(MOSQUEIRA, 2007; REIS F., 2004).
recebia um intenso fluxo de pessoas. De início, a
As linhas férreas também
eram agentes de
ocupação da rua era de italianos, mas na década de 20, foi
expansão da área urbana. Apesar de a região central ser
ocupada por imigrantes judeus, refugiados da 2ª Guerra
muito mais densa que o restante da cidade, as linhas do
Mundial, que se estabeleceram ali e investiram no
trem
e
comércio de roupas, qualidade que permanece na rua
prenunciavam o futuro loteamento daquela área, já que
ainda hoje. O caráter comercial da região também era
chegavam
a
áreas
ainda
não
loteadas
21
1.2. Processo de decadência
evidenciado na feira livre da Avenida Tiradentes, que permaneceu ali mesmo após a modernização do comércio
Foi nas décadas de 1970 e 1980 que a região
com energia elétrica. (MORSE, 1970; apud. MOSQUEIRA,
passou a ser vista como em degradação ou decadência.
2007)
Isso se deu por diversos fatores. Após a execução do
Após a migração das classes mais ricas para outras
Plano de Avenidas, proposta pelo Prefeito Prestes Maia, o
partes da cidade, na região da Luz, Bom Retiro, Santa
setor ferroviário passou a ser insuficiente e defasado em
Ifigênia e Campos Elíseos restou basicamente residências operárias,
cortiços,
algumas
hospedarias,
relação ao rodoviário. As linhas férreas não chegavam em
indústrias,
áreas em que o acesso pelo novo sistema de avenidas já
pequenos comércios e os edifícios institucionais com maior
era possível. Isso acarretou que os imóveis e espaços que
concentração na Avenida Tiradentes (TOLEDO, 2004;
serviam à fins ferroviários se tornassem subutilizados ou
MOSQUEIRA, 2007).
abandonados,
A chegada de migrantes vindos principalmente da
no
sentido
de
não
mais
receberem
manutenção. A estação Sorocabana e Estação da Luz
região nordeste do país intensificou a formação de
foram
cortiços, já que a maioria deles chegavam sem condições
exceções
da
obsolescência
desses
imóveis,
passando a se tornarem grandes terminais metropolitanos
financeiras de pagar um aluguel que não fosse em uma
de mais de uma linha. Esses veículos passaram a ser
subhabitação. – popularização da área ocasionou a falta
usados pelas camadas mais pobres da população, uma
de interesse por parte de órgão públicos, que pararam de
vez que são esses os que não tinham, e essa é a realidade
investir no local. (COELHO JR., 2010)
até hoje, recursos para adquirirem imóvel próprio. Em decorrência disso, a região do entorno das estações se popularizou, intensificando a ocupação por cortiços e moradias irregulares em edifícios sem conservação, muitos 22
deles com valor histórico e arquitetônico. Além da questão
qual a região da Luz faz parte. Flávio Villaça (2001)
da mobilidade, essa área passou a se desenvolver no
também observa que a deterioração e decadência de um
setor comercial e desestimular gradativamente a ocupação
espaço está condicionada à valorização e desenvolvimento
residencial. (COELHO JR.; 2010)
de outro. O autor também afirma que a estruturação do espaço urbano está apoiada no sistema de segregação e
“O crescimento do comércio e serviços
de disputa de classes na apropriação dos espaços, que
também
controla o tempo de deslocamento entre os centros
foi
determinante
para
a
transformação do centro principal como um
comerciais e empresariais e os locais de moradia.
todo, visto que, desde inicio do século XX, ele foi abandonado aos poucos como local
Ao direcionar seus investimentos para outras
de residência, não somente por camadas de
centralidades e ocupar as adjacências das mesmas, as
maiores
pelas
classes dominantes se tornam as próprias causadoras da
camadas médias e baixas. No entanto, a
decadência da área central da cidade (Villaça, 2001).
recursos,
mas
também
população de rendas média e alta escolheu ocupar
as
áreas
vizinhas
ao
Carregando
centro,
consigo
investimentos
camadas
em
popularização promovida primeiramente pela intensificação
cortiços irregulares ou foram para favelas e
de uso dos terminais ferroviários pelas camadas mais
subúrbios”
(Villaça,
2001;
apud
do
espaço
urbano,
de
infraestrutura
continuaram
manutenção
públicos
assegurando o acesso a ele, enquanto as populares
e
os
a
pobres na região da Luz é intensificada no momento em
MOSQUEIRA,2007)
que esse espaço não se encontra mais em disputa com as classes dominantes.
O surgimento de novas centralidades segundo
Nas mídias, a decadência do centro de São Paulo
Heitor Frúgoli Jr (2000), é um dos fatores que explica a
está sempre associada direta ou indiretamente aos seus
popularização da área central da cidade de São Paulo, da 23
usuários ou a degradação física dos imóveis. Essa imagem de decadência é construída Portanto, a imagem de decadência e degradação da área central da cidade de São Paulo deve ser atribuída à ausência
de
politicas
efetivas
de
preservação
e
manutenção desses espaços e não propriamente a quem os ocupa, como é associado pela maioria da população, segundo divulgações na imprensa. “Na década de 1980, o “Centro Velho” como passou a ser chamado, estava tomado pelas camadas populares, e suas lojas também se “popularizaram”, os estabelecimentos foram abandonados como local de compras, lazer e trabalho das camadas de maior renda, para serem posteriormente ocupados por comércio e serviços orientados a atender as camadas populares, atribuindo-lhe
maior
caráter
de
decadência.”
(MOSQUEIRA, 2007:58)
24
2. PROPOSTAS DE INTERVENÇÕES URBANAS O contraste existente entre o potencial do polo cultural, do intenso comércio de varejo, da concentração de
patrimônios e
da
infraestrutura
urbana
com
a
complexidade social presentes na Região da Luz são os principais fatores que motivaram o desenvolvimento de propostas de intervenções urbanas na área. Estas intervenções surgiram a partir do momento em que a região central da cidade de São Paulo passou a ser vista como em processo de decadência e degradação. A seguir, estão as principais propostas de reabilitação urbana voltadas para a área de estudo.
2.1. Renovação Urbana (1974) O plano de Renovação Urbana um conjunto de diretrizes propostas em um estudo da área feita pelo escritório Rino Levi Arquitetos Associados com o principal objetivo de impedir a descaracterização do bairro, legislação proposta na Lei de Zoneamento de 1974.
25
As propostas convergiam num mesmo objetivo de
do controle do uso do solo. (CÉSAR et.al., 1977;
intensificar e organizar a dinâmica do bairro e reestruturar
MOSQUEIRA, op. cit.).
o sistema viário. As novas diretrizes de zoneamento propunham
o
adensamento
Tanto o Plano de Renovação Urbana, quanto a Lei
das áreas residenciais,
Zoneamento de 1974 tiveram influencias de documentos
comerciais e de serviço, de acordo com a necessidade de
como a Carta de Atenas e seu modelo funcionalista de
cada área e preservação e conservação dos imóveis
planejamento urbano. Esse documento apresenta uma
históricos promovendo qualidade ambiental. O estudo
série de propostas e técnicas pra promover a qualidade
realizado pelo escritório de Rino Levi também sugeria a
ambiental das cidades em uma escala macro. Porém, para
construção de habitações para que as habitações de
promover transformações efetivas e que afetam a raiz dos
tipologia subnormal fossem substituídas por habitações
problemas, é necessário compreender a complexidade da
sociais. Porém, as ações diretas do plano se restringiram a
dinâmica urbana desse espaço e das suas tensões, além
reestruturação
de assimilar o processo de multipolarização e segregação
do
sistema
viário,
incluindo
criação,
alongamento e alargamento de vias. Mas somente aquelas
da metrópole.
O plano falhou em propor diretrizes que
que se referiam a criação do Metrô foram executadas.
alterassem de forma efetiva o processo de degradação da
As ações de adensamento das áreas residenciais,
região. Além disso, as ações que gerariam mais impacto
comerciais e de serviço, bem como a redução da área
na região foram designadas como indiretas, ficando
industrial, a longo prazo, foram propostas de forma
condicionadas ao investimento do setor privado. Mas o
indireta, ou seja, prevendo investimentos do setor privado.
setor imobiliário não viu vantagens para investir na região
Dentre as propostas desde plano também estava a
por conta da preservação do baixo coeficiente de
preocupação com os imóveis patrimoniais ou monumentais
aproveitamento no bairro.
da região, como o Convento e o Jardim da Luz, valorizando a paisagem do entorno dos mesmos através 26
2.2. Projeto Luz Cultural (1984)
MOSQUEIRA, op. cit.) Coordenada pela arquiteta Regina Meyer, a ação promoveu diversos eventos de atividade cultural nos espaços públicos da Luz, mesmo com aparência de abandono e degradação. A ideia era promover a apropriação desses espaços e incentivar uma nova percepção em relação aos usos que eles poderiam ter a partir de “mudanças na vida social que pudessem refletir posteriormente em nível espacial. Assim, as atividades propostas pretendiam incentivar um movimento dentro da própria comunidade, que através do uso efetivo dos
Figura 2. Perímetro de intervenção do Projeto Luz Cultural, destaque dos equipamentos culturais e espaços públicos. Fonte: COELHO Jr, 2004.
espaços e equipamentos culturais, fosse capaz de gerar demandas específicas para melhoria do ambiente urbano. Só a partir
O “Luz Cultural” foi um projeto do Ministério da
deste ponto, o Estado passaria a fazer parte
Cultura que tinha como objetivo organizar a infraestrutura
do processo, executando obras propostas
da Região da Luz e promovendo a utilização dos espaços
pela população moradora do bairro, fruto de
públicos
suas necessidades reais.” (Ibid.: 137)
e
equipamentos
culturais
pelos
população
residente e flutuante no perímetro de intervenção para “valorizar o potencial cultural da área a través da
Ainda fez parte do projeto a criação das Oficinas
divulgação e ampliação das atividades [...] tornando-os
Culturais Três Rios, no antigo palacete da Escola de
protagonistas
das
mesmas.”
(MEYER,
1897; 27
Farmácia e Odontologia da Universidade de São Paulo,
O Governo do Estado consolidou o projeto com uma
em parceria com a Prefeitura de São Paulo. (Ibid.)
parceria público privada que promoveu diversas iniciativas
A iniciativa de envolver a população nas propostas
com reforma e restauro de edifícios culturais na região da
de intervenção local revela que o público a qual essa
Luz. Dentre elas estão a reforma da Pinacoteca, com
operação pretendia atender eram os próprios residentes da
projeto de Paulo Mendes da Rocha, a criação do Museu da
região. Isso pode ser interpretado como um pensamento
Língua Portuguesa, no saguão da Estação da Luz, a
em
e
transformação do antigo prédio da administração da
continuidade dessas ações, ou seja, foi levado em conta
Estação Sorocabana, onde também foi o DOPS, na
que trazer os investimentos do setor privado em primeira
Estação Pinacoteca, e algumas intervenções do Jardim da
estancia poderia provocar a gentrificação e expulsão dessa
Luz, Mosteiro da Luz e no Museu de Arte Sacra. A
população.
intervenção mais significativa foi a do Complexo Cultural
longo
prazo
a
respeito
das
consequências
Júlio Prestes.
2.3. Pólo Cultural Luz (1995)
A criação do Complexo, com investimentos totais de R$ 50 milhões, contou com a parceria de iniciativas
O Pólo Cultural Luz surgiu a partir de uma iniciativa
privadas. Apesar da intensa divulgação dessa parceria,
privada da Associação Viva o Centro¹ (explicar a
recurso raramente usado em obras do Governo do Estado
associação) para propor a reabilitação urbana da área da
até então, o investimento por parte dos parceiros foi de
Luz a partir do aproveitamento do seu potencial de polo
apenas 4% do total, sendo o restante por conta da inciativa
cultural. A arquiteta Regina Meyer atua novamente como
pública. Tinha-se o objetivo de estabelecer um processo
elaboradora do projeto, dessa vez em parceria com o UNA
de reabilitação da região a partir dos investimentos
Arquitetos.
direcionados pontualmente para esses equipamentos. No entanto, os maciços investimentos empregados não 28
surtiram efeito no tecido urbano adjacente ou nas tensões
habitações subnormais com o público da Sala São Paulo
sociais. Contrário a isso, houve manifestações por parte
continua sendo conflituosa, o que nos faz pensar que a
dos residentes do entorno a respeito da falta de
raiz do problema não é a presença dos usuários de droga
investimentos
ou moradores de cortiços. A existência de pessoas nessas
em
políticas
habitacionais,
as
quais
impactariam de maneira significativa os problemas
situações é que evidencia o problema.
de habitação subnormal e os conflitos gerados pela
2.4. Programa Monumenta (2002)
sua existência. Mosqueira afirma que neste curto período, foram produzidos na Luz
O Programa Monumenta foi desenvolvido em uma
espaços culturais de inegável importância para
a
cidade.
No
entanto,
parceria do IPHAN (Instituto do Patrimônio Histórico e
estes
equipamentos de grande porte, ainda se
Artístico
relacionam
âmbito
Interamenricano de Desenvolvimento, com o intuito de
metropolitano que com seu entorno imediato,
intervir nos monumentos de uma forma que “aliasse a
melhor
com
o
o bairro e sua comunidade. (2007:144)
manifestante
e
o
Banco
A preservação do patrimônio cultural passa, então, a ser tratada como fator dinâmico que
disso, ao invés de os conflitos sociais serem atenuados, população
Governo
inclusão social” (ALMEIDA, 2009).
satisfatórios na atração de investimentos privados. Além
A
o
local, com geração de emprego e renda e estímulo à
do Polo Luz Cultural não teve ações que surtiram efeitos
intensificados.
com
preservação do patrimônio histórico ao desenvolvimento
Da mesma forma que a proposta anterior, a criação
foram
Nacional),
interage com as lógicas econômica e social
foi
próprias
das
enfrentada com atitude defensiva e agressiva por parte das
políticas
de
autoridades. A convivência do tráfico e de moradores em
implementadas pelo município. (Abid.:3)
29
cidades,
integrando-se
desenvolvimento
às
urbano
Á exemplo das experiências anteriores, essa
esse valor era insuficiente para a maioria dos edifícios. Por
pareceu ser uma solução que daria conta de atingir a
essa razão, o Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico
esfera da complexidade social e econômica da região.
Arqueológico,
Direcionar atenção para o entorno desses monumentos é
tombou esse conjunto de edifícios na expectativa que essa
algo que poderia contribuir significativamente para a
ação atraísse mais aplicações de recursos no projeto.
recuperação do
(Ibid.)
centro
histórico
da cidade
e
sua
reabilitação urbana.
com
órgãos
e
Turístico (CONDEPHAAT)
No caso de imóveis particulares, foi concedido um
Com abrangência nacional, o Programa dispôs da parceria
Artístico
de
preservação
estaduais
financiamento, com prazo de até 20 anos para quitação,
e
dependendo da condição financeira do proprietário. Em
municipais, para descentralizar os a execução dos projetos
casos em que o proprietário tivesse renda inferior a três
necessários para sua viabilização. Na cidade de São
salários mínimos, ainda havia a possibilidade de habilitar o
Paulo, o Ministério da Cultura (MinC) foi vinculado ao
imóvel alvo de reforma para uso comercial. Foi feito um
Programa através de um convênio com a Prefeitura de São
Fundo
Paulo. Em escala municipal, os planos para a cidade se
pagamento desses financiamentos a fim de garantir a
concentravam no “Conjunto histórico da Região da Luz”,
manutenção desses patrimônios. Porém, o prazo para
que compreende principalmente a área contígua à Avenida
apresentar o projeto da reforma do imóvel a fim de ser
Tiradentes, com a Pinacoteca do Estado, a Estação da
contemplado com o financiamento foi de apenas três
Luz, o Museu de Arte Sacra, a Estação Júlio Prestes e sua
meses.
gare, os edifícios Ramos de Azevedo e Paula Souza, a
beneficiaram desse serviço e a eficiência do Programa foi
Praça Júlio Prestes.
menor do que o esperado. (MinC, 2002; BID, 2006 apud
O Programa dispunha de uma verba inicial de 1,5
Municipal
30
Preservação
para
guardar
o
Por conta disso muitos proprietários não se
MOSQUEIRA, 2007)
milhões para investimento em cada monumento, porém
de
Apesar da proposta com diferencial em relação aos
Nova Luz, a partir de intervenções públicas que promovam
outros planos de requalificação urbana na Região da Luz,
a valorização dos espaços públicos e estimulem novos
o Programa Monumenta acabou não sendo tão distinto na
investimentos privados." (PMSP, 2006; apud. COELHO
prática. Por conta da demora em iniciar as obras por
JR., 2010) Pretendia-se fazer isso através do 'Programa de
dificuldades com licitações e financiamentos, o “Conjunto
Incentivos Seletivos', que concedia Incentivos Fiscais ou
Histórico da Região da Luz” sofreu redução de verba, pois
Incentivos ao Investimento, como redução de IPTU, ou
o Programa dispunha recursos de acordo com o
cotas de Bilhete Único para aqueles que investissem no
andamento dos projetos. Com isso, a proposta inicial de
estabelecimento
intervir para além do entorno imediato dos patrimônios se
principalmente para a área de tecnologia.
tornou inviável, pois os recursos se tornaram insuficientes
de
comércio
ou
serviço,
voltados
A área do projeto definia as quadras da área central
para atender a todo o perímetro. (Ibid.)
para
utilidade
pública,
ou
seja,
para
que
fossem
desapropriadas e posteriormente demolidas a fim de
2.5. Nova Luz
produzir uma nova morfologia nessa região. E as áreas periféricas eram voltadas para a ocupação por Incentivo
O Projeto Nova Luz foi um plano de requalificação
Fiscal. Coelho Jr. descreve os princípios norteadores do
urbana proposto pela Prefeitura de São Paulo, na gestão
plano como: Valorização e requalificação do espaço
do ex-prefeito José Serra. O perímetro do programa era
público; preservação e valorização do patrimônio cultural;
quase inteiramente tomado pelo Bairro Santa Ifigênia,
implantação de garagem subterrânea; articulação do
onde na época existia a Cracolândia (que atualmente se
sistema viário existente; indução de novas atividades para
deslocou para as proximidades da Estação Júlio Prestes).
área; definição de novos equipamentos públicos; estímulo
Os principais objetivos do Nova Luz eram "promover a
ao uso misto; previsão de implantação da ZEIS 03 - Santa
requalificação e recuperação da área aqui denominada de
Ifigênia; e redefinição de política para os cortiços inseridos 31
na área de intervenção. (2010:259) As diretrizes dos planos variam entre incentivo ao uso habitacional, criação de instrumentos que viabilizem a criação de espaços públicos (praças), incentivo ao remembramento de lotes e incentivo a criação de espaços de uso público no térreo e sobreloja dos edifícios, priorizando a possibilidade de transposição das quadras. O Projeto Nova Luz se norteava pelos princípios básicos a respeito de um espaço urbano de qualidade, nos quais quase não há refuta. Porém, os benefícios concedidos à iniciativa privada não foram suficientes para atrair investimentos capazes de gerar as mudanças no tecido urbano da forma que era proposto. Além disso, o projeto
recebeu
inúmeras
críticas
a
respeito
da
gentrificação pela tabula rasa e posterior supervalorização do Bairro Santa Ifigênia, que não encontraria resistência em políticas sociais habitacionais efetivas. Hoje, o projeto está engavetado, tendo sido identificado pela prefeitura vigente como impróprio. Mas nenhuma outra proposta foi feita para lidar com os problemas da Cracolândia, da falta de segurança noturna, e da imagem de degradação que existem na Região da Luz. 32
3. A LUZ HOJE
A área de estudo foi definida através da intersecção do perímetro de atuação dos principais planos de intervenção urbanas voltados para a região da Luz, acrescida de algumas áreas envoltórias dos equipamentos culturais ou edifícios tombados mais importantes na Figura 3. Base Gegran. Divisão por distritos no perímetro de estudo. Fonte: da autora
escada municipal. Geograficamente, a região da Luz tem um perímetro definido oficialmente. Ela inclui logradouros dos bairros de Santa Ifigênia, Campos Elíseos, Centro, Luz e Bom Retiro, ou dos distritos República, Santa Cecília e Bom Retiro, sendo este último o mais predominante no perímetro de estudo. Por essa razão, por ser bastante heterogêneo e por apresentar características comuns aos distritos contíguos, foi definido como referência desse estudo os dados socioeconômicos e demográficos do distrito do Bom Retiro.
Figura 4. Base Gegran. Divisão por bairros no perímetro de estudo. Fonte: da autora
33
3.1. Dados socioeconômicos e demográficos Demografia1:
São Paulo (munic.)
1991
2000
2010
9.646.185
10.434.252
11.057. 629
36.136
26.598
28.591
Bom Retiro
Densidade demográfica¹ (pop/ha):
São Paulo (munic.) Figura 5. Base GEGRAN 2004. Mapa de delimitação de Intervenções Urbanas e perímetro de estudo. Fonte: MOSQUEIRA, 2007.
Área
1991
2000
2010
150.900
63,92
69,15
72,89
400
90,34
66,50
70,93
Bom Retiro
1
34
Fonte: Censo IBGE
Figura 6. Mapa de densidade demogrรกfica. Fonte: Plataforma GeoSampa. Acesso em 27/05/2016.
Figura 7. Mapa do Zoneamento de 2015. Fonte: Plataforma GeoSampa. Acesso em 27/05/2016.
35
3.2. Aproximação com a área A região tem uma significativa influência da
justificam sua localização também pela importância da
presença das linhas férreas. As estações terminais Júlio
Avenida Tiradentes.
Prestes e Estação da Luz foram responsáveis pela
A região abriga também um terminal rodoviário que
ocupação do seu entorno, primeiramente com hospedarias
é encontro de um intenso fluxo de passageiros de toda a
e comércio, e atualmente somente com o comércio popular
cidade. Os pontos de ônibus na região são intensos, mas o
e praças frequentadas, na maioria das vezes, apenas
transporte do centro para outras regiões da cidade pode
como passagem. A Estação da Luz abriga o encontro de
ser considerado mais eficiente se comparado ao serviço
quatro linhas férreas, que servem às regiões Norte, Sul,
oferecido a essa região em uma microescala. Apesar de
Leste, Sudeste e Noroeste da cidade. Essas estações
possuir muitos pontos de ônibus, como pode ser
também exercem importância histórica para a cidade,
observado na Figura 9, as linhas que atendem somente a
representando principalmente a época de apogeu da
região central, funcionam com menos eficiência, ou seja,
economia cafeeira, que promoveu grandes investimentos
com maior tempo de intervalo entre um ônibus e outro. A
de infraestrutura na cidade de São Paulo. Pela importância
demanda
que os edifícios ferroviários estabeleceram na época de sua
construção,
o
seu
entorno
também
de
pessoas
que
frequentam
essa
área
diariamente e tem como procedência outras regiões da
recebeu
cidade é muito maior que a demanda de circulação
construções de grande relevância institucional e cultural
exclusivamente interna, o que pode justificar essa aparente
como a Pinacoteca do Estado, o conjunto de Edifícios da
ineficiência.
Escola Politécnica, que hoje abriga o Acervo Municipal Washington Luís e o Quartel da Polícia Militar, que
36
Figura 8. Mapa de ferrovias na regiĂŁo da Luz. Fonte: Plataforma GeoSampa. Acesso em 27/05/2016
37
..
Figura 9. Mapa de linhas e pontos de Ă´nibus na regiĂŁo da Luz. Fonte: Plataforma GeoSampa. Acesso em 30/05/20
38
O grande contingente de pessoas que diariamente
mostrou bem mais expressiva do que as notícias da mídia
chegam a essa área proveniente de outras regiões se deve
sugeriam, com uma visão de falta de vitalidade na área
principalmente ao comércio e outros tipos de serviço, como
central da cidade. Há muitos edifícios habitacionais em
educação
bom estado de conservação e bastante verticalizados, que
e
saúde.
O
comércio
especializado
se
intensificou na região nas últimas décadas.
contrastam
com
a
presença
de
alguns
edifícios
O processo de promover regiões de comércio
deteriorados em situação de cortiço. Esse tipo de
especializado foi observado como gerador de atratividade
ocupação tem presença mais expressiva na região da
de consumidores que veem de longe para buscar itens
Santa Ifigênia, onde há também grande quantidade de
específicos que, muitas vezes, só são encontrados nesses
imóveis que foram tombados na década de 1980.
locais .É o que ocorre nas ruas Santa Ifigênia e São
Dentre os patrimônios da região, se destacam os de
Caetano, conhecida como Rua das Noivas. No caso da
uso institucional e cultural. Esses bens se encontram em
Rua José Paulino, o processo de reconhecimento da via
bom estado de conservação, e muitos deles já receberam
como especializada em comércio de roupas e tecidos é de
algum tipo de intervenção ou reforma, como foi o caso da
longa data, conforme mencionado anteriormente no item
Pinacoteca, que em 1994 passou por reforma, assim como
de história da região da Luz.
a Estação da Luz, com a criação do Museu da Língua
A presença de instituições educacionais na área de
Portuguesa, da Estação Júlio Prestes, com a abertura da
estudo é expressiva, conforme mostra a Figura 10, desde
Sala São Paulo, e o antigo DOPS, com a instalação do
a categoria de escola primária até a de especializações e
Memorial da Resistência. Todos esses edifícios tiveram
ensino superior. Esses equipamentos servem à população
atenção especial quanto ao processo de restauro e
residente em outras áreas, mas também ao contingente de
medidas de conservação. Mas é notável que o cuidado de
residentes da área central da cidade. A existência de
conservar tanto o material quanto o símbolo que esses
edifícios de uso habitacional na região de estudo se
imóveis possuem para a população se dá de forma isolada 39
do seu entorno. A imagem que se encontra na ruas
em infraestrutura evidencia que o imóvel alvo dessas
lindeiras a esses equipamentos é de descuido com o
melhorias não serve à população residente do seu entorno
espaço público, ausência de higienização, falta de
e ainda pode desencadear um processo de gentrificação
tratamento
na área, com a expulsão dessa população.
adequado
nos
calçamentos
e
falta
de
acessibilidade nas travessias. Sem contar que algumas reformas promovidas nos espaços do entorno, como a Praça Júlio Prestes, pareceu promover o isolamento do edifício ao invés da interação do mesmo com o entorno ou entre eles. Esse tipo de desenho provocou a falta de conexão entre os equipamentos, que poderiam ter sua imagem potencializada em relação ao resgate da memória da cidade se fossem conectados através do tratamento uniforme do seu entorno, não só imediato, mas da região de estudo como um todo. As
tensões
sociais
existentes
na
região
evidenciadas na prática da prostituição, pontos de tráfico e uso de drogas, na presença de sub habitações e moradores
de
rua
podem
ser
potencializadas
por
intervenções que tem como alvo pontos isolados, pois esses equipamentos passam a exercer um papel de agentes de distanciamento entre as classes sociais que farão uso desses espaços. Ou seja, o investimento isolado 40
Figura 10. Mapa de instituições educacionais na região da Luz. Plataforma GeoSampa. Acesso em 27/05/2016.
41
Figura 11. Mapa de equipamentos culturais na regiĂŁo da Luz. Plataforma GeoSampa. Acesso em 27/05/2016.
42
Figura 12. Base GEGRAN 2004. Mapa de imรณveis tombados. Fonte: da autora.
43
3.3. Quatro pontos de tensão
problemáticas por concentrarem deficiências projetuais, intensa complexidade social ou serem subutilizadas, em contraste com as inúmeras potencialidades e infraestrutura que as áreas centrais da cidades possuem.
3.3.1. Praça da Estação da Luz
Figura 13. Mapeamento dos pontos de tensão. Fonte: Google Maps. Acesso em 27/05/2016.
Um dos maiores equívocos em propor intervenções para uma determinada gleba é fazê-lo sem diagnosticar os problemas dessa região a partir da escala do pedestre. Figura 14. Delimitação da Praça da Luz. Fonte: Imagem do Google Maps. Acesso em 05/05/2016.
Pois a percepção da real complexidade das tensões existentes em um espaço esta condicionada à vivência da
Localizada na esquina da rua Mauá com a rua
sua dinâmica urbana. Como resultado de uma incursão no
Brigadeiro Tobias a praça da Estação da Luz foi criada
perímetro de estudo quatro áreas foram identificadas como 44
para abrigar os respiros e entrada de iluminação zenital da
modernismo.
A
presença
de
edifícios
residenciais
estação homônima, da Linha Amarela2, que teve suas
verticalizados nessa região é justificada pelo incentivo de
obras finalizadas no ano de 2010. O acesso a ela se dá
crescimento e desenvolvimento das áreas contíguas às
pelas duas ruas mencionadas e pela rua paralela à
estações de metrô, que foram inauguradas com a linha
Brigadeiro Tobias, a Rua Cásper Líbero. Essa ultima é
Norte-Sul em meados de 1974 (MOSQUEIRA, 2007).
ocupada por uma maioria de edifícios residenciais com
O fato de a praça ser cercada com gradil, com
térreo comercial e muitos hotéis. O serviço hoteleiro está
exceção das três entradas, que ficam abertas nos horários
presente nessa região desde o início do século XX e ainda
comerciais, é uma atitude que pode ser interpretada como
existe atividade remanescente. A presença do comércio
previamente defensiva contra pessoas em situação de rua
faz com que área seja movimentada durante o dia, mas a
e outros grupos dessa mesma categoria, como os usuários
proximidade com a estação da Luz (tanto da CPTM
de drogas da cracolândia e as prostitutas que fazem ponto
quando do Metrô) também é um grande gerador de fluxo
logo na saída da praça, na larga calçada da Rua Cásper
nessa via. Próximo da sua esquina com a Rua Mauá,
Líbero. O espaço da praça, escassa de bancos e
existe uma série de edifícios de valor histórico, alguns
vegetação, foi claramente projetado para ser apenas uma
deles em mau estado de conservação, e outro mostram
opção para atravessar a quadra ou para acesso da
sinal de terem sido restaurados à pouco tempo. Os
estação do metrô. Segundo observado, poucas pessoas
gabaritos nessa rua são bastante heterogêneos, sendo os
fazem essa travessia como alternativa ao percurso pela
edifícios históricos mais baixos que os demais. Assim são
Rua Mauá. A preferência pode ser explicada pela atual
o estilo arquitetônico dos edifícios, representando várias
situação desse trecho da via. Devido à obras na Estação
épocas diferentes, mas principalmente o ecletismo e o
da Luz da CPTM e o no Museu da Língua Portuguesa, o acesso ao Terminal pela Rua Mauá está fechado,
2
permitindo que suas calçadas estreitas sejam ocupadas
Linha Amarela, da companhia de transporte ferroviário Via Quatro.
45
por moradores em situação de rua e usuários de drogas e
órgão foi efetuada, sem divulgação do destino que será
tornando o percurso desconfortável para os transeuntes.
dado ao mesmo.
A
permeabilidade
da
praça
com
o
espaço
efetivamente público das calçadas é deficitária. Essa relação se repete do outro lado da Rua Mauá, onde o entorno da estação é murado e a calçada estreita e com má condição de acessibilidade. Ao lado da praça, é notável a presença de um terreno vazio, já que se trata de uma região que lentamente volta a ser alvo de interesse da especulação imobiliária e da gentrificação. As tensões sociais existentes na Luz são ainda grande causa da repulsa de investidores. Esse terreno, vizinho de empenas cegas, não é uma exceção. Em frente a ele, na Rua Figura 15. Volumetria do entorno da Praça da Luz. Fonte: Google Maps. Acesso em 05/05/2016.
Brigadeiro Tobias, há o maior edifício ocupado do Brasil. O Edifício Prestes Maia, projetado pelo famoso arquiteto Jacques Pilon, abrigou até a década de 1980 a Cia Nacional de Tecidos. O edifício ficou abandonado desde então e está ocupado desde 2010, abrigando 478 famílias. Existem rumores na imprensa sobre a transformação do prédio em Habitação Social pela Prefeitura de São Paulo. Mas até então, somente a compra do edifício pelo mesmo
46
3.3.2. Praça Júlio Prestes e quadras da imediação
estação, fechada para eventos, recebe poucos usuários, com exceção dos dias de espetáculo na sala de concertos. Em frente a ela, a quadra que antes abrigava a antiga rodoviária de São Paulo agora está vazia, acomodando apenas um edifício do Corpo de Bombeiros e uma instalação para serviços de assistência social da prefeitura. A quadra menor, ao lado da praça, também se encontra praticamente vazia, abrigando apenas dois edifícios, um residencial e outro destinado a serviços de assistência social da prefeitura. A pequena praça na lateral da quadra que beira a Alameda Cleveland parece ser tão inutilizada quanto a praça Júlio Prestes. Esta fica de fato em frente à entrada da Estação, mas a proximidade pontos de tráfico e uso de drogas faz com que as pessoas tenham
Figura 16. Perímetro da área de tensão. Fonte: Google Maps. Acesso em 05/05/2016.
receio de usar esses espaços como área de permanência. Um dos maiores sintomas dos problemas sociais nessa
Em frente à Estação Júlio Prestes, antiga Estação
região é a Cracolândia. Em meados dos anos 70, quando
Sorocabana, a praça homônima recebe pouco fluxo. Após
iniciou-se o processo de abandono e degradação do centro
a construção da Sala São Paulo, em um dos espaços da
de São Paulo, a criminalidade começou a crescer nessa
Estação, a entrada da mesma foi transferida para a lateral do
edifício,
com
dimensões
e
localização
região. Ao se tornar deserta em períodos noturnos, surgiu
quase
a oportunidade desses grupos se aproveitarem desses
insignificantes. A Praça, que faz frente com a gare da
espaços, na época com pouco policiamento e ausente das 47
atenções públicas. Desde então, diversos projetos sociais foram postos em prática para combater o crescimento do uso do crack na cidade e tirar esses usuários das ruas. Atualmente, existem diversos centros de assistência social voltados especificamente para essa população de rua. Mas ainda existe uma tensão muito grande entre as pessoas que trabalham, frequentam ou moram nas imediações e a população da Cracolândia.
Figura 17. Praça em frente à atual entrada da estação. Fonte: Google Maps. Acesso em 25/05/2016.
48
..............................
CRACOLÂNDIA
Figura 18. Volumetria da área de tensão. Fonte: Google Maps. Acesso em 05/05/2016.
Figura 19. Rua Helvétia. Fonte: Google Maps. Acesso em 05/05/2016.
49
3.3.3. Quadras das ruas General Couto de
A área envoltória dessas quadras é bastante densa
Magalhães, dos Protestantes e Mauá
de edificações, apesar do predomínio de gabaritos baixos. A maioria dessas edificações é de comércios populares ou galpões sem uso nenhum dessas vias do entorno imediato terem pouco movimento, a Avenida Duque de Caxias é a mais movimentada tanto no fluxo de carros quanto de pedestres. Essas quadras tem um potencial muito grande, por serem livres de edificação e por terem a possibilidade de abrigar quase qualquer tipo de uso. Mas a grande responsabilidade está em produzir usos e uma arquitetura que seja capaz de promover a diminuição dessas tensões sociais. Neste trecho da rua Helvétia concentra um grande número de imóveis de valor histórico, mas em níveis
Figura 20. Perímetro da área de tensão. Fonte: Google Maps. Acesso em 27/05/2016
distinto de conservação. Com exceção da Estação e sua
As quadras em destaque chamam atenção por se
gare, a situação de imóveis históricos do entorno é de
tratarem de áreas quase inteiramente não edificadas, de
displicência.
terreno plano e perfeitamente edificáveis. Em uma delas há um edifício de gabarito médio, com fachadas e estrutura degradadas e aparentemente sem uso e a outra abriga um estacionamento de veículos. 50
3.3.4. Favela do Moinho
O entorno imediato dessas quadras tem edificações gabarito baixo, quase predominantemente ocupadas por pequenos comércios de varejo. O movimento gerado por esse uso não é significativo e a maioria dos pedestres que cruzam as ruas do entorno o faz apenas para chegar a outros pontos mais atrativos, como a Rua Santa Ifigênia, que tem um intenso comércio especializado em produtos eletrônicos e equipamentos luminosos.
Figura 22. Perímetro da Favela do Moinho. Fonte: Google Maps. Acesso em 05/05/2016.
A Favela do Moinho é a ultima favela remanescente na região central da cidade de São Paulo, um fato que tem a gentrificação como fator de expulsão dessa tipologia de habitação para as periferias. Ela é constituída por uma área residual decorrente do encontro das estradas de ferro da Linha Rubi da CPTM e do Viaduto Eng. Orlando Murgel. Figura 21. Volumetria da área de tensão. Fonte: Google Maps. Acesso em 27/05/2016.
51
Ao sul dessa área, temos uma grande concentração de indústrias e galpões industriais, aspecto característico da região do Bom Retiro e ao norte, há uma mescla de edifícios residenciais e alguns equipamentos culturais, como o Sesc Bom Retiro, Espaço Cultural Porto Seguro e o Museu da Energia. Essa favela é um sintoma de um dos maiores problemas identificados na região de estudo, que é o da habitação.
Existem
ainda
hoje
muitos
cortiços
e
ocupações, algumas delas em imóveis de valor histórico e arquitetônico, como o caso citado do Edifício Mauá, todas
Figura 23. Volumetria do entorno da Favela do Moinho. Fonte: Google Maps. Acesso em 05/05/2016.
em edifícios degradados e sem conservação, além dos moradores em situação de rua. É importante frisar que, apesar do uso comercial e industrial ser muito forte nessa região, a ocupação do espaço por habitações apresenta
.........................................................................................
uma significativa densidade. Além das sub habitações,
.............................................................................................
existem muito edifícios de habitação regular.
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Apesar de estar ilhada por vias férreas e rodoviária
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e ainda ser a área de transição de duas áreas de usos
.............................................................................................
distintos, industrial e mista, a região é vizinha de uma
.................................
ampla área verde, que pode ser percebida como potencial espaço público de lazer e cultura. 52
4. ESTUDOS DE CASO 4.1. Docklands, Londres da importância histórica pela relevância econômica que
As áreas portuárias e de transporte de carga das cidades europeias
e
norte
americanas,
aquele espaço já representou para a cidade.
comumente
Visando promover outros usos e a requalificação
localizadas próximas à área central e de intensa atividade
dessas
comercial, começaram a se deteriorar entre as décadas de
áreas,
essas
cidades
passaram
a
adotar
procedimentos de planejamento urbano que se tornaram
60 e 70, devido à modernização do sistema de transporte
modelos para as outras, através de parcerias entre o
fluvial e marítimo com grandes navegações portando
governo e iniciativas privadas, nas quais o primeiro
diversos containers ao mesmo tempo, cada um com
promovia a infraestrutura e ao segundo, os investimentos
significativa capacidade de carga, que superava em muito
nas construções que abrigariam os novos usos. Esse tipo
as antigas embarcações as quais eram servidas pelos
de parceria público-privada (PPP) se tornou um modelo
antigos portos. A partir do abandono de seu uso original
para requalificação de áreas portuárias e orlas ferroviárias
nessas áreas, as mesmas passaram a se constituir como uma barreira e uma “peça desconectada da malha
desativadas ou que tiveram a intensidade de utilização
urbana”3, impedindo a conexão entre a região central da
muito reduzida. (GUERRA, 2005) A região das Docas Londrinas começou suas
cidade e o elemento natural do mar ou rio, além da perda
atividades no século XVIII e teve seu apogeu no século XIX. Ela se localiza próxima ao centro financeiro da cidade 3
GUERRA, Abilio. A revitalização das Docklands londrinas, 2005. Disponível em: http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/resenhasonline/04.040/3159. Acesso em: 05 de junho 2005.
e se divide em três regiões, a primeira abriga as áreas intituladas Surrey Docks, Wapping & Limehouse; a central, chamada Isle of Dogs; e a terceira, Royal Docks, como 53
pode ser observado na figura 24. Após a diminuição do
partir da implantação de infraestrutura urbana, a London
fluxo de embarcações iniciada nos anos 60, o porto foi
Docklands
oficialmente fechado na década de 1980. (GIACOMET,
corporação atuava para promover e articular a parceria
2008)
entre o setor público e o privado. (NOBRE, 2002)
Development
Corporation
(LDDC).
Essa
Na década de 1980, na área de Surrey Docks, que não necessitou investimentos de infraestrutura, galpões e antigos
armazéns
transformados
em
industriais estúdios,
foram edifícios
reformados de
e
habitação,
comércio e serviço, produzindo ocupação heterogênea. Na região central das docklands, a Isle of Dogs é uma península aonde foi concentrada a maior parte dos investimentos. Em 1982 a LDDC encomendou uma plano urbanístico para Gordon Cullen e David Gosling, o qual Figura 24. Mapa das regiões das Docklands. Fonte: Buchanan, 1989.
consistia na criação de um eixo conectando os pontos
O governo de Margaret Tatcher, com sua política conservadora reformulação
e da
neoliberalista, política
urbana
promoveu transformando
turísticos da região e usava as águas dos diques como
uma
elemento
paisagístico.
No
entando,
tal
projeto
foi
as
engavetado, prevalecendo sobre o plano o desejo dos
docklands em EZs (zona de empreendimento), com
grandes empreendedores e do mercado imobiliário, que
incentivos à instalação de novos empreendimentos através
tinha
da isenção de impostos e necessidade de alvarás; e
edifícios de escritórios e desprezo quanto ao paisagismo e
criando uma companhia responsável por desapropriar as
implantação das torres. Essa atitude motivou muitas
áreas decadentes e transforma-las em valor de mercado a
críticas a respeito desse projeto, por provocar gentrificação 54
objetivos
de
verticalização,
predominância
de
e aumento do índice de desemprego na ilha. Além disso, o
Apesar de ter promovido habitação e uso misto em quase
único meio de transporte para acesso à essa área era uma
toda a orla, na região da Isla of Dogs a falta de uma gestão
linha de trem, que em poucos anos se tornou saturada e
mais firme por parte do governo constituiu um grande
insuficiente para suprir a demanda de passageiros. Diante
problema social, por ter tido como âncora de ocupação
disso, o governo precisou intervir e investir massivamente
naquela área o uso exclusivo do setor terciário. Porém,
em uma solução para o transporte, o que acarretou um
quase 20 anos depois das primeiras iniciativas de
gasto por parte do órgão público muito maior do que o
requalificação urbana das docklands, os investimentos
previsto. A região de Royal Docks foi a que recebeu
começam a se mostrar positivos para a dinâmica da cidade
investimentos mais diversificados, como apartamentos,
como um todo e não só para um grupo seleto de pessoas.
lojas, centros comunitários e aeroporto, além de ter sido
O uso de habitação e equipamentos culturais ou públicos
projetada com devida atenção ao desenho da paisagem.
como âncoras se mostrou mais eficaz para promover
Já a área de Wapping & Limehouse foi a primeira a
espaços mais democráticos e efetivar a requalificação de
receber investimentos no setor terciário. Mas por ser a
áreas degradadas. A heterogeneidade de ocupação
área mais próxima do centro empresarial da cidade,
promove espaços urbanos mais seguros, com mais
também teve forte valorização do setor de habitação,
vitalidade e qualidade ambiental. (JACOBS, 1961)
servindo principalmente às classes altas. Antigos galpões também tiveram novos usos, como nas outras regiões, e edifícios
históricos
foram
restaurados.
(ANDRADE,
OLIVEIRA. 2013; Ibid.) A operação, como um todo, recebeu bastante críticas pelo fato de ter demorado um certo tempo para se concretizar como benéfica para a dinâmica da cidade. 55
4.2. Puerto Madero, Buenos Aires
Concurso Nacional de Ideias. Foram selecionadas três propostas de urbanização da área do antigo Porto tendo
Ao se tratar da recuperação da região portuária da
como objetivos estruturais
cidade de Buenos Aires a Operação Puerto Madero opera “converter
em reverter o processo de degradação e abandono
a
área
para
salvá-la
da
decadência e deterioração; recompor seu
ocorrido nessa região a partir da obsolescência do seu
caráter, preservando o forte poder evocativo;
porto. Apesar do perímetro da Luz não ser uma região
hospedar atividades terciárias que exijam
portuária, ela foi a principal região da cidade de São Paulo
uma localização central; recuperar uma
em termos de convergência de fluxos e se assemelha a
aproximação mais efetiva do rio com a
Puerto Madero por ambas terem tido papeis significativos
cidade;
e
reposicionar
a
área
central,
equilibrando os setores norte e sul." (Ibid.)
em relação ao transporte em suas respectivas cidade em meados do século XIX. Com a modernização dos meios de
Foi
lançado
então
o
Plano
Diretor
de
transporte ou técnicas de desembarque de mercadoria, no
Desenvolvimento Urbano, que guiou a intervenção na
caso de Porto Madero, essas áreas começaram a perder
região do antigo porto, conectando-o novamente a
importância no contexto municipal, o que desencadeou um
dinâmica do centro da cidade de Buenos Aires. O projeto
processo de abandono por partes dos órgãos públicos, que
resultante da junção das propostas vencedoras do
deixaram de investir na região, e degradação de seus
concurso fundamentava-se na criação de uma estreita
edifícios por falta de manutenção, além de terem passado
faixa urbanizada que se conecta com o parque formado
pela expressiva mudança de público. (TELLA, 2013)
pela reserva de área verde através de quatro avenidas,
Com o objetivo de promover a reurbanização da
que dividem o canal em quatro diques. Cada qual teve
área do porto já desativado, a prefeitura de Buenos Aires,
diretrizes de zoneamento específicas, para garantir a
em parceria com o Governo nacional, instaurou o
diversidade de usos nova área urbanizada. Comum aos 56
quatro diques foi a recuperação dos antigos galpões do
A maneira como a parceria público privada foi gerida
antigo Puerto Madero, resgatando a memória da intensa
e as estratégias projetuais para inserir novamente a área
atividade comercial que se desenvolveu a partir do mesmo;
de Puerto Madero na cidade podem ser reproduzidas para
e a preservação do baixo gabarito na faixa adjacente ao
recuperar áreas que necessitam de requalificação urbana
canal. A ligação de Puerto Madero com o centro também
no Brasil, como por exemplo, a região da Luz, salvo suas
se faz a partir da ponte pedonal projetada por Santiago
diferenças geográficas. A Luz ainda possui um potencial
Calatrava, que transpõe o canal no mesmo eixo da
que o antigo porto de Buenos Aires não tinha, o polo
Avenida de Mayo, um dos mais importantes da cidade, do
cultural. Nesse quesito, o caso carioca da Operação Porto
qual faz parte a “Casa Rosada”. (GIACOMET, 2008;
Maravilha, que será estudado a seguir, se assemelha
TELLA, 2013)
muito mais. ..........................................................
Apesar de haver a preocupação de intensificar a diversidade de usos na região do porto, não houve
.................................................. ..................................................
iniciativas para promover a diversidade social dessa
.................................................. ..................................................
ocupação, provocando uma forte segregação social e
.................................................. .................................................. .................................................. ..................................................
urbana entre essa área valorizada e as áreas que não
.................................................. ..................................................
despertam interesse do mercado imobiliário. Porém, a
.................................................. ..................................................
atuação do Estado como regulador dos lotes e dos investimentos
do
mercado
imobiliário
nessa
.................................................. ..................................................
região
.................................................. ..................................................
amenizou o impacto que haveria se o setor privado se
.................................................. ..................................................
apropriasse
como
.................................................. ..................................................
comumente acontece em operações urbanas no Brasil.
.................................................. ..................................................
(ROLNIK, 2011)
.................................................. ..................................................
da
valorização
dessas
áreas,
57
Figura 25. Eixo formado pela Avenida de Mayo, Casa Rosada e ponte pedonal. Fonte: Google Maps, Acesso em 06/06/2016.
58
Figura 26. Diagrama de zoneamento e eixos de circulação. Fonte: GIACOMET, 2008.
59
4.3. Operação Urbana Porto Maravilha, Rio de
econômica do Rio de Janeiro. (SANTORO, 2016; PIO,
Janeiro
2013) A região do porto da cidade tem baixa densidade
Tendo como referência, recuperação da área
demográfica e baixa taxa de ocupação e foi por anos alvo
portuária de Puerto Madero, Buenos Aires, a Operação
de propostas de revitalização e reabilitação, nas quais
Urbana Consorciada Porto Maravilha (OUCPM) tem como
sempre houve desacordos entre as diferentes secretarias
principal objetivo o estímulo ao uso habitacional, a
públicas. A maior parte dessa região é ocupada por
melhoria na infraestrutura (saneamento, malha viária, meio
imóveis do século XIX, com baixo gabarito e estado ruim
ambiente), comércio e indústria e cultura e entretenimento
de conservação e baixa verticalidade, com exceção de
através da otimização da gestão do Meio ambiente
algumas pequenas áreas, como o centro empresarial. Para
Cultural, reabilitação do espaço público, criação de
o controle do gabarito de novos empreendimentos a
instrumentos de conservação e preservação de imóveis
prefeitura criou as CEPACs (Certificados do Potencial
históricos, e recuperação da paisagem da zona portuária e
Adicional
região central da cidade do Rio Janeiro. As principais
adicional de construção mediante a compra de títulos cujos
medidas preveem o adensamento do uso habitacional,
valores são direcionados para fundos da operação urbana.
melhoria
de
concedem
potencial
Diferente da operação de reabilitação de Puerto
ressignificadores
da
Madero e de Docklands, a OUCPM não conta tanto com a
identidade urbana. As Olimpíadas de 2016, que terão sua
iniciativa privada para promover a renovação urbana da
sede na cidade do Rio de Janeiro, também foram
área portuária. Têm-se o objetivo de atrair investimentos
motivadoras
e
do mercado imobiliário através das melhorias no espaço
implantação de novas modalidades de transporte a fim de
público e infraestrutura. Porém, a âncora para a renovação
atrair turistas e contribuir para uma transformação
dessas áreas se apoia nos equipamentos culturais e
das
como
melhorias
do
e
que
de
culturais
públicos
Construção),
implantação
equipamentos
espaços
de
espaço
público
60
patrimoniais, em sua maioria, financiados pelo Governo. O
alguma resistência para se estabelecerem ali, pois a falta
objetivo de intervenção é conceber um “plano completo de
de heterogeneidade de usos, a deterioração dos imóveis
revitalização, de forma que a transforme num novo vetor
patrimoniais e a obsolescência do porto atribuíram uma
4
de crescimento da cidade” ·.
imagem decadência ao lugar. Esse fenômeno é provocado
Desde a divulgação da operação, em 2009, a
pela redução do fluxo de pessoas em horários não
atividade do setor imobiliário já começou lentamente a se
comerciais e pela falta de apropriação do espaço público
intensificar5. O esperado é que a finalização das obras e
como equipamento de lazer da vida cotidiana, tornando a
intensificação
o
região deserta e intensificando a sensação de insegurança
crescimento da ocupação residencial. A operação teve a
nas ruas e praças. Apesar dessa imagem ainda prevalecer
participação direta da população na definição das áreas de
em alguns pontos do perímetro de intervenção, nos locais
preservação, ação que teve o objetivo manter os
em que as obras de melhoramentos já estão sendo
residentes desse perímetro histórico na área, apesar de
executadas, a valorização imobiliária já está em atividade.
não serem predominantes como usuários do espaço. Até
A atividade econômica e geração de alvarás nessa região
os anos de 1990 houve uma lei que impedia novos
vêm crescendo consideravelmente, principalmente em
licenciamentos
decorrência da primeira fase da operação, a requalificação
das
de
atividades
turísticas
empreendimentos
estimule
residenciais
no
da Praça Mauá. 5 (FARJADO, 2013)
centro, o que fez com que fosse predominante até esse período, o uso comercial. Mesmo após a revogação dessa lei, os empreendimentos residenciais ainda encontravam 4
PIO, Leopoldo; Cultura, patrimônio e museu no Porto Maravilha. In: Revista Intratextos, 2013, vol 4, no1, p. 8-26. DOI: 10.12957/intratextos.2013.8565 5 Com revitalização da Zona Portuária, Centro do Rio pode voltar a ser opção de moradia. O Globo, Rio de Janeiro, 19 de maio de 2015.
61
4.2.1. Projeto Praça Mauá
mesmo foi apresentado por diversas autoridades como “ícone da reurbanização”6 da Zona Portuária. Já a criação
A operação acontece em 12 áreas com vocações
do MAR (Museu de Arte do Rio), do escritório Bernardes
distintas. A primeira área a ter suas obras executadas é a
Jacobsen, cumpre a função de resgate da memória e
Praça Mauá (figura 31), constituída por galpões de
identidade do porto, através da transformação do antigo
armazéns e de escolas de samba e apesar de ser um
Palacete D.João VI em museu. Outros edifícios de valor
importante ponto nodal de fluxos de pedestres que trabalham
como
prestadores
de
serviço
no
histórico e sob novas políticas de preservação circundam a
centro
praça, como o Terminal Marítimo de Passageiros do
comercial próximo à praça, o fluxo mais intenso ali era o do
Touring Club do Brasil, o Arsenal de Marinha, a Igreja de
elevado rodoviário Perimetral, que foi um elemento
São Francisco, o edifício déco A Noite, e também o Morro
determinante na degradação urbana, descaracterização e
e Mosteiro de São Bento com a Igreja de N. S. de Mont
marginalização da área. (Ibid.)
Serrat, ambos edifícios de imenso valor histórico, da época
O primeiro passo para a recuperação da praça foi a
colonial. (PIO; FARJADO, 2013)
demolição do elevado Perimetral e a construção de um viaduto subterrâneo a ela, criando uma grande praça conectada ao píer. As atividades culturais atuam como aspecto
central
e
determinante
no
processo
de
revitalização econômica e social desse espaço, além de estarem
atreladas
à
requalificação
e
restauro
do
patrimônio arquitetônico e material. Dentro dessa diretriz, está a implantação do monumental Museu do Amanhã, de Santiago Calatrava, no terreno do antigo píer do porto. O
6
62
PIO, Leopoldo; 2013.
Figura 28. Foto da Praça Mauá, em vista o Museu de Arte do Rio. Fonte: G1 (foto de Alexandre Macieira/Riotur)
Figura 27. Foto aérea da Praça Mauá e do Museu do Amanha em construção. Fonte: Luiz Ackermann / Agência O Globo
Figura 30. Mapa de subdivisão da OUCPM. Fonte: Site Reconversão Urbana
Figura 29. Mapa de subdivisões por vocações da OUCPM.
63
promotores de atividade econômica e social nessa região. Apesar alguns arquitetos7 entenderem que a proposta de intervenção se trata de um projeto econômico e financeiro e não urbanístico, a estratégias de ancorar a revitalização nos equipamentos culturais tem sido satisfatória, se pensarmos no objetivo de promoção econômica e turística. Porém, do ponto de vista social, estão sendo produzidos espaços de ilhas de excelência8, que são regiões concentram investimentos e grande vitalidade em um setor, sem que a infraestrutura e o desenvolvimento
Figura 31. Mapa da área Praça Mauá da OUCPM. Fonte: Site Reconversão Urbana
econômico se estenda para as demais áreas da cidade, além de não ser levado em consideração a as tensões
A requalificação da região da Praça Mauá também
sociais gerada pela valorização imobiliária das áreas
está ligada ao objetivo de criar uma articulação histórica
contíguas ao polo cultural. Essa complexidade social
entre a praça e a região da Lapa, estimulando esse eixo de
gerada pela valorização imobiliária e alicerçada na
ocupação e preservação dos bens patrimoniais nele
dinâmica de segregação também é uma problemática
contido. (FARJADO, 2013)
presente na região da Luz e um obstáculo a se vencer nas
A ocupação residencial dentro do plano geral da
propostas de reabilitação urbana daquela área.
operação acontece de forma isolada das demais, fazendo com que áreas como a da Praça Mauá não tenham uso misto e consequentemente, diversidade de usos. Porém, o
7
Luiz Fernando Janot e Roberto Anderson Magalhães. (PIO, 2013) COELHO JR, Marcio Novaes. Processos de Intervenção Urbana: Bairro da Luz, São Paulo. Dissertação de Doutorado, FAUUSP, 2010.
papel dos equipamentos culturais é efetivo enquanto
8
64
5. PROPOSTA A partir do momento em que deixa de ter importância de centralidade no contexto municipal a imagem da Luz passa a se descaracterizar. Edifícios de valor histórico começam a se degradar por falta de manutenção, os estabelecimentos se popularizam, os espaços públicos também se deterioram e passam a serem apropriados por outros usos, que não o lazer, como apenas passagem ou uso e tráfico de drogas. A imersão feita na região da Luz, em conjunto com da analise dos planos urbanísticos voltados para essa área e estudo dos casos de Docklands, Puerto Madero e Porto Maravilha permitiu que se chegasse a um planejamento para reabilitação urbana da Luz. A partir da identificação das
áreas
de
tensão
e
da
potencialidade
dos
equipamentos culturais em processos de recuperação urbana, chegou-se em uma proposta de conexão desses agentes a fim de minimizar as tensões sociais fazendo uso do potencial que a região possui. A proposta se divide em diretrizes que resumem os seguintes objetivos: - reabilitação da paisagem urbana; 65
- resgatar o passado da região, articulando-o ao
-
presente a fim de fortalecer a identidade local;
comunicação
visual,
das
vias
estendendo
em
a
relação
à
calçadões
manutenção
e
acessibilidade;
apogeu
- intensificar o uso habitacional e substituir as sem
remover
a
espaços
e
travessias
elevadas
para
promover
- Sistema de iluminação que evoque a época do
imediato desses equipamentos;
subnormais
nos
- Executar alargamentos de calçadas, criação de
investimentos de infraestrutura para além do entorno
habitações
culturais
da população local;
- conectar os equipamentos culturais através do uniformizado
atividades
públicos e nos equipamentos culturais programados junto
- incentivar a atividade turística e cultural;
tratamento
Promover
da
economia
cafeeira,
edificações monumentais e
população
para
valorizar
as
estabelecer unidade de
comunicação visual entre os elementos do espaço.
residente.
- Uniformizar o revestimento das calçadas com material que corresponda à unidade da comunicação visual;
5.1. Diretrizes
-
Incorporar
desenhos
com
QR
code
no
Das diretrizes propostas, são elas:
revestimento das calçadas contento informativos voltados
- Garantir a manutenção de espaços públicos não
para o turismo;
edificados,
provendo
o
lazer,
criando
lugares
-
de
Implantar
totens
informativos
sobre
os
permanência, áreas verdes e de solo permeável, que
monumentos, patrimônios, história da região e circuito
estejam conectados entre si com vias arborizadas e
cultural; - Reabilitar edifícios de cortiços e ocupações para
canteiros ajardinados nas vias mais largas;
habitação social; - Reurbanizar a Favela do Moinho; 66
- Criar políticas públicas de assistência social para tratamento de usuários de drogas; - Criar políticas públicas para erradicar o tráfico de drogas na região; - Promover a manutenção do patrimônio material através de políticas de restauro e conservação;
Figura 32. Espacialização das diretrizes. Fonte: da autora, Base GEGRAN 2004.
67
5.2. PROJETO
A praça da estação da Luz foi escolhida dentro os
Os hotéis mais importantes da rua Mauá eram o
“quatro pontos de tensão” para intervenção em escala
Hotel do Comércio, o Hotel Roma e o Hotel Federal
paisagística e arquitetônica devido às suas inumeras
Paulista. Outros dois hotéis, situados na Avenida Cásper
potencialidades. Dentre elas estão a proximidade com o
Líbero, são o Hotel Queluz, projetado por Ramos de
prédio da Estação da Luz, datado de 1901 (MONTEIRO,
Azevedo e o Hotel Karin. (Ibid.)
2006, p. 52), marco arquitetônico, histórico e cultural da cidade de São Paulo; do edifício dos hotéis Karin e Queluz e adjacencia com o edifício do Hotel Federal Paulista, todos da mesma época. Com a construção da Estação da Luz e as mudanças socioeconomicas ocorridas em decorrencia da sua implantação, a pequena vila lindeira à estação se transformou adequando-se à nova dinâmica local. A rua Mauá, antiga Rua da Estação, passou a abrigar diversos hóteis para atender a demanda de passeiros e viajantes trazidos à São Paulo pela nova ferrovia. Formou-se então Figura 33. Localização do terreno de intervenção. Fonte: da autora,
um novo eixo da hotelaria em São Paulo, enfatizando
Base Google Maps.
ainda mais a relevância dessa região para a cidade. 68
Figura 36. Edifício Hotel Federal Paulista visto da praça . Fonte: da Figura 34. Edifício Hotel Queluz. Fonte: da autora
autora
Figura 35. Edifício Hotel Federal Paulista. Fonte: da autora.. Figura 37. Foto tirada na praça, com vista para a Estação da Luz e a Pinacoteca. Fonte: da autora.
69
O entorno da Praça da Estação da Luz é tomado
acessos para a Estação da Luz, a esquina da Avenida
por edifícios de serviço, sendo a maioria deles com térreo
Casper Líbero com a Rua Mauá é uma área de grande
comercial. Apesar da predominancia dessa tipologia, ainda
concentração de pessoas, tanto em deslocamento, quanto
existem edifícios habitacionais nos arredores, dentre eles
em permanência, como é o caso dos vendedores
uma ocupação, edifícios de tipo cortiço, e outros edifícios
ambulantes.
de classe média. Mas a presença do uso residencial no entorno desperta para uma potencialidade de crescimento da segurança nas calçadas e ruas. Segundo Jane Jacobs (2000), o fato de existir olhos voltados para ruas, como janelas
de
residências,
fachadas
de
mercearias
e
estabelecimentos que funcionam em horários distintos são fatores que intensificam a segurança urbana. Além da atividade comercial nos edifícios do entorno da Rua José Paulino e São Caetano (Rua das Noivas), outro elemento que intensifica o fluxo nessa localidade é a presença da Estação da Luz da CPTM e Metrô. Na praça, há duas entradas para a linha Amarela do Metrô, além de outras duas na Avenida Casper Líbero.
Mas os fluxos Figura 38. Implantação da situação atual da praça. Fonte: da autora
mais evidentes nessa área são ligados à mobilidade, como as estações da Luz e Júlio Prestes, pontos de ônibus e a Passarela das Noivas. Por conta do encontro de quatro 70
Figura 39. Mapa de uso, ocupação e fluxos. Fonte: da autora.
71
Figura 40. Mapa de Fluxos e residĂŞncias. Fonte: da autora.
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Baseando-se no diagnóstico da dianâmica do
de suprimir as ondas sonoras e também por conta dos
entorno e nas reflexões feitas a respeito do Bairro da Luz,
equipamentos de recreação, que passam a ser uma opção
foi possível propor uma opção de requalificação do espaço
para os residentes desses edifícios. O espaço dedicado à
da Praça da Estação da Luz.
O conceito do projeto
feira livre é uma ferramenta para atrair pessoas para a
permanece o mesmo em que se basearam as diretrizes de
praça e incentivar sua diversidade de usos. A identidade
intervenção em escala urbana. Porém, na escala projetual
dessa região como bairro, principalmente pelo moradores,
é possível pensar de forma mais incisiva a respeito das
é indefinida, fazendo com que a maioria dos espaços
novas qualidades que serão atribuídas a cada elemento
públicos sejam para passagem ou comércio, e pouco para
desse perímetro. A praça foi setorizada em 3 partes
desenvolvimento das atividades cotidianas de um bairro,
(FIGURA 41) , cada qual com seus usos. São elas: Área
como feira, passear na rua com crianças e recreação.
de lazer, com feira livre, horta urbana, recreação e área de
Portanto, a praça tem o objetivo de permitir que essa
massa arbórea (sombreada); área de passagem e
cultura seja resgatada.
permanência, com bancos e mobiliário para descanso; e a O principal fluxo de passagem da praça começa
área cultural, com espaço para exposições, leitura,
entre as clarabóias da estação e se encontra com a
educação de patrimônio, oficinas, biblioteca e mecanismo
esquina da Avenida Cásper Líbero e Rua Mauá. As
para fazer sombra, pois abaixo dessa região está a
clarabóias não possuem um volume harmonioso com a
estação do metrô, e está é portanto, uma área de piso impermeável,
sem
possibilidade
de
implantação
topografia planta que a praça possui. A solução foi
de
amenizar esses volumes com jardins escalonados e
grandes árvores.
vegetações que camuflam o volume da estrutura das A área de lazer, fica próxima aos edifícios
mesmas.
residênciais, por conta da massa arbórea, que tem o efeito 73
Figura 41. Mapa de setorização. Fonte: da autora.
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No setor cultural, o Edifício do Hotel Federal
relacionam entre si e podem se hospedar por preços mais
Paulista, é um marco da atividade hoteleira da região , que
acessíveis. Essa atividade pode ser um impulso para a
foi um dos aspectos que definiu a identidade do entorno da
revitalização
estação no início do século XX, mas hoje se encontra em
acompanhado da intensificação do turismo na região.
do
serviço
hoteleiro
do
entorno,
processo de descaracterização. Ainda existem muitos Ao lado da praça, onde hoje existe um terreno
edifícios de serviço hoteleiro, porém, poucos deles são
vazio, há uma grande empena cega de um edifício
usados para fins turísticos e muitos apresentam estado de
residencial misto. Partindo do conceito de Jacobs (2000),
degradação. A proposta para esse edifício é um térreo com
de que os olhos da rua são dentre, outros fatores, são as
desenho que permita a conexão entre a praça e a estação
janelas e o comércio, foi elaborado um edficío residencial
e ocupado por salas de co-working, ou seja, espaços de
de sete pavimentos, para reduzir o impacto dessa empena,
trabalho compartilha; área de orientação turística e
e térreo comercial, ambos para gerar movimento na praça
pratrimonial e área para exposições. O segundo pavimento
em diferrentes horários do dia.
é ocupado pela “Residência dos artístas”, uma combinação do conceito
de oficina artística e de hostel. A ideia
principal é criar uma residência para artistas em processo de criação individual e conjunta de um tema em comum. Após a conclusão das obras, a residência pode ser habitada por um novo grupo de artistas. As obras produzidas ficam expostas no térreo do edifício ou na praça. A ocupação dos dois últimos pavimentos marca o retorno do edifício ao serviço hoteleiro. O hostel é um conceito modificado de hotel, onde os hóspedes se 75
Figura 42. Implantação Final da Praça da Estação da Luz. Fonte:da autora.
76
Figura 43. Planta de cobertura da praรงa. Fonte: da autora.
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78
Figura 44. Corte BB. Fonte: da autora.
79
80
Figura 45. Corte AA. Fonte: da autora.
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Figura 46. Perspectiva da marquise em frente ao Hotel Federal Paulista. Fonte: da autora.
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Figura 47. Perspectiva da marquise na região central da praça. Fonte: da autora.
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Figura 48. Perspectiva da praça com vista pra o edifĂcio residencial projetado. Fonte: da autora.
O projeto das diretrizes propostas para o perímetro de estudo e a proposta de intervenção na Praça da Estação da Luz, tiveram como objetivo principal conectar os espaços mais relevantes dessa região, fazendo com que seja estabelecida uma unidade tanto na manutenção e preservação dos espaços públicos e patrimônios, quanto em relação a identidade dessa área. O projeto da Praça, sobretudo, além de objetivar a integração da Estação da Luz com o perímetro histórico da Rua Mauá, também visa a reformulação da identidade desse lugar a partir da participação da população residente, além da participação turística e comercial, já existentes. Dessa forma, a imagem da Luz, carregada de todo seu significado histórico, tem condições de se associar agora ao resgate da cultura de bairro, como local de residência, labor, lazer e qualidade de vida. A partir da reformulação dessa imagem as transformações decorrentes de uma pequena intervenção viabilizam que ela se reflita em todo o seu entorno.
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