REQUALIFICAÇÃO URBANA EM ESPAÇOS RESIDUAIS: O SISTEMA DE ESPAÇOS LIVRES DO CAPÃO REDONDO
MATHEUS LEITZKE DE ALBUQUERQUE
MATHEUS LEITZKE DE ALBUQUERQUE
REQUALIFICAÇÃO URBANA EM
ESPAÇOS RESIDUAIS: O SISTEMA DE ESPAÇOS LIVRES DO CAPÃO REDONDO
Trabalho de conclusão de curso apresentado ao Centro Universitário SENAC, como exigência parcial para obtenção do grau de Bacharel em Arquitetura e Urbanismo
PROFA. MS. MARCELLA DE MORAES OCKE MUSSNICH SÃO PAULO, 2016
AGRADECIMENTOS Agradeço primeiramente a Deus por todas experiências vividas na faculdade, me acompanhando e guiando nos momentos de dificuldade e de alegria. Pelas pessoas que me apresentou e pelos amigos que formei, que me ajudaram a crescer como pessoa e profissionalmente. Aos meus pais, Keila e Rosival, que torcerão por mim do início até o fim, me aconselhando em cada nova oportunidade através das experiências trocadas. Pelo apoio e paciência em cada momento de dificuldade e por me inspirarem a ser uma pessoa melhor a cada dia. A minha orientadora, Marcella Ocke por me ajudar a concluir mais uma etapa da vida. Mas sobretudo pelas enriquecedoras conversas sobre o espaço urbano voltado para as pessoas, sensibilizando meu olhar sobre a cidade. E por fim, aos meus amigos Rafael Scarpa, Marvin Sampaio e Carlos Eduardo Eiji que diariamente compartilharam suas personalidades comigo, me fazendo enxergar que das diferenças podem surgir grandes amizades.
RESUMO Este projeto cria um sistema de espaços livres no distrito do Capão Redondo localizado na zona sul da cidade de São Paulo. Sobreposições temporais da formação territorial da região, criaram recortes no tecido urbano resultando em espaços residuais na paisagem urbana. Através do estudo de projetos e referências bibliográficas, procura estabelecer a conexão urbana e requalificar os espaços do distrito, tornando-os mais democráticos e diversificados para os moradores desenvolverem atos simples como andar e parar. Palavras-chave: espaço livre, sistema, conexão, requalificação
ABSTRACT This project creates a system of free spaces in Capão Redondo, a district located in the southern area of São Paulo. Temporal overlays of the territorial formation of the region created cuts in the urban fabric which resulted in residual spaces in the urban landscape. Through the study of projects and bibliographical references, it seeks to establish an urban connection and requalify the spaces of the district, making them more democratic and diversified for residents develop basic actions like walking and stopping. Keywords: free space, system, connection, requalification
SUMÁRIO INTRODUÇÃO................................................................................................................................... 12 FORMAÇÃO TERRITORIAL DO DISTRITO DO CAPÃO REDONDO.................................................... 15 SITUAÇÃO ATUAL DO TERRENO..................................................................................................... 21 Áreas residuais.......................................................................................................................................................... 22 COHAB Adventista.................................................................................................................................................... 23 Parque Santo Dias..................................................................................................................................................... 23 Atividades Existentes............................................................................................................................................... 24 CONCEITOS...................................................................................................................................... 27 ESTUDOS DE CASO.......................................................................................................................... 33 Parque Madureira Rio +20......................................................................................................................................... 34 High Line Park............................................................................................................................................................ 36 Promenade Plantée.................................................................................................................................................... 40 O SISTEMA DE ESPAÇOS LIVRES.................................................................................................... 43 CONSIDERAÇÕES FINAIS................................................................................................................. 71 REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFIA......................................................................................................... 73
INTRODUÇÃO É da natureza humana a busca por um espaço edificado, onde possa desenvolver as necessidades pessoais. As grandes cidades surgiram através dessas necessidades, o pertencer e a proteção são os principais aspectos pela busca da moradia, são os pilares da construção da sociedade na qual por anos sofreu grandes mudanças na forma de pensar a cidade. Entretanto muito antes de existir o espaço edificado o espaço livre já desenvolvia sua função no mundo, Magnoli (2006, p. 203) descreve o espaço livre “como todo espaço (e luz) nas áreas urbanas e em seu entorno, não-coberto por edifícios.”. Nos primórdios, a natureza desenvolvia esse papel de forma sublime. As preocupações eram mínimas em relação o espaço livre, poucos eram os questionamentos. Com a criação das grandes cidades, complexidades espaciais e sociais surgiram, o espaço urbano se fragmentou onde aos poucos, através dos erros e acertos do passado, o espaço livre dentro das grandes cidades, começa a ganhar novos rumos no século XXI. De acordo com Koolhaas: A cidade com que temos de nos arranjar hoje é mais ou menos formada de fragmentos de modernidade – como se as características abstrato-formais ou estilísticas às vezes sobrevivessem em estado puro, enquanto o programa urbano não saísse conforme o planejado. Mas eu não lamentaria esse fracasso: os estratos neomodernos que dele resultam, e que literalmente invalidam a cidade tradicional da mesma forma que anulam o projeto original de modernidade, nos oferecem novos temas de trabalho. (KOOLHAAS, 1989, p. 359)
10 | INTRODUÇÃO
Esta pesquisa usa o conceito “espaço livre” como principal elemento para entender qualquer espaço dentro da cidade que seja uma área não edificada, sejam os parques urbanos, as praças, as áreas residuais, os espaços entre edificações entre outros. É de interesse deste estudo entender o significado de todas essas variações do espaço livre para desenvolver um projeto que não atenda apenas as pessoas ou apenas a cidade, de maneira individual, formando espaços sem conexões. Com o entendimento desses conceitos o objetivo é criar um sistema de espaços livres, conectando os espaços segregados do tecido urbano, trazendo espaços de lazer para a população, estabelecendo uma relação mútua entre a pessoa e a cidade. Um sistema de espaços livres, como o próprio nome já induz, são conexões feitas ao longo de todo o tecido urbano da cidade através desses espaços. Não existe um início e nem um fim, o sistema pode percorrer distâncias em formas e escalas variadas, conectando praças, parques, edifícios, bairros, distritos, municípios, etc. Também pode ser interrompido quando e onde se quiser e retomado em qualquer trecho no momento em que se achar oportuno. Para entender melhor a ideia de sistema essa pesquisa utiliza o conceito de rizoma que os filósofos Deleuze e Guattari (2011, p. 25) descrevem como “linhas de segmentaridade segundo as quais ele é estratificado, territorializado, organizado, significado, atribuído, etc.; mas compreende também linhas de desterritorialização pelas quais ele foge sem parar.”.
Compreendendo o “rizoma urbano” como algo incontrolável, a pesquisa foca nos acontecimentos dentro do sistema, entre os espaços edificados, no território que servirá de palco para as atividades na cidade, onde as pessoas podem desenvolver suas funções cotidianas, do trabalho e do lazer de maneira saudável e democrática. O território em questão, sempre sofrerá variações dentro do sistema de acordo com o ambiente socioespacial inserido, devido a isso cada trecho deve ser estudado de forma separada atendendo as necessidades de cada região de maneira a não perder a conectividade com o sistema. Foi definido para esta pesquisa um trecho no distrito do Capão Redondo, localizado na região sul da cidade de São Paulo, com o objetivo de desenvolver o projeto de sistema de espaços livres. A escolha desse território é decorrente da proximidade cotidiana e histórica que tenho com a região, por se tratar do local onde moro há 23 anos e onde possuía família há três gerações, na qual vivenciaram algumas das transformações que cito neste trabalho. Além disso, é percurso diário que faço casa / faculdade / trabalho, pois me fizeram enxergar a dinâmica do distrito, onde longos caminhos são percorridos diariamente pela população para realizar suas atividades de trabalho e de lazer. A atividade de lazer, sendo necessidade humana a ser atendida, tem prioridade neste trabalho, e que deve está próxima da residência da população.
O perímetro escolhido para o presente estudo é delimitado pela Estrada de Itapecerica, Centro Universitário Adventista de São Paulo (UNASP-SP), Rua Modelar, Travessa Cânhamo da Índia, Rua Domingos Peixoto da Silva, limites da Fábrica Superbom, Travessa Rosifloras, contorno do Parque Santo Dias, Rua Arroio Butiá chegando na Estrada de Itapecerica novamente. O distrito do Capão Redondo em 2010 contava com 268,729 habitantes, e um cenário controverso onde a desigualdade se faz presente na população. Lourdes Carril (2006, p. 130) descreve o distrito como “uma estranha paisagem. São desenhos irregulares de casas ainda não totalmente prontas que se unem umas às outras, deixando parcos espaços vagos”.
Com o perímetro selecionado, é necessária a leitura espacial de como o território se encontra na atualidade. A pesquisa identifica essas principais características no trecho estudado, as áreas residuais com o objetivo de transformar espaços ignorados em espaços de convívio para as pessoas, os edifícios habitacionais da COHAB Adventista que sem nenhum critério de organização espacial em sua implantação, recortou e dividiu o território e o Parque Santo Dias como um dos únicos espaços de lazer do distrito que com muito esforço desenvolve seu papel de parque. São diversos os tipos de espaços livres encontrados dentro do perímetro, dessa maneira a pesquisa descreve os conceitos de espaço livre, praças, parques, espaços residuais, e espaços de transição identificando cada espaço dentro do perímetro a fim de melhor compreender o funcionamento espacial de um sistema. É importante ressaltar que os espaços residuais são áreas sem qualificação por se tratar de uma sobra do processo de urbanização, na qual não se tem nenhum uso específico.
Para que o objetivo deste TCC, que é mostrar o desenvolvimento de um sistema de conexão de áreas verdes seja realizado, a metodologia da pesquisa é feita primeiramente através da identificação da formação territorial do distrito do Capão Redondo, onde é contada uma breve história do surgimento do distrito mostrando Foram escolhidos três projetos que tem características as sobreposições temporais no território, juntamente semelhantes com o projeto de sistemas de espaços livres com suas dinâmicas até resultar no cenário atual. desenvolvido por esse trabalho, que servirão de base para o desenvolvimento do projeto. Os projetos selecionados para Deparando-se com uma realidade complexa e estudos de caso foram o Parque Madureira Rio+20, exemplo diversificada, é importante a identificação de questões de parque no Brasil, High Line Park localizado em Nova do cotidiano do morador do Capão Redondo, seus Iorque (EUA), e o Promenade Plantée em Paris (França), deslocamentos para o trabalho, as longas distâncias ambos carregam a mesma característica de parque linear percorridas para chegar ao lugar de lazer e o distrito que estabelecem conexões com a cidade, aproximando-se, como região predominantemente residencial são porém, não cumprindo os mesmos propósitos do projeto os pontos abordados nesse capitulo. É de interesse de sistema de espaço livre. Além dessa característica, da pesquisa, mostrar a falta de espaços livres para a organização espacial, os materiais, o contato com a as pessoas na periferia, lugar que naturalmente comunidade, são de interesses dessa pesquisa. encontra-se potencialidades socioespaciais para serem implementadas.
O projeto de sistema de espaços livres foi estruturado em duas frentes. A primeira são as áreas de transições, dividida em três partes, na qual a principal função é a de conectar o projeto com a cidade. E os três trechos da COHAB Adventista, que foram separados por possuírem características diferentes entre si. Cada parte do sistema foi estudado nas escalas micro e macro. Na escala micro a preocupação do trabalho foi criar um espaço na escala da pessoa, atendendo as suas atividades do cotidiano, do lazer e esportivas. Para isso o trabalho explica as diversas situações do projeto, afim de mostrar a ligação da pessoa com o espaço. E na escala macro, o trabalho foca em unir as partes do projeto mantendo a mesma linguagem visual, gerando a ideia de sistema. O sistema de espaços livres é uma relação constante entre cidade e pessoa. Uma cidade ruim é uma cidade segregada e degradada, onde a alienação está mais presente no cotidiano do que a socialização entre as pessoas. O desequilíbrio socioespacial se faz presente nas cidades do século XXI. O sistema de espaços livres restabelece o ciclo socioespacial e socioeconômico na cidade, melhora o fluxo de pedestres oferecendo melhores condições de passeio e transporte, como a bicicleta. Gera caminhos mais curtos diminuindo as distancias entre os espaços melhorando a dinâmica da região e consequentemente da cidade. Integra as pessoas a mais atividades, favorecendo a qualidade de vida da população. O sistema tenta equilibrar a situação da cidade com a da pessoa, trazendo a reflexão sobre uma cidade mais justa.
INTRODUÇÃO | 11
CONTEXTO HISTÓRICO
FORMAÇÃO TERRITORIAL DO DISTRITO DO CAPÃO REDONDO O nome Capão Redondo vem do aspecto territorial, era uma região abandonada coberta por extensa área de mata atlântica com o formato circular com aproximadamente 50km. A história do Capão Redondo começa tendo influência com a cidade de Santo Amaro. O povoado de Santo Amaro foi fundado em 1560, no século XVIII tinha uma população pequena de aproximadamente 4000 pessoas, havendo a presença de pessoas negras, que eram escravos e acompanhavam os grandes fazendeiros que moravam na região. Carril (2006, p. 111) relata que Santo Amaro também era utilizado como “local de esconderijo e fugas de escravos.”. Santo Amaro tinha uma região rural muito extensa que era chamada de “sertão de Santo Amaro” (ZENHA apud CARRIL 1977), onde moravam algumas famílias e o Capão Redondo existia como uma área próximo a reduções jesuíticas, onde índios moravam nessa região. Uma das primeiras experiências de colonização estabeleceu-se em São Paulo com a chegada da colônia Alemã, instalada em 1829 nas imediações da cidade de Santo Amaro, dando origem as cidades de Itapecerica da Serra fundada em 1877, Palhereiros, Embu das Artes e Embu Guaçu. Eram agricultores e donos de fazendas onde traziam suas mercadorias para o centro de Santo Amaro através de carroças pela Estrada de Itapecerica, que nessa época era de terra. A estrada de Itapecerica foi asfaltada nos anos de 1957 e é utilizada como principal via nos dias de hoje. De acordo com Hosokawa (apud CARRIL 2001), essa colônia alemã, aos poucos foi se misturando com a população nativa dando origem aos caipiras de olhos azuis, alguns se estabeleceram na região do Capão Redondo. 14 | CONTEXTO HISTÓRICO
Com a chegada da ferrovia e do bonde no final do século XIX em Santo Amaro, mostra a vontade do município de querer se modernizar, sair do aspecto de “celeiro da capital, uma vez que abastecia São Paulo com gêneros alimentícios” (HOSOKAWA apud CARRIL 2001). De acordo com Carril (2006), a chegada da ferrovia contribuiu para “diferenciação econômica do município, além da participação visível dos descendentes de famílias alemãs”. Juntamente com a imigração alemã a Igreja Adventista do Sétimo Dia (IASD) chegam em 1893 em Santo Amaro com um projeto de evangelização para a cidade de São Paulo. A presença alemã nas terras do Capão Redondo atrai os adventistas e no dia 28 de abril de 1915 os adventistas compram uma grande propriedade de 300 acres, por aproximadamente 20 conto de reis onde começaram a construir o Colégio Adventista Brasileiro (CAB) (Figura 1) que foi fundada no dia 6 de maio de 1915, a presença do colégio entre as cidades de Santo Amaro e Itapecerica da Serra, foi uma das principais influencias que levou o crescimento para a região do Capão Redondo. De acordo com Hosokawa (apud CARRIL 2006), “com as primeiras notícias da compra do terreno para a escola missionária, membros da ASD acorreram (sic) para comprar terrenos nas proximidades da escola...”.
Conforme o depoimento de Edegardo Max Wuttke¹, conta que seu pai chegou no colégio adventista brasileiro em 1925, conheceu descendentes de índios e escravos que ainda eram possuidores de muitas glebas nas imediações, entre os anos 40 e 50 Edegardo Max Wuttke teve a oportunidade de encontrar uma família de escravos que ainda viviam na região. Nos anos de 1950 Edegardo Max Wuttke conta que conseguia contar as casas dos dois lados da rua nos dedos. Entre 1960 a 2000 a região do Capão Redondo cresceu de forma rápida, surge as grandes favelas, construído pela população Nordestina, os alagoanos, pernambucanos, baianos, cearenses entre outros. O Colégio Adventista que era relativamente isolado, (Figura 2 e 3) por princípios filosóficos de valores educacionais cristãos, estando em uma área mais natural possível longe das cidades, isso acaba se perdendo com a urbanização de seu entorno. De acordo com Carril: A vinda da escola para o bairro nesse período parece justificar-se pela ideia de criar um centro educacional e religioso em consonância com a proposta de uma comunidade fechada sobre os valores e crenças adventistas em um universo social dominantemente católico e distante dos centros urbanos. (CARRIL, 2006:115)
FIGURA 1 | Vista panorâmica do Colégio Adventista Brasileiro (CAB) em 1925.
Pedro Ricardo de Alencar¹ , membro da associação de moradores do Jardim Comercial, é um exemplo. Sua família veio do Ceará para buscar melhor qualidade de vida em São Paulo. Conta que em volta do Instituto Adventista de Ensino (IAE) existia uma área muito grande. O SENAI deu curso para os homens, mulheres e as crianças que receberam o diploma de pedreiro, Pedro e as famílias da região, fizeram um financiamento com a caixa econômica federal e a prefeitura e com o dinheiro se reuniram em mutirões e começaram a construir suas próprias casas. (Figura 4) De acordo com Carril:
Figura 2 | Foto de 1958. Em primeiro plano a Estrada de Itapecerica e a entrada do Colégio Adventista Brasileiro (CAB). No canto superior esquerdo a fábrica da Superbom e em seu entorno o terreno em estudo.
O distrito do Capão Redondo, após a década de 1950, abre suas terras ao processo de loteamentos, pois lá ainda se concentravam as chácaras que foram incorporadas ao crescente mercado. Nele, reproduzir-se-á o modelo de autoconstrução, principalmente destinado às classes trabalhadoras, sendo que os bairros crescem em número. (CARRIL, 2006:120)
Essa nova dinâmica espacial de acordo com Carril (2006:119), ocorre devido “o desenvolvimento industrial acelerado sob planos desenvolvimentistas encabeçados pelo Estado e associados à participação da empresa nacional com a estrangeira.” A estrutura urbana de São Paulo transformouse formando uma concentração de indústrias, um parque industrial e a zona sul da cidade atraiu as indústrias nos ramos metalúrgicos, mecânico, químico e farmacêutico. Os reflexos dessa transformação espacial de acordo com a autora: Figura 3 – Foto de 1960. No canto inferior direito a Estrada de Itapecerica delimitando e mostrando a extensão do terreno em estudo. Ao fundo o Colégio Adventista Brasileiro. (CAB).
Em 1960 o Colégio Adventista Brasileiro (CAB) muda de nome e passa a se chamar Instituto Adventista de Ensino (IAE).
“...constituiu-se zona de atração das populações de classe média, composta por trabalhadores empregados na indústria, tanto na região de Santo Amaro quanto em outras regiões de São Paulo, do setor comercial da própria região, migrantes vindos de outros estados brasileiros em busca de novas oportunidade, desde a década de 1950.” (CARRIL, 2006)
Figura 4 | Foto registrada de dentro do CAB por volta de 1980. Mostra a rápida urbanização de seu entorno.
Em 09 de dezembro de 1983 é desapropriado uma grande área da propriedade do Instituto Adventista de Ensino (IAE), (Figura 2) a pedido da prefeita Luiza Erundina (PT), com o objetivo de construir os conjuntos habitacionais do programa da COHAB, inaugurado em 1987, que recebeu o nome de COHAB Adventista devido se tratar das antigas terras do Colégio Adventista. Devido sua localização, o aspecto sensorial do lugar é de tranquilidade e aparente silêncio, porém a COHAB Adventista enfrenta vários problemas que são comuns em conjuntos habitacionais. De acordo com CARRIL: Lá, o Estado forneceu somente o asfalto e os postes de luz. Porém o asfalto é fino e a iluminação, escassa. Faltam posto de saúde e telefônico, delegacia de polícia, escolas em número suficiente, agência de correio, agência bancária, gari nas ruas e área de lazer. (CARRIL, 2006:122)
CONTEXTO HISTÓRICO | 15
Na década de 1990 o Instituto Adventista de Ensino (IAE) se torna Centro Universitário Adventista de São Paulo (UNASP)
Nesta época com a desapropriação dessa área do IAE, 12,44 hectares de mata atlântica (Figura 5) foi preservada pelo Instituto Brasileiro de Defesa Florestal (IBDF) (CARRIL, 2006) dando origem ao Parque Ecológico Santo Dias¹, através da criação da associação de moradores que lutaram pela sua preservação e funcionamento como parque, inaugurado em 1992, recebeu esse nome homenageando Santo Dias da Silva um operário e morador do distrito do Capão Redondo que foi morto em 1979 durante uma greve trabalhista. No século XXI encontra-se os efeitos causados por essa formação territorial sem planejamento, através dos interesses dos adventistas, dos nordestinos e da intervenção da prefeitura através da COHAB, mudanças espaciais foram feitas durante anos, resultando em espaços públicos e privados sem conexões com grandes áreas residuais.
Figura 5 | Em primeiro plano, maciço de mata atlântica que se tornou o atual parque Santo Dias. Ao lado a fábrica da Superbom.
16 | CONTEXTO HISTÓRICO
ANTES
DEPOIS
Figura 6 | Foto de 1980. Em primeiro plano as antigas terras do CAB, consegue-se ter noção dos desníveis do terreno. A esquerda um trecho da Estrada de Itapecerica.
Figura 7 | Em primeiro plano o terreno que fazia parte do CAB, agora encontra-se na forma de residuo urbano decorrente das transformações temporais do distrito, a esquerda um trecho da Estrada de Itapecerica coberto pela vegetação mal cuidada e na direita os conjuntos habitacionais da COHAB Adventista.
Figura 8 | Ao fundo a Estrada de Itapecerica com algumas edificações delimitando as antigas terras do CAB em 1980.
Figura 9 | Em plano principal encontra-se um estacionamento de caminhões de mudanças nas antigas terras do CAB. O terreno faz parte do residuo urbano gerado pelas transformações temporais do espaço. Na extrema esquerda pode se ver os conjuntos habitacionais da COHAB Adventista. A direita a Estrada de Itapecerica com edificações do tecido urbano mais consolidado.
Figura 10 | Futuro terreno onde serão construídos os conjuntos habitacionais da COHAB Adventista. Linha de árvores ao fundo mostra onde será a localização aproximada da Rua Domingos Peixoto da Silva.
¹HOSOKAWA, E. ; TAVARES, C. . DVD Capão Redondo: Sintonia da Quebrada. 2007. (Documentário Histórico: Consultoria de Texto e Fotografia).
Figura 11 – Foto tirada da Rua Domingos Peixoto da Silva, em primeiro plano a organização espacial dos conjuntos habitacionais da COHAB Adventista, muros delimitam e segregam o espaço público e privado gerando recortes no tecido urbano. No horizonte consegue-se ter a noção da extensão do território.
1960
Figura 2
2015
Figura 12
SITUAÇÃO ATUAL
DO TERRENO
ÁREAS RESIDUAIS A área verde selecionada para esta pesquisa pode ser considerada residual. Acompanha um trecho da Estrada de Itapecerica e da Rua Domingos Peixoto da Silva, como pode ser vista na figura 13, são os pontos mais altos da região, os divisores de água. As características topográficas e territoriais de cada trecho mudam conforme o deslocamento pela via, formando espaços diferentes onde cada trecho oferece variados tipos de relação com seu contexto imediato.
No trecho da Estrada de Itapecerica, o terreno com aspecto linear, acompanha a via passando por diversos desníveis, aumentando seu grau de complexidade. Durante seu percurso encontra-se equipamentos como pontos de ônibus, parquinhos destruídos por falta de manutenção, estacionamento irregular de caminhões de mudança, abrigos improvisados de moradores de rua e muita sujeira, tudo isso interligado por uma calçada estreita em péssimas condições. (Figura 14)
No percurso da Rua Domingos Peixoto da Silva, por se tratar de uma perpendicular com a Estrada de Itapecerica, o terreno topograficamente acompanha a via abraçando os conjuntos habitacionais da COHAB e formando um mirante natural, como mostra a figura 16, que possibilita contemplar a cidade e o nascer do sol (figura 15), ao mesmo tempo que a existência de árvores dificulta a visibilidade dos mesmos. Ainda no trecho encontra-se uma praça sem manutenção, onde bancos, mesas, pista de caminhada e parquinho, estão em situações precárias.
Figura 13 | Delimitação da área verde residual que percorre a Estrada de Itapecerica e a Rua Domingos Peixoto da Silva, identificação dos elementos e a orientação da vista pela seta vermelha (figura 16).
Figura 14 | Área verde residual e situação das calçadas.
Figura 15 | Vista do nascer do sol da Rua Domingo Peixoto da Silva identificada na figura 13.
20 | SITUAÇÃO ATUAL DO TERRENO
Figura 16 | Tirada do mirante natural na Rua Domingo Peixoto da Silva, onde consegue-se ter visão em primeiro plano os conjuntos habitacionais da COHAB e em segundo plano a região do Capão Redondo.
COHAB ADVENTISTA Dentro da área de estudo está a Cohab Adventista. Observando a figura 17, a organização espacial dos edifícios do primeiro e terceiro caso, são formadas de maneira que parecem pequenas vilas, esse aspecto ocorre devido os conjuntos estarem em um nível topograficamente abaixo do ponto mais alto, no caso a Estrada de Itapecerica, dando essa sensação de privacidade às edificações. (Figura 16). Porém, cada edifício está isolado por muros e/ou grades do espaço público, esses muros e grades, foram construídos pelos moradores da região para terem a sensação de segurança e terem onde guardar e proteger seus carros, outra situação é a criação de “gaiolas” individuais usadas para guardar o carro. Essa intervenção não planejada acaba criando recortes no espaço público, deixando espaços subutilizados, identificado pelas manchas verdes na figura 16 e pela figura 17.
PARQUE SANTO DIAS No segundo caso os conjuntos habitacionais compõemse em fileiras acompanhando paralelamente a Estrada de Itapecerica estando elevado do mesmo, separadas pelo trecho de área verde como mostra a figura 14. O acesso para os conjuntos, acontece através da Travessa Cânhamo da Índia, onde as ruas de acesso estão entre edifícios de forma perpendicular, sendo o lugar que os moradores estacionam os carros. Da mesma forma como no primeiro e terceiro caso, identifica-se a mesma preocupação por segurança dos moradores ao cercarem as edificações com muros e grades.
O parque Santo Dias (Figura 19) é uma área de mata atlântica, que os moradores lutaram para preservar. Devido a isso as conexões e áreas de lazer do parque nunca foram devidamente planejadas, sendo uma área que não se integra ao contexto da região, esta encurralada pela cidade. No centro do parque observa-se uma área descampada onde encontra-se a administração do parque, juntamente com quadras de basquete, futebol, vôlei e handball, parquinho para crianças e uma área de estar na grama, como mostra a figura 20. O parque também possui em volta do centro trilhas que os moradores da região praticam esportes, como a corrida e a caminhada, o parque também possui em sua extremidade um pequeno lago. Existem duas entradas e saídas no parque, a primeira na parte superior acontece pela Rua Arroio das Caneleiras e a segunda na parte inferior com o nome de Travessa Rosifloras.
Figura 18 | IÁreas residuais decorrentes dos recortes urbanos.
Figura 19 | Limites do Parque Santos Dias e identificação dos acessos ao parque.
Figura 17 | Identificação da COHAB nos 3 casos,, acessos aos edifícios (linha vermelha) no caso 2 e áreas verdes subutilizadas entre os conjuntos habitacionais (mancha verde).
Figura 20 | Panorâmica da parte central do parque.
SITUAÇÃO ATUAL DO TERRENO | 21
Figura 22 | Voltar para casa com as compras.
Figura 23 | Passear
Figura 24 | Transitar
Figura 25 | Comer o pastel da feira
Figura 26 | Jogar domino
Figura 27 | Relaxar
Figura 28 | Tomar sorvete
Figura 29 | Caminhar
Figura 30 | Correr
Figura 31 | Andar de bicicleta
Figura 32 | Jogar de futebol
GRUPO 2
Figura 21 | Esperar no ponto de ônibus.
GRUPO 3
São múltiplas as atividades existentes encontradas dentro do perímetro de estudo, para melhor entendimento será separado em grupos as atividades que são realizadas pelos moradores do Capão Redondo. O grupo 1 são as atividades desenvolvidas cotidianamente, atividades que acontecem no percurso da casa para o trabalho, como o esperar no ponto de ônibus, a ida ao supermercado, banco, padaria, escola, o caminhar para o ponto de ônibus ou metrô, as pequenas e curtas paradas para comer no camelô entre outras. (Figuras 21, 22, 23 e 24) O grupo 2 são as atividades que acontecem aos finais de semana, são as atividades de lazer, a ida a feira de domingo para as compras ou para comer o pastel, é o encontro com os amigos para jogar dominó ou o pic-nic no parque para relaxar e passar momentos com a família. (Figuras 25, 26, 27 e 28) O grupo 3 são as atividades esportivas, o caminhar, o correr, o andar de bicicleta, o jogar futebol, vôlei, basquete são as atividades que acontecem durante a semana e com mais frequência aos finais de semana. (Figuras 29, 30, 31 e 32)
GRUPO 1
ATIVIDADES EXISTENTES
22 | SITUAÇÃO ATUAL DO TERRENO
Figura 33 | Estrada de Itapecerica Ă s 6:00 a.m.
CONCEITOS
ESPAÇO LIVRE As transformações territoriais do distrito do Capão Redondo são resultados da situação física do território mais os aspectos sociais (política, economia, interesses pessoais) e a sobreposição de tempos. Estes fatores organizaram esta paisagem e geraram uma malha urbana complexa e desordenada, encontrando espaços livres entre edifícios e barreiras naturais com características espaciais distintas e indefinidas, criando indicadores sobre as possíveis funções de cada espaço.
O espaço livre é aqui entendido como todo espaço (e luz) nas áreas urbanas e em seu entorno, não-coberto por edifícios. A amplitude que se pretende diz respeito ao espaço e não somente ao solo e a água, não-cobertos por edifícios; também diz respeito aos espaços que estão ao redor, na auréola da urbanização, e não somente internos, entre tecidos urbanos. Por esse entendimento de espaço livre (todo solo e toda água não-cobertos por edifícios) o vínculo do espaço é fundamentalmente de localização em relação aos edifícios, isto é, para com as pessoas que os ocupam, em circulação ou em permanência. O enfoque de espaço livre enquanto objeto de desenho só é relevante desde que analisado em face das atividades e necessidades do homem urbano. (MAGNOLI, 2006, p. 203)
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A área de estudo apresenta diferentes tipos de espaços livres na malha urbana que deverão ser reconectados através de um sistema de espaços livres. Esta pesquisa pretende classificar estes espaços a fim de que sejam áreas de projeto e não de sobras urbanas. As diferentes formas, em pequenas, médias ou grandes escalas, define as percepções e os indicadores para o projeto do espaço público. A localização da área livre define a função que o espaço tem de acordo com os elementos estruturais do local, seja uma região comercial ou residencial. A localização indica a função que o espaço livre possuirá, seja uma praça ou um parque. De acordo com Sun Alex e Miranda Magnoli:
Praças, ruas, jardins e parques constituem o cerne do sistema de espaços abertos na cidade. Nem sempre verdes, os espaços livres são o reflexo de um ideal da vida urbana em determinado momento histórico. Os espaços livres acompanham a evolução das cidades, e suas delimitações, funções e aparência são muitas vezes indefinidas ou sobrepostas; os arquétipos tradicionais de suas configurações, como adros religiosos, praças-mercados e praças cívicas, não mais articulam a arquitetura à vida pública urbana nem atendem às novas necessidades de uso. A socialização do espaço público tem sido renegada a um plano secundário, ofuscada pela questão de como deve ser a vegetação no ambiente urbano, tema que tem dominado as discussões sobre as praças e as cidades. (ALEX, 2008, p. 61)
O perímetro escolhido para o sistema de espaço livre, conecta-se através das áreas residuais. Com suas diferentes escalas e localizações torna-se importante a caracterização da estrutura de cada espaço livre, sendo esses: as praças, os parques e outras áreas sem uma predefinição, mas que podem ser consideradas como espaços de transição e conexão do tecido urbano. (Figura 34) Figura 34 | Estrutura do espaço livre: Azul = Praças | Vermelho = Áreas residuais | Rosa = Parque Santo Dias | Amarelo = Área de transição.
26 | CONCEITOS
PRAÇA
PARQUE
Para esta pesquisa as praças são espaços livres na cidade acessíveis a todos os cidadãos onde encontram no espaço da praça oportunidades para desenvolverem suas atividades de lazer e convívio. De acordo com Fábio Robba e Silvio Soares Macedo: Inúmeras são as definições referentes ao termo praça. Mesmo havendo divergências entre os autores, todos concordam em conceituá-la como um espaço público e urbano. A praça sempre foi celebrada como um espaço de convivência e lazer dos habitantes urbanos. (ROBBA; MACEDO, 2010, p. 15).
Portanto, para definir com maior clareza o objeto de estudo deste texto, as praças e suas funções na vida urbana brasileira, consideramos duas premissas básicas, o uso e a acessibilidade do espaço, e chegamos ao seguinte conceito: Praças são espaços livres de edificação, públicos e urbanos, destinados ao lazer e ao convívio da população, acessíveis aos cidadãos e livres de veículos. (ROBBA; MACEDO, 2010, p. 17).
É identificado dentro do sistema áreas plausíveis para a criação de espaços que tem praças, correspondente às definições estabelecidas feitas por Robba e Macedo (2010). Estão localizados em trechos importantes dentro do perímetro do estudo, na figura 35 o trecho encontrase no início do recorte estabelecido para o sistema de espaço livre, tem dimensões propícias para a criação de uma praça. Na figura 36 o trecho localiza-se na Rua Domingos Peixoto da Silva com a Estrada de Itapecerica, no local já existe uma praça em situações precárias.
Figura 35 | Área com características para se tornar uma praça.
O conceito parque é entendido como um grande espaço livre de edificações estruturado por vegetações para o uso recreativo da população, sendo essencial para as grandes cidades. No Capão Redondo o parque Santo Dias (figura 37) atende previamente as características de parque por possuir uma grande área com vegetação e uma infraestrutura mínima para o lazer e o convívio da população. De acordo com Silvio Soares Macedo e Francine Gramacho Sakata: “...o papel real do parque como um espaço livre público estruturado por vegetação e dedicado ao lazer da massa urbana. O parque público, como o conhecemos hoje, é um elemento típico da grande cidade moderna, estando em constante processo de recodificação.” (MACEDO; SAKATA, 2010, p. 13).
Também de acordo com Miranda Magnoli: Figura 36 | Área com praça existente em péssimos cuidados, com potencialidades para se tornar a principal praça do sistema.
Figura 37 | Recorte do parque Santo Dias.
Os parques públicos são, inicialmente (1789), propostos em Munich como espaços de recreação pública. Tira-se partido, na maior parte dos espaços, de fortificações em desuso. Com a acepção atual de áreas especificamente reservadas para utilização pela população, são desenvolvidos, no século XIX, por desenhos em áreas da Coroa Britânica (St. James Park e Regent’s Park/1828). O primeiro sistema de parques desenhado para Paris não teve como critério fundamental a utilização pela população. É em Nova York, com o Central Park, que se implanta o maior parque público que seria desenhado com critério, na época, julgado de necessidade da população urbana. (MAGNOLI, 2006, p. 202)
De acordo com Jane Jacobs:
Os parques são locais efêmeros. Costumam experimentar extremos de popularidade e impopularidade. Seu desempenho nada tem de simples. Podem constituir elementos maravilhosos dos bairros e também um trunfo econômico para a vizinhança, mas infelizmente poucos são assim. Com o tempo, podem tornar-se mais apreciados e valorizado, mas infelizmente poucos duram tanto. Para cada Rittenhouse Square, na Filadélfia, ou Rockefeller Plaza ou Washington Square, em Nova York, ou Boston Common, ou ainda seus amados equivalentes em outras cidades, há dúzias de vazios urbanos desvitalizados chamados parques, destruídos pela decadência, sem uso, desprezados. (JACOBS, 2011, p. 97)
CONCEITOS | 27
ESPAÇOS RESIDUAIS Os espaços residuais da cidade são compreendidos primeiramente como sobras físicas, derivados de uma implantação de uma infraestrutura, também como áreas abandonadas ou rejeitadas de um terreno. São exemplos encontrados na cidade informal que levanta mais dúvidas do que certezas, gerando uma paisagem incompreensível também são espaços que geram incômodo e insegurança por não carregar nenhum tipo de estrutura que potencialize seu espaço. (Figuras 38 e 39). De acordo com Robert Venturi: O espaço residual de permeio entre espaços dominantes, com diversos graus de abertura, pode ocorrer na escala da cidade e é uma característica dos fora e de outros complexos do planejamento urbano romano tardio. Os espaços residuais não são desconhecidos em nossas cidades. Estou pensando nos espaços abertos sob nossas auto-estradas e nos espaços-tampões a sua volta. Em vez de procedermos ao reconhecimento e à exploração dessas espécies características de espaços, convertemolos em estacionamentos ou gramados raquíticos – uma terra de ninguém entre a escala regional e a local. (VENTURI, Robert 1995 p. 111)
A palavra terrain no francês de acordo com o autor “tem um carácter mais urbano”, no inglês, a tradução land é definido por “uma extensão de solo de limites precisos, edificável, na cidade”, sendo a tradução em francês o mais próximo do resultado esperado, como “extensões maiores, talvez menos precisas; está ligada à ideia física de uma porção de terra em sua condição expectante, potencialmente aproveitável, mas já com algum tipo de definição em sua propriedade a qual somos alheios.”. O termo vague tem dupla origem latina, em francês os termos confluem nas seguintes derivações do latim: “vacuus, vacant, vacum” que significa vazios, outra derivação é do germânico, vagr-wogue que se “refere às ondas da água e significa movimento, oscilação, instabilidade e flutuação”, no inglês seus significados são “empty, unoccupied; mas também free, available, unengaged”, (vazio, desocupado, livre, disponível), Também faz referências a palavra vagus proveniente do latim, na qual seu significado em inglês é: “indeterminate, imprecise, blurred, uncertain” (indeterminado, impreciso, turva, incerto). De acordo com Solà-Morales: A relação entre a ausência de uso, de atividade e o sentido de liberdade, de expectativa, é fundamental para entender toda a potência evocativa que os terrain vague das cidades tem na percepção da mesma nos últimos anos. Vazio, portanto, como ausência, mas também como promessa, como encontro, como espaço do possível, expectativa. (SOLÀ-MORALES, 2002)
Para melhor entendimento, essa pesquisa faz uso do conceito francês terrain vague de Solà-Morales², que com objetivos semelhantes desse trabalho, procura compreender os espaços abandonados na cidade, buscando os diversos significados de terrain e vague, na tentativa de abranger o repertório sobre os espaços residuais na cidade.
28 | CONCEITOS
Figura 38 | Áreas residuais públicas.
Figura 39 | Áreas residuais públicas.
ESPAÇO DE TRANSIÇÃO Se compreende o significado de espaço de transição como espaços articulados e intermediários que ocorre a fluidez das pessoas de um espaço para outro. Também se entende os espaços de transição num olhar subjetivo, o ato de se mover no espaço, atravessando lugares diversificados, gera percepções simultâneas que mexe com os sentidos, o corpo tenta captar o espaço que acumula experiências. (Figura 40) De acordo com Luciana Tombi Brasil: Para experimentar a arquitetura é necessário possuir a capacidade funcional de captar o espaço. Isto está determinado biologicamente. Como em todos os outros campos, é preciso acumular grande experiência antes de poder apreciar realmente o conteúdo essencial do espaço articulado. A qualidade realmente sentida da criação espacial, o equilíbrio de forças em tensão, a flutuante interpenetração de energias espaciais. Toda arquitetura – e, portanto suas partes funcionais, como sua articulação espacial – deve ser concebida como unidade. Sem esta condição, a arquitetura se converte numa simples reunião de corpos vazios, que poderá ser tecnicamente factível, mas nunca brindará a emocionante experiência do espaço articulado.” (László Moholy-Nagy apud BRASIL, Luciana Tombi, 2007: 128)
De acordo com Aldo Van Eyck: A arquitetura deve ser concebida como uma configuração de lugares intermediários claramente definidos. Isso não implica uma transição contínua ou um adiamento sine die no que diz respeito a lugar e ocasião. Pelo contrário, subentende um afastamento do conceito contemporâneo (vamos chama-lo de moléstia) de continuidade espacial e a tendência para apagar toda e qualquer articulação entre espaços, isto é, entre exterior e interior, entre um espaço e outro (entre uma realidade e outra). Em vez disso, a transição deve ser articulada por meio de lugares intermediários definidos que induzem à percepção simultânea do que é significativo de um lado e do outro. Nesse sentido, um espaço intermediário fornece o terreno comum onde as polaridades conflitantes podem tornar-se de novo fenômenos gêmeos. (ALDO VAN EYCK, apud VENTURI, 1995)
Figura 40 | Recorte da área linear com potencialidades se tornar uma área de
²Texto original em espanhol: Ignasi de Solà-Morales (Territórios, Gustavo Gili, 2002) | Tradução ao português: Igor Fracalossi | Artigo tirado do site archdaily disponível no link: http://www.archdaily.com.br/br/01-35561/terrain-vague-ignasi-de-sola-morales
Figura 41 | Trecho de área residual.
CONCEITOS | 29
ESTUDOS
DE CASO
PARQUE MADUREIRA RIO +20 Conforme RRA (2012) o projeto do Parque Madureira Rio+20 é uma iniciativa da Prefeitura do Rio de Janeiro, através da gestão do prefeito Eduardo Paes, juntamente com a implementação concebida pela secretaria municipal de obras. O projeto de arquitetura paisagem e urbanismo ficou a cargo do escritório Ruy Rezende Arquitetura acompanhado de uma equipe multidisciplinar. Uma das premissas do projeto era solucionar a falta de espaços públicos na Zona Norte do Rio de Janeiro, assunto em discussão nos últimos anos na cidade.
O parque tem como premissas promover a recuperação da paisagem urbana, agregando valores cênicos e ambientais à região, incluir conceitos de sustentabilidade e ter a participação da comunidade local que visa criar um processo de recuperação que dure por muitos anos. (RRA, 2012)
A comunidade teve participação na definição do programa do parque, seus costumes, sua história, suas tradições. A cultura local foi levada em consideração para não cair no erro de criar um parque desconexo com o seu contexto. Os equipamentos instalados no parque foram propostos para potencializar essas atividades e suprir as Madureira é um bairro onde 99,93% de seu carências existentes do bairro. território é urbanizado, com seus aproximados 50 mil habitantes, é conhecido por sua vida social intensa e O terreno que o parque foi implantado possuía uma diversificada onde o comércio de rua, suas tradicionais linha de alta tensão pertencente a Light S.A., a mesma foi escolas de samba, a Portela e o Império Serrano, o compactada no terreno liberando espaço para a construção Mercadão de Madureira - que atrai muitos visitantes de do parque. De acordo com RRA (2012) o parque com seus 103 toda a cidade - e seus bares e clubes no chamado “Baixo mil m², devido seu aspecto linear desenvolve uma função de Madureira” compõem esse cenário. conexão urbana, onde liga alguns bairros de Madureira no decorrer do seu percurso. No entorno do parque foi feita Mesmo o bairro de Madureira tendo uma vida uma requalificação urbana onde foram criadas vias que social ativa, existe uma carência por espaços livres para o estruturam os quatro acessos ao parque, também no limite desenvolvimento de atividades de lazer pela população, da linha de alta tensão foi criada uma via que permite novas como esportes, ginásticas, passeios e encontros. O conexões de transporte público ao longo do parque como o projeto do Parque Madureira Rio+20 vem com o objetivo acesso de ônibus, BRT e facilita o fluxo de carros de eventos. de mudar esse cenário desfavorável que há muitos anos acompanha a região.
O programa do parque é separado em quatro pilares que foram pensados para atender as demandas principais, que são o lazer, a cultura, o meio ambiente e o esporte. A partir disso ao longo do parque esses elementos foram distribuídos de maneira a formar espaços pluralizados. (Figura 42) Os equipamentos que foram identificados para o lazer em alguns casos se assemelham com os equipamentos de esportes, como o caso do Parque Esportivo que possui quadras de vôlei de areia, futebol soçaite e quadras poliesportivas e tem estruturas para abrigar grandes eventos. O Parque do Skate (Figura 43) com uma área de ocupação de 3,850m² com uma piscina de 3,5m de altura, atende atletas iniciantes e profissionais. Também existem outros esportes com infraestruturas menores no parque como a bocha e o tênis de mesa. Essas são as atividades consideras de lazer esportivo.
Figura 43 | Parque do Skate
Figura 42 | Planta do Parque Madureira Rio +20
32 | ESTUDOS DE CASO
As atividades de lazer que não estão no âmbito esportivo são equipamentos de alimentação e o espaço denominado de Praia de Madureira (Figura 44). É um espaço que usa a praia, um elemento comum na vida cotidiana do carioca, que por questões socioespaciais favorece mais os moradores da zona sul da cidade do que os moradores da zona norte, por terem o privilégio de percorrer curtas distâncias até o local de lazer, nesse caso a praia. A intenção de levar um equipamento que use a água em sua estrutura é exatamente para aproximar a população da zona norte dessa característica marcante na vida dos cariocas. É uma cascata acompanhada de uma caixa de areia que utiliza a água da chuva em um sistema de filtragem e bombeamento criando um espaço que lembra algumas sensações de estar na praia. Os espaços culturais do parque como a Praça do Samba (Figura 45) remetem a atividade tradicional do bairro que é o samba, o espaço que é formado por uma arquibancada com capacidade de ocupação por 3000 pessoas, um palco que suporta abrigar desde uma escola de samba até uma orquestra sinfônica e um espaço livre entre esses dois elementos desenvolvem outras formas de apropriação. De acordo com RRA (2012) outros equipamentos culturais como a Nave do Conhecimento e a Arena Carioca, são edifícios que abrigam programas da prefeitura da cidade do Rio de Janeiro. A Arena Carioca com o objetivo de trazer programas de entretenimento para regiões carentes e a Nave do Conhecimento com o objetivo de oferecer oficinas nas áreas de robótica, tecnologias de rede, produção e computação gráfica, design gráfico, web design, produção de vídeo e fotografia.
Figura 44 | Praia de Madureira
Figura 45 | Praça do Samba
O parque como um todo foi planejado para atender ao meio ambiente. Suas áreas verdes, seus jardins com flores e árvores se espalham pelo território. O Circuito dos Lagos é um conjunto de espelhos d’água que estão organizados linearmente com o objetivo de amenizar a temperatura local.Também foram pensados em espaços mais específicos para a conscientização da população sobre o tema Meio Ambiente. O Centro de Educação Ambiental (Figura 46) é um edifício que em sua composição arquitetônica traz esses conceitos de sustentabilidade na arquitetura, como o teto que é equipado com placas de células fotovoltaicas, com sensores meteorológicos que controlam o sistema de irrigação e suas paredes e teto verdes que reduzem o consumo de energia e dá maior conforto térmico a edificação. (RRA, 2012) Os principais motivos pela escolha desse projeto são as características semelhantes com o projeto proposto por essa pesquisa. O primeiro motivo veio pelo interesse em seu território linear, que estabelece conexões através do parque a outros bairros de Madureira. Outro motivo é a sua localização, por se tratar de uma região periférica do Rio de Janeiro, na qual encontra-se problemas socioespaciais igualmente ao distrito do Capão Redondo em São Paulo. Ambas carecem de áreas verdes para a saúde e para o lazer da população. É de interesse da pesquisa compreender o processo metodológico seguido pelo escritório Ruy Rezende Arquitetura, afim de entender o meio de comunicação realizado entre escritório e comunidade, as participações feitas pela comunidade e o método de análise do contexto para a criação do Parque Madureira.
Figura 46 | Centro de Educação Ambiental
ESTUDOS DE CADO | 33
HIGH LINE PARK De acordo com DAVID e HAMMOUND (2011), uma antiga linha férrea, a High Line feita em estrutura metálica, localizada na cidade de Nova York servia de transporte de cargas destinado a servir o distrito industrial de Chelsea em Manhattan. Foi concebida através do projeto West Side Improvement Project em 1930, visando a melhoria da infraestrutura do West Side, o projeto tinha como premissa elevar o tráfego ferroviário a 9m de altura para separar o tráfego ferroviário do tráfego dos automóveis e pedestres. Essa iniciativa foi tomada devido aos trágicos acidentes causados quando o trafego de trem, automóveis e pedestres eram feitos no nível da rua. Outra premissa do projeto era fazer a High Line atravessar os centros dos quarteirões e passar através dos edifícios com o objetivo de otimizar o serviço de entrega dos produtos transportados. A High Line foi inaugurada em 1934, conectava a West 34th Street ao St. John’s Park Terminal. Devido ao crescimento acelerado do transporte rodoviário pelo Estado Unidos na década de 1950, o uso do transporte ferroviário reduziu afetando sua utilização, consequentemente uma de suas partes, localizada no extremo sul da High Line foi demolida em 1960 reduzindo seu comprimento para 2,4km, mesmo comprimento encontrado nos dias de hoje, que vai da West 34th Street até a Gansevoort Street, sendo em 1980 a desativação completa da High Line. De acordo com os autores a estrutura permaneceu abandonada por anos e assumiu o aspecto de ruína urbana, seus materiais ficaram expostos sofrendo desgastes e sendo invadida pela espontânea vegetação que brotava em seu percurso.
34 | ESTUDOS DE CASO
Foi em 1999 que dois moradores da região do High Line – Joshua David e Robert Hammond – iniciaram um grupo de trabalho para lutar pela preservação da estrutura histórica do High Line através de uma reforma para se transformar em um espaço público para a cidade. Sendo assim fundaram a associação sem fins lucrativos Friends of the High Line, com a intenção de buscar pessoas que compartilhassem do mesmo ideal. Buscaram apoio da comunidade, promovendo uma campanha através de reuniões e debates públicos, afim de estabelecerem metas e ideias sobre o futuro da High Line, também buscaram participar de editoriais em grandes jornais e revistas. (DAVID e HAMMOUND, 2011) De acordo com David e Hammound (2011) a prefeitura de Nova York em 2002 passa a dar suporte para a associação após estudos feitos pelo próprio grupo podendo assim comprovar a viabilidade econômica do projeto. E foi em 2003 que o grupo Friends of the High Line, lançou o concurso de ideias Designing the High Line que contou com inscrições de 720 equipes de 36 países. Sendo as equipes escolhidas, o escritório de arquitetura Diller Scofidio + Renfro e o escritório de arquitetura paisagística James Comer Field Operations através do processo de seleção da prefeitura de Nova York e a associação Friends of the High Line.
Ao longo do parque pode-se encontrar elementos visuais criam uma identidade para o parque. Esses elementos estão no formato do piso pré-moldado, as extremidades do piso - em certos momentos - criam uma transição suave do espaço de passeio para a área permeável. Os bancos acompanham a sequência de posicionamento dos pisos, saindo do chão e formando áreas para sentar. A noite luzes de LED embaixo dos bancos e nas grades acendem marcando suavemente o percurso e os canteiros do parque. Pedaços do trilho da antiga linha férrea é encontrado ao longo do circuito do parque, num momentos é encontrado como elemento de composição paisagística em outros como um lugar de caminhar, essa escolha por usar os trilhos remete o passado e preserva a história do lugar. Optou-se por manter ao longo do parque a vegetação encontrada quando a linha férrea ficou desativada por anos, devido a boa adaptação das plantas nesse local. A conversão da antiga linha férrea High Line começa a ser alterada em 2006 para o novo High Line Park, tendo seu primeiro trecho do parque inaugurada para o público no dia 8 de julho de 2009, a denominada Section 1, que começa na Gansevoort Street e termina na West 20th Street. A section 2, inaugurada em Junho de 2011, é o segundo trecho do parque, começa na West 20th Street e vai até a West 30th Street e a section 3 inaugurada em 2015.
SEÇÃO 01
Gansevoort Woodland e Whashington Grasslands
Diller-Von Furstenberg Sundeck
Chelsea Market Passage
10th Avenue Square
Chelsea Grasslands
Começa na esquina da Gansevoort Street com a Whashington Street e termina abaixo do New York Standard Hotel, esse trecho possui a primeira entrada do parque.
É um espaço com vistas espetaculares para o rio Hudson, espreguiçadeiras e recursos aquáticos tornou-se o espaço mais frequentado pela população.
Passagem feita através do edifício Chelsea Market. Cadeiras e mesas compõem esse espaço, com visão para a 10th avenue e para o rio Hudson.
Quando o High Line atravessa a10th Avenue é criado um espaço quadrado amplo, o espaço mais espaçoso do parque. Um recorte nesse quadrado forma um anfiteatro com vista para a 10th avenue
Trecho que se estende por três quadras onde se encontra gramíneas perenes e flores silvestre e um vista com as arquiteturas da vizinhança, entre eles o escritório central do IAC, projetado pelo Gehry Partners..
Figura 47 | Primeiro trecho do High Line no outono.
Figura 50 | Espaço de transição e espreguiçadeiras compondo o mesmo espaço
Figura 53 | Espaços de convivência com mesas e protetores solares.
Figura 56 | Anfiteatro, espaço de transição e espaço de parada a baixo das árvores
Figura 59 | Vista do espaço Chelsea Grasslands e dos edifícios do entorno.
Figura 48 | Primeiro trecho do High Line Park no inverno
Figura 51 | Vista para o rio Hudson e trecho com recursos aquáticos no chão.
Figura 54 | Espaço de convivência no pôr do sol.
Figura 57 | Pessoas olhando para a 10th Avenue Square
Figura 60 | Espaços mais reservados para sentar.
Figura 49 | Primeira entrada do High Line Park.
Figura 52 | Recursos aquáticos
Figura 55 | Dinâmicas no espaço: Grupo se apresentando em ambiente público.
Figura 58 | Uso do anfiteatro para apresentações
Figura 61 | Bancos compartilhados.
ESTUDOS DE CADO | 35
SEÇÃO 02
Chelsea Thicket Começa na West 20th Street e estende-se por duas quadras para o norte. É um espaço com características de bosque em miniatura, bancos em escada em estilo anfiteatro e um gramado elevado suavemente cria um ponto de vista para o rio ao longo da 23rd Street.
Passarela Lisa Maria e Philip A. Falcone
É o trecho mais estreito do High Line, passa entre dois grandes edifícios de armazém, uma passarela de metal polido se eleva a uma altura de 2,5m da superfície do parque criando pequenas áreas de estar no meio de uma vegetação diferenciada do parque.
Campo de flores silvestres
Curva Da West 30th Street
É o trecho mais estreito do parque devido a isso o caminho acontece em linda reta, leva ao estremo norte do parque. No percurso pode-se encontrar flores silvestres compondo a paisagem.
É o principal ponto de transição do parque, que leva da seção 2 para os pátios ferroviários, atual seção 3. A curva é acompanhada por uma longa seção de bancos.
SEÇÃO 03
Figura 74 | Vista para o rio Hudson no final do dia.
Figura 62 | Arquibancadas gerando espaços de parada e contemplação.
Figura 65 | Percurso da estrutura metálica elevada.
Figura 68 | Percurso no outono.
Figura 71 | Percurso no verão.
Figura 75 | Vista para o pôr-do-sol.
Figura 63 | Espaços para relaxar e tomar sol.
Figura 66 | Estrutura elevada.
Figura 69 | Percurso a noite.
Figura 72 | Percurso no inverno.
Figura 64 | Espaço para dinâmica em
Figura 67 | Estrutura metálica e plantas.
Figura 70 | Percurso no inverno.
Figura 73 | Percurso no outono.
36 | ESTUDOS grupo. DE CASO
Figura 76 | Uso do trilho como lugar de passagem.
Da mesma forma que o estudo anterior, o interesse pelo aspecto linear, a travessia de quadras e as conexões de bairros são as características que levaram a escolha do projeto do High Line Park como estudo de caso. O envolvimento da comunidade, que através de reuniões e debates, ajudaram na definição do uso da estrutura elevada do High Line. Estudando o projeto outros interesses surgem para a pesquisa, como a organização espacial e a linguagem visual do parque. Durante todo seu percurso diferentes espaços de lazer foram criados de acordo com os elementos espaciais em sua volta, como a vista, as ruas, os edifícios o posicionamento do sol. A linguagem visual feita através dos materiais escolhidos para o piso, bancos, lixeiras e também pelo paisagismo, as plantas, deixa claro que ao longo dos 2,4km, se consegue ter a noção de localização espacial, ou seja, de estar dentro do High Line Park.
Figura 77 | Detalhe banco de madeira com iluminação
Figura 78 | Apropriação de variadas formas do banco.
Figura 79 | Trilho antigo como composição da paisagem.
Figura 80 | Detalhe do piso prémoldado do High Line.
Figura 81 | Espreguiçadeiras do High Line Parque
ESTUDOS DE CADO | 37
PROMENADE PLANTÉE Localizado na 12° arrondissement da cidade de Paris, na França. O parque urbano elevado Promenade Plantée, também conhecido pelos seus frequentadores como La Coulée Verte tem 4,5km de extensão. Um plano de remodelação proposto em 1979 visava a recuperação da Place de la Bastille e consequentemente da antiga linha férrea, a Ligne de Vincennes, inaugurada em 1859 e desativada um século depois, fazia a ligação da região leste de Paris com à Place de la Bastilhe onde encontravase a estação de trem. O plano iniciava as discussões sobre o futuro da estação de trem com a construção de edificações sendo uma dessas a Ópera de Las Bastille substituindo a estação de trem. Para a linha férrea duas propostas foram pensadas, a remodelação para uma promenade, - o parque urbano elevado - juntamente com a recuperação de suas arcadas e de vários conjuntos de lotes ocupados por antigas edificações na parte posterior e a segunda opção propõem a sua demolição para construção de edifícios ao longo da Rue de Lyon e da Avenue Daumesnil.
Foi escolhida a primeira proposta, a revitalização da Promenade Plantée, devido a mesma acolher novas atividades para a população e preservar os raros traços do passado industrial de Paris. Os responsáveis pela concepção do projeto é o arquiteto Patrick Berger, que reconstituiu o interior das 71 arcadas do viaduto, abrigando atualmente ateliês e galerias de artes, chamado de Le Viaduc des Arts (O viaduto das artes) e os arquitetos paisagistas Philippe Mathieux e Jacques Vergely ficaram encarregados pelo paisagismo da Promenade Plantée, sendo finalizado o último trecho em 1994, data da inauguração e em 1997 foram concluídas as reformas das últimas arcadas. Além do aspecto linear encontrado no projeto do Promenade Plantée, igualmente encontrado nos projetos citados por essa pesquisa. O parque em seu percurso, tem características visuais e espaciais diferentes, como mostra a figura 82. O trecho principal que começa na place de la bastille e vai até o Jardin de Reully é o trecho da linha férrea desativada para a criação do parque elevado e das galerias de artes nas arcadas da estrutura. (Figura 83)
Figura 82| Promenade Plantée e Viaduc des Arts
Figura 83| Viaduc des Arts
Figura 84 | Diferentes trechos do Promenade Plantée.
38 | ESTUDOS DE CASO
Figura 85 | Praia de Madureira
Figura 76 | Trilho High Line Park
Figura 86 | Viaduc des Arts
O SISTEMA DE ESPAÃ&#x2021;OS
LIVRES
PREMISSAS DE PROJETO O parque vai possuir um grande percurso pela Estrada de Itapecerica onde o transeunte encontrará a opção de transitar por caminhos rápidos, ou passear por caminhos mais sinuosos que se conectaram com paradas ao longo do percurso, também terá a opção de andar de bicicleta que fará a conexão até o metrô e o Parque Santo Dias. O parque linear urbano se conectará com os conjuntos habitacionais formando espaços de lazer entre os edifícios, valorizando os espaços residuais dessa região. Será proposto outros tipos de equipamentos para o lazer conforme o processo do projeto, onde a comunidade poderá sempre participar.
Figura 91 | Primeiras ideias de organização espacial e conexões para o sistema de espaço livre. Figura 87 | Ciclovias.
Figura 88| Espaços para correr.
Figura 89| Espaços para passear e conviver.
Figura 90| Atividades de lazer.
42 | O SISTEMA DE ESPAÇOS LIVRES
PROCESSO DE PROJETO
Figura 92 | Desenho feito a mão mostrando o desenvolvimento do projeto.
O SISTEMA DE ESPAÇOS LIVRES | 43
O SISTEMA
TRECHOS DA COHAB ADVENTISTAS ÁREAS DE TRANSIÇÕES
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NOTA: VER IMPLANTAÇÕES ANEXADAS NO VERSO DO CADERNO. Trecho III Figura 93 | Diagrama com a organização de pensamento do projeto.
44 | O SISTEMA DE ESPAÇOS LIVRES
Trecho II
Mirante do nascer do sol
Para melhor compreensão, este trabalho divide o sistema de espaços livres em duas frentes, que possuem funções distintas para o meio inserido. São essas: as áreas de transições e as diferentes situações da COHAB Adventista. (Figura 93). A função principal das áreas de transições é conectar os trechos da COHAB Adventista propostos dentro do sistema com a cidade. Essas áreas são divididas em três partes, cada uma desempenhando seu papel de conectar diferentes espaços dentro do sistema. O trabalho nomeia essas partes para melhor identificá-las, sendo essas: o calçadão do Capão Redondo, o mirante do nascer do sol e a rua da feira. Trecho I
A segunda frente, é composta pelas regiões da COHAB Adventista, que corresponde as áreas que possuem predominantemente o uso habitacional. Esse trabalho divide essas regiões em três trechos, são esses os trechos I, II e III como mostra a Figura 93. Visando a melhor compreensão do projeto esses trechos foram divididos por possuírem características especificas em relação a topografia, a organização espacial de suas edificações, diferentes tipos de fluxos de carros e pedestres, equipamentos existentes como escolas, creches, quadras, feiras aos domingos e comércios imediatos e as diferentes situações que os moradores encontraram para manter seus carros seguros. Essas características variam entre os trechos e o projeto analisou cada situação de modo individual atendendo a
Mostra-se importante para o trabalho, debater alguns pontos sobre uma das características especificas citada. Que são as questões relacionadas a quantidade e uso das vagas dos carros. Material de análise recorrente em todos os trechos que merece uma atenção especial nessa parte do trabalho. O projeto de sistema de espaços livres não descarta a utilização de vagas para os automóveis, mas prioriza no projeto a criação de espaços para o uso coletivo. As vagas foram inseridas de modo a unirem-se com o espaço coletivo, seguindo o desenho proposto. Os números de vagas foram reduzidos levando em consideração o objeto prioritário em discussão, no caso as áreas de convivência e os pedestres, imaginando uma decrescente utilização do carro à medida que se requalifica o espaço da cidade e oferece novas opções de mobilidade urbana.
Figura 94 | Plataforma utilizada em travessia de pedestres semaforizada, destacando o uso de materiais diferenciados. (Foto: Hass-Klau et Al).
No desenho do projeto, duas medidas foram tomadas para dá limites para o carro, de modo a priorizar o espaço para as pessoas. A primeira é a utilização do conceito traffic calming, que é a ideia de gerar barreiras espaciais dentro do espaço coletivo para a moderação do tráfico. (Figuras 94, 95, 96) O segundo é a utilização do piso intertravado, representado pelo projeto na cor laranja, que segue o mesmo nível da calçada unindo o aspecto rua e calçada. Exemplo dessa situação é a Rua Avanhandava em São Paulo (Figura 97) –SP. As duas medidas variam de trecho para trecho e serão explicadas detalhadamente no decorrer do projeto.
Figura 95 | Platô - interseção elevada construída de blocos de concreto avermelhado,destacando a rampa de acesso e os balizadores que delimitam a calçada. (Foto: HassKlau et Al).
Outro assunto pertinente para este projeto é a questão dos níveis de espaço, deixando claro através do desenho projetado os agentes que atuam em cada espaço, sendo esses os espaços públicos, representados pelos pisos nas cores bege e vermelha (ver anexo) com predominância dentro do sistema, os espaços privadoscoletivos representados com o piso cinza (ver anexo) e os espaços privados que são as habitações, ambas podendo ser vistas na implantação. Não é de interesse deste trabalho, projetar o espaço privado-coletivo e o privado, e sim delimitá-los, deixando claro o que é cuidado pela prefeitura e o que é território dos moradores, focando essencialmente na requalificação do espaço urbano e os benefícios que o mesmo trará para a população da região.
Figura 96 | Espaço compartilhado em área residencial (Foto: Hass-Klau et Al).
Figura 97 | Rua Avanhandava com rua elevada quase no nível da calçada e balizadores delimitando a calçada. (Foto: Luiz Citton/UOL)
O SISTEMA DE ESPAÇOS LIVRES | 45
CALÇADÃO DO CAPÃO REDONDO O calçadão do Capão Redondo é o principal espaço de conexão do sistema, e por isso é o primeiro a ser descrito por esse trabalho. Percorre a Estrada de Itapecerica e conecta os trechos I, II e II da COHAB Adventista ao tecido urbano existente. O percurso possuí quatro pontos de ônibus, que foram integrados ao desenho do projeto. Nesse espaço foi criado um calçadão com 10 metros de largura, que acompanha as declividades da via, com um desenho de piso listrado na qual sofre variações nas cores bege e vermelho a cada 5 metros. Os desenhos e as cores foram escolhidos para manter uma identidade visual para esse percurso e para os demais espaços do sistema. Mostrando a importância do Genius loci do lugar para o transeunte, compreendendo o sistema como uma unidade espacial, como no caso do High Line Park. Também foram colocadas no centro do calçadão palmeiras que demarcam o percurso e estabelece uma linearidade e importância para o trajeto. Bancos ao longo do percurso complementam o espaço, oferecendo espaços com sombra para as pessoas sentarem. (Figura 98)
Figura 98 | Perspectiva mostrando o calçadão no nível 806,00, muro de arrimo de gabião separando o fluxo principal das habitações que estão no nível 812,00
46 | O SISTEMA DE ESPAÇOS LIVRES
O espaço criado possibilita variadas formas de uso, as atividades já existentes do lazer e esportivas como o passear, correr e o sentar, foram potencializadas. O calçadão convida os moradores da região que forem usá-lo cotidianamente, a desenvolverem uma das atividades de mobilidade urbana, o caminhar. Podendo trocar um ônibus lotado por um passeio agradável a pé. Outra modalidade de mobilidade urbana oferecida pelo projeto é a potencialização do uso da bicicleta oferecido na criação de uma ciclovia que percorre paralelamente o calçadão, passando por variados tipos de espaços dentro dos trechos, oferecendo ao ciclista diferentes experiências sensoriais. (Figura 99)
Figura 99 | Perspectiva mostrando o calçadão, a ciclofaixa, e a entrada no nível 804,00 do mirante.
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MIRANTE DO NASCER DO SOL Outra área de transição considerado por esse trabalho, encontra-se no perímetro do trecho da COHAB Adventista I. Foi criado um mirante que começa na Estrada de Itapecerica, seguindo paralelamente com o calçadão virando e terminando na rua Domingos Peixoto da Silva. O percurso do mirante faz parte da área de transição entre o calçadão e os trechos da COHAB Adventista I e II. O objetivo do mirante é potencializar a vista da região e criar espaços de convivência para as pessoas. O mirante possui um desenho ortogonal que não segue um padrão de formas, gerando diferentes tipos de formatos. Estende-se vencendo o declive e possibilitando a aproximação da pessoa para mais perto da paisagem. (Figura 100)
Figura 100 | Perspectiva do mirante do nascer do sol.
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No percurso da Estrada de Itapecerica o mirante (Figura 101) paralelamente ao calçadão e a ciclovia começa no nível 798,00 e foi projetado em patamares de 1 em 1 metro, que acompanham a declividade da via e do calçadão até a o nível 804,00. Esses patamares são vencidos através de escadas e rampas, o desenho dos patamares e das rampas seguem a mesma linguagem ortogonal do perímetro do mirante, criando diferentes tipos de desenhos. As rampas possuem entre 5 a 8% de inclinação possibilitando a acessibilidade e a contemplação do espaço ao caminhar. Os espaços gerados decorrentes da forma ortogonal criam áreas para sentar e permanecer, com bancos e mesas, que podem ser distribuídas com layouts diferentes em cada situação. (Figura 101)
Figura 101 | Perspectiva do mirante do nascer do sol dos níveis 798,00 ao 804,00.
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Quando o mirante chega no nível 804,00 ele continua em nível colocando-se paralelamente a rua Domingos Peixoto da Silva, porém encontrando-se 5 metros abaixo da via. Nessa parte o mirante se duplica em duas camadas, a primeira camada sendo a do nível 804,00 (Figura 103) e a segunda a dos níveis 808,00 (Figura 102) e 809,00, que compõem a cobertura parcial desse trecho. O acesso para a o nível superior se dá através de escadas facilitando o percurso entre os espaços. Rasgos nos níveis 808,00 e 804,00 foram feitos gerando vãos que permitem que a água da chuva entre em contato com o solo natural e assim gerando uma barreira física que criou alguns percursos e espaços sob o mirante.
Figura 102 | Perspectiva do mirante do nascer do sol | nível 808,00
Figura 103 | Perspectiva do mirante do nascer do sol | nível 804,00
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ANFITEATRO URBANO
Figura 104 | Perspectiva do anfiteatro urbano.
Ainda no nível 804,00 um anfiteatro urbano (Figura 104) foi criado, ligando a parte inferior com a superior através de uma arquibancada, a mesma foi criada oferecendo um espaço diferente para a contemplação da vista (Figura 15), podendo está sentado. Outro uso para o anfiteatro é a realização de pequenos eventos da comunidade, como pequenos shows, cinema a céu aberto, palestras entre outros.
Figura 15 | Vista do nascer do sol da Rua Domingo Peixoto da Silva.
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Ao lado do anfiteatro urbano, um centro cultural foi criado para expor trabalhos e obras de artistas da região, com sede administrativa para gerir eventos e dinamizar as artes na região, não foram esquecidos os banheiros públicos criados embaixo das arquibancadas. Subindo para os níveis 808,00 e 809,00 uma grande praça foi criada em cima do centro cultural, na qual as possibilidades de eventos em grupos são diversas, entre as atividades cotidianas como o soltar pipa, atividade realizada com frequência pelos meninos da região. Devido a descoberta natural dessa potencialidade do território realizada pelos garotos a praça ganhou o nome de Praça da Pipa (Figura 105). Outros equipamentos como academia pública e playground foram incorporadas no espaço do mirante. O caminho com piso vermelho demarca o espaço de passagem, é a transição do mirante para a rua que consequentemente leva ao trecho II através de uma lombada faixa representado no desenho na cor laranja o piso bege demarca os espaços de parada e convivência.
Figura 105 | Perspectiva da praça da pipa.
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PRAÇA DA PIPA
RUA DA FEIRA A Rua Modelar é o espaço em que acontece as feiras de domingo. É a terceira área de transição do sistema, conectando os trechos II, III e o calçadão do Capão Redondo. Para comportar a atividade da feira o projeto alargou o espaço, aumentando as calçadas permitindo que as barracas tomem outros tipos de configurações, possibilitando um maior espaço para as pessoas andarem. Também foram colocados pisos intertravados na altura das calçadas para priorizar o espaço para uso do pedestre, servindo de conexão entre os trechos. O espaço alargado voltado para o trecho II, foi feito em patamares. Pequenos espaços que as pessoas podem se sentar, comer um pastel, conversar ou até mesmo jogar dominó nas mesas. Para o lado do trecho III a calçada seguiu o mesmo nível da rua.
Figura 106 | Perspectiva do rua da feira.
Figura 107 | Feiras de domingo da rua modelar.
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COHAB ADVENTISTA: TRECHO I Neste trecho da COHAB Adventista a organização espacial dos edifícios é disponibilizada de forma totalmente distintas uma das outras, não seguindo um critério semelhante de organização, as quadras são largas e orgânicas sobrando em alguns casos muito espaços entre edifícios e em outros casos poucos espaços. A topografia varia em cada caso, mostrando um declive constante até o limite do sistema. Os níveis foram usados afim de potencializar os espaços criados entre os edifícios. Cinco áreas foram escolhidas para a criação de pequenas praças, elas se conectam entre si através de caminhos, representados pelo piso vermelho, que ligam o espaço público ao espaço privado-coletivo e ao privado. Esse pequeno sistema dentro do trecho foi criado afim de mesclar atividades com o fluxo de pessoas, gerando um constante uso do espaço e assim gerando segurança para as pessoas. Outra alternativa de mobilidade urbana, que gerará fluxo constante para o trecho é a ciclovia que vem do calçadão da Estrada de Itapecerica contornando o território e conectando-se ao sistema de vias existente do parque Santo Dias.
PRAÇA 01
PRAÇA 03
PRAÇA 02
PRAÇA 04
As vagas para os carros foram organizadas diretamente na rua, estando separadas do desenho, porém ligando-se com o mesmo através de caminhos. Essa medida foi tomada devido o trecho possuir espaços sobrando que permitiram essa separação, cedendo os espaços entre edifícios para a criação das pequenas praças, visando que essa seria a melhor medida para a segurança do local. Figura 108 | Diagrama com a organização de pensamento do trecho I.
PRAÇA 05
PRAÇAS LIGAÇÕES ENTRE PRAÇAS
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PRAÇA 01
É a praça de entrada do trecho I que faz ligação com as praças 02 e 03, ela vem de um longo caminho que é conectado ao calçadão da Estrada de Itapecerica fazendo a transição das duas partes. Vai se estreitando à medida que entra no trecho. Quando se aproxima da praça, grandes árvores criam uma espécie de portal, mostrando que aquela área se trata de uma área habitacional, por isso um espaço mais tranquilo se faz necessário. A praça 01 começa no nível 787,00 e se organiza em cinco patamares de 1 a 2m de altura até chegar no nível 783,00 que é o nível da rua. Os patamares são conectados por escadas e rampas, permitindo a acessibilidade para todas as pessoas e uma diversidade de fluxos, democratizando o espaço. Jardins e árvores compõem o miolo e os limites da praça, dando unidade espacial para o lugar e gerando sombras. Uma academia publica foi inserida para gerar atividades rotineiras no espaço. A praça conecta-se a conjuntos habitacionais imediatos e ao Centro de Educação Infantil - C.E.I. Paulo Cochrane Suplicy através do nivelamento da rua seguindo os conceitos de traffic calming gerando segurança para os moradores que transitarem pelo lugar e para os pais e crianças que forem até o centro.
Figura 109 | Perspectiva da praça 01.
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Seguindo o percurso vermelho através do nível 786,00 o transeunte chegará ao nível 785,00 que levará até a praça 02 (Figura 110). A praça está inserida no meio de vários edifícios e organiza-se também em patamares vencendo o desnível acentuado dessa área, ligando os níveis 781,00 que é o nível da rua, até o nível 789,00. São 8 metros de altura vencidos através de patamares de 1m de altura, essa solução permite a permeabilidade visual do local e cria diferentes tipos de situações que as pessoas podem sentar nesses grandes degraus. A área é aberta possibilitando tipos de atividades diferentes entre as pessoas e até mesmo eventos pequenos da comunidade. Rampas e escadas conectam os patamares possibilitando os mais variados tipos de fluxos. Grandes gramados foram criados para as pessoas poderem deitar e tomar banho de sol do período da manhã. Conecta-se com os edifícios a sua volta, oferece caminhos pelos níveis 786,00 e 785,00 para o percurso que liga com o Parque Santo Dias e descendo até o nível 781,00 caminhos ligam até a praça 03.
Figura 110 | Perspectiva da praça 02.
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PRAÇA 02
PRAÇA 03 Essa praça encontra-se no centro do trecho I localizado no nível 777,00. Ela conecta-se a todas as demais praças, sendo a maior em área. Possuía um campo de futebol de areia, como mostra a figura 111, que foi substituída por uma quadra poliesportiva, por permitir uma gama maior de esporte, como o volêi, basquete, tênis, handball e o futebol. A quadra também suporta eventos de comunidade, como festas juninas, reuniões entre os moradores e também eventos recreativos dos equipamentos de educação da região, entre outros. A quadra é protegida por uma grade de 5 metros, seguindo o desenho ortogonal do projeto, criando entradas na diagonal. Uma semi-arquibancada com escadas conecta os níveis da praça com o nível 779,00, permitindo a visualização para a quadra. E um pequeno playground é oferecido para o espaço como mais uma atividade para as crianças.
Figura 111 | Quadra de areia existente.
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As praças possuem características espaciais diferentes entre si, são conectadas através da Rua Arroio das Caneleiras que liga a entrada do parque Santo Dias, a rua foi nivelado na mesma altura da calçada, criando-se um longo percurso. Esse percurso foi pensado para atender as pessoas que criaram um hábito de correr por essa rua, repetindo o caminho de entrar e sair no parque, voltando para esse percurso, repetidas vezes. Foi dada melhor condições para o desenvolvimento desse tipo de exercício, além de dar importância para entrada do parque, gerando espaços para as pessoas sentarem e caminhar. O percurso das praças liga também a associação de moradores da COHAB adventista I, que também é um bar. 58 | O SISTEMA DE ESPAÇOS LIVRES
Um caminho alternativo liga o Parque Santo Dias diretamente ao calçadão da Estrada de Itapecerica. Demarcado pelo piso vermelho, ele foi criado para facilitar a chegada de pessoas que não moram dentro do trecho a chegarem ao parque.
PRAÇA 04
PRAÇA 05
A praça 04 é um espaço voltado para o descanso e relações entre as pessoas, uma pequena área com bancos e mesas. Separada em três patamares, nos níveis 776,00 que faz ligação com a praça 03, nível 775,00 que liga ao percurso da Rua Arroio das Caneleiras e o nível 774,00, uma área mais reservada. Jardins e árvores compõem o espaço gerando sombras e conforto.
A função da praça 05 é estabelecer o acolhimento entre os espaços da Rua Arroio das Candeiras, da chegada do caminho alternativo, do Parque Santo Dias da associação de moradores e dos conjuntos habitacionais do local. O SISTEMA DE ESPAÇOS LIVRES | 59
COHAB ADVENTISTA: TRECHO II
O ÇÃ A ITU
S SITUAÇÃO 01
TU AÇ ÃO SI Figura 113 | Diagrama com a organização de pensamento do trecho II.
60 | O SISTEMA DE ESPAÇOS LIVRES
01
01
Figura 112 | Perspectiva mostrando o acolhimento do ponto de ônibus.
O ÇÃ UA
S
O ÇÃ UA
SIT
2
O0 Ã AÇ U IT
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02
SITUAÇÃO 02
SITUAÇÃO 02
02
SITUAÇÃO 01
Este trecho é delimitado paralelamente pelo calçadão da Estrada de Itapecerica e pela Travessa Cânhamo da Índia na horizontal e as ruas Domingos Peixoto da Silva e Rua modelar na vertical. A organização dos edifícios no espaço está paralelamente ligada uns aos outros com distâncias semelhantes entre si. Essas distâncias formaram espaços confortáveis possibilitando a criação de dois tipos de espaço para o uso coletivo, sendo a situação 01 um espaço voltado para passagem e a situação 02 para o convívio e parada dos carros.
PERCURSO DO CALÇADÃO
O trecho encontra-se acima da Estrada de Itapecerica, como mostra a figura 114. Na área residual que percorria a via foi criado além do calçadão, um segundo caminho elevado a 6 metros aproximadamente do mesmo, nos níveis 811,00 e 812,00. Criando um paredão no percurso do calçadão. Essa medida foi proposta para dar privacidade espacial para os moradores dos conjuntos habitacionais, e oferecer um lugar de transição secundário para o passeio. O percurso conecta-se com as situações 01 e 02 e possui uma vista ampla para a Estrada de Itapecerica e os demais edifícios do entorno, além de possuir um playground e academia pública. Nos canteiros que separam o percurso secundário dos conjuntos habitacionais, a ciclovia passa entre as árvores (Figura 115). Deixa de ter contato com o calçadão para entrar em um espaço mais tranquilo, dando ao ciclista a oportunidade de experimentar novas sensações. Figura 114 | Perspectiva do percurso do calçadão, níveis 811,00 e 812,00.
Figura 115| Perspectiva da coclovia entre as árvores.
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SITUAÇÃO 01 Foram criados três espaços de passagens entre os edifícios que se ligam ao percurso secundário e a Travessa Cânhamo da Índia, com o objetivo de oferecer novos caminhos de fluxo para região, tanto para o uso rotineiro quanto para o passeio. Entendendo que a Estrada de Itapecerica é um grande agente atrativo, que puxa as pessoas das ruas adjacentes para os pontos de ônibus, essas aberturas tornam-se importantes para o fluxo diário da população e também para o passeio. Dois dos três espaços possuem palmeiras que demarcam o espaço, igual a situação adotada para o calçadão. Bancos entre as palmeiras e encostados nos canteiros complementam oferecendo uma pausa.do espaço, forçando-o a desacelerar. E o piso intertravado estabelecendo o espaço do pedestre. (Figura 116)
Figura 116 | Perspectiva da situação 01.
62 | O SISTEMA DE ESPAÇOS LIVRES
SITUAÇÃO 02 Para os demais espaços entre edifícios, foram criados bolsões reservados, porém abertos ao uso público. Com o objetivo de atender o convívio entre os moradores e manter seguro os carros, sem precisar aderir o uso de muros ou grades. Para isso foram tomadas algumas medidas no desenho do projeto para a questão da segurança. Os bolsões são delimitados pelas grades que separam o espaço privadocoletivo do espaço público, e as árvores do entorno possuem a função de acolher o espaço, tornando-o reservado. Os conjuntos têm suas janelas livres de barreiras que impedem a visualização para os bolsões. A disposição das vagas acompanha o desenho ortogonal sugerido pelo projeto, e dificulta a locomoção do carro dentro do espaço, forçando-o a desacelerar. E o piso intertravado estabelecendo o espaço do pedestre. (Figura 117)
Figura 117 | Perspectiva da situação 02.
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COHAB ADVENTISTA: TRECHO III
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VI VÍ CO N DE ÁR
Nesta situação, foram criados três espaços. Uma praça, um calçadão secundário e como nos outros trechos, os espaços de convívio entre edifícios (Figura 118). Que se beneficiam da topografia tirando o melhor proveito do espaço e das características do trecho. Os espaços criados possuem funções e propósitos diferentes.
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O principal desafio deste trecho é a topografia. São os diferentes tipos de situações que o projeto teve que solucionar para manter a linguagem visual do projeto. O trecho começa acima da Estrada de Itapecerica, no nível 809,00 e chega até o nível 790,00, colocando-se abaixo da via. Essa situação topográfica faz com que os conjuntos se mantenham reservados do fluxo principal da Estrada de Itapecerica. Os conjuntos se organizam em grupos de dois e vão descendo paralelamente até o nível 790,00, gerando espaços entre os mesmos.
ÁREAS DE CONVIVENCIA CALÇADÃO SECUNDÁRIO PRAÇA
PRAÇA
Figura 118 | Diagrama com a organização de pensamento do trecho III.
64 | O SISTEMA DE ESPAÇOS LIVRES
PRAÇA DO CALÇADÃO
O primeiro espaço é uma praça, localizado no final do sistema, nó nível 812,00 concluindo o percurso do calçadão criando um pequeno mirante para dentro do trecho III, a praça possui bancos, mesas e uma academia pública. O propósito da praça é potencializar esse trecho que antes era uma área residual, tornando acessível as pessoas e gerando atividades. (Figura 119)
Figura 119 | Perspectiva da praça do calçadão.
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O Segundo espaço é um calçadão secundário (Figuras 120 e 121), que começa na praça no nível 812,00 e desce até o nível 806,00 se mantendo paralelo a Estrada de Itapecerica. Continua reto durante o trecho, subindo apenas no final do trecho para o nível 807,00 ligando-se com o calçadão. Esse percurso foi criado para potencializar a vista do nascer do sol e tem a função de aproximar a pessoa da paisagem através do caminhar.
Figura 120 | Perspectiva do calçadão secundário.
Figura 121 | Perspectiva do calçadão secundário.
66 | O SISTEMA DE ESPAÇOS LIVRES
CALÇADÃO SECUNDÁRIO
ESPAÇOS DE CONVÍVIO
O espaço de convívio deste trecho teve que se adaptar a topografia, aproximando as vagas dos carros para perto dos conjuntos e criando esses espaços de convivência mistos (Figura 122). Para isso, esses espaços foram criados em patamares de 1 metro em sua grande maioria, ajustando-se com os níveis de entrada dos conjuntos. Esses patamares são acessíveis através de escadas e rampas, possibilitando a subida do carro e das pessoas. Os patamares e a disposição das rampas, forçam os carros a diminuírem suas velocidades e o fluxo do carro dentro do espaço é limitado, contando apenas com uma entrada e saída pela Rua dos Jeribás. Um caminho localizado atrás dos conjuntos, identificado pela cor vermelha faz a ligação de todos levando o pedestre até o calçadão. Esse espaço além de ser de transição, também permite o convívio, um playground e uma academia pública foram inseridos nesse espaço oferecendo atividades para a comunidade local.
Figura 122 | Perspectiva do espaço de convívio misto.
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Figura 123 | Perspectiva do mirante do nascer do sol, mostrando os diferentes tipos de uso do espaรงo.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Com base nas informações levantadas por este trabalho, com os diferentes tipos de espaços livres encontrados no distrito do Capão Redondo, as atividades frequentes, o fluxo de pessoas e a situação socioeconômica, mostra a realidade precária da região. Por mais que situações assim prevaleçam, existem potencialidades que precisam ser destacadas, afim de se atingir o objetivo do projeto. A importância de se pensar e criar espaços públicos para regiões mais desfavorecida, com base nos estudos de outros equipamentos de lazer, como o Parque Madureira, High Line Park e o Promenade Plantée, destaca os benefícios encontrados após a implementação dos mesmos. A região do High Line Park, por exemplo, tornou-se mais valorizada atraindo outros tipos de empreendimentos, criando novas dinâmicas para a região e trazendo melhores situações. O Parque Madureira Rio +20 levou espaços de lazer e convívio para a comunidade, a população agora não precisa percorrer longas distancias para desenvolver suas atividades recreativas. O sistema de espaços livres não pretende apenas incentivar espaços de lazer e convívio para a população, o objetivo do sistema é mais abrangente. As condições das edificações, boas ou ruins, refletem no espaço livre da cidade e vice-versa, espaços segregados e degradados é o que mais se encontra na cidade do século XXI. O sistema de espaço livre restabelece um ciclo socioespacial e socioeconômico na cidade, melhora o fluxo de pedestres oferecendo melhores condições de passeio e transporte, como a bicicleta, opções de caminhos mais curtos melhora a dinâmica da região e consequentemente da cidade. O sistema é uma relação da cidade e da pessoa. O presente trabalho não pretende esgotar o assunto, mas levar a reflexão sobre os espaços segregados nas regiões periféricas e a falta de espaços de lazer de qualidade nesses bairros. A proposta poderia ser considerada como projeto piloto sobre a requalificação de outras áreas da cidade.
CONSIDERAÇÕES FINAIS | 69
Figura 124 | Potencialidades renegadas.
70 | REFERÃ&#x160;NCIAS BIBLIOGRAFIA
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