ALÉM DA VISÃO Arquitetura pensada enquanto fenômeno sensível Maria Carolina de Faro Santos
“A arquitetura significativa faz com que nos sintamos como seres corpóreos e espiritualizados. Na verdade, essa é a grande missão de qualquer arte significativa. “
PALLASMAA, 2011 p. 11
Faro Santos, Maria Carolina Além da Visão / Maria Carolina de Faro Santos - São Paulo (SP), 2016. 121 f.: il. Orientador(a): Myrna Nascimento
Trabalho de Conclusão de Curso (Bacharelado em Arquitetura e urbanismo) - Centro Universitário Senac, São Paulo, 2016. fenomenologia, arquitetura, percepção, sensação e experimentação
3
ALÉM DA VISÃO Arquitetura pensada enquanto fenômeno sensível
Maria Carolina de Faro Santos aluna
Prof.ª Dra. Myrna de Arruda Nascimento orientadora
Trabalho de conclusão de curso apresentado ao Centro Universitário Senac, como exigência parcial para a obtenção do grau de Bacharel em Arquitetura e Urbanismo.
Figura 1. Foto da autora, Parque Trianon, 2016.
São Paulo 2016
Agradecimentos Agradeço, em primeiro lugar, meus amigos, que sempre me ajudaram de todas maneiras possíveis. Em especial, os que cruzaram minha vida neste meio acadêmico e os que em minha vida permanecem desde muito tempo. Agradeço Marcelo Vinturini, amizade conquistada graças a este trabalho, através de longas conversas para entender melhor a representação do mundo invisual. Agradeço minha orientadora Myrna Arruda Nascimento, pela paciência
principalmente, e generosidade, de me erguer quando já não via mais saída – e não foram poucas vezes. Agradeço aos meus professores que ao longo desses cinco anos, me transformaram como pessoa e me fizeram entender o que significa arquitetura. Por fim, agradeço principalmente meus pais, pela paciência e o apoio que me deram todos esses anos, e meus familiares, em especial, Marcelo Cinelli, meu companheiro de todas as horas. Figura 2. Foto da autora, Parque Trianon, 2016.
Muito obrigada!
Resumo A arquitetura não é apenas um fenômeno que se percebe pelo estímulo visual; é importante que a experiência em espaços projetados (públicos e/ou privados) estimule os outros sentidos também, e não exclusivamente a visão, para que possamos compreendê-los e vivenciá-los. Este Trabalho de Conclusão de Curso discute o papel da Arquitetura “significativa”, ou seja, uma Arquitetura que oferece sensações das mais diversas, promovendo novas experiências ao usuários, visitantes e moradores, videntes ou não. Além disso, esta pesquisa fornece dados e provoca reflexões através de estudos de caso e vivências, que auxiliam na elaboração da proposta projetual. O foco deste projeto é apresentar a quem “experimenta” uma ambientação, uma proposta de arquitetura que aguce os sentidos não visuais através de estruturas multissensoriais, forçando assim a percepção do espaço. Esse Trabalho de Conclusão de Curso servirá para desassossegar leigos no campo da arquitetura, compartilhando vivências, estimulando a imaginação e promovendo uma compreensão inovadora, além da visão, deste fenômeno artístico.
Palavras-chave: fenomenologia, arquitetura, percepção, sensação e experimentação.
Abstract Architecture is not only a visual phenomenon that is perceived by visual stimulus, it is important that the experience in designed spaces (public and / or private) stimulate other senses as well and not only the vision, so that we can understand them and experience them. This Final Work – TCC, for its acronym in Portuguese – aims to discuss the role of architecture "significant", an architecture that offers diverse sensations, promoting new experiences to users, visitors, and residents, seeing it through or not. In addition, this study aims to provide data and cause reflections through case studies and experiences to assist in developing a design proposal in the second half of my Final Work. The focus of this project is to present, to the ones who "experience� an architecture that sharpen the nonvisual senses through multisensory structures, thus forcing detailed insight in the multisensory aspect of the space. This Final Work aims to unsettle lay in the field of architecture, sharing experiences, stimulating the imagination and promoting an innovative understanding, beyond the vision of this artistic phenomenon. Key words: Figura 3. Foto da autora, Piso do Parque Trianon, 2016.
phenomenology, architecture, perception, sensation and experimentation.
Sumário Introdução ............................................................................................................................................................................................................................11 Capitulo 1. O tato e a visão ..................................................................................................................................................................................................14 Capitulo 2. O invisível na arquitetura ...................................................................................................................................................................................22 Capitulo 3. Vivências e referências ......................................................................................................................................................................................38 3.1 Às cegas ......................................................................................................................................................................................................39 3.2 Arquitetura do silêncio .................................................................................................................................................................................49 3.3 Sentidos despertados...................................................................................................................................................................................57 Capitulo 4. O Parque ...........................................................................................................................................................................................................60 Capitulo 5.O Projeto.............................................................................................................................................................................................................72 Capitulo 6. Referências............... .......................................................................................................................................................................................103 Considerações finais...........................................................................................................................................................................................................111 Lista de figuras ...................................................................................................................................................................................................................113 Referências bibliográficas ..................................................................................................................................................................................................119
Introdução O ritmo de vida do homem contemporâneo, repleto de obrigações e
de 80 d.C., como o Coliseu, por exemplo? Como explicar as sensações que
compromissos, não lhe permite maior percepção do lugar onde suas atividades
sentimos diante de uma arquitetura atemporal, que ao nosso ver dá sentido ao
acontecem, porque a dinâmica da velocidade tomou conta de sua vida. Este é
caráter sensível dos espaços construidos pelo homem?
um aspecto que muito me interessa e diz respeito à profissão do arquiteto.
Há algum tempo inquietei-me com este pensamento e perguntei-me sobre a
A arquitetura, tida para muitos como uma forma de produzir “arte”, coloca-nos
minha própria formação como arquiteta; sobre a forma como penso a produção
diante de um quadro diferente: se para alguns, o espaço de convívio não
de espaços possíveis de serem experimentados a partir da sensibilidade do
importa, para outros, importa muito, principalmente para aqueles que
usuário.
apresentam algum tipo de dificuldade física, motora ou psicológica.
Neste trabalho busco questionar o paradigma de que a arquitetura é um
A Arquitetura é entendida normalmente como um produto principalmente visual
fenômeno apenas visual. Para atingir este objetivo me aproprio de experiências
(reconhecida pela sua fachada), e pouco se comenta se o espaço que ela gera é
“cegas”, ou seja: experiências que despertam os outros sentidos para percepção
agradável, adequado, suficiente, sensível à presença dos seres que vão habitá-
do espaço.
lo ou frequentato-lo por um tempo.
Assim, este Trabalho de Conclusão de Curso está subdividido em seis capítulos.
Considerando este raciocínio perguntamo-nos o que leva alguém a se preocupar
O primeiro aborda conceitos e reflexões a partir do pensamento do arquiteto e
apenas com a aparência da arquitetura?
professor finlandês Juhani Pallasma, com a intenção de discutir como o tato é
Como explicar o que sentimos ao vivenciarmos uma obra arquitetônica do ano
11
um sentido que colabora com a visão em operações perceptivas desencadeadas em vivencias em espaços arquitetônicos.
Em seguida, desenvolvemos um capítulo sobre o invisível na arquitetura,
Finalizamos este volume com as considerações finais, a lista de imagens
uma vez que os teóricos da fenomenologia e das ciências humanas, em
e as referências bibliográficas utilizadas no desenvolvimento deste
geral, destacam o caráter investigativo e inspirador próprio da ação de
trabalho.
olhar “é preciso olhar corretamente o que se quer ver” 1.
No capitulo três, apresentamos vivências da autora que estimularam a escolha do tema deste trabalho, e incluímos referências que exploram a relação entre arquitetura X sensações X visão. O quarto capítulo identifica um lugar na cidade de São Paulo adequado para o desenvolvimento de uma intervenção arquitetônica, destinada a qualificá-
lo como um parque inclusivo, para qualquer tipo de usuário. No capítulo seguinte apresenta-se o projeto a partir das intervenções propostas. Por fim, incluímos as referências, principalmente mobiliários, utilizados no parque especificando o lugar que estão implantados.
1
Rouanet IN: NOVAES, 1988, p. 128
12
Ta t o e a v i s ã o
1
A cena retratada pelo artista ilustra a famosa frase pronunciada por São Tomé segundo a Bíblia cristã:
Figura 4. A incredulidade de São Tomé, 1602, Caravaggio.
“Se eu não vir a marca dos pregos em suas mãos, não colocar o meu dedo onde estavam os pregos e não puser a minha mão no seu lado, não crerei”. (Jo 20:25) A imagem denuncia a postura incrédula do apóstolo checando com as mãos o lugar das feridas abertas no corpo de Jesus ressuscitado.
A experiência vivenciada na exposição “Diálogos no escuro” (descrita no
de experiência - do não vidente -
capítulo 3), ajudou nos a experimentar a sensação do que é estar no mundo
foi que meu pensamento, antes da visita à exposição, era que nós videntes
sem enxergar. Embora ela tenha ocorrido no interior de um espaço
precisávamos transmitir as sensações e emoções que sentíamos ao ser
arquitetônico, fez-me pensar de forma mais abrangente sobre como os
impactados por algo que víssemos, aos que não pudessem ver para sentir. Foi
indivíduos desprovidos de visão se relacionam com espaços e objetos em
então que nos demos conta de que, na verdade, esse pensamento precisava
qualquer situação. Pude perceber o quanto somos dependentes e o quanto os
ser exatamente o contrário, a experiência não vidente nos sensibiliza
outros sentidos são despertados na ausência da visão. Principalmente o tato
profundamente com situações que passam desapercebido ao vidente.
foi explorado pelos organizadores da exposição: queríamos tocar tudo, sentir a temperatura, a textura e as formas. Os pés dos visitantes criavam movimentos para o reconhecimento do que estavam pisando, como se fosse um comportamento instintivo. Vivenciava-se uma troca: nós acariciamos os objetos e eles nos contavam quem eram. Exploramos os ambientes e automaticamente imaginamos como seria a ambientação do espaço se pudéssemos enxergá-lo; “abrimos os olhos” para a construção do espaço de forma subjetiva em nossa mente. Já havia algumas inquietações pessoais em relação a esse tipo
15
e o que mais me surpreendeu
A situação experienciada nos fez questionar sobre o significado da Arquitetura, enquanto espaço que acolhe corpos, movimentos atividades e funções, muitas vezes explorando recursos visuais.
Procurando aprofundarmos teoricamente, estudamos Juhani Pallasmaa
imagem. A imprecisão da visão aguça o tato e estreita a relação com a
que apresenta-nos a possibilidade de se associar a visão aos outros
fantasia.
sentidos principalmente o tato, em seu livro “Os olhos da pele – Para que possamos pensar com clareza, a precisão da
arquitetura e os sentidos” (2011).
visão tem que ser reprimida, pois as ideias viajam longe quando nosso olhar fica distraído e não focado. A luz
Segundo o autor, quando vemos algo e queremos analisar este
forte e homogênea paralisa a imaginação do mesmo
fenômeno, o lado racional do ser é despertado. A visão afasta e separa
modo que a homogeneização do espaço enfraquece a
o indivíduo daquilo que está olhando; ou seja, afasta o que é sensível,
experiência da vida humana e arrasa o senso de lugar.
levando o indivíduo a pensar sobre o que está vendo sem contato físico
(PALLASMAA, 2011 p.44)
com a coisa. De outra forma, quando usamos o tato para “conhecer” aquilo que
Explorar o tato em projetos arquitetônicos deveria ser um aspecto a ser
estamos vendo, a operação nos aproxima do fenômeno e o toque
considerado na concepção de espaços, denominados pelo próprio
transmite o que foi percebido criando intimidade entre o indivíduo e a
Pallasmaa como “arquitetura significativa” (2011 p.11). O autor adota
coisa.
este termo quando reflete sobre a condição sensível “espiritualizada”
Não é à toa que se faz necessário a escuridão para o despertar o imaginário, pois desprovidos de visão somos obrigados a inventar a
que
os corpos
podem
adquirir quando
vivenciam
espaços
especialmente construídos
16
Não basta ver, é necessário ver tudo: não é qualquer olhar que pode atender a essa exigência. Precisamos de um
Deparamo-nos com uma questão que merece nossa atenção: pensar
olhar educado capaz de ver todas as coisas, tanto as que
sobre a elaboração desses espaços por arquitetos “videntes”. Sabemos
se oferecem imediatamente à percepção como as que
que para produzir espaços destinados a um público especial os
escapam à percepção imediata. Se é assim, também essa
arquitetos devem incorporar em sua prática projetual conhecimentos específicos, que envolvam desde orientações normativas até noções
proposição
descritiva
pode
ser
convertida
numa
proposição normativa: é preciso olhar corretamente o que se quer ver.
adquiridas com aprofundamentos e pesquisas dirigidas para cada caso. Trata-se de uma espécie de “estudo especializado”, “desenvolvimento
Assim reformulada, a primeira frase define um domínio de objetos – a totalidade do real – e a segunda um estilo de
de uma postura científica”. Entre outros textos que compõe o livro “O
olhar – o que permite atingir a meta da total visibilidade.
olhar” (1988), o ensaio de Sergio Paulo Rouanet “O olhar iluminista”
Duas normatividades: a da visão e a do olhar. Uma ética
traz exatamente uma contribuição sobre como, educado pela ciência, o
ou uma política da visão: é preciso ver tudo. Uma
olho daquele que está em atividade criativa supera suas intuições e o conhecimento empírico que tem sobre um assunto qualquer.
disciplina do olhar: adestrar o olho, armá-lo com as tecnologias necessárias, dirigi-lo de maneira correta para o seu objeto. Esse duplo imperativo resume, a meu ver, a visualidade ilustrada. O homem tem a obrigação de ver tudo, e para isso tem que submeter-se a uma pedagogia do olhar. (Rouanet IN: NOVAES 1988 p. 128)
17
Podemos observar que para a cultura ocidental, fundada na filosofia
O desfoque da visão, embora não nos permita ver com clareza,
grega de Platão e Aristóteles, a visão ocupa o espaço de sentido mais
assegurando a “veracidade” do que é percebido, permite o surgimento
importante. Esses filósofos associavam a visão à mente, ao intelecto e
de um olhar participativo e empático. Como não conseguimos ver bem
ao pensamento. Os antigos gregos têm abundantes metáforas oculares,
precisamos imaginar.
logo o conhecimento é considerado análogo à visão clara, e a luz é considerada metáfora da verdade. A divisão e associações dos
Para Pallasmaa (2011) na nossa era, a hegemonia da visão tem sido
sentidos da Renascença eram como o desenho abaixo ilustra:
reforçada pelas incontáveis invenções tecnológicas e a infinita
multiplicação e produção de imagens - “uma incessante chuva de
Visão
Fogo e luz
Audição
Ar
Olfato
Vapor
Paladar
Água
Tato
Terra
imagens” - nas palavras do saudoso escritor italiano Ítalo Calvino, citado pelo autor.
Figura 5: diagrama elaborado pela autora, 2016, referência retirada de PALLASMA, 2011 p.17
18
A falta de humanismo da arquitetura e das cidades contemporâneas pode ser entendida como consequência da negligência com o corpo e os sentidos e um desequilíbrio de nosso sistema sensorial. O aumento da
alienação, do isolamento e da solidão no mundo tecnológico de hoje, por exemplo, pode estar relacionado à certa patologia dos sentidos, é instigante pensar que essa
sensação
frequentemente
de
alienação
evocada
e
pelos
isolamento ambientes
seja mais
avançados em termos tecnológicos, como hospitais e
aeroportos. O predomínio dos olhos e a supressão dos outros sentidos tende a nos forçar à alienação, ao isolamento e à exterioridade. A arte da visão, sem dúvida,
Figura 6. Projeto para casa Farnsworth do arquiteto Ludwig Mies Van der Rohe, imagem de um ícone
tem nos oferecido edificações imponentes e instigantes,
moderno projetado rigorosamente segundo as proporções áureas e os paradigmas da “máquina de
mas ela não tem promovido a conexão humana ao
morar ” exemplar. Distante da civilização e próximo da natureza, num espaço silencioso e vazio.
mundo. O fato de o vocabulário modernista em geral não ter conseguido penetrar na superfície do gosto e dos
Disponível
em:
http://cicacarvello.com/casa/arquitetura/ludwig-mies-van-der-rohe-o-autor-da-
frase-menos-e-mais
valores populares parece ser resultado de sua ênfase visual e intelectual injusta; a arquitetura modernista em geral tem abrigado o intelecto e os olhos, mas tem deixado desabrigados nossos corpos e demais sentidos,
Pallasmaa ao refletir sobre arquitetura defende a afinidade desta área do conhecimento com a Arte. Para ele a Arte está intrinsecamente envolvida
bem como nossa memória, imaginação e sonhos.
com as questões metafísicas da individualidade e do mundo, interioridade e
(PALLASMAA,2011)
exterioridade, tempo e duração, vida e morte.
19
20
O invisível na arquitetura
2
“Homem-vitruviano”, proporção áurea deduzida a partir dos
estudos de simetria e proporção presentes na construção do homem vitruviano. Esse modelo é base para toda produção criativa baseadas em princípios ditos clássicos. Na arquitetura isso se reflete nas obras da antiguidade, do renascimento, do neoclássico e na produção moderna de autores como Le
Corbusier, Ludwig Mies van der Rohe, etc. Pode-se dizer que a proporção áurea agrada os olhos, é um dado invisível, mas é um dado sensível.
Figura 7. O homem vitruviano, 1490, Da Vinci.
A arquitetura é estruturada quando o espaço projetado atende às
Sua arquitetura traz um enriquecimento mútuo, experiência envolvente,
necessidades do usuário e, através de sua utilização, promove a
reciproca: aquele que vivencia a obra “devolve” para o objeto novas
construção de um significado pessoal. Para a percepção deste espaço
qualidades, decorrente da sua interpretação. Vice-versa, a cada novo
utilizamos todos os sentidos; mais do que isso, o ser poético aflora
convívio com essa arquitetura o indivíduo se renova continuamente.
quando em contato com esta arquitetura. Peter Zumthor é um arquiteto que trabalha com esses tópicos para a construção de um bom projeto. Arquiteto suíço, nasceu na cidade de Basiléia em 1943, formou-se marceneiro, mestre-de-obras, arquiteto e designer na Kunstgewerbeschule Basel e em Nova Iorque, no Pratt Institute. Abriu seu próprio escritório em 1979 e passou pela área acadêmica até os anos 90, e então se tornou um dos arquitetos mais respeitados e premiados do mundo, o Prêmio Pritzker de 2009. Zumthor produz uma arquitetura muito sensível, estimulante, diversificada, com sutileza e simplicidade.
23
Em 2003, na Festa da Música e Literatura da Alemanha, no palácio renascentista de Wendlinghausen, Zumthor buscou explicar, em uma
palestra, como acontecem essas trocas, refletindo sobre a capacidade da arquitetura ir além de seu âmbito e atingir também a relação dos indivíduos com o espaço, num entrelaçamento com suas memórias, prazeres e vivência.
A própria palestra, inserida num programa que durou
da arquitetura e/ou em guias da área. É transcendental, envolve
vários dias, colocou em destaque, inspirada pela
questões íntimas que compreendem a definição da atmosfera a qual ele
arquitetura do palácio renascentista de Wendlinghausen, a questão da beleza. Os postulados arquitetônicos
se refere: uma obra só possui qualidade arquitetônica quando toca o
daquele tempo: utilidade e conforto, solidez e beleza –
indivíduo, como um prazer – ou satisfação – que se sente ao estar em
assim cita o mestre do renascimento italiano, Andrea
um ambiente e observá-lo – ou apreciá-lo. Ao entrar num edifício, por
Palladio,
exemplo, aquele espaço se comunica com seus visitantes promovendo
o
antigo
Vitrúvio
–
sobressaem
em
Wendlinghausen com toda a sua pureza: uma arquitetura
a sensação de uma atmosfera particular. Zumthor (2009) explica:
simples, profundamente enraizada na paisagem e utilizando materiais de construção típicos da região. (Palladio apud ZUMTHOR, 2009, p. 8 e 9)
Na obra, “Atmosferas. Entornos arquitetônicos – as coisas que me
A atmosfera comunica com a nossa percepção emocional, isto é, a percepção que funciona de forma instintiva e que o ser humano possui para sobreviver. Há situações em que não podemos perder tempo a pensar se
rodeiam”, transcrição da palestra de Zumthor, o autor inicia seu discurso
gostamos ou não de alguma coisa, se devemos ou não
explicando a origem do título a partir do questionamento “o que é no
saltar e fugir. Existe algo em nós que comunica
fundo a qualidade arquitetônica? ”. Para ele, a resposta não se limita a
imediatamente conosco. Compreensão imediata, ligação
prêmios especializados, ao registro de determinadas obras na história
emocional imediata, recusa imediata. É diferente daquele pensamento linear que também possuímos e que também amo, chegar de A a B racionalmente,
24
obrigando-nos a pensar sobre tudo. A percepção
tocou para além disso? A minha disposição, os meus
emocional conhecemos por exemplo da música. O
sentimentos, a minha expectativa na altura em que ali
primeiro andamento daquela sonata para violoncelo de
estive sentado. E vem-me à cabeça esta famosa frase
Brahms, a entrada do violoncelo – e em dois segundos
inglesa que remete a Platão: “Beauty is in the eye of
surge aquele sentimento! (Sonata n° 2 em Fá Maior para
the beholder. ” Isto é: tudo existe apenas dentro de
violoncelo e piano). E não sei porquê. Em relação à
mim. (ZUMTHOR, 2009, p. 18)
arquitetura também é um pouco assim. Não tão forte como na maior das artes, mas está lá. (ZUMTHOR, 2009, p.12 e 13)
Ao exercitar a imaginação e eliminar a praça a partir de tudo que observou, todos os seus sentimentos desaparecem junto com a praça.
O autor exemplifica ao citar um texto que ele mesmo escreveu e está em seu livro de apontamentos, no qual descreve detalhadamente uma
Ou seja, dá-se uma relação recíproca entre pessoas e coisas e tudo faz parte do que o autor chama de Magia do real.
praça e tudo que a envolve: desde o sol que a ilumina, até os sons que nela ecoam. E ali, tudo tocou o autor: Tudo. Tudo, as coisas, as pessoas, o ar, ruídos, sons,
questão da qualidade arquitetônica e definem a atmosfera. São doze
cores, presenças materiais, texturas e também formas.
itens dentre os quais nove respostas objetivas e três subjetivas,
Formas que consigo compreender. Formas que posso
definidas por Zumthor como suplementos, transcendências.
tentar ler. Formas que acho belas. E o que é que me
25
A partir deste exemplo, o autor estipula respostas que resultam na
A primeira é O corpo da arquitetura. O autor compara a arquitetura ao
É fato: os materiais possuem reações entre si, eles estabelecem
nosso corpo, que é formado por órgãos e coberto por um tecido, a pele.
campos de comunicação. Para criar a harmonia entre eles, é
A arquitetura é formada por coisas que são cobertas por materiais; ela
necessário colocá-los de forma concreta, primeiro mentalmente, depois
tem o dom de reunir coisas, materiais espalhados pelo mundo em um
na realidade, a fim de comprovar se, na prática, eles se identificam.
só espaço, em um só corpo. A reunião desses materiais deve possuir uma coerência, um equilíbrio, pois eles reagem uns com os outros. Isso
A forma com a qual estes materiais são dispostos também vai
define o segundo item: A consonância dos materiais. Zumthor explica
influenciar a terceira resposta: O som do espaço. Todo espaço emite
as diversas formas de se usar um único material dentre os vários
um som e, para Zumthor, eles são muito importantes até para a
disponíveis:
memória: ele lembra os sons da infância, os ruídos de sua cozinha Os materiais são infinitos – imaginem uma pedra que podem serrar, limar, furar, cortar e polir, e ela será sempre diferente. E depois pensem nesta mesma pedra
enquanto sua mãe nela trabalhava. Os sons são marcantes e mesmo o silêncio tem o seu valor. Por exemplo, um edifício no centro de uma cidade grande não ecoa. Ele é o contraponto do caótico som da cidade.
em quantidades muito pequenas ou em quantidades enormes, será outra vez diferente. E a seguir exponham-
A quarta resposta refere-se à Temperatura do ambiente. É conhecido
na à luz, e ela será mais uma vez diferente.
o fato de que os materiais e cores retiram mais ou menos calor do
(ZUMTHOR, 2009, p. 24 e 25)
nosso corpo. Em um de seus projetos, Zumthor (2009) explica a escolha dos materiais: 26
Para a execução do Pavilhão da Suíça em Hânover
a este item: Nietzsche em O Viajante e a Sua Sombra, de 1880, sobre
utilizamos muita, muita madeira, muitas vigas de
“parecer e ser no mundo das coisas”, e também em Fragmentos Finais,
madeira. E quando havia calor, estava fresco neste
de 1880 e 1881, “sobretudo a sua existência (do objeto) como corpo e
Pavilhão como numa floresta, e quando fazia frio,
substância”; e Jean Baudrillard em O Sistema dos Objetos.
havia mais calor lá dentro do que lá fora, mesmo não estando fechado. (ZUMTHOR, 2009, p. 34 e 35)
A sexto item é Entre a serenidade e a sedução. Tem a ver com a movimentação dos indivíduos dentro da arquitetura, que é uma arte
Em todos os ambientes, residência ou empresa, existem objetos que circundam o movimento das pessoas: livros, móveis, decorações, etc. O autor se atenta à relação de amor e cuidado que, às vezes, algumas pessoas têm para com esses objetos. São essas coisas que compõem o quinto item, As coisas que me rodeiam. E essa relação agrada Zumthor. Ele imagina o futuro de seus edifícios ao serem preenchidos por tais coisas de quem os habitará ou neles trabalhará – como em nossas próprias casas e a forma como nós as qualificamos. Em seu livro de apontamentos, o arquiteto cita dois autores no que diz respeito
27
espacial, sem dúvida. Mas, para o autor, ela é também uma arte temporal, no sentido do aqui e agora. Zumthor acredita que as pessoas têm que transitar de forma livre, “não conduzir, mas seduzir” (p.42 e 43). Ele exemplifica com o corredor de um hospital, um local onde há uma direção. O arquiteto prefere a deambulação, o andar, vaguear e se surpreender com o caminho, com algo que lhe chame atenção – claro, como um arquiteto, ele há de se precaver para não criar labirintos. A condução, por vezes é necessária, mas faz parte de uma sequência:
“Conduzir. Seduzir. Largar, dar liberdade. Para certo tipo de utilização é
mesmo tempo em que pessoas observam as janelas de um prédio,
melhor e faz mais sentido criar calma, serenidade, um lugar onde não
existe a possibilidade dos indivíduos que estão nos ambientes
terão de correr e procurar a porta” (ZUMTHOR, 2009, p. 44 e 45) que é
observados estarem também observando seus observadores. Não se
claramente aplicado a sua obra Therme Vals que estudaremos no
sabe o que, vultos, quadros, luzes, decorações; mas sabe-se que há
próximo capítulo.
algo ali. Existe, sobretudo, a comunicação entre ambos. Mais adiante neste trabalho voltaremos a discutir estas questões quando, por
“Na arquitetura retiramos um pedaço do globo terrestre e colocamo-lo
exemplo, mencionarmos o dentro e o fora nas obras de Lina Bo Bardi.
numa pequena caixa. E de repente existe um interior e um exterior. Estar dentro e estar fora. Fantástico. ” (ZUMTHOR, 2009, p. 46 e 47).
Degraus da intimidade é o oitavo item que discute a relação de
No sétimo item: A tensão entre o interior e o exterior, um jogo
proximidade e distância.
possibilita os arquitetos criarem passagens, refúgios, soleiras e afins,
Fechaduras, dobradiças ou outras ferragens, portas.
numa relação entre a privacidade e o público. O autor acredita que a
Conhecem aquela porta alta, estreita, onde toda a gente
fachada de um castelo, por exemplo, pode se comunicar e dizer o que
fica bem ao passar? Conhecem esta porta mais larga,
quiser, “sou, posso, quero”, ao mesmo tempo em que esconde dentro
sem interesse, deselegante? Conhecem os portais
de si algo que não diz respeito ao público e atenta, “mas não vos mostro tudo”. O arquiteto cita o filme Janela Indiscreta, de Hitchcock. Ao
grandes e intimidadores, onde só quem os abre fica bem e orgulhoso? Ou seja, o tamanho, a massa e o peso das coisas. A porta fina e porta grossa. O muro grosso e o muro fino. (ZUMTHOR, 2009, p. 52 e 54)
28
O autor fala sobre intimidação e enaltecimento. Além de ser a favor da
massa de sombras e a seguir, como num processo de escavação,
diferença dos ambientes internos e externos, ele salienta o fato de que
colocar luzes e deixar a luminosidade infiltrar-se”; a segunda é “colocar
objetos grandes podem nos intimidar ou nos enaltecer, como a Villa
os materiais e superfícies, propositadamente, à luz e observar como
Rotonda de Andrea Palladio, que, segundo Zumthor, se sente
refletem” (ZUMTHOR, 2009, p. 60 e 61). Pois, assim como os materiais
enaltecido mesmo numa grandiosa construção como essa, por ser
dialogam entre si, a luz entra como mais uma coadjuvante da relação.
ampla e poder “respirar” melhor. Neste sentido, precisa-se evidenciar a
Os materiais refletem a luz que recebem de diferentes formas. É
diferença da experiência de um único indivíduo num ambiente e um
preciso criar um diálogo sem ruído, afiná-lo.
único indivíduo inserido num grupo dentro de um ambiente. A arquitetura como espaço envolvente é o primeiro no grupo dos O último dos itens objetivos trata sobre A luz sobre as coisas, atento a
itens que o autor define como suplemento. Ao se criar um edifício,
natureza natural ou artificial do fenômeno luminoso. O autor pensa ser
grande ou pequeno complexo, ele se torna parte integrante do espaço
extremamente importante essa questão pois faz parte de todo o projeto
envolvente e, assim, converte-se como parte da vida de uma pessoa ou
arquitetônico. Não recomenda que decidir sobre a iluminação seja algo
de várias pessoas, o que cria laços, memórias. Uma praça, um prédio,
para ser tratado depois de pronto, chamando o eletricista para interferir
uma catedral ou uma casa, não interessa saber qual foi o arquiteto que
em onde as luzes ficarão. O arquiteto tem duas ideias preferidas: a
assinou a obra, capta uma parte da vida das pessoas (o primeiro beijo,
primeira, que é mais lógica, é “pensar o edifício primeiro como uma 29
a primeira visita, uma experiência marcante) e a construção sempre
tudo se encaixa, mas não acha nada daquilo bonito. Somente no final,
estará lá, o que permite ativar as memórias do que ali se viveu. Zumthor
quando pronto, ele observa sua obra e se surpreende: nunca teria lhe
prefere pensar assim a criar algo que esteja registrado daqui a 30 anos
ocorrido, no início, que aqueles desenhos e maquetes tornar-se-iam tal
num dicionário de arquitetura.
forma. A conclusão é seu deleite, sua satisfação. Caso contrário, ele recomeça do início. É assim que ele finaliza o último suplemento,
A arquitetura é a uma arte para ser utilizada. O autor considera um
chamando-o de A forma bonita.
grande elogio quando não se consegue ler a forma de sua obra e a
definem como algo supercool. Isso porque essa explicação surgiu da
Quando analisamos todos esses pontos que Zumthor propõe para
utilização do espaço. É aqui que reside o segundo suplemento,
entendimento das atmosferas, fica claro o quanto somos influenciados
intitulado Harmonia. A explicação da forma provém da utilização. “Há
pelo ambiente e que a percepção deste depende somente de nós, de
uma bela expressão antiga: as coisas encontraram-se, estão em si.
nosso repertório e de nossa sensibilidade. Os nossos sentidos são
Porque são o que querem ser” (ZUMTHOR, 2009, p. 69).
enaltecidos ao se pôr à prova, esclarecem sensações que não sabemos explicar e então entende-se que este é um processo pelo qual já
Trabalhar com arquitetura é trabalhar com a projeção: primeiro, planeja-
passamos alguma vez na vida. Como a compreensão dessa
se em desenhos e maquetes; depois, na produção do projeto – com o
experiência complexa é impossível de ser denominada, Zumthor
som, o ruído, na construção, na anatomia – finalmente, na
escolheu o termo “atmosfera” para traduzir este significado pessoal e
concretização do projeto. Ao olhar as maquetes, o autor explica que
intransferível que o fenômeno gera. 30
O homem, tal como é hoje, admite cinco sentidos. Nós, porém, sabemos que isso é incorreto, pois na verdade temos de distinguir doze sentidos humanos. Todos os outros sete devem ser mencionados, além dos cinco
Seguindo o pensamento de que utilizamos nossos sentidos para
usuais; trata-se de sentidos tão legítimos, para a época
percepção do entorno, ou do que nos rodeia, e o que nos toca,
da Terra, como o são os cinco sentidos sempre
questionei-me se eram apenas os nossos cinco sentidos mais conhecidos (visão, tato, olfato, audição e paladar) responsáveis por essa influência.
mencionados. Os Senhores conhecem bem o modo como são enumerados: sentido da visão, sentido da audição, sentido do paladar, sentido do olfato e sentido tátil. Este último também é denominado sentido do tato, sendo que já não se faz uma distinção entre o tatear —
Rudolf Steiner filosofo, educador e artista nascido em Kraljevec
isto é, o sentido do tato propriamente dito — e o sentido
(fronteira austro-húngara) de 1851, escreveu um discurso proferido por
do calor, distinção essa que algumas pessoas já querem
ele na Suíça em 1916, chamado “Os doze sentidos e os sete processos vitais”. Nesta obra o autor defende a ideia de que a sensibilidade é
fazer. Em tempos passados, houve uma confusão entre o sentido do tato e o sentido do calor. Evidentemente, esses dois sentidos diferem totalmente um do outro. Por
capaz de ser maior do que apenas os 5 sentidos. Rudolf Steiner
meio do sentido do tato, percebemos se algo é mole ou
pressupôs que na verdade usamos nada menos do que 12 sentidos;
duro; o sentido do calor é completamente diferente. Mas
tato, sentido de vida, sentido de movimento, equilíbrio, olfato, paladar,
quando temos um senso — se e que posso usar essa
visão, sentido de calor, audição, sentido da palavra, sentido do pensar e sentido do eu.
31
palavra — para perceber o relacionamento do homem com o resto do mundo, precisamos distinguir doze sentidos. (STEINER, 1916, p.2)
O tato é o intermédio do homem para se relacionar com o mundo
notamos por considera-la um direito adquirido. Trata-se daquele sentimento que nos permeia com um certo bem-
material, é a forma mais rude de relacionamento com o mundo exterior.
estar, um sentimento de vida.
É a ação de tatear, sentir na pele os objetos. Ao definir algo como liso
(STEINER, 1916 p. 3)
ou áspero, chega-se a essa conclusão internamente. Isto é, sente-se com a pele, porém essa percepção conclui-se no lado interno dela, o
É o que nos faz sentir vivos, com o nosso organismo funcionando em
que faz com que o tato ocorra na parte de dentro do homem, esse é o
sua totalidade, sentindo bem ou mal-estar. Assim como nos
sentido do tato.
percebemos vivos, é o sentido da vida que também nos faz olhar com
os nossos próprios olhos aquilo que nos cerca, sentir-nos como um É na parte interna, também, que temos o sentido da vida. Steiner
organismo no mundo; sem ele não sentiríamos o nosso processo vital.
(1916) explica: Trata-se de um sentido, no interior do organismo, a cujo
Sentir-se como um organismo é sentir que, ao se movimentar, todo o
respeito o homem não está habituado a pensar, porque
corpo – isto é, todos os órgãos – age em conjunto. É pensar que, ao
esse sentido da vida atua, por assim dizer, de maneira
tossir, o pulmão se movimenta; ao falar, a laringe se movimenta; ao
abafada. Quando há algum distúrbio dentro do
mover um braço ou perna, sentir a mudança da posição de nossos
organismo, logo o percebemos. Mas geralmente nem
notamos aquela ação conjunta de todos os órgãos que se manifesta, no estado cotidiano de vigília, como
membros. Esse é o sentido do movimento, é ainda mais interiorizado que o sentido da vida. Adjacente a ele, também é necessário perceber
sentimento de vida, como disposição vital; e não a
32
o sentido de equilíbrio. “Da mesma maneira como percebemos a
que é o exterior, diferente do paladar, que nos permite degustar e
mudança de posição interna, nós percebemos nosso equilíbrio ao
vivenciar as qualidades do que experimentamos. Já com a visão
simplesmente nos colocarmos em relação com os fatores em cima,
agregamos características do mundo exterior para o nosso interior,
embaixo, à direita, à esquerda, e nos posicionamos no mundo de
“adotamos” o que vemos.
maneira a sentir-nos dentro dele – a sentir que agora estamos de pé” (STEINER, 1916, p. 3). Por exemplo, o desmaio é o rompimento do
Para reconhecer o mundo exterior utilizamos muitos meios para
sentido de equilíbrio - e o ato de fechar os olhos também rompe o
identificar objetos, como o sentido do calor, que, quando ativado,
sentido da visão - pois sentimos algo que nos faz cair. Esses três
revela que criamos certa intimidade com o objeto ou o mundo exterior
sentidos – da vida, do movimento e do equilíbrio – ocorrem
em si. Contudo, o sentido que se mostra mais envolvido e descobridor
internamente.
do exterior é a audição pois, os sons nos revelam muito sobre o interior do exterior; graças ao som nos aprofundamos no mundo.
Segundo Steiner, o olfato tem relação direta com o mundo exterior,
porém este sentido não nos orienta sobre o mundo exterior, ele carrega
O som, obviamente possui várias fontes, entretanto o som da fala, o
uma prévia, mas não captamos a informação por inteiro porque não o
sentido da palavra alcança uma interioridade ainda maior do que o
utilizamos para esta finalidade, diferente do cão que “descobre” o
som em si, pois se trata da transmissão do pensamento humano, de
mundo através do olfato. Este sentido nos traz interiormente pouco do
humano para humano, se torna palavra plena de sentido e significado, como um processo para tradução de ideias internas.
33
Nós percebemos o som de maneira mais íntima quando este adquire um sentido. Portanto, para o sentido do som, “som da fala, da palavra” talvez fosse uma
Porém, ainda mais interior é o sentido do pensar que se dá, não só quando a palavra é captada através do som ou não, mas sim quando o
designação melhor. É uma insensatez acreditar que a
seu entendimento é completo. “Contudo, existe uma diferença entre a
percepção da palavra seja a mesma coisa que a
percepção da mera palavra, do soar pleno de sentido, e a verdadeira
percepção do som. Trata-se de percepções tão diferentes
percepção do pensamento por detrás da palavra. A palavra já é
quanto paladar e visão. No som, percebemos de fato o
percebida quando está separada do pensamento, por meio de
interior do mundo externo, mas esse interior do mundo externo ainda se interioriza mais quando o som se transforma numa palavra plena de sentido. Portanto, penetramos mais intimamente no mundo exterior quando não percebemos meramente com o sentido da
gravações, ou mesmo quando se trata de palavra escrita. ” (STEINER,
1916 p. 4) E por fim o sentido do eu, que é o mais exteriorizado de todos, pois
audição algo que soa, e sim quando percebemos, por
este nos possibilita nos sentir integrados ao outro e reconhecer que
meio do sentido da palavra, algo que tenha significado.
somos criaturas iguais, seres humanos. E um relacionamento mais
(STEINER, 1916 p. 4)
íntimo com o mundo exterior do que o sentido do pensar nos é dado por aquele sentido que nos possibilita sentir-nos unos com outro ser, que nós passamos a sentir como a nós mesmos. Isso acontece ao percebermos — por meio do pensar, do pensar vivo que nos é enviado por um ser — o eu desse ser: é o sentido do eu. 34
Steiner conclui então: Quando, de certo modo, refletimos sobre esses sentidos,
Em vista dos argumentos apresentados, percebe-se que o reconhecimento de um ambiente, que cria uma atmosfera, depende do
podemos afirmar que é neles que o nosso organismo se
envolvimento pessoal de cada indivíduo e que, nessa situação, a visão
especifica, se diferencia. Ele realmente se diferencia,
entra apenas como suplemento, uma vez que os sentidos – que vimos
pois, ver não significa perceber sons, a percepção do som
ser mais de doze, segundo Steiner – precisam estar envolvidos, e
não significa ouvir, e ouvir não é, por sua vez, perceber o
automaticamente se envolvem, para que isso se traduza num
pensar, e perceber o pensar não é tatear. Esses são, na entidade humana, âmbitos separados. No organismo
significado especifico e único. Compreendendo que este espaço, se
humano temos doze âmbitos separados, na área dos
bem projetado, nos influenciará transformando nosso repertório, criando
sentidos. Peço-lhes que guardem muito bem esta
novos patamares de percepção a cada nova experiência vivenciada.
distinção: a de que cada sentido constitui, por si só, um
Zumthor e Steiner nomearam e subdividiram sensações inexplicáveis, a
âmbito separado; pois é graças a essa distinção que
fim de que pudéssemos nomear os outros mecanismos de sentido que
podemos desenhar esses doze sentidos num círculo, conseguindo reconhecer nesse círculo doze âmbitos separados. (STEINER, 1916 p. 5 e 6)
35
não necessariamente se correspondessem aos cinco sentidos mais
conhecidos.
36
Vivências e referências
3
Cena retirada do filme “Ensaio sobre a cegueira”. A cena retrata uma das personagens em contato com a chuva após muito tempo presa em um local fechado. Fica clara sua satisfação em ter seu corpo molhado, ter contato com as pequenas gotas de água, que não são diferentes para os não videntes. Dá-se mais atenção a pequenos detalhes.
Figura 8. Cena do filme “Ensaio sobre a cegueira”, 2008, Brasil, Canadá e Japão.
Às cegas
Buscamos meios de aprofundarmo-nos no entendimento da experiência
descobrindo o que aquele ambiente nos apresentava, como por
não vidente, como descrito no capítulo 1. No início havia algumas ideias
exemplo a audição (em alguns pontos o som característico daquele
errôneas do que significava não ver, descobrimos que não é necessário
lugar na cidade era reproduzido), tato (o mais utilizado na ausência da
ver para sentir e entender.
visão, tocávamos tudo, tentávamos criar olhos nas mãos, percebendo a diferença de materiais, sua temperatura, textura e forma), olfato (ao
A exposição “Diálogos do Escuro” promovida pela Unibes Cultural e
cheirarmos algum produto da feira) e o paladar (ao final recebemos
Calina Projetos, foi a experiência que precisávamos passar parar
comida e reunidos começamos uma rodada de perguntas à Tânia).
entender as diferenças de vivência sendo cego por uma hora. Do ponto de vista projetual, a exposição auxiliou nos a compreender A exposição consistia de um circuito completamente no escuro, que
como deve ser um projeto para uma experiência não vidente, percebi
com a ajuda de bengalas (instrumento de auxílio aos cegos) e da
que; a sonoridade e mudança de piso do espaço é muito importante,
instrutora Tânia (deficiente visual), fomos guiados por vários ambientes
tanto para comunicação quanto para orientação, e que esses espaços
que simulavam parque, rua, feira e bar. A tentativa de descoberta
que precisam ser confortáveis para a locomoção segura de um
destes espaços vinham com as perguntas de Tânia, nos instigando a
indivíduo cego. Percebemos que, no mundo sem a visão, ficamos muito
explorar o ambiente como; o que havia nele, o que achávamos que
mais sensíveis e receptivos com o ambiente, pois, não utilizamos do
poderia ser e como era, e com a utilização dos outros sentidos íamos 39
imediatismo que a visão proporciona, permitimos que, de fato, nossa
e que cega rapidamente uma pessoa, e que, ao contrário da cegueira
audição ouça, nosso tato toque, nosso olfato cheire e que nosso
comum, definida abaixo, é descrita como cegueira branca.
paladar deguste. Após a exposição surgiram muitos inquietamentos, a partir de então, a fim de desenvolvê-los, foi escolhido do que se trataria meu trabalho de conclusão de curso.
A
cegueira
total
ou
simplesmente
AMAUROSE,
pressupõe completa perda de visão. A visão é nula, isto é, nem a percepção luminosa está presente. No jargão oftalmológico, usa-se a expressão 'visão zero'.
Procuramos por mais fontes de compreensão do reflexo causado na
Uma pessoa é considerada cega se corresponde a um dos
vida de pessoas não dotadas de visão, fomos assistir a três filmes,
seguintes critérios: a visão corrigida do melhor dos seus
“Ensaio sobre a cegueira”, “Janelas da alma” e “Vermelho como céu”.
olhos é de 20/200 ou menos, isto é, se ela pode ver a 20 pés (6 metros) o que uma pessoa de visão normal pode
O primeiro é uma adaptação do livro com mesmo título de José Saramago – escritor português ganhador do prêmio Nobel em 1998 falecido em junho de 2010 –, feito por Fernando Meirelles – cineasta, produtor e roteirista brasileiro – em 2008.
ver a 200 pés (60 metros), ou se o diâmetro mais largo do seu campo visual subentende um arco não maior de 20 graus, ainda que sua acuidade visual nesse estreito campo possa ser superior a 20/200. Esse campo visual restrito é muitas vezes chamado "visão em túnel" ou "em ponta de alfinete", e a essas definições chamam alguns
A história trata de uma doença que não se sabe explicar de onde vem,
"cegueira legal" ou "cegueira econômica".
40
Nesse contexto, caracteriza-se como portador de visão
como a de um rapaz que rouba o carro do primeiro infectado, ou com a
subnormal aquele que possui acuidade visual de 6/60 e
do líder de uma das alas que, por possuir uma arma, manipula todo a
18/60 (escala métrica) e/ou um campo visual entre 20 e 50º. Pedagogicamente, delimita-se como cego aquele que,
distribuição de comida. O ambiente é perturbador, pessoas urinando em qualquer lugar, lixo em toda parte, desorganização, pessoas andando
mesmo possuindo visão subnormal, necessita de
nuas e até mantendo relações sexuais em meio ao corredor, ou seja,
instrução em Braille (sistema de escrita por pontos em
desprovidos do nosso sentido que tudo via, causando insegurança,
relevo) e como portador de visão subnormal aquele que
medo e selvageria, é instaurado o estado animal, impossibilitando a
lê tipos impressos ampliados ou com o auxílio de
convivência harmoniosa entre os infectados.
potentes recursos ópticos.
(CONDE, http://www.ibc.gov.br/?itemid=94
acessado
em 15 de maio de 2016)
Em meio a tudo isso há quem se sensibilize com essa situação. A mulher do médico oftalmologista, que foi infectado, é imune a essa doença, porém ela se junta aos infectado por amor ao seu marido,
A cegueira cria caos e pânico, e também faz as pessoas voltarem ao
mesmo com medo de ficar cega também. Essa mulher é a única que
seu estado primitivo, protegendo seu território, lutando por comida e
enxerga, e que não assume essa postura animal adotada pelos demais,
cada vez mais demonstrando o egoísmo que o ser humano é capaz de
ela tem uma postura “altruísta”, menos corrompida em meio a barbárie,
ter quando em situações limite, demostrando atitudes oportunistas,
ajuda ao máximo de pessoas que lhe permitem fazer isso.
41
Há uma cena, que destaco, em que, um dos cegos traz um rádio, para
entre as pessoas que estão com ela e lutam lado a lado para sua
que todos reunidos naquela ala pudessem ouvir uma música. No meio
sobrevivência. Após um incêndio no alojamento da internação, todas as
daquela batalha faz-se uma pausa, e tem-se paz, como se houvesse
alas vão para o pátio da construção e se dão conta de que não estão
um sinal de esperança. Enquanto durou a música aquela situação não
mais sendo vigiadas. Quando ultrapassam os portões, que antes
parecia mais ser tão ruim. Não é curioso que é a presença de som que
estabelecia um limite para os internados, percebem que a cidade inteira
apazigua? Que o intervalo para a profusão de coisas que estão sendo
foi infectada. A mulher não infectada reúne seu grupo (ala) e o protege,
vivenciadas seja causado por uma música logo, então enquanto se
alimenta, e o leva para sua antiga casa. Nesta situação tudo se
ouve não se vê? Aqui ressalta-se novamente; a ausência da visão,
equilibra, acalma e se organiza; todos se amam, respeitam e aprendem
claramente reforça o uso dos outros sentidos, trazendo intimidade e
a conviver com a cegueira.
valorização para algo que se víssemos não perceberíamos. Então, para surpresa geral, o primeiro infectado volta a ver, logo, nasce Dentro da cegueira há outras cegueiras, como o medo do contagio e
uma esperança em todos deste grupo de voltar a enxergar, – e nasceria
agravamento da situação, em uma das cenas um soldado mata um
no resto de toda a sociedade se soubessem disto. A mulher altruísta
homem cego que teve sua perna gangrenada, mostrando indiferença,
que acolheu e cuidou daqueles de sua ala que necessitavam de sua
comodismo e instinto destrutivo.
ajuda, comemora por um momento curto e se cala em seguida pensando “estou ficando cega”. Será esse um pensamento de crítica ao
A liderança da mulher vidente, permite que se estabeleça um vínculo 42
que o mundo era antes desta doença generalizada alterar a vida de um
O segundo é o documentário “Janela da Alma” dirigido por João Jardim
todo, e então ao se adaptar a situação perceber que o mundo é melhor
– cineasta – e Walter Carvalho - cineasta e fotografo - de 2001. Este se
assim?
baseia na limitação da visão, colhe depoimentos de pessoas com alguma deficiência visual, desde uma miopia discreta à cegueira total,
A questão final colocada pelo autor é a seguinte: se a vida tinha se
demostrando como essas pessoas veem a si e aos outros e como é sua
tornado boa, se todos daquele grupo aprenderam a respeitar e amar,
percepção de mundo.
como seria o futuro da história se eles voltassem a ver?
O documentário conta com o depoimento do cineasta alemão Wim “Em terra de cegos, quem tem um olho é rei”, como diz o escritor
Wenders que reflete; “Ver acontece parcialmente com os olhos, mas
britânico Herber George Wells, analisando o papel fundamental desta
não inteiramente”, partindo da ideia de que ver mais é ver menos e
mulher vidente, que via o mundo além da visão, capacidade para
vice-versa. Com isso, o conceito subjetivo de sermos todos “cegos”
poucos, que consegue passar para seus “seguidores” o significado de
interpreta a maneira como lidamos com nossos sentidos, nossas
ter uma compreensão mais profunda do todo, e adotando esse
emoções e a que ponto nossos estímulos são ignorados.
comportamento, entender que, mesmo videntes, somos cegos. Em determinado momento do documentário, o fotógrafo cego esloveno Voltaremos a escuridão?
Evgen Bavcar, mostra como se orienta para tirar as suas fotos, o que seria uma situação contraditória, mostra através do resultado de suas
43
fotos como, mesmo sem ver, a essência do momento é capturada,
(nistagmo). Segundo ele é um privilégio ter a vista assim pois, ao
através de seus outros sentidos e através de sua emoção.
mesmo tempo que vê uma pessoa em sua frente pode ver outra ao seu
lado, diz ser “uma vista muito rica”. Outra situação controversa é mostrada quando o brasileiro Arnaldo Godoy, então vereador de Belo Horizonte, guia o motorista da van onde
Essas dificuldades de visão “libertam” a pessoa que vê duramente o
estão, como se fosse um “GPS-humano”. Godoy que após uma doença
que é cada coisa, sem a manifestação da emoção e do sentimento,
ficou cego, explica que, quando se desloca, automaticamente vai sendo
como disse o neurologista americano Oliver Sachs, “Não é só ver o que
montado um tipo de “mapa mental”; este fenômeno é o senso de
é visível e sim o que é invisível, esse é um dos sentidos da
automovimento que alguns “cegos” têm; ele sente por exemplo as
imaginação”. É como se fossemos todos infectados com a Síndrome de
ladeiras e consegue se situar na cidade.
Capgras, descrita a seguir, segundo o clínico geral especialista em Oftalmologia pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Dr.
Outro ponto abordado é como os deficientes vivem. Há depoimentos de
Arthur Frazão de Carvalho:
pessoas que dizem ter tido sua personalidade alterada, ao precisar usar óculos ou algum instrumento de auxílio, sendo motivo de chacota entre conhecidos. Há também quem tire proveito da situação, como o brasileiro Hermeto Paschoal que é músico e tem as vistas “dançantes” 44
A Síndrome de Capgras, ou delírio de Capgras, é um
A conclusão a que chegamos sinaliza que a limitação da visão faz-nos
transtorno psicológico onde o indivíduo tem a ilusão de
perceber um mundo diferente, despertando uma nova maneira de olhar,
que um amigo, companheiro, familiar ou animais de estimação, foram substituídos por sósias ou supostos “impostores”. Os portadores da síndrome de Capgras reconhecem os rostos familiares, mas ainda acreditam que aquela pessoa é um impostor. Esta síndrome pertence ao grupo de doenças ilusórias e pode ocorrer de forma aguda, transitória ou crônica.
despertando os outros sentidos, abrindo assim novos caminhos para a subjetividade e a imaginação. Será que toda essa hegemonia da visão nos faz querer ver mais e mais? Por fim, o terceiro filme que assistimos foi “Vermelho como o céu” de
2006 vencedor do prêmio David Giovani, dirigido por Cristiano Bortone – produtor e roteirista italiano –, se baseia na história real do toscano Mirco Mencacci, que após um acidente, com 8 anos , perde
Ou seja, a pessoa reconhece a imagem de seu conhecido, mas não associa ao emocional. Talvez porque, como afirma a cineasta finlandesa
Marjut Rimminem no documentário janelas da alma “estamos em um mundo audiovisual as imagens e sons se multiplicam não sabemos lidar, então nos sentimos perdidos com nós mesmo, com o mundo, com o que somos, o que sentimos ou nossa existência”. 45
parcialmente sua visão. Então ele é obrigado a mudar de escola pois, naquela época a legislação exigia que crianças com algum tipo de deficiência visual estudassem em institutos. Mirco é filho único de
família humilde, é um menino muito carinhoso com seus pais, possuidor
– O azul
de muitas amizades e amante de cinema; isso faz com que ele se
perturbe quando descobre que terá de se afastar dos amigos e da
– Como é o azul?
família para estudar em Genova, no instituto de crianças com deficiência visual. Lá ele fica muito triste e incomodado com a situação, se recusa a aprender Braille e se isola dos novos colegas. Porém, quando ele conhece Felice – cego de nascença que tateia seu rosto
para saber como ele é – a situação parece ser melhor aceita e menos dolorosa. Entre outras cenas que nos chamou atenção nesse roteiro nessa nova grande amizade, dá-se quando Mirco tenta descrever para Felice como são as cores: – Como são as cores? – Pergunta Felice ao novo amigo. – São lindas. – Qual sua preferida?
– É como quando anda de bicicleta, e o vento bate em seu rosto. Ou também é como o mar. O marrom é ... sinta isso – E Mirco puxa a mão de Felice para que sinta o tronco da árvore, e então ele diz – é como a casca desta árvore. Sente como é áspera? – Muito áspera. E o vermelho? – Vermelho é como o fogo. Como o céu no pôr-do-sol.
Consideramos importante a transcrição dessa fala do filme pois mostra exatamente como é olhar, ou melhor, perceber, de fato, as cores, não só defini-las pelo que vemos, mas sim por como são traduzidas do ponto de vista sensorial. 46
Mirco, muito curioso, acaba encontrando um gravador que desperta seu
produzido pelos alunos acaba sendo apreendido novamente pelo
interesse em recriar sons (fig.9). Porém, pouco tempo depois, o
diretor, que decide expulsar Mirco, gerando uma revolta entre os
aparelho lhe é tomado pelo diretor que é um homem austero, com uma
colegas, o professor e pelo amigo que fizera em uma das escapadas do
visão retrograda, e que acredita que pessoas cegas não podem ter
instituto. Este amigo, é adulto e cego, trabalha na fundição da cidade,
liberdade como pessoas “normais”. E então o professor do
como foi lhe ensinado quando estudante do instituto (as crianças
personagem, Don Giulio, em segredo, lhe devolve o gravador, porque
aprendem desde pequenas a serem tecelões ou a manusearem
acredita, após ter ouvido a gravação, que o garoto tem um talento para
máquinas), consegue apoio de outras pessoas da fundição fazendo
percepção de sons provenientes de fontes inusitadas. A devolução é
então um manifesto em frente ao instituto para que o diretor readmita
feita como condição é que ele aprenda Braille.
Mirco, ameaçando fechar a fundição.
É a partir daí que o menino desenvolve grandiosas habilidades de
O movimento chama atenção do prefeito que liga pedindo explicações.
simular sons com outros instrumentos, gravando então uma história
O professor Don Giulio incomodado com a situação, confronta o diretor
com efeitos sonoros impressionantes. Mirco reúne os amigos para lhe
dizendo que se responsabilizaria pelo menino expulso e que cuidaria da
ajudarem a produzir as vozes de vários personagens e sons que imitam
peça de final de ano, assim pressionado por todos os lados o diretor
por exemplo, chuva, dragões, floresta e criam uma trilha sonora perfeita
cede a decisão de ter expulsado Mirco e permite que seja apresentada,
para a história. No fim, esse foi um meio de interação de Mirco com os
na peça de fim de ano, a história cheia de efeitos sonoros feito por
colegas, que até então não se davam bem. Todo esse trabalho
Mirco e seus amigos.
47
Esse filme traduz o que é olhar profundamente para algo, analisar e, por fim, ter desta experiência um resultado muito significativo. Essa
história verídica, marcou o início da carreira de Mirco Mencacci, que hoje se transformou em um renomado editor de som da indústria cinematográfica italiana.
Figura 9 Cena do filme “Vermelho como Céu”, quando Mirco percebe que ao bater o dedo em sua palma da mão o som é parecido com de gotas caindo.
48
Arquitetura do silêncio
A questão principal que levanto é: a utilização dos sentidos em
Com esse pensamento em mente, fomos buscar alguns exemplos de
vivências e percepção do espaço. Como vimos nos filmes, o não
projetos arquitetônicos, que pudessem nos mostrar uma arquitetura
envolvimento
sensível, que não necessariamente envolvesse a não visão, mas que
da
visão
em
situações
diversas,
desperta,
automaticamente, os outros sentidos forçando-nos a uma experiência nova com conclusões diferentes.
Figura 10 Foto do pavilhão, efeito de “nuvem”. Disponível em: http://www.dsrny.com/projects/blur-building
fosse elevado aos outros sentidos.
Figura 11. Foto aérea da EXPO Suíça 2002. Disponível em: http://www.dsrny.com/projects/blur-building
Figura 12. Foto aérea do pavilhão. Disponível em: http://www.dsrny.com/projects/blur-building
O pavilhão Blur (fig.10 e 12) foi projetado pelo escritório Diller & Scofidio
Essa estrutura minimizou as referências visuais dos visitantes, e
+ Renfro, em 2002 para a EXPO Suíça (fig.11) Consistia em uma
estimulou os sentidos como o tato – ao entrar em contato com as
grande plataforma apoiada em 4 colunas sob o lago Neuchâtel, com
gotículas de água – a audição – que nesse caso não guia, mas
estruturas que captam e borrifam a água por todo o projeto,
completa o entendimento da obra ao se ouvir apenas o som da água –
transformando-o em uma grande “nuvem”.
e poder explorar o paladar – pois é possível “beber” o edifício.
50
Essa experiência é muito interessante quando percebemos que, para
obras de Lina Bo Bardi 3 “estabelecem uma relação corpo a corpo com
explorá-la e conhecê-la, ser vidente é indiferente, pois, esse edifício foi
a realidade”. São estudos de caso analisadas por Montaner as obras:
feito para ser sentido, e não para ser apenas visto. Ser sentido a ponto
Masp, Sesc Pompéia e a Casa de vidro.
de ser um pavilhão de exposição que, na verdade, não tem nada a expor, quebra a ideia de arquitetura tradicional, e expõe ao máximo a
É interessante observar como estes edifícios reconhecem a presença
corporeidade do homem que vivencia.
do corpo no espaço como uma informação fundamental para explorar a noção de lugar, independentemente do tratamento visual e plástico que
É neste sentido que a arquitetura atinge o ápice, ao não privilegiar o
o projeto recebe.
que é visto e sim o que é experimentado pelo corpo no espaço. O ponto mais importante é: o que aquela arquitetura impacta em nós, o que nos
O Museu de Arte de São Paulo (MASP) (fig.13),1947, localizado na
muda e então o que ela significa.
Avenida Paulista, ícone da arquitetura moderna do século 20, é exemplo de uma arquitetura que convida a permanência do usuário. O
É assim que avalia Josep Maria Montaner (2001) 2 enfatiza que toda as
vão livre de 8 metros de altura por 74 metros de extensão 4, se torna uma praça sob o edifício, um espaço de convivência entre visitantes ou
2
Crítico espanhol e doutor em arquitetura –, no capítulo “arquitetura e mimese: a modernidade superada”, do livro “Modernidade superada – arquitetura, arte e pensamento do século XX”.
3 Italiana naturalizada no
Brasil, arquiteta, designer, cenógrafa, editora e ilustradora.
4 Informação retirada do site http://masp.art.br/masp2010/sobre_masp_missao.php acessado em 24
51
de maio de 2016.
apenas quem está de passagem, uma vez que este abriga feiras,
situação pois ele sabe que subiu (por escada ou elevador) para chegar
eventos, encontros, exposições entre outros. Ficam bem claras as
nas pontes. Montaner menciona o Sesc Pompéia para também
relações que estas pessoas criam com o vão. Não se trata de dar razão
enfatizar como Lina lidava bem com os extremos, o trabalho do
e importância ao que se vê, e sim ao que o espaço é capaz de
passado com o lazer do futuro, o antigo e o moderno, as naves
transmitir, é a sensação de estarmos dentro estando fora, pois, todo o
horizontais com a torres verticais, a fábrica tradicional de tijolos com os
espaço aberto pertence ao projeto, foi especialmente desenhado para
altos muros de concreto.
que tivéssemos a sensação de exterioridade sem perceber que
estamos na verdade no íntimo do edifício.
Outra situação em que o corpo dentro da arquitetura fica completamente exposto ao exterior é a escada de entrada da Casa de
O mesmo acontece no Sesc Pompéia (fig.14) (antiga fábrica de
Vidro (fig.15), 1950, que também foi projetada para explorar os
tambores), 1982, no qual as sete pontes de concreto, que interligam os
sentidos. A “pele” de vidro que envolve a casa, simula uma grande
únicos elementos verticais do projeto destacado por Montaner, são
vitrine, na verdade o enquadramento destas vitrines é feito para a
situações em que o indivíduo está suspenso, em contato com a
natureza. Contudo, se eliminássemos a possibilidade de ver desse
paisagem, o que para os videntes têm uma dimensão, para os não
expectador visitante, o que o permitiria “ler” e interpretar a obra seria a
videntes têm uma outra situação de percepção, permitindo-lhes sentir o
sensação de presença de luz externa, a temperatura e os diferentes
vento, a chuva, a luz e etc. O corpo relaciona-se com os edifícios nesta
pisos, que hora é pastilha, madeira, metal ou concreto.
52
Figura 13 MASP século 20.
A ventilação nos indica as aberturas e permite-nos a melhor audição do exterior no interior da casa.
Disponível em: http://masp.art.br/masp2010/sobre_ masp_missao.php
Então, avaliando essas obras, o que se destaca para meu trabalho de conclusão de curso é o exemplo da arquitetura de Lina Bo Bardi exigente de uma experiência corporal intensa, que estabelece a relação mimética do homem com a natureza, fazendo-o voltar ao seu estado
primitivo, permitindo que as sensações se despertem. Resumindo, o que se vê em coisas que não são visíveis.
Figura 14 Sesc Pompéia Disponível em:
http://www.saopauloskyline.com/20 12/05/sesc-pompeia.html)
Figura 15 Escada da Casa de Vidro. Disponível em: http://www.vitruvius.com.br/revistas/rea d/arquitextos/01.004/980)
53
Seguindo o mesmo pensamento pude analisar a obra do arquiteto e
mais uma vez para o edifício, é causado um estranhamento devido à
professor japonês, Tadao Ando, que propõe em sua arquitetura uma
sua aparência robusta por ser um paredão de dois pavimentos de
percepção essencialmente sensorial, com a presença singela, porém
concreto que mostra suas marcas das formas e os furos de ancoragem,
muito marcante de elementos da natureza, provocando uma reflexão, –
com uma única abertura que é sua porta de entrada centralizada. A
ele mesmo define a arquitetura como “a caixa provocativa”.
casa mínima, tem uma fachada perfeitamente simétrica, e é coberta
A arquitetura do silêncio permite que a natureza fale diretamente ao espírito humano. Entre muitos projetos que captam esses fundamentos, analisamos a pequena casa Azuma (fig.16, 17 e 18) em Osaka, também conhecida como Row House, de 57m² de 1976. Essa construção quase
apenas nos cômodos. A área de circulação que se localiza no terço central da casa, é a céu aberto como um pátio interno, permite que
tanto a ventilação quanto a iluminação envolvam a casa, a natureza é elemento fundamental da casa.
passa desapercebida entre vizinhos geminados, mas, quando se olha
54
Figura 16. Maquete eletrônica casa Azuma Disponível em: http://3discreet.blogspot.com.br/2012/11/tadao-andos-row-house.html
Figura 17 Fachada da casa Azuma Disponível em: http://minimalissimo.com/row-house/
Figura 18 Interior da casa Azuma, Disponível em: http://minimalissimo.com/row-house/
Outro arquiteto em que percebo esta sensibilidade é Peter Zumthor, já
ambientes e faz uma combinação essencialmente mágica de luz e
citado no capítulo 2. Fica claro ao analisamos suas obras que Zumthor
sombra que harmoniza os elementos: pedra, água e natureza. Sua
é minimalista, mas não permite que isso afete a qualidade, a reflexão
implantação na montanha permite um cenário perfeito e isolado,
ou objetivo final da obra que projeta, como ele faz, por exemplo, em
completamente agradável às pessoas que participam do “ritual” de
Therme Vals (fig. 19, 20 e 21), um hotel e spa construído sobre fontes
banhar-se ao cair da neve em algumas épocas do ano. Então, todos
termais da Suíça em 1976, que consiste em uma arquitetura dura e
esses elementos: pedra, montanha, sombra, luz, vapor e acústica
simplória. Feito de pedra, essa obra dota de espaços abertos e
envolvem o corpo e mente, quase que como num espaço místico.
fechados, percursos misteriosos que permitem a descoberta de outros
55
Figura 19. Exterior da Therme Vals. Disponível em: http://thermevalsarc308.blogspot.com.br/
Figura 21. Interior da Therme Vals Disponível em: http://www.archdaily.com/13358/thetherme-vals/500f244928ba0d0cc7001d3b-the-thermevals-image)
Figura 20. Exterior da Therme Vals. Disponível em: http://www.archdaily.com/13358/the- therme-vals/500f244
Figura 22. Exterior da Therme Vals Disponível em:http://www.archdaily.com/13358/thetherme-vals/500f244928ba0d0cc7001d3b-the-thermevals-image)
Figura 23. Exterior da Therme Vals Disponível em:http://www.archdaily.com/ 13358/the- therme-vals/500f244928ba0d 0cc7001d3b-the-therme-vals-image)
56
Sentidos despertados
Estes projetos apresentados são; agentes que forçam nossa
Logo “Penetráveis” nos permite aprofundar os sentidos e sensações.
percepção, ou estranhamento, do que nos é proposto como experiência
Trata-se de uma proposta provocativa, uma vez que, para usufrui-la, o
sensorial, utilizando de todas os artifícios que nosso corpo é capaz de
fato de não ver não é necessariamente uma dificuldade pois, a obra,
desenvolver quando expostos a esse tipo de situação, resultando em
que na maioria das vezes se compõe por um labirinto, precisa ser
novas sensações.
sentida para ser descoberta e tornar-se íntima dos que a experimentam. Então, a “tatilidade” do lugar em que piso, do que toco ou o som que
As instalações intituladas de “Penetráveis” (fig. 24, 25 e 26) do pintor,
vem da direita, da esquerda ou ainda a luz ou a ausência dela, o vento
escultor e artista plástico, Helio Oiticica, são um exemplo de intervenção
e as barreiras, tudo se molda, e é convocado para gerar uma
que estimula a utilização de todos os sentidos causando sensações de
experiência sensível do espaço.
maior percepção ao visitante. Este artista, assim como Lygia Clark, explorava as experiências que se desenvolvem a partir da interação do corpo com a obra, focalizando uma arquitetura sensível, onde o elemento visível é secundário.
57
Figura 24. Pessoas experimentando Disponivel em: http://artesceco.blogspot.com.br/2014_05_01_archive.html
Figura 25. Estrutura labiríntica Disponivel em: http://www.concretosparalelos.com.br/?p=161
Figura 26. Jogo de luz Disponivel em: http://istoe.com.br/58139_A+ESTETICA+DA+FAVELA/
Concluo que, o que nos leva ao dado comum, entre essas obras, é que,
Neste sentido, locais abertos que configuram parques fechados dentro
as instalações inseridas nos espaços em geral são feitas para agradar
da cidade grande oferecem uma experiência perceptiva antagônica. Ou
os olhos, mas, a arquitetura é feita para ser percebida por todos o
seja, a cidade se apresenta caótica e se pretende organizar o espaço
sentidos, e, mais do que isso, ser sentida de todas as maneiras que
de lazer através de critérios contrários ao caos.
nosso corpo puder explorar.
58
O Parque
Figura 27 Foto da autora, Parque Trianon, 2016.
4
Os parques são, em geral, um local reservado das metrópoles que
Assim, o parque Tenente Siqueira Campos, ou parque Trianon, como é
oferecem outras experiências de espacialidade. Arborizados e
mais conhecido, é uma “válvula de escape”, no meio da grande cidade
silenciosos, propiciam tranquilidade temporária aos usuários. Pensando
de São Paulo, mais especificamente no coração dela – a Avenida
nisso, escolhemos uma área em São Paulo de ampla circulação ou
Paulista, limitado pelas ruas Peixoto Gomide, Alameda Jaú e Alameda
passagem, que pudesse ser trabalhada como estudo de caso neste
Casa Branca – . Considerando a pouca a oferta de parques paulistanos
trabalho, em virtude de suas peculiaridades: inserido em situação
que são de fácil acesso para todos, que não seja um espaço
acessível na cidade; contextualizado historicamente; oferecendo
despercebido – há pessoas que simplesmente passam por ali mas,
vegetação abundante; e amplo o suficiente para abrigar usos diversos
muitas, nunca o frequentaram–, decidi intervir neste para atrair mais
possíveis de serem explorados para o convívio dos portadores de
visitantes e fazer com que seja um local de experiências sensoriais
deficiência visual e a população em geral.
vividas por todas as pessoas, da mesma forma e intensidade.
Figura 28 Implantação, Imagem retirada do Google Mapas.
61
62
A escolha do parque motivou a autora a visitá-lo, levantar dados, identificar o entorno e suas ofertas de espaços públicos. Recentemente foi anexado ao decreto do Trianon o novo parque Prefeito Mario Covas (fig.29) (2010), localizado a um quarteirão dali, no sentido Consolação. A acessibilidade para deficientes físicos é bem resolvida ao analisar os desníveis do local. Por outro lado, os deficientes visuais têm
dificuldades para ali se guiar, pois não há piso podo tátil; no entanto, há uma balcão de informações na entrada principal, o que possibilita o deficiente ser orientado pelo funcionário do parque.
63
Figura 29 Parque Prefeito Mario Covas, São Paulo. Disponível em: https://thaisfrota.wordpress.com/2010/07/page/2/
Comparado com outros parques do centro da capital, o Trianon assume um tamanho significativo:
48.600m² que foram projetados pelo
paisagista francês Paul Villon e inaugurado em 1892, com a abertura da Avenida Paulista. Este nome – “Trianon” – foi herdado posteriormente do clube Belvedere Trianon (fig.30), projetado por Ramos de Azevedo em 1916, sob a administração do Barão Duprat e demolido em 1957. O clube ficava onde hoje é o Museu de arte de São Paulo (MASP). O parque, juntamente com o clube, foi palco para festas, bailes e eventos culturais da alta sociedade que morava nos arredores da região da Paulista.
Figura 30 Belvedere, São Paulo. Disponível em: https://sampahistorica.wordpress.com/2013/06/24/o-belvedere/
64
Em 1924, o parque foi doado à prefeitura e, em 1931, foi nomeado
Mata Atlântica (fauna: rolinha, periquito, pica-pau, joão-de-barro, bem-
Parque Tenente Antonio Siqueira Campos, em homenagem a um dos
te-vi, sabiá laranjeira, caxinguelês, etc. flora: cedro, pau-ferro,
heróis da Revolta Tenentista.
Sapopemba, jequitibá-branco, jatobá, tapiá-guaçú, palmito, sapucaia,
Na gestão do prefeito Faria Lima, em 1968, o parque teve algumas mudanças sob a assinatura do paisagista Burle Marx e do arquiteto Clóvis Olga. Mais tarde, foi tombado pelo Condephaat e Conpresp.
açoita-cavalo, bico-de-pato, chichá, pau-de-tucano, vinheiro, etc.); além de banheiros, playgrounds e, em 2012, foi demolido o viveiro de pássaros que ficava próximo à administração. Há também um chafariz que não está ativo na porção margeada pela Alameda Santos (fig.32) 5 .
O Trianon, que lembra os jardins ingleses, tem atrativos como as
Com as intervenções que pretendo propor, o parque ganhará forças
esculturas do Fauno, da Aretuza (fig.31) e o busto de Joaquim Eugenio
novamente, o que, consequentemente, fará com que a frequência de
de Lima. Possui uma exuberante vegetação tropical, remanescente da
usuários aumente, incluindo portadores de necessidades especiais.
5 Informações
65
retiradas do panfleto oficial distribuído no parque.
Figura 31 Foto da autora, Aretuza, escultura do Parque Trianon, 2016.
Figura 32 Foto da autora, Chafariz desativado do Parque Trianon, 2016.
66
Visitas
Nas visitas ocorridas entre os meses de agosto e outubro foi possĂvel perceber que muitas pessoas se sentem pertencentes Ă quele local,
utilizando do parque como passagem ou local de lazer, como a foto abaixo ilustra:
Figura 33 Foto da autora Parque Trianon 2016
67
Um dado que chama a atenção são os avisos de proibição da entrada nos sub-bosques (fig.34). Funcionários do parque explicaram que a
proibição visa a preservação da mata. Porém, desta maneira a grande flora passa a ser apenas uma “vitrine”, o que impossibilita a convivência das pessoas com a natureza. O piso é pouco acessível – feito de pedra portuguesa – e, pela falta de manutenção, muitas pedras estão soltas, formando obstáculos e grandes buracos no chão. .
Figura 34 Foto da autora Parque Trianon 2016
68
O horário de funcionamento do parque é das 06h às 18h. Durante a semana, é pouco frequentado. O horário de pico é o período de almoço,
já que nos finais de semana o movimento dobra, principalmente devido à feirinha de artesanato e comidas que ocorre aos domingos (fig.35). Figura 35 Feirinha Disponível em: http://www.clubedoartesao.c om.br/feiras-de-artesanatoem-sao-paulo/
Sua mata é densa e, por isso, o parque tem alguns pontos de pouca iluminação (fig.36). Posto isso, o projeto proposto visa resolver os
problemas apresentados , além de ter como objetivo atingir a percepção do espaço segundo os sentidos além da visão.
Figura 36 Foto da autora Parque Trianon 2016
O Projeto
Figura 37 Imagem gerada por SketchUp projeto da autora Parque Trianon para todos 2016
4
Este
trabalho de conclusão de curso tem por objetivo fazer da
Já que o parque tenente Siqueira Campos é um bem tombado desde
arquitetura uma condição que se experimente, uma emoção,
21 e Maio de 1982, as intervenções propostas apresentam melhorias e
sentimento ou sensação independente do seu estado visual, ou seja, a
pequenas mudanças, que não alteram o patrimônio existente. Caso o
experiência precisa ser a mesma sendo você vidente ou não. Por esse
projeto fosse desenvolvido de fato, a aprovação da CONPRESP seria
motivo o trabalho desencadeou algumas questões de acessibilidade
necessária 5.
para deficientes visuais, inserindo no parque instrumentos que facilitam o passeio e a informação do usuário em geral, como o piso podo tátil (ABNT NBR 16537 de 27 de junho de 2016 - anexo), porém, o tema deste trabalho não trata da acessibilidade propriamente dita, e sim de estímulos à sensibilidade das pessoas em experiências no espaço
arquitetônico.
5 Resolução Nº.
A seguir introduzo o projeto Trianon para todos elaborado a partir das oito intervenções propostas, nomeadas com verbos no tempo imperativo, porém usados no sentido do “convite”,
identificando
nominalmente os usos e oportunidades oferecidas em cada uma das novas experiências projetadas. .
21/92 diz: “ Artigo 2o - Ficam submetidos à aprovação prévia do CONPRESP os projetos relativos a: I - Obras civis que utilizem o espaço aéreo do bem tombado; II - Pintura externa das edificações, instalação de equipamentos e mobiliário urbano – como monumentos, anúncios e marcos comemorativos - localizados nas testadas dos lotes, faces de quadras, logradouros e demais áreas assinaladas na Planta no 08, que integra esta Resolução. Artigo 3o - Os órgãos municipais competentes ficam autorizados a expedir alvarás para obras nos lotes enquadrados nesta área envoltória, dispensada a aprovação prévia do CONPRESP, ressalvado o disposto no Artigo 2o. Artigo 4o - Esta Resolução entrará em vigor na data de sua publicação.”
73
Figura 38 Mapa imagem gerada por SketchUp projeto da autora Parque Trianon para todos 2016
Avenida paulista
Alameda JaĂş
Rua Peixoto Gomide
Alameda Casa Branca 74
SABOREIE!
Como o parque está na Avenida Paulista, onde passa muita gente, o intuito desta área de alimentação é atrair transeuntes para refeições, pois a cada dia haverá um “foodtrucks” diferente estacionado neste local, oferecendo comidas diferentes, e o café tradicional do parque (fig. 39). Eventualmente
transformando tais transeuntes em frequentadores do parque.
Figura 39 Imagem gerada por SketchUp projeto da autora – intervenção SABOREIE! Parque Trianon para todos 2016
75
DESCANSE!
Esta intervenção buscou auxiliar quem quer uma pausa na vida cotidiana, um local de descanso ou um passeio entre as árvores. Escolheu-se este canteiro do parque, pois há uma diferença de cota de nível que o acaba isolando do todo. Neste local é possível acessar histórias com tecnologia
sound3D através de seu celular, por um aplicativo desenvolvido especialmente para o parque (fig.40). (exemplo deste recurso, amplamente divulgado no Binaulab Áudio 3D, disponível em https://www.youtube.com/channel/UCg9X0uS63L4_z1M2ggMgOeg)
Figura 40 Imagem gerada por SketchUp projeto da autora – intervenção DESCANSE! Parque Trianon para todos 2016
77
CONHEÇA!
Como no parque já havia algumas esculturas, decidiu-se torná-las acessíveis, recriando o som relacionado a escultura – neste caso a água – e através de um totem explicando o que significa a escultura, através do braile (fig.41), e recriando a escultura em miniatura, com o mesmo material,
para ser tocada pelo usuário vidente ou não (fig.42).
Figura 41 Imagem gerada por SketchUp projeto da autora –detalhe da intervenção CONHEÇA! Parque Trianon para todos 2016
Figura 42 Imagem gerada por SketchUp projeto da autora – intervenção CONHEÇA! Parque Trianon para todos 2016
79
OUÇA!
No parque havia um viveiro de aves, e em visitas foi possível perceber a presença de várias delas no local. Decidiu-se recriar o espaço, observando apenas que a delimitação da área especifica para as aves será feita com uma tela com vãos mais espaçados, deixando assim o animal livre para
entrar e sair deste viveiro (fig.43).
Figura 43 Imagem gerada por SketchUp projeto da autora – intervenção OUÇA! Parque Trianon para todos 2016
81
HIGIENIZE-SE!
O banheiro existente é pouco acessível. Por isso o layout foi alterado, com o acréscimo de banheiros exclusivos para portadores de necessidades especiais (para os não videntes o banheiro está sinalizado com piso podo tátil) (fig.44).
Figura 44 Imagem gerada por SketchUp projeto da autora – intervenção HIGIENIZE-SE! Parque Trianon para todos 2016
83
84
TOQUE!
Nesta intervenção foram instaladas canteiros de altura acessíveis a todos, com plantas, frutas e vegetais de cheiros, texturas e formas diferentes, como manjericão, alecrim, babosa, pimenta, hortelã, couve, cebolinha, cenoura, rabanete e tomate (fig.46). A identificação de cada uma das espécies
é feita através do braile na placa de identificação (fig.45). Figura 45 Imagem gerada por SketchUp projeto da autora – detalhe intervenção TOQUE! Parque Trianon para todos 2016
Figura 46 Imagem gerada por SketchUp projeto da autora – intervenção TOQUE! Parque Trianon para todos 2016
85
EXERCITE-SE!
Este espaço hoje é dedicado a prática de exercícios, com equipamentos iguais aos que vemos em praças. Pensando nisso propõem-se que a prática corporal se mantenha, porém, inserindo camas elásticas no chão, diminuindo os riscos de queda, e facilitando o acesso, orientado pelo piso (fig.47).
Figura 47 Imagem gerada por SketchUp projeto da autora – intervenção EXERCITE-SE! Parque Trianon para todos 2016
87
BRINQUE!
O tipo de playground proposto é acessível, sem muitas decidas ou subidas, de piso emborrachado, constituindo-se apenas em uma plataforma elevada que pode ser acessada por rampas, distribuídas a partir de uma piscina de bolinhas central. À sua volta há elementos que tocam os corpos
daqueles que atravessam o local, como cortinas de miçangas, tecidos, fitas plásticas e tubos de espuma(fig.48).
Figura 48 Imagem gerada por SketchUp projeto da autora – intervenção BRINQUE! Parque Trianon para todos 2016
89
Nesta plataforma há estruturas que produzem sons como sino, xilofone, triângulo, etc. Nas proximidades há mesas e também uma caixa de areia, destinada a crianças menores. Pensamos com esses recursos integrar todos que queiram brincar (fig.49).
Figura 49 Imagem gerada por SketchUp projeto da autora – intervenção BRINQUE! Parque Trianon para todos 2016
91
92
Na plataforma há uma parede com texturas e aberturas a serem exploradas. Em volta desta se encontram as gangorras que também são acessíveis (fig.50).
Figura 50 Imagem gerada por SketchUp projeto da autora – intervenção BRINQUE! Parque Trianon para todos 2016
93
Desenvolveu-se um escorregador de rolinhos com arcos que borrifam agua, que terminam na prainha, cuja profundidade é de 0,30 centímetros, com jatos de água que saem do chão. Ao final da prainha há uma rampa de acesso à plataforma do playground (fig.51).
Figura 51 Imagem gerada por SketchUp projeto da autora – intervenção BRINQUE! Parque Trianon para todos 2016
95
C O N V I VA !
Os equipamentos já existentes no parque, como o poste de luz e as lixeiras de reciclagem foram mantidos, porém, outros tipos de lixeira com cestos dos dois lados e novos tipos de bancos foram acrescentados com o intuito de tornar mais adequado o espaço ao público visitante (ampliar acesso às
lixeiras; oferecer suportes para descanso e convívio) (fig.52).
97
1
2
3
4
Figura 52 Mobiliário Imagem gerada através do SketchUp 1- Banco Superkilen 2-Bebedouro acessível 3-lixeira 2 lados 4-banco de vãos 2016
98
VISITE!
As grades atuais do parque apresentam um caráter de limite muito demarcado, como se envolvessem um lugar proibido. Assim substitui-se o recurso existente por uma grade de estrutura fina, com uma malha de 5 cm por 15, que, vista da Avenida Paulista e das ruas adjacentes quase desaparece,
tornando o acesso ao parque mais convidativo (fig.53)
Figura 53 Imagem gerada por SketchUp projeto da autora – intervenção VISITE! Parque Trianon para todos 2016
99
Todo o piso do parque foi substituído por concreto armado resinado com um produto capaz de absorver raios UV e emitir luz quando não houver muita claridade, justamente para que o parque não fique tão escuro por conta de suas arvores. As intervenções são acessíveis aos cadeirantes (excetuando a intervenção “EXERCITE-SE!”, e o escorregador do “BRINQUE!”). Para a circulação dos deficientes visuais, além do piso podo tátil, haverá um aplicativo de geolocalização que servirá como guia para o visitante (deficiente ou não), podendo levá-lo às intervenções, administração, banheiro etc. Na ausência ou não possibilidade de instalação do aplicativo haverá pessoas que trabalharão como guias no parque, com aparelhos devidamente adaptados para substituição de um celular.
Considera-se então tais intervenções trariam ao parque mais convívio, sem a intensão de invadir e interferir na floresta tropical (sem desmatamento), apenas readequando propostas para que o parque possa ter movimento, de um público especifico, mas não exclusivo.
101
102
Referências Este capítulo apresenta as referências utilizadas neste projeto, e adaptadas para o caso específico do Parque Trianon.
Bebedouro O bebedouro escolhido como referência foi vencedor na categoria “acessório” no concurso do Instituto Europeu de Design (IED) Brasil + Expo Milão 2015: Nutrir o Planeta, energia para a vida, projetado por Bruno Pergher sob a orientação da professora Fabiane Vieira Romano. O bebedouro tem o formato sinuoso de torneira, é acessível para cadeirantes além de ter um espaço para encher garras de até 2 litros (fig.54 e 55).
Figura 54. Implantação do bebedouro Disponível em: https://www.behance.net/gallery/18379225/Bebedouro-Publico-2014
103
Figura 55. Implantação do bebedouro Disponível em: https://complexidadedinamica.wordpress.com/2015/10/25/design-urbano-para-obem-comum-bebedouro-publico/
Playground Este da esquerda faz parte de uma série de equipamentos para playground acessíveis (fig.56). O da direita é um gangorra também acessível, que foi o trabalho de conclusão de curso de Pia Balducci, da universidade de Buenos Aires em 2011 (fig.57) Essas referências foram utilizada na intervenção BRINQUE!
Figura 56. Brinquedo acessivel Disponível em: http://www.accessibleplayground.net/2014/07/02/inclusive-play-equipment-roller-slides/
Figura 57. Brinquedo acessivel Disponível em: https://www.behance.net/gallery/12485687/ Accessible-wheelchair-see-saw-(University-project)
104
Na mesma intervenção, o “Spray Park”, aberto este ano na Pensilvania, serviu de referencia para a parte da “prainha” (fig.58). Já a plataforma foi inspirado em uma instalação acessível existente desde 2013 no Parque Ibirapuera (fig.59).
Figura 58. Spray Park Disponível em: http://patch.com/pennsylvania/lansdale/montgomery-townships -opens-new-spray-park-0
Figura 59. Instalação acessível Parque Ibirapuera Foto da autora.
105
Bancos Escolhemos dois tipos de bancos para o parque considerando desenhos orgânicos, mais seguros e possíveis de serem integrados à natureza. Um modelo teve inspiração no mobiliário da praça da igreja de San Rocco em Vertova, Itália, que tem um perfil em aço corten repetido entre vãos (fig.60),
e o outro, que é utilizado no parque Superkilen na Dinamarca, tem curvas sinuosas (fig.62). Foi referenciado deste parque também as banquetas utilizadas na intervenção SABOREIE! (fig.61).
Figura 60. Mobiliário referencia Disponível em: https://divisare.com/projects/243658-fulvia-giorgioniriqualificazione-di-via-san-rocco
Figura 61. Mobiliário referencia Disponível em: http://www.e-architect.co.uk/copenhagen/superkilen
Figura 62. Mobiliário Disponível em: http://www.superflex.net/press/label/superkilen
106
DESCANSE! Esta grande rede fica no museu de ciência no Donald W Reynolds Center (MASM), em Arkansas. Ela serve como um espaço de pausa ou de brincadeira. Esta referência foi utilizada na intervenção DESCANSE! (fig.63)
Figura 63. Grande rede Disponível em: https://www.aiaar.org/awards/entries/detail/midamerica-science-museum-at-the-donald-w-reynolds-center/
107
Por fim, na intervenção de práticas corporais (EXERCITE-SE!) se aplicou camas elásticas como esta instalação, a direita da imagem, em Copenhagem. – Dinamarca. (fig. 64)
Figura 64 Myrna Nascimento 2014
108
Buscando aplicar e aprimorar essas referências no cotidiano de um indivíduo não vidente, o Programa Educativo para Públicos Especiais, o PEPE, proporcionado pela Pinacoteca do estado de São Paulo, serviu de inspiração para este trabalho. “...tem por objetivo promover a acessibilidade e garantir a fruição da arte e do patrimônio presentes no museu para pessoas com deficiências sensoriais, físicas ou intelectuais e transtornos mentais, levando em consideração as potencialidades e necessidades de cada grupo e indivíduo participante” 6 Este objetivo na, Pinacoteca, é alcançado através de maquetes, táteis ou impressão 3d, áudio-guias explicativos das obras, jogos educativos,
contação de histórias em libras, catálogos em Braille e muito mais.
6
Retirado do panfleto oficial do programa.
109
110
Considerações finais
O trabalho desenvolvido foi elaborado a partir de dois eixos de reflexão
Portanto, a pesquisa sobre as sutilezas dos recursos sensoriais e a
associados à relação entre os indivíduos e à arquitetura que
forma de traduzi-las e torná-las mais evidentes nas experiências do
experimentam. O primeiro envolve questões sobre a percepção do
espaço arquitetônico foi, e é, fundamental, para aquele profissional que
espaço além da visão, como um campo de discussão fundamental
pretende propor arquiteturas mais igualitárias e destinadas ao uso e
para embasar a proposta de intervenção que se projetou neste TCC. O
convívio de todos os indivíduos da sociedade.
segundo eixo organiza uma série de vivências e de exemplos que, indiretamente, tratam da possibilidade de explorar o projeto de arquitetura não visual. Identificar novas maneiras e materiais, atualmente explorados em projetos arquitetônicos, destinados a desencadear o aprimoramento dos outros sentidos até então negligenciados, constituiu a estratégia de abordagem do projeto em questão. A luz fraca, imperceptível para o não vidente, é convidativa, misteriosa e aconchegante, elemento que desperta o interesse do
visitante vidente. Por outro lado, ondas sonoras muito discretas podem gerar, para o não vidente, sensações que o vidente sequer percebe.
111
112
Lista de Figuras
Figura 1: Acervo pessoal da autora, 2016. Figura 2: Acervo pessoal da autora, 2016. Figura 3: Acervo pessoal da autora, 2016. Figura 4: Quadro “Incredulidade de São Tomé” 1602 – Fonte: https://deixeseulegado.wordpress.com/2011/09/23/1%C2%BA-ano-wgs-breve-analiseda-obra-a-incredulidade-de-sao-tome-de-caravaggio, acessado em 15 de maio de 2016 Figura 5: Diagrama elaborado pela autora, 2016. Figura 6: Projeto para casa Farnsworth do arquiteto Ludwig Mies Van der Rohe. – Fonte: http://cicacarvello.com/casa/arquitetura/ludwig-mies-vander-rohe-o-autor-da-frase-menos-e-mais/, acessado em 25 de maio de 2016 Figura 7: Desenho de Leonardo Da Vinci que ilustra a definição de arquitetura simétrica e proporcional perfeita segundo Marcos Vitrúvio Polião arquiteto romano do século 1 a.C. Homem Vitruviano – Fonte: http://academiadefilosofia.org/publicacoes/olhar-filosofico/o-homem-vitruvianoleonardo-da-vinci, acessado em 03 de junho de 2016. Figura 8: Cena do filme “Ensaio sobre a cegueira” – MEIRELLES, Fernando. Ensaio sobre a cegueira, BR, CA E JP. Miramax Films e Focus Features, 2008. 124 min. Figura 9: Cena do filme “Vermelho como Céu” – BORTONE, Cristiano. Vermelho como Céu, IT. Orisa Produzioni, 2006. 95 min. Figura 10: Foto do pavilhão Blur- Fonte: http://www.dsrny.com/projects/blur-building, acessado em 10 de março de 2016.
113
Figura 11: Foto aérea do pavilhão Blur - Fonte: http://www.dsrny.com/projects/blur-building, acessado em 10 de março de 2016. Figura 12: Foto aérea da EXPO Suíça 2002. - Fonte: http://www.dsrny.com/projects/blur-building, acessado em 10 de março de 2016. Figura 13: MASP século 20 - Fonte: http://masp.art.br/masp2010/sobre_masp_missao, acessado em 7 de março de 2016. Figura 14: Sesc Pompéia - Fonte: http://www.saopauloskyline.com/2012/05/sesc-pompeia.html, acessado em 7 de março de 2016. Figura 15: Escada da casa de Vidro – Fonte: http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/01.004/980, acessado em 7 de março de 2016 Figura 16 Maquete eletrônica casa Azuma – Fonte http://3discreet.blogspot.com.br/2012/11/tadao-andos-row-house.html, acessado em 7 de março de 2016. Figura 17: Fachada da casa Azuma – Fonte: http://minimalissimo.com/row-house/, acessado em 7 de março de 2016 Figura 18: Interior da casa Azuma – Fonte: http://minimalissimo.com/row-house/, acessado em 7 de março de 2016 Figura 19: Exterior da Therme Vals – Fonte: http://www.archdaily.com/13358/the- therme-vals/500f244928ba0d0cc7001d3b-the-therme-vals-image, acessado em 7 de março de 2016 Figura 20: Exterior da Therme Vals– Fonte: http://www.archdaily.com/13358/the- therme-vals/500f244928ba0d0cc7001d3b-the-therme-vals-image, acessado em 7 de março de 2016 Figura 21: Interior da Therme Vals – Fonte: http://www.archdaily.com/13358/the-therme-vals/500f244928ba0d0cc7001d3b-the-therme-vals-image, acessado em 7 de março de 2016
114
Figura 22: Exterior da Therme Vals – Fonte: http://www.archdaily.com/13358/the-therme-vals/500f244928ba0d0cc7001d3b-the-therme-vals-image, acessado em 7 de março de 2016 Figura 23: Exterior da Therme Vals – Fonte: http://www.archdaily.com/13358/the-therme-vals/500f244928ba0d0cc7001d3b-the-therme-vals-image, acessado em 7 de março de 2016 Figura 24: Pessoas experimentando, Penetráveis– Fonte: http://artesceco.blogspot.com.br/2014_05_01_archive.html, acessado em 7 de março de 2016 Figura 25: Estrutura labiríntica, Penetráveis – Fonte: http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/01.004/980, acessado em 7 de março de 2016
Figura 26: Jogo de luz, Penetráveis – Fonte: http://istoe.com.br/58139_A+ESTETICA+DA+FAVELA/, acessado em 7 de março de 2016 Figura 27: Acervo pessoal da autora, 2016. Figura 28: Imagem retirada do Google Mapas, 2016. Figura 29: Parque Prefeito Mario Covas – Fonte: https://thaisfrota.wordpress.com/2010/07/page/2/, acessado em 25 de outubro de 2016. Figura 30: Belvedere – Fonte: https://sampahistorica.wordpress.com/2013/06/24/o-belvedere/, acessado em 25 de outubro de 2016. Figura 31: Acervo pessoal da autora, 2016. Figura 32: Acervo pessoal da autora, 2016.
115
Figura 33: Acervo pessoal da autora, 2016. Figura 34: Acervo pessoal da autora, 2016. Figura 35: Feirinha – Fonte: http://www.clubedoartesao.com.br/feiras-de-artesanato-em-sao-paulo/, acessado em 02 de novembro de 2016. Figura 36: Acervo pessoal da autora, 2016. Figura 37: Imagem gerada por SketchUp – Projeto da autora, 2016. Figura 38: Imagem gerada por SketchUp – Projeto da autora, mapa, 2016. Figura 39: Imagem gerada por SketchUp – Projeto da autora, intervenção SABOREI!, 2016. Figura 40: Imagem gerada por SketchUp – Projeto da autora, intervenção DESCANSE!, 2016. Figura 41: Imagem gerada por SketchUp – Projeto da autora, detalhe da intervenção CONHEÇA!, 2016. Figura 42: Imagem gerada por SketchUp – Projeto da autora, intervenção CONHEÇA!, 2016. Figura 43: Imagem gerada por SketchUp – Projeto da autora, intervenção OUÇA!, 2016. Figura 44: Imagem gerada por SketchUp – Projeto da autora, intervenção HIGIENIZE-SE!, 2016. Figura 45: Imagem gerada por SketchUp – Projeto da autora, detalhe da intervenção TOQUE!, 2016.
116
Figura 46: Imagem gerada por SketchUp – Projeto da autora, intervenção TOQUE!, 2016. Figura 47: Imagem gerada por SketchUp – Projeto da autora, intervenção EXERCITE-SE!, 2016. Figura 48: Imagem gerada por SketchUp – Projeto da autora, detalhe da intervenção BRINQUE!, 2016. Figura 49: Imagem gerada por SketchUp – Projeto da autora, intervenção BRINQUE!, 2016. Figura 49: Imagem gerada por SketchUp – Projeto da autora, intervenção BRINQUE!, 2016. Figura 50: Imagem gerada por SketchUp – Projeto da autora, intervenção BRINQUE!, 2016. Figura 51: Imagem gerada por SketchUp – Projeto da autora, detalhe da intervenção BRINQUE!, 2016.
Figura 52: Imagem gerada por SketchUp – Reprodução de referência, intervenção CONVIVA!, 2016. Figura 53: Imagem gerada por SketchUp – Projeto da autora intervenção VISITE!, 2016. Figura 54 – Implantação do bebedouro – Fonte: https://www.behance.net/gallery/18379225/Bebedouro-Publico-2014, acessado em 31 de outubro de 2016. Figura 55 – Implantação do bebedouro – Fonte: https://complexidadedinamica.wordpress.com/2015/10/25/design-urbano-para-o-bem-comumbebedouro-publico/, acessado em 31 de outubro de 2016.
117
Figura 56 –Brinquedo Acessível – Fonte: http://www.accessibleplayground.net/2014/07/02/inclusive-play-equipment-roller-slides/ , acessado em 31 de outubro de 2016. Figura 57 –Brinquedo Acessível – Fonte: https://www.behance.net/gallery/12485687/Accessible-wheelchair-see-saw-(University-project) , acessado em 1 de novembro de 2016. Figura 58 – Spray Park – Fonte: http://patch.com/pennsylvania/lansdale/montgomery-townships-opens-new-spray-park-0, acessado em 7 de novembro de 2016. Figura 59 – Instalação acessível, Parque no Ibirapuera – Acervo pessoal da autora. Figura 60 – Mobiliário referência – Fonte: https://divisare.com/projects/243658-fulvia-giorgioni-riqualificazione-di-via-san-rocco, acessado em 20 de outubro de 2016. Figura 61 – Mobiliário referência – Fonte: http://www.e-architect.co.uk/copenhagen/superkilen, acessado em 20 de outubro de 2016. Figura 62 – Mobiliário referência – Fonte: http://www.superflex.net/press/label/superkilen, acessado em 20 de outubro de 2016. Figura 63 – Grande Rede, Museu de ciências – Fonte: https://www.aiaar.org/awards/entries/detail/mid-america-science-museum-at-the-donald-wreynolds-center, acessado em 08 de novembro de 2016. Figura 64: Acervo pessoal de Myrna Nascimento, 2014.
118
Referências bibliográficas - BORTONE, Cristiano. Vermelho como Céu, IT. Orisa Produzioni, 2006. 95 min. - CARVALHO, Arthur F. Síndrome de Capgras http://www.tuasaude.com/síndrome-de-capgras/ acessado em 14 de abril de 2016 - CONDE, Antonio J.M. - Definindo a Cegueira e a Visão Subnormal http://www.ibc.gov.br/?itemid=94 acessado em 15 de maio de 2016 - JARDIM, João e CARVALHO, Walter. Janela da alma, BR. Ravina Filmes, 2001. 73 min. - JOÃO capítulo 20 versículo 25 in A Bíblia Sagrada – versão completa online 2009 2016 bibliaon.com - MEIRELLES, Fernando. Ensaio sobre a cegueira, BR, CA E JP. Miramax Films e Focus Features, 2008. 124 min. - MONTANER, Josep Maria, A modernidade superada: arquitetura arte e pensamento do século XX. Barcelona: Gustavo Gili, 2001. - PALLASMAA, Juhani. Os olhos da pele: A arquitetura e os sentidos. Porto Alegre: Bookman, 2011. - PINACOTECA DO ESTADO DE SÃO PAULO. Programa Educativo para Públicos Especiais. São Paulo, SP, 2016 4p. - PREFEITURA DA CIDADE DE SÃO PAULO. Parque Trianon: Parque Tenente Siqueira Campos. São Paulo, SP, 6p. - ROUANET, Sérgio Paulo “O olhar iluminista” in NOVAES, Adauto (org.). O olhar. São Paulo: Companhia das Letras, 2003. - STEINER, Rudolf. Os doze sentidos e os sete processos vitais. Suíça: Christa Glass, 1916.
119