UBUNTU - Mobiliário Urbano em Precessos Coletivos

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UBUNTU

MOBILIÁRIO URBANO EM PROCESSOS COLETIVOS Alexandre Monteiro Orientador: Prof. Dr. Gabriel Pedrosa


CENTRO UNIVERSITÁRIO SENAC ARQUITETURA E URBANISMO

ALEXANDRE MONTEIRO

UBUNTU - MOBILIÁRIO URBANO EM PROCESSOS COLETIVOS

São Paulo, Junho de 2017


ALEXANDRE MONTEIRO

UBUNTU - MOBILIÁRIO URBANO EM PROCESSOS COLETIVOS

Monografia apresentada ao corpo docente do Curso de Graduação em Arquitetura e Urbanismo do Centro Universitário SENAC, como requisito parcial para obtenção do título de Bacharel em Arquitetura e Urbanismo, orientada pelo Prof. Dr. Gabriel Pedrosa.

São Paulo, Junho de 2017


Monteiro, Alexandre Ubuntu – Mobiliário urbano em processos coletivos. / Alexandre Monteiro. Orientador: Prof. Dr. Gabriel Pedrosa. – São Paulo, 2017. Trabalho de Conclusão de Curso (Bacharelado em Arquitetura e Urbanismo) – Centro Universitário SENAC, Campus São Paulo, 2017. 1. Espaço público – Século XXI. 2. Microcosmo urbano. 3. Lúdico. 4. Cidadania. 5. Oficina. 6. Contracultura.


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Dedico este trabalho aos inúmeros apoiadores, familiares, amigos e colegas de jornada nos mais diversos semestres e cursos, professores, funcionários e membros do corpo operacional e administrativo do campus SENAC São Paulo, que contribuíram de forma direta ou indireta para sua conclusão exitosa, aos quais ofereço minha gratidão permanente. Agradeço a todos colaboradores na formalização da apresentação dessa pesquisa projetual e a meu orientador pelas ricas discussões, esclarecedoras quanto a desenvolver este trabalho e tantas outras missões futuras disponíveis a este espírito inquieto.


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"O ‘ubuntu’ não significa que uma pessoa não se preocupe com o seu progresso pessoal. A questão é: o meu progresso pessoal está ao serviço do progresso da minha comunidade? Isso é o mais importante na vida. E se uma pessoa conseguir viver assim, terá atingido algo muito importante e admirável." Nelson Mandela "As cidades são a expressão da sociedade no terreno." Henri Lefebvre


SUMÁRIO RESUMO...................................................................................... INTRODUÇÃO................................................................................ CAPÍTULO I................................................................................... 1. A VIDA DAS CIDADES................................................................. 1.1 A falência da cidade racionalista............... 1.2 A retirada do lúdico dos espaços públicos da cidade..................................................................... 1.3 Pós-Segunda Guerra.............................. 1.3.1Contracultura..................................................... 1.3.2 Outras atuações artísticas e urbanas pósSegunda Guerra ........................................................ 1.4 Ideários alternativos ao funcionalismo......... 1.5 Apropriações recentes dos saberes lúdicos. CAPÍTULO II.................................................................................. 2. ESTUDOS DE CASO................................................................... 2.1 A cidade como tela: campo aberto e caos................ 2.2 Linhas críticas: redesenhando os espaços livres......... 2.3 Entrando em ação: metodologias de abordagem do território.................................................................. 2.4 A O mobiliário urbano nos grupos............................ CAPÍTULO III.................................................................................. 3. PARTICIPAÇÃO EM OFICINAS DE ELABORAÇÃO DE MOBILIÁRIO.......... 3.1 O território........................................................ 3.2 Os atores.......................................................... 3.3 Intenções........................................................... 3.4 Processo........................................................... 3.5 Materialidade e forma........................................... 3.6 Análise............................................................... CAPÍTULO IV.................................................................................. 4. O OFICINEIRO............................................................................ 4.1 Quebrada Sustentável........................................... 4.1.1 Estímulos......................................................... 4.1.2 Processo........................................................ 4.1.3 Peças finalizadas............................................... 4.2 Kuin, Parque Trianon.............................................. 4.2.1 Estímulos......................................................... 4.2.2 Processo......................................................... 4.2.3 Peça finalizada.................................................. 4.3 Cursinho Pimentas................................................ 4.3.1 Estímulos......................................................... 4.3.2 Processo......................................................... 4.3.3 Peças finalizadas............................................... CONSIDERAÇÕES FINAIS................................................................. Notas........................................................................................... Referências.................................................................................... Lista de imagens.............................................................................

08 10 12 13 15 21 23 24 30 34 42 38 39 39 41 43 44 45 47 47 48 49 50 52 54 55 56 56 57 58 59 74 75 76 77 79 80 81 82 89 92 95 98


RESUMO

Essa pesquisa pretende discutir sobre mobiliário urbano focando nos processos e contextos de geração das peças dispostas em espaços de uso público.Devido

a

isso

traz

indagações

implícitas

sobre

permanência,

temporariedade e definição de intervenções tanto por artistas como por administradores públicos e freqüentadores diversos desses locais. Tais temas são abordados inseridos em processos participativos práticos realizados pessoalmente em locais de uso público, efetuando-se questionamentos e obtendo conclusões em vista de informações obtidas nas pesquisas de repertório em cursos, palestras, debates, workshops, caminhadas e outros eventos organizados por transformadores urbanos atuantes em diferentes formatações

(palestrantes,

facilitadores,

acadêmicos,

coletivos,

ateliers,

institutos, etc).

Palavras-chave: Espaço público no século XXI; microcosmo urbano; lúdico; cidadania; oficina; Contracultura.


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ABSTRACT

This research intends to discuss on urban furniture by focusing on the processes and contexts of the generation of the pieces arranged in spaces of public use. This bring implicit inquires about permanence, temporariness and definition of interventions by artists as well as public administrators and frequenters of these places. These

themes

are

addressed

in

practical

participatory

processes carried out in places of public use, being questioned in view of information obtained in practical repertoire surveys conducted in courses, lectures, debates, workshops, walks and other events organized by urban transformers operating in different ways (lecturers, facilitators, academics, collectives, studios, institutes, etc.).

Keywords: Public space in the XXI century; urban microcosm; ludic; citizenship; workshops; Contraculture.


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INTRODUÇÃO O planejamento urbano, como atualmente exercido pelos órgãos públicos municipais brasileiros, abarca numerosos níveis de informações e relações. Tal abrangência traz, como um de seus mais graves desdobramentos, negligências quanto ao nível mais exposto ao contexto citadino, o do pedestre, que precisa desfrutar de microcosmos para que suas necessidades e anseios sejam supridos cotidianamente. Este trabalho percorre a dinâmica de formação dos contextos urbanos como pano de fundo, contraponto e retroalimentação ao exercício da individualidade e da autonomia dos cidadãos enquanto freqüentadores e usuários do espaço público. Vem também mostrar as progressivas transformações nas visões de mundo dos indivíduos que dele desfrutam como motivadoras dos intercâmbios desempenhados nos diferentes cenários fornecidos pela urbe. Feito isso, comenta-se sobre como essas reverberações implicam no usufruto das áreas livres da cidade. O mobiliário urbano é analisado como resultante das interações já descritas, sendo potencializador das mesmas. O processo de sua definição, elaboração, inserção e adaptação junto aos munícipes é descrito a partir das relações com seus usuários finais. Tal pesquisa é oportuna em vista da carência de processos geradores de equipamentos urbanos que incluam os públicos específicos dos espaços livres, ocasionando abandono, deterioração e conflitos entre partes. São observados o histórico de experiências realizadas nesse sentido, particularmente no contexto das transformações sociais posteriores à Segunda Guerra Mundial, atendo-me aos coletivos de artistas, arquitetos e entusiastas do espaço público atuantes a partir dessa época, e o cenário das experimentações recentes, geradas por grupos atuantes na metrópole paulistana. A última parte do trabalho, a seção mais especificamente projetiva, aborda o planejamento de processos de transformações urbanas a partir de um modelo de oficinas que trazem os freqüentadores dos espaços públicos para o centro decisório da elaboração desses ambientes.



CAPÍTULO I

A VIDA NAS CIDADES


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CAPÍTULO I 1. A VIDA DAS CIDADES

Normalmente observamos as cidades como perenes, muitas vezes nos despercebendo da noção essencial de sociabilidade, cerne da formação dos assentamentos humanos e de sua permanência, bem como das transformações sempre em curso. A cidade delimita e forma um traçado envoltório a um pedaço do solo terrestre. A história é a trilha de fronteiras sempre novas na terra. Ecumene (mundo) choca-se com o espaço como teatro dos acontecimentos, variável conforme as épocas históricas. A cidade-mundo, cosmópolis, é sempre forçada a traçar novos confins, ampliando o cenário dos acontecimentos ao mar e ar.Para os gregos, a imagem homérica do mundo é a do grande mar interno circundado por costas. No império de Alexandre Magno o impulso sobre-humano em avançar não se importou com o território conquistado, mas com o traçado de estradas e a fundação de cidades fortificadas em pontos estratégicos. A cidade e a estrada encontram-se aqui pela primeira vez, perdurando tal postura nos caminhos da Europa medieval, no qual a cidade é a estrada dos peregrinos e mercadores, até a cidade estadunidense contemporânea que é somente estrada, expressa em ruas e avenidas, pura travessia. A Idade Média enfraquece seu papel, sendo que a Renascença as encarrega de catalisar as trocas comerciais, arranjos políticos e disseminação de valores ao torná-las palco dos desfrutes da nobreza e da plebe, tanto pelo arranjo de casas de diversão quanto pelo uso dos espaços públicos como locais de apresentações. Ao industrializar-se, a cidade já tem uma poderosa realidade de


14 libertação e simultânea exploração de seus trabalhadores. Centro da vida social e política, nela se acumulam riquezas, conhecimentos, técnicas e obras (de arte e monumentos). O papel do meio citadino como centro produtor (partícipe das trocas de produtos, serviços, informações e influências culturais) e de atual ator global, propagador de modelos e disputas diversas é ainda mais recente, desenvolvido desde meados do século XIX e consolidado nos últimos quarenta anos. Ele se metamorfoseia conforme as mutações de valores e mercados, num ciclo inquebrantável. Henri Lefebvre1 aborda o processo de transformação das relações de poder sobre o espaço urbano em ‘O direito à cidade’. Ele afirma: “As cidades são a expressão da sociedade no terreno.” (LEFEBVRE; 1969). Cândido Malta alerta sobre a implícita opção por um ponto de vista em qualquer afirmação sobre o urbanismo e a caracterização de paisagens urbanas. Há sempre uma opção de quem lê essas informações. Isso denota a importância vital da sensibilização do arquiteto urbanista, na sua formação profissional, quanto a ouvir os diferentes públicos agentes, desfrutadores e transformadores do ambiente abordado, dedicando-se a receber e trocar informações com ele. Lefebvre1 diz sobre isso: ‘O conhecimento especializado gerou o desconhecimento generalizado.’ (Op. Cit.; 1969) Johan Huizinga2, em seu artigo de 1933 'O jogo como elemento da cultura', aborda a própria cultura como possuidora de caráter lúdico e a importância dele para a civilização. Em "Homo Ludens", livro de 1938, trata das diferenças das nossas experiências e cosmogonias como homo sapiens, conceito iluminista de homem racional, homo faber, ser fabricante de objetos, e homo ludens, comunicador não-verbal de conceitos e valores. Ao longo do tempo, a expressão do lúdico foi contemplada com maior ou menor prioridade no contexto citadino, mas nunca abandonada, visto ser parte da formação do referencial imaginário caracterizador da identidade dos povos. Os espaços abertos e livres da urbe são receptáculos desse tipo de comunicação, propiciada pelos elementos de paisagismo, relações de inserção


15 urbana e mobiliários urbanos. O paisagismo trata de tudo que forma envoltórios ao percurso:

pisos,

vegetação,

coberturas,

definições

cromáticas

e

de

monumentalidade. A inserção urbana aborda as relações de fluxos, continuidade, gabarito, visualização, acolhimento e simbolismo. Mobiliários urbanos, segundo Claudia Mourthé3, são os equipamentos, móveis e objetos afixados nos espaços públicos, destinados ao uso da coletividade. Esses três itens dialogam com a metamorfose das cidades e de seus frequentadores. O mobiliário urbano, elemento arquitetônico mais próximo da escala do usuário, é o objeto de nossa pesquisa. Será observado em relação a ‘ubuntu’, o princípio filosófico de conduta, presente na maior parte das sociedades tradicionais africanas, pelo qual um indivíduo compreende o cuidado e respeito a outros seres humanos, sejam eles familiares a nós ou não, tão importantes quanto o que se deve exercer em relação a si mesmo ou ao planeta. Sendo parte do mesmo todo energético e social os seres humanos apenas sentem-se plenamente felizes ao contentarem os demais, não havendo ganhadores em qualquer processo quando um dos participantes sente-se desfavorecido ou alijado dos benefícios e prêmios por qualquer ação. Esse princípio conduz a leitura dos processos coletivos nesse trabalho. 1.1 A falência da cidade racionalista Tudo que o homem ergue no espaço urbano se transforma num elemento da paisagem representativa da cidade, por esta razão devendo ser objeto de discussão da comunidade, por comprometer a vida das pessoas. Lutar por um planejamento e por uma arquitetura representativa do nosso espaço e nosso tempo vale enquanto estivermos defendendo as qualidades do palco onde se desenvolve nossa cultura. A arquitetura, mais do que qualquer outra atividade humana, tem a propriedade de materializar acertos e erros, perpetuando-os ativos num determinado espaço, pelos tempos. Esse fato obriga o arquiteto a assumir uma grande responsabilidade cultural, pois uma obra construída será compulsoriamente


16 testemunhada por gerações. Por este motivo, a elaboração da arquitetura deve ser profundamente meditada e intensamente discutida. Numa época de aprimoramento constate dos processos gerenciais, a prática arquitetônica segue desconsiderando o desconforto do público e os meios que permitem ajustar escolhas. Num mundo de variáveis em constante alteração, desenvolver processos de escuta é mais que necessário para oportunizar a evolução, o progressivo desenvolvimento de uma idéia. O monólogo nos conduz a cômodos estrelismos e a posições supostamente inatacáveis. Foi certamente através da pouca atenção prestada à necessidade de interlocução e dialética que se impôs no Brasil o modernismo funcionalista, modelo urbano e arquitetônico que atendia a ideários questionáveis, pois já em 1889 o arquiteto Camillo Sitte4, então diretor da Escola Imperial e Real de Artes Industriais de Viena, polemizava: "É preciso reagir contra a moléstia moderna do isolamento. A rua ideal deve formar um todo fechado. Quanto mais as impressões forem contidas por espaços limitados, mais o quadro será perfeito. Não se pode sentir à vontade se o olhar se perde no infinito." [SITTE, Camillo (autor); HENRIQUE, Ricardo. (tradutor) A Construção das cidades segundo seus princípios Artísticos. São Paulo: Martins Fontes, 1992]

Corbusier, com seu grande talento e determinação conseguiu impor o movimento racionalista no cenário cultural do seu tempo, ofuscando as demais linhas de pensamento, como a culturalista, a naturalista e a organicista, transformando seu trabalho num paradigma social e dogma arquitetônico. Françoise Choay5, em 'O urbanismo, utopias e realidades', expressa: "O desenvolvimento das cidades não é objeto de uma ciência rigorosa; a ideia de um urbanismo científico é um dos mitos da sociedade industrial. Além do funcionalismo, além da moradia, resta viver. A cidade (...) é igualmente um quadro de relações subconscientes, o lugar de uma atividade que consome sistemas de signos, tão complexos quanto aqueles mais elevados.“ Depois de 1848 a burguesia francesa, assentada sobre a cidade, possui aí os meios de ação, bancos do Estado, não apenas suas residências. Ela se vê cercada da classe operária, tomada por ameaça aos novos ricos. Elabora-se


17 uma estratégia de classe visando ao remanejamento da cidade consolidada sob a batuta de Haussmann. "A vida urbana pressupõe encontros, confrontos das diferenças, conhecimentos e reconhecimentos recíprocos (inclusive no confronto ideológico e político) dos modos de viver, dos padrões que coexistem na cidade.” [In: SENNETT, Richard (Autor); WATANABE, Lygia Araujo (Tradutora). O declínio do homem público: as tiranias da intimidade. São Paulo: Cia. das Letras, 1998, p.78] O barão substitui as ruas tortuosas, mas vivas, por longas avenidas. Abre bulevares para ‘pentear Paris com as metralhadoras’ (Benjamin Péret). A finalidade era proclamar alto e forte o poder do Estado que os arranja, a violência que neles pode se desenrolar. Um dos sentidos da Comuna de Paris, em 1871, foi o retorno ao centro urbano dos operários relegados aos subúrbios e periferias, a reconquista da cidade, obra valiosa deles arrancada. No final do século XIX pessoas influentes descobrem uma nova noção, o habitat, e a isolam em função, separando-a do conjunto complexo da Cidade a fim de projetá-la de fato. A criação dos subúrbios deu-se sob manobras de classe, com ações convergentes coordenadas a um resultado final, embora difusas quanto a objetivos. As vias e praças eram campos de troca social, conversa, flerte, festivais comemorativos e cerimônias cívicas. O CIAM de 1933 propôs, como necessidades básicas do munícipe, o habitar, o produzir, o recrear e o deslocar. As cidades começaram a se organizar espacialmente a partir dessa formulação apoiadas nos progressos tecnológicos e industriais, na revisão do neoclássico e na difusão de planos de reforma urbana. Isso levou à diminuição gradativa da largura das calçadas, dos espaços entre edificações e das áreas verdes, gerando uma percepção de insegurança aos pedestres, expostos aos carros em alta velocidade, sujeitos a escassez de travessias e aos microclimas inadequados reforçados pelos reflexos das fachadas em vidro. Em conseqüência disso ocorre a morte dos espaços livres, pois a vitalidade das ruas foi eliminada. Essa elaboração desrespeita o caráter original da urbe, de lar do dinamismo e transformação gerados pelo contato entre diferentes, e a torna mecanismo de controle e vigilância. A mania dos espaços abertos desintegrava a arquitetura e meio ambiente. Sennet (Op. Cit., 1998) explica este fato pelos conceitos de isolamento, separação e divisão, problemas intrínsecos do capitalismo que, ao incentivar o consumo, impõe o individualismo e


18 diferenças, conhecimentos e reconhecimentos recíprocos (inclusive no confronto ideológico e político) dos modos de viver, dos padrões que coexistem na cidade.” Lucrécia Ferrara6, na obra “Design em Espaços”, de 2002, afirma que o destino da arquitetura é o de exprimir o espírito de uma época. Examina também a experiência da diversidade e a função demiúrgica tanto do desenhista industrial como do arquiteto e urbanista. Ela ainda afirma a necessidade de saber a dimensão visual da representação e o valor de se perguntar ‘Quais os significados que o design pode produzir quando se põe a arquitetar o mundo, a cidade, os valores sociais e as relações humanas no embate individual e coletivo?' O espaço é visto como um conjunto indissociável de sistemas de objetos e de ações. Ler a cidade é discriminar ocorrências fenomênicas, efeitos e significados, exercendo considerações sobre o lugar e captando o discurso que o revela ao exercer a escolha de ângulo visual. Buscar compreender os tipos de usos que o mobiliário urbano pode sofrer, bem como interferências, é preceito de um bom design urbano. Assim, segundo a autora, o pensamento de Eugene Hénard, cujas ideias e projetos influenciaram o Plano de Avenidas de Prestes Maia e Ulhôa Cintra, era a expressão do pensamento científico e positivista que desconsiderava a dimensão histórica e simbólica das cidades. Ele classifica os cruzamentos, inventa o sistema giratório e a política de segregação das circulações que se tornará central na maioria das doutrinas de planejamento do século XX. É sua a colocação: “No organismo humano, quando o coração vai à ruína, a circulação do sangue é inteiramente comprometida; quando o coração bate regularmente a força e a saúde se espalha por todos os membros. Liberar o centro é acelerar o movimento da periferia, é espalhar por tudo a vida e a riqueza.” (FERRARA, 2002).

Devemos libertar o centro geométrico e histórico da obrigação de prover completamente a vida metropolitana, apesar do centro de gravidade fornecer exemplo aos demais. Essa elaboração de cidade, posta em prática equivocadamente por Maia e Cintra, orientou os planos urbanísticos e gestões subseqüentes, incorrendo em obras segregacionistas, cujos resultados são percebidos até o presente tanto nas considerações subjetivas de moradores e visitantes dos bairros afetados quanto na baixa ocupação dos espaços abertos


19 pela maioria dos cidadãos. O ritmo de atividade da zona central repercute no imaginário dos ocupantes de todas as outras. Assim, também a convivência nos bairros afastados se esvaziou ao ser tornada exótica ou relacionada apenas a não participantes

de

atividades

produtivas

(desempregados,

donas-de-casa,

vagabundos, idosos e crianças) a vontade de ter na rua um local de uso, não apenas passagem ligando uma origem a um destino. bairros afastados se esvaziou ao ser tornada exótica ou relacionada apenas a não participantes de atividades produtivas (desempregados, donas-de-casa, vagabundos, idosos e crianças) a vontade de ter na rua um local de uso, não apenas passagem ligando uma origem a um destino. As estreitas e sinuosas vias resultantes do crescimento orgânico permitiam ao passante o tempo da identificação, observação, instrução, alimento mental e sensorial. A planificação e ordenação excessivas danificaram a comunicação entre a paisagem urbana e os munícipes. A hierarquia das vias gerou um desenho desprotegido dos espaços pedestres quanto a colisões, ruídos e percursos. A faixa estreita deixada no loteamento dos bairros ao uso pedestre, na borda de vias movimentadas, ainda sofreu com a disputa destes trechos pelos ávidos consumidores trafegando entre lojas a passo acelerado, cheios de pacotes. Os parques tornaram-se centros de eventos, ações de propaganda, vendas e prestação de serviços. Onde repousar a mente da velocidade cada vez maior dos acontecimentos na cidade? Esse modo de encaminhamento das resoluções sobre os setores da cidade ainda perdura, mas precisa ser evitado. François Ascher7 faz considerações sobre a terceira revolução urbana moderna, que se esboça com a nova fase de modernização das sociedades e produz mudanças profundas nas formas de concepção, implantação e gestão de cidades. As categorias, que antes estavam contidas na própria geração das cidades, devem ser revisitadas para questionamentos e atualização, como a noção de limite e a elaboração de espaços, as noções dos meios urbano e rural, público e privado, interior e exterior, de distância, continuidade, diversidade e mistura. Ele recomenda perguntar-nos: ‘O que sucede com os equipamentos coletivos e serviços urbanos numa sociedade de


20 práticas e necessidades cada vez mais variadas e individualizadas? Como decidir e agir para o bem coletivo em uma sociedade mutante e diversificada de práticas e necessidades cada vez mais variadas e individualizadas? Como pensar e criar cidades que funcionem em um contexto de sociedade hipertexto e do capitalismo cognitivo?’ Guattari8 esclarece que uma verdadeira resposta às crises contemporâneas vem da reorientação dos objetivos da produção de bens materiais e imateriais, abrangendo as relações de forças visíveis em grande escala e os domínios de sensibilidade, inteligência e desejo. A mesma perspectiva éticopolítica atravessa as questões dos desastres legados por um urbanismo que se queria moderno, de uma criação artística libertada do sistema de mercado, de uma pedagogia capaz de inventar seus mediadores sociais etc. Tal problemática, no fim das contas, é a da produção de existência humana em novos contextos históricos. Sua ecosofia social consiste em desenvolver práticas específicas que tendam a modificar e a reinventar maneiras de ser ao reconstruir o conjunto das modalidades do ser-em-grupo, a relação do sujeito com o corpo e as estruturas sociais. O autor postula como verdadeira resposta à crise ecológica uma “autêntica revolução política, social e cultural reorientando os objetivos da produção de bens materiais e imateriais”. Mostra que para onde quer que nos voltemos, reencontramos o paradoxo do desenvolvimento dos meios técnicocientíficos capazes de resolver problemas ecológicos e, de outro lado, a incapacidade das forças sociais de se apropriar desses meios para torná-los operativos.

Fig. 1 Delleuze e Guattari


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Devemos abandonar as metodologias que procuravam enquadrar a realidade futura numa moldura predefinida, nos apoiando em atitudes mais reflexivas e adequadas a um futuro incerto, por adaptar-se a incertezas e ao aleatório de uma sociedade aberta, democrática e marcada pelas oscilações econômicas unidas a uma variação de prazos, escalas e interesses. Nela o projeto aparece como um instrumento cuja elaboração, expressão, desenvolvimento e execução revelam as potencialidades e limitações da sociedade, como ferramenta de análise e negociação. A cronologia anterior de elementos encadeados é substituída pela gestão sujeita a incrementos constantes, acompanhadas de ações que servem para elaborar e provar hipóteses em relação a avaliações parciais que geram novas informações projetuais, permitindo procedimentos mais cautelosos e duráveis. 1.2 A retirada do lúdico dos espaços públicos urbanos O equilíbrio espírito-corpo, perdido na condição atual, torna importante a busca das proporções humanas na arquitetura, atualmente à mercê da falta de delicadeza e cautela que invade ação e pensamento, vida pública e vida privada. Caminha-se em direção a um mundo descentralizado em que a cidade é uma ponte ligando níveis de relacionamento. Sennett (Op. Cit., p. 86) nos orienta a analisar os papéis públicos, o impacto das mudanças do sistema de produção na maneira em que as interações sociais se dão, as transformações no papel do carisma perante a multidão, a incivilidade nos padrões contemporâneos de interação social e o fato de tornarmos o estar em privacidade um fim em si mesmo. O autor afirma que a sociedade urbana do século XVIII tornou significativos os encontros sociais ao estabelecer códigos de credibilidade que funcionavam tanto no teatro como na vida cotidiana, permitindo aos indivíduos serem sociáveis com bases impessoais, por signos adotados. O domínio público tornava-se um corretivo ao privado: o homem natural, um animal era corrigido pelos padrões de civilidade. Philippe Ariès, estudioso francês, descobriu que, em meados do século XVIII, os adultos começaram a pensar a respeito deles como tipos


22 fundamentalmente diferentes de criaturas, em comparação com o que eram suas crianças, seres num estágio especial e vulnerável, vencido na idade adulta. Essa articulação servia para que as pessoas definissem os limites da vida pública aos adultos, o que teve uma gênese interessante: as gradativas distinções entre as formas de jogos infantis e as adultas. Tal segregação espacial tirou o caráter lúdico do espaço público ao torná-lo campo de culto e demonstração dos saberes intelectuais e trocas comerciais. Propagaram-se os cafés filosóficos (encontros de escritores e intelectuais nos cafés, bares e restaurantes dos bulevares metropolitanos), além dos magazines e lojas de departamentos. O domínio público era reservado para o jogo adulto. Aos infantes cabia a proteção no lar, o direito ao alimento e ao conforto, ser valorizado e amado, o direito à vida. A separação entre os locais de recreação adulta e infantil consolidou-se através de fenômenos correntes simultâneos à formação das metrópoles ocidentais: o pensamento iluminista distingue o instituto da infância e formaliza a educação infantil; as distinções do sistema de circulação de produtos. Num processo de privatização da vida familiar, as pessoas começavam a se organizar longe da via pública. Para Buckingham, a introdução da educação compulsória no final do século XIX foi um dos principais fatores a separar as crianças dos adultos e, nesse sentido, um dos grandes pré-requisitos da concepção moderna de infância (Buckingham, 2000: 67). A invenção da prensa tipográfica e o desenvolvimento do processo de escolarização teriam separado aqueles que sabiam ler, ou seja, os adultos, daqueles que ainda estavam se alfabetizando, as crianças. A delimitação da vida adulta com as marcas da individualidade, capacidade conceitual, vigor intelectual e racionalidade, junto à retirada das crianças do convívio social e à estratificação comercial da indústria, relegou os adultos às atividades mais passivas e silenciosas de realização de apostas nas casas lotéricas, corridas (de cavalos ou carros), salões de luta ou cassinos e à prática esportiva. Tornou-se elegante viver como sedentário anti-social.


23 Retratar o passado através de imagens do surgimento e declínio de um modo de vida produz naturalmente um sentimento de saudosismo, que é perigoso por produzir simpatia com o passado e certa resignação diante do presente, aceitando seus males. O mito hoje predominante é de que os males da sociedade são, na verdade, da impessoalidade, da alienação e da frieza, constituindo uma ideologia da intimidade: relacionamentos sociais de qualquer tipo são críveis, reais e autênticos quanto mais próximos estiverem das preocupações interiores, psíquicas de cada pessoa. Tal ideologia transmuta o calor humano em nosso deus. A história do surgimento e declínio da cultura pública faz-nos colocar esse humanitarismo em questão. Devido a esse deslocamento as pessoas passaram a buscar significações pessoais em situações impessoais, em objetos e na condição objetiva da sociedade. As relações sociais podem ser estéticas porque compartilham uma raiz comum, a experiência infantil do jogo. Nesse caso ele não é arte, mas um certo tipo de preparação para uma atividade estética, que se realiza na sociedade do mesmo modo que uma arte caso certas condições estejam presentes. Quando as crianças aprendem a acreditar em convenções, estão prontas a realizar uma obra qualitativa de expressão, explorando, transformando e refinando as qualidades dessas convenções. Que o homem contemporâneo tenha se tornado um ator privado de sua arte é uma questão séria. A pessoa tenta fazer com que suas aparências representem aquilo que ela é, para unirmos a questão da expressão efetiva à da autenticidade da expressão, mergulhando o indivíduo no problema narcisista de nunca conseguir cristalizar aquilo que é autêntico em seus sentimentos. 1.3. Pós-Segunda Guerra A incapacidade das cidades racionalistas em suprir um ambiente auspicioso ao desenvolvimento das atividades humanas e em trazer equilíbrio às dinâmicas presentes no âmago das sociedades escancarou-se ao fim da II Guerra Mundial, com o retorno dos combatentes às suas origens, em muitos casos locais necessitados de grandes reconstruções, em virtude dos bombardeios sofridos, e


24 incremento

da

infraestrutura,

pela

explosão

de

nascimentos

no

período

subseqüente. Estabeleceu-se uma disputa pelo tipo de crescimento necessário à urbe, suas proporções, caráter e papel dos elementos. Tal debate animou a juventude e a intelectualidade de então a participar da dinâmica das forças que guiariam esse processo de transformação. Isso desdobrou-se em elaborações que usavam caminhos renovadores no tratamento metodológico e temático do processo criativo. 1.3.2 Contracultura A insatisfação social presente na juventude do pós-Segunda Guerra propiciou o surgimento do movimento da sociedade em prol do que ficou conhecido como contracultura ou underground. Muitos consideram o existencialismo de Sartre como o marco inicial dele, já na década de 1940, com seu engajamento político, defesa da

liberdade

individual

(autodeterminismo),

seu

pessimismo

pós-guerra,

a

psicologização da vida, entre outros pontos. Era uma leitura filosófica anterior ao movimento basicamente artístico e comportamental da Geração Beat, que resultaria no movimento hippie. Os beatniks surgiram inicialmente na década de 1940, em Nova York, aparecendo um segundo núcleo em São Francisco, na década de 1950. Em ambos os grupos, a arte foi usada – sendo que no segundo, além da literatura também abusaram da pintura, das artes gráficas e da tipografia, transcendendo-se o ambiente urbano, chegando-se ao campo e ao misticismo – de forma distinta para alertar sobre o domínio social do industrialismo e do consumismo, que massacravam a livre expressão humana. O domínio era do espírito libertário questionador da racionalidade ocidental. Os Beats eram jovens intelectuais, principalmente artistas e escritores. Contestavam o consumismo e o otimismo do pós-guerra americano, o anticomunismo geral e a falta de pensamento crítico. Surgiram, em 1942, os letristas, capitaneados por Isidore Isou9, um movimento literário e artístico com inspiração no legado revolucionário Dadá e no surrealismo, se opondo à palavra e à significação. Migraram também para as artes visuais, onde obras experimentais usando letras e pinturas se fundiam pelo trabalho gráfico. Sua produção pode ser associada ao grafite e pixo atuais como manifestação. Guy-


25 Ernest Debord, nutrido pelas mesmas influências, conheceu-os, em 1951, no festival de Cannes. Manteve-se associado com o grupo naquele ano mas, em seu primeiro filme, de 1952, entrou em conflito com Isou e distanciou-se dele para fundar, nesse mesmo ano, com alguns amigos, a Internacional Letrista. De 1952 a 1954 o novo grupo publicou o periódico Internationale Lettriste, e de 1954 a 1957, vinte e nove números da revista Potlatch. Esta tratava da vida cotidiana em geral, da relação entre arte e vida, e, em particular, da arquitetura e do urbanismo, sobretudo da crítica ao funcionalismo moderno. Dos textos mais radicais, redigidos principalmente por Debord e Raoul Vaneigem, contra funcionalistas modernos, podemos citar: “Construction de Taudis”, “Le gratte-ciel par laracine”, “Une architecture de lavie”, “L’architecture et lejeu” e “Projet d’embellissementsrationnels de laville de Paris”.

Fig. 2 – Maa psiogeográfico da IS.

Algumas de suas ideias, práticas e procedimentos formaram depois a base do pensamento urbano situacionista: a psicogeografia, a deriva e a idéiachave de “construção de situações”. A Internacional Situacionista gerou táticas para intervir em todos os aspectos da atividade humana (sociologia, urbanismo, arte, literatura, política). A prática de apreender o espaço urbano através do andar toma diferentes formas ao longo dos movimentos Dadá (visita), Surrealismo (deambulação) e Situacionismo (deriva), cuja referência moderna inicia-se na figura do flâneur, de Charles Baudelaire. Paola Berenstein Jacques10 traça um breve histórico do panorama dessas décadas:


26 “Os letristas, ainda sediados em Paris, passaram a colaborar com alguns grupos de artistas europeus de tendências semelhantes, como o London Psychogeographical Association – LPA, dirigido por Ralph Rumney, e principalmente o grupo Cobra (Copenhaguem, Bruxelas, Amsterdã – 1948-1951, revista homônima), animado, entre outros, pelo dinamarquês AsgerJorn (Arger Jorgensen), pelo belga Christian Dotremonte pelo holandês Constant (Victor Nieuwenhuys). Constant e Jorn foram os responsáveis, com Debord e Raoul Vaneigem, pela elaboração do pensamento urbano situacionista. Jorn fundou, após a dissolução do Cobra, o MIBI (Movimento Internacional por uma Bauhaus Imaginista – 1954-1957, revista Eristica): uma crítica à abertura da nova Bauhaus em Ulm – HochschulefurGestaltung – por Max Bill em 1955. O MIBI organizou em Alba, Itália, em setembro de 1956, uma reunião desses principais grupos europeus que vinham trabalhando sobre os mesmos temas de forma independente, com a participação de membros de oito países. No ano seguinte em Cosio d’Arrosca, Debord fundou, com os integrantes dos outros grupos também presentes em Alba, a Internacional Situacionista – IS. A IS passou rapidamente a ter adeptos em vários países, entre eles: Itália, França, Inglaterra, Alemanha, Bélgica, Holanda, Dinamarca e Argélia. Entre 1958 e 1969, 12 números da revista IS foram publicados e, se nos primeiros seis números (até 1961) as questões tratavam basicamente da arte passando para uma preocupação mais centrada no urbanismo, estas se deslocaram ‘naturalmente’ em seguida para as esferas propriamente políticas, e sobretudo revolucionárias, culminando na determinante e ativa participação situacionista nos eventos de Maio de 1968 em Paris.”

Para Montaner, o homem para o qual passa a se pensar a arte e a arquitetura não é mais o idealizado, universal, abstrato, sem necessidades psicológicas, produtivo de Taylor e Ford, mas o homem comum, da rua, que aparece nas fotografias de Cartier-Bresson, Henderson e Català-Roca, e nos personagens disformes de Jean Dubuffet. A formação do grupo europeu Cobra, cujos expoentes eram o holandês Constant (Victor Nieuwenhuys), o dinamarquês Asger Jorn e o belga Christian Dotremont, foi de encontro a essas premissas, se constituindo uma plataforma comum dos grupos experimentais de pintores dinamarqueses Host, poetas e escritores dissidentes do grupo Surrealista Revolucionário belga e do grupo holandês Reflex. Constant, influenciado por Huizinga e a partir da idéia de um acampamento cigano permanente concebida para Alba, gera o projeto New Babylon, no qual se empenhou por anos. Nele seus habitantes seriam livres para a criação coletiva através do jogo e de formas lúdicas de comportamento, repelindo


27 qualquer traço de rotina e hábito. Materializaria os mapas psicogeográficos de Deborg e Jorn para o âmbito espacial da arquitetura por uma cidade das ambiências. Era a proposta fantástica para uma nova cidade que implicaria uma nova sociedade, na qual o trabalho produtivo foi abolido pelos avanços tecnológicos da automação e pela revolução social guiada pela busca de uma vida apaixonante. Seu trabalho tem uma relação de retro-alimentação mútua com os escritos de Henri Lefebvre sobre uma resistência permanente à segregação entre pessoas, atividades e espaços da cidade fraturada pelo racionalismo. O grupo Provos11, nome obtido pela redução da palavra “provocadores”, reivindicou as ruas de Amsterdam, Holanda, para colocar em prática os planos utópicos das vanguardas libertárias do século 20. Eles eram anarquistas, feiticeiros, artistas, desordeiros e visionários em geral. Lutaram, por exemplo, contra as indústrias do cigarro, no manifesto Marihu, e a dos automóveis, com o Plano das Bicicletas Brancas, sua Provocação nº 5. Em suas ações juntavam-se, provocavam e se dispersavam, deixando as autoridades ineptas a responder-lhes. Suas atividades delinearam-se mais claramente de 1965 até as turbulências urbanas de 1968 em diversos países, claramente influenciadas por suas atitudes e dos predecessores letristas. A repercussão dessas ações gerou a propagação de grupos semelhantes em países tão diversos como a Iugoslávia, os EUA, a Tchecoslováquia, a Inglaterra e mesmo a China, caracterizando um movimento internacional. Nessa mesma década de 1960, o mundo conheceu o movimento hippie, desdobramento dessas reflexões anteriores. Eles se opunham radicalmente aos valores culturais considerados importantes na sociedade: o trabalho, o patriotismo e nacionalismo, a ascensão social e a padronização estética. O principal marco histórico nele foi a realização de festivais como o de Monterey, Mexico, em 1967, ‘Woodstock’, em Bethel-NY, em 1969, “Human Be In”, em São Francisco-CA, e Burning Man, em Black Rock Desert-NV, esses três nos EUA, que contaram com a participação de artistas de diversos estilos musicais, como folk, rock'n'roll e blues, todos ligados às críticas e contestações levantadas pelo movimento.


28 Nesse decênio, artistas como Bob Dylan revolucionaram o cenário do Rock trazendo músicas engajadas para um público menos alienado. Tal mudança na cena musical, juntamente aos movimentos pacifistas e manifestações contra a Guerra do Vietnã, deu à década de 60 o apelido de ‘Anos Rebeldes’. O ano de 1967 foi marcante. Em São Francisco, palavras de ordem como “os hippies morreram! Viva os homens livres!” acompanharam a cremação de um caixão, representando o enterro simbólico do movimento hippie. Ocorreu nesta época a fundação do YIP (Partido Internacional da Juventude). Surgia a figura do yippie, o hippie politizado, convergindo os projetos de revolução cultural e política. Em 1969, o Festival Woodstock torna-se o símbolo desse período. Sob o lema ‘paz e amor’, meio milhão de jovens foram ao concerto que contou com a presença de dezenas dos mais conhecidos músicos da época, até hoje reconhecido como um dos maiores momentos na história da música. Esse cenário foi a gênese do Movimento pelos Direitos Civis e dos protestos anti-belicistas contra a realização da Guerra do Vietnã, havendo, em paralelo, o eclodir do Maio de 1968, na França, e da Primavera de Praga, na então Tchecoslováquia. Muitos movimentos de massa ligados à idéia de rebelião são desenvolvimentos posteriores da contracultura, como, por exemplo, o Punk. Tal quadro propiciou três eixos de movimentação: da cidade para o campo; da família para a vida em comunidade; e do racionalismo cientificista para os mistérios e as descobertas das coisas místicas. Em seu auge, bairros e avenidas tornaram-se centros de hippismo. Haight-Ashbury (em São Francisco), Sunset Boulevard (em Los Angeles), Old Town (em Chicago) ou East Village (em Nova York), além de Londres, Amsterdã e outras cidades marcadas pelo exotismo como Katmandu, Marrakesh e Cuzco são bons exemplos. Marcos Capellari12, que aborda a contracultura brasileira em sua tese (USP, 200), comenta que ela se desenvolveu num viés muito mais engajado politicamente que as demais. Ele acredita que até 1968 a juventude tinha como norte comum a derrubada da ditadura. Outras preocupações, relacionadas à subjetividade, em geral ficavam em segundo plano. Com o AI-5, em 1968, os caminhos radicalizaram-se, com uma parte optando pela luta armada, outros à


29 sociedade de consumo, um terceiro grupo deu as costas ao sistema social vigente, ainda havendo os que resolveram manter-se neutros em meio às discussões e outros que, apesar de críticos, não aderiram à ação direta. Em vez da ação positiva, nos moldes convencionais de política, explica o autor, a contracultura defende o rompimento a partir de dentro, do núcleo no interior do qual a rede cultural se fecha sobre o sujeito, a sua subjetividade, pois é ela que conserva, como um nó, a rede como um todo. “Se há o rompimento de um ponto, a rede tende a se esgarçar, sendo essa então a própria ruptura na esfera social. Trata-se, pois, de um ideal de liberdade que reclama, em primeiro lugar, a libertação do sujeito para que dela surja a libertação social como um todo. Daí o apelo exercido pelas drogas psicodélicas, por algumas vertentes da psicanálise e pelas correntes filosófico-religiosas orientais” (Op. cit; p. 96). O Brasil, nesse período, afirma Capellari, passava por um processo de modernização autoritária. A sociedade se urbanizava e, em virtude da expansão dos meios de comunicação de massa, tornava-se permeável às transformações que vinham ocorrendo na esfera dos costumes e dos comportamentos no exterior. “Era inevitável que a contracultura se introduzisse no país. E ao se introduzir sofreu a repressão do regime devido ao seu caráter subversivo, mas não só. Sofreu também a oposição de setores políticos e culturais de esquerda, para quem a contracultura era considerada uma forma de escapismo introduzido junto com outros elementos alienantes produzidos pelo imperialismo cultural.”

Na arena cultural, havia uma forte disputa entre os defensores de uma cultura nacional e politicamente engajada, simbolizada pelas propostas do CPC (Centro Popular de Cultura), e os tropicalistas, abertos às vanguardas estéticas nacionais e internacionais. Foram grandes marcos deste período a publicação do jornal ‘O Pasquim’, lançado em junho de 1969, os festivais de Arembepe-BA, em 1970, “Águas Claras”, no interior de São Paulo, em 1975, 1981, 1983 e 1984 e a formação de comunidades alternativas em diversas cidades, como, por exemplo, São Tomé das Letras-MG, Pirenópolis-GO, Trindade-RJ e Arembepe-BA.


30 1.3.2 Outras atuações artísticas e urbanas pós-Segunda Guerra As

críticas

e

processos

encampados

pelas

vertentes

da

Contracultura descritas anteriormente repercutiam nos modos usados pelos grupos engajados nelas ao lidar com proposições culturais, sociais e políticas diversas. Isso se desdobrou em formas de ação variadas que se utilizaram de linguagens artísticas, com elementos da literatura, da arquitetura, do design gráfico, da performance e do cinema para empreender suas intervenções nos espaços da cidade.

Fig. 3 – Experiência nº 3 de Flávio de Carvalho.

Flávio

de

Carvalho13

(1899-1973),

foi

um

pioneiro

nas

performances, efetuando, já em 1931 a Experiência nº 2, sendo a de nº 3, realizada em 18/10/1956, registrada amplamente pela imprensa. Nela o arquiteto questionava os padrões masculinos de vestuário evocando o passado para remeter os observadores a uma mentalidade renovada. Outra referência é o Grupo Rex, criado em São Paulo por Wesley Duke Lee, Nelson Leirner, Carlos Fajardo, José Resende, Frederico Nasser e outros, realizador de happenings. A produção de Hélio Oiticica dos anos de 1960, com obras como Parangolé, guarda relação com a performance, por sua ênfase na execução e no "comportamento-corpo", como define o artista. Ocorre nessa época, no exterior, um movimento de arte neodadaísta chamado Fluxus14, de intercâmbio entre linguagens artísticas variadas:


31 “Fluxus foi a proposta estética que mais claramente caracterizou esta multiplicidade da arte daqueles tempos. No início dos anos 1960, sob a coordenação de George Maciunas, foram organizados vários eventos nos Estados Unidos, Alemanha, França e Dinamarca, reunindo artistas de nacionalidades diversas. Fluxus significou também uma tentativa de estabelecer uma nova convicção estética capaz de reduzir a distância entre os artistas e o público, solicitando participação e empenho recíproco. Reunindo poetas, músicos, dançarinos, artistas plásticos e performers – vale citar nomes como Emmet Williams, Ben Vautier, Yoko Ono, Nam JunePaik, John Cage, Joseph Beuys, entre outros –, Fluxus foi a síntese dos entrecruzamentos estéticos, definidos por Dick Higgins como eventos intermídia.” (In: http://www.fluxusfestival.com/bw/_pdf/FLX_Catalogo.pdf. Pp. 20)

Fig. 4 – Cartazes Fluxus

Fig. 5 – Guattari e Tetsuo Kogawa, artista sonoro.


32 Este movimento unia à apresentação tradicional o som de objetos, e elementos inusitados que não eram instrumentos musicais. Um de seus membros, Nam June Paik15, nos faz pensar sobre novas possibilidades de uso dos meios tecnológicos, a refletir sobre a cultura de massa e a possibilidade de uso mais elaborado e libertador desses veículos. Ele transforma não apenas as imagens, mas o próprio aparelho televisivo em arte, incorporando-o à sua escultura. O ensinamento mais importante a tomar de Paik é que o artista deve saber olhar aos movimentos conceituais, aprender com eles e saber criar formas alternativas de expressão tomando como base a própria tecnologia que impacta as nossas vidas. Os artistas, a partir da produção desse grupo, começaram a utilizar o audiovisual, incorporando elementos multimídia, como o ambiente em que a intervenção era realizada, a temporalidade e o próprio espectador, que passava a ser evocado também como um agente do processo de criação e reflexão. Nos anos 1970, chamam atenção as propostas de Hudinilson Junior16 no grupo 3NÓS3, que até 1982 realiza intervenções artísticas na paisagem urbana de São Paulo e outras de suas obras nas quais o corpo masculino é tema recorrente. O grupo também realizou intervenções em monumentos dos bairros Sé e República da cidade de São Paulo e no túnel de ligação entre as avenidas Paulista e Doutor Arnaldo. É importante, em 1974, a apropriação dos pilares do Minhocão feita por Flávio Motta e Marcelo Nitsche, deslocando intervenções realizadas nas empenas cegas para outro suporte. Na década seguinte, devemos mencionar as eletro-performances, espetáculos multimídia concebidos por Guto Lacaz.

Fig. 6 – Guto Lacaz e Flavio Mota.


33 Neil Smith, no artigo “Contornos de uma política espacializada: Os veículos dos sem-teto e a produção de escala geográfica”17 [In: ‘O espaço da diferença’. ARANTES, Altino (organizador). Campinas: Papirus, 2000. pp. 156172.], descreve o Veículo dos Sem-Teto como uma intervenção dissonante na paisagem, projetada por Krzysztof Wodiczko, artista de Nova Iorque, exibida pela primeira vez em 1988. O protótipo foi construído a partir de consultas com semteto, sendo testado inicialmente nas ruas do Lower East Side nova-iorquino, depois em outros bairros da cidade e na Filadélfia. Passou por revisões e modificações contínuas, recebendo quatro variantes. Foi financiado por várias galerias e conselhos públicos de arte, e também pelo artista. Funciona como obra de arte crítica carregada de ironia simbólica, na medida em que é funcional e revela uma dimensão vital espacializada, a importância da escala. O projeto baseou-se no design industrial do carrinho de supermercado e proporciona o espaço e os meios para facilitar algumas necessidades básicas: transportar, sentar, dormir, abrigar-se e lavar-se. A mobilidade espacial é um problema central para as pessoas expulsas dos espaços privados do mercado imobiliário. Sem um lar ou guarda-volumes para deixar suas posses, é difícil andar pela cidade, pois é preciso carregar todos os seus pertences consigo. No final da década de 1980, Nova Iorque tinha estimativas de sem-teto entre 70 a 100 mil pessoas, de 1 a 1,4% da população da cidade. Muitos passaram a usar carrinhos de supermercado ou carros de lona do correio para carregar suas coisas e os materiais que podiam trocar nas centrais de sucata. Wodiczko pensou no compartimento de baixo para carregar pertences. O de cima revezaria funções. Em três seções drapeadas com encerado de plástico pesado, quando expandido esse compartimento forma uma área de dormir. Não é um lar, mas um 'bem imobiliário ilegal', segundo Papo Colo (1990), uma "arquitetura provocada pela pobreza, a indicação de fuga, de recuo, ou invasão e ataque". ‘Com a aparência de um instrumento militar-industrial de alta precisão, um míssil, expressa o absurdo e obscenidade sociais da falta de moradia disseminada no coração do capitalismo, na medida em que é rigorosamente funcional. A utilidade prosaica da ponta cônica contrasta abruptamente com o desperdício patológico de


34 ‘Com a aparência de um instrumento militar-industrial de alta precisão, um míssil, expressa o absurdo e obscenidade sociais da falta de moradia disseminada no coração do capitalismo, na medida em que é rigorosamente funcional. A utilidade prosaica da ponta cônica contrasta abruptamente com o desperdício patológico de recursos no orçamento militar dos EUA, como se mostrasse que há mais utilidade social numa simples bacia que em todo arsenal de lixo high-tech. O carrinho torna-se um símbolo para conduzir a vida cotidiana. Expressa e expõe as relações de poder que definem a situação dos sem-teto.’ (SMITH, 2000. Op. Cit., p. 162)

1.4 Ideários alternativos ao funcionalismo Aldo van Eyck18 construiu seu primeiro playground em Amsterdam no ano de 1947, em Bertelmanplein. Vários outros se seguiram, num experimento espacial que marcou uma geração. As cidades estavam arrasadas, carentes de infraestrutura, sendo de natureza privada os poucos playgrounds existentes. Em 1952, foi chamado a fazer parte do Departamento de Desenvolvimento Urbano da cidade, gerando cerca de setecentos equipamentos similares até 1978. Sua experiência o tornou um dos mais fervorosos críticos do funcionalismo, tendência dominante no CIAM até então, argumentando que a arquitetura devia promover as interações sociais. Surgiu, a partir da movimentação de profissionais com opinião semelhante, o Team X, que buscava substituir os velhos princípios arquitetônicos por práticas mais participativas e pelo uso de peças modulares. Jan Gehl, em entrevista ao documentário ‘Urbanized’, declara: “Eu acho que uma boa cidade é uma boa festa. Se você perguntar a um cara que foi a uma boa festa na sexta-feira, ele dirá 'Eu só fui chegar em casa às 5:30 da manhã.' Se as pessoas se envolverem em atividades sociais, elas vão esquecer o tempo e o lugar e irão apenas apreciar. Por isso é que eu digo: Não olhem para quantas pessoas estão andando na cidade, mas olhe quantas pessoas pararam de andar para ficar e desfrutar o que há. (...) Devemos questionar: O que o design irá realmente bagunçar aqui? O que, através do design, você vai anestesiar, você vai destruir?” Enfatiza também a necessidade de cidades que possibilitem facilidades ao caminhar dos pedestres em geral e ao uso dos transportes não-motorizados. Lefebvre diz:


35 “A própria cidade é uma obra, e esta característica contrasta com a orientação irreversível na direção do dinheiro, do comércio, das trocas, dos produtos. A obra é valor de uso e o produto é valor de troca. O uso principal da cidade, isto é, das ruas e das praças, dos edifícios e dos monumentos, é a Festa (que consome improdutivamente, sem nenhuma vantagem além do prazer e do prestígio, enormes riquezas em objetos e em dinheiro).” (Op. Cit., p. 8)

Estamos diante de vários termos de relações complexas, definíveis, mas não esgotadas, por oposições. Existe a urbanidade e a centralidade, antiga, renovada, donde se deseja passar da análise para uma síntese, das constatações para um projeto (ao "normativo"). Será necessário (o que significa esse termo?) deixar que o tecido prolifere espontaneamente? É conveniente capturar essa força, orientar essa vida estranha, selvagem e fictícia ao mesmo tempo? Como fortificar os centros? Isso é útil? É necessário? Que centralidade? Que fazer das ilhas de ruralidade? Se entrevê, através dos problemas distintos e do conjunto problemático, a crise da cidade, teórica e prática. Na teoria, o conceito da cidade (da realidade urbana) compõe-se de fatos, de representações e de imagens emprestadas à cidade pré-capitalista em curso de transformação e de nova elaboração. O núcleo urbano está rachando, e consegue se manter, mesmo deteriorado, às vezes apodrecendo, sem desaparecer. Não cedeu seu lugar a uma realidade nova, tal como a aldeia deixou a cidade nascer. No entanto, seu reinado parece acabar, a menos que se afirme mais fortemente como centro de poder. Francesco Careri19 nos alerta quanto à importância de observar e potencializar as relações das bordas com o conjunto da cidade. Ele questiona as relações entre indivíduos e territórios ao enfatizar quão importante é ver o que acontece fora, nas ruas: o corpo a transformar as cidades. A pesquisa de campo usando a ferramenta do deambular serve para ativar processos, redescobrir pontos fundamentais, e muito sérios, da nossa organização de memória e leitura. Ela deve ser reterritorializada ao ser posta à disposição dos participantes e das pessoas que serão atendidas para receber feedbacks. Caminhadas com fins relacionados a arquitetura, pesquisa e ensino, tocam em variantes como metodologia, projeto e indeterminação.


36 que serão atendidas para receber feedbacks. Caminhadas com fins relacionados a arquitetura, pesquisa e ensino, tocam em variantes como metodologia, projeto e indeterminação.

Em consonância com esse argumento, Paolo Perulli20 (PERULLI,

2012) expõe a importância da permeabilidade entre os públicos das zonas da cidade para um bom convívio ao permitir experiências de reconhecimento e de encontro entre diferentes. O autor enfatiza a noção de limite como caracterizadora da identidade local, sendo gerada por acordo ou imposição entre partes. 1.5 Apropriações recentes dos saberes lúdicos As práticas exercidas pelos grupos de letristas, situacionistas e artistas

de

performance

estabeleceram

nas

gerações

contemporâneas

e

posteriores a eles a percepção de que os espaços livres da cidade podem e devem ser usados para atividades lúdicas. Com isso, vemos atualmente ampla difusão da atuação clownesca nas calçadas e vias pedestrianizadas das cidades brasileiras. Ocorrem também experiências de happenings agendadas por redes sociais, sob a denominação de flashmobs, eventos alusivos às culturas asiáticas e a outros povos latino-americanos em vias públicas e parques municipais, saraus e piqueniques em praças, encontros para dança nas calçadas, ocupação de áreas em edifícios de instituições públicas por grupos de ensaio das práticas de canto, dança e composição musical e poética. São pessoas das mais diversas idades e origens que se empenham nessas variadas práticas. Todas essas atividades podem ser interpretadas como expressão do desejo coletivo do público da cidade por espaços que acolham melhor essas ações, dando-lhes suporte físico e simbólico.


37


38

CAPÍTULO II

ESTUDOS DE CASO


39

CAPÍTULO II 2. ESTUDOS DE CASO

Os estudos de caso adotados foram selecionados a partir da afinidade com metodologias de abordagem do território urbano percebidas nos grupos atuantes no contexto da Contracultura, percebendo-se metodologia como caminho ou via para a realização de algo. Foram selecionados os grupos “Bijari” Urbana’

22,

“Movimento Boa Praça”

23

21,

‘Acupuntura

e ‘A Batata Precisa de Você!’24.

2.1 A cidade como tela: campo aberto e caos O primeiro eixo de análise dos grupos é a forma como eles usam a cidade como moldura e suporte para as situações e contextos criados por suas práticas. “Enquanto a arquitetura modernista organizava o espaço, impedindo a revolução, os situacionistas viam o espaço urbano, em seu aparente caos, como o campo profícuo para o desenvolvimento de uma arquitetura capaz de incentivar relações pessoais que impelissem os homens para contestação e a revolta, tirando-os da passividade e alienação. Os situacionistas chegaram então a uma convicção exatamente oposta àquela dos arquitetos modernos. Enquanto estes acreditavam, em um primeiro momento, que a arquitetura e o urbanismo poderiam mudar a sociedade, os situacionistas estavam convictos de que a própria sociedade deveria mudar a arquitetura e o urbanismo.” (RAMOS, Eduardo. Situacionismo – Forma atual de resistência. In: http://outraspalavras.net/posts/ situacionismo-forma-atual-de-resistencia/)


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Fig. 7 – Lema Bijari.

Fig. 8 – Ocup(a)cão Bijari Pelotas-RS.

O grupo Bijari se apropria dos espaços abertos como suporte para trazer questões relacionadas ao futuro das cidades e aos impactos da presença humana no espaço. Que rastro deixamos após nossa presença? O que a vida em multidão anestesia em nossas consciências individuais? Quais são as camadas reprimidas por nossas máscaras sociais? Como podem elementos arquitetônicos lidar essas nossas camadas de (in)consciência? Como introduzir noções de cidad(e)ania às pessoas em geral? O ‘Movimento Boa Praça’ enfatiza a potência dos indivíduos conscientes das dinâmicas desencadeadoras das transformações da paisagem urbana ao seu redor em influenciá-las positivamente. Alguns mais experientes iniciam atividades, capacitando outros a exercê-las futuramente, sejam elas oficinas, workshops, rodas de leitura ou debates sobre legislação, formando uma escalada rumo a objetivos em tomados e tornados em comuns, referentes às praças e outras áreas livres dos bairros em que atua. A idéia é que as pessoas possam se conhecer, curtir um bom momento ao ar livre e pensar no bairro e na cidade que querem, reconhecendo-se como uma comunidade, gerando uma cidade mais humana e segura.


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Fig. 9 – Mapeamento afetivo Acup. Urbana

Fig. 10 – Ocupativação Acup. Urbana

“Acupuntura Urbana” é uma equipe que busca sensibilizar o público com relação ao convívio entre cidadãos nas áreas livres. Corroboram que, antes de existirem no mundo fisicamente, todos os espaços públicos ou privados são construídos primeiramente no campo afetivo. Por isso, consideram essas memórias, reconhecendo e validando as pessoas a eles relacionados como seus criadores e co-responsáveis por sua existência e eficiência no mundo, resgatando, valorizando e conectando o sentimento que transforma um espaço em lugar. ‘A Batata Precisa de Você!’ é formado por moradores e freqüentadores do Largo da Batata, dispostos a transformá-lo em um espaço de estar, não apenas de passagem, em mobilização para transformação do espaço. Busca fortalecer a relação afetiva da população local com o Largo evidenciando os potenciais do espaço. Testa possibilidades de ocupação e reivindicação, concretização social e urbana propositiva em canal aberto de diálogo com os gestores públicos, cidadãos e associações. 2.2 Linhas críticas: redesenhando os espaços livres Enfatiza-se nesse item a observação das intenções subjetivas que permeiam a atuação dos coletivos urbanos analisados. Enquanto o coletivo Bijari adentra o espaço com temas polêmicos, da ordem do dia, chamando as pessoas a ações mais incisivas e marcantes, os outros três destacam mais os processos que permeiam

os

relacionamentos

e

atitudes

dos

cidadãos,

o

reconhecimento entre diferentes pela busca de objetivos em comum.

encontro

e


42

Fig. 11 – Cartilha Ocupe Lgo. Batata Fig. 12 – Logo ‘A Batata Precisa de Você’

2.3 Entrando em ação: metodologias de abordagem do território As abordagens relacionam as práticas artísticas com discussões em torno da cidadania, apropriação e uso dos espaços livres da cidade. Enfatizam as questões cidadãs os grupos “Movimento Boa Praça” e ‘A Batata Precisa de Você!’. Os coletivos “Acupuntura Urbana” e ‘Bijari’ se voltam às relações comunicativas possibilitadas por práticas artísticas. O Bijari observa questões urbanas, examina os meios que as apresentam, define os elementos subjetivos a enfatizar, partindo depois para a definição do suporte físico e da ação no território abordado. Acupuntura Urbana pauta-se por três pilares: -Mapeamentos afetivos: Diagnósticos urbanos de resgate das memórias e belezas dos lugares, valorizando as pessoas e a identidade local; -Transform(a)ções urbanas: Processos de modificação de espaços públicos da cidade que promovem a conexão entre pessoas e criam comunidades pela realização de sonhos comuns de forma cooperativa; -Ocupativações: Atividades que promovem a consciência coletiva, a criatividade e o cuidado com a cidade, estimulando a interação e o fortalecimento de laços entre as pessoas. O Movimento Boa Praça realiza encontros quinzenais com assembléias e piqueniques, acompanhados de atividades artísticas conduzidas por oficineiros


43 facilitadores dos processos. As rodas de conversa geram um calendário de ações empreendidas pelo grupo e moradores dos bairros de atuação. 2.4 A O mobiliário urbano nos grupos A ênfase na elaboração de mobiliário tem diferentes graus nos coletivos aqui tratados. Acupuntura Urbana o elabora principalmente em suas Transform(a)ções Urbanas, estratégias de modificação física dos espaços pelos moradores e frequentadores da vizinhança em que a ação transcorre. Em outros momentos monta estruturas temporárias para um evento inicial com as pessoas da localidade, seguido de processos psicogeográficos. O Movimento Boa Praça emprega a criação de objetos como veículo transformador do convívio que se desenvolve nos bairros entre os moradores, bem como deles com a vizinhança imediata e a paisagem urbana. São elaboradas readequações aos bancos já existentes, novos parques infantis e elementos de bioconstrução para o aprimoramento paisagístico e proteção das nascentes encontradas. A Batata tem os mobiliários como suporte à cidadania no meio urbano,

convite

ao

encontro

e

celebração,

num

processo

contínuo

de

aprimoramento de relações. Bijari trata esse tema como canalização e explosão de questões, manifesto vivo atuante em conjunto com as forças humanas criativas.

Fig. 13 – Bancos Movimento Boa Praça

Fig. 14 – Sistema de adequação de bancos, por Mov. Boa Praça


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45

CAPÍTULO III

O OFICINANTE Participações pessoais em oficinas de elaboração de mobiliários urbanos


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CAPÍTULO III 3. PARTICIPAÇÃO PESSOAL EM OFICINAS DE ELABORAÇÃO DE MOBILIÁRIO URBANO


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Fotos desta página: Atividades das oficinas. Créditos: Páginas Facebook dos grupos, João Salgado e zoourbano.com.br

3. PARTICIPAÇÃO EM OFICINAS DE ELABORAÇÃO DE MOBILIÁRIO Como preparação paralela à elaboração de oficinas voltadas a projetar mobiliários urbanos, participei de iniciativas nesse sentido desenvolvidas por agentes diversos: Instituto Goethe, Sesc Interlagos, Companhia Mungunzá Teatro de Conteiner, Alex Tonda e João Salgado, Wikipraça Arouche, Zôo Urbano (Acupuntura Urbana) e PDC Urbano (Permasampa + Casa da Cidade). Para delinear a leitura dessas atividades, bastante variadas entre si, foram estruturados cinco eixos de observação: o território; os atores nele; as intenções da atividade; modo de realizar o processo; escolha sobre materialidade e forma. 3.1 O território Houve bastante variedade na abordagem da noção de território nas oficinas em que fui oficinante: No Instituto Goethe um trecho pouco ativado do terreno em que se instalou o instituto, no bairro de Pinheiros, foi o mote para a elaboração do Laboratório Zona da Mata, um projeto de fomento à prototipagem de práticas urbanas encampada pelo coletivo Lanchonete.org e por artistas plásticos no intuito de estimular a realização de ações desse tipo por grupos autônomos da capital. Os fundos do estacionamento da instituição passaram a abrigar ações diversas, como aplicações de letrismos em paredes, ensino do cultivo doméstico de pequeno porte, palestras e workshops por ativistas e coletivos nacionais e estrangeiros. No Sesc Interlagos a delimitação foi especificada para o playground infanto-juvenil, reconfigurando o uso já existente. Na Companhia Mungunzá seu quintal era o campo de ação, abrindo relação mais franca com a vizinhança pela implantação da peça. Alex Tonda e João Salgado deixaram a cargo dos participantes o local de implantação do objeto. O Wikipraça Arouche visava interações no território específcio do Largo do Arouche. Zôo Urbano ocupou um trecho do parque Ibirapuera. O PDC Urbano focou em transformar uma área de agricultura urbana em São Miguel Paulista.


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Fotos desta página: Atividades no quintal do Instituto Goethe oferecidas pelo Laboratório Zona da Mata. Créditos: Páginas Facebook do Laboratório Zona da Mata.

3.2 Os atores No quintal do Goethe interagiam o corpo administrativo da instituição, os coletivos Lanchonete.org e Muda, o arquiteto Van Bo Le-Metzel como oficineiro, além dos público freqüentador da programação institucional e pessoas direcionadas especificamente às ações. No Sesc Interlagos as relações se davam entre a instituição, o grupo australiano Hubbub Music, os participantes da oficina e os usuários das peças geradas. Na Cia Mungunzá participaram da atividade membros da trupe, moradores do entorno, a oficineira Nena Alava e pessoas que tomaram conhecimento do workshop através de redes sociais. O workshop Krat contemplou apenas alunos matriculados no bacharelado em Design Industrial do Senac. No Wikipraça Arouche estavam em contato moradores, jovens de bairros distantes, grupos LGBT, ONG´s, associações da sociedade civil, ativistas do direito à cidade, comerciantes, setores do poder público e outros freqüentadores. Zôo Urbano envolveu voluntários na elaboração da peça em seu galpão, sendo esta levada ao contato dos freqüentadores do parque Ibirapuera. No PDC Urbano alunos do curso de permacultura interagiam com agricultores, agentes ambientais, associação de moradores e tutores das atividades.


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Fotos desta seção: Atividades no workshop Hubbub no Sesc Interlagos. Créditos: Página Facebook Hubbub Music.

3.3 Intenções No quintal do Goethe a pretensão foi de gerar uma área para atividades ao ar livre, permitindo apresentações artísticas e sessões de filmes. Estimulou-se a percepção de elementos lúdicos e sensoriais na configuração dos espaços de convívio (cheiros, texturas, posturas possíveis e interações geradas pelas peças montadas para o local). No Sesc Interlagos buscou-se observar as qualidades sonoras de objetos e sua interação com outros a partir de arranjos feitos com equipamentos nãotípicos da fabricação de instrumentos. Ativou-se à ludicidade do processo criativo ao testar continuamente as peças geradas (por batidas, sopros e modificações de configuração).


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Fotos desta seção: Atividades nas oficinas Wikipraça no Largo do Arouche. Créditos: Página Facebook Wikipraça Arouche.

Na Cia Mungunzá determinou-se como objetivo a montagem de uma geodésica a partir de canos de PVC nas dimensões e quantias adequadas. Foi demonstrado como o objeto pode ser mais facilmente montado por mulheres e crianças, visto essas não mortificarem tão frequentemente quanto os homens as percepções mais sensíveis. Outra prentensão é propiciar, com esse objeto, a realização de atividades culturais voltadas aos transeuntes. Tonda e Salgado trataram sobre a transformação de caixas de transporte de mercadorias em objetos de design pela leitura adequada dos materiais, investigando-se suas possibilidades espaciais, estruturais e plásticas. Dentre as várias atividades realizadas pelo Wikipraça Arouche, a oficina de mobiliários buscou estabelecer objetos icônicos desta ocupação territorial, marcando a possibilidade de convívio entre os diferentes públicos e a confluência de objetivos em um grupo constituído por iniciativas bem diversificadas, disponibilizando os conteúdos elaborados em templates e sites da internet. O mobiliário do Zôo Urbano no Parque Ibirapuera buscou gerar manifestações espontâneas dos transeuntes quanto a entregar garrafas para reciclagem e depositar no reservatório, onde seria o bico da coruja, bilhetes registrando sonhos pessoais e desejos para a cidade. As atividades do PDC Urbano buscaram transformar o modo que moradores do bairro lidam com o uso do espaço público e de materiais vernaculares para construção de edificações e equipamentos domésticos ou públicos, atendo-se às questões de sustentabilidade e economia circular. 3.4. Processo No quintal do Goethe foi realizado um relaxamento físico inicial. Após esse momento os presentes foram convidados a caminhar pelo espaço não pavimentado do terreno, recolhendo cascas, galhos e folhas da vegetação existente caídos pelo chão. No momento seguinte solicitou-se a montagem de volumetrias que aludissem à idéia de conforto e abrigo que cada um apresenta. Foram escolhidas três dessas criações como norteadoras das peças a construir. A partir delas foi solicitado que cada um anotasse uma sugestão de nome para o projeto. A partir do nome escolhido dentre esses e das volumetrias planejou-se os tipos e dimensões de peças a construir.


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Fotos desta seção: Atividades na oficina “Cadeira Krat”. Créditos: João Salgado.

O grupo Hubbub Music operou no Sesc Interlagos a partir da percepção do lúdico relacionada com a leitura dos materiais, dinamicamente tratando da geração de notas musicais em objetos do cotidiano: garrafas PET, rodas de carro em tamanhos diversos, peças de motor de veículos e canos em diferentes comprimentos. Isso foi realizado a partir de ferramentas não-típicas do fabrico de instrumentos musicais, mas de cozinha ou serralheria (facas, brocas, maçaricos e serras). Usaram predominantemente gestos para indicar os passos de elaboração e afinação, em vista de serem músicos e não falarem o idioma português. Na Cia Mungunzá foi apresentada uma apresentação teórica sobre o tema das geodésicas, seguida de exemplos da realização da montagem. Depois passou-se à prática de amolecer e pressionar os canos, depois resfriando-os para poder realizar os furos. Seguiu-se a montagem a partir de grupos de peças encaixadas simultaneamente, partindo do topo para os apoios das laterais. O workshop com Alex Tonda e João Salgado tinha uma proposta fechada de produção seriada, mostrando o modo adequado de usar as ferramentas em relação às madeiras e a importância da colagem acompanhar a colocação de parafusos e o bom posicionamento das partes. No Wikipraça Arouche o padrão das oficinas foi decidido em assembléia realizada dez dias antes de iniciá-las. Optou-se por trabalhar a partir da transposição da forma de letras para formar bancos que receberiam os participantes das atividades mediadas (orientadas) no largo e um maior, destinado ao uso contínuo dos freqüentadores. Também foram realizadas uma rede que parasitava os vasos da praça e uma namoradeira. Essas duas peças foram retiradas por moradores que alegavam serem elas estímulos a despudores e à presença de moradores de rua. A elaboração da Coruja dos Sonhos para o Zôo Urbano foi realizada por voluntários coordenados pelas três arquitetas do grupo Acupuntura Urbana


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Fotos desta seção: Ações durante curso PDC Urbano Créditos: Marjory Mafra e o autor..

em sua sede, um espaço compartilhado denominada Fazedoria, no Bom Retiro, bairro do centro paulistano. Elas pintaram e posicionaram previamente as caixas, cabendo aos voluntários a fixação e decoração dessa estrutura com peças de artesanato e a escrita de frases aludindo ao tema escolhido. As ações do PDC foram parte do curso sobre design permacultural ministrado no Instituto Casa da Cidade, no bairro Vila Madalena. Constituído em três módulos mensais, de uma semana cada, com aulas teóricas e atiividades no território de foco desta edição, além de ações específicas em outros pontos da capital paulista como aprimoramento da compreensão de processos e técnicas a aplicar no projeto principal. Durante as aulas foram elaboradas propostas de mobiliário e outras espécies de intervenção pelos grupos envolvidos. Tais projetos foram apresentados a todos no final do terceiro módulo, formando-se atualmente um grupo de voluntários para filtrar e validar propostas levantadas, viabilizá-las e implantar no território. 3.5 Materialidade e forma O Laboratório Zona da Mata do quintal do Goethe tinha como materiais alguns móveis em desuso da lanchonete instalada no terreno e doações de madeira dum palco desmontado em uma unidade do Sesc e doadas por um coletivo que percorreu caçambas no centro da capital paulista. A partir das volumetrias eleitas geraram-se processos de encaixe de elementos dos objetos reaproveitados, gerando vários padrões de assentos, e a estrutura de um palco a ser preenchido com as madeiras já doadas.


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Coruja dos Sonhos elaborada pelo grupo Acupuntura Urbana para o Parque Ibirfapuera. Créditos: fb.com/zoourbano

O Hubbub Music trabalhou com materiais de fácil acesso em centros de reciclagem e oficinas mecânicas. As formas foram arranjadas de modo semelhante aos instrumentos fabricados tradicionalmente. Geraram-se xilofones, uma bateria com as rodas de carros e baquetas de pedaços de caixas, uma flauta de sopro para chão, e uma seqüência vertical auxiliar do xilofone composta por garrafas PET munidas de pino para bicicletas nas tampas, cheias com diferentes pressões de ar para gerar a variação da escala musical. Na Cia Mungunzá a materialidade e a forma eram previamente determinadas, estimulando-se a percepção delas durante a montagem pelo processo conjunto de realização dos encaixes. Na montagem da cadeira Krat, com Alex Tonda e João Salgado, a materialidade e a forma eram pré-definidas e bastante determinantes de todo processo. No Wikipraça Arouche a materialidade foi determinada pelo processo escolhido para elaboração dos itens a partir das experiências já realizadas pelos participantes em outros contextos. A forma seguiu o conceito de Re-Abecedário Urbano, letras feitas de material reciclado, para constituir a palavra ‘Wikipraça’ em sua apresentação conjunta. Zôo Urbano usou caixas coletadas numa feira livre como partido da elaboração, organizadas de modo a receber a coleta de garrafas usadas pelos frequentadores. O PDC Urbano deixou a cargo dos alunos a opção por padrões construtivos e de caracterização da área a receber a proposta.


54 Aspecto

GOETHE

HUBBUB

MUNGUN -ZÁ

KRAT

WIKIPRAÇA

ZÔO

PDC

Território

Fechado

Fechado

Fechado

Aberto

Fechado

Fechado

Fechado

Atores

Aberto

Aberto

Aberto

Fechado

Aberto

Aberto

Aberto

Intenções

Fechado

Fechado

Fechado

Fechado

Aberto

Fechado

Aberto

Processo

Aberto

Fechado

Fechado

Fechado

Aberto

Aberto

Aberto

Materialidade e forma

Aberto

Aberto

Fechado

Fechado

Aberto

Aberto

Aberto

3.6. Análise: A participação nessas oficinas proporcionou a percepção da necessidade de adequação de qualquer proposta de intervenção física nos espaços públicos aos contextos específicos aos quais ela está relacionada. O mobiliário urbano aparece nessas ações de transformação territorial como agente agregador da carga simbólica das intenções dos fomentadores desses processos. A determinação das dinâmicas de realização deve incluir a transmissão de noções de cidadania, adequação técnica, melhoria na relação entre os atores presentes no território que recebe o processo, prioridade ao uso de energias e recursos já presentes para que se evite gastos financeiros elevados e desperdício de tempo, evitando desagregar esforços e causar desentendimentos entre partes.


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CAPÍTULO IV

O OFICINEIRO

Orientação de oficinas voltadas à elaboração de mobiliário urbano


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4.1. QUEBRADA SUSTENTÁVEL / VIVEIRO ESCOLA UNIÃO DE VILA NOVA, SÃO MIGUEL, SÃO PAULO

O projeto Quebrada Sustentável, também conhecido por Viveiro Escola União de Vila Nova, localiza-se em São Miguel Paulista, bairro da Zona Leste paulistana. É resultante da decisão de moradores do bairro, tomada há oito anos, de ocupar um terreno restante do loteamento residencial realizado pela CDHU, no qual se depositavam lixo e entulho, com práticas de agricultura urbana, recreação infanto-juvenil e processos de geração de renda aos habitantes locais, como por exemplo a fabricação e venda de cosméticos naturais orgânicos por moradoras, além da feira semanal de hortaliças orgânicas gerida pela Cooperativa de Agricultura Urbana da Zona Leste. Tem sua gestão realizada pelo coletivo Nova União da Arte (NUA), composto por cerca de vinte moradores do bairro, com sede social localizada em via próxima ao Viveiro. É mantido por convênio realizado com a CDHU, doações recebidas de empresas e particulares, além da realização de cursos ministrados por terceiros usando seu espaço físico. Fotos desta seção: Espaços do Viveiro e coleta de materiais em Ecoponto. Créditos: Vinícius de Moraes


57 Um articulador social intermedia as práticas desenvolvidas nele. Sua presença no bairro estimulou o surgimento de outras iniciativas ambientalmente sustentáveis ao redor (hortas privadas, plantio em jardins públicos e adoção de cisternas). O mobiliário é parte da conformação e legitimação das atividades e dinâmicas sociais desenvolvidas pelos agentes do coletivo (agricultores, cozinheiras, artesãos, luthiers, permacultores, assistentes sociais e voluntários) no contexto microcósmico, como ação motivadora de transformações das atitudes dos moradores quanto aos recursos locais, e no macrocósmico, ao servir de ponte à educação ambiental e social. 4.1.1. Estímulos As motivações do grupo em qualificar melhor o espaço para receber cursos variados e atividades infanto-juvenis, além do tipo de materiais e instrumentos disponíveis localmente direcionaram a seleção dos materiais de estímulo.

Fotos desta seção: Estímulos para atividades no Viveiro União de Vila Nova. Créditos: http://www.madeireiralokal.com.br/ http://cidade-sao-paulo.iclaz.com.br/


58 4.1.2. Processo Foram necessárias reuniões prévias com participantes freqüentes das ações do coletivo para determinar as intenções iniciais na criação das peças, envolvimento pessoal na busca de materiais destinados à sua realização junto a estudos sobre aplicação dos mesmos, mobilização de contatos particulares e convencimento quanto a aquisição de ferramentas pelos articuladores. Para convidar interessados, houve o envio de convites na página das entidades nas redes sociais, contatos por WhatsApp, além de se efetuar telefonemas para pessoas que já tomaram parte em outras atividades já realizadas no local. No início dos dois dias de atividade ocorreram estímulos à interação entre os participantes, com apresentação pessoal, práticas de relaxamento e canto coletivo. No primeiro foram apresentados desenhos de peças já fabricadas e explicações sobre a estrutura das mesmas e dos materiais coletados. Após esse esclarecimento inicial trabalhamos com croquis em sulfite, passando às instruções sobre as ferramentas e à articulação dos materiais: gradis envoltórios de cargas, pallets, bobinas de madeira usadas por empresas elétricas e pranchas de madeira. As demandas manifestas motivaram os seis participantes à opção por gerar brinquedos, assentos e mesas nos dois dias da ação.

Fotos desta seção: Etapas das atividades no Viveiro União de Vila Nova. Créditos: do autor.


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4.1.3. Peรงas finalizadas

GANGORRA BOBINA

Foto do autor.


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COMENTÁRIOS SOBRE A PEÇA:

A elaboração da peça foi pensada a partir da disponibilidade de uma bobina de fiação elétrica. Na peça ela exerce a rotação do movimento. A largura da tábua central permite facilidade de acomodação. Porém, a falta da pega na extremidade pode trazer dificuldades a alguns de seus usuários. A fixação central pode sofrer danos em prazo médio, necessitando-se atenção periódica quanto às condições de uso do brinquedo.


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BANCO PALLET-ESTRADO

Foto do autor.


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COMENTÁRIOS SOBRE A PEÇA:

A decisão quanto aos encaixes das extremidades dessa peça partiu da redução no prazo de execução. Por isso, foram aproveitados elementos já afixados em armações, nos quais adicionaram-se parafusos nos ângulos das peças. A lateral mais grossa do pallet permaneceu por ausência de ferramentas adequadas a sua retirada sem danificar partes, além de permitir a fixação do tampo do assento também por parafusos na horizontal, tornando a peça mais robusta.


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BANCO CAVALETE

Fotos: do autor e Rodrigo Reis


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COMENTÁRIOS SOBRE A PEÇA:

A voliumetria da peça veio da observação de arranjos feitos por voluntários do Viveiro para exercer atividades em certas alturas. Foi pensado inicialmente em uma peça cujas laterais pudessem ser articuladas por dobradiças. Porém, verificou-se que isso poderia causar diferenças incidentais no posicionamento dos apoios, gerando perigo a quem usasse. Sendo assim, a madeira central dos estrados que constroem o apoio foi substituída por uma viga longa. A junção superior é realizada por peça em madeira de seção triangular posta entre os topos de cada lateral.


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MESA APARADOR

Fotos: Andréa Conard e o autor.


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COMENTÁRIOS SOBRE A PEÇA:

O início da elaboração dessa mesa foi o fechamento de um módulo estreito de pallet. Os encaixes usados nela foram tomados de processos de luthieria aprendidos pelo voluntário que executou maior parte de seus processos de elaboração das pernas e trava central. Foi pensada para a venda de pães e cosméticos artesanais fabricados pelas agricultoras atuantes no espaço.


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SUPORTE INFANTIL

A

TEATRO

Fotos: Vinícius de Moraes.


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COMENTÁRIOS SOBRE A PEÇA: Os volumes dessa peça foram direcionados à execução de teatro de bonecos por e para crianças. Os retângulos das laterais e pontas superiores podem receber tecidos e outros enfeites pendurados para constituir a cenografia. Suas prateleiras à frente serve como banco nos demais momentos.


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4.2. KUIN STARTUP SOCIAL, PARQUE TRIANON, SÃO PAULO

Fotos desta seção: Coleta de papelões por sócio da Kuin Empreendedorismo Social; apresentação musical durante a oficina Kuin; esclarecimento sobre elaboração de mobiliário. Créditos: J C Gonçalves

Atentar-se aos ciclos dos materiais dentro do meio ambiente, à minimização de seus impactos pela adoção de práticas que facilitem sua decomposição e processamento pela natureza e ao reaproveitamento de itens provenientes das atividades humanas foi a temática recorrente nas discussões realizadas pelos membros da empresa startup social Kuin para formatar o evento que deveriam apresentar a um possível investidor. Os participantes acolhidos nele trouxeram oficinas relacionadas aos questionamentos sobre os padrões da vida urbana recorrentes nos últimos anos, sendo, por essa razão, presentes também nas elaborações dos coletivos urbanos. Por esse motivo, optou-se pelo emprego, nesse evento, do reuso de papelões coletados em lojas das proximidades da avenida Faria Lima para realização da montagem das peças.


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O Parque Trianon foi escolhido para acolher a iniciativa por ser um dos poucos resquícios de Mata Atlântica na área urbana da cidade, oportunizando a reflexão sobre práticas voltadas à sustentabilidade econômica, ambiental e social. A competição entre startups tinha prazo curto para demonstrar ações neste viés: somente o intervalo entre as catorze e as dezenove horas de um domingo. Nela o mobiliário demonstra possibilidades de ocupação e uso do espaço público a partir das indagações sobre responsabilidade social, os tipos e naturezas das permanências no cenário urbano mutante e as elaboração de modos de ocupação temporária em áreas adensadas da urbe. 4.2.1. Estímulos Da minha parte foram levados como estímulos uma peça já realizada anteriormente, que serviu para elucidar o público presente quanto a função das dobras na estruturação da peça, e imagens impressas de outras disponíveis comercialmente, mostrando possíveis tipologias de preparo. Foi dado um esclarecimento inicial sobre escolha de materiais, instrumentação e traçado das peças.

Fotos desta seção: Repertório voltado ao uso de papelão para mobiliários. Créditos: http://www.mercadolivre.com.br http://pinterest.com


76 4.2.2. Processo A equipe Kuin encarregou-se da coleta de papelões para montagem dos mobiliários e de providenciar estiletes e marcadores. O contato com os organizadores foi bem breve, definindo as ações em duas conversas via rede social. Uma das condições da ação desenvolvida era de que nenhuma preparação prévia fosse realizada no espaço físico escolhido, havendo apenas um intervalo de quatro horas do começo ao final de todas as dinâmicas selecionadas. No início foram realizados cantos xamânicos, danças circulares e uma rodada de apresentações pessoais, passando-se depois às oficinas específicas. Em virtude da escassez de prazo e da participação de somente quatro dos presentes na atividade, optou-se por elaborar um módulo de assento para detalhamento futuro. Traçamos croquis das linhas estruturais das peças durante alguns minutos, passando em seguida ao corte dos materiais e montagem dos encaixes. Isso oportunizou agir a partir dos reduzidos recursos disponibilizados e perceber claramente as propriedades deles como potencial gerador, não um limite à criação, mesmo sem haver desenho anteriormente definido.

Fotos desse seção: Aspectos da oficina realizada no Parque Trianon e peça finalizada Crédito: J. C. Gonçalves.


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4.2.3. Peรงa finalizada

BANCO GRID


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COMENTÁRIOS SOBRE A PEÇA: Esta peça foi pensada para facilitar seu transporte aos pedestres que comparecem nos calçadões da avenida Paulista e no interior do Parque Trianon desejando maior variedade de pontos de acomodação. Os encaixes na parte superior em chanfros de 10 cm de profundidade permitem acomodar uma pessoa sobre ele. A distância entre os quatro pés paralelos causa leve instabilidade, que pode sere solucionada pela repetição do encaixe superior na parte que se apóia no piso.


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4.3. CURSINHO PRÉ-VESTIBULAR COMUNITÁRIO, BAIRRO DOS PIMENTAS, GUARULHOS

A instalação de um cursinho comunitário nesse bairro de Guarulhos na última década é fruto da atuação de lideranças comunitárias. Um desses líderes foi eleito vereador na atual legislatura. O grupo é formado por voluntários residentes nas imediações, além de outros por eles contatados. As aulas ocorrem à noite e nos finais de semana. Alguns dos alunos constituíram um grupo de agentes ambientais, realizador de processos de reciclagem de lixo seco, horta, compostagem, coleta de óleo doméstico, palestras para alunos das escolas públicas e dos centros comunitários próximos, saraus e outras atividades culturais. Vários de seus professores são ex-alunos da unidade. A gestão é colegiada, sendo membros professores e alunos. O mobiliário instrumentaliza as atividades dos agentes ambientais ao fornecer meios de interação entre as atividades deles e os habitantes do bairro, além de propiciar áreas de aprendizado prático aos alunos do cursinho e realização de aulas com processos mais dinâmicos. Fotos desta seção: Jardim no cursinho Pimentas. Créditos: do autor.


80 4.3.1. Estímulos O anseio por complementar as possibilidades de uso do jardim ao fundo do lote de inserção do prédio do cursinho foi o mote determinante da escolha de imagens de estímulo aos dez alunos agentes ambientais participante dos três dias das atividades.

Fotos desta seção: Estímulos apresentados no cursinho Pimentas. Créditos: dezeen.com; pinterest.com; palletparadise.de; basurama.com. Acesso em 10/05/2017.


81 4.3.2. Processo Numa visita inicial foi estabelecido o foco de atuação, verificando a necessidade de adquirir apenas parafusos e pregos para viabilizar a atividade, em vista da existência de ferramentas usadas na manutenção do prédio e madeiras coletadas anteriormente para estruturar a coleta de recicláveis e a compostagem. A participação de alunos do colégio vizinho foi descartada num segundo contato por conflito de agenda dos agentes. As atividades se desenrolaram da seguinte forma: 1º dia) Apresentação de imagens de repertório com peças em materiais semelhantes aos disponíveis; esclarecimento sobre a estruturação de mobiliários com peças elaboradas com o princípio dos jogos nipônicos Tsumiki e Chidori, baseados em blocos construtivos e prática de encaixes entre módiulos; separação das madeiras conforme semelhança de padrões e funções possíveis; 2º dia) Definição de desenho e modo de montagem das peças escolhidas, bancos longos, a partir de croquis e variação de arranjos no sistema de peças modulares elaborado para a ocasião; corte das madeiras maiores em comprimentos adequados à proposta; 3º dia) Finalização dos cortes; montagem do esqueleto estrutural das peças; preenchimento do encosto e assento com madeiras menores. Em vista de rachadura numa das madeiras pretendidas para reforçar a estrutura do banco mais longo, foi solicitado que os agentes providenciassem posteriormente uma peça para exercer essa função.

Fotos desta seção: Andamento da elaboração dos mobiliários para o cursinho Pimentas. Créditos: do autor.


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4.3.3. Peças finalizadas

BANCO SARAU MAIOR

Fotos desta seção: peça finalizada no Cursinho Pimentas. Créditos: do autor.


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COMENTÁRIOS SOBRE A PEÇA:

Esta peça visa as atividades sociais que ocorrem no quintal do cursinho. O revezamento entre as peças de preenchimento do espaldar e assento foi pensado com o auxílio do jogo de encaixes levado aos alunos no encontro de elaboração de idéias. Ele permite afixá-las usando as três vigas de sustentação. Foi pensado um terceiro pé central, não executado pela ausência de furadeira nas datas da oficina. Sua colocação foi recomendada aos agentes ambientais do cursinho. O comprimento é devido ao local de acomodação escolhido, para evitar freqüentes deslocamentos.


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SUPORTE A TEATRO INFANTIL

BANCO SARAU MENOR

Fotos desta seção: Jardim no cursinho Pimentas. Créditos: do autor.


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87

COMENTÁRIOS SOBRE A PEÇA:

Este banco se destina tanto aos saraus que ocorrem nessa área das acomodações do cursinho Pimentas quanto ao jardim, usado para estudos pelos alunos. Segue o padrão de assento e espaldar da anterior. As travas diagonais evitam desestabilizar sua articulação.


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89 92

CONSIDERAÇÕES FINAIS Créditos: https://www.facebook.com/zonadamatalab/photos

Realizar esses processos de elaboração participativa de mobiliários à esfera pública me levou a formatar um modelo de oficinas de acordo com a Lei de Gestão Participativa de Praças, nº 16212, proposta em 2013 e sancionada em junho de 2015, certamente passível de constantes aprimoramentos e adequações às circunstâncias peculiares, onde constarão os seguintes elementos: -Reconhecer o sítio: isso poder ser feito por diversos processos de sensibilização dos envolvidos e coleta de dados sobre o microcosmo escolhido; -Apresentar os participantes mutuamente; -Realizar uma prática lúdica que incite a interação e relaxamento dos envolvidos: pode ser escolhida uma prática musical, dança, yoga, exercícios físicos de acordo com a circunstância específica; - Verificar recursos disponíveis localmente (humanos, materiais e tecnológicos); - Investigar e partilhar possibilidades, tipologias e repertório; -Definir qual processo adotar e como: de acordo com a quantia de participantes e a qualidade do impacto pretendido estabelecer uma organização das ações; - Instruir sobre materiais e ferramentas; - Definir desenho: essa etapa pode ocorrer por inúmeros processos lúdicos de apreensão e registro de possibilidades; - Formação de grupos e divisão de tarefas; - Elaboração com orientação durante andamento;


90 - Refeição coletiva: pode ser fornecida por um agente organizador ou composta de contribuições dos participantes; - Finalizar peças; - Receber comentários de feedback dos participantes; -Documentar e divulgar a realização. O decorrer dessa pesquisa, inicialmente voltada a elaboração participativa de mobiliários urbanos, me levou a indagar sobre as relações entre as definições de planejamento do ensino de Arquitetura nas escolas brasileiras e o modo como os profissionais nacionais atuam. Um currículo mais propositivo em relação aos espaços públicos levaria a melhores relações entre os projetos elaborados durante o curso, os espaços envoltórios, os desfrutadores finais dos ambientes gerados e os agentes decisórios financiadores das iniciativas. Outra questão importante é ver os espaços livres da cidade como seus grandes pontos de mutação. A forma como lidamos com eles repercute no modo geral de vida na cidade, sendo o que, de fato, a caracteriza, tanto ao público interno quanto externo, por expressar o espírito identificador do lugar. Mostrar ao cidadão comum sua capacidade plena de reorganização dessa esfera da cidade, através de processos viáveis de se realizar brevemente usando recursos locais, é transmitir a ele uma liberdade potencialmente transformadora impregnada do exercício de poder sobre a caracterização de seu

habitat.

Lidar

com

ações

dessa

natureza

instigou-me

a

buscar

oportunidades permanentes nesse campo. Encarando o mobiliário urbano como máquina de guerra do indivíduo comum na busca da plenitude de seus direitos individuais tal processo apenas começa, abrindo-se em diversas frentes, algumas já claramente vislumbradas e outras a desvendar durante a trajetória futura. Isso aponta à própria noção de autodefinição profissional ao empurrar-me a desenhar rotas autônomas de geração de campos de atuação na cidade. Agradeço por esse efeito perene da realização dessa pesquisa, visto apontar para uma área de permanente inquietação pessoal, um verdadeiro universo de possibilidades de ação junto a quem de fato importa no meio urbano, por ser a pedra fundamental de qualquer universo de elaboração, o cidadão.



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NOTAS

1. LEFEBVRE, Henri (Autor); FRIAS, Rubens Eduardo (Tradutor). O direito a cidade. 2. ed. São Paulo: Centauro, 2001. 2. HUIZINGA, Johan (Autor). Homo ludens: o jogo como elemento da cultura. 7. ed. São Paulo: Perspectiva, 2012. 3. MOURTHÉ, Claudia (Autora). Mobiliário Urbano. 1ª ed. Rio de Janeiro: 2AB, 1998. 4. SITTE, Camillo (autor); HENRIQUE, Ricardo. (tradutor) A Construção das cidades segundo seus princípios Artísticos. São Paulo: Martins Fontes, 1992. 5. CHOAY, Françoise (Autora). O urbanismo: Utopias e realidades. Uma antologia. Françoise Choay. Estudos Perspectiva, São Paulo; 1ª edição, 1979. 6. FERRARA, Lucrécia D´Alessio (Autora). Design em espaços. São Paulo: Perspectiva, 2002. 7. ASCHER, François (Autor); SOMEKH, Nadia (Tradutora). Os novos princípios do urbanismo. São Paulo: Romano Guerra Editora, 2010. 8. Guattari. Felix (Autor); BITTENCOURT, Maria Christina (Tradutora). As três ecologias. Campinas: Papirus, 1990.


93 9. Rodrigo Nogueira Lima. Surrealismo e a Internacional Situacionista: deambulações e derivas. In: PEIXOTO, Elane Ribeiro; DERNTL, Maria Fernanda; PALAZZO, Pedro Paulo; TREVISAN, Ricardo (Orgs.) Tempos e escalas da cidade e do urbanismo: Anais do XIII Seminário de História da Cidade e do Urbanismo. Brasília, DF: Universidade Brasília- Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, 2014. Disponível em <<http://www.shcu2014.com.br/content/surrealismo-einternacional-situacionista-deambulacoes-e-derivas>> Acessado em 19/Set/2016. 10. JACQUES, Paola Berstain. Breve histórico da Internacional Situacionista. [Arquitextos – Portal Vitruvius. Nº 035.05; Ano 03, abr. 2003. Breve histórico da Internacional Situacionista – IS (1)]. Disponível em: <<http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/03.035/696>> Acessado em 20/Set/2016. 11. GUARNACCIA, Matteo (Autor). Provos – Amsterdam e o nascimento da contracultura. Editora Baderna, capítulo 5. Disponível em: <<trhttp://docslide.com.br/documents/provos-amsterdam-e-o-nascimento-dacontracultura-matteo-guarnaccia.html>> Acessado em 17/Nov/2016. 12. CAPELLARI, Marcos (Autor). O discurso da contracultura no Brasil: o underground através de Luiz Carlos Maciel (c. 1970), 2007. Disponível em: http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/8/8138/tde-14052008-132129/ptbr.php Acessado em 10/Nov/2016. 13. Contracultura: O que é? Como se faz? Disponível em: <http://jornalsociologico.blogspot.com.br/2009/05/contracultura-o-que-e-como-sefaz.html > Acessado em 17/Nov/2016. 14. Fluxus Festival. Oi Futuro Galeria. Belo Horizonte-MG. FLUXUS - Proposta quanto a performance – p. 20. Disponível em: <<http://www.fluxusfestival.com/bw/_ pdf/FLX_Catalogo.pdf>> Acessado em 11/Nov/2016.


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REFERÊNCIAS

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Teses -ANDÉS, Ana Mendez (Redatora). Urbanacción. La Casa Encendida, Madrid, pp. 2539. Disponível em: <<https://merijnoudenampsen.org/2013/03/27/aldo-van-eyckand-the-city-as-playground/>> Acessado em 05/Nov/2016. -GUARNACCIA, Matteo (Autor). Provos – Amsterdam e o nascimento da contracultura. Editora Baderna, capítulo 5. Disponível em: <<trhttp://docslide.com.br/documents/provos-amsterdam-e-o-nascimento-dacontracultura-matteo-guarnaccia.html>> Acessado em 17/Nov/2016. -JACQUES, Paola Berstain. Breve histórico da Internacional Situacionista. Arquitextos – Portal Vitruvius. Nº 035.05; Ano 03, abr. 2003. Breve histórico da Internacional Situacionista – IS (1). Disponível em: <<http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/ arquitextos/03.035/696>> Acessado em 25/Out/2016. -LIMA, Rodrigo Nogueira. Surrealismo e a Internacional Situacionista: deambulações e derivas. In: PEIXOTO, Elane Ribeiro; DERNTL, Maria Fernanda; PALAZZO, Pedro Paulo; TREVISAN, Ricardo (Orgs.) Tempos e escalas da cidade e do urbanismo: Anais do XIII Seminário de História da Cidade e do Urbanismo. Brasília, DF: Universidade Brasília- Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, 2014. Disponível em <<http://www.shcu2014.com.br/content/surrealismo-e-internacional-situacionistadeambulacoes-e-derivas>> Acessado em 15/Out/2016. -CAPELLARI, Marcos (Autor). O discurso da contracultura no Brasil: o underground através de Luiz Carlos Maciel (c. 1970). Disponível em: <http://www.teses.usp.br/ teses/disponiveis/8/8138/tde-14052008-132129/pt-br.php> Acessado em 10/Nov/2016.


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Boa

Praça.

Disponível

em:

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Acessado em 23/Nov/2016. -Nam June Paik. Disponível em: <<http://namjunepaikvideoart.blogspot.com.br/ >> Acessado em 21/Nov/2016. -Raoul Vaneigem. Disponível em: <http://imediata.org/?p=987>> Acessado em 10/Maio/2017.


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LISTA DE IMAGENS Figura 1. Deleuze e Guattari. De:https://pt.wikipedia.org/wiki/Internacional_Situacionista_____________Pg. 20 Figura 2. Mapa psicogeográfico. De:http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/03.035/696___Pg. 25 Figura 3. Experiência nº 3 de Flávio de Carvalho. De: www.moderntemps.fr____________________________________________Pg. 30 Figura 4. Cartazes Fluxus De: fluxusfluxorum.art.de___________________Pg. 31 Figura 5. Guattari e Tetsuo Kanawa De: _www.moma.art______________Pg. 31 Figura 6. Guto Lacaz e Flavio Motta. De: http://www.artecidadania.org.br/_._Instituto_ArteCidadania_../Publicacoes/ Entradas/2013/9/9_Projeto_Elevado_a_Arte.html___________________Pg. 32 Figura 7. Bijari. De:http://www.bijari.com.br/ _______________________Pg. 40 Figura 8. Bijari. De:http://www.bijari.com.br/________________________Pg. 40 Figura 9. Acupuntura Urbana. De:www.acupunturaurbana.com.br/ ______Pg. 41 Figura 10. Acupuntura Urbana. De:www.acupunturaurbana.com.br/ ______Pg. 41 Figura 11. A Batata Precisa de Você. De:http://largodabatata.com.br/a-batataprecisa-de-voce/_______________________________________________Pg. 42 Figura 12. A Batata Precisa de Você. De:http://largodabatata.com.br/a-batataprecisa-de-voce/_______________________________________________Pg. 42 Figura 13. Movimento Boa Praça. De: www.boapraca.com.br___________________________________________Pg. 43 Figura 14. Movimento Boa Praça. De:www.boapraca.com.br________________________________________Pg. 43

As imagens das demais seções têm seus créditos identificados junto às mesmas.



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