RESIDÊNCIA VOLTERO - A fuga do indivíduo urbano para meio rural. by SENACBAU_201202

Caroline Queiroz Nascimento

RESIDÊNCIA VOLTERO

A fuga do indivíduo urbano para meio rural.

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado junto ao Centro Universitário Senac, como requisito à obtenção do título de Bacharel em Arquitetura e Urbanismo.

Orientadora: Prof. Dra. Valéria Cássia dos Santos Fialho

São Paulo 2017

â&#x20AC;&#x153;A casa ĂŠ o nosso canto do mundo, abriga o devaneio, protege o sonhador, permite sonhar em paz. â&#x20AC;? Gaston Bachelard

AGRADECIMENTOS

À minha mãe, por ser provedora dos meus estudos, me proporcionando tudo o que foi de seu alcance para que essa etapa da minha vida fosse concluída com sucesso e por estar sempre ao meu lado. Aos docentes que fizeram parte da minha formação, em especial à orientadora Valeria Fialho pela colaboração no desenvolvimento deste trabalho. Aos meus amigos, que estiveram me apoiando e convivendo comigo durante esse período, e que entenderam minha ausência em alguns momentos por conta da quantidade de tarefas atribuidas ao TCC. Aos meus colegas de classe e profissão, com os quais troquei conhecimentos primordiais na minha formação. À meus professores em geral, por serem peças cruciais para o meu aprendizado e desenvolvimento profissional. Finalmente, agradeço à todos aqueles que acreditaram no meu potencial, me amparando em momentos de dificuldade e vivenciando momentos de alegria ao meu lado.

DEDICATÓRIA À minha familia: Cristina Queiroz, Milton Junior, Elisete Sanchez, José de Almeida Queiroz e Tiffany Lacerda, por me apoiarem, incentivarem e serem inspirações para mim. Em memória ♡ À meu avô Antônio Nascimento, por ter me ensinado a importância dos estudos e à meu pai, Milton Elsio Nascimento, pelos ensinamentos em vida e por me inspirar a querer ser melhor. À meu companheiro: Daniel Paulo Rosa Nogueira, por sempre me incentivar e me apoiar em todas as minhas conquistas e desafios, por ser o meu ponto de fuga quando tudo parece difícil e por compreender minha correria nessa última etapa da faculdade. À minhas amigas: Caroline Sartori, Tarsila Pinheiro, Jéssica Correia e Vanessa Yendo, por estarem perto, mesmo quando longe, me apoiando, aconselhando e proporcionando bons momentos. À meus colegas de classe e agora de profissão, em especial: João Marcos Guirau, Caio Cezar Espindola, Laura Felício, Norma Camargo, Lucas Lohengrin, Paolla Ferraresi, Stéphanie Dragan, Daniela Ciarvi, Paulo Martins e Luana Pedrosa, obrigada por todos os trabalhos em grupo, por todas as trocas de conhecimento, ajuda, respeito e apoio. E à Renata Arriola, Thila Bartolomeu e Matheus De Luca, obrigada por serem os melhores presentes que a faculdade me deu. À meus professores: Por dedicarem seu tempo doando-se à uma tarefa tão difícil, por compartilharem seus conhecimentos e por todo respeito à nós, alunos. Por fim, dedico este trabalho à todos que fizeram parte desse ciclo da minha vida, colaborando para minha formação profissional e, acima de tudo, meu crescimento pessoal.

RESUMO A saturação e superpopulação das grandes cidades atualmente tem sido motivo de busca por pontos de fuga e locais de lazer e relaxamento. O indivíduo urbano vive uma rotina desgastante e tem deixado se perder a concepção e o entendimento do papel da arquitetura na sua relação com o meio em que habita. O aprofundamento sobre as residências unifamiliares, o programa que as compõe, juntamente com estudos sobre sustentabilidade, êxodo urbano e meio ambiente rural resultam num projeto, implantado no município de Populina, divisa do estado de São Paulo com Minas Gerais, sendo uma residência para lazer com objetivo de propor uma relação saudável entre o homem oriundo dos centros urbanos com uma área rural praticamente inexplorada, através de uma arquitetura pensada e construída de forma racional, com utilização de materiais e técnicas construtivas respeitosas ao meio.

Palavras chave: residência unifamiliar; lazer; êxodo urbano; meio ambiente rural; arquitetura residencial; madeira; estrutura pré fabricada; construção.

SUMÁRIO INTRODUÇÃO ��17 1. FUNDAMENTAÇÃO ��21

1.1 CONSIDERAÇÕES GERAIS SOBRE O ESPAÇO PRIVADO..................................................................................23 1.2 PANORAMA ATUAL DA ARQUITETURA RESIDENCIAL 24 1.3 ESTUDO DE CASO �� 25 1.4 ÊXODO URBANO �� 31

2. SUSTENTABILIDADE ��33

2.1 CONCEITO DE SUSTENTABILIDADE �� 35 2.2 CONSTRUÇÃO SUSTENTÁVEL �� 35 2.3 O PAPEL DA ARQUITETURA �� 36 2.4 O USO DA MADEIRA �� 37

3. ESPAÇO RURAL ��41

3.1 O ESPAÇO RURAL BRASILEIRO �� 43 3.2 CONTEXTO - POPULINA �� 44

4. PROJETO ��49

4.1 PARTIDO �� 51 4.2 TERRENO �� 53

CONSIDERAÇÕES FINAIS ��77 BIBLIOGRAFIA ��81

INTRODUÇÃO

INTRODUÇÃO As cidades próximas à capital do estado de São Paulo são refúgios de lazer e turismo para os cidadãos cansados de suas rotinas na cidade grande. O presente trabalho é resultado da soma de conhecimentos adquiridos durante o curso de Arquitetura e Urbanismo com alguns temas aprofundados e decorrido aqui nos próximos capítulos. A abordagem do tema de casas de lazer é abrangente, considerando que existem várias tipologias, estilos e localizações. Aqui, alguns critérios foram estabelecidos, e ligados um ao outro, resultaram numa casa de lazer em ambiente rural. A residência fora implantada no município denominado Populina, na divisa entre os estados de São Paulo e Minas Gerais. O motivo da escolha por essa localização foi que a cidade se encontra afastada a quilometros de distância de centros urbanos desenvolvidos. Foram estudados e analisados diversos tópicos com o intuíto de justificar as escolhas de programa, implantação e materialização da residência e ao final, compreender qual a relação do indivíduo urbano com o meio rural e qual o papel da arquitetura ao servir de agente intermediador dessa relação.

CAPÍTULO 01

FUNDAMENTAÇÃO

1.1 CONSIDERAÇÕES GERAIS SOBRE O ESPAÇO PRIVADO Entende-se aqui o espaço privado como casa, ou, mais especificamente, como residência unifamiliar, onde habita-se exclusivamente uma familia. Tendo em vista o cenário atual da moradia e do espaço privado nas grandes cidades brasileiras, muito se diz sobre a construção de condomínios, edificações verticais, e que esses mantenham a relação dos moradores com a cidade e seus usuários. A casa em si, sofre discriminação por passar uma imagem de individualismo, onde ela se torna um refúgio para os seus habitantes, interrompendo as relações deles com a cidade. A evolução e, consequentemente, grande adensamento das cidades refletem na maneira de se projetar a arquitetura do morar hoje em dia. Porém, existe uma questão por trás dos projetos de residências unifamiliar que não surgiu recentemente. A arquitetura brasileira voltada para habitações individuas é criticada não apenas sobre a relação da casa com a cidade, mas também sobre o poder aquisitivo de quem as possui. Há tempos a casa no Brasil é sinônimo de status. Com a chegada da industrialização e do movimento moderno, diversos padrões foram implantados. Obras realizadas por arquitetos famosos em território nacional ou, por vezes, arquitetos vindos de fora do país, conquistaram os olhos de muitos brasileiros, especialmente na cidade de São Paulo. A arquitetura residencial faz parte então do movimento elitista. As casas projetadas por arquitetos de renome sempre estiveram presentes em revistas, reconhecidas e exaltadas por muitos. Atualmente, com o boom da tecnologia e das mídias, e o interesse de diversos profissionais, além de ainda estarem presentes em várias editoras de revistas, as residências agora estão presentes também em programas de TV. Desta forma, o panorama do habitar brasileiro se difunde com a busca

por novos modismos e simbolismos de status, discutidos sempre em revistas, programas de TV e até nos jornais entregues em faróis. Apesar da residencia estar cada vez mais abrindo espaço para os edifícios, ainda sim, resta para a residência a ideia de que ela é um refúgio para seus usuários. Por isso, nas cidades localizadas perto de São Paulo, por exemplo, é comum encontrar uma quantidade enorme de condomínios residenciais exclusivamente de casas. O mesmo acontece em cidades focadas no lazer, onde ainda é predominante a construção de casas, pois os proprietários buscam um lugar com privacidade e conforto maior. A EVOLUÇÃO DA CASA BRASILEIRA A Arquitetura Residencial brasileira passou a ser renovada em 1930, com Getúlio Vargas como presidente. Isso ocorre no mesmo ano em que Lucio Costa virou diretor da Escola Nacional de Belas Artes, e que a arquitetura do país passa por uma repaginação, algo que tende a progredir no decorrer do século. Foi durante a mesma época, entre 1930 e 1940, que os arquitetos cariocas seguidores e aprendizes de Le Corbusier marcaram o início do período moderno do país, ditando os padrões que a arquitetura deveria seguir dali em diante. No período que antecede esse momento, a arquitetura nacional não era valorizada da mesma maneira. Parte valiosa da arquitetura nacional são as residências do período Moderno. As residências brasileiras passaram a sofrer alterações já em 1930 e o projeto que deu início a isso foi a Casa Fábio Carneiro de Mendonça, feito por Lucio Costa no Rio de Janeiro, quando ele mesmo afirma que: os modernos brasileiros se fizeram sem querer, preocupados apenas em conciliar de novo a arte com a técnica. (COSTA, 1995, p.54). Em 1950, o país passa por reestruturações em diversos âmbitos. O Rio de Janeiro começou a perder o poder de difusão, pois a capital seria reconfigurada em Brasília. Enquanto isso a cidade de São Paulo vive um momento de crescimento intenso, principalmente em relação 23

à arquitetura, com a fundação da Bienal, a construção de museus, e a independência que as escolas de arquitetura conquistavam aos poucos. A arquitetura residencial tem um grande período de ênfase nacional durante o movimento moderno, repleta de arquitetos que se formaram na mesma época, e que estudaram e foram amigos de grandes nomes. Porém, com o desenvolvimento exorbitante das cidades, e consequentemente o adensamento delas, as residências passaram a deixar espaço para os edifícios, tanto para escritórios como para habitações coletivas.

país cresceu rapidamente no setor da economia, o que atraiu mais pessoas para as cidades com potencial de crescimento na época. Áreas como o bairro do Morumbi, onde já funcionaram fazendas cafeeiras, hoje estão completamente adensadas, como é possível ver na imagem abaixo, fornecida pela empresa de mapas Multispectral. O mercado imobiliário tem focado suas construções em grandes condomínios, equipados de completas áreas de lazer, fazendo com que os moradores saiam cada vez menos de dentro deles para

Mapa 1 - Morumbi: Antes e depois

O legado deixado por grandes arquitetos, brasileiros ou estrangeiros é totalmente diferente da arquitetura residencial hoje, no sentido de que a arquitetura parece ter perdido seu brilho.

1.2 O PANORAMA ATUAL DA ARQUITETURA RESIDENCIAL Infelizmente as grandes cidades sofreram com o desenvolvimento urbano desenfreado. A principal metrópole do país é o maior exemplo de que a arquitetura perdeu sua essência e suas obras emblemáticas, mantendo apenas o que foi construído no passado e se tornando um sistema repetitivo de construções que atendem ao mercado imobiliário. São poucos os arquitetos que continuam deixando marcas pelas cidades com seus projetos. Falta espaço físico e conceitual para que a arquitetura residencial mostre suas características essenciais para a construção da cidade, do habitat do homem atual. O chamado boom imobiliário é, até hoje, o processo que mais afeta na paisagem urbana e na propagação da arquitetura. Esse boom tem muito a ver com o processo de modernização das tecnologias construtivas, como o uso de peças pré-moldadas ( já existentes na década de 70), além disso, entre os anos 70 e 80, o Brasil passa por um movimento chamado “milagre econômico”, que significa que o 24

vivenciar a cidade. Isso é reflexo da busca por lazer e segurança dentro das cidades. Muitas pessoas, que já estão saturadas da vida corrida e dos problemas que as cidades vêm enfrentando, estão buscando as cidades vizinhas, com objetivo de viver com mais privacidade, conforto e qualidade de vida, geralmente dentro de condomínios residenciais fechados. São nessas cidades que as residências unifamiliares vêm se mantendo presentes.

1.3 ESTUDO DE CASO O terreno também se encontra sob a zona cônica do aeroporto de Congonhas, o que significa que aviões constantemente sobrevoam a região. Com um terreno novo em mãos, em um distrito predominantemente residencial de alto padrão, diferente de tudo que pode parecer, os clientes de Angelo Bucci não pretendiam deixar o apartamento onde moram, também situado em São Paulo. O que eles almejavam com esse novo terreno era construir um refúgio dentro da própria cidade, sem a necessidade de levar horas nas estradas e, claramente, o que eles mais queriam nesse refúgio era: uma piscina e um jardim.

Imagem 1 - Casa de Fim de Semana em São Paulo

São Paulo, a maior metrópole do Brasil, conta com cerca de 20 milhões de habitantes. Somente no município de São Paulo, são estimados 5.318.961 automóveis. Os intensos congestionamentos durante a semana fazem parte do cotidiano da população e, nos finais de semana, seja no verão ou no inverno, milhares de pessoas pegam estrada, rumo às praias ou ao interior, em busca de um refúgio para descansar, causando trânsito também nas rodovias. Um casal, ela consultora de moda e ele professor de filosofia da USP, proprietários de um terreno em um bairro nobre de São Paulo, decide entrar em contato com Angelo Bucci (spbr arquitetos) para propor um projeto. Trata-se de um terreno com localização privilegiada na cidade, no bairro chamado Pinheiros, próximo à dois grandes Shoppings, cercado de um lado pela Avenida Brigadeiro Faria Lima e, de outro pela Marginal do Rio Pinheiros.

Imagem 2 - Casa de Fim de Semana em São Paulo 25

FICHA TÉCNICA Local São Paulo, SP Data do início do projeto 2010 Data da conclusão da obra 2013 Área do terreno 269,50 m2 Área construída 183,40 m2 Arquitetura SPBR Arquitetos Angelo Bucci (autor); Nilton Suenaga, Tatiana Ozzetti, Ciro Miguel, Eric Ennser, João Paulo Meirelles de Faria, Juliana Braga, Fernanda Cavallaro e Victor Próspero (equipe) Estrutura Ibsen Puleo Uvo Fundações Apoio - José Luiz de Paulo Eduardo Sondagem Engesolos Instalações JPD - Jairo Paixão Daniel, Joel Paixão Daniel, Jamir Paixão Daniel e Jaime Paixão Daniel Filho Paisagismo Raul Pereira Iluminação Reka - Ricardo Heder Arquiteto responsável pela obra José Antônio Queijo Felix Construção Renner - Theobaldo Bremenkamp e Reinaldo Francisco Ramos Fotos Nelson Kon e Andrés Otero Legislação

Segundo a Lei de Zoneamento, o terreno adotado encontrase dentro de uma ZER-1, zona exclusivamente residencial de densidade demográfica baixa e terrenos de médio porte. Essa é uma nova lei, sancionada em março de 2016, e que recebeu uma organização estratégica dos territórios, com o objetivo de enfrentar as desigualdades e particularidades locais sem deixar de lado o que é necessário para o desenvolvimento estratégico da metrópole. Desta forma, foram organizados três diferentes conjuntos de zonas: territórios de transformação, qualificação e preservação. O terreno encontra-se dentro do conjunto “Territórios de preservação”, em que se prevê a preservação de bairros já consolidados de baixa e média densidade, conjugado com a preservação ambiental e cultural. Coeficiente de aproveitamento

Mínimo 0,05

Básico 1,00

Gabarito de altura máximo Recuos Mínimos

Máximo 1,00

10 metros Frente 5 metros

Laterais não exigido

Tabela 1 - Tabela de Zoneamento Outra característica bem marcante sobre a localização do terreno é o fato dele estar localizado na zona cônica do Aeroporto, como já foi comentado. Os aviões que sobrevoam a região passam a cerca de 800 metros das superfícies dos telhados residenciais. Por conta disso, apesar de o gabarito máximo de altura para ZER-1 ser de 10 metros, exclusivamente ali, o gabarito máximo é de 6 metros, ou seja, todas as residências desse perímetro de ZER-1 em Pinheiros têm 6 metros de altura, no máximo.

Mapa - Implantação. Google Maps

PROGRAMA

PARTIDO

Imagem 3 - Casa de Fim de Semana em São Paulo

Os clientes chegaram até Angelo Bucci com o desenho de uma piscina. Ambos praticantes de natação, desejavam uma piscina com raia. Em sua primeira visita acompanhados do arquiteto ao terreno, a discussão principal era: em qual das duas laterais deveria ser posicionada a piscina, esquerda ou direita. Segundo o arquiteto, posicionando em qualquer uma das laterais, a piscina seria sombreada pelos muros vizinhos, independente do período do dia. Angelo então propõe que a piscina seja elevada, abrindo margens para diversos questionamentos por parte dos clientes, mas que ainda sim confiavam em seu trabalho. A justificativa era: a superfície do terreno, em relação à incisão solar, é a 6 metros de altura, onde os muros vizinhos já não cercam mais o local. Ele afirma também que a piscina funcionaria da mesma forma que uma caixa d’água funciona. Esse sem dúvidas foi o pontapé inicial do projeto. Com a piscina elevada, os clientes desfrutariam do térreo como uma área de convivência ajardinada. Atingindo, desta forma, suas duas exigências principais: ter uma piscina e um jardim.

Imagem 4 - Casa de Fim de Semana em São Paulo

O escritório spbr descreve um pouco sobre o programa deste projeto e a forma como foi realizado estruturalmente da seguinte maneira: “Uma piscina, um solário e um jardim são os principais elementos deste projeto. O resto do programa é complementar: um quarto, um pequeno apartamento para o caseiro e um espaço para cozinhar e receber os amigos. (...) A piscina e o solário foram dispostos como volumes paralelos, e dois pilares foram locados no vão de 1 m entre esses volumes. Estruturalmente, a piscina funciona como contrapeso do solário. O vão de 12 metros entre os dois apoios principais se depara de um lado com vigas que suportam a piscina e, de outro, com vigas que suportam o solário, que também penduram o piso inferior. ” (Trecho retiradodo site spbr arquitetos)

Com o nível térreo praticamente todo permeável, a casa se dispõe em três camadas: A primeira, que podemos chamar de camada “jardim”, está na cota -0,50 / +0,90 e nela se encontram a sala de jantar, cozinha, lavanderia e as três escadas de acesso para os andares superiores (íntima, para piscina e para o caseiro).

Imagem 5 - Perspectiva 3D/Arcoweb

Quando se trata de projetar uma residência em São Paulo, dadas todas as legislações existentes, uma das questões que não recebe a devida importância é sobre as áreas permeáveis do terreno. Normalmente, busca-se atingir o coeficiente mínimo que a legislação exige, para que o restante do terreno possa ser totalmente aproveitado para a construção em si. Mas neste caso, como o pedido dos clientes era que a casa tivesse “uma piscina e um jardim”, os autores do projeto tentaram atingir praticamente o coeficiente máximo de área permeável possível para o terreno.

Imagem 7 - Planta/Arcoweb

Um nível acima, na cota +2,30, fica a camada “apartamento”, onde existem dois apartamentos de 30m², sendo um de uso do caseiro e o outro para o casal, que pode desfrutar de um terraço mais íntimo também nesse pavimento.

Imagem 8 - Planta/Arcoweb

Imagem 6 - Planta/Arcoweb

Na terceira camada, a “cobertura”, chegamos finalmente à tão famosa piscina. Neste nível existe uma divisão entre o solário e a raia, que se explica pela estrutura utilizada no projeto.

É importante ressaltar que a piscina recebeu um recorte diagonal em sua lateral, para que seja possível a incisão da luz solar ali naquele ponto do terreno, atingindo uma parte do jardim que se encontra no nível térreo. PARADOXO Este projeto contradiz três questões da arquitetura contemporânea em São Paulo: Primeiramente, a partir de seu programa, tornando os elementos que normalmente são considerados como secundários, sendo no caso a piscina e o jardim, em elementos principais. Onde o núcleo do habitar em si passa a ser um detalhe, já que no caso, os proprietários não moram de fato no local, mas sim desfrutam dele momentaneamente. Diante de tantos discursos e problemas relacionados ao meio urbano, onde muito se fala sobre as construções de alto padrão estabelecerem mundos paralelos dentro da cidade, por serem sempre cercadas de muros, a Casa de fim de semana afronta a “lógica” quando se coloca na cidade de forma aberta, sem que a sua intimidade seja perdida, mas ao mesmo tempo, estabelecendo uma comunicação com a cidade e com o que acontece ali na região.

Imagem 9 - Casa de Fim de Semana em São Paulo

E finalmente, o projeto torna a grande metrópole um lugar concebível para momentos de lazer mais íntimos, longe de parques, praças e até shoppings, mostrando que a própria residência unifamiliar pode ser um local de aproveitamento nos finais de semana, longe do trânsito das estradas, mas ainda dentro do cotidiano paulistano.

Imagem 10 - Casa de Fim de Semana em São Paulo 29

1.4 ÊXODO URBANO Durante os séculos XVI a XIX as cidades administrativas do Brasil estavam localizadas no litoral, dando espaço para o modelo produtivo açucareiro e cafeeiro dominarem o território rural do país. Foi somente na segunda metade do século XX, quando o país passou pelo processo de industrialização, que o cenário começou a se reverter. Surge ali a necessidade de mão de obra para as cidades em crescimento. A partir desse fenômeno, começaram os processos de imigração de pessoas do campo para as cidades, buscando trabalho assalariado nas novas fábricas e comércios. As grandes cidades se desenvolveram muito nos últimos anos e é indiscutível que existe uma classe de cidadãos completamente saturados de suas rotinas, trabalho, trânsito e etc. Mas, apesar de estarem tão exaustos do cotidiano na cidade, a grande maioria não abre mão de morar numa metrópole desenvolvida e com infraestrutura, perto de familiares, amigos, etc.

Estão surgindo cada vez mais empreendimentos imobiliários nas cidades próximas à São Paulo, por exemplo. Considerando que para ir da zona sul à zona norte um cidadão leve cerca de quase duas horas em horário de pico, enquanto no trajeto de Jundiaí à São Paulo, por exemplo, pode-se levar 40 minutos, as pessoas têm optado por migrar para cidades ao redor da capital do estado. É surpreendente ver as filas de carros que se formam nas ruas e avenidas de São Paulo e o quanto elas parecem se multiplicar nos feriados prolongados nas estradas. O fluxo entre metrópole e interior ou metrópole e litoral é claramente uma prova do quanto as pessoas estão buscando locais diferentes de suas cidades para o descanso e lazer. Fora optado levantar como tema nesse trabalho a relação do individuo urbano com o ambiente rural, pois existiu um raciocínio de que o ambiente rural ainda é menos explorado do que o litorâneo e o objetivo nesse projeto será manter as características do meio.

O que tem sido comum atualmente é a busca pelo contato com a natureza, por locais calmos. Seja na praia ou no campo, o cidadão urbano procura esporadicamente por refúgios próximos à suas cidades, para aproveitar finais de semana e feriados. Porém, o que vem acontecendo, principalmente no litoral, é que as cidadezinhas, com função voltada para o lazer têm se desenvolvido para suprir as necessidades de seus visitantes e, com isso, têm perdido suas caracterísitcas. O êxodo urbano, seja ele efêmero, transitório ou não, deve ser observado com muita atenção. As cidades pequenas estão perdendo suas individualidades. 31

CAPÍTULO 02

SUSTENTABILIDADE

2.1 CONCEITO DE SUSTENTABILIDADE

2.2 CONSTRUÇÃO SUSTENTÁVEL

A primeira manifestação sobre desenvolvimento sustentável surgiu em 1987, pelo Relatório Brundtland¹, em que basicamente se afirmava que o desenvolvimento sustentável atende às necessidades do presente, sem que as necessidades das gerações futuras fossem comprometidas.

A construção sustentável necessita de um trabalho em conjunto e multidisciplinar. Onde técnicos, engenheiros (civil e ambiental) e arquitetos trabalham juntos em todas as etapas do projeto, buscando sempre atingir alta qualidade nos projetos, aliada à eficácia ambiental.

No Brasil, cerca de 35% dos materiais extraídos da natureza anualmente (como areia, metais, pedras, madeiras, etc.) são disponibilizados para a construção civil. Além disso, grande parte da energia produzida no país é consumida no processo das construções e depois no abastecimento de residências, condomínios, etc.

O arquiteto neste caso, tem a responsabilidade de conhecer o conceito de sustentabilidade e quais são as possíveis escolhas técnicas dentro do tema para serem aplicadas corretamente em cada projeto.

Procurando diminuir os impactos provocados pela construção civil no meio ambiente, nasce a ideia de construção sustentável. Os desafios que surgem ao tentar minimizar os efeitos da construção são inúmeros, mas é possível sintetizá-los em: • redução dos resíduos gerados; • redução do uso de materiais que geram alto impacto ambiental; • gestão da água • otimização do consumo de energia; • preservação do ambiente natural; • melhoria do padrão do ambiente já construído.

_______________

¹ Relatório Brundtland é o documento elaborado pela Comissão Mundial sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento, intitulado Nosso Futuro Comum (Our Commom Future), publicado em 1987.

São necessárias várias etapas durante o processo do projeto. É imprescindível que a primeira delas seja uma análise do terreno e seu entorno, onde o objetivo é o conhecimento das características do local onde o projeto será implantado, suas potencialidades e também os aspectos negativos que podem surgir, afim de prever possíveis dificuldades e então evita-las. Um projeto inteligente, aliando profissionais distintos, pode ter um aproveitamento muito mais eficaz das qualidades do terreno, proveniente de simples estudos como a análise de insolação do terreno, e como o projeto deve se posicionar com base nas informações obtidas para, por exemplo. Economizar energia quando a construção estiver pronta. Existem diversos fatores que tornam a construção civil popularmente uma grande vilã do desenvolvimento sustentável, por isso, os profissionais da área interessados em minimizar os impactos contra o meio ambiente buscam, cada vez mais, soluções que não exigem altos custos nem tecnologias de difícil acesso, para que a construção sustentável seja um atrativo maior para os consumidores finais.

Por Exemplo: • É possível diminuir substancialmente a poluição causada pela construção civil com a reciclagem dos resíduos gerados durante e ao termino da obra. • Os materiais reciclados de outras obras podem ser utilizados em novos projetos, como plástico reciclado, andaimes metálicos, formas para concreto, etc. • Os materiais ecológicos, como a madeira de reflorestamento, também têm papel importante na construção sustentável e, vale lembrar que, o uso de materiais vindos da mesma região onde o projeto será implantado diminui significativamente os custos e a poluição gerados pelo transporte do mesmo até o local. • O reaproveitamento da água da chuva pode participar tanto das fases da construção em si, como após finalizada, sendo utilizada pelos proprietários para diversas atividades. • Outro fator importante é uma análise do clima da região, avaliando qual a melhor época para realizar a obra, onde são levados em conta fatores como possíveis intemperes que atrapalhem o desenvolvimento da obra, atrasando-a e gerando mais custos e impactos. Os aspectos acima falam sobre o processo de construção em si, mas lembrando o que o conceito de sustentabilidade diz a respeito do não comprometimento das gerações futuras, vale levar em conta o que esse projeto pode deixar como legado. Desta forma, independentemente do tipo de construção, é necessário que seu uso continue mantendo o respeito ambiental. Isso é possível das seguintes maneiras:

• Se o projeto for realizado para uma ocupação temporária, como grandes eventos, ele pode ter duas alternativas: ser desmontável, para uma possível mudança de local, ou que ele permaneça ali mas possibilite um uso diferente do que já foi feito. • O estudo para escolha da implantação adequada no terreno reflete no futuro do projeto, desde a forma como ele se

relaciona com o ambiente ao seu redor, como também através da eficiência energética possível pela relação do edifício com a luz do sol. • A escolha dos materiais além de ter relação com o custo e com a poluição gerada durante a obra, tem também relação com o futuro quando se diz respeito à manutenção, aos materiais utilizados para manter os cuidados necessários, os impactos de sua conservação, durabilidade, etc. • A gestão da água pode funcionar de várias maneiras, seja no reaproveitamento da água da chuva, ou seja, na utilização de encanamentos, torneiras e chuveiros mais eficientes, etc. Tudo isso afeta diretamente na relação do projeto com o meio ambiente. Apesar de parecer algo complicado, fica claro que muitas vezes a construção sustentável demanda mais de bom senso do que do uso de tecnologias caras. Apenas tomando algumas atitudes corretas, sempre gerenciadas por uma equipe de profissionais qualificados e de diferentes áreas, esse tipo de construção pode transformar o espaço em um lugar onde o convívio de pessoas e a relação delas com o meio ambiente sejam mais saudáveis.

2.3 O PAPEL DA ARQUITETURA A arquitetura tem o poder de melhorar a qualidade de vida de pessoas, transformando a relação que elas têm com o meio vivido. O papel que ela exerce na sociedade está sempre em evolução e, o que vemos refletido na arquitetura hoje é consequência de tudo o que já foi vivido no passado, somado à esperança de tudo o que ela pode fazer pelas pessoas e pelos espaços no futuro. Em uma definição sobre arquitetura, Jorge Moreira, arquiteto formado pela Escola Nacional de Belas Artes, no Rio de Janeiro, diz muito sobre o papel da arquitetura na sociedade:

“Para mim, fazer arquitetura é idealizar a obra visando resolver, com intenção plástica, o problema proposto, de acordo com a época, os materiais e as possibilidades técnicas: analisando e considerando os fatores externos que nela influem; respeitando imposições e hábitos do meio: detalhando e articulando todos os elementos componentes e buscando sempre a verdade, quanto à finalidade e função, tanto na forma como no uso dos materiais. A exigência de liberdade para projetar, mantenho até hoje. Ela não traduz o propósito de impor meu ponto de vista. Procuro, através do diálogo com o cliente, achar a solução adequada, que atenda a suas aspirações, sem, contudo, fazer concessões contrárias aos princípios que, como arquiteto, me cabe defender. Dou toda assistência à construção para que a obra seja realizada tal como a imaginara e, quando concluída, o cliente sinta seu desejo satisfeito e eu minha tarefa corretamente cumprida. Preocupo-me com a ambiência da obra projetada e sua significação no contexto em que será inserida: construída, passa a constituir um elemento da paisagem urbana, cuja harmonia deve ser assegurada. Por essa razão, todo arquiteto deve ter preocupação urbanística. De acordo com esse princípio, tenho procurado, através de uma participação bastante ativa, colaborar no estabelecimento de regulamentações e normas urbanísticas que estruturem a cidade e orientem seu desenvolvimento, sem prejuízo da paisagem natural e dos testemunhos materiais da sua história, cujos remanescentes nos cabe preservar. ” (Jorge Machado Moreira, Arquiteto durante o Movimento Moderno Brasileiro) Já no primeiro parágrafo da definição de Jorge Moreira, fica claro que a arquitetura integra a intenção plástica (estética), com a escolha dos materiais, as possibilidades técnicas e o objetivo do projeto. É fácil entender também a importância das análises do entorno,

onde os fatores externos são levados em conta e, através deles são escolhidos e desenvolvidos os materiais e as formas adequadas ao projeto. A arquitetura faz o intermédio entre o cliente e os engenheiros e técnicos. O diálogo entre o arquiteto e o cliente disponibiliza para técnicos e engenheiros as soluções adequadas ao projeto atendendo os desejos do cliente, mas ainda assim, cumprindo com especificações imprescindíveis para a correta realização do projeto. Os elementos arquitetônicos colaboram com o desenvolvimento sustentável a partir do momento em que integram forma e função, e possibilitam um melhor aproveitamento dos recursos naturais. Um exemplo disso é a ventilação natural, que usufrui dos ventos dominantes por meio de ventilação cruzada, portas e janelas com venezianas, ambientes amplos/menos compartimentados, fachada dupla ventilada, etc. A relação da arquitetura com o meio ambiente existe desde o momento em que se tem uma proposta de projeto e o local para o mesmo ser implantado. Quando em contexto urbano, é de extrema importância que exista harmonia entre objeto (projeto) e espaço (local), pois o objeto passa a ser elemento da paisagem urbana, e é isso que Jorge Moreira afirma no terceiro e último parágrafo. Mas não é só na cidade, onde existem regulamentações e normas urbanísticas, que a ambientação do projeto deve ser cautelosa. Os projetos realizados fora do ambiente urbano devem ser tratados com o mesmo cuidado pelos arquitetos, vez que mesmo em locais sem regulamentações, deve-se existir o bom senso para com o meio em que o projeto será inserido, mantendo uma relação saudável e adequada entre a construção e a paisagem natural do local.

2.4 O USO DA MADEIRA O Brasil possui cerca de 50% de seu território coberto pela Floresta Amazônica além de outras grandes florestas compostas de

eucaliptos e pinus. Apesar disso, o uso da madeira na construção civil, especialmente na produção de estruturas, ainda é muito reduzido. Recentemente, surgiram notícias de um recomeço desse uso especifico da madeira. Devido aos problemas ambientais, o custo relativamente mais baixo, as facilidades de obtenção, aparência e conforto, a madeira vem despertando no Brasil, cada dia mais, o interesse de engenheiros, arquitetos e consumidores. No panorama das construções já realizadas em madeira no Brasil encontramos grandes obras realizadas pela Ita Construtora, como a famosa casa Hélio Olga, realizada em parceria com o arquiteto Marcos Acayaba. Existe também uma grande valorização desse material feita pelo Instituto de Pesquisas Tecnológicas – IPT, que oferece diferentes materiais de pesquisa com o objetivo de trazer soluções e estímulos para o uso da madeira na construção civil. A MADEIRA NA ARQUITETURA BRASILEIRA Os primeiros registros de construções em madeira no Brasil são as ocas indígenas. Com a chegada dos portugueses para a colonização, a madeira passou a ser utilizada em suas construções, mas ainda seguindo as técnicas dos índios. Com o passar do tempo, a madeira se tornou uma importante fonte de energia e parou de ser usada em construções por um longo período. Ela volta a aparecer no cenário da arquitetura no segundo período de colonização, quando vieram para o sul do Brasil povos como alemães, italianos e suíços. A madeira passa a ser utilizada em detalhes como as abóbodas, trazidas pelo austríaco Erwin Hauff. Por entre os anos de 20 e 60, surge o Glulam (do inglês Glue Laminated Lumber), conhecido no Brasil como MLC (Madeira Laminada Colada), um material de construção inovador, que combina laminas de madeira com uma 38

cola específica para esse uso, no caso eram utilizados principalmente pinheiros de araucária. A chegada do movimento moderno no Brasil trouxe o pico das construções de concreto como consequência. Com a construção da capital Brasília, os edifícios de concreto se tornaram modelo para o restante do país. A madeira passou a ser explorada nessa época de forma descoordenada, fazendo com que grandes áreas de Mata Atlântica fossem desmatadas, tudo isso para utilizar o material na construção de formas para o concreto armado. Entre 1970 e 1980, foi iniciado um processo de racionalização e industrialização da madeira, criado pelo arquiteto José Zanine Caldas, que criou também uma série de casas para estudo de caso no Rio de Janeiro. Nessa mesma época, foi fundada a construtora ITA, que participou da realização de três casas de Zanine, e em seguida se especificou exclusivamente em construções de madeira. Organizações internacionais passaram a ficar em alerta sobre o uso descuidado da madeira brasileira e começaram a pressionar o governo para supervisionar e punir o desmatamento da Floresta Amazônica, principalmente, fazendo surgir as madeiras certificadas. Com a novidade trazida por Zanine e a construtora ITA, novos arquitetos começaram a se interessar pelo uso da madeira em seus projetos, e então a madeira deixa de ser um material do passado, pelo menos em termos técnicos, para se tornar um material do futuro. Além de atrair pelas qualidades estéticas e técnicas, nessa época ficou evidente também que a madeira pode ser aproveitada de forma correta, ambientalmente falando, sem causar impactos ao ser extraída. O uso da madeira laminada colada – MLC - abriu portas para um novo tipo de mercado: aos poucos, aparecem as casas de verão, longe dos centros urbanos, e consideradas por muitos como um tipo de construção para pessoas com poder aquisitivo relativamente maior. Isso porque, para as construções que utilizam esse material, é necessária uma equipe com mão de obra especializada, e infelizmente esse trabalho ainda é considerado caro no Brasil.

Apesar de ainda ser considerada “não acessível” para todos os públicos, a madeira está na lista dos materiais do futuro. Não demanda de muita infraestrutura para trabalhar com ela, não gera resíduos praticamente, e ainda pode ajudar o meio ambiente sendo uma “sequestradora de gás carbônico”. Sem contar que, no caso de uma demolição por exemplo, ela pode ser reciclada para novos usos, queimada para gerar energia ou simplesmente processada para se tornar um fertilizante de terra.

CAPÍTULO 03

ESPAÇO RURAL

3.1 O ESPAÇO RURAL BRASILEIRO O tema Ambiente Rural foi levantado nesse trabalho com o objetivo de entender e questionar os aspectos que caracterizam a tipologia de implantação do projeto, como por exemplo: o que era o espaço rural no passado, o que é o espaço rural hoje e qual a relação da arquitetura nessa esfera tão distinta da vivência do indivíduo urbano. Existe uma carência de debates e discussões sobre o espaço rural e suas funcionalidades, e além disso, existe também um desentendimento sobre o conceito “rural”. O significado de espaço urbano é simples: é o conjunto de áreas que formam o território, também conhecido como cidade. Porém, é comum que o entendimento de “rural” seja apenas como “o que não é urbano”, o que não faz parte da cidade, ou ainda, o que mantem atividade agrícola ou pecuária. Contudo, deve-se pensar no ambiente rural como portador, não só de atividades agrícolas e pecuárias, como também de uma Arquitetura Rural. Arquitetura essa que pode conter valor cultural, se considerarmos as fazendas antigas de café, por exemplo, ou arquitetura em progresso, acompanhada do desenvolvimento das áreas rurais focadas em atrair turismo e outras atividades. As propriedades rurais no Brasil recebem diversos nomes, como por exemplo: fazendas, sítios, chácaras, etc. O que, no passado, costumava determinar o título de cada área era o seu tamanho, mas hoje em dia, existem vários fatores que influenciam na decisão das diferentes nomenclaturas. Nomear uma área do espaço rural pode depender da sua distância em relação ao perímetro urbano, do tamanho que a área dispõe ou até se ela possui um rio ou lago em suas proximidades. Mas, independentemente da denominação desse espaço, é nítido que a visão que nós brasileiros temos das casas de fazenda (ou de campo) muito tem a ver com o histórico da nossa colonização.

Casinhas pequenas ou casarões, em sua maioria térreas, em meio à um campo amplo, com enormes varandas e uma relação totalmente agradável e respeitosa entre interior e exterior. Atualmente, a arquitetura rural no Brasil passa a ideia de pequenos sítios ou glebas, constituídos de povoado humilde, com algumas construções destinadas à produção agrícola ou à habitação, muitas vezes desprovidas de infraestrutura como água, luz, esgoto e/ou pavimentação das estradas. Isso torna distorcida a imagem desse ambiente tão rico e importante no âmbito nacional. Estudar sobre a arquitetura no ambiente rural é importante para que o desenvolvimento dessas áreas seja conduzido de maneira apropriada, seja ele voltado apenas à melhorias locais ou para o turismo, pensando sempre na viabilidade e sustentabilidade local, mantendo o respeito à toda história e caracterização do espaço. Apesar de haver um maior interesse voltado ao lazer por parte das populações urbanas por áreas litorâneas, a arquitetura rural vem ganhando espaço por conta do legado deixado pelas fazendas cafeeiras históricas, e também pelo turismo agrícola, que atrai pessoas curiosas para conhecer fazendas de uva, de morango, entre outros, que participam anualmente de festivais culturais voltados ao próprio turismo. Além da atração por eventos criados pelo turismo agrícola, é possível ver dentro do estado de São Paulo, um interesse por áreas mais afastadas não litorâneas, onde está sendo criado um contexto de residências de luxo, dentro de grandes condomínios fechados. O turismo para o campo precisa ser aprimorado com cautela: a ideia não deve ser de tornar o ambiente rural em novos centros urbanos. É essencial que o espaço rural não perca suas características, e que o seu desenvolvimento voltado ao turismo seja cuidadoso em relação à organização territorial e à subsistência da paisagem rural. É a arquitetura rural que tem o papel de primordial para o desenvolvimento rural sustentável. 43

Embora as construções contemporâneas de casas de fazenda sejam grande parte voltadas para o lazer no campo, a sua essência quanto à espacialidade interior e à materialidade parece se manter ainda presente. Prova disso são os programas que incluem espaços amplos, com integração nas áreas sociais do projeto, e também o uso prevalecente de materiais regionais, especialmente a madeira. Para uma melhor visualização, segue uma experiência: foram feitas duas pesquisas no site de busca Google, a primeira como “casas de fazenda antigas” e a segunda como “casa de fazenda contemporâneas”, abaixo estão duas imagens resultantes da pesquisa: “Antiga” “Contemporânea”

3.2 CONTEXTO - POPULINA Populina é um município localizado à margem do Rio Grande, divisa com o estado de Minas Gerais. Conta com uma área de aproximadamente 300km² e população estimada em 4.254 habitantes. A distância da capital do estado de São Paulo é em torno de 620km por rodovia e 717,753km por ferrovia. LEGISLAÇÃO AMBIENTAL O município possui legislação específica para a questão ambiental

Não

A legislação ambiental existente está inserida como:

Imagem 11 e 12 - Busca no Google

Apesar da diferença significativa entre elas, podemos perceber que alguns materiais e elementos são conservados até hoje, como é o caso da madeira (em estruturas e janelas) e dos telhados de telha. A relação que a casa mantém com o entorno permanece praticamente a mesma, colocando a paisagem em primeiro plano. O detalhe que surge nas casas contemporâneas é o foco delas para o lazer e descanso. Por isso, entram em ação elementos como as piscinas e spas, que se assemelham à ideia de tranquilidade e conforto que o campo tem.

Capítulo/Artigo da Lei Orgânica

Não

Capítulo/Artigo do Plano Diretor

Não

Capítulo/Artigo do Plano de Desenvolvimento Urbano

Não

Capítulo/Artigo do Plano Diretor para Resíduos Sólidos

Não

Capítulo/Artigo do Plano Diretor para Drenagem Urbana

Não

Capítulo/Artigo do Zoneamento Ecológico-Econômico Regional

Não

Capítulo/Artigo do Código Ambiental

Não

Capítulo/Artigo das Leis de Criação de Unidades de Conservação

Não

Outras formas

Não Tabela 2 - Legislação Ambiental de Populina

LO AU P O

SÃ

r oG

G AS

Rio Grande

AIS

Populina

Mapa 2 - Mapa de delimitação do município de Populina O Índice de Desenvolvimento Humano (IDHM) do município é 0,714, segundo o senso de 2010, o que o classifica na faixa de Desenvolvimento Humano Alto (entre 0,700 e 0,799).

Tabela 3 - Tabela de Caracterização do Território

Os três principais fatores que determinam o IDHM do município são descritos (em ordem de maior contribuição): Longevidade, com índice de 0,804, em seguida Renda, com índice de 0,699, e por fim Educação, com índice de 0,647. 45

Com praticamente 100% da população alocada em residências providas de água encanada, energia elétrica e coleta de lixo, o município se qualifica positivamente para a implantação de um novo projeto de moradia.

Gráfico 1 - Índice de Desenvolvimento Humano de Populina

Pesquisas realizadas pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísitica (IBGE) levantaram dados sobre o baixo crescimento da população no município. Segundo os dados, em 2010, Populina contava com uma população de 4.223 habitantes, enquanto para o ano de 2016, foram estimados cerca de 4.254 habitantes para a região.

Apesar dos índices indicarem que a maioria da população populinense está situada em área urbana, os níveis de população rural ainda são significativos, se forem analisados fatores como a área ocupada por território rural e a área ocupada por território urbano. Vale o destaque para a queda da população urbana entre os anos de 2000 e 2010, provavelmente decorrente de êxodo para cidades consideradas mais desenvolvidas ou com mais possibilidades empregatícias.

Tal crescimento, citado acima como baixo, foi de extrema importância na escolha do município para a implantação do projeto. O objetivo foi adotar uma região fora dos olhares turísticos e do possível interesse de outras pessoas em tornar a cidade em um novo polo urbano. A preferência por um município pequeno, situado em zona rural, não descartou outros fatores importantes, como o abastecimento de água e luz, educação, vulnerabilidade social, etc.

Tabela 4 - Tabela de Indicadores de Habitação

Tabela 5 - Tabela de Indicadores de Demografia

O indicador de escolaridade da população adulta apresenta uma grande estagnação, em função do peso das gerações mais antigas, de menor escolaridade. Em 1991, os percentuais eram de 16,49% no município. Em 2010, considerando-se a população com faixa etária de 25 anos ou mais, 15,80% eram analfabetos, 34,81% tinham o ensino fundamental completo, 21,91% possuíam o ensino médio completo e 9,37%, o superior completo.

Gráfico 2 - Gráfico de Indicadores Escolaridade

A produção é o fator mais importante para manter a coletividade do município. Por ser constituído de pequenas propriedades, atualmente a predominância econômica na área agrícola reflete sobre a Cana de Açúcar, tendo como produtos secundários o arroz, milho, laranja, etc. Outra fonte econômica é a pecuária, composta de: bovinos, suínos, equinos, etc. Os estabelecimentos comerciais existentes na região servem apenas para suprir as necessidades de seus moradores, sem que hajam comércios de proporções significativas. Clima

Tropical Sub - Quente e Sub - Seco

Bioma

Mata Atlântica

Agricultura

Culturas diversificadas e criação

Tabela 6 - Características Geográficas 47

CAPÍTULO 04

PROJETO

4.1 PARTIDO Todos os assuntos decorridos até aqui foram imprescindíveis para o desenvolvimento de projeto dessa residência e serão pontuados novamente no desenrolar desse capítulo. Seguindo uma ordem de raciocínio, o primeiro passo dado para elaborar esse projeto foi entender o que caracteriza um espaço privado, mais especificamente uma residência. Partindo desse assunto, foi necessário um aprofundamento sobre a evolução arquitetônica das residências no Brasil, para que houvesse maior compreensão em relação aos elementos que compõem uma residência, não apenas no sentido de materialidade, mas também no sentido de fluxos, aproveitamentos, relações internas e externas, etc. Após a análise desses levantamentos, surgiu um questionamento sobre o quanto a cidade de São Paulo está saturada de construções, sejam elas residenciais ou não e, ainda por cima, sobre o quão raro tem sido ver novas construções residenciais nesse cenário na categoria casa. Esse questionamento despontou uma grande vontade de entender o que vem acontecendo na cidade, mas principalmente, de entender como as pessoas estão lidando com isso. Para onde elas fogem? O que elas buscam com essa fuga?

Partindo dessas reflexões, o projeto criou uma identidade: uma residência com objetivo de desligar o sujeito de suas relações com a metrópole enquanto estiver presente nela. A escolha de um terreno localizado em um município afastado de qualquer cidade considerada super desenvolvida foi primordial, além disso, se fez necessário também que o terreno mantesse total relação e respeito com a natureza. Outro ponto importante na escolha do terreno foi que o mesmo necessitasse o mínimo possível de alterações, como movimentação de terra e remoção de vegetação, com o objetivo de respeitar a natureza local e manter um critério sustentável cabível ao projeto. O método construtivo foi fundamentado na idéia de a construção deverá ser rápida e racional, de modo a evitar desperdícios. Foram adotados materiais pré-fabricados, a fim de diminuir os impactos na àrea de intervenção. O projeto e o programa da residência foram desenvolvidos baseados nos estudos descritos nesse trabalho. Levando em consideração a sustentabilidade, não se trata de um projeto com intenção de desmaterialização. Pelo contrário, um dos objetivos é que a residência ultrapasse décadas de uso, de forma saudável e não descartável.

Os indivíduos estão saturados de trânsito, restaurantes e shopping centers lotados, entre tantas outras problemáticas das grandes cidades, eis que um exemplo de ponto de fuga chamou a atenção: a residência projetada por Angelo Bucci, chamada de Casa de Fim de Semana em São Paulo. Compreender que nessa residência, o programa de morar fica em segundo plano, atrás do programa de lazer, foi fundamental para entender o que um indivíduo urbano busca ao fugir da cidade e o que era necessário implantar nesse projeto de residência. 51

Imagem 13 - Foto panorĂ˘mica do terreno

4.2 O TERRENO Após abordar a contextualização do projeto e fatores importantes sobre a cidade em que foi inserido, este é o momento de discutir as caracterísitcas do terreno. A cidade de Populina foi escolhida por permitir a abordagem de temas fundamentais para o projeto, como a relação com a natureza, a possibilidade de construção em terreno plano e a distância de grandes centros urbanos. O primeiro passo para a escolha do terreno foi a busca por uma cidade distante dos pólos urbanos, com possibilidade de terrenos planos, onde não fosse necessário movimentação de terra, nem a remoção de alguma construção já existente e, principalmente, onde não fosse necessário o desmatamento de árvores a fim de obter espaço para a construção. Foi primordial que o terreno estivesse realmente em área rural, permitindo que o individuo tenha contato com esse ambiente totalmente diferente da cidade, convivendo em espaço amplo e possivelmente com moradores locais. Após uma busca com características muito específicas, foi encontrado um terreno que se enquadrasse em todos os prérequisitos, localizado em meio à fazendas, um pouco afastado do pequeno centro do município de Populina, no final da rua denominada São Paulo.

Por se tratar de uma região rural, que se quer conta com loteamento de terras, não foram obtidos quaisquer tipo de informações à respeito de limites construtivos, como gabaritos, áreas máximas, etc. Dessa forma, um dos critérios ao iniciar o projeto foi respeitar o terreno, tanto em relação à área que fora ocupada, quanto às técnicas construtivas e os materiais utilizados, fatores que serão abordados ainda nesse capítulo. Outros pontos relevantes sobre a implantação do projeto foram os fatores climáticos. Trata-se de uma região com clima caracterizado “tropical sub-quente e sub-seco”, com verões muito quentes e úmidos e invernos, apesar de pouco pronunciados, secos. A junção de condições específicas, como sendo uma área sem massa arbórea significativa, juntamente com um clima muito quente, resultou no levantamento de questões de conforto ambiental e estudos de insolação que serão discutidos daqui em diante. A implantação do projeto se refere à orientação solar e também à relação do terreno com a única rua de acesso à ele. Dessa forma, a área de lazer fica totalmente voltada à fachada noroeste, de modo que seja possível uma apreciação da vista, enfatizada pelo por do sol.

Populina é vizinha de municípios pequenos como Turmalina e Santa Albertina, e está aproximadamente à 15km de distância da divisa do estado de São Paulo com Minas Gerais. Segundo o proprietário, o terreno conta com 363 mil metros quadrados, como claramente não seria necessário utiliziar toda essa área, foi criado um recorte apenas em sua superfície mais plana e com o menor número de vegetação.

Local de implantaĂ§ĂŁo

Populina

Imagem 14 - Foto do terreno

Mapa 3- Local de implantaĂ§ĂŁo

Populina

Imagem 15 - Foto do terreno 55

Mapa 4 - Recorte do Terreno

Imagem 16 - Foto do terreno

Imagem 17 - Foto do terreno 57

Mapa 5 - Implantação

Como foi possível ver nos mapas e nas fotos, a área de seleção do terreno para a implantação do projeto refere-se à um terreno cerca de 95% plano e com vegetação insignificante em termos de quantidade. A residência encontra-se em paralelo com a única rua de acesso ao terreno e sua fachada principal encontra-se voltada à noroeste. Existe uma pequena construção no terreno que possui caráter irrelevante quanto ao desenvolvimento desse projeto, visto que o objetivo do projeto era criar uma residência para o lazer e não uma fazenda com suas demais características. Compreende-se a região como um cenário completamente diferente de qualquer situação do cotidiano de um cidadão urbano. O foco do projeto é esse, fazer com que o individuo que habita essa residência em momentos de lazer e fuga da metrópole desfrute de uma natureza pura, da completa relação entre a arquitetura e o exterior dela, o meio em que ela está inserida.

Aqui vem um destaque à função extraordinária da arquitetura em fazer com que o ser perceba e contemple um espaço, meio ou qualquer que seja a proporção do local. O modo como se insere uma residência num terreno com proporções tão gigantescas, levando em conta tantos fatores impotantes oriundos da situação apresentada nada mais é do que a junção de conhecimentos adquiridos durante o curso de graduação. Os três principais fatores que resultaram a implantação foram: • O posicionamento em relação à via de acesso. • O posicionamento em relação à orientação solar. • A privacidade gerada ao estabelecer a fachada principal oposta à via de acesso. A partir disso, o projeto começou a ser desenvolvido.

Imagem 18 - Foto panorâmica do terreno

Cobertura de madeira

Alvenaria

Estrutura de concreto

Caixilhos Laje prĂŠ-moldada Pilares de madeira

Imagem 19 Perspectiva Explodida

O primeiro passo para escolher os tipos de estrutura para essa residência foi baseado em dois fatores importantes: que a construção fosse rápida e limpa, gerando o mínimo de resíduos possíveis. Dessa forma, foram adotadas duas tipologias de estrutura: de concreto e de madeira. A estrutura de concreto faz parte exclusivamente da área interna da residência. Foram escolhidos elementos de concreto pré fabricados pois esses não teriam seu processo de confecção durante a obra, o que diminui substancialmente a quantidade de resíduos gerados, restando apenas o processo de montagem para a obra. A madeira entra com várias funções nesse projeto, além de sua função estrutural para a grande cobertura da residência, ela funciona também como um ótimo isolante térmico. E ainda possui uma grande vantagem em relação à construção sustentável, pois é um material renovável, permite um processo construtivo rápido e eficaz, já que suas peças vem pré moldadas de fábrica e seu processo de produção gera baixíssimo impacto ambiental, dado que existem enormes áreas de reflorestamento voltado à extração. Dentre diversas espécies, foram pesquisados fatores importantes que contribuissem na decisão de qual seria a madeira correta para o projeto. Sendo assim, com base no desenho da residência, na necessidade de vencer um vão grande e um pé direito duplo e também levando em conta a questão ambiental, fora escolhida a madeira Eucalipto. O eucalipto é uma das principais madeiras para reflorestamento e seu uso possui inúmeras vantagens, como por exemplo: ele possui mais de 600 espécies, que se adaptam facilmente ao clima e ao solo, ou seja, quando escolhida a espécie correta, a madeira pode ter um desempenho incrível quanto à durabilidade; por atingir uma altura considerável, permite extração de grandes toras de madeiras, totalmente aplicáveis na construção civil; o Brasil é um grande produtor de eucalipto, isso significa que ele pode ser facilmente

encontrado pelo país, principalmente nos estados de Minas Gerais, Mato Grosso do Sul e São Paulo. É importante citar que o uso de estrutura de madeira requer mão de obra qualificada, mesmo que as peças já venham pré moldadas. Para que haja melhor eficiência no vencimento de grandes vãos, é uma opção considerável o uso da Madeira Laminada Colada (MLC), que nada mais é do que laminas de madeira serradas, tratadas e em seguida coladas, formando perfis com alto desempenho para estruturas.

Imagem - © IPT – Face tangencial, face radial e fotomacrografia (10x) da madeira de Eucalipto-citriodora

O uso de tratamentos químicos contra eventuais agentes naturais, como insetos, fungos e até mesmo incidência solar se faz necessário para que haja confiança na durabilidade da estrutura de madeira, que se for bem preparada no seu processo de fabricação e montagem, pode ter garantia de até 20 anos sem manutenções de grante porte. A estrutura de madeira pode não se comportar de maneira eficaz se apoiada diretamente em estruturas de concreto, pois pode ocorrer uma absorção da água existente no concreto, para isso, é necessário que seja instalado um perfil metálico, que será detalhado nos desenhos a seguir, a fim de obter uma distância segura e eficiente entre concreto e madeira. 61

Planta Térreo 1:200 Imagem 20

O programa se divide em duas partes, denominadas lazer e morar. É possível ver que a residência se divide em dois pavilhões com funções distintas, à esquerda na imagem, encontra-se a àrea de serviço, cozinha e sala de jantar. À direita, uma suíte para eventuais visitas ou ocupação por pessoas com dificudades de locomoção, um lavabo e uma sala íntima de TV. Centralizada na planta, encontra-se uma ampla sala de estar e convivencia, com pé direito duplo e composta por uma faixa de fora a fora de caixilhos. A ideia ao criá-la foi que sua amplitude fosse um reflexo do exterior da casa. A área externa se resume à um imenso deck, com áreas secas e molhadas e uma piscina voltada ao lazer e relaxamento, com espaço denominado lava-pés, onde existe espaço para colocação de espeguiçadeiras, como demonstrado na imagem.

Planta Superior 1:200 Imagem 21

No andar superior encontram-se as duas suítes principais, com proporções e detalhes idênticos, ligadas uma à outra através de uma passarela sutil, que é a mesma onde a escada se encontra para o fluxo interno da residência. Através de grandes portas, o usuário de cada suíte poderá acessar seu terraço, o qual tem função de mirante, com o mínimo de obstrução visual possível, contando apenas com um sutil guarda-corpo. A enorme cobertura de madeira que “abraça” a residência permitiu que não fossem usados brises específicos para a o bloqueio da incidência solar. Sendo assim, os dormitórios receberam grandes caixilhos que permitem a contemplação do exterior da residência.

Planta Cobertura 1:200 Imagem 22

A cobertura foi projetadas com funções estruturais e estéticas. No centro da residência, onde existe o pé direito duplo, foi desenhado uma espécie de pergolado, com algumas aberturas zenitais, sendo elas na região do deck externo e da sala de estar. Dadas as proporções e escala dessa cobertura, sua inclinação para queda d’água é mínima e acontece para as laterais externas. Foram realizados estudos de dimensionamento para as vigas dessa estrutura, sendo que as vigas principais alcançam 1 metro de altura.

1º PAVIMENTO +3,25

TÉRREO +0,00

Planta Eixos Estruturais 1:200 Imagem 23

A estrutura da cobertura de madeira é apoiada em 6 pilares de madeira e também nos pilares de concreto, através de um perfil metálico que conecta ambos. A estrutura de concreto eleita para o projeto conta com vigas e pilares pré fabricados e lajes pré moldadas de concreto com bloco cerâmico. Qualquer outra solução construtiva com concreto foi descartada por motivos de viabilidade e sustentabilidade.

1º PAVIMENTO +3,25

TÉRREO +0,00

As lajes têm papel importante na estética do projeto, com espessura de 10 centímetros apenas, elas permitiram que a estrutura parecesse leve.

Viga de concreto

Laje pré-moldada

Pilar de concreto

Imagem 24 Detalhe Estrutural

Bloco de fundação Estacas

Imagem 26 Detalhe Estrutural 1º PAVIMENTO +3,25

TÉRREO +0,00

Laje pré-moldada

Viga de concreto

1º PAVIMENTO +3,25

TÉRREO +0,00

Corte AA 1:200 Imagem 25

Detalhe 1:50 Pilar de madeira

Perfil metálico

Bloco de Fundação Bloco de Fundação

1º PAVIMENTO +3,25

TÉRREO +0,00

Corte BB 1:200 Imagem 27

1º PAVIMENTO +3,25

TÉRREO +0,00

Viga de madeira 1º PAVIMENTO +3,25

Perfil metálico

TÉRREO +0,00

Detalhe 1:50

1º PAVIMENTO +3,25

TÉRREO +0,00

Corte CC 1:200 Imagem 28

68 1º PAVIMENTO +3,25

Imagem 29 Detalhe Estrutural

Elevação 1 1:200 Imagem 30

Elevação 2 1:200 Imagem 31

Elevação 3 1:200 Imagem 32

Perspectiva Norte Imagem 33

Perspectiva Sul Imagem 34 73

Imagem 35

CONSIDERAÇÕES FINAIS

6. CONSIDERAÇÕES FINAIS Este trabalho buscou questionar a relação do indivíduo urbano no ambiente rural e o papel da arquitetura e seus elementos, capazes de intermediar essa relação entre o homem e o meio. A proposta de construção de uma casa de lazer foi baseada em diversos estudos, desde os princípios básicos do tema residência unifamiliar, até o estudo de métodos construtivos adequados e que respeitem o meio em que o projeto foi inserido. O projeto tratou questões importantes da atualidade, quanto à sustentabilidade e conclui-se aqui que não se trata de uma moradia finita, nem passageira. Foram estudados métodos construtivos duradouros, elementos arquitetônicos atemporais e materiais sustentáveis, a fim de que essa residência perdure por décadas. Com o crescimento enorme das cidades brasileiras, existe a possibilidade de que a residência se torne fixa e não apenas para o lazer e veraneio. Esta monografia não é um projeto executivo, o qual seria necessário para a efetivação da construção da mesma. Dessa forma, fica claro aqui que demais detalhamentos poderão ser realizados futuramente.

BIBLIOGRAFIA

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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Mapa 1 - Morumbi: Antes e Depois Fonte: MultiSpectral Mapa 2 - Mapa de delimitação do município de Populina Fonte: Google Maps. (Mapa alterado pela autora) Mapa 3 - Local de implantação Fonte: Google Maps. (Mapa alterado pela autora) Mapa 4 - Recorte do t erreno Fonte: Google Maps. (Mapa alterado pela autora) Mapa 5 - Implantação Fonte: Google Maps. (Mapa alterado pela autora) 82

AUGUSTO, Marcelo Gaudio. As transformações na arquitetura rural paulista pré-moderna. VI EHA – Encontro de História da Arte – UNICAMP, Campinas, 2010. Disponível em: < http://www.unicamp.br/ chaa/eha/atas/2010/marcelo_gaudio_augusto.pdf> SOUZA JUNIOR, Hélio Olga e FERNANDES, Daniel Salvatore. Wooden Structures in Brazil: Presente Situation na Perspectives. World Conference on Timber Engineering, Quebec-Canadá, 2014. Disponível em: < http://www.itaconstrutora.com.br/madeira-etecnologia/downloads/> Casa GCP / Bernardes Arquitetura, 22 Out 2014. ArchDaily Brasil. Disponível em: <http://www.archdaily.com.br/br/755857/residenciagcp-bernardes-arquitetura> Bernardes Arquitetura. Projeto Casa GCP. Porto Feliz, 2013. Disponível em: < http://www.bernardesarq.com.br/pt-br/projeto/gcp>

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GRÁFICOS Gráfico 1 - Indice de Desenvolvimento Humano em Populina (IDHM) Fonte: Atlas Brasil Gráfico 2 - Indicadores de Escolaridade Fonte: Atlas Brasil

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TABELAS

ITA Construtora. Disponível em: <http://www.itaconstrutora.com.br/>

Tabela 1 - Tabela de zoneamento (autoral) Fonte: Lei de Zoneamento de São Paulo

Instituto de Pesquisas Tecnológicas / IPT / Informações sobre madeira. Disponível em: <http://www.ipt.br/consultas_online/ informacoes_sobre_madeira/busca> Casa Grelha / FGMF Arquitetos” [Grid House / FGMF Arquitetos] 01 Jan 2012. ArchDaily Brasil. (Trad. Sambiasi, Soledad). Disponível em: <http://www.archdaily.com.br/18458/casa-grelha-fgmf> Szücs, Carlos A.. et al. Estruturas de Madeira. Disponível em: <https://moodle.ufsc.br/pluginfile.php/1313798/mod_resource/ content/0/Apostilamadeiras2015-1.pdf> FazFacíl, Laje pré-moldada Disponível em: <http://www.fazfacil.com. br/reforma-construcao/laje-pre-moldada-lajotas/>

Tabela 2 - Legislação Ambiental de Populina Fonte: IBGE 2002 Tabela 3 - Tabela de caracterização do território Fonte: Atlas Brasil Tabela 4 - Indicadores de habitação Fonte: Atlas Brasil Tabela 5 - Indicadores de demografia Fonte: Atlas Brasil 83

IMAGENS

Imagem 13 - Foto panorâmica do terreno Autoral

Imagem 1 - Casa de Final de Semana em São Paulo Fonte: SPBR Arquitetos

Imagem 14 - Foto do terreno Autoral

Imagem 2 - Casa de Final de Semana em São Paulo Fonte: SPBR Arquitetos

Imagem 15 - Foto do terreno Autoral

Imagem 3 - Casa de Final de Semana em São Paulo Fonte: SPBR Arquitetos

Imagem 16 - Foto do terreno Autoral

Imagem 4 - Casa de Final de Semana em São Paulo Fonte: SPBR Arquitetos

Imagem 17 - Foto do terreno Autoral

Imagem 5 - Perspectiva 3D Fonte: Arcoweb

Imagem 18 - Foto panorâmica do terreno Autoral

Imagem 6 - Planta Fonte: Arcoweb

Imagem 19 - Perspectiva explodida Autoral

Imagem 7 - Planta Fonte: Arcoweb

Imagem 20 - Planta térreo Autoral

Imagem 8 - Planta Fonte: Arcoweb

Imagem 21 - Planta Superior Autoral

Imagem 9 - Casa de Final de Semana em São Paulo Fonte: SPBR Arquitetos

Imagem 22 - Planta de Cobertura Autoral

Imagem 10 - Casa de Final de Semana em São Paulo Fonte: SPBR Arquitetos

Imagem 23 - Planta de eixos estruturais Autoral

Imagem 11 - Busca por casa de fazeneda “antiga” Fonte: Google

Imagem 24 - Detalhamento estrutural Autoral

Imagem 12 - Busca por casa de fazeneda “contemporânea” Fonte: Google

Imagem 25 - Corte AA Autoral

Imagem 26 - Detalhamento estrutural Autoral Imagem 27 - Corte BB Autoral Imagem 28 - Corte CC Autoral Imagem 29 - Detalhamento estrutural Autoral imagem 30 - Elevação 1 Autoral Imagem 31 - Elevação 2 Autoral Imagem 32 - Elevação 3 Autoral Imagem 33 - Perspectiva Norte Autoral Imagem 34 - Perspectiva Sul Autoral Imagem 35 - Modelo 3D Autoral