G.A.X.T - Intervenção de caráter efêmero em edifício garagem no centro da cidade de São Paulo

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DANIELA CIARVI MARTINS

G.A.X.T.

Intervenção de caráter efêmero em edifício garagem no centro da cidade de São Paulo

Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) do Bacharelado de Arquitetura e Urbanismo do Centro Universitário Senac. Orientação: Profa. Dra. Valeria Cassia dos Santos Fialho e Prof. Dr. Ricardo Luis Silva.

São Paulo 2017



Dedico ao meu eterno melhor amigo, companheiro de boas risadas (e cervejas) e irmão que Quixadá me deu e ao nosso amado lar, a Townhouse 6. Kayo, nosso amor é sem fronteiras! Sejam elas físicas, geográficas, espirituais, desse mundo ou de qualquer outro.


AGRADECIMENTOS


Agradeço, primeiramente, à minha mãe por todo suporte emocional e financeiro durante esses 5 anos e meio. Aos professores que eu tive o privilégio de ter como mestres em minha graduação, em especial, a Profa. Valeria Fialho e o Prof. Ricardo Luis por me orientarem nesse último ano e suportarem todas as minhas impaciências e angústias que envolvem esse processo. Também ao Prof. Ralf Flôres por me incentivar na vida acadêmica e científica e pelos dois anos de pesquisa. E à Profa. Myrna Nascimento por ter me proporcionado duas incríveis oportunidades de internacionalização dos meus estudos. Aos meus amigos arquitetos por todos os trabalhos em grupo, todas as noites sem dormir e todas pipocas estouradas enquanto fazíamos projeto, Luana Pedrosa, Gabriela Cunha e Augusto Ruschi. E também aos quase arquitetos, João Guirau e Thila Bartolomeu por me receberem em uma nova turma e dividirem comigo a montanha-russa de emoções que é o TCC. Ao arquiteto Damien Murat por compartilhar comigo seu vasto material em relação aos edifícios garagem, além de toda a atenção dedicada à mim e ao meu trabalho. À Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) e ao Programa Ciência Sem Fronteiras pelo investimento realizado à mim por 13 meses no exterior, mudando minha vida tanto pessoal quanto acadêmica e profissional. Aos meus amigos nessa jornada doida que é a vida, David Daniel, Lucas Assalti, Jady Medeiros e Isaias Zatz por crescerem comigo, me apoiarem e estarem sempre ao meu lado. Finalmente e não menos importante, à todos que cruzaram meu caminho nesse percurso seja numa sala de aula toda branca, em uma estação de trem no extremo sul de São Paulo, em um workshop em Copenhague, na sala da Townhouse 6 ou do 31, em uma ilha deserta portuguesa ou em um pequeno pub/hostel na Bratislava.



“Vou mostrando como sou E vou sendo como posso, Jogando meu corpo no mundo, Andando por todos os cantos E pela lei natural dos encontros Eu deixo e recebo um tanto E passo aos olhos nus Ou vestidos de lunetas, Passado, presente, Participo sendo o mistério do planeta” Novos Baianos Mistério do Planeta (1972)


RESUMO Este trabalho de conclusão de curso propõe uma intervenção arquitetônica de caráter temporário e parasitário no edifício Garagem Automática Xavier de Toledo (GAXT), localizado na região central da cidade de São Paulo. Ela parte do princípio de que os pedestres, através de seus percursos têm o poder de apreender o espaço e perceber novas perspectivas antes desconhecidas de lugares já existentes. Apresenta uma análise da tipologia dos edifícios garagem e sua configuração na cidade, passando pela escolha e o porquê do GAXT servir como objeto de interferência até a proposta em si, usando como referência as obras dos arquitetos Angelo Bucci e Carla Juaçaba, e do artista Hélio Oiticica. A proposição, com o uso de andaimes metálicos, devido a facilidade de montagem e desmontagem e a criação de uma nova praça, que corta uma quadra densamente ocupada, devolve ao transeunte a possibilidade de experimentar novos trajetos e sensações. Palavras-chave: edifícios garagem no centro da cidade de São Paulo, Garagem Automática Xavier de Toledo, intervenção arquitetônica de caráter temporário, conexões entre pedestres e cidade, caminhada como forma de apreensão do espaço e de novas perspectivas, andaime metálico leve e desmontável

ABSTRACT This final graduation work proposes a temporary and parasitic architectural intervention in the Xavier de Toledo Automatic Garage Building (GAXT), located in the central region of the city of São Paulo. It assumes that pedestrians, through their journeys, have the power to apprehend space and perceive new, previously unknown perspectives of existing places. It presents an analysis of the typology of the parking buildings and their configuration in the city, passing through the choice and why the GAXT serves as an object of interference to the proposal itself, using as a reference the works of the architects Angelo Bucci and Carla Juaçaba and the artist Hélio Oiticica. The proposition, with the use of metallic scaffolds, due to the ease of assembly and disassembly and the creation of a new square, which cuts a densely occupied court, gives the passerby the possibility of trying new paths and sensations. Key words:

Parking buildins in Sao Paulo central region, Garagem Automática Xavier de Toledo parking building, temporary architectural intervention, conections between pedestrians and city, walking as a form of apprehension of space and of new perspectives, lightweight and detachable metallic scaffold


SUMÁRIO Introdução

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1. Edifícios garagem e sua configuração na região central da cidade de São Paulo 2. Percursos e percepções

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3. Garagem Automática Xavier de Toledo (GAXT) 4. Referências

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Angelo Bucci | São Paulo: Razões de arquitetura [da dissolução dos edifícios e de como atravessar paredes] (2005) Carla Juaçaba | Humanidade2012 (2012) Hélio Oiticica | Projeto Cães de Caça (1961)

5. O parasita

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6. Considerações finais

Bibliografia

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Lista de imagens

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INTRODUÇÃO


Tema da exposição “Garagem Automática” (2016) de Felipe Russo (imagem 1), na Casa da Imagem, localizada na região central de São Paulo, os edifícios garagem são construções de caráter monumental que se espalharam pela cidade por diversos motivos, a serem explicados, nas décadas de 1950 até 1970. Este trabalho narra a história, a configuração dessa tipologia e o porquê da multiplicação e declínio desses estacionamentos verticais na capital paulista no capítulo 1 “Edifícios garagem e sua configuração na região central da cidade de São Paulo”. Nessa passagem, também é realizado um levantamento e localização dos mesmos através de mapas e fotografias. A partir daí, no capítulo 2 “Percursos e percepções”, seguiram-se explorações in loco a fim de descobrir mais e compreender as relações do pedestre e do corpo humano com o edifício e da cidade com o mesmo. Essas experimentações indicaram que em comum, em sua maioria, eles possuem uma ocupação hostil em relação aos 3 sujeitos citados anteriormente, empenas e gabaritos que ultrapassam os 30m de altura, criando assim espaços insalubres e considerados inseguros, conforme relatos de transeuntes que passavam ao redor. A escolha do edifício Garagem Automática Xavier de Toledo, situado na rua de mesmo nome, se deu por sua localização privilegiada tanto no contexto em que está inserido no espaço urbano, centro com infra-estrutura consolidada, quanto no da quadra, cruzando a mesma. Sua história e características encontram-se no capítulo 3 “Garagem Automática Xavier de Toledo (GAXT)”. Apesar de ser uma escolha considerada complicada sob o ponto de vista projetual, a entrada foi negada pelo gerente, as potencialidades já citadas fizeram com que uma proposta mesmo que “às cegas” no seu interior e na área externa que circunda as construções fosse correta. A opção escolhida foi por trabalhar com uma intervenção efêmera e que pudesse ser replicada, com a duração de alguns meses e que tivesse a capacidade de se conectar com a 11ª Bienal de Arquitetura de São Paulo, a ser realizada neste mesmo ano. Como o projeto possui caráter temporário, o uso do andaime como método construtivo, tanto por sua facilidade de montagem e desmontagem, como pela possibilidade da entrada de luz e interferências intempéricas foi adequado. Ele possibilita, devido à essas características, novas experimentações tanto pra quem frequenta a nova praça, incluída na proposta, tanto por quem visita o novo edifício. A premissa do projeto, a ser explicada com mais detalhes no capítulo 5 “O Parasita”, foi a possibilidade de realização de diversos percursos como forma de apreensão do entorno sob diferentes perspectivas. Em virtude desse partido, distintos meios de circulação foram utilizados, como escadas, rampas e elevadores, adequando a entrada do pedestre na garagem a fim de apreciar a vista do centro da cidade como um mirante e que até então, é restrita aos automóveis

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que ali estacionam. Para a criação desse espaço, os estacionamentos, um com 3 pavimentos localizado de frente à rua Xavier de Toledo/ da Consolação e o outro ocupando o terreno também ao lado do GAXT e de frente à rua Álvaro de Carvalho, foram demolidos e apropriados. Com isso, uma praça se configurou com o desenho de patamares em diferentes níveis com o propósito de propiciar ao visitante novas descobertas através do seu caminhar. Importante mencionar que com o local determinado e o início do desenvolvimento da produção da proposta, diversas referências foram utilizadas, porém por razões de tempo, espaço e objetividade, apenas 3 são explicadas nesse volume, no capítulo 4 “Referências”. São elas: o doutorado do arquiteto Angelo Bucci “São Paulo: Razões de arquitetura [da dissolução dos edifícios e de como atravessar paredes] (2005), o pavilhão Humanidade2012 (2012) da arquiteta Carla Juaçaba, ambos com uma abordagem mais objetiva e o Projeto Cães de Caça (1961) do artista Hélio Oiticica, este com uma aborgadem mais subjetiva. Assim como proposto nessa intervenção, diversos caminhos foram percorridos durante o processo de desenvolvimento do trabalho, agregando novos conhecimentos sobre uma tipologia existente há décadas em São Paulo. Esses itens levaram a uma maior percepção da cidade tanto como usuária, quanto futura arquiteta, o que é exposto nas páginas a seguir.

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Imagem 1: Fotografia do interior de um edifício garagem, integrante da mostra “Garagem Automática” (2016), de Felipe Russo.

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1. EDIFÍCIOS GARAGEM e sua configuração na região central da cidade de São Paulo


Com a modernização do Brasil nas décadas de 1940 e 1950, e consequentemente da cidade de São Paulo, que era considerada um município emergente no país, o número de carros que circulavam por ela aumentou consideravelmente, chegando ao número de 50 mil. Em virtude dessa frota considerável, leis foram criadas a fim de organizar a cidade e sua circulação. A primeira delas em 1950, foi o relatório escrito e dirigido pelo urbanista norte-americano Robert Moses¹ chamado “Programa de melhoramentos públicos de São Paulo”, que em uma de suas propostas, limitava o estacionamento de carros nas vias públicas. Este fato, se torna um marco pois a partir disso, os edifícios garagem passam a se tornar uma opção viável para guardar os veículos. Cinco anos depois, a prefeitura elaborou a lei nº 4.784/55 que incentivava, de fato, a construção de edifícios garagem, através da isenção dos impostos por dez anos. Nesse meio tempo, o arquiteto Rino Levi projetou, em 1954 na rua Riachuelo, o primeiro da cidade, o edifício Garagem América. Ele foi considerado um símbolo da modernidade com 400 vagas e por possuir um sistema inovador de dupla rampa helicoidal. Além de ser o pioneiro na construção com estrutura metálica no país. Após esse estímulo, mais e mais edifícios garagem passaram a surgir na região central, sempre divulgados em veículos de informação em massa como jornais, como exemplo de grande inovação e ícone do futuro (imagem 2). Outra referência dessa tipologia na época, foi o edifício garagem Araújo localizado na rua de mesmo nome, por possuir agora elevadores Atlas em seus 25 andares para realizar o transporte dos veículos no seu interior (imagem 3). Depois de uma década da lei de incentivo, 25 edifícios garagem já estavam equipados com os ascensores. O declínio desse modelo de parada vertical veio a ocorrer na década de 1970, devido em parte ao deslocamento da elite do centro histórico de São Paulo, para novas regiões da cidade, onde a construção de estacionamentos em subsolos prevaleceu, devido também aos novos Código de Obras e Zoneamento da Cidade de São Paulo, de 1975. Ambos eram mais exigentes em relação à construção de vagas para veículos tanto em edifícios residenciais como comerciais. Porém, somente no início da década de 1990 é que a empresa Atlas parou de comercializar os seus elevadores utilizados nesses edifícios. Embora essas garagens pareçam abandonadas no seu exterior, a pesquisa

¹Robert Moses (1888-1981) foi um urbanista norte-americano responsável pela reformulação da cidade de Nova York no século XX, com a criação de grandes vias entre elas a Staten Island Expressway, favorecendo o transporte individual ao invés do coletivo e com a demolição de quadras e bairros históricos por completo, a fim de “higienizar” o ambiente. Também foi responsável pela construção do Lincoln Center, do Shea Stadium e da sede mundial da ONU na mesma cidade.

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Imagem 2 (página anterior): Reprodução de texto sobre o edifício garagem Saint Patrick, localizado na Av. Nove de Julho, no centro da cidade de São Paulo, publicado em 12 de julho de 1956, no jornal Estado de São Paulo. É possível perceber como o empreendimento é vendido como o símbolo do futuro e da modernização.

in loco pode constatar, conforme detalhado posteriormente, que essa tipologia ainda é utilizada em horário comercial nos dias úteis. Tanto que, em 2015, o então prefeito Fernando Haddad, na nova lei de zoneamento, definiu mais de 30 zonas onde esse tipo de construção será estimulada, curiosamente 80% dessas regiões estão fora do centro expandido da cidade, como os bairros de Santana, Barra Funda, Lapa, Butantã e Ipiranga. Nesse caso, a intenção é incentivar essas obras em locais próximos à estações de trem, metrô e/ou terminais de ônibus. E assim como a lei a anterior, apresenta um benefício que é o não-pagamento de outorga onerosa. Com todos esses incentivos e a construção sistemática dos edifícios garagem entre as décadas de 1950 a 1970 no centro, além de uma frota atual de 7 milhões de automóveis no município, um levantamento foi realizado a fim de localizá-los no perímetro mencionado (imagem 4) e seguir com o próximo passo do trabalho: reconhecer esses espaços sob o ponto de vista do pedestre e do corpo humano, com sensações e experimentações visuais e de conforto.

Imagem 3: Anúncio publicitário vendendo vagas de garagem no edifício Garagem Automática Araújo, localizado na rua de mesmo nome. Aqui o apelo de pioneirismo ainda existe, porém de forma mais sutil que o anterior e trazendo a problematização do transporte na cidade de São Paulo.

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Pontos de referência

C: Edifício Copan

A: Praça da República

D: Paróquia Nossa Senhora da Consolação G: Praça da Sé

B: Biblioteca Mário de Andrade

E: Praça das Bandeiras

F: Vale do Anhangabaú

H: Estação da Luz

I: Parque da Luz


Edifícios garagem Edifícios garagem

Levantamento dos 24 edifícios garagem localizados na região central da cidade de São Paulo.

Legenda Legenda Levantamento dos trem e/ estações Estações de de trem 24 edifícios garagem ou metrô e/ou metrô localizados na região Pontos de de central da cidade pontos de referência referência São Paulo. Ed. garagem

Legenda edifícios garagem Estações de trem Sem escala e/ou metrô Pontos de referência

Perambulações e percepções Percurso 1

Ed. garagem

Percurso 2

Sem escala sem escala

Perambulações e percepções

Imagem 4: Mapa de localização dos edifícios garagem na região central da cidade de São Paulo. É possível perceber uma certa concentração dos mesmos próximos ao Vale do Anhangabaú.

Percurso 1

Percurso 2

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Percurso 3

Percursos realizados na região central da cidade de São Paulo


Edifícios garagem 1: Edifício Garagem Automática Imeri endereço: Rua Franklin Roosevelt, 200

2: Garagem Automática Roosevelt endereço: Rua Nestor Pestana, 121

3: Condomínio Garagem Major Quedinho endereço: Rua Major Quedinho, 114

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4: Garagem Automática das Bandeiras endereço: Rua Álvaro de Carvalho, 151

5: Garage Cogeral endereço: Rua Álvaro de Carvalho, 186

6: Garagem Automática Xavier de Toledo endereço: Rua Álvaro de Carvalho, 86

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7: Garagem Automática Xavier de Toledo endereço: Rua Xavier de Toledo/da Consolação, 1

8: Condomínio Garagem Central Riachuelo endereço: Rua Riachuelo, 231

9: Edifício Garagem Fernandes Lima (inacabado) endereço: Rua do Carmo, 93

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10: Edifício Garagem Automática Rim-Va endereço: Rua Teodoro Baima, 88

11: Condomínio Garagem Automática General Jardim endereço: Rua General Jardim, 157

12: Edifício Garagem Automática Araújo endereço: Rua Araújo, 154

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13: Edifício Grande São Paulo endereço: Rua Libero Badaró, 425

14: Edifício Garagem 25 endereço: Rua 25 de março, 153

15: Edifício Garagem Parque 25 endereço: Rua 25 de março, 324

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16: Condomínio Garagem Automática República endereço: Rua Aurora, 990

17: Cingo Estacionamento endereço: Rua Aurora, 770

18: Edifício Garagem Automática Aurora endereço: Rua Aurora, 424

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19: Edifício Garagem Ipiranga endereço: Avenida Ipiranga, 118

20: Condomínio Edifício Garagem Automática Luz endereço: Avenida Prestes Maia, 312

21: Condomínio Edifício Garagem Florêncio endereço: Rua Florêncio de Abreu, 282

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22: Garagem Automática Prada endereço: Rua Augusto Severo, 111

23: Senador Garagem Automática endereço: Avenida Senador Queirós, 463

24: Condomínio Edifício Garagem Padrão endereço: Rua Correia de Melo, 108

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2. PERCURSOS e percepções


Após o levantamento bibliográfico sobre a história dos edifícios garagem e suas localizações predominantes na região central da cidade de São Paulo, fezse a necessidade de conhecer seus arredores presencialmente através de quatro caminhadas realizadas em três ocasiões e horários distintos, 07 e 11 de novembro de 2016 e 17 de fevereiro de 2017. Essas perambulações foram escolhidas como uma metodologia que antecede a proposição devido as possibilidades que os edifícios e a cidade propriamente dita podem oferecer ao arquiteto, não só como agente transformador do espaço mas também como usuário, e pelas percepções do ambiente como ser humano a fim de apreender e combater a espetacularização da mesma. Segundo Jacques (2005), a sociedade está diante de uma espetacularização urbana que se refere à menor participação popular e a criação de espaços que buscam um ideal internacional, como uma marca de identidade mas que no fim caem na contradição de não possuírem nenhuma. Esse conceito é chamado de não-lugar, que tratam-se de espaços sem relação histórica ou identitária (Auge, 1994). Diante desses conceitos e da possibilidade de conhecer a vida e as características dessas redondezas, a primeira caminhada, no dia 07 de novembro de 2016 por volta das 14h, teve o seguinte roteiro exibido a seguir (imagem 5). Percurso 1 data: 07 de novembro de 2016 início: Estação República das linhas 3 e 4 do metrô — Por volta das 14h término: Edifício Garagem Automática Aurora — Por volta das 16h edifícios garagem visitados²: 6

Percurso 2 data: 07 de novembro de 2016 início: Estação Sé das linhas 1 e 3 do metrô — Por volta das 16h término: Estação Anhangabaú da linha 3 do metrô — Por volta das 17h edifícios garagem visitados: 7

² Visitados exteriormente. Por questões de segurança, a entrada de pessoas comuns é negada.

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central da cidade de Ed. garagem São Paulo. Sem escala

Legenda

Estações de trem e/ou metrô

lações e percepções

Pontos de referência

Percurso 2

Ed. garagem Sem escala

e percepções Percurso 2

Percurso 3

Percursos realizados na região central da cidade de São Paulo afim de conhecer os edifícios garagem e seu entorno. Legenda Nota-se uma ocupação hostil em relação à cidade e uma certa Ed. garagem sensação de insegurança entre os Percurso transeuntes. Visita noturna revela que o local sem escala Imagem 5: Mapa ilustrativo do primeiro e segundo percursos realizados a fim de conhecer também énaocupado nesse periódo. Percursos realizados região Percurso 3 Sem escala os edifícios garagem. Nessa exploração, percebe-se a alta concentração dessa tipologia central da cidade de São Paulo próximas ao metrô República e Anhangabaú. afim de conhecer os edifícios Legenda garagem e seu entorno. Legenda Nota-se uma ocupação hostil 1. Vista da GAXT pela Ed. garagem edifícios garagemem relação à cidade e uma certa Rua Xavier de Toledo. sensação de insegurança entre os 2. Vista da GAXT pela Percurso transeuntes. percurso Rua Álvaro de Carvalho. Percurso Percurso 2 Visita noturna revela 1que o local 3. Vista de Bar e Resperiódo. Sem escala também é ocupado nesse taurante no entorno no 1: Estação República 8: Estação Sé período noturno 2: Edifício Garagem Automática Rim-Va

9: Garagem Automática da Sé

3: Condomínio Garagem Automática

10: Condomínio Garagem Central Riachuelo

1. Vista da GAXT pela República Rua Xavier de Garagem Toledo. Automática 4: Condomínio 2. Vista da GAXT General Jardim pela Rua Álvaro de Carvalho. 5: Edifício Garagem Automática Araújo 3. Vista de Bar e Res6: Cingo Estacionamento taurante no entorno no período noturno 7: Edifício Garagem Automática Aurora

11 e 12: Garagem Automática Xavier de Toledo 13: Garage Cogeral 14: Garagem Automática das Bandeiras 15: Condomínio Edifício Garagem Major Quedinho 16: Estação Anhangabaú

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Com o endereço dos edifícios garagem em mãos, pareceu mais razoável de que o percurso tivesse início e focasse em lugares com maior concentração da tipologia estudada. Por este motivo, o ponto inicial foi a estação República do metrô. Partindo dessa estação, que naquela manhã estava bastante movimentada em relação aos pedestres, foi possível observar a grande quantidade de pessoas, que passavam rapidamente e de comércios e serviços, sejam formais ou informais, até a primeira parada no Edifício Garagem Automática Rim-Va (imagem 6), em frente à Paróquia Nossa Senhora da Consolação. Lá, com a entrada para a Rua Rego Freitas, o alvoroço percebido na praça era menor e o edifício se alinhava com o gabarito próximo. Voltando à Praça, a próxima parada foi na rua Aurora, onde está localizado o Edifício Garagem Automática República (imagem 7). Ali, por estar bem próximo à Praça, apresentava características similares à mesma em relação aos fluxos. O que mais chamou atenção foi a estrutura sem acabamento, com vãos consideráveis que permitem a entrada de iluminação e ventilação natural, e sua empena com mais de 30 metros, virada para as esquinas das ruas do Arouche e Aurora. Depois, seguindo até a rua General Jardim, chega-se ao edifício garagem de mesmo nome (imagens 8 e 9). Nessa região é possível perceber uma ocupação um pouco diferenciada, devido à concentração de estudantes de arquitetura e arquitetos, pois ali estão localizados diversos escritórios e uma faculdade. Outro fato a ser mencionado, foi a presença de policiais em frente a obra estudada. Ele, diferente do anterior, tem uma certa preocupação estética, visto que as cores rosa, amarelo e verde se fazem presente na fachada. Porém, se assemelha ao primeiro por possuir fechamento de muxarabi e ainda possui arame farpado, causando a sensação de hostilidade. Seguindo o roteiro pela rua Araújo, mais um edifício garagem, com o mesmo nome da rua também, apresenta uma configuração distinta das observadas até agora. Porém, ela se fará presente em outras ocasiões, trata-se de um uso diferenciado no térreo ou no primeiro pavimento, e a garagem propriamente dita no fundo ou nos últimos pavimentos. Nesse momento da caminhada, surge uma (das três) estrutura inesperada, primeiro a Cingo Estacionamento (imagem 10), cuja ocupação toma uma grande parte da quadra, com uma fachada marcante nas esquinas da avenida Vieira de Carvalho e Rua Aurora, devido aos vãos e a cor cinza-escuro do concreto. E depois, mais adiante na região do Anhangabaú os edifícios Garagem Fernandes Lima e a Garagem Cogeral, ambos na rua Álvaro de Carvalho. Por fim, no último local a ser visitado, também localizado na rua Aurora (imagem 11), percebe-se uma certa quantidade de lixo jogado por todos os cantos (mais que os anteriores) e moradores de rua, fazendo com que do início ao fim, esse logradouro não pareça o mesmo e que uma sensação, novamente hostil, se faça presente. Após a caminhada incial na região da República e seus arredores, o próximo local a ser explorado foi o da Sé e Anhangabaú. O ponto de partida dessa vez, assim como o anterior foi a estação de metrô e a praça de mesmo nome. Ambos 35


Imagens 6 e 7: Edifícios Garagem Automática Rim-Va e Edifício Garagem Automática República. Ambos apresentam gabarito superior à 30 metros de altura e no caso do segundo, a empena sem acabamento contrasta com os dois pavimentos do edifício de esquina.

se encontravam lotados com diversos tipos de comércio e vendedores ambulantes. Dali, o primeiro edifício garagem a ser visitado, foi o da Sé (imagem 13). Este, tem o estacionamento localizado no subsolo com uso misto nos seus 10 pavimentos restantes e por esta razão, ele destoa-se do restante das construções estudadas. Seguindo a rua Riachuelo, encontra-se o condomínio de garagens (imagem 14) que também se alinha ao gabarito ao seu redor. Aqui, quase não haviam pessoas na rua, o que causava uma certa sensação de insegurança. Dando continuidade ao percurso, passa-se por marcos históricos da cidade de São Paulo, como o Viaduto do Chá e a Praça do Patriarca, até chegar na região do Anhangabaú. Ali, uma quadra destaca-se pela seguinte particularidade: ela é constituída por 4 edifícios garagem. São eles: Edifício Garagem Automática Xavier de Toledo, localizado na rua da Consolação/ Xavier de Toledo, seu anexo, Garage Cogeral e Garagem Automática das Bandeiras, estes situados na rua Álvaro de Carvalho. O Edifício Garagem Automática Xavier de Toledo (imagem 15) e o seu anexo

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Imagens 8 e 9: Edifício Garagem Automática General Jardim. Na segunda imagem (à direita), o arame farpado e as cores utilizadas na fachada podem ser observadas. Já na primeira (à esquerda), a empena ganha destaque ao lado de um hotel de 2 pavimentos.

(imagem 16) se encontram na fachada que se vira para dentro da quadra e possuem características similares. Algumas se repetem no Edifício Garagem Automática das Bandeiras (imagem 17) e são citadas a seguir: o gabarito e as empenas de concreto aparente superiores a 40m de altura e fachada cega, que dificulta a visão do que ocorre no interior dos pavimentos e a entrada de iluminação e ventilação natural. O único dessa seleção que se configura com o uso misto é o Garage Cogeral (imagem 18). Com 18m de estacionamento vertical e o restante residencial, ele tem aberturas para ventilação e iluminação natural, de onde é possível observar os carros que estão parados no seu interior. A rua em questão estava praticamente vazia, tirando alguns poucos transeuntes, além de possuir pequenos comércios, como bares e restaurantes. Importante mencionar que no dia da visita, um casal se aproximou e alertou para o perigo de assaltos e furtos no local, visto que a câmera fotográfica estava em maõs. Logo, percebe-se que o local é considerado inseguro e que as pessoas evitam

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Imagem 10, 11 e 12: A primeira fotografia (à esquerda) mostra o Cingo Estacionamento e sua ocupação com comércio no térreo e a garagem nos 9 pavimentos seguintes. Na de número 11 (à direita), o Edifício Garagem Automática Aurora é retratado, ele está localizado entre dois outros de uso misto e mesmo gabarito. Por fim, a última imagem (abaixo na página anterior), retirada na rua Araújo, mostra a movimentação de quem caminha do colégio Caetano de Campos para o interior do bairro.

Imagens 13 e 14: Edifícios Garagem da Sé (à esquerda) e Riachuelo (à direita). Ambos com uso misto e fachadas acabadas, além do concreto aparente descascando apresentado nos anteriores. Porém, o segundo se difere por ocupar a quadra quase por completo, cuja face virada para avenida 23 de maio mostra a fachada aberta e seus pavimentos.

frequentá-lo. Finalmente, o último edifício a ser visitado foi o Condomínio Edifício Garagem Major Quedinho (imagem 19), localizado na rua de mesmo nome. Ali, os fluxos eram mais intensos, tanto de automóveis individuais e coletivos quanto pessoas. Possivelmente devido ao uso misto com comércio e serviços de maior porte, como uma padaria que ocupa uma esquina e um ponto de táxi. Através da vista frontal do local, é possível reparar que ele tem poucas entradas de ventilação e iluminação natural, assim como a maior parte das garagens já documentadas, e os seus 11 pavimentos destoam entre si. Um motivo provável para isso, podem ser improvisações que aconteceram durante a construção do mesmo, que ficaram evidentes na fachada, como a quantidade de tijolos que definem as aberturas.

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Imagens 15 e 16: À esquerda, encontra-se o Edifício Garagem Automática Xavier de Toledo que apesar de acompanhar o gabarito da quadra, destoa-se da garagem no lote ao lado com 3 pavimentos e cores vibrantes. Pois trata-se de concreto aparente cinza desgastado e uma altura de 48 metros. Já, à direita, encontra-se seu anexo com características similares ao anterior.

Após o Major Quedinho, a caminhada findou-se na estação Anhangabaú da linha 3 do metrô, chegando a ela pela rua Quirino de Andrade, que naquele momento (próximo às 17h) tinha fluxo intenso de veículos e pedestres, como mencionado anteriormente.

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Imagens 17, 18 e 19: A primeira imagem (à esquerda, acima) retrata o Edifício Garagem Automática das Bandeiras, que tem um certo aspecto de abandonado devido ao concreto aparente com marcas de intempéries nas suas fachadas e empenas, destacando-se na paisagem. A segunda imagem (à direita, acima) retrata o Garage Cogeral, com 6 pavimentos destinados à estacionamento e o restante residencial. Comparado às construções vistas até agora, ele possui um gabarito inferior. Por fim, (à direita, abaixo) o Condomínio Edifício Garagem Major Quedinho. Nesse caso, a inconsistência e falta de padronização da fachada se destacam. Assim como os outros edifícios apresentados, segue o gabarito da quadra, porém não deixa empenas evidentes.


Levantamento dos 24 edifícios garagem localizados na região central da cidade de São Paulo.

Edifícios garagem

Legenda

Percurso 3

Estações de trem e/ou metrô

data: 11 de novembro de 2016

Levantamento dos Pontos de referência 24metrô, edifícios início: Estação Luz das linhas 1 e 4 do e 7 egaragem 11 da CPTM — Por volta das 14h localizados na região garagem término: Estação Luz das linhas 1 e 4 do metrô, e 7 e 11 daEd. CPTM — Por volta das 15h central da cidade de São Paulo. edifícios garagem visitados: 1 Sem escala

Legenda Estações de trem e/ou metrô

Perambulações e percepções Percurso 1

Percurso 2

Pontos de referência Ed. garagem Sem escala

ambulações e percepções

urso 1

Percurso 2 Percurso 3

Percursos realizados na região central da cidade de São Paulo afim de conhecer os edifícios garagem e seu entorno. Legenda Nota-se uma ocupação hostil em relação à cidade e uma certa Ed. garagem sensação de insegurança entre os Percurso transeuntes. Visita noturna revela que o local sem escala Imagem 20: Mapa ilustrativo do terceiro percurso realizado a fim de também é ocupado nesse periódo. Sem escala conhecer os edifícios garagem. Nessa exploração, somente dois edifícios Percursos região Percurso 3 garagem serealizados localizavamnanas redondezas: o Edifício Garagem Automática central da cidade de São Paulo Padrão e o Condomínio Edifício Garagem Automática da Luz. afim de conhecer os edifícios Legenda garagem e seu entorno. 1. Vista da GAXT pela Legenda Nota-se uma ocupação hostil Ruacerta Xavier de Toledo. em relação1:àEstação cidade eLuzuma edifícios garagem Ed. garagem 2. Vista da GAXT pela sensação 2: deEdifício insegurança entre os Garagem Automática Padrão Rua Álvaro de Carvalho. Percurso percurso transeuntes. 3: Avenida Tiradentes/ Estação Luz Visita noturna revela que3.oVista local de Bar e Restaurante no entorno no periódo. Sem escala também é ocupado nesse período noturno 42 1. Vista da GAXT pela Rua Xavier de Toledo.


Saindo da estação da Luz e contornando o Parque de mesmo nome, o caminho seguiu pela rua José Paulino, que é conhecida por comércios principalmente na área têxtil. No momento em questão, a movimentação era intensa, tanto de automóveis, quanto de ônibus e pedestres, ao ponto de dificultar até mesmo a circulação na calçada. Essa configuração permaneceu na rua Ribeiro de Lima até a Correia de Melo, esta com fluxo menor comparado à José Paulino, onde está localizado o Condomínio Edifício Garagem Automática Padrão. Assim como o Edifício Garagem Automática Araújo, a sua fachada demonstra que outros usos existem ali, e que só após uma observação mais minuciosa, é possível ver o estacionamento vertical situado nos fundos (imagens 21 e 22). A diferença com o gabarito predominante no entorno próximo, em torno de 15m, se torna visível, já que a construção visitada possui em torno de 36m com empenas de igual altura. Voltando ao Parque da Luz, dessa vez pela rua Prates, o objetivo que era de continuar caminhando pelas redondezas, visto que o levantamento prévio havia localizado um número considerável de edifícios garagem na região, foi alterado. Devido ao calor de 34ºC, a sensação térmica fez com que se tornasse insuportável caminhar debaixo desse sol. Apesar desse percurso ter sido interrompido, os que já haviam sido realizados trouxeram suporte e material para a sugestão de uma escolha da área de intervenção. Com essa ideia já implementada, o próximo percurso se deu nas proximidades do metrô Anhangabaú, visto que ali se concentravam 4 edifícios garagem em 2 quadras.

Imagens 20 e 21: Ambas retratam o Edifício Garagem Automática Padrão, situado na região da Luz, em São Paulo. Na primeira fotografia (à direita), fica visível o “anexo”, que se trata do estacionamento vertical localizado na fachada posterior, e sua empena. Já na imagem à esquerda, é possível notar a entrada da garagem e o fluxo de pedestres.

43


São Paulo.

Edifícios garagem

Legenda Estações de trem e/ou metrô Pontos de

Levantamento dos referência 24 edifícios garagem localizados na regiãoEd. garagem central da cidade de São Paulo.

Percurso 4

Sem escala

data: 17 de fevereiro de 2017

Legenda

início: Estação Anhangabaú da linha 1 do metrô — 23h14min Estações de trem término: Estação Anhangabaú da linha 1 do metrô — 23h26min e/ou metrô

Perambulações e percepções Percurso 1

edifícios garagem visitados: 4

Percurso 2

Pontos de referência Ed. garagem Sem escala

ambulações e percepções

urso 1

Percurso 2 Percurso 3

Percursos realizados na região central da cidade de São Paulo afim de conhecer os edifícios garagem e seu entorno. Legenda Nota-se uma ocupação hostil em relação à cidade e uma certa Ed. garagem sensação de insegurança entre os Percurso transeuntes. Visita noturna revela que o local Imagem 22: Mapa ilustrativo do quarto percurso realizado. Este, focou sem escala também é ocupado nesse periódo. Sem escala próximo no entorno ao metrô Anhangabaú, visto a concentração de 4 Percursos realizados regiãouma em frente a outra. Já se percebia a Percurso 3 edifícios garagem em 2 na quadras, central da cidade de São Paulo pontencialidade do local como ponto de intervenção. afim de conhecer os edifícios Legenda garagem e seu entorno.1. Vista da GAXT pela Legenda Nota-se uma ocupação Rua hostil Xavier de Toledo. 1: Estação Anhangabaú edifícios garagem em relação à cidade e uma certada GAXT pela Ed. garagem 2. Vista Edifício Garagementre Automática de Toledo sensação2:de insegurança os de Xavier Rua Álvaro Carvalho. Percurso transeuntes. 3: Edifício Garagem Sem Nome percurso 3. Vista de Bar e ResVisita noturna revela quetaurante o local no entorno no 4: Condomínio Edifício Garagem das Bandeiras periódo. Sem escala também é ocupado nesse período noturno 5: Garage Cogeral

6: Biblioteca Mário de Andrade

44

1. Vista da GAXT pela Rua Xavier de Toledo. 2. Vista da GAXT pela Rua Álvaro de Carvalho. 3. Vista de Bar e Restaurante no entorno no período noturno


A quarta e última caminhada realizada teve início na estação Anhangabaú da linha 1 vermelha do metrô às 23:14, e tratava-se de uma sexta-feira. O local foi escolhido pois com o levantamento e as três caminhadas anteriores, percebeu-se que a região concentrava 4 edifícios garagem em 2 quadras que se faceiam, o que foi considerado como potencialidade. Seguindo pela Rua Xavier de Toledo/Rua da Consolação, o fluxo de pedestres e automóveis era menor comparado aos dias de semana nos períodos matutino e vespertino, porém, a circulação existente pode ser considerada razoável nesse eixo. Por estar fora do horário comercial, somente o Edifício Garagem Automática Xavier de Toledo estava aberto, ele é 24h, mas nenhum veículo adentrou-o durante o período do percurso (imagem 23). Cruzando o viaduto Nove de Julho e seguindo pela Rua Álvaro de Carvalho, o cenário encontrado era outro. Os bares e restaurantes, que de dia, permaneciam praticamente vazios, nesse horário, encontravam-se com pessoas (imagem 24), assim como as calçadas. A quadra também possui uma casa noturna, que no momento da visita, estava com uma fila de aproximadamente, 15 pessoas. Após essa volta no entorno, confirmou-se que a região seria a escolhida como objeto de interferência, visto que possui uma localização estratégia, com infraestrutura consolidada, como o metrô e fluxo de pedestres, mesmo no período da noite. A seguir, é relatado o porquê da escolha do Edifício Garagem Automática Xavier de Toledo entre esses 4 e a sua história na cidade, assim como sua configuração na

Imagens 23 e 24: À esquerda, é possível ver o Edifício Garagem Automática Xavier de Toledo aberto e sem movimento. E à direita, um dos bares entre a esquina da Rua Álvaro de Carvalho com a Rua João Adolfo, com frenquentadores e a fila da casa noturna ao fundo.

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3. GARAGEM AUTOMÁTICA

Xavier de Toledo (GAXT)


Após a lei nº 4.784/55 que incentivou a construção de edifícios garagem na cidade de São Paulo, com a isenção de impostos aos investidores por dez anos, diversos estacionamentos verticais surgiram na capital paulista até a década de 1970. Foi nesse cenário e afim de suprir uma demanda por vagas para veículos de pessoas que trabalhavam ou moravam no local, que em 1965 o Edifício Garagem Automática Xavier de Toledo (GAXT) começou a ser erguido e entrou em operação em 1967. Situado na região do Anhangabaú, no centro da cidade, entre as ruas Xavier de Toledo/da Consolação e Álvaro de Carvalho, a garagem ocupa uma posição privilegiada. Esta, se dá tanto no contexto urbano, por se tratar de um lugar com infraestrutura consolidada com uma rede de transportes³, comércios e serviços, quanto na quadra, cortando-a (imagens 25 e 26). O projeto consiste de um conjunto de dois edifícios garagem, um faceando a rua Xavier de Toledo/da Consolação (1) e outro a rua Álvaro de Carvalho (2) e ambos possuem uma conexão entre si, que ocorre no pavimento térreo do 1 com o quinto do 2. O 1 é constituído por um bloco de 28 pavimentos, sendo 4 desses no subsolo. Ele possui administração, banheiros, vestiários, atendimento ao público e os acessos para os 5 elevadores, tanto os 4 de automóveis quanto o último de pessoas, no piso térreo. Já os 3 pavimentos restantes são destinados à casa de máquinas e caixa d’água. Sua capacidade total é de 425 vagas . O 2, por sua vez, é constituído por um bloco de 31 pavimentos, sendo 2 desses no subsolo. O seu andar térreo possui o acesso para os 4 elevadores de automóveis e assim como o anterior, os 3 últimos pavimentos são destinados à casa de máquinas e caixa d’água. Sua capacidade total é de 426 vagas. Ambos têm pé-direito em torno de 2,00m de altura, a fim de aproveitar o máximo possível do potencial construtivo e por esta razão, eles também ocupam 100% do terreno dos lotes, sem recúos. Já no caráter construtivo, eles não possuem qualquer preocupação estética, ou seja sem ornamentos, e foram erguidos com concreto armado e blocos de concreto nas vedações laterais. A única exceção fica nos dois primeiros andares de ambos, que possuem azulejos nas fachadas e nas faces viradas para a rua com brises de alumínio (imagens 27 e 28). ³No trecho em frente à GAXT, nas ruas Xavier de Toledo/da Consolação, circulam as seguintes linhas nos pontos de ônibus: 8000-10 (Terminal Lapa - Praça Ramos de Azevedo), 8700-10 (Terminal Campo Limpo - Praça Ramos de Azevedo), 8700-23 (Butantã - Praça Ramos de Azevedo), 179 (Embu das Artes - Anhangabaú), 7545-10 (Jardim João XXIII - Praça Ramos de Azevedo), 7545-21 (CDHU Butantã - Praça Ramos de Azevedo), 8400-10 (Terminal Pirituba - Praça Ramos de Azevedo), 870510 (Shopping Continental - Anhangabaú), 7267-10 (Apiacás - Praça Ramos de Azevedo), 8622-10 (Morro Doce - Praça Ramos de Azevedo), 7272-10 (Mercado da Lapa - Praça Ramos de Azevedo), 7903-10 (Jardim João XXIII/Educ. - Praça Ramos de Azevedo), 8594-10 (Cidade D’Abril - Praça Ramos de Azevedo), 8696-10 (Jaraguá - Praça Ramos de Azevedo) e 8696-41 (Jaraguá - Praça Ramos de Azevedo). Além da estação Anhangabaú da linha 1 do metrô de São Paulo e a proximidade ao Terminal Bandeira.

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Pontos de referência

Levantamento dos 24 edifícios garagem Ed. garagem localizados na região central da cidade de Sem escala São Paulo.

Perambulações e percepções Percurso 1

Legenda

Percurso 2

Estações de trem e/ou metrô Pontos de referência Ed. garagem Sem escala

ambulações e percepções

urso 1

Percurso 2 Percurso 3

sem escala

Percurso 3

Percursos realizados na região central da cidade de São Paulo afim de conhecer os edifícios garagem e seu entorno. Legenda Nota-se uma ocupação hostil em relação à cidade e uma certa Ed. garagem sensação de insegurança entre os Percurso transeuntes. Visita noturna revela que o local Imagem 25: Mapa de localização da quadra contendo o Edifício Sem escala também é ocupado nesse periódo.

Garagem Automática Xavier de Toledo, em relação ao centro da cidade de São Paulo. Pontos de referência usados nos outros mapas, são aqui colocados a fim de estimar uma distância dele em Percursos realizados na região relação aos que foram visitados anteriormente.

central da cidade de São Paulo 1. Vista da GAXT pela afim de conhecer os edifícios Legenda garagem e seu entorno. Rua Xavier de Toledo. Legenda 2. Vista da GAXT pela Nota-se uma ocupação hostil Rua Álvaro de Carvalho. daeRepública cidade uma certa Ed. garagem edifícios garagemem relação1:àPraça 3. Vista de Bar e Ressensação de insegurança 2: Parque da Luz entre os taurante no entorno no Percurso transeuntes. percurso 3: Praça Franklinperíodo Roosevelt noturno Visita noturna revela que o local 4: Praça da Sé Sem escala também é ocupado nesse periódo.

48

1. Vista da GAXT pela Rua Xavier de Toledo. 2. Vista da GAXT pela Rua Álvaro de Carvalho. 3. Vista de Bar e Restaurante no entorno no período noturno


Imagem 26: Quadra onde está localizado o GAXT (destacado). É possível notar o gabarito predominante em torno de 30/33m de altura.

Imagem 27 e 28: À esquerda, a primeira imagem ilustra a fachada virada para a rua Xavier de Toledo/ da Consolação e à direita, a fachada virada para a rua Álvaro de Carvalho. Em ambas é possível notar os brises de alumínio e a diferença de gabarito com o entorno imediato.

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corte esquemático

Legenda edifício 1 edifício 2

50


51


São Pau

Legenda

plantas Perambulações e percepções Percurso 1

Percurso 2

Percurso 3 Legenda Ed. garagem 1º e 2º subsolo

Legenda edifício 1 edifício 2

52

térreo

Percurso Sem escala

Percursos realizad central da cidade afim de conhecer o garagem e seu ent Nota-se uma ocup em relação à cidad sensação de inseg transeuntes. Visita noturna reve também é ocupad

1. Vista Rua Xa 2. Vista Rua Álv 3. Vista taurant período


Edifícios garagem

1º ao 4º subsolo

térreo

Perambulações e percepções Percurso 1

Percurso 2

Percurso 3 Legenda Legenda

edifício 1

Ed. garagem

edifício 2

Percurso Sem escala 1º ao 4º pavimento

5º pavimento

53

P c a g N e s t V t


Edifícios garagem

1º ao 24º pavimento

Perambulações e percepções Percurso 1

Percurso 2

Percurso 3 Legenda Legenda

edifício 1

Ed. garagem

edifício 2

Percurso Sem escala 6º ao 26º pavimento

54

P c a g N e s t V t


máximo do terreno possível.

Localização Planta tipo Em relação às vagas, estas foram vendidas e muitas pessoas compraram mais de uma na época. Segundo a tese de mestrado de Flávio Carvalheiro, chamado “A Legenda implantação de estacionamentos em São Paulo” (2001), das 851 vagas existentes, 1. Praça da República 500 eram usadas pelos proprietários e 250 para os mensalistas, contudo há um 2. Parque da Luz declínio dessa ocupação durante o período de férias e festas de fim de ano. Já as 3. Vale do Anhangabaú 101 avulsas restantes, sofrem do fenômeno inverso, pois São Paulo recebe um fluxo 4. Praça da Sé elevado à procura de compras tradicionais desse período. Sem escala Visto que esse levantamento tem 16 anos, fez-se necessário a averiguação da taxa de ocupação da GAXT atualmente. Porém, como relatado anteriormente, a administração da garagem se recusou em passar qualquer tipo de informação sobre a mesma. A solução encontrada nesse caso, foi passar um dia no local e contar a quantidadePedestres de carros que entravam e saíam dos mesmos.

Fluxos

Automóveis

Legenda

Ocupação das vagas

Pontos de ônibus

Fluxo menor

Fluxo menor

Estações de trem e/ou metrô

Fluxo maior

Fluxo maior

Ocupação das vagas

Sem escala

Levantamento realizado em 03/03/17 das 10:55 às 12:45

3333saíram saíram

Refs.: Aiga Collection, Damien Murat, Flávio entraram Carvalheiro, Simple 4141entraram Icons e fotos da autora. Levantamento realizado em 03/03/2017 das 10:55 às 12:45 Daniela Ciarvi Martins

Como é possível observar, o movimento e a ocupação da garagem permanecem intensos, semelhante ao ano de 2001. Aproveitando os percursos realizados e explicados no capítulo anterior e a pesquisa sobre as vagas feitas in loco, tornou-se adequado analisar também o fluxo de veículos, sejam individuais ou coletivos e de pedestres, na quadra onde o GAXT está inserido.

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e/ou metrô Pontos de referência Ed. garagem Sem escala

mbulações e percepções

so 1

Percurso 2

Percurso 3

Percursos realizados na região central da cidade de São Paulo afim de conhecer os edifícios garagem e seu entorno. Legenda Nota-se uma ocupação hostil em relação à cidade e uma certa Ed. garagem sensação de insegurança entre os Percurso transeuntes. Visita noturna revela que o local Imagem 29: Mapa do fluxo de veículos, sejam individuais ou coletivos, no entorno também é ocupado nesse periódo. Sem escala próximo ao GAXT. É possível perceber uma maior concentração nas ruas Xavier de Toledo/da Consolação e no viaduto e avenida Nove de Julho, esta última leva até o Terminal Bandeira.

Legenda estação de metrô pontos de ônibus

56

1. Vista da GAXT pela Rua Xavier de Toledo. 2. Vista da GAXT pela Rua Álvaro de Carvalho. 3. Vista de Bar e Res- fluxo menos intenso taurante no entorno no período noturno fluxo mais intenso


e/ou metrô Pontos de referência Ed. garagem Sem escala

mbulações e percepções

so 1

Percurso 2

Percurso 3

Percursos realizados na região central da cidade de São Paulo afim de conhecer os edifícios garagem e seu entorno. Legenda Nota-se uma ocupação hostil em relação à cidade e uma certa Ed. garagem sensação de insegurança entre os Percurso transeuntes. Visita noturna revela que o local Imagem 30: Mapa do fluxo de pedestres no entorno do GAXT. É possível perceber, também é ocupado nesse periódo. Sem escala que assim como o anterior, a concentração mais intensa fica na avenida Nove de

Julho, que leva até o Terminal Bandeira e nas ruas Xavier de Toledo/da Consolação, que possuem linhas de ônibus circulando e a estação Anhangabaú da linha 1 do metrô.

Legenda estação de metrô pontos de ônibus

1. Vista da GAXT pela Rua Xavier de Toledo. 2. Vista da GAXT pela fluxo menos intenso Rua Álvaro de Carvalho. 3. Vista de Bar e Restaurante no entorno no fluxo mais intenso período noturno

Mesmo com a decadência dessa tipologia, não só pela questão dos novos edifícios serem construídos com garagens no subsolo, o deslocamento da elite paulistana para fora do centro e os altos custos de manutenção do mesmo e de seus funcionários, como ascensoristas-manobristas, o GAXT se mantém útil e relevante no contexto urbano e da cidade. Por todos esses motivos já citados, ele é adequado como objeto de intervenção. Esta, que será detalhada mais adiante no capítulo 5. 57


4. REFERÊNCIAS


Desde o início da produção deste trabalho de conclusão de curso, diversas referências foram consultadas a fim de dar uma base tanto conceitual quando projetual. Ao longo desse período de um ano, algumas permaneceram relevantes e outras não, o que faz parte do processo natural do desenvolvimento do projeto. Por questões de objetividade, apenas 3 são mostradas nesse volume e detalhadas em aspectos que serviram, de fato, como inspiração para o produto final. São elas: a tese de doutorado de Angelo Bucci “São Paulo: Razões de arquitetura [da dissolução dos edifícios e de como atravessar paredes]” (2005), por seu caráter projetual e análise da região central da cidade de São Paulo, o pavilhão “Humanidade2012” (2012) de Carla Juaçaba, por seu caráter estrutural e o “Projeto Cães de Caça” (1961) de Helio Oiticica, por seu caráter conceitual em relação aos percursos e ao corpo humano. A seguir, encontram-se detalhados os trabalhados mencionados.

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ANGELO BUCCI São Paulo: Razões de arquitetura [da dissolução dos edifícios e de como atravessar paredes] (2005) Em sua tese de doutorado defendida em 2005, o arquiteto Angelo Bucci analisa o contexto urbano e suas edificações. O autor considera que a cidade de São Paulo foi construída de forma hostil, assim como os edifícios garagem os são com os pedestres, e atesta para a crise da primeira. A fim de investigar o município, ele remete desde as discussões do espaço como local de memória, que guarda narrativas e lembranças de Gaston Bachelard em “A poética do espaço” (1993) até a personagem moleque que vive na rua, que se torna sua casa, em “Os miseráveis” (1862) de Victor Hugo. Essa apreensão da via pública citada por ele, também faz uma analogia com um dos conceitos da proposta apresentada nesse volume, de novas percepções. A cidade, afirma Bucci, reflete a simultaneidade e a sobreposição de fatos com edifícios dissolvidos junto ao espaço urbano, em que é preciso desmontar e se desprender na hora de projetar. Ela também está em constante transformação, onde o desfazer e o refazer é necessário para mantê-la viva e pulsante. Como metodologia, assim como este trabalho, o arquiteto opta por fazer um percurso apé no centro da cidade, tanto o Velho quanto Novo (Mercado Municipal, Mercado da Cantareira, Rua Carlos Souza Nazaré, Rua 25 de março, Ladeira General Carneiro, Rua Boa Vista, Rua São Bento, Travessia do Viaduto do Chá, Rua Barão de Itapetininga e Praça da República) e explica o porquê da importância dele, se utilizando de uma citação de Michel de Certeau em “A invenção do cotidiano”: “Essa história começa ao rés do chão, com passos. São eles o número, mas um número que não constitui uma série. Não se pode cortá-los, porque cada um de seus fragmentos é algo qualitativo: um estilo de apreensão táctil de apropriação cinésica. Sua agitação é um inumerável de singularidades. Os jogos dos passos moldam espaços. Tecem os lugares. Sob esse ponto de vista as motricidades dos pedestres formam um desses “sistemas reais cuja existência faz efetivamente a cidade”, mas “não têm nenhum receptáculo físico”. Elas não se localizam, mas são elas que especializam. Nem tampouco se inscrevem em um continente como esses caracteres chineses esboçados pelos falantes, fazendo gestos com os dedos tocando na mão.” (CERTEAU, 1984, p.176)

Após a caminhada (imagem 31), ele propõe quatro operações projetivas que são fruto de sua reflexão da cidade como imagens poéticas, no ambiente urbano, as três primeiras são utilizadas na proposta inserida nesse volume pela estudante: mirante, transposição de nível, invasão aérea e infiltração subterrânea. O primeiro item tem o papel de recuperar a imagem do mirante e superar

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Perambulações e percepções Percurso 1

Percurso 2

Percurso 3

Percursos realizad central da cidade afim de conhecer o garagem e seu ent Legenda Nota-se uma ocup em relação à cidad Ed. garagem sensação de inseg Percurso transeuntes. Visita noturna reve sem escala Sem escala também é ocupad

1: Mercado Municipal 2: Mercado da Cantareira 3: Rua Carlos de Souza Nazaré 4: Rua 25 de março

Imagem 31: Mapa ilustrando a caminhada realizada pelo arquiteto Angelo Bucci na região do centro Novo e Velho de São Paulo. Esta, foi baseada nos preceitos de Michel de Certeau de que os passos construem a cidade.

5: Ladeira General Cardoso 6: Rua Boa Vista 7: Rua São Bento 8: Travessia Viaduto do Chá 9: Rua Barão de Itapetininga 10: Praça da República

aquele que é cego, aproveitar-se da topografia existente e dar prioridade à vista, no sentido do olhar significativo e não como contemplação. Aqui, ele se refere aos edifícios virados de costas para a várzea, cuja ocupação se deu nesse sentido desde o início da formação da cidade e usa de exemplo a Rua Boa Vista e o rio Tamanduateí, conforme imagem 32. Aliado ao anterior, o segundo item denominado “transpor” também se relaciona com a topografia e as diferenças de curvas de nível na primeira parte do

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1. Vista Rua Xav 2. Vista Rua Álv 3. Vista taurant período


percurso trabalhado, ele tem a intenção de multiplicar o chão da cidade, relacionando a “alta” com a “baixa”. Ela tem o propósito de conectar a várzea com o patamar de terra firme, indo além do olhar indicativo dado pelo item “mirante”. O exemplo utilizado aqui é a fusão da ladeira General Carneiro com a Galeria do Rock. Já em “invadir”, o autor sugere que se aplique o oposto do anterior, ou seja o que o “transpor” nega, o segundo concorda e se funde, unindo as duas cidades e edificações nelas existentes devido à essa diferença topográfica. Os viadutos Nove de Julho e seu variante Major Quedinho junto com o Dona Paulina e seu variante Brigadeiro Luís Antônio, que estão localizados sob os rios Saracura e Itororó, são os exemplos.

Imagem 32: Croqui elaborado por Angelo Bucci mostrando uma possibilidade de se recuperar o mirante cego. Na primeira imagem, o edifício bloqueia a visão da cidade e da várzea e na segunda, a vista do pedestre é recuperada.

Por fim, em “infiltrar”, o arquiteto propõe a integração da transposição de nível como mirante, criando assim uma ligação entre as quatro imagens poéticas, que invadem as paredes das desigualdades de níveis da cidade. Assim sugerindo a criação de um subterrâneo que possa chegar à cidade “alta”, e sob o ponto de vista inverso, descer para ser surpreendido pela luz, como a estação São Bento da linha 2 do metrô de São Paulo. As quatro imagens poéticas de construção do ambiente urbano são ilustradas em seu croqui na próxima página (imagem 33).

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Imagem 33: Croqui feito pelo autor mostrando as quatro imagens poéticas de construção do espaço e a forma como todas se interligam usando a região central da cidade de São Paulo como estudo de caso.



CARLA JUAÇABA Humanidade2012 (2012)

Parte da conferência internacional da ONU Rio +20, o Pavilhão Humanidade foi construído de andaimes metálicos, assim como o projeto apresentado nesse volume, e funcionou por dez dias, junto ao forte de Copacabana no Rio de Janeiro em 2012. Sua função principal era de abrigar atividades como seminários, oficinas e debates sobre temas discutidos no evento, ou seja os de caráter ambiental. Na questão estrutural, a arquiteta, segundo a revista Monolito edição nº11 (outubro/novembro 2012) se utilizou de andaimes modulares que foram responsáveis pela construção vazada de 170m de comprimento, 40m de largura e 20m de altura. Entre os eixos estruturais, montados no sentido maior, foram penduradas as caixas fechadas que abrigavam o programa ao mesmo tempo que serviam como travamento no sentido menor. Já na circulação, utilizou-se rampas a fim de que o visitante pudesse apreciar a vista do local enquanto caminhava. E na cobertura, foi criado um mirante. O programa constituía-se do térreo, que era o ponto de partida dos percursos, corredores a fim de separar os fluxos, biblioteca, sala multiuso e dois auditórios, sendo o maior com capacidade para 500 pessoas. Conversando com o tema do evento, embaixo das linhas estruturais, mudas de diversas plantas foram colocadas formando uma espécie de tapete verde também.

Imagem 34: Fotografia do interior do Pavilhão Humanidade. É possível ver a estrutura de andaimes metálicos, as “caixas” onde ocorrem os eventos e as rampas por onde as pessoas percorrem.

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Imagens 35 e 36: Cortes do projeto Pavilhão Humanidade de Carla Juaçaba para o evento Rio +20 da ONU realizado no Rio de Janeiro, em 2012. Percebe-se os andaimes modulares como estruturas, as rampas como modo de circulação e os “vazios” que são as salas e auditórios onde ocorreram palestras, seminários e debates.

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Imagem 37: Fotografia da vista externa da estrutura de andaimes metálicos modulares que constituem o projeto do Pavilhão Humanidade. Aqui percebe-se os vazios que se formam devido à escolha da mesma como método construtivo, que permite a entrada de iluminação e ventilação natural.

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HÉLIO OITICICA Projeto Cães de Caça (1961)

O Projeto Cães de Caça (1961) é descrito por Oiticica como um jardim, porém um jardim diferente do senso comum, um grande labirinto com 3 saídas. Ele é composto por 5 penetráveis4, o poema enterrado de Ferreira Gullar e o Teatro Integral de Reinaldo Jardim. A obra em si não possui uma utilidade e serve apenas ao caráter estético e experimental de quem o visita. Nos penetráveis de modo geral, a vivência que o autor procura vem do uso das cores no espaço e tempo. Já nos primeiros, ele evidencia o caráter labiríntico de forma óbvia, onde a cor se desenvolve em uma estrutura polimorfa de placas. Nos restantes, é a mobilidade que cumpre esse papel. Assim como o projeto proposto nesse volume, o trabalho de Oiticica em questão tem a intenção de mostrar novas possibilidades não exploradas e experimentadas pelos frequentadores. No mais, a estrutura como um todo só é percebida após o desvendamento móvel completo de tudo que a compõe, e que são impossíveis de serem vistas ao mesmo tempo. O artista busca também o contato com a natureza, e para isso ele insere areia no núcleo5, e o caminho que leva o visitante até este é feito com mármores brancos, a fim de fazer uma transição gradual e lenta. Já os poemas inseridos na obra, se encaixam por também serem penetráveis como seus penetráveis e serem considerados por Oiticica como mágicos e espirituais. Em suas palavras: “Num sentido mais alto, são obras simbólicas, derivadas de diversos campos da expressão, que se conjugam aqui numa outra ordem, nova e sublime. É como se o projeto fosse uma reintegração do espaço e das vivências cotidianas nessa outra ordem espáciotemporal e estética, mas, o que é mais importante, como uma sublimação humana.” (OITICICA, p.36, 1986)

Importante mencionar que toda essa experimentação criada pelo artista nesse projeto, deve ser vivenciada por uma pessoa de cada vez. Além disso, o que se busca é a vivência e experimentação individual e diferente que cada um pode ter.

”Os penetráveis são estruturas labirínticas no espaço, construídas de modo a serem penetradas pelo espectador, ao desvendar-lhe a estrutura.” (OITICICA, p.2, 1961) 4

”Os núcleo são o não desenvolvimento das obras suspensas no espaço que venho realizando desde que transformei a pintura do quadro para o espaço. A meu ver constituem a consequência da pinturaquadro transformada em pintura no espaço (...)” (OITICICA, p. 5, 1961) 5

71



Imagem 38: Maquete do “Projeto Cães de Caça” (1961). Aqui, percebe-se os penetráveis e seus labirintos além do uso das cores como forma de desenvolvimento do tempo e espaço. A obra é assim denominada pois Oiticica quis usar nomes de constelações, que segundo ele, assim o fazem em projetos atômicos. Cães de Caça é uma delas que se localiza no hemisfério norte, de pequena dimensão e com estrelas de pouco brilho, porém contém uma variedade de corpos celestes.


5. O PARASITA


Edifícios garagem

Após a escolha do edifício Garagem Automática Xavier de Toledo como objeto de intervenção, devido às razões já explicadas anteriormente, como sua localização privilegiada tanto no contexto urbano, centro com infra-estrutura consolidada, quanto no contexto da quadra, cortando-a, deu-se início ao desenvolvimento do projeto. A premissa do mesmo trata-seLevantamento das possibilidades dos de realização de diversos percursos como forma de apreensão do diferentes perspectivas. Esse 24 entorno edifícios sob garagem conceito, também foi aplicado por Helio Oiticicanaem seu “Projeto Cães de Caça” localizados região da de cidade de (1961), assim como Angelo Bucci em central sua tese doutorado “São Paulo: Razões de Arquitetura [da dissolução de edifíciosSão e dePaulo. como atravessar paredes]” (2005) com “infiltrar”, “invadir” e “mirar”. No trabalho descrito nas próximas páginas, a fim de Legenda criar esses caminhos que proporcionassem ao visitante a oportunidade de adentrar o edifício garagem (infiltrar e invadir) e apreciar a vistadedo centro da cidade (mirar), Estações trem que é atualmente restrita aos automóveis, distintos e/ou metrômeios foram utilizados, como escadas, rampas e elevadores (imagens 40 e 41). Pontos de Para a criação desse espaço, os estacionamentos, um com 3 pavimentos referência localizado a frente à rua Xavier de Toledo/da Consolação e o outro ocupando o terreno Ed. garagem também ao lado do GAXT, este só um terreno sem construção, e de frente à rua Álvaro de Carvalho foram demolidos e apropriados pra essa especulação (imagem 39). Com esses “restos”, de desnível total de 12m, uma praça configurou através do desenho Semse escala de patamares em diferentes níveis, a fim de vencer essa topografia (infiltrar), com o propósito de propiciar ao pedestre novas descobertas através de seu caminhar. No caráter das empenas, rasgos foram criados em determinados pontos, para que o transeunte possa perceber o que ocorre lá dentro e no resto da cidade conforme sobe ou desce os níveis da proposição. Também foi criado um apoio para projetores, para a exibição Percurso 2 de vídeos e filmes nas empenas. No quesito estrutural, assim como o pavilhão “Humanidade2012” (2012) de Carla Juaçaba, andaimes modulares foram utilizados, aqui com vãos de 4,00m e 2,00m. Como a referência, trata-se de um projeto efêmero, também conectado a um evento, no caso a “11ª Bienal de Arquitetura de São Paulo”.

Perambulações e percepções Percurso 1

Imagem 39: Mapa ilustrando a localização do GAXT e dos edifícios do entorno apropriados para o projeto proposto.

Percurso 3

Legenda

sem escala GAXT estacionamento 3 pav. demolido estacionamento terreno

Legenda Ed. garagem Percurso Sem escala

Percursos realizados na região central da cidade de São Paulo afim de conhecer os edifícios garagem e seu entorno. Nota-se uma ocupação hostil em relação à cidade e uma certa sensação de insegurança entre os transeuntes. Visita noturna revela que o local também é ocupado nesse periódo.

1. Vista da GAXT pela

75



percepções Percurso 2

Imagem 40 e 41: Croquis em planta (à esquerda) e em corte (abaixo) referentes ao partido do projeto. Percebe-se a priorização dos percursos tanto horizontalmente quanto verticalmente, e também a possibilidade de diversificação dos mesmos, seja caminhando na praça ou através de escadas, rampas ou elevadores. Aqui já há o indício da invasão do edifício garagem pela proposição exatamente como um parasita na natureza.

Legenda realizados na região Percursos central da cidade de São Paulo afim de conhecer os edifícios parasita e suas possíveis conexões garagem e seu entorno. com o edifício existente Legenda Nota-se uma ocupação hostil em relação à cidade e uma certa Ed. garagem sensação de insegurança entre os Percurso transeuntes. Visita noturna revela que o local semescala escala também é ocupado nesse periódo. Sem

Percurso 3

1. Vista da GAXT pela Rua Xavier de Toledo. 2. Vista da GAXT pela Rua Álvaro de Carvalho. 3. Vista de Bar e Restaurante no entorno no período noturno

77


Edifícios garagem implantação Implantação da proposição no edifício Garagem Automática Xavier de Toledo. Percebe-se o uso dos andaimes modulares de aço para a criação da estrutura efêmera. Também fica evidente como a praça foi resolvida: a fim de diminuir o desnível, de 12m para 9m, e de criar novas perspectivas aos pedestres, patamares foram criados e uma escada também em andaimes é “grudada” na empena do edifício lindeiro ao lote. Optou-se por uma praça seca devido à largura de 12m do terreno e as empenas ao redor de 33m de altura, que criam um lugar com sombra considerável, sem a necessidade do uso desse artifício. Além disso, bancos foram posicionados estrategicamente criando áreas de permanência e que podem ser utilizados quando projeções ocorrerem.

Perambulações e percepções Percurso 1

Percurso 2

Legenda

entorno

Percurso 3

praça seca

Legenda vegetação

Ed. garagem Percurso

GAXT Sem escala

78

Perc cent afim gara Nota em r sens trans Visit tamb



elevação praça

Elevação da nova praça proposta. O desnível de 9m é superado através de uma escada de andaimes metálicos (3) assim como o restante do projeto. Abaixo dessa estrutura, estão localizados, um bicicletário (4) e uma escada arquibancada (5). Outros dois bancos estão posicionados estrategicamente para criar espaços de permanência (2) e proporcionar local adequado para que os visitantes assistam à projeções realizadas na empena (1).

80

3

5


1

2

4

81


Edifícios garagem

planta cota 786 Planta da cota 786. Ela retrata o que acontece quando o pedestre através da rampa, ou escadas ou elevadores supera a altura de 34m entre a praça e o edifício garagem. É nesse nível em que é possível adentrar o GAXT. No bloco 2, o pé-direito de 2,00m original é mantido e um rasgo com piso de vidro é feito a fim de que o visitante possa visualizar o que ocorre em um dia normal de operações. Já, no bloco 1, o pé-direito é duplo e o percurso continua através de uma passarela posicionada no exterior da construção existente. Também é o utilizado o recurso do vidro aqui, mas nesse caso, é na fachada.

Perambulações e percepções Percurso 1

Percurso 2

Legenda entorno

piso de vidro

Percurso 3 Legenda Ed. garagem

vegetação

Percurso Sem escala

82

Pe ce af ga No em se tra Vi ta



detalhes Detalhe em corte do “rasgo” criado na fachada do GAXT para a rua Xavier de Toledo/da Consolação, utilizando-se da transparência do vidro e da passarela de andaimes metálicos criada à sua frente que se conecta ao parasita. Também retrata o pé-direito duplo (4,00m) proposto no bloco 1.

Legenda concreto (existente)

piso de vidro

aço (intervenção)

1

84


2 Detalhes em corte da intervenção proposta no GAXT em seu interior. O 2 mostra o pé-direito original mantido no bloco que faceia a rua Álvaro de Carvalho, assim como o desnível entre o bloco 1 e o mesmo de 0,3m através de uma rampa e o pé-direito duplo criado para o outro bloco. Já o detalhe 3, retrata também o pé-direito original mantido e, ainda o piso de vidro sugerido no bloco 2.

Legenda concreto (existente)

piso de vidro

aço (intervenção)

3

85


4 Legenda concreto (existente)

piso de vidro

aço (intervenção)

Detalhe em corte da escada de aço proposta a fim de possibilitar ao visitante à invasão ao GAXT. Também ilustra “rasgo” sugerido na empena do bloco 2, no local onde se localizam os elevadores para automóveis, através de vidros spider-glass. Desse modo, as pessoas podem observar o movimento dos veículos no interior do edifício.

86


Levantamento dos 24 edifícios garagem localizados na região central da cidade de São Paulo. Legenda Estações de trem e/ou metrô Pontos de referência Ed. garagem Sem escala

es e percepções Percurso 2

Percurso 3

Percursos realizados na região central da cidade de São Paulo afim de conhecer os edifícios garagem e seu entorno. Legenda Nota-se uma ocupação hostil em relação à cidade e uma certa Ed. garagem sensação de insegurança entre os Percurso Maquete transeuntes. em escala 1:250 do entorno (preto) e da intervenção proposta (transparente), vista da Escala 1:250 rua XavierVisita de Toledo/da a relação dos edifícios lindeiros com o mesmo e o noturna Consolação. revela que oPercebe-se local gabarito existente naocupado quadra. nesse periódo. também é Sem escala

1. Vista da GAXT pela Rua Xavier de Toledo. 2. Vista da GAXT pela Rua Álvaro de Carvalho. 3. Vista de Bar e Restaurante no entorno no período noturno

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Edifícios garagem

planta cota 790 A planta da cota 790 mostra o desmembramento do parasita proposto, que supera o bloco 2 e “abraça” o bloco 1. Essa parte da intervenção, também é de andaimes metálicos e segue a mesma modulação dos demais já apresentados. “Rasgos” são realizados nas empenas ao lado direito, a fim de criar uma transparência tanto para quem está dentro do edifício garagem, na cota 786 tanto para quem caminha pelo desmembramento exterior.

Perambulações e percepções Percurso 1

Percurso 2

Legenda entorno

Percurso 3

cobertura do GAXT e do edifício Legenda proposto Ed. garagem vegetação

Percurso Sem escala

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Pe ce af ga No em se tra Vi ta



corte aa

Corte AA. Nota-se o desnível existente entre as ruas Xavier de Toledo/da Consolação e a rua Álvaro de Carvalho. São utilizados dois elevadores Atlas Schindler com capacidade máxima de 23 pessoas cada um.

90


91


corte bb

Legenda pavimento com pé-direito duplo iluminado onde é possível observar o exterior (rua) e ser visto através do vidro.

92


corte cc

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elevação oeste

Elevação oeste em relação ao GAXT. Notase os andaimes metálicos e como estes estão estruturados, além das placas coloridas também metálicas colocadas na fachada (2), junto com o encaixe para o projetor (1).

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elevação leste

Elevação leste em relação ao GAXT. Ela representa o desmembramento do parasita para o lado direito do mesmo. Nessa parte da proposta, há uma passagem (1) também de andaimes metálicos, onde o pedestre pode observar o interior do edifício através de paredes de vidro (2). Também nota-se a passarela na fachada da rua Xavier de Toledo/da Consolação (3).

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1

2

3

97


elevação norte

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estrutura Detalhe em corte dos andaimes metálicos com modulações de 4,00mx 4,00m, 2,00m x 2,00m, 4,00m x 2,00m. Já na escada localizada na praça, embora os andaimes sejam utilizados, devido aos ângulos não uniformes existentes, não foi possível chegar à uma modulação em comum.

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Edifícios garagem Levantamento dos 24 edifícios garagem localizados na região Imagem 42 e 43: Maquete em escala 1:250. Ambas central daimagens cidade de retratam a relação da intervenção proposta São Paulo. (transparente) com o entorno (preto). À esquerda, vista

da rua Xavier de Toledo/da Consolação e abaixo, vista pelo

Legenda lado leste do GAXT. Estações de trem e/ou metrô Pontos de referência Ed. garagem Sem escala

bulações e percepções

1

Percurso 2

Percurso 3 Legenda Ed. garagem Escala 1:250 Percurso Sem escala

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Percursos realizados na região central da cidade de São Paulo afim de conhecer os edifícios garagem e seu entorno. Nota-se uma ocupação hostil em relação à cidade e uma certa sensação de insegurança entre os transeuntes. Visita noturna revela que o local também é ocupado nesse periódo.

1. Vista da GAXT pela Rua Xavier de Toledo. 2. Vista da GAXT pela Rua Álvaro de Carvalho.


Percurso 3

Percursos realizados na região central da cidade de São Paulo afim de conhecer os edifícios garagem e seu entorno. Legenda Nota-se uma ocupação hostil em relação à cidade e uma certa Ed. garagem sensação de insegurança entre os PercursoImagem 44: Escala 1:250 Maquete em escala 1:250. Novamente, o transeuntes. entorno é Visita representado corque preta e o parasita por noturnapela revela o local transparente. Aqui aévista é pelanesse rua Álvaro de Carvalho. também ocupado periódo. Sem escala

1. Vista da GAXT pela Rua Xavier de Toledo. 2. Vista da GAXT pela Rua Álvaro de Carvalho. 3. Vista de Bar e Restaurante no entorno no período noturno

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6. CONSIDERAÇÕES FINAIS


Com a intervenção de caráter efêmero proposta nesse volume na Garagem Automática Xavier de Toledo (GAXT), foi possível experimentar e vivenciar a cidade sob novas e diferentes perspectivas. Além disso, o parasita proporciona e passa uma reflexão a quem faz uso do mesmo, sobre essa tipologia existente na região central da cidade de São Paulo, que mesmo ainda sendo ocupado, se tornou obsoleto sob o ponto de vista do pedestre na cidade contemporânea. Visto que a cidade hoje possui uma configuração diferente da época da construção desses edifícios, dos anos 1950 até 1970, devido ao deslocamento da elite paulistana do centro da cidade em direção à outras regiões e também a busca por novos meios de transporte sustentáveis, este trabalho lança uma questão sobre a utilidade que essas construções poderiam ter além de somente estacionamento. Esse uso, poderia beneficiar de forma mais apropriada o local em que estão inseridos. Além disso, por ser de fácil manuseamento, possibilitando a montagem e desmontagem do mesmo, o projeto, dada as características de cada local, pode ser replicado e inserido em outros edifícios das quais cabem esse questionamento. Essa intervenção, devolve ao pedestre oportunidades que lhe foram tiradas por essas construções que de algum modo não se encaixam mais no contexto urbano em que estão localizados. Deste modo, o parasita proposto no GAXT se torna o início de uma série de intervenções que pode ter diversos desdobramentos e que, espera-se, consiga trazer benefícios para a cidade como um todo e seus usuários.

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Lista de imagens 1. Felipe Russo, 2016 2. Página publicada no jornal O Estado de São Paulo, 12 de julho de 1956 3. Anúncio publicitário publicado no jornal O Estado de São Paulo - Atlas Schindler, 26 de outubro de 1958 5 a 28. Fotos tiradas pela autora, 2016 e 2017 32 e 33. Angelo Bucci, 2005 34 e 37. Leonardo Finotti, 2012 35 e 36. Carla Juaçaba, 2012 38. Jean-Claude Bonne, 2012 Edifícios garagem 1 a 24. Google Street View, 2017 Mapas. Realizados pela autora, 2016 e 2017 Foto Angelo Bucci. spbr arquitetos, 2017 Foto Carla Juaçaba. Carla Juaçaba, 2013 Foto Hélio Oiticica. Casa da Cultura da América Latina: Tropicalismo, 2017 Projeção Trainspotting (1996). Amazon UK, 2017 Ícones. Vladimir Dubinin, Rasmus Thomas Larsen e Sascha Elmers (Noun Project), 2017

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