FICA: entre momentos urbanos Renata Moutinho Arriola Orientador: Gabriel Pedrosa
ÍNDICE Resumo 4 Introdução 5 PARTE 1 - Análises
Arriola, Renata FICA: entre momentos urbanos / Renata Arriola - São Paulo (SP), 2017. 86 f.: il. color. Orientador(a): Gabriel Pedrosa Trabalho de Conclusão de Curso (Bacharelado em Arquitetura e Urbanismo) - Centro Universitário Senac, São Paulo, 2017. mobiliario; urbano; arquitetura; espaço publico; argamassa I. Pedrosa, Gabriel (Orient.) II. Título
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- Espaço Público 9 - Identidade do homem público 9 - Declínio da cidade 11 - Apropriação dos espaços 12 - São Paulo 12 - Requalificação dos Calçadões 16 - Levantamentos 18
PARTE 2 - Referências
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- Aldo Van Eyck - Mobiliário Urbano, Intervenção Urbana
PARTE 3 - Projeto
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- Local 33 - Paisagismo 35 - Luminária 40 - Bancos 51 - Floreira 61 - Painéis informativos e lixeiras 66 - Canteiros 67 - Processo construtivo Fôrma 79
Considerações finais Bibliografia
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RESUMO
INTRODUÇÃO
O trabalho apresentado tem como tema principal o uso do espaço público e o aproveitamento do mesmo através da reconquista do espaço por meio de mobiliário urbano. A área de estudo foi o centro de São Paulo, a princípio no entorno do Theatro Municipal. Uma luminária urbana implantada pelo calçadão, trilhando os pedestres à canteiros projetados na calçada do Theatro, no qual a mesma luminária é usada de estrutura dos bancos, floreiras e pode ser adaptada para diversos outros usos. Com as áreas de permanência, pretendese chamar a atenção do interesse populacional para a importância dos elementos históricos do centro da cidade, fazendo-os perceber a arquitetura, o espaço e a cidade além da insegurança, agito dos comércios e desordem do centro.
A relação que as pessoas mantém com o espaço público mudou durante os anos. Antigamente, ele era palco para interações sociais e construção do homem público. Atualmente, o indivíduo tem as relações sociais fragilizadas, perdendo sua identidade construída nas relações com a cidade. Fato este gerou a impessoalidade e a incivilidade tanto com a cidade como com o outro. Nas cidades grandes como São Paulo, existem também muitas áreas que não são aproveitadas de acordo com seu potencial pela falta de interesse e estímulo à apropriação do espaço público. Região de importantes pontos turísticos e diversidade social, o centro da cidade tem um fluxo intenso de pessoas, porém pouca permanência e valorização ao turismo, reflexo este de um abandono à manutenção de monumentos. Os estudos feitos neste trabalho, procuram mostrar o centro como um espaço com potencial para reapropriação de estar, trazendo referências de mobiliários e intervenções urbanas que ajudaram na requalificação do espaço público. Por fim, a proposta um projeto de mobiliário urbano, desenvolvido no entorno do Theatro Municipal, criando áreas de permanência que aproximam a escala do centro à escala do indivíduo.
Palavras chave: mobiliário urbano; luminária; argamassa; centro aberto; São Paulo; iluminação; permanência.
Agradecimento aos meus amigos e familiares que me apoaiaram e me ajudaram durante o conturbado momento que passei no perĂodo de desenvolvimento do projeto. Agradecimento especial ao Orientador Gabriel Pedrosa, por ter sido o melhor orientador que pude ter nesse processo. Seu apoio e conselhos foram muito importantes para mim.
PARTE 1 AnĂĄlises
O espaço público O espaço público é o lugar da diversidade, de trocas sociais, de fluxo de informações, de encontros entre os integrantes de uma sociedade e de apropriações. A estrutura dele não é fundamentada em edifícios e sim nos elementos que possibilitam o descobrimento da identidade social, como as ruas, praças e calçadas. É o coletivo, regido pelo poder público, concedendo espaços para lazer, manifestações sociais, públicas e artísticas, de uso livre e sem barreiras econômicas. “Nessa direção, o sentido da cidade é aquele conferido pelo uso, isto é, pelos modos de apropriação do ser humano visando a produção de sua vida (e o que isso implica). Ela é um lugar que se reproduz como referência e, nesse sentido, lugar de constituição da identidade que sustenta a memória, revelando a condição do homem” (CARLOS, A. F. A., pg.5)
urbanismo moderno, onde o homem não tem sua identidade construída no espaço público. Passando por explicações de personalidade, o autor descreve que a busca pela satisfação pessoal e pela intimidade, tornou a sociedade atual narcisista e apática à questões políticas. (Fernando Nogueira da Costa em Estante de Sociedade). Sem isso, fugimos das exposições excessivas, ficamos reclusos em nós mesmos e acabamos por valorizar o privado. Não há mais equilíbrio entre o domínio público e espaço privado. As relações sociais são mais facilmente construídas quando as pessoas podem manter resguardo das outras. Podemos exemplificar isso claramente pela quantidade e sucesso das redes sociais. Este tipo de relação, consegue manter o isolamento do indivíduo para fazer contato apenas com quem lhe parece interessante, portanto, as obrigações formais antes instituídas, não existem mais. Testemunhamos grandes manifestações sociais ocorrendo pela internet, onde as pessoas podem fugir de confrontos. O “palco” de construção da identidade do indivíduo - parafraseado por Sennet, deixou de ser a cidade.
A identidade do homem O declínio da cidade público O livro “Declínio do homem público”, de Richard Sennet, nos ajuda a entender o comport qual os indivíduos participavam no cotidiano em público, aumentando não só a relação com os indivíduos mas também um elo com a cidade. O que observamos nas cidades contemporâneas foi composto na questão do isolamento do indivíduo perante a sociedade e na construção do
Atualmente, como vimos, vivemos uma crise da vida pública, na qual as grandes cidades contemporâneas valorizam excessivamente o espaço privado, em detrimento do espaço público. Dentre as várias questões que induziram ao declínio do espaço público, está o planejamento moderno, que influenciou a construção de grande parte de nossa cidade, e de muitas outras.
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Os preceitos modernistas, difundidos principalmente por Le Corbusier, foram muito aplicados no Brasil. Nas décadas de 30 e 40, tivemos um crescimento no âmbito da construção devido às políticas do “estado novo” e à busca pela identidade da elite de uma nação que se internacionalizava, baseada em pilares modernistas. No ramo do urbanismo, trabalhava-se com a “tábula -rasa”, e com a setorização das funções: habitar, trabalhar, circular e cultivar o corpo e o espírito. O arquiteto e urbanista Lúcio Costa, responsável pelo projeto de Brasília, na década de 50, seguiu a risca os conceitos ideológicos de Le Corbusier e desenhou uma cidade zonificada e funcionalista. Este modelo, visto como símbolo de progresso e modernidade, passou a ser seguido por outras cidades e aplicado por meio de planos diretores, leis de zoneamento e uso e ocupação do solo. O interesse e a rápida disseminação do modernismo são resultado da valorização dos lucros que seu modelo permite, com torres de simples construção embaladas pela publicidade de um modelo internacional de vida, muito disseminado na sociedade da época. O capitalismo inserido no planejamento da cidade afetou o modo de produção do espaço pois o lazer e o cultivo do corpo no âmbito público não foram colocados como prioridade, o tempo livre ficou engessado e o lazer foi vinculado à privatização do espaço e ao consumo. A cidade torna-se anônima, a vida social que construía a identidade do espaço não existe mais com a mesma força. Com isso, os espaços públicos são subutilizados, gerando Não-lugares - conceito desenvolvido pelo antropólogo francês Marc Augè - em seu livro com o mesmo título, publicado em 1992
- que servem apenas como locais de passagem, não gerando qualquer identidade, nem permitindo que se estabeleçam relações com o lugar. Alguns exemplos de não-lugares são reconhecidos como áreas de recuos entre prédios que acabam virando becos, ou simplesmente praças que não exercem sua função como área de lazer e permanência devido ao estado de degradação em que se encontram até áreas que servem apenas para circulação, como aeroportos e rodoviárias. O espaço público torna-se lugar de passagem, funcional apenas para o sistema de cidade abstrata¹. Perde-se o espaço para manifestações sociais e a alienação quanto ao papel do indivíduo no espaço aumenta, não permitindo a formação de um espaço público qualificado, que garanta o direito de uso a todas as classes sociais. Com o tempo, ocorre a fragmentação da cidade, em virtude do aumento da separação entre o público e o privado, e a cidade passa a ser vista como mercadoria. Esta prática de apropriação da cidade baseada no capitalismo condiciona a redução da produção do espaço público ligado à prática socioespacial. E sem o espaço público adequado, não há possibilidade de crescimento das relações sociais. A impessoalidade e o desinteresse pela cidade, causados pela falta de relações que o homem tem com o espaço público, geram sua degradação - por falta de manutenção adequada do poder público, os espaços abandonados propiciam áreas de insegurança e violência, que afastam ainda mais o interesse de permanência das pessoas, abrindo espaço para áreas de grandes problemas sociais.
12 ¹ espaço de indiferença, onde domina o valor de troca.
Direito à cidade Atualmente, em diversas cidades do mundo e especialmente para nós em São Paulo, vivenciamos um despertar da população na busca pelo direito ao espaço urbano, por meio de manifestações e reapropriação de áreas fragmentadas. Surge a necessidade de mudar os parâmetros da vida, mudando a relação e a visão que o homem tem acerca da sociedade. O mais básico nível de diferença no direito à cidade é visto na relação moradia-trabalho e no direito de ir e vir, pois a população das áreas dos extremos da mancha urbana é prejudicada com longas jornadas ao seu local de trabalho, sem transporte qualificado e sem a possibilidade de moradia próxima, devido à valorização das áreas minimamente estruturadas. A iniciativa privada é segregadora e aumenta a separação da sociedade no espaço urbano. A falta de espaços de lazer, de espaços públicos de qualidade e livres, sem intervenção privada, em quantidade suficiente e acessível a todos, acarretou a reapropriação das ruas pelos pedestres e a busca por praças com um mínimo de condições de permanência, como o caso da Praça Roosevelt, que era um espaço tomado pelo uso indevido, abandonada, insegura e sem qualidade e que, após sua reforma, foi apropriada pela população, apresentando novos usos e se tornando uma região de lazer, pública, para todas as classes sociais. Desencadeou-se então na cidade de São Paulo, uma sucessão de meios de apropriação do espaço público, por meio de ciclofaixas, parklets, festas de rua, intervenções
urbanas e coletivos de arte, incentivadas também pelo consequente fechamento de avenidas para uso exclusivo de pedestres, como o caso da Avenida Paulista aos domingos. “Assim, o desejo de mudar a vida exige a satisfação de uma necessidade radical, aquela que supera o capitalismo, envolvendo uma profunda e devastadora crítica ao poder político. A noção de “direito à cidade”, tal qual construída por Henri Lefebvre (1968), cria uma nova inteligibilidade, iluminando um projeto para a sociedade: (a) como produto da crítica radical ao planejamento e à produção de um conhecimento sobre a cidade que reduz a problemática urbana àquela da gestão do espaço da cidade, com o fim de restituir a coerência do processo de crescimento (...); (b) como movimento da práxis, no cotidiano. O “direito à cidade” construído na negação do mundo invertido, aquele das cisões; da identidade abstrata; da passividade; da constituição da vida como imitação de um modelo de felicidade forjado na posse de bens; da segregação fundada na propriedade privada; da importância da instituição e do mercado; do poder repressivo; do desaparecimento das particularidades; do processo que produz o tempo como efêmero e o espaço como produção amnésica; da redução do espaço cotidiano ao homogêneo, destruidor da espontaneidade e do desejo.”(CARLOS, A. F. A., pg.15)
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Apropriação dos espaços A cidade é o palco de grandes possibilidades e a melhor maneira de descobri-las é experimentando, como fazem os praticantes de parkour, os grafiteiros, skatistas e músicos de rua. Eles desenvolvem outro olhar pela cidade, descobrindo modos de usufruí-la. Apropriar-se do espaço público é usar o que é coletivo por direito. O uso da rua como parque, comer na rua, dormir, os parklets, as brincadeiras de rua, a venda ambulante são manifestações válidas e de grande importância para a vida das cidades. Após uma releitura do que é a cidade e do que ela realmente precisa, observamos, hoje, projetos que procuram reafirmar o espaço público, que vem dando certo e vem ganhando visibilidade. As calçadas e os pedestres, por exemplo, têm ganhado mais importância, o transporte coletivo e de baixo impacto ambiental têm sido colocados à frente do automóvel particular. A aceitação sobre estas mudanças ainda é pequena, porém já existe. A necessidade de novos espaços de convivência veio da falta de opções que alarma grande parte da população. A cidade ficou mais habitada do que antigamente e espaços individuais de lazer na própria habitação foram perdidos e a percepção da importância do convívio, da sociabilidade e da diversidade aumentou. Com a falta de áreas de lazer públicas de qualidade, surge o interesse em se reapropriar a rua como espaço de convivência e não só de passagem.
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Imagem 1: Apropriação da Avenida Paulista Foto: Catraca Livre
São Paulo Como já vimos anteriormente, os espaços públicos, e mais especificamente os centros urbanos, são áreas de encontro, trocas e diversas outras atividades. As áreas centrais das cidades são setores privilegiados com vasta disponibilidade de empregos, infraestrutura e transporte público, comércio popular e equipamentos culturais. Em São Paulo, com a expansão urbana, novas polaridades comerciais surgiram e muitos empreendimentos abandonaram a região central e com isso muitos dos prédios foram esvaziados porém não foram disponibilizados para uso, ficando parados, sem cumprir sua função com a cidade. O centro perdeu força em questão de habitação, resultando em uma área apenas de passagem e com vida maior em horários comerciais, com muitos prédios abandonados e sem incentivo ao turismo. O alto preço da terra restringe a diversidade no setor habitacional, portanto, são necessárias in-
tervenções urbanísticas, propostas pela prefeitura, que retomem a qualidade do espaço por meio da manutenção do mesmo, sem deixar o mercado imobiliário definir a característica do espaço, a fim de não homogeneizar a região. A desabitação do centro formou áreas de insegurança, atraindo a possibilidade de ocorrência de grandes problemas públicos, como a cracolândia, localizada em uma região histórica, de grande importância para a cidade, os Campos Elíseos, primeiro bairro planejado de São Paulo. Há uma falha na questão de políticas públicas que lidem com a questão dos moradores de rua, da violência e do abandono da infraestrutura existente. Edifícios em estado de má conservação e insegurança nas ruas são recorrentes na paisagem do centro. … O calçadão do centro de São Paulo foi criado em 1970, com o objetivo de criar áreas pedestrianizadas, com acesso ao metrô e restringindo a circulação de carros na região. Era palco de passeio e vida social, porém, com o decorrer dos anos, essa característica foi se alterando. Muitos pontos dos calçadões perderam o sentido por estarem localizados muito longe de acessos onde veículos podem entrar, terminais de ônibus e estações de metrô, diminuindo o fluxo de pedestres. A falta de manutenção e a retirada do mobiliário urbano aumentou a degradação da região. O abandono gerou insegurança, a insegurança gerou o abandono. Apesar das questões existentes de falta de manutenção, ele é de grande importância para a cidade e para os pedestres, merecendo uma atualização e um interesse maior, que acompanhe seu desenvolvimento. Existem muitos comércios que trazem o movimento diurno para o local, prédios
Imagem 2: Rua Senador Paulo Egídio, 1977 Foto: Site Gestão Urbana de SP - Requalificação dos Calçadões
com térreo aberto que trazem permeabilidade para a cidade. É uma área de circulação que tem um motivo de permanência, grande potencial, porém não tem situação. Portanto, já tem a maioria dos requisitos para um espaço público de qualidade e a presença permanente de moradores ajudaria a resolver um de seus problemas principais, que é a segurança. A revalorização do centro aparece em diversos projetos e programas de coletivos engajados em recuperar este espaço. Existem hoje mais de 7 km de vias para pedestres, abrangendo o Centro Novo e o Centro Velho, entre as ruas Rua Sete de Abril, Rua Barão de Itapetininga, Rua 24 de Maio, Rua Dom José de Barros, Rua Marconi, Rua Nova Barão, Rua Conselheiro Crispiniano, Rua Formosa, Avenida São João no Centro Novo e ruas São Bento, Quintino Bocaiúva, José Bonifácio, Álvares Penteado, Rua Direita, Dr. Miguel Couto, Rua do Comércio, João Brícola, General Carneiro, Rua do Tesouro, Rua Anchieta e Santa Teresa no Centro Velho. Vale lembrar tam-
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bém, que o passeio pelos calçadões pode ser feito através das galerias, localizadas nos prédios presentes na região com térreo livre para circulação. “O projeto original levava em consideração os pisos, a drenagem de água, a iluminação e o mobiliário urbano. Áreas específicas foram determinadas para os equipamentos e as empresas que construíram o sistema prestavam manutenção constante. Com o tempo, porém, a manutenção deixou de ser feita e os equipamentos, cestos de lixo, bancos, telefones públicos, bancas de jornais, etc, foram realocados sem seguir as orientações originais. Com isso, não há mais padronização e a própria colocação desses equipamentos no espaço público atrapalha a passagem tanto das pessoas como dos veículos autorizados a transitar.” (Viva o Centro, 2005) O calçadão, além de ser uma área com potencial para re-urbanizar o centro de São Paulo, une importantes pontos históricos, como o Theatro Municipal, o Vale do Anhangabaú, o Mosteiro de São Bento, a Praça do Patriarca, o Pateo do Collegio, o Edifício Martinelli, o Palácio da Justiça, entre outras importantes obras arquitetônicas para a cidade. Para o projeto a ser desenvolvido, tenho como referência também algumas intervenções feitas no âmbito no qual pretendo trabalhar, realizadas em 2014 pela prefeitura de São Paulo, focadas na requalificação do centro, englobando as áreas dos calçadões, Vale do Anhangabaú e Largos do Paissandu e São Francisco. O projeto, chamado Centro Aberto, desenvolvido em parceria entre o
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escritório Metro Arquitetos e a prefeitura do município, além de planos de reurbanização, fizeram estruturas para reaproveitar espaços subutilizados. Foi o que aconteceu no Largo São Francisco, Largo São Bento e na praça Ouvidor Pacheco da Silva, onde foram construídos, em áreas que antes eram canteiros sem manutenção e uma área cercada por grades, decks de madeira com infraestrutura de apoio e informação, onde se estabelecem manifestações artísticas, mobiliários móveis (retirados nos containers de informações) e cinemas ao ar livre. O resultado do projeto não poderia ter sido mais satisfatório. O movimento aumentou em 215%, possibi- litando o uso do espaço público com mais sensação de segurança. Para incentivar a permanência na praça, foram colocados serviços de comida de rua na hora do almoço. O uso não se limitou a dias de semana, quando o local já era mais povoado pela Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo e pelo grande número de transeun- tes. Durante o período noturno e fins de semana, foram disponibilizadas atividades culturais como projeção de filmes, karaokês, festas e mostras teatrais, trazendo pessoas à praça. Imagem 3: Projeto Centro Aberto Foto: Autoral
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Requalificação dos Calçadões 2015 Os principais objetivos do projeto de requalificação dos calçadões são de criar áreas de permanência a fim de aproveitar o uso comercial dos térreos, sombreamento e proteção à chuva e requalificar o piso para maior conforto dos transeuntes. A proposta inclui a rearborização do espaço e a implantação de mobiliário, para quebrar o caráter de passagem das calçadas, intervenção extremamente necessária pois, ao caminhar pelo centro, percebemos que os locais onde as pessoas sentam são justamente nos poucos em que há sombra. Na região,
muitos trabalhadores locais utilizam espaços de escadarias como área de descanso. Apesar de a proposta ser focada em ruas que ainda não são integradas ao calçadão, elas são próximas e têm, por vezes, uso indevido, o que gera desconforto aos pedestres. A proposta seria mudar o uso de tais ruas, integrando-as ao calçadão, para assim qualificá-lo por inteiro, melhorando a relação do indivíduo com o espaço público. A separação dos usos seria feita a partir de faixas no chão, com fluxo estabelecido, faixas de pedestres, faixas compartilhadas e faixa de mobiliário urbano e linhas de captação de água. Não seria possível trabalhar na questão dos calçadões sem mexer no principal espaço de permanência do centro, o Vale do Anhangabaú. Em seu histórico, o Vale já passou por diversos tipos de transformações, sendo parte do sistema viário e área de estacionamento, parque, e
Imagem 4: Proposta para Rua 7 de Abril Desenho: Gestão da Prefeitura de SP
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agora uma grande praça, sendo o único espaço do centro que sustenta a ideia de permanência, com mobiliário urbano específico e vegetação, no entanto, o uso não é estabelecido. Como todo o conjunto, ele sofre de abandono na questão de manutenção e abriga diversas questões a serem discutidas em relação à sensação de segurança e vandalismo. Apesar do policiamento na região ser intenso, existe uma sensação não convidativa no espaço. É uma área de extrema importância e facilidade de acesso, por abrigar a saída da estação Anhangabaú do metrô e ser grande o suficiente para receber grande quantidade de pessoas, abrindo leque para diversos tipos de apropriação. Além de ligar o centro antigo com o centro novo, aproxima, também pelas suas escadarias, diversos pontos turísticos da cidade como o Theatro Municipal, o Shopping Light e a Praça do Patriarca. Além dos edifícios de escritórios e as conexões de transporte público. A proposta da prefeitura para o Vale pretende retomar o uso do espaço pela reaproximação do mesmo com a escala humana, gerando áreas e situações mais confortáveis para o indivíduo, por meio de ativação das fachadas, melhoria dos acessos e instalação de equipamentos de lazer. Pretende-se com a proposta não só requalificar o espaço por meio da manutenção, mas abrir discussão para as formas de sua apropriação. Em questões mais objetivas, o Vale sofrerá por mudanças nos acessos, as escadarias serão ampliadas, tornando-se mirantes. Haverá a implantação de equipamentos como parquinho infantil, áreas de esportes, skate, quiosques e mobiliário portátil, para aumentar as situações de permanência e,
na questão de ambiente, serão implantadas mais árvores no Vale, na Rua São João e Rua Formosa, formando marquises verdes e também uma área com jatos de água, para umidificar o ambiente, sem criar um espelho d’água, e servindo como uma estrutura lúdica. Existem também projetos urbanísticos propostos pela prefeitura que trazem diretrizes para a articulação territorial, através dos quais pretende-se lançar ações que criem programas para as questões de pobreza, participação política, inserção urbana e habitação. Pretendese também requalificar o espaço público aproveitando os equipamentos já existentes, gerando um desenvolvimento equilibrado na região. Com a requalificação dos equipamentos urbanos existentes no Centro, espera-se que seja retomada sua apropriação e que este espaço volte a ser uma referência para a vida da cidade.
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Levantamentos
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Mapa de Fluxos - Calçadão de São Paulo
Mapa de Pontos turísticos - Calçadão de São Paulo
1- Theatro Municipal
9- Prédio Bovespa
2- Praça Ramos de Azevedo
10- Edifício Altino Arantes 16- Catedral da Sé/ Palácio da 22- Galeria Olídio
Zero
21- Largo do Paissandú
3- Praça das Artes
11- Praça do Patriarca
Justiça
23-- Galeria California24-
4- Vale do Anhangabaú
12- CCBB
17- Largo São Bento
Biblioteca Mario de Andrade
5- Viaduto do Chá
13- Pateo do Colegio
18- Fac. Direito SP
25- Copan
6- Shopping Light
14- Caixa Cultural
19- Galeria Nova Barão
26- Terraço Itália
7- Edifício Matarazzo
15- Praça da Sé - Marco
20- Galeraia do Rock
27- Praça da República
28- Solar da Marquesa de Santos
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Imagens 5: Theatro dia e noite Foto: Autoral
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Analisando o Mapa 1, observo que existem muitas áreas possíveis de permanência no centro, quase todas sem mobiliário urbano de estar ou sombreamento, que convide o pedestre a permanecer com conforto na região. Fato este que muitas vezes não impede que as pessoas, como trabalhadores locais, por exemplo, apropriemse do espaço, improvisando bancos em canteiros de floreiras ou escadarias, mostrando para o observador que a necessidade de estar naquele local existe. Muitas dessas áreas também recebem usos relacionados ao comércio, como feirinhas e camelôs, enaltecendo a necessidade de um mobiliário específico que incentive ainda mais o uso do local. A área dos calçadões em si, mesmo que seja dedicada por completo para passeio, por falta de mobiliário, não oferece a proposta de passeio turístico e de permanência. Como podemos observar no levantamento, o centro abriga muitos pontos turísticos que não recebem a devida visibilidade, mesmo tendo o enorme potencial de estarem interligados pelo calçadão, no qual a permeabilidade de locomoção do pedestre, como vista pelo mapa de fluxo, é intensa e fácil de se fazer. Há a possibilidade de se passar pelas galerias tanto quando andar livremente pelo calçadão, aproveitando os térreos comerciais. O fluxo mais intenso está ligado a acessos de estações de metrô e à grande quantidade de comércio existente. Apesar de nenhuma ter movimento zerado, as ruas que se dedicam a abrigar prédios de serviço, como a Rua Álvares Penteado, tem nos finais de semana um fluxo bem menor. As mais intensas, no sentido de quantidade de pessoas, são a Praça da Sé e a passagem do Vale, que liga, pela Rua São João, o
centro Novo com o Antigo. As passagens pela Praça Ramos de Azevedo, que sobem ao outro nível do centro, não são muito utilizadas. A rua Líbero Badaró, apesar de não ser exclusiva para pedestres, tem um alto índice de passagem, tanto por ter opções de linhas de ônibus como por ligar também a outras áreas de interesse da cidade, como a Rua 25 de Março. Portanto, a partir do mapa, podemos concluir que o fluxo no centro está mais ligado à passagem do que a áreas de permanência. A alta presença de pessoas nas praças e vales se dá devido às saídas de metrô, fácil acesso a outros meios de transporte e, especialmente em dias de semana, às ruas com maior quantidade de comércio. O comércio na região determina a vitalidade do centro, como pode-se observar, as ruas com mais comércio são as mais movimentadas. Por esse motivo, quando os comércios estão fechados, o centro aparenta ser um lugar deserto, sem vida. Durante a noite, no entanto, o centro se torna um espaço completamente diferente. Toda a vida e movimento que existe de manhã diminui drasticamente, justamente por ser uma área sem muitos edifícios habitacionais,contrapondo com o que é o centro de São Paulo durante o dia e a noite. Quando os comércios fecham e acabam as jornadas de trabalho, a insegurança fica potencializada e diminui a possibilidade de apropriação do espaço. Esse impacto é sentido, por exemplo, para quem vai assistir a peças de teatros, óperas e performances nos teatros presentes na região. A passagem das pessoas para os seus automóveis é rápida, não se aproveita a noite no centro por este não ter o que oferecer.
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PARTE 2 ReferĂŞncias
Aldo Van Eyck Arquiteto
Imagem 6 - Bertelmanplein, antes e depois do playground implantado. Foto: Artigo The city as a playground - Site merijnoudenampsen.org
O pós segunda Guerra Mundial veio acompanhado de um crescimento populacional que não tinha condições de habitação ou estruturação urbana, devido aos reflexos do rápido crescimento das cidades no momento. A Holanda, por exemplo, teve uma rápida reurbanização, baseada nos preceitos modernistas de modelo de cidade funcional. Aldo Van Eyck, no entanto, era contrário à essas proposições. Para ele, “Por mais que espaço e tempo sejam importantes, lugar e ocasião importam mais. Pois na mente do homem, o espaço é o lugar e o tempo é a ocasião” (Van Eyck, 1959)². A cidade não deveria ser racionalizada segundo o modelo modernista, que ocasionava a perda da
liberdade e da criatividade humana. “conduziu a uma fria tecnocracia em que os aspectos humanos são ignorados. Um edifício é muito mais que a soma de suas funções: a arquitetura tem que facilitar a atividade humana e promover a interação social”. (In: Forum 7, Amsterdã e Hilversum, 1959).
² Em: A cidade como playground <http://piseagrama.org/a-cidade-como-playground/>
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Imagem 7 - Playground de Aldo van Eyck. Foto: Marcos Rosa
A construção de playgrounds iniciou-se em terrenos sem uso, com o objetivo de dar lugar às crianças que não tinham espaço nem dentro nem fora de casa para brincar. No entanto, consequentemente, eles serviram também como reapropriação do espaço público, como um sistema de espaços de lazer, intermediando o público e privado. Durante o período de 1947 e 1978, Van Eyck projetou centenas de parquinhos, para diversos espaços abandonados da cidade e novos bairros que surgiram com o pós guerra. Poucos deles sobreviveram ao século XX, sendo substituídos por prédios ou então modificados a ponto de não terem traços originais reconhecíveis.
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O primeiro de todos, construído em Bertelmanplein, consistia em uma grande caixa de areia, delimitada por blocos de concreto, servindo também de bancos e, para compor, desenhou uma estrutura de barras de ferro. Com os parquinhos ele esperava passar seus ideais sobre o que era arquitetura. A cidade é vista como oportunidade de gerar espaços de convivência simples - a fim de estimular a imaginação dos usuários, e a apropriação dos espaços públicos. Ele tinha também a preocupação de conjugar o mobiliário com a malha urbana, para reconectar o indivíduo com a sociedade.
Mobiliário Urbano Intervenções Urbanas A requalificação do espaço por meio do mobiliário urbano é possível pois o objeto proporciona mais áreas de permanência na cidade, trazendo vida e a sensação de segurança, criando áreas para sentar e serviços ao ar livre. O ambiente fica agradável para o pedestre que é incentivado a conviver mais no espaço. O mobiliário pode ser simples, com algum elemento interativo que
Imagem 8 - Banco - Sunderland, Dinamarca. 2007 Foto: Charles Davidson
chame a atenção do usuário, ou simplesmente que renda situações de permanência. Além disso, o objeto faz a transição entre escala humana e escala da cidade, aumentando a relação entre as partes. É o caso dos bancos de concreto projeta-
dos pelo designer Charlie Davidson, implantados no calçamento da cidade de Sunderland, na Dinamarca. O efeito da luz cria o espaço e os bancos, a situação. O desenho contemporâneo e funcional qualificam o objeto, chamando a atenção e o seu uso recaracteriza a área com o caráter de estar. Em São Paulo, com a busca pela retomada do espaço público, vemos grandes intervenções em áreas vazias, como ocorreu no Largo da Batata em 2014. A região antes suportava vida, diversidade e manifestações artísticas, acumulava pessoas que ficavam em bares da região e era espaço de convivência. Com a construção da saída do metrô, o Largo foi inteiramente refeito,
Imagem 9 - Ocupação. PingPoint - Largo da Batata, São Paulo. 2014. Foto: Romullo Baratto
virando um grande concretado, sem mobiliário ou uso além de passagem. Coletivos propuseram então a ocupação do espaço por meio de intervenções pontuais, disseminada pelo Design Weekend, na qual muitos arquitetos e designers
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participaram trazendo vida e diversão para a região. Foram construídos bancos de madeiras, espreguiçadeiras, pergolados para sombreamento e vasos com plantas. A requalificação do espaço na escala do homem pode partir de outra natureza. As intervenções urbanas trazem novas funções ao local, ampliando a interação no âmbito socioespacial, pois produzem áreas de convivência, despertam a curiosidade pelo desenho e singularidade. Podem aparecer por meio de iluminação, como no caso projetado por Maurici Ginés para a Plaza del Torico, em Teruel, Espanha. O desenho leva, em perspectiva, um calçadão à uma grande praça. O objetivo do projeto era trazer elementos contemporâneos à região, não seguindo o padrão de iluminação
Imagem 11: Zighzaghi, OFL Architecture. Itália, 2016. Foto: archtizer
Imagem 10: Plaza del Tourico - Maurici Ginés. Teruel, Espanha. 2007 Foto: artec3
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já usado, chamando a atenção para os prédios históricos do entorno. A posição das lâmpadas no piso foram pensadas para remeter ao reservatório de água subterrâneo que existe no local. Para aumentar o efeito da iluminação do LED RGB, as fachadas dos prédios passaram a receber menos luz direta, fazendo com que a iluminação do piso refletisse mais nas fachadas. As cores e a intensidade das lâmpadas podem ser controladas, permitindo o livre uso para qualquer ambientação desejada. Outra proposta interessante de intervenção qualitativa do espaço, foi a feita recentemen-
te na Itália, na cidade de Favara, no sudeste da Sicília, com o propósito de criar um espaço de boas vindas para os moradores, através de um espaço inovador que junta vegetação e madeira. O projeto, realizado pelo OFL Architects, se dá em dois níveis - o do chão, com peças modulares hexagonais que permitem diversas combinações e tipologias e o nível aéreo, composto por luminárias, que seguem a mesma linguagem do desenho do deck. Existem propostas que considero de extrema importância e viáveis para a cidade de São Paulo, que aproveitam áreas caracterizadas como não -lugares gerando espaços de permanência e convivência, construindo qualidade socioespacial. As escadarias, por exemplo, tem um uso muito marcante de apropriação informal relacionada ao estar, como no caso das escadarias do prédio da Gazeta, na Avenida Paulista onde as pessoas sentam para conversar, comer, descansar e fun-
ciona como ponto de encontro. Este é o caso dos projetos The Cascade, realizado em Hong Kong, no qual se construiu uma estrutura parasitária à escadaria. A assimetria constrói espaços de permanência e socialização, revertendo uma área subutilizada e a posição deles, de costas para as fachadas dos prédios, evita a relação visual direta entre a intimidade dos moradores com os transeuntes que poderia constranger a permanência no local ou o conforto dos moradores; e da instalação no MLC Centre, em Sydney, no qual blocos de concreto foram instalados na escadaria em frente ao prédio, criando áreas de descanso para os funcionários. A iluminação da peça reflete com a cor clara do concreto, dando a ilusão de que o objeto está descolado do piso e ligado por inteiro. Efeito semelhante é visto no projeto de mobiliário urbano implantado em Hamburgo, na Praça da Catedral. Porém nesse caso, os bancos
Imagem 12: ZThe Cascade - Edge Design Institute. Hong Kong, China. 2007 Foto: inhabit
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foram construídos em policarbonato leitoso, que acende durante a noite. Além de despertarem atenção para a permanência, suprem a necessidade de postes de iluminação.
Imagem 13: Mobiliário - MLC Center. Sydney, 2014 Foto: Florian Groehn
PARTE 3 Projeto
Imagem 14: Mobiliário - Praça da Catedral. Alemanha 2009. Foto: Martin Schlüter
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PROJETO Local Será usada como base do projeto a proposta já existente da gestão pública de São Paulo de requalificação dos calçadões e do Vale do Anhangabaú, o Projeto Centro Aberto, como um complemento da situação que pretende se instituir. O objeto a ser desenvolvido faz parte destes conjuntos de intervenções e propostas que pretendem requalificar o espaço dos calçadões e interligar os monumentos históricos de São Paulo, a fim de valorizá-los e associá-los a áreas de permanência. Existem muitas áreas de perma-
Imagem 15: Relação do pedestre com o centro. Foto: autoral
nência, para não dizer todas, que precisam de requalificação, porém a que considero mais importante, por estar integrada geograficamente, historicamente e culturalmente às dinâmicas do centro é o Theatro Municipal. Construído em 1911, projetado por Ramos de Azevedo e os irmãos Rossi, foi um marco para a cidade no quesito cultural, pois possibilitou a vinda de obras internacionais. Durante os anos, passou por duas restaurações e ampliações, a última finalizada em 2011 que durou quase 3 anos, tornando-se patrimônio histórico em 1981, tombado pelo CONDEPHAAT. Atualmente, o Theatro recebe apresentações musicais de orquestras, performan- ces de balé e aulas de música e dança. As escadarias presentes na frente do tea-
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tro servem como área de espera cotidianamente, tanto para quem vai visitar o local ou assistir a uma ópera como para quem só quer descansar. No entanto, não existe um espaço adequado para o estar, a área em frente à escadaria principal é interrompida por uma rua, não trazendo espaço o suficiente para uma área de encontro para os espectadores. A Praça Ramos de Azevedo faz parte do conjunto do Theatro, porém pela topografia e pela fonte que está desativada ela acaba separada, com caráter de abandonada. O prédio tem em três de suas fachadas escadarias com grades no final, fechando o prédio. O acesso principal é feito pela entrada da rua do Viaduto do Chá, seguimento da Rua Barão de Itapetininga. A praça frontal não é muito grande, mas mantém relação ativa com o entorno pela apropriação do espaço por meio de camelôs e barraquinhas de comida. O mesmo ocorre na lateral esquerda do Theatro, que segue depois como Rua Conselheiro Crispiniano. O comércio mantém a rua ativa, e há a apropriação da
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escadaria pelo uso de estar, tanto de moradores de rua como de transeuntes que procuram sombreamento. A fachada posterior do prédio abriga a entrada de serviço, numa rua pequena, sem muito movimento de pedestres. Já a lateral direita é uma fachada privilegiada pois tem vista para o Vale do Anhangabaú, para a Praça do Patriarca e para a Praça Ramos de Azevedo, com muita vegetação em primeiro plano e prédios em segundo. A calçada nesse lado também é maior e, como não tem um uso definido, é ativa por skatistas. Como já citado anteriormente, em dias de espetáculos, as calçadas do Theatro recebem outro tipo de uso: o espaço se torna ponto de encontro no início do programa, no qual as pessoas ficam em pé esperando a abertura dos portões. Ao fim do espetáculo, elas se dispersam rapidamente, ainda mais se for no período da noite. Pensando em maneiras para atrair o interesse da população para a região, de início, prolonguei a calçada em frente ao Theatro Municipal, juntando o canteiro da Praça Ramos de Azevedo. A mudança não interfere no fluxo dos carros, que não é alto nessa parte, e acrescenta espaço para o pedestre, aumentando significativamente a área ocupada pelo projeto. A sensação de insegurança na região do teatro não se deve apenas à falta de iluminação, mas também pelo esvaziamento do centro no período da noite. A intenção do projeto é de, ao projetar áreas de estar confortáveis em meio ao caos de cruzamentos do calçadão,
Aumento da calçada em frente ao Theatro para o projeto.
como no caso da Rua Coronel Xavier de Toledo, a ideia possa ser replicada, analisando a especificidade de cada situação, a outros pontos turísticos.
PROJETO Paisagismo
O projeto de paisagismo foi desenvolvido com base na compreensão de que o projeto Centro Aberto já estaria finalizado. A proposta surgiu em 2014, e hoje vemos algumas extensões do programa já implantadas, como o caso já visto neste trabalho da construção de decks de madeira nos Largos do calçadão e a instalação de mobiliário urbano em alguns trechos da rua 7 de Abril. As premissas da proposta feitas para a rua 7 de Abril, para serem posteriormente aplicadas ao todo, elaboram uma proposta de reforma geral do centro, com mudança de piso, inserção de equipamentos urbanos de limpeza, lazer, informação e estar, maior acessibilidade, melhoria e facilidade na manutenção de equipamentos e organização do espaço, tanto por meio de balizadores removíveis
como da remoção dos excessos de informação. Como podemos analisar nas tabelas de diagnóstico das ruas Coronel Xavier de Toledo, Barão de Itapetininga, Praça Ramos de Azevedo e 24 de maio, há excesso de informação, a começar por postes e placas, que desorganizam e tumultuam a visão do passante. Em um metro quadrado da esquina da Cel. Xavier de Toledo com a Praça Ramos de Azevedo, encontrei 4 diferentes tipos de postes, entre antigos e novos;,com ou sem uso, sobrecarregados ou não de placas. O piso do calçadão encontra-se muito degradado, com muitos remendos e irregularidades, devido ao fraco desempenho em resistência da pedra portuguesa, tanto pelos terrenos irregulares quanto pela passagem de caminhões de manutenção e serviços. Por ser também um material de difícil manutenção, começaram a ser inseridos pelas calçadas, pedras escorregadias e concreto, além de áreas de manutenção com tampas para passagem de fiação e bueiros. Portanto, o paisagismo foi pensado para unificar a área para pedestres, organizando o espaço tanto visualmente como fisicamente. O desenho tem linhas curvas que amarram e prolongam o passeio como uma continuidade, pa-
Imagem 16: Pisos atuais encontrados pelo Calçadão. Fotos: autorais
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dronizando o material usado, que será o piso de concreto proposto no projeto da prefeitura. Tal piso é composto por blocos de concreto, garantindo resistência para as cargas recebidas de caminhões, com medidas de 20x40 e 20x20 cm, que, além de serem de fácil reparo, ainda delimitam o espaço correto para instalação de tampas metálicas para áreas de serviços subterrâneas, evitando assim cortes assimétricos e desleixados no piso. O projeto de paisagismo é composto por diferentes colorações no piso que demarcam as curvas, formando a linha de instalação dos balizadores, e isso é facilmente resolvido com corante de cinza mais escuro ou colorido durante o processo de fabricação das peças. As curvas surgem conectando as quinas do Theatro Municipal. O local compõe um conjunto com os projetos do Centro Aberto. Como podemos ver no mapa, o conjunto de intervenção já feita pela prefeitura forma um triângulo de ação. Com a nova intervenção no entorno do teatro, começa a ser lida a expansão do projeto, como uma releitura da proposta de forma contínua, conectando-se com o existente. O conceito das curvas integrado no desenho do projeto abre a possibilidade para amarrar outros pontos, principalmente turísticos, que hoje ainda não recebem a devida atenção do poder público. Não se trata portanto de criar novos usos para o centro e sim de propor novidades para os espaços existentes que não são valorizados. O desenho guia a implantação do projeto, começando pela luminária que, na escala da cidade, tem papel de balizador. O principal objetivo da peça, é aumentar a luminosidade nas ruas, encorajando a permanência nos pe-
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ríodos noturnos por meio da melhora qualitativa do espaço e atrair os pedestres e chamar a atenção de olhares curiosos para a trilha que ela forma. O distanciamento entre as peças é determinado por sua proximidade às áreas de permanência propostas. Quanto mais próximos dos locais de permanência menor é a distância entre os balizadores, que, por outro lado, encontram-se mais espaçados nos percursos entre as áreas de estar que a proposta prevê. Dessa forma, além de trazerem ritmo, não atrapalham o fluxo diário nas áreas mais movimentadas. Das curvas de piso nascem as áreas de permanência. Tais áreas foram pensadas em locais que tivessem vistas interessantes, como a Praça do Patriarca, o Vale do Anhangabaú e o próprio Theatro Municipal, contando também com a vista para a cidade, para o uso espontâneo e a possibilidade de se permanecer em meio ao caos para observar e ter a vivência de cidade. Com as áreas de permanência, pretendo não só organizar o centro e gerar espaços de descanso durante o dia, mas habitá-lo com espaços que transmitem a sensação de segurança no período da noite, especialmente para quem, ao fim de um espetáculo, sai com pressa e não vivencia a cidade. Durante a chegada ao teatro, elas podem ser referências e pontos de encontro. Os espaços, e consequentemente o paisagismo, foram pensados a não acabar com os usos espontâneos já existentes no entorno, como o uso por skatistas na lateral direita do teatro e os usos feitos nas escadarias, pois eles mostram que o centro e a cidade têm qualidades para a vida urbana, têm oportunidades e desejos de uso, e só o que falta, muitas vezes, é um incentivo.
Seguindo na Rua Cel. Xavier de Toledo, na área localizada entre o teatro e a praça Ramos de Azevedo, vejo a importância de instalação de mobiliário por ser uma área de grande potencial, bela, porém abandonada. Hoje em dia, pichações e desgaste tomam conta da fonte e do jardim que conectam os níveis entre o calçadão e o Vale do Anhangabaú. Imagem 17: Referência de piso a ser implantado. Fotos: Site Gestão Urbana de São Paulo
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Piso concreto escuro Piso concreto claro
Paisagismo - Malha Calçadão de São Paulo
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Desenho de piso - concreto azul
Paisagismo - Ampliação Theatro Municipal
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PROJETO Luminária Desde o começo da minha trajetória nesse trabalho, havia uma indecisão muito grande entre propor uma intervenção urbana com caráter artístico, temporário e que impactasse o espectador, ou a construção de um mobiliário urbano no sentido de objeto tradicional, como bancos, lixeiras, etc. Apesar da insegurança inicial em projetar um mobiliário, o resultado foi esse. O projeto, que no início pendia para a ideia de intervenção artística, que eu pretendia que fosse implantada como um jardim de luz, gerando espaços confortáveis que remetessem à calmaria de um jardim por meio de hastes luminosas e nada mais, foi moldado de acordo com as necessidades reais da cidade. Como resultado, obtive uma peça - a luminária - que é utilizada em diversas outras situações, sempre em adaptações muito simples, compondo bancos, floreiras, lixeiras e painéis informativos, criando um conjunto de mobiliários voltados a revitalizar o centro. No projeto a ser mostrado agora, foi feito o detalhamento das peças principais, a luminária e sua adaptação como banco e floreira. Os outros tipos de uso estão representados aqui por meio de croquis enfatizando a versatilidade da peça. A necessidade de se projetar bancos foi identificada pois, além do uso espontâneo da escadaria como assento e da adaptação de outros elementos para o uso, não há áreas de estar nos calçadões. A vida acelerada do paulistano é es-
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tampada no modo como os calçadões são e como mantemos nossa relação com a cidade. O formato de arquibancada dos bancos altos são um espelho das escadarias, trazendo patamares para os usuários, possibilitando diferentes formas de uso e garantindo mais espaço para as pessoas usufruírem do mobiliário. O fato de se voltar para os
dois lados, sem ter uma parte traseira, não bloqueia o uso ou gera fundos, já que os pedestres vêm desordenadamente e de diversas direções. Dessa forma, o mobiliário se torna mais convidativo e mais adequado a seus objetivos. Após estas reflexões, ficou claro nesta etapa do projeto que a ideia inicial, de hastes luminosas com variações de altura, seria insuficiente. O resultado, a peça final, é um pequeno objeto para a iluminação, mas já com a altura de um banco, pensada para ser resistente o suficiente para suportar o peso de uma pessoa e ações de vandalismo, podendo ser usado como peça única
ou em conjunto. Todos os materiais foram escolhidos pensando em modo de construção eficiente, praticidade de construção e montagem, facilidade de instalação , resistência à vandalismo e combinação estética. O único material que estava decidido desde o início, foi o uso de madeiras ripadas, para enfatizar a unidade e a continuidade com o projeto dos decks nos Largos, realizado pela prefeitura no programa Centro Aberto. A parte estrutural foi analisada como podendo ser estruturas metálicas, a fim de contrastar com o entorno pesado de concreto, prevale-
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cente nas construções de São Paulo - invalidada pela forma proposta; em policarbonato leitoso para dissipar a luz - invalidada pelo custo e dificuldade de construção. Chegamos, então, à argamassa armada, resistente, com o desafio de parecer uma peça leve. A definição do material ajudou a moldar a forma, que sofreu muitas variações no decorrer do projeto, pelas fragilidades na espessura e dificuldade de construção do desenho inicial. O desenho atual, apesar de não ser simples, foi ajustado para ser lógico no sentido construtivo. Por exemplo, todos os ângulos vivos do objeto foram arredondados, primeiramente por questão de conforto e ergonomia, mas também pela questão de ser um ponto frágil construtivamente; a peça recebeu leves distorções, explicadas melhor posteriormente neste trabalho, para viabilizar a construção em fôrma. O desenho do balizador é composto por diversas curvas, que remetem ao desenho orgânico do paisagismo, formando uma peça que, apesar da dureza do material, tem características suaves, sem curvas muito acentuadas. O elemento vazado no meio da peça enfatiza sua leveza, mesmo ela estando fixada no piso. Além de argamassa armada, a peça principal conta com um perfil de policarbonato leitoso, fixado em frente ao sulco onde são inseridos os LEDs, a fim de tornar difusa a iluminação. A fixação do balizador é feita através de um pino metálico chumbado no piso, no qual a peça - com um buraco já previsto na construção - é encaixada e parafusada. Todos os furos necessários na peça foram estudados, resultando em quatro: dois na parte superior para adaptações a outros tipos de mobiliário; e dois na parte inferior da peça, para
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fixação no chão, sendo que os quatro e o rebaixo para LED já são previstas durante a concretagem, tornando o processo de produção e instalação mais simples e eficiente. O desenho da peça é trabalhado com diversos raios de círculo, gerando formas orgânicas que remetem à vegetação - ideia inicial do projeto. As curvas também enfatizam a plasticidade do material, que contrasta com a rigidez do concreto reto do centro. Além disso, trazem leveza e continuidade ao desenho do balizador. As curvas estão presente em diversos pontos do projeto, como no paisagismo, nas peças de balizadores, nos bancos e nos painéis informativos, representados à frente nos croquis.
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VISTA INFERIOR
VISTA SUPERIOR
VISTA LATERAL VISTA FRONTAL
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VISTA POSTERIOR
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A cor do LED é branca, pela melhor capacidade de iluminação.
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Detalhe de fixação no piso, através do encaixe da peça em dois pinos chumbados no chão, parafusados à luminária. A caixa central é destinada à passagem de fiação e manutenção.
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PROJETO Bancos Quando a peça é adaptada para o uso de bancos, tanto na versão alta, como na baixa, ela recebe um suporte de estrutura tubular metálica, curvada e soldada, formando um desenho que segue a linguagem do balizador. A escolha desse material se deve pela resistência e facilidade de manipulação. Afim de baratear o custo, as peças
internas, tanto no caso dos bancos como de outros componentes, não recebemos iluminação, sendo estas instaladas apenas nas peças externas. Nos casos de bancos compridos, os balizadores são dispostos a 1.5m de distância. Seguindo a lógica construtiva, obtém-se o formato de canteiro desejado com inúmeras combinações. O assento dos bancos é feito com ripas de madeira, parafusadas nas estruturas metálicas, com 5cm de largura, comprimento variável e 1,5cm de espessura. Por estarem expostas ao tempo, é necessário que a madeira seja tratada contra fungos, cupins e umidade.
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O desenho do encosto dos bancos Ê espelhado das curvas das peças, para manter a linguagem do desenho.
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PROJETO Floreiras Para as floreiras, são moldados vasos em chapas metálicas dobradas e soldadas, formando uma caixa com alças que são parafusadas na
mesma estrutura tubular dos bancos. Ela pode ser instalada tanto como exclusivamente floreira, como inserida no meio do banco. Nesse caso, há uma interrupção no ripado de madeira, que abre espaço para a vegetação. Na construção, já é previsto um ralo para o escoamento de água, que é despejada no piso drenante.
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PROJETO Painéis informativos e lixeiras A mesma lógica construtiva pode ser aplicada para outras situações, como no caso de lixeiras e painéis informativos, fixados no balizador.
O painel de informações, tem um perfil metálico que teria iluminação voltada para o quadro.
PROJETO CANTEIROS O desenho dos canteiros surgiu das linhas de paisagismo. Em cada um, bancos de diferentes formatos são propostos, todos seguindo a mesma lógica construtiva que gera as linhas base para o desenho.
Canteiro na Rua Conselheiro Crispiniano, implantado na calçada lateral do Theatro Municipal. Faz conexão com as escadarias do prédio e os comércios.
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Os bancos sĂŁo estruturados de acordo com a lĂłgica construtiva, com travamentos tubulares transversais, apoiando as ripas de madeira dos assentos.
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comprimentos dos perfis tubulares. Não aumenta , no entanto, o custo do processo em valores significativos pois estes não tem dobras e cortes diferentes do padrão.
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O canteiro na Rua Barão de Parnapiacaba é maior que os outros, com mais bancos em formatos diferentes por estar em um espaço privilegiado de vistas para o Theatro, Shopping Light e Praça do Patriarca. Devido a variação de formatos, foi o módulo mais complicado para desenvolver a estrutura, tendo o maior número de variações nos
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Este canteiro é proposto para a calçada com a fachada principal do Theatro Municipal. Os bancos em arquibancada, surgiram desta implantação, como um espelho à escadaria do teatro, usada como área de espera.
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O canteiro que faz relação com a Praça Ramos de Azevedo, foi pensado para aumentar a relação do calçadão com a área das escadarias que conectam com o Vale, chamando a atenção para a necessidade de requalificação deste espaço.
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PROCESSO CONSTRUITIVO
FÔRMA Nota: informações sobre argamassa retiradas do “Manual de Argamassa Armada - Produção Industrializada: Aplicações e Processo de Fabricação com Telas Soldadas”, escrito pelo Professor Paulo Eduardo Fonseca de Campos; e informações sobre a fôrma, orientadas pelo Professor Coordenador de Design Industrial do SENAC, Robinson Salata. Argamassa armada é a composição de cimento, areia e água, estruturada por uma trama de aço que resiste aos esforços de tração. A principal diferença entre ela e o concreto, é a possibilidade de se trabalhar com pequenas espessuras por não utilizar agregados como brita, resultando em peças leves. O processo de construção da argamassa armada apareceu pela primeira vez no Brasil em 1960, no projeto de construção da cobertura da Escola de Engenharia de São Carlos, da Universidade de São Paulo, mas ganhou destaque nos projetos do arquiteto João Filgueiras Lima, o Lelé. Em suas obras, podemos ver desafios estruturais sendo alcançados e a plasticidade que o material possui. A resistência da argamassa armada é comprovada pelo arquiteto em diversas escalas; desde a construção de coberturas em abóbadas até em grandes elementos urbanos, como passarelas. Em todos os casos, foi utilizado o método construtivo em fôrmas, ganhando importante espaço no setor industrial. Conhecendo o funcionamento da constru-
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ção, o desenho da peça é feito de acordo com as reais possibilidades. No início do projeto, algumas das formas das quais propus não eram possíveis de ser construídas. O processo de construção, consiste em, primeiro, conhecer as medidas necessárias para suportar a carga que a peça irá receber, o que já influencia no formato. No caso da luminária, as espessuras mínimas foram de 3 cm e será utilizado para estruturar duas teias de armadura metálica, em tramas espaçadas entre si de 5 em 5 cm. Em seguida, é preciso planejar como a peça será concretada, levando em conta o desenforme. Neste ponto, o desenho da luminária foi modificado a ter no rebaixo para o LED e no vão interior - partes nas quais a fôrma entra na peça - uma angulação de 2 graus para conseguir desenformar o objeto. Durante o processo de construção é necessário inserir na fôrma os buracos já previstos para o posicionamento de parafusos e pinos de fixação. As fôrmas podem ser feitas em diversos materiais, porém eles variam na quantidade de vezes que a fôrma pode ser usada. O aço tem uma tolerância maior no reuso, sendo de aproximadamente 500 a 800 vezes. A forma pensada para construir o balizador seria fabricada em chapas de aço curvadas e soldadas no formato da peça. Ela é composta de duas partes, como mostra o desenho, sendo que cada lado das partes de metal têm uma extensão para parafusar uma peça à outra. O maior desafio encontrado neste processo foi o de solucionar como seria feita o rebaixo para o LED no interior da peça, tendo em consideração que ela seria produzida em larga escala
e como peça única, portanto, seria necessário que o processo construtivo fosse barato e simples na execução. A solução foi utilizar isopor de alta densidade, colado na posição central da peça para criar o vazado, e dividido em três partes. Após a cura do material, é removida primeiro a parte pequena e, posteriormente, as grandes. Caso fiquem resquícios do material, a orientação é de passar maçarico para que derretam.
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Considerações Finais O desenvolvimento do trabalho trouxe uma série de desafios, a começar pela escolha do tema. Sempre tive interesse em intervenções urbanas temporárias que chamassem a atenção e fizessem refletir sobre uma situação específica da cidade. No entanto, acredito ao mesmo tempo na necessidade que São Paulo tem de valorização de sua história. Há muitas questões presentes no centro da cidade e tentei englobá-las ao propor o tema. No decorrer do desenvolvimento do projeto, houve muitas variações no desenho da luminária, que começou como um conjunto de hastes luminosas, sem espaço para bancos, que fossem flexíveis e criassem um ambiente propício à interação, e chegou à proposta final de que a própria luminária seria também um banco. Para isso, ela deveria ter dimensões próximas às de um banco. Na primeira versão, uma combinação de curvas acentuadas e dimensões excessivas resultou em uma peça que atrapalharia o fluxo das pessoas no dia a dia, precisando então ser remodelada. No desenho seguinte, com espessuras bem mais finas que as finais e maior inclinação, foram identificados problemas relativos à construção, pensada inicialmente como estrutura metálica, o que impediu sua continuação. Por fim, ao decidir trabalhar com argamassa armada, ficou mais fácil desenhar uma peça que atendesse a todas as premissas do projeto. A construção seria mais simples, com menor custo, e a instalação mais rápida. Além deste material possuir maior durabilidade e resistência. Neste momento, as questões da inter-
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venção temporária e da interatividade perderam importância e as questões do conforto e da permanência tornaram-se o foco principal do projeto. Considero importante ressaltar que o conjunto proposto neste trabalho seria parte de um sistema construtivo, a ser detalhado e aplicado conforme cada situação.A proposta poderia, portanto, ter continuidade em outras regiões do centro de São Paulo, desde que fossem realizados novos estudos sobre o desenvolvimento dos conjuntos e sua instalação, para afinar a questão de custos e facilidade construtiva. Os estudos feitos para este trabalho mudaram minha perspectiva e abriram minha compreensão, motivando-me a ir atrás de mais estudos que expliquem os porquês de nossa sociedade se comportar da maneira atual em relação ao espaço público e que ajudem a pensar maneiras de ele ser revalorizado, propondo novas ideias. Espero, por meio deste trabalho, fazer o leitor refletir sobre a importância do design em favor do espaço público.
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