Barro Paraitinga: O uso da técnica mista da construção contemporânea | Felipe Francisco

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Barro paraitinga

O uso da técnica mista na construção contemporânea

Felipe Francisco



Barro paraitinga

O uso da técnica mista na construção contemporânea


Elaborada pelo sistema de geração automática de ficha catalográfica do Centro Universitário Senac São Paulo com dados fornecidos pelo autor(a). Francisco, Felipe Barro Paraitinga - O uso da técnica mista na construção contemporânea / Felipe Francisco - São Paulo (SP), 2019. 110 f.: il. color. Orientador(a): Marcelo Suzuki Trabalho de Conclusão de Curso (Bacharelado em Arquitetura e Urbanismo ) - Centro Universitário Senac, São Paulo, 2019. Arquitetura, Barro, Terra, Taipa de mão, Técnica mista I. Suzuki, Marcelo (Orient.) II. Título


Centro universitário SENAC Bacharelado em Arquitetura e Urbanismo

Barro paraitinga O uso da técnica mista na construção contemporânea

Felipe Francisco da Silva

Trabalho de conclusão de curso apresentado ao Centro Universitário SENAC - Campus Santo Amaro, como exigência para a obtenção do grau de Bacharel em Arquitetura e Urbanismo. Orientação: Prof. Dr. Marcelo Suzuki

São Paulo 2019



Agradecimentos: Agradeço primeiramente a minha família que sempre colaborou com meu crescimento como pessoa e agora como profissional, em especial minha Mãe e meus Avós. Ao meu orientador Marcelo Suzuki pois sei que sem ele meu projeto não teria percorrido os caminhos que percorreu. Um agradecimento mais que especial a Mariana Silveira de Abreu por mesmo estando a quilômetros de distância, sempre me apoiou e sempre foi minha fonte de inspiração para a conclusão deste trabalho. Agradeço também a toda a turma de Arquitetura e urbanismo de 2015, em especial Camila Caçador, Christian Prall, Nathalia Fernandes, Leonardo Ferrari, Leticia Falco e Lucas Galaverna. Á todos os professores que fizeram parte de minha formação acadêmica e que formaram também meu caráter como arquiteto urbanista. E por fim a todos meus amigos e colegas que mantive após o colégio e que conheci durante a faculdade.


Resumo: Este trabalho consiste em investigar e identificar os principais elementos que compõe um projeto utilizando o barro como matéria prima, destacando o uso das técnicas mistas como o principal elemento estrutural, com objetivo de obter os conhecimentos necessários para sua construção. Como base para o desenvolvimento deste projeto foram pesquisados conteúdos para a fundamentação teórica, por meio de pesquisas bibliográficas e entrevistas de campo, abordando temas como a seleção e pré-análise dos solos e elementos das técnicas construtivas. O presente projeto adota esses conceitos estudados a fim de propor uma residência de campo, utilizando a técnica mista aplicada ao conceito de modulação e pré-fabricação. Palavras chaves: Arquitetura, Barro, Terra, Taipa de mão, Técnica mista, Pré-fabricado.


Abstract: This work consists in investigating and identifying the main elements that make up a project using clay as a raw material, highlighting the use of mixed techniques as the main structural element, aiming to obtain the necessary knowledge for its construction. As a basis for the development of this project, contents were researched for the theoretical basis, through bibliographical research and field interviews, addressing topics such as selection and pre-analysis of soils and elements of construction techniques. The present project adopts these concepts studied in order to propose a field residence, using the mixed technique applied to the concept of modulation and pre-fabrication.

Key words: Architecture, Clay, Earth, Handmade Taipa, Mixed Tecnic, Prefabricated.


Sumário 1 Introdução 12

1.1 Contexto e justificativa 12 1.2 Objetivo 12 1.3 Procedimento metodológico 12

2 A construção com terra 13

2.1 Breve história 13 2.1.1 Construções de terra no brasil 14 2.2 Aspectos gerais e ambientais 15 2.3 Técnicas construtivas 16 2.3.1 Terra escavada 17 2.3.2 Terra empilhada 19 2.3.3 Terra prensada 20 2.3.4 Blocos apiloados e Blocos prensados 21 2.3.5 ADOBE 22

3 Taipa de mão 23

3.1 Componentes da técnica mista 3.1.1 Estrutura mestra 24 3.1.2 Estrutura auxiliar 25 3.1.3 Enchimento 25 3.1.3 Revestimento 26

24

4 Propriedades fundamentais da terra

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4.1 Composição do solo 27 4.1.1 Composição granulométrica 28 4.1.2 Grau de umidade 30 4.1.3 Retração 31 4.2 seleção e estabilização da terra 32 4.3 Analise do solo 35 4.3.1 Amostragem 35 4.3.2 Testes tátil visuais 35 4.3.3 Teste de queda 38 4.3.4 Teste do vidro 39 4.3.5 Teste do cordão 42 4.3.6 Teste da fita 43 4.3.7 Teste de exsudação 44 4.3.8 Teste da resistência seca 45 4.3.9 Identificação da técnica construtiva em função dos resultados dos testes 46


5 Referências de Projeto 48

5.3 Novo edifício de alojamentos e encontros do Instituto Mexicano para o Desenvolvimento Comunitário (IMDEC) 48 5.4 Monlevade: Anteprojeto para vila operária 54 5.5 Visita USP-IAU São Carlos 58

6 Condicionantes do projeto 61 6.1 Aspectos físicos 61 6.2 Aspectos geográficos 61 6.2.1 topografia 62 6.2.2 fotos do terreno 62

7 partido e projeto 66

7.1 Ateliê 68 7.2 Área comum 76 7.3 Quarto 84 7.4 Detalhes construtivos 92 7.4.1 estrutura de cobertura 92 7.4.2 módulos 94 7.4.3 Janelas e portas 95 7.4.4 escada 100 7.5 Renders do conjunto 101

8 Considerações finais

106

9 Referências bibliográficas 108 9.1 Textos 108 9.2 Imagens 110 9.3 Video 111


1 Introdução 1.1 Contexto e justificativa

1.2 Objetivo

1.3 Procedimento metodológico

O uso do barro como matéria prima na construção civil não é uma novidade, há milhares de anos o homem utilizava os materiais presentes no seu entorno para construir seus abrigos. A taipa de mão é uma das técnicas que utiliza a terra, assim como a madeira, bambu e alguns aglomerantes como fibras vegetais, por esse motivo é chamada de técnica mista. Este trabalho desde o início foi motivado pelo interesse de incorporar o uso da técnica mista em um contexto contemporâneo, atualizando esta técnica de construção, e aplicando o uso de outros materiais, além dos tradicionais. Além da nova materialidade, propõe-se um jeito diferente do convencional de encarar essa técnica e aplicá-la ao projeto arquitetônico.

Tem como objetivo, desenvolver o projeto de uma habitação unifamiliar contemporânea, que faça uso da terra crua aliada ao sistema construtivo de taipa de mão, aplicando tecnologias atuais, mas mantendo suas características primárias, com baixo consumo de energia durante a obra e fácil execução, podendo ser concluída de forma rápida, mas eficaz. Portanto, com esse trabalho espera-se contribuir na revalorização da terra como matéria prima de construção, estudando e aplicando esse método construtivo favorável ao meio ambiente.

Com o objetivo de aplicar a terra crua como matéria prima de construção, é necessário estudar os sistemas construtivos que utilizam barro, tendo em ênfase a taipa de mão, e entender as vantagens executivas e bioclimáticas que o barro proporciona. Além de compreender as inovações técnicas possíveis para a melhoria da qualidade e durabilidade da construção de terra. Procurar e estudar referencias de projetos e arquitetos que pensam sobre esses assuntos, e quem teve essa mesma proposta de unir esses dois estilos.

12


2 A construção com terra 2.1 Breve história No início da história humana as civilizações tiveram como matéria prima para suas primeiras moradias, materiais como madeira, pedra e é claro a terra. Existem vestígios arqueológicos que a referência mais antiga de construção com terra remonta a aproximadamente a 10.000 anos atrás, porém é difícil dizer ou certo onde e quando surgiram. “No México e na América Latina muitas civilizações pré-colombianas já utilizavam técnicas de terra em seus templos a exemplo da pirâmide ao Rei Sol cujo núcleo foi executado com uma das técnicas de construção com terra e posteriormente revestida com estuque e pedra. ” (OLIVEIRA, 2011).

Desde então construções como aquedutos, templos, pirâmides, monastérios, igrejas, mesquitas, muralhas e até cidades inteiras foram feitas de terra foram construídas em todo o planeta. Como exemplo a grande muralha da china que tem partes de sua extensão inicialmente erguidas em adobe. Outro exemplo do uso em larga escada de adobe é a mesquita de Djénne em Mali (1280 d.C.), atualmente a maior construção feita com essa técnica no mundo. A arquitetura em terra ao longo da história humana se difundiu e aperfeiçoou a medida em que os povos ancestrais se tornavam cada vez mais sedentários. Porem antes desse estágio o contato entre os povos nômades influenciou diretamente no acumulo de conhecimento.

Mesquita de Djénne. (GILHAM, 2003)

“Assim, a arquitetura de terra é encontrada em todas as partes do mundo, através de técnicas diversas, devido á sua versatilidade. Em cada local, é adaptada ao clima e aos condicionantes físicos existentes e aos materiais encontrados, adaptando-se ao meio local e às particularidades de cada região e satisfazendo às necessidades do bem-estar do homem. ” (MEDEIROS, 2015).

Penhasco dwellings. (PULITI, 2018) 13


2.1.1 Construções de terra no brasil A utilização da terra como matéria prima no brasil, foi trazida pelos portugueses e espanhóis, que por sua vez foram influenciados pelos árabes, e pelos povos africanos que tem o uso do barro como matéria prima de construção bem difundida em suas culturas “Amplamente utilizada no período colonial, a arquitetura de terra brasileira pode ser encontrada principalmente em igrejas – como a Igreja dos Santos Cosme e Damião, erguida originalmente em taipa no ano de 1535 na região metropolitana de recife e considerada a igreja mais antiga do brasil ainda em funcionamento – e em casarios, como as asas grandes e casas bandeiristas. ” (CIBIM, 2016).

Na cidade de São Paulo a construção com terra foi uma opção muito bem-vinda, pelo fato da cidade estar localizada em uma região com o acesso a pedras calcárias e a madeira, em grande quantidade ser muito difícil. O exemplo mais significativo são as casas bandeiristas que foram construídas em adobe, taipa de pilão e tipa de mão. 14

“(...)Portanto, quando coube ao padre Afonso Brás construir a igreja nova em substituição à de palha da primeira missa, ele escolheu, por exclusão, a taipa de pilão para as paredes do pequeno templo. A partir dessa decisão, aquela técnica construtiva passou a ser usada sistematicamente no burgo em crescimento, de modo especial depois da chegada dos moradores que tinham abandonado Santo André da

Bonda do Campo atraídos pela presença dos padres. A taipa de pilão. Com todas as suas limitações, passou logo a caracterizar as construções bandeirantes, vindo a construir um dado prevalente no quadro do Patrimônio Cultural paulista. (...) A taipa de Pilão simbolizou a civilização paulista, dando caráter peculiar às cidades, aos estabelecimentos rurais. ” (LEMOS, 1985)

Casa do Butantã (CIDADE, 2018)


2.2 Aspectos gerais e ambientais A terra crua como todos os outros materiais utilizados na construção civil tem suas vantagens e desvantagens. Como vantagens, o barro possui a capacidade de absorver e perder mais rapidamente a umidade, tonando ele excelente para regular a umidade dos ambientes. Além de ser um isolante térmico de primeira, praticamente impedindo que a temperatura do interior sofra influência da temperatura exterior. A construção com barro praticamente não contamina o ambiente, pois para prepará-la necessita-se de 1 a 2% da energia necessária para uma construção similar feita com concreto armado ou tijolo cozido. O solo é um recurso renovável, abundante e passível de reciclagem, e como no processo de construção a terra não sofre alterações em sua composição química, mas podendo ter adição de alguns compostos vegetais dependendo da técnica utilizada, a construção pode ser demolida e a terra pode ser totalmente reintegrada

a natureza, sem contaminar o meio ambiente. Além de poder ser reutilizada no processo de construção várias e várias vezes. Quantos aos aspectos negativos, a terra não é um material padronizado, dependendo muito da região onde ele foi formado o barro pode apresentar diferentes composições, dependendo das características geológicas e climáticas da região onde foi formado. Essa característica da construção com terra cria a necessidade de realizar alguns ensaios que indiquem a melhor região para se extrair a matéria prima e ou a necessidade de aditivos para corrigir as imperfeições do solo.

solo encharcado e ou acabamentos mal executados. Sendo assim proteger a edificação de terra crua do contato direto com a umidade do solo, elevando ou utilizando um alicerce, de pedras ou tijolos, e é claro devidamente impermeabilizado. “O sistema só se torna possível de avaliação quanto às suas contribuições quando todas as medidas preventivas cabíveis e os parâmetros construtivos adequados são realizados. Somente assim a terra crua apresentaria seu aproveitamento máximo e obteria os reais resultados de desempenho energético nas construções. ” (MEDEIROS, 2015)

Além disso o solo sofre deformações durante a secagem, ocasionando em trincas e fissuras, porem a maior ameaça a esse tipo de construção se dá ao fato da construção com terra ser muito frágil a infiltrações, pelos mais diversos fatores. Para resolver esse problema é necessária a proteção dos elementos construtivos, contra infiltrações devido ao contato direto com o 15


2.3 Técnicas construtivas A terra crua como dito anteriormente, é um material utilizado na construção civil a milhares de anos, tendo várias técnicas diferentes criadas e aperfeiçoadas por diferentes povos ao redor do globo.

a execução da técnica (liquido, plástico, úmido ou seco/solido) e pelo caráter de sua execução (se é manual ou mecanizada).

“Como destacado por Bardou (1981), a utilização da terra permite várias técnicas muito diferentes quanto á rapidez de execução, quantidade de material necessário e aos resultados obtidos, e o que determina a opção por uma certa técnica podem ser elementos de ordem cultural (transmissão de uma habilidade), Climática (quando certos elementos, como chuva, ventos, frio, calor, são realmente desfavoráveis), ou material (disponíveis no local). A maior relevância de um ou outro fator varia fundamentalmente segundo a estrutura socioeconômica de um povo (civilização agrícola, nômade, comerciante, etc.) ”. (BARDOU, 1981 apud CIBIM, 2016).

As técnicas apresentadas a seguir estão divididas conforme alguns parâmetros básicos de classificação, como o estado hídrico exigido pela terra para 16

Reagrupamento das técnicas em função das características da aplicação (Adaptado de HOUBEN, 1989 apud FERNANDES, 2006).


A- Monolítica

B- Unidade ou alvenaria

12345-

6- Blocos apiloados 7- Blocos prensados 8- Blocos cortados 9- Torrões 10- Terra extrudada 11- Adobe mecânico 12- Adobe Manual 13- Adobe Moldado

Terra Terra Terra Terra Terra

escavada plástica empilhada modelada prensada

C- Enchimento e/ou revestimento de estrutura 14- Terra de Recobrimento 15- Terra sobre engrado 16- Terra Palha 17- Terra de Enchimento 18- Terra de Cobertura

Tabela de identificações do diagrama de reagrupamento das técnicas em função das características da aplicação. (Adaptado de HOUBEN, 1989 apud FERNANDES, 2006).

2.3.1 Terra escavada A técnica consiste em remover o material com o objetivo de criar espaços semi ou totalmente enterrados, em encostas ou cavando direto para baixo no solo. Para que essa técnica tenha êxito é necessário um solo seco e bem rígido. Podemos encontrar exemplos históricos desse tipo de construção em países da região mediterrânea e em algumas regiões da china.

Museu a céu aberto de Göreme na capadócia (OLIVEIRA, 2017).

17


Museu a céu aberto de Göreme na capadócia (BORTHOLE, 2016).

Um exemplo recente desse tipo de construção vem sendo construído pelo entusiasta Ra Paulette que esculpiu espaços subterrâneos no deserto do novo México usando apenas ferramentas manuais.

Obra de Ra Paulette. (CBS News, 2019) 18


2.3.2 Terra empilhada Terra empilhada ou COB é uma das técnicas construtivas com terra mais antiga. Sua confecção consiste em utilizar a mesma massa de terra do Adobe, porem diferente dele São feitas bolotas com a massa e essas são assentadas umas ao lado das outras. E deve se construir todo o perímetro das paredes de uma só vez, respeitando as camadas. Cada camada deve secar bem antes de se começar a próxima camada. Bolota de COB (PERMACULTURA RJ, 2010)

Parede de COB (PERMACULTURARJ, 2010) 19


2.3.3 Terra prensada A técnica mais conhecida desse grupo é a taipa, popularmente conhecida no brasil como taipa de pilão. A técnica consiste em prensar ou comprimir camadas de terra (ligeiramente úmidas e sem a adição de compostos vegetais como é o caso de outras técnicas com barro), dentro de uma forma, os taipais. Praticas modernas dessa técnica utilizam pilão pneumático para compactar as camadas de terra, nesse caso o solo deve conter uma quantidade menor de umidade. A estrutura que serve como molde para o apiloamento pnelmático deve ser bem mais robusta que a utilizada no método tradicional.

Apiloamento mecanizado com compactador pneumático (FUTURA ARQUITETOS, 2019) 20

Desenho esquemático do apiloamento da taipa em forma do tipo móvel (MULLER, 2018)


2.3.4 Blocos apiloados e Blocos prensados Essas duas técnicas tem o mesmo princípio de comprimir o barro em uma forma retangular, com a dimensão parecida de uma alvenaria cozida. Porém o que difere essas técnicas uma da outra é a maneira e a escala que são produzidas. Os blocos apiloados são manufaturados em moldes de madeira, através de pilões e posteriormente as unidades são secas ao sol. Já o bloco prensado ou BTC (Bloco de Terra Comprimido) é a versão contemporânea dessa técnica e consiste em comprimir a terra através de prensas manuais ou automáticas que permite uma compressão elevada do solo no molde, e uma vez seco o solo pode alcançar uma solidez próxima ou concreto.

Operação da prensa manual GEO 50 (BARBOSA, 2019)

21


2.3.5 ADOBE O assim como o “COB” é uma das técnicas mais antigas na produção de edificações a partir do barro. Hoje em dia o adobe é produzido de maneira artesanal como era feito a milênios atrás através da moldagem dos blocos de terra com as próprias mão, podendo ter formatos quadrados ou retangulares. Através de moldes feitos com madeira, que permitem uma homogeneidade na produção dos blocos. Atualmente o adobe também pode ser produzido de maneira mecânica assim como o “BTC”, com maquinas especializadas para sua produção. Indiferente de com o adobe será produzido, um fator imutável é o estado de liquidez do barro, que deverá atingir um estado de plasticidade bem elevado. Outro fator importante é o modo de secagem desses blocos, que deverá ocorrer ao ar livre de forma natural, ao sol ou em meia sombra e devido a sua consistência, o bloco impossibilita o empilhamento durante sua secagem. Processo de secagem dos blocos de adobe. (MOLADI, 2017) 22


3 Taipa de mão A taipa de mão, também conhecida como, taipa de supapo, barro armado ou pau-a-pique, se encontra na categoria de técnicas de enchimento, ou seja, ela é uma técnica onde o barro não possui um papel estrutural, e sim de fechamento e recobrimento da estrutura principal. Portanto é também dado a essa categoria o nome de “técnica mista”, pios ela se utiliza de materiais diferentes no processo de construção para alcançar o resultado final. Como vantagens sobre as outras técnicas construtivas em barro, podemos destacar a rapidez na execução da obra com relação ao adobe por exemplo, que necessita passar por um processo de secagem demorado antes de ser efetivamente utilizado. Além disso a taipa de mão por não ser autoportante, possibilita a armação completa e a execução do telhado, criando um abrigo contra a chuva, favorecendo a realização da construção.

Devida a utilização de diversos materiais na execução dessa técnica, ela acaba naturalmente se tornando facilmente adaptável a utilização de materiais locais. Atrelado a esse fato, a utilização de inovações tecnológicas na execução do edifício pode apresentar um baixo custo e contribuir significativamente no processo de produção social do habitat.

E apesar de ser uma estrutura em principio leve, se receber uma cobertura pesada ou a estrutura mestra ser executada com um material mais pesado, essa característica pode se perder, e o edifício acabe necessitando de uma fundação mais robusta.

Por outro lado, ele apresenta como desvantagem ou pontos a serem tratados com cuidado, durante o processo de desenvolvimento do projeto, a necessidade de desenvolver e aperfeiçoar a execução da estrutura mestra e auxiliar, e se as mesmas forem executadas por meio de madeira, bambu ou algum material semelhante, o tratamento adequado é de suma importância para evitar qualquer tipo de patologia. Outros aspectos a serem levados em conta, é o alto índice de contração do solo durante seu processo de secagem, necessitando de um cuidado durante essa fase da obra. 23


3.1 Componentes da técnica mista Como mencionado anteriormente a técnica mista, é composta por materiais diferentes além

do barro, como a madeira e ou o bambu, que desempenham o papel de estrutura mestra e estrutura auxiliar, enquanto a terra o papel de enchimento e revestimento.

estrutura auxiliar

enchimento revestimento

estrutura mestra Componentes da técnica mista (Adaptado de GARZÓN, 2011) 24

3.1.1 Estrutura mestra Corresponde à estrutura básica da construção, em que seus elementos são os responsáveis pelo equilíbrio e resistência. A estrutura mestra é constituída dos elementos principais e secundários. Os elementos principais são as peças fundamentais da estrutura, que conferem suas características físicas e arquitetônicas; os elementos secundários correspondem às peças que unidas aos elementos principais incrementam ou modificam as características físicas ou alteram o aspecto arquitetônico do edifício. (GARZÓN, 2011)

Tradicionalmente a estrutura mestra é construída com madeira e ou bambu, recentemente com o avanço da tecnologia, o uso do aço e do concreto armado, se tornou uma opção também viável. Porem a substituição da matéria prima renovável, tem seus prós e contras, como por exemplo as patologias que podem prejudicar a madeira e o bambu, não afetam esses outros materiais. Mas em contrapartida eles possuem suas próprias deficiências.


A estrutura mestra pode ser agrupada em cinco grandes famílias, segundo Hays e Matuk (2005).

Denominação Armação Entramado Pesado Entramado leve

Características principais Uso de madeira ou bambu sem ou com pouca habilitação das suas pecas Uso de madeira habilitada que apresenta multiplicidade de elementos construtivos cuidadosamente unidos entre si por amarrações especiais Combinação de elementos sem habilitação com elementos habilitados

Pilar e viga

Estrutura em pilar e viga formando pórticos espaçados entre si e unidos horizontalmente por pequenas vigas ou tábuas

Pré-fabricado

Estrutura previamente fabricada em carpintarias ou in sitiu das partes elementares ou complexas das estrutura

Classificação dos sistemas construtivos (Adaptado de HAYS e MATUK, 2005. Apud GARZÓN, 2011)

3.1.2 Estrutura auxiliar Estrutura auxiliar ou entramado é destinada a suportar o enchimento da parede, essa estrutura é composta por ripas horizontais e verticais. “Pode-se empregar materiais diversos, os quais determinam a rigidez ou flexibilidade estrutural, além de sua influên-

3.1.3 Enchimento cia na aderência do enchimento” (GARZÓN, 2011, Pg. 64). Além da variedade de materiais que podem ser utilizados, a maneira de como o entramado é feito, dependendo do material, e da fixação com a estrutura mestra.

O enchimento ou barreamento tem a função de preencher a estrutura auxiliar, se comportando como uma “pele” para a edificação, oferecendo um isolamento térmico, e regulando mudanças hidrotérmicas entre o meio exterior e o ambiente interior. Na preparação da mistura para o barreado são acrescentados alguns materiais como fibras vegetais, palha, esterco de gado, cal ou cimento, entre outros, que funcionam como estabilizantes da terra, contribuindo para diminuir a retração ou aumentar a resistência.

Exemplos de estrutura auxiliar: a) entramado em bambu em trama dupla, uma em cada face da estrutura; b) entramado reticular simples no meio da estrutura; c) tecida em tramas estreitas no meio da estrutura. (Adaptado de GARZÓN, 2011). 25


Qualquer procedimento adotado para a execução do revestimento, exige algumas etapas preliminares, para serem aplicados, como limpeza, umedecimento, e em alguns casos, a colocação de malhas metálicas. Antes da execução sugere-se avaliar a compatibilidade dos materiais, escolhendo os mais adequados, que diminuem a permeabilidade da parede e atinjam a durabilidade e elasticidade necessárias.

Detalhe de casa de pau a pique no Museu do Folclore em São José dos Campos (VALE, 2019)

3.1.3 Revestimento A terra misturada com fibras vegetais e ou outros, aplicada no preenchimento da estrutura, resulta em um material poroso, com pouca resistência a ação do tempo, como o vento e a água da chuva. Para sanar essa deficiência, usa-se uma proteção externa no enchimento.

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“Para a proteção externa do enchimento, usam-se revestimentos apropriados, que podem ser o reboco ou o forro, que corresponde a todo tipo de revestimento sólido. Os rebocos são aplicados em estado plástico, diretamente sobre o enchimento e os forros são fixados à estrutura, independentes do enchimento”. (GARZÓN, 2011).

“O reboco à base de terra atende aos requisitos de elasticidade e permeabilidade, mas é vulnerável aos agentes de erosão. Para superar esta debilidade, pode-se adicionar aglomerantes e aditivos, dentro dos limites de compatibilidade entre os materiais, tais como cal aérea, pequenas proporções de cimento ou cal hidráulica ou outros produtos estabilizantes. Também pode-se melhorar a granulometria do reboco pela adição de areia tanto de textura fina quanto grossa”. (GARZÓN, 2011).


4 Propriedades fundamentais da terra O solo é o termo genérico aplicado ao material da crosta terrestre, que é resultado da desintegração e decomposição das rochas que compõe a litosfera. Essa camada rochosa que foi alterada recebe o nome de Regolito. “Que é composto pelo solo (ou solum, camada superficial) e o saprolito (“rocha podre”, em uma camada intermediária) ” (FARIA, 2011, pg.13).

Um solo é composto por várias camadas bem distintas denominadas de horizontes principais, podendo ter uma variação grande da espessura dessas camadas de um solo para outro, para a construção a terra não deve conter matéria orgânica, portanto o horizonte “O” não é utilizado, e o horizonte “A” pode ou não se mostrar adequado dependendo da composição que ele tenha, sendo assim os horizontes mais adequados são o “E” e o “B”.

Horizontes principais do solo (LEPSCH, 2010. Apud FARIA, 2011)

4.1 Composição do solo O solo é composto por elementos minerais e/ou orgânicos, que dependem da composição da rocha que foi originada, das características do relevo, dos diferentes climas e do tempo de exposição ás intempéries, todos esses fatores são determinantes para formação e composição da terra. Conforme a área que o estuda, o solo recebe designações diversas e pode ser denominado como: - Classificação genética: solo pedogenético, solo saprolítico, solo transportado: - Classificação granulométrica: arenoso, argiloso, siltoso: - Classificação pedológica: horizontes – superficial, subsolo e rocha mãe.

“Os solos apropriados para a construção geralmente estão situados no subsolo, também chamado de horizonte B, livres de matéria orgânica. Nas zonas semiáridas e áridas, é possível encontrar solos adequados na superfície, depois de eliminar pedras, raízes e todo material orgânico presente”. (FARIA, 2010).

As propriedades mais importantes dos solos, visando seu uso na construção, são: - Na seleção: composição granulométrica, plasticidade e retração; - No controle da execução: umidade e grau de compactação.

27


4.1.1 Composição granulométrica Com a erosão sofrida pelas rochas presentes na litosfera, em partículas menores que podem ser agrupadas com base nas dimensões dos grãos. As partículas contidas em determinada faixa são classificadas como pedregulho, areia, silte e argila. Cada faixa de dimensão apresenta características próprias, que indicam seu comportamento como material de construção.

“Figura 1 -Exemplo de curva de distribuição granulométrica, com indicação das frações que compõem o solo, além das faixas para ensaio de peneiramento e de sedimentação. ” (FARIA, 2002. Apud NEVES, 2009) 28

“Em geral, a composição granulométrica do solo é representada através do diagrama denominado curva de distribuição granulométrica (conforme exemplo mostrado na figura 1), que mostra a relação entre a quantidade e dimensão das partículas presentes. Ela é determinada através de dois ensaios: para as partículas maiores – pedregulho e areia – se utiliza o processo de peneiramento (figura 2) e, para as partículas mais finas – silte e argila – a análise é feita por sedimentação (figura 3). No ensaio de peneiramento, se determina a

quantidade porcentual das partículas que passam ou que são retidas em peneiras de aberturas normalizadas; no ensaio de sedimentação, se mede a velocidade de decantação das partículas de solo dispersas em água, em função da variação da densidade da solução, calculando-se suas proporções na amostra. ” (NEVES, 2009)


“Figura 2 – Ensaio de peneiramento: série de peneiras normal e equipamento elétrico para peneiramento” (NEVES, 2009)

“ Figura 3 – Ensaio de sedimentação: aparelho dispersor; transferência do solo disperso para a proveta de 1 litro; e, homogeneização da temperatura do densímetro” (NEVES, 2009)

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As faixas de dimensões que definem as partículas são norteadas pelas normas técnicas de cada pais, porem sofrendo poucas alterações entre elas. No brasil o sistema de classificação granulométrica adotado é estabelecido pela norma NBR 6502 (ABNT, 1995).

4.1.2 Grau de umidade Seguindo o grau de umidade, o aspecto e a consistência, variam de maneira muito nítida conforme a quantidade de água que contém, o solo pode

Dimensão

dos D(mm)

grãos

Classificação das partículas

2<D<20

Pedregulho

Elemento inerte e resistente

0,06<D<2

Areia

Elemento inerte sem coesão

0,002<D<0.06

Silte

Sem coesão, diminui a resistência da areia

D<0,002

Argila

Possui forte coesão, sem estabilidade volumétrica, expande na presença de água: apresenta propriedades físicas e químicas bastantes variadas segundo sua origem

Tabela de classificação granulométrica dos constituintes do solo. (Adaptado de ABNT, 1995. Apud NEVES, 2009).

ser líquido, plástico ou sólido. Os limites de consistência e a plasticidade do solo são testados a partir de dois ensaios, realizados com material filtrado em uma peneira com abertura de 0,42 mm.

Ensaio de determinação do limite de liquidez (LL), observando-se o aparelho de Casagrande, com seus acessórios. (NEVES, 2009) 30

Características principais

O primeiro ensaio define o limite de liquidez (LL). Que é o “grau de umidade determinado pelo aparelho de Casagrande. Ele é constituído por uma concha metálica unida a uma manivela, que a move, fazendo-a cair sobre uma base sólida, um certo número de vezes, até o fechamento de 1 cm da ranhura padrão, feita previamente no solo colocado na concha. O limite de liquidez corresponde ao teor de umidade em que a ranhura se fecha com 25 golpes”. (NEVES, 2009).


4.1.3 Retração

Ensaio de determinação do limite de plasticidade (LP). (NEVES, 2009)

Ensaio de determinação do limite de liquidez (LL), observando-se o aparelho de Casagrande, com seus acessórios. (NEVES, 2009)

“Os limites de liquidez e de plasticidade dependem, geralmente, da quantidade e do tipo de argila presente no solo. O índice de plasticidade, entretanto, é unicamente dependente da quantidade de argila. Na prática, se pode caracterizar o solo por seu índice de plasticidade e seu limite de liquidez. ” (NEVES, 2009)

Tipo de solo

IP(%)

LL(%)

Arenoso

0 a 10

0 a 30

Siltoso

5 a 25

20 a 50

Argiloso

> 20

> 40

Nas paredes de terra a quantidade de argila presente no solo, é a responsável pelos movimentos de retração e expansão, provenientes da variação da umidade, esses movimentos podem gerar lesões (fissuras ou rachaduras) internas e/ou superficiais, permitindo a penetração de água e a ocorrência de manifestações patológicas. Esse tipo de lesão contribui para a perda de resistência do material e a degradação da parede. “O limite de retração (LR) marca a mudança do estado sólido com retração para o estado sólido sem retração, e é determinado pelo grau de umidade a partir do qual o volume do solo permanece constante, quando se processa a evaporação da água. A evaporação da água abaixo do limite de retração mantém o volume de solo, porém a retração sucede com o surgimento de fissuras”. (NEVES, 2009).

Classificação dos solos, em função dos índices de plasticidade. (Adaptado de CRATerre, 1979. Apud NEVES, 2009).

31


A- Corpo de prova recém moldado (Umáx) B- Inicio do processo de secagem (U>LR) C- Secagem até o limite de retração (U=LR) D- Secagem abaixo de LR (U<LR, possibilidade de surgimento de fissuras) E- Corpo de prova totalmente seco (U=0%)

Diagrama representativo da relação entre o limite de retração (LR) e as variações de volume, da terra e da água evaporada, durante o processo de secagem. (NEVES, 2009).

4.2 seleção e estabilização da terra

A terra como material de construção pode ser utilizada de modos: Com um grau elevado de umidade, constituindo uma massa plástica, o barro; ou uma mistura úmida quase seca, compactada ou prensada, denominada terra comprimida. O primeiro caso, que é o foco

32

deste trabalho, possui uma porosidade elevada, causada pela evaporação da água, e possui propriedades mecânicas e de impermeabilidade diferentes que as do material obtido no segundo procedimento. A princípio quase qualquer tipo de solo pode ser utilizado

na construção, exceto os altamente orgânicos como mencionado anteriormente, e os com presença predominante de argilas expansivas, pelo seu alto grau de absorção de umidade, e pela dificuldade de serem misturadas e compactadas, devido à retração elevada, produzem superfícies mal-acabadas.


“É habitual que sejam priorizados o emprego da terra do próprio local onde se fará a construção e a utilização de somente um tipo de terra. Porém, algumas vezes, a terra resultante de uma mescla de dois ou mais tipos de solo produz melhores resultados. Em geral, a mescla de diferentes tipos de solo ocorre quando a terra do local é muito argilosa, ou muito arenosa, e quando a incorporação de menor quantidade de outro solo melhora as propriedades que lhe fazem falta. ” (NEVES, 2009).

O reconhecimento de solos adequados para à construção civil se faz através de diversos ensaios de laboratório. Uma vantagem destes ensaios é que eles são normalizados, obtendo-se resultados quantitativos de suas características, o que facilita a comparação com resultados de outras experiências e a identificação da “terra ideal” para cada tipo de construção. Os critérios para seleção, levam em conta a granulometria, a plasticidade e, em alguns casos, a retração e compactação; levando-se em conta as relações existentes entre composição granulométrica/plasticidade/retração/compactação.

A expressão estabilização de solos se refere, em seu sentido mais amplo, a todo processo através do qual o solo melhora suas características, adquirindo assim as propriedades necessárias à finalidade a que se destina. A estabilização de solos para adequá-los ao uso que se pretende não é um procedimento recente. Como se sabe, a adição de asfalto natural ou palha na produção de adobes, para diminuir a permeabilidade ou reduzir a retração, é uma prática milenar. O apiloado, por compactação ou prensado, a mistura com outros solos para melhorar suas características granulométricas (denominada estabilização granulométrica) e a adição de aglomerantes são tipos de estabilização de uso muito frequente no campo da Engenharia.

“Em geral, as propriedades mecânicas e de permeabilidade da terra podem ser melhoradas significativamente pela adição de alguns produtos estabilizadores. Desse modo, a mescla de fragmentos de palha, ou outras fibras vegetais, reduz acentuadamente o efeito da retração na secagem do barro; a adição de azeites vegetais e emulsões asfálticas, tanto no barro como na terra comprimida, tem o efeito de diminuir significativamente a permeabilidade, melhorando as condições de durabilidade. A mescla de aglomerantes8 - cimento, cal ou outros produtos cimentantes – pode produzir aumentos consideráveis da resistência mecânica, principalmente da terra comprimida. ” (NEVES, 2009). 33


Além da correção granulométrica já citada, Bardou e Arzoumanian (1979) classificam a estabilização do solo em quatro categorias, com as seguintes denominações e características: A) Estabilização por cimentação: consiste em adicionar ao solo uma substância capaz de solidificar os grãos de areia e as partículas argilosas, de forma a obter um esqueleto interno que faça oposição à capacidade de absorção de água pela argila. Os estabilizantes mais conhecidos são: o cimento Portland; a cal, virgem ou hidratada; a mistura de cal e cimento; ou também uma mistura de cal com cinzas (de coque, de hulha, etc). B) Estabilização por armação: consiste em agregar ao solo um material de coesão (grãos as fibras), que permitam assegurar, por fricção com as partículas de argila, uma maior firmeza ao material. Segundo Bardou e Arzoumanian (1979), a resistência mecânica final do material é diminuída, mas se ganha em estabilidade e durabilidade. Não há determinação específica para os materiais a serem empregados, pois depende da disponibilidade e das adaptações locais. Podem ser citadas, principalmente, as fibras vegetais. C) Estabilização por impermeabilização: consiste em envolver as partículas de argila por uma camada impermeável, tornando-as estáveis e mais resistentes à ação da água. O material mais conhecido (desde os tempos bíblicos) para este fim é o asfalto (ou betume), utilizado em emulsão que, apesar da grande superfície específica da argila, requer uma quantidade muito pequena para obtenção de bons resultados. Um dos inconvenientes do uso deste material é a perda de plasticidade, apesar de ganho de coesão, o que requer a utilização de maior quantidade de água para amassamento e limita as técnicas construtivas a ser utilizadas. Podem ser utilizadas outras substâncias, tais como o azeite de coco, seivas de algumas plantas oleaginosas, o látex e os resíduos da prensagem do azeite de oliva. D) Estabilização por tratamento químico: consiste em agregar ao solo diversas substâncias capazes de formar compostos estáveis com os elementos da argila. Os produtos químicos variam de acordo com a composição química da própria argila. Portanto, nesse caso, é necessária uma análise química da mesma. A cal, além de agente cimentante, funciona como estabilizante químico, atuando com os minerais amorfos ou argilosos do solo, formando os compostos pozolânicos. Outras substâncias de baixo custo também podem ser usadas, por exemplo, a soda cáustica e a urina de gado Tabela explicativa dos estabilizantes utilizados na construção com terra. (BARDOU, 1981 APUD NEVES, 2009)

34


4.3 Analise do solo

4.3.2 Testes tátil visuais

Seguindo os procedimentos metodológicos descritos no documento “Seleção de solos e métodos de controle na construção com terra – práticas de campo”. Os testes a seguir contêm o mesmo passo a passo descrito por NEVES.

Geralmente a aparência da terra pode revelar muito sobre as características que ela possui, e sua composição.

“Através do tato e observação visual, se faz a classificação inicial, a qual é melhorada através de outros testes expeditos, convenientemente denominados: testes do vidro, do cordão, da fita, de exsudação, da resistência seca, da caixa, entre outros. Estes testes, que indiretamente avaliam a granulometria, a capacidade de trabalho e a retração do solo, verificam a textura e o comportamento da terra em diversas situações e identificam as técnicas construtivas mais adequadas. (CEPED, 1984; CONESCAL 1982; CRATerre, 1979; França, 1975; Hernández e Márquez, 1983; Houben e Guillaud, 1984; Keable, 1996; Merril, 1949; Minke, 2001; Rigassi, 1995). ” (NEVES, 2009).

1- Caracterização por tamanho da partícula A terra pode ser preliminarmente classificada através do seguinte procedimento: • Espalhar a amostra de terra seca em uma fina camada sobre uma superfície plana; • Com as mãos, separar as partículas visíveis a olho nu. As partículas visíveis a olho nu correspondem à areia e pedregulho; o que resta, o material fino, corresponde ao silte e à argila.

4.3.1 Amostragem Antes de iniciar os testes, é preciso preparar amostras do solo de onde se pretende coletar o material que será utilizado na construção, essas amostras do solo devem representar bem as características da terra. Por tanto devem ser coletadas porções de terra de vários pontos, em seguida esse solo deve ser misturado até ficar homogêneo. É muito importante saber identificar de onde as amostras foram obtidas, manter um registro dos resultados de todos testes em cada amostra, informar a data e os responsáveis pela amostragem, ensaios e avaliação.

Exemplo de aspectos das partículas que compõem a terra. Depois da separação por peneiramento, observam-se as frações retidas em cada uma das peneiras da série normal. (NEVES, 2009) 35


Portanto: • Se a quantidade de silte e argila é maior que a de areia e pedregulho, a terra é classificada como siltosa ou argilosa; • Caso contrário, a terra é arenosa “No caso da terra arenosa, tomar um pequeno punhado da amostra inteira (não apenas a parte de areia e pedregulho), umedecer, sem colocar muita água, e apertar formando uma bola. Deixar secar ao sol. Se a bola se desintegrar ao secar, a terra não é apropriada para construção, a menos que ela seja mesclada com outros materiais. ” (NEVES, 2009).

Tamanho da partícula - Amostra 1

Resultado Amostra 1 : Terra Argilosa Amostra 2 : Terra Siltosa Amostra 3 : Terra Argilosa Tamanho da partícula - Amostra 2 OBS: Devido ao fato das amostrar estarem bem secas e empelotadas, processar elas e transformá-las em particular menores ser tornou bem complicado, ao ponto de não conseguir concluir 100% deste procedimento. Isso não atrapalhou no resultado do teste.

Tamanho da partícula - Amostra 3 36


2- Caracterização por cor A coloração da terra também pode revelar algumas características dela: • As cores claras e brilhantes são características de solos inorgânicos; • As cores café escuro, verde oliva o negro são características de solos orgânicos.

Se a característica do brilho for: • As superfícies são brilhantes ou há muito brilho, a terra é argilosa; • As superfícies apresentam pouco brilho, a terra é siltosa; • As superfícies são opacas, a terra é arenosa.

Resultado

Resultado

Amostra 1 : Inorgânica

Amostra 1 : Terra Argilosa

Amostra 2 : Inorgânica

Amostra 2 : Terra Argilosa

Amostra 3 : Inorgânica

Amostra 3 : Terra Argilosa

3- Caracterização por brilho

4- Tato

Segundo NEVES a presença de argila na terra pode ser constatada através do brilho que ela apresenta, entretanto, a areia com quartzo, ou com determinado grau de mica, também apresente aparência brilhante. Então:

Esfregando uma pequena porção de terá seca entre os dedos, é possível identificar os tipos de partículas presentes por sua textura, da seguinte forma:

• Tomar um pouco de material bem fino e amassar com água até formar uma esfera compacta, do tamanho da mão; • Cortar ao meio e observar as superfícies.

• A areia raspa (é áspera); • O silte cobre os dedos com partículas suaves, como se fosse um talco. “Para verificar a presença de argila, umedecer uma porção da terra e moldar uma esfera, quanto mais argila presente, mais fácil será formar a esfera. ” (NEVES, 2009). 37


Classificação

Textura e aparência do solo

Areia

Textura granulada. Pode-se visualizar o tamanho dos grão. Flui livremente, se está seca.

Terra arenosa

Textura granular porém com suficiente silte e areia para observar sua coesão. Predominam as características da areia

Terra siltosa

Textura fina. Contém uma quantidade moderada de areia fina e uma pequena quantidade de argila. Suja os dedos como talco. No estado seco tem uma aparência compacta. Pulveriza com facilidade.

Terra argilosa

Textura fina. Quando está seca, se fraturada em pedaços resistentes; em estado úmido, é plastico e se agarra aos dedos. É difícil de pulverizar.

Terra orgânica

Textura esponjosa. Odor característico de matéria orgânica que é mais acentuado ao umedecer ou aquecer.

Identificação da terra, por inspeção tátil visual (Adaptado de NEVES, 2009)

“As denominações areia silto-argilosa, argila silto-arenosa, silte areno-argiloso, etc. são em da quantidade de cada componente na terra, cuja primeira designação corresponde sempre ao componente de maior grau (ou impacto). ” (NEVES, 2009).

4.3.3 Teste de queda Este teste consiste em: •

Tomar uma porção da terra seca;

• Juntar água e fazer uma esfera com diâmetro aproximado de 3 cm; • Deixar a esfera cair, em queda livre, da altura aproximada de um metro.

E em seguida identificar o tipo de terra avaliando a forma de seu espalhamento: • Terras arenosas se espalham desagregando-se; • Terras argilosas se espalham menos e com maior coesão.

Resultado

Resultado

Amostra 1 : Terra Argilosa

Amostra 1 : Bola se espalhou pouco

Amostra 2 : Terra Siltosa

Amostra 2 : Bola se espalhou muito

Amostra 3 : Terra Argilosa

Amostra 3 : Bola se espalhou pouco

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4.3.4 Teste do vidro Este teste é fundamentado na sedimentação diferenciada dos constituintes da terra e consiste em: • Colocar uma porção de terra, seca e destorroada, em um vidro cilíndrico, liso e transparente, até cerca de 1/3 de sua altura; Espalhamento - Amostra 1

• Adicionar água até 2/3 da altura do vidro, acrescentando uma pitada de sal (o sal ajuda a desunir – ou separar – as partículas de argila, porém, si é utilizado em demasia, pode atuar de forma contrária); • Tapar o vidro e agitar vigorosamente a mistura, para que haja a dispersão do solo na água; • Deixar em repouso por 1 hora e, em seguida, promover nova agitação;

Espalhamento - Amostra 2

• Colocar o vidro em repouso, sobre uma superfície horizontal; “Cada um dos componentes da terra decanta em tempos diferentes, formando distintas camadas, que podem ser visualizadas. O pedregulho e a areia decantam primeiro, por serem as partículas mais pesadas, seguidos pelo silte e, por último, pela argila. Se o solo contém matéria orgânica, esta flutuará na superfície da água. ” (NEVES, 2009).

• Quando a água estiver limpa, medir a altura das distintas camadas. Espalhamento - Amostra 3 39


(H1/H3) X 100% = % Areia [(H2-H1)/H3] X 100% = % Silte [(H3-H2)/H3] X 100% = % Argila

Teste de vidro: Indicações sobre o cálculo das frações de cada componente da terra. (Adaptado de NEVES, 2009)

Diagrama de classificação dos solos, pelo teste do vidro. (Adaptação de AID at al (s/d) e MORAN,1984. APUD. NEVES, 2009)

Com os resultados obtidos, pode-se confirmar a classificação realizada por meio dos testes Tátil e visual, através do diagrama a seguir.

Resultado Amostra1: 24,1%Silte - 75,8%Argila Amostra2: 31%Silte - 68,9%Argila Amostra3: 20%Silte - 80%Argila

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Amostra 1

Teste de vidro amostra 1

Amostra 2

Amostra 3

Teste de vidro amostra 2

Teste de vidro amostra 3

(1,5 / 6,2) X 100% = % Silte

(1,8 / 5,8) X 100% = % Silte

(1,1/5,5) X 100% = % Silte

0,241 X 100% = 24,1% Silte

0,310X 100% = 31% Silte

0,2 X 100% = 20% Silte

[(6,2-1,5)/6,2] X 100% = %Argila

[(5,8-1,8)/5,8] X 100% = %Argila

[(5,5-1,1)/5,5] X 100% = %Argila

[4,7/6,2] X 100% = % Argila

[4/5,8] X 100% = % Argila

[4,4/5,5] X 100% = % Argila

0,758 X 100% = 75,8% Argila

0,689 X 100% = 68,9% Argila

0,8 X 100% = 80% Argila

OBS: Como observado nos testes anteriores as amostras não apresentam nenhuma significativa quantidade de areia, por este motivo não está presente o cálculo do mesmo.

41


4.3.5 Teste do cordão Como descrito por NEVES este teste avalia a coesão e plasticidade da terra em um determinado estado de umidade e a relaciona com o tipo mais provável de terra. Ele consiste em: • Tomar uma porção da terra seca e adicionar água até que, rolando sobre uma superfície lise e plana, seja possível formar um cordão que se rompa com 3 mm de diâmetro; • Formar uma esfera com a terra nessa umidade e verificar a força necessária para esmagá-la entre o polegar e o indicador; Tipo do cordão

Ruptura da bola

Classificação e interpretação

Duro

Só se pode quebrar a bola com muito esforço ou não se quebra

Demasiada argila; terra de alta plasticidade

Suave

Pouco resistente. Fissura e esmigalha facilmente

Terra argilo-siltosa, arenosa ou areno=argilosa; plasticidade mediana

Frágil

Frágil. Não se pode remodelar a bola, devido à sua fragilidade

Bastante silte ou areia e pouca argila; baixa plasticidade

Suave e Esponjoso

Esponjosa e suave. Se é comprimida, volta a esponjar-se

Solo orgânico. Não é apto para qualquer tipo de construção

Cordão e Bola - Amostra 1

Cordão e Bola - Amostra 2

Avaliação dos resultados do teste do cordão. (Adaptado de NEVES, 2009)

Resultado Amostra 1 : cordão duro Amostra 2 : cordão Frágil Amostra 3 : cordão duro Cordão e Bola - Amostra 3 42


4.3.6 Teste da fita A função deste teste é relacionar a plasticidade com o tipo de terra, seguindo este procedimento: • Tomar uma porção da terra, com a mesma umidade do teste do cordão, fazer um cilindro do tamanho de um cigarro comum;

Fita amostra 1

• Com o polegar e o indicador, amassar o cilindro de modo a formar uma fita, com 3 a 6 mm de espessura e o maior comprimento possível.

Tipo de fita

Comportamento da fita

Classificação e Interpretação

Longa

É possível formar uma fita de 25cm a 30cm, sem dificuldade

Muita argila, terra de alta plasticidade

Curta

É possível formar uma fita de 5cm a 10 cm, com dificuldade

Terra argilo-siltosa, arenosa ou areno-argilosa; plasticidade mediana

Não se faz fita

Bastante silte ou areia e pouca argila; Sem plasticidade

Fita amostra 2

Avaliação dos resultados do teste de fita. (Adaptado de NEVES, 2009)

Resultado Amostra 1 : Fita longa Amostra 2 : Fita longa Amostra 3 : Fita longa

Fita amostra 3 43


4.3.7 Teste de exsudação Avalia a plasticidade da terra, em função de sua capacidade de reter água, da seguinte forma: • Tomar uma porção da terra bastante úmida e colocar na palma de uma das mãos; • Golpear esta mão com a outra, de modo que a água saia para a superfície da amostra, dando-lhe um aspecto liso e brilhante. Tipo de Reação

Número de Golpes

Efeito na Amostra

Classificação e Interpretação

Rápida

5 - 10

A água aflora à superfície da amostra; a pressão dos dedos faz a água desaparecer imediatamente e uma pressão mais forte esmigalha o bolo

Pouca plasticidade. Areia fica inorgânica ou silte grosso inorgânico, terra arenosa ou siltosa

Lenta

20 - 30

A água aparece e desaparece lentamente; a pressão dos dedos faz com que o bolo se deforme como uma bola de borracha

Silte ligeiramente plástico ou silte argiloso

Muito lenta

Mais de 30

Não há mudança notável

Terra de alta plasticidade argila

AMOSTRA 1

AMOSTRA 2

Avaliação dos resultados do teste de exsudação. (Adaptado de NEVES, 2009)

Resultado Amostra 1 : Muito lenta - +30 Amostra 2 : Lenta - 15 Amostra 3 : Muito LENTA - +30 AMOSTRA 3 44


4.3.8 Teste da resistência seca

Resultado

Este teste segundo NEVES pode auxiliar na identificação do tipo de terra, em função de sua resistência e, consiste em:

Amostra 1 : Grande

• Moldar duas ou três pastilhas de terra bem úmida, com cerca de 0,5 a 1 cm de espessura e 2 a 3 cm de diâmetro;

Amostra 3 : Grande

• Deixar as pastilhas secarem ao sol, por dois ou mais dias;

Amostra 2 : Média

Amostra 1

Amostra 2

Amostra 3

• Tentar esmagar (ou romper) cada pastilha, pressionando entre o indicador e o polegar.

RESISTÊNCIA

ESFORÇO DE RUPTURA

COMPORTAMENTO

GRANDE

RESISTENTE

NÃO SE PULVERIZA

MÉDIA

POUCO RESISTENTE

É POSSÍVEL REDUZIR OS PEDAÇOS A PÓ

POUCA

NÃO RESISTE

FÁCIL DESAGREGAÇÃO

CLASSIFICAÇÃO E INTERPRETAÇÃO SOLO INORGÂNICO DE ALTA PLASTICIDADE; ARGILA TERRA ARGILO-SILTOSA, TERRA ARGILO-ARENOSA. SE FOR ARGILA ORGÂNICA, NÃO USAR FALTA DE COESÃO. SOLO ARENOSO, SILTOSO INORGÂNICO OU OUTRO COM POUCA ARGILA

Avaliação dos resultados do teste de resistência seca. (Adaptado de NEVES, 2009)

45


4.3.9 Identificação da técnica construtiva em função dos resultados dos testes

Através dos testes de campo realizados podemos identificar as características de cada amostra de solo, e estipular o tipo e a composição de cada um.

Com os resultados destes testes e com o auxílio de algumas tabelas podemos estimar quais as técnicas construtivas mais adequadas, e os estabilizantes mais adequados para cada técnica.

Analisando os resultados obtidos, com o tipo de solo encontrado no terreno, a técnica construtiva mais adequada, é a técnica mista com o uso de aglomerantes, outra técnica possível de utilização é a terra pensada também com uso de aglomerante.

Teste do Cordão

Teste da fita

Teste de exsudação

Teste da resistência seca

Tipo de terra

Técnica construtiva

Cordão frágil ou resistência nula

Fita curta ou não se consegue fazer fita

Reação rápida a lenta, porém, jamais muito lenta

Pouca a nula, geralmente nula

Arenosa; areno-siltosa; areno-argilosa; silto-argilosa

Tijolos prensados, adobe e terra compactada

Cordão frágil e mole

Fita curta

Reação lenta a muito lenta

Fraca a média

Siltosa

Utilização mais difícil que as terras anteriores, mas possível com o uso de aglomerante

Cordão mole

Fita curta a longa

Reação muito lenta ou sem reação

Média a grande

Argilosa com pedregulho; argilo-arenosa e argilo-siltosa

Possível usar para a terra compactada ou tijolo prensado, com aglomerante

Cordão duro

Fita longa

Sem reação

Grande

Argilosa

Possível usar para fabricação de adobes com adição de fibras e barreamento de técnicas mistas

Tabela A do tipo de solo e técnica construtiva indicada por testes expeditos. (Adaptação de CEPED, 1984 APUD. NEVES, 2009)

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Identificação

Teste do cordão

Teste de exsuTeste da resisTécnica recomendada dação tência seca Terra argilosa e terra siltosa

Estabilizante mais apropriado

Silte e silte Argiloso

Cordão frágil; não faz bola

Reação rápida a lenta, mas não demasiada lenta

Fraca a nula geralmente nula

Apto para todo tipo de técnica particularmente BTC

Cimento Portland; pode ser afetado por temperaturas baixas

Silte

Cordão mole, de resistência média; bola frágil, se fissura

Reação lenta a nula

Franca a média

Evitar usar, se necessário, adicionar aglomerante e revestir a superfície

Cimento Portland ou emusão asfáltica de baixa viscosidade

Argila c/ pedregulho, argila arenosa e argola siltosa

Cordão mole de resistência média; bola frágil, se fissura

Reação muito lenta a nula

Média a grande

Apropriado para BTC e monolítico; necessita aglomerante

Corrigir granulometria. Usar impermeabilizante

Argila e argila plástica

Codão duro; bola não se fissura

Sem reação

Grande

Apropriado para adobe e técnica mista

Palha ou outros tipos de fibras

Silte orgânico e argila siltosa orgânica

Cordão frágil e esponjoso; bola esponjosa

Lenta

Fraca a média

Não usar

Argila Orgânica

Cordão frágil e esponjoso; bola esponjosa

Reação muito lenta a nula

Média a grande

Não usar

Terra arenosa Areia Siltosa

Cordão frágil; não faz a bola

Reação rápida

Pouca a nula Geralmente nula

Apto para todo tipo de técnica, particularmente BTC; se tiver muita areia, estabilizar com aglomerante

Cimento Portland ou cal, ou os dois combinados. Corrigir granulometria, se necessário

Areia Argilosa

Cordão mole, de resistência média; bola muito frágil

Reação lenta a muito lenta

Média

Apto para todo tipo de técnica, particularmente BTC; se tiver areia,

Cimento Portland ou cal, ou os dois combinados. Corrigir granulometria, se necessário

Areia

Teste não adequado

Teste não adequado

Teste não adequado

Não é apto

Terra com pedregulho Pedregulho siltoso, mescla de pedregulhos, areia e silte

Não faz cordão

Rápida

Nula

Conveniente se o pedregulho não é muito grosso; usar para adobe e monolíticos

Cimento Portland; usar cal como impermeabilizante

Pedregulho siltoso, mescla de pedregulhos, areia e silte

Não faz cordão

A muito lenta

Média

Adobe e monólitos

Cal; usar emusão asfáltica como impermeabilizante

Pedregulho

teste não adequado

teste não adequado

teste não adequado

Não é apto

Tabela B de recomendações para seleção da técnica de construção e do estabilizante, em função dos resultados dos testes de campo (Adaptado de CRATerre, 1979. APUD.NEVES, 2009)

47


5 Referências de Projeto 5.3 Novo edifício de alojamentos e encontros do Instituto Mexicano para o Desenvolvimento Comunitário (IMDEC)

Arquitetos: colectivo bma / Pedro Bravo de BA arquitectos Localização: Barranca Huentitán, Guadalajara, Jalisco, México

de

Área: 375.0 m2 Ano do Projeto: 2013 Fotografias: Pedro Bravo, Sofía Hernández, Francisco Martínez 48

Fachada leste IMDCE. (BRAVO, 2013)

Este projeto foi desenvolvido pelos arquitetos do coletivo bma no México, e consiste em um novo edifício para o Instituto Mexicano para o Desenvolvimento Comunitário (IMDEC), onde hoje em dia são realizados encontros e atividades, além de servir como um alojamento, as instalações foram erguidas através dos esforços de mais de 100 voluntários. “Dos arquitetos. O projeto desenvolve-se através da demanda por instalações para a recepção e alojamento dos participantes das oficinas e convenções organizadas pelo IMDEC e cuja sede, CEDE, estava instalada em um salão multiuso nos jardins do complexo. O objetivo do projeto era facilitar a participação de comunidades distantes e prolongar a interação, enaltecendo a experiência do evento. ” (Coletivo bma 2015 APUD. FRANCO, 2015).


A solução estrutural adotada é um pouco diferente da técnica mista convencional, neste caso a “estrutura mestra” é fragmentada e modulada, transformando-a em uma peça pré-fabricada, que foi produzida em uma carpintaria e transportada até o terreno, lá os voluntários deram sequência a execução da obra, montando a estrutura auxiliar.

Etapa da concretagem IMDCE. (BRAVO, 2013) “Na sua estrutura, o projeto se desenvolve entre plataformas e pilares de concreto que interceptam a topografia, procurando o acesso livre em qualquer ponto de encontro. Entre os pilares, são dispostas molduras modulares de madeira conformado... ” (FRANCO, 2015).

Módulos recebendo a estrutura auxiliar IMDCE. (BRAVO, 2013)

Para receber essas estruturas modulares uma base de concreto armado foi moldada em loco da seguinte maneira, um contra piso que descolaria esses módulos do chão evitando o contato deles com a humildade que vem do solo, pilares que sustentam uma laje que em um primeiro momento serviu só como uma cobertura, porem algum tempo depois do termino da obra ela se transformou no piso de um segundo pavimento Fachada leste após a adição do segundo pavimento IMDCE. (BRAVO, 2013) 49


Para resolver as aberturar foram criadas secções nos módulos que não receberam o bareamento. Dando acabamento nas portas e janelas existe um entramado com o próprio junco.

Voluntários executando a etapa de barreamento IMDCE. (BRAVO, 2013)

Voluntários fixando os módulos na estrutura de concreto IMDCE. (BRAVO, 2013)

50

Após instalarem os módulos na estrutura de concreto os voluntários deram início ao barreamento utilizando o barro do terreno misturado com palha de junco.


Facha com o entramado de bambu. IMDCE. (BRAVO, 2013)

Permeando todo o projeto, alinhado ao final das lajes, foi criado um entramado de bambu que atua como uma proteção contra o clima. “No perímetro e servindo como proteção contra o vento e perda de calor, uma trama de junco envolve a edificação e reafirma sua identidade... ” (FRANCO, 2015).

Passagem entre as moldura de taipa e entramado de bambu. IMDCE. (BRAVO, 2013) 51


Detalhe do entramado da porta e da fixação dos módulos IMDCE. (BRAVO, 2013)

Terraço IMDCE. (BRAVO, 2013) 52

Corredor da ala dos alojamentos após a conclusão da obra IMDCE. (BRAVO, 2013)


Planta IMDCE. (Colectivo bma, 2013)

Corte IMDCE. (Colectivo bma, 2013) 53


5.4 Monlevade: Anteprojeto para vila operária

Croqui de ante projeto. (Lúcio costa, 1934)

Arquiteto: Lúcio Costa Localização: João Monlevade, Brasil Ano do Projeto: 1934 Croquis: Lúcio Costa

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O anteprojeto concebido por Lúcio costa em 1934 é fruto de um concurso promovido pela siderúrgica Belgo-Mineira, para Monlevade, o projeto contempla a concepção de um núcleo fabril. Embora o anteprojeto formulado por Lúcio Costa não tenha sido convertido em um plano urbano detalhado, nem executado, o projeto revela o posicionamento do autor diante da questão da Moradia operária, no contexto de um núcleo fabril


Um capítulo importante e pouco conhecido da urbanização brasileira. Desde a década de 1880 centenas desses núcleos, reunindo, geralmente, além de moradias, escola, armazém de consumo, igreja, Cinema e clube, foram criadas por fábricas, usinas de açúcar, empresas de mineração, frigoríficos, etc., nas diferentes regiões do país. Até a década de 30 eram – com raras exceções – aglomerações que surgiam e expandiam-se sem a existência de um plano urbano prévio. A partir daquele momento é possível registrar a presença de vários engenheiros e arquitetos na concepção de alguns desses lugares. Um marco importante desse novo momento foi Monlevade, criado pela siderúrgica Belgo-Mineira, em 1937, no estado de Minas Gerais. (CORREIA, 2003) Croqui de ante projeto. (Lúcio costa, 1934)

Lúcio Costa confessa no memorial de projeto que desconhecer o lugar escolhido para Monlevade. E em seus desenhos é, de fato, impossível reconhecer o lugar. Seu croqui do conjunto sugere um terreno mais suave, embora a configuração topográfica real do sítio seja bem acentuada, e sem considerar o rio, os abismos e as vias férreas que cruzam a área. Contudo, Lúcio costa, ciente de tratar-se de um local

bastante acidentado, resolve colocar a maleabilidade do traçado em frente do sítio como o ponto de partida de sua proposta. “Com esse recurso, o autor busca converter o que poderia ser visto como uma deficiência grave de sua proposta – não considerar o sítio real –, em eu principal mérito. Assim, procura inverter os termos do problema” (CORREIA, 2003)

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Croqui de ante projeto. (Lúcio costa, 1934)

No projeto das residências, o “delineamento elástico”, proposto por Lúcio costa, se faz presente no uso de pilotis que permite repousar a casa sobre um solo em declive, sem maiores obras de terraplenagem. Também se manifesta na disposição dos blocos de casas geminadas. “Os pilotis foram justificados tanto por questões econômicas – a dispensa de movimento de terras em locais de grande declividade e a economia nas fundações – quanto por questões de conforto, ao permitir afastar o piso do solo, eliminando a umidade, e ao criar no térreo um amplo espaço útil coberto, agradável para trabalhos caseiros, recreio e repouso. ” (CORREIA, 2003) 56

Croqui de ante projeto corte esquemático. (Lúcio costa, 1934)

Coerente com a sua vontade de conciliar técnicas novas e tradicionais Lúcio Costa propõe reunir nas casas concreto armado e taipa, telhas de fibrocimento e forros de taquara. Sobre a laje apoiada nos pilotis, o arquiteto propõe paredes de taipa, adequadas pela leveza e economia e por estarem, isoladas do solo, livres de seu maior inconveniente, a umidade.


Croqui de ante projeto casa tipo a. (Lúcio costa, 1934)

Croqui de ante projeto. (Lúcio costa, 1934) Croqui de ante projeto casa tipo B. (Lúcio costa, 1934) 57


5.5 Visita USP-IAU São Carlos Durante a visita nosso grupo de orientações teve a oportunidade de visitar duas edificações construídas pelos alunos e professores da universidade no ano de 1998, utilizando técnicas construtivas que misturam barro, madeira e aço. Essas construções foram projetadas como uma alternativa a habitação de interesse social, com custo e tempo de obra baixo. Hoje em dia eles são utilizados como um centro de pesquisa, onde os alunos se reúnem. Além dessas edificações visitamos também um galpão onde fica uma serie de estruturas de madeira e barro que formam o “pau a pique”. Feito pelos alunos e convidados durante várias oficinas com o passar do tempo

Moldura contendo as camadas que compõem o barreamento em um estilo de técnica mista. (Foto tirada durante a visita a USP São Carlos) 58


Poder conversar com os professores responsáveis pelo espaço e pelo projeto, e aprender como foi feito e quais a dificuldades que eles enfrentaram, mostrou quais os pontos críticos que meu projeto pode enfrentar, e quais detalhes amenizaram essas dificuldades.

Moldura de técnicas mistas. (Foto tirada durante a visita a USP São Carlos)

Moldura de técnicas mistas, etapa de barreamento. (Foto tirada durante a visita a USP São Carlos) 59


Ir ao galpão e poder ver de perto todos os processos e as camadas que formam uma parede de pau a pique, o modo como o entramado recebe o barreamento, não só de um jeito ou de uma região, mas de vários lugares e modos de trabalhar diferentes. E ver experimentos dos alunos a partir dessas técnicas construtivas, especulando e experimentando novos jeitos de fazes.

Moldura de técnicas mistas etapa de acabamento. (Foto tirada durante a visita a USP São Carlos) 60

Patologia comum em construções com taipa de mão. (Foto tirada durante a visita a USP São Carlos)


6 Condicionantes do projeto O terreno se localiza na 3°Região administrativa do Vale do Paraíba, no município de São Luiz do Paraitinga relativamente próxima à cidade histórica. O nome do município vem do Rio Paraitinga, onde desde os tempos dos Bandeirantes havia um posto avançado por onde passavam o café e o ouro mineiro. Ao ser fundada em 1769, foi dada o nome de São Luís e Santo Antônio do Paraitinga, sendo mudado depois para São Luiz do Paraitinga.

6.1 Aspectos físicos Como observado no capítulo 4 deste trabalho, o tipo de solo encontrado na região do terreno tem uma grande concentração de argila e silte em sua composição, o que favoreceu a construção de um grande número de edificações que utilizam a técnica mista e a técnica de terra prensada. Apesar do tipo de solo ser adequado para essas técnicas, a falta de conhecimento técnico prejudica a execução e a manutenção da grande maioria das construções com terra na região. Portanto partindo desse conhecimento técnico, podemos prever algumas medidas que auxiliam na execução e na manutenção do projeto, como afastar as paredes no contato direto com a água, ter uma área de cobertura generosa para proteger as parede da chuva e do contato direto com os raios solares muito fortes, além de saber escolher o tipo de aglomerante mais indicado para cada tipo de solo. No caso deste

projeto, a palha ou outros tipos de fibras no caso da técnica mista e cimento Portland ou cal no caso da terra prensada.

6.2 Aspectos geográficos O Vale do Paraíba é uma região montanhosa, localizada na costa dos estado de São Paulo, entre a cidade de São Paulo e Rio de Janeiro. O terreno do projeto fica localizado a 16km da cidade histórica de São Luiz do Paraitinga, em uma encosta bem acentuada, com um desnível de aproximadamente 81m, e com uma área de 8,6 hectares.

São Luís do Paraitinga

Imagem de localização. (Adaptado de Google Earth Pro) 61


6.2.2 fotos do terreno

Perímetro total do terreno / Curso hidrográfico / Nascente. (Adaptado de Google Earth Pro)

Estrada de acesso olhando para o terreno vista nordeste. (Foto: autor. 2019)

6.2.1 topografia

Topografia / Implantação / Curso hidrográfico / Nascente. (Adaptado de gaiagps. 2019) 62

Patamar da casa existente olhando para a entrada do terreno, vista sul. (Foto: autor. 2019)


Patamar da casa existente olhando para a encosta, vista leste. (Foto: autor. 2019)

Patamar da casa existente olhando para o riacho que passa pelo terreno, vista sul. (Foto: autor. 2019)

Patamar da casa existente olhando para a encosta, vista nordeste. (Foto: autor. 2019) 63


Patamar da casa existente olhando para a entrada do terreno, vista oeste. (Foto: autor. 2019)

Poça formada pelo curso d’ågua que nasce na encosta do terreno, vista leste. (Foto: autor. 2019)

Parte superior do terreno vista leste. (Foto: autor. 2019)

Parte superior do terreno vista sul. (Foto: autor. 2019)

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Encosta olhando para a parte inferior do terreno vista sudoeste. (Foto: autor. 2019)

Parte superior do terreno vista norte. (Foto: autor. 2019) 65


7 partido e projeto Como observado o projeto foi inserido em um extenso terreno em aclive, com condicionantes geológicos que impulsionaram o uso da técnica mista, o projeto traz o resgate da técnica de taipa de mão, adaptada a nossa realidade atual.

Implantação ESC;1:2500 (Autor do projeto 2019) 66

Deste modo, repensando sobre os componentes da taipa de mão, e considerando o entorno e a inserção deste projeto, a estrutura mestra e auxiliar que são condicionantes para o enchimento de terra, foram

incorporadas em peças pré-fabricadas de madeira, fazendo com que, a estrutura base já venha pronta para o terreno, e nele aconteça o barreamento com a terra no local, otimizando assim, o tempo de obra.


Utilizando desta estrutura base, surge a casa de campo, que se encaixa perfeitamente na paisagem; o córrego que deságua no afluente do Rio Paraitinga, permeia todo o projeto se abrindo e se relacionando de diferentes formas com os ambientes. Por meio de um caminho sinuoso, chega-se até a escada que leva ao ateliê, na cota mais baixa, frente ao espelho d’água, elemento central do projeto. Atravessando a passarela, vendo este elemento contemplativo, em uma cota intermediária, se têm o bloco de áreas comuns, onde o ambiente é totalmente integrado. Por fim, na cota mais alta está reservada a suíte, que dá vista para todos os blocos da casa, seu entorno e uma piscina natural.

17,1m

20,1m

17m

20m 16m 15m

16,1m

Todos os blocos independentes da sua função, tem a mesma estrutura e modulação, dando uma mesma materialidade, e linguagem para a residência, sendo assim, apesar da distância e diversidade de função de cada bloco, o conjunto mantem sua unidade. Implantação ESC;1:250 (Autor do Projeto,2019) 67


7.1 Ateliê

18m 16m

1,60m

1,60m

1,60m 17m

1,60m

1,60m

15m

16,1m

0 68

1

2

3

4

5

Planta ateliê ESC;1:75 (Autor do Projeto,2019)


O ateliê, a princípio surgiu como um espaço de trabalho sem uma atividade especifica, sendo assim, o ambiente precisava ser livre, mas não muito grande, mas que possibilitasse diversos layouts. Entretanto, havia a exigência sobre a instalação de um lavatório, com isso, uma pia foi instalada no local, juntamente com uma parede de taipa de pilão, que tanto no ateliê como nos demais blocos do conjunto, é utilizada junto as instalações hidráulicas. 16,1m

Como todo o esforço estrutural está sendo feito pela estrutura de madeira, foi adotada a espessura de 20cm para essas paredes hidráulicas. Como esse espaço não precisava ter grandes dimensões, foi definido que seu espaço interno teria 3,2m X 4,6, com uma área de cobertura de 54,72m².

Corte AA ESC;1:75 (Autor do Projeto,2019) 0 1 2 3 4 5

69


16,1m

16m

Corte BB ESC;1:75 (Autor do Projeto,2019) 0 1 2 3 4 5 70


elevação oeste Ateliê ESC;1:100 (Autor do Projeto,2019)

Elevação sul Ateliê ESC;1:100 (Autor do Projeto,2019) 71


elevação leste Ateliê ESC;1:100 (Autor do Projeto,2019)

elevação norte Ateliê ESC;1:100 (Autor do Projeto,2019) 72


Render AteliĂŞ (Autor do Projeto,2019) 73


Render AteliĂŞ (Autor do Projeto,2019) 74


Render AteliĂŞ (Autor do Projeto,2019) 75


7.2 ร rea comum

18m

1,60m

1,60m

1,60m

1,60m

1,60m

2,10m

1,60m

1,60m

1,60m

1,60m

17,1m

17m 16m

0

1 76

2

3

4

5

Planta Sala/cozinha/รกrea de serviรงo ESC;1:75 (Autor do Projeto,2019)


O bloco integrado destinado a sala e cozinha é o maior em termos de área, pois espera-se que este tenha o maior tempo de permanência dentro das áreas edificadas. Pensado como o restante do conjunto, como um ambiente bem arejado e com uma farta oferta de luz natural, ainda assim, pensando nas noites, há a presença de iluminação arti-

ficial, composta por esbeltas luminárias fixadas nas vigotas que apoiam as telhas sanduíche, outros elementos presentes em todo o conjunto. Assim como mencionado anteriormente todas as paredes onde passa a hidráulica são feitas de taipa de pilão, a única exceção a essa regra está neste bloco, nele uma parede divisória foi colocada às margens

da sala de estar, onde existe uma lareira, e a maior função desta parede é além de delimitar o espaço, absorver parte do calor emanado pela lareira e liberar este calor, pelo ambiente mesmo depois que o fogo já tenha se extinguido. Seu espaço interno tem medidas de 4,8m X 9,8m, com uma área de cobertura de 100,32m².

17,1m

17m

Corte CC ESC;1:75 (Autor do Projeto,2019) 0 1 2 3 4 5 77


17m

17,1m

Corte DD ESC;1:75 (Autor do Projeto,2019) 0 1 2 3 4 5 78


elevação oeste Área comum ESC;1:100 (Autor do Projeto,2019)

elevação sul Área comum ESC;1:100 (Autor do Projeto,2019) 79


elevação leste Área comum ESC;1:100 (Autor do Projeto,2019)

elevação norte Área comum ESC;1:100 (Autor do Projeto,2019) 80


Render Ă rea comum (Autor do Projeto,2019) 81


Render Ă rea comum (Autor do Projeto,2019) 82


Render Ă rea comum (Autor do Projeto,2019)

Render Ă rea comum (Autor do Projeto,2019) 83


7.3 Quarto

20m 18m

19m

20,1m

1,60m

1,60m

1,60m

1,60m

1,60m

1,60m

1,60m

21m

22m

0 84

1

2

3

4

5

Planta quarto ESC,1:75 (Autor do Projeto,2019)


O quarto no patamar mais alto em relação ao conjunto, com o objetivo de promover privacidade, além de proporcionar um excelente ponto de observação para o restante do terreno. No mesmo patamar está a piscina natural, moldada para ser abastecida pelo curso d’agua, criado pela nascente localizada na parte superior do terreno, nas proximidades da nascente foi pensada a existência de uma caixa d’agua que armazena essa agua de nascente e distribui para todo os blocos do conjunto.

20m

20,1m

Para todo o projeto com o objetivo de elevar adequadamente a madeira e o barro no contato com a humidade, um rodapé de concreto de 0,20m X 0,20m é colocado em todo o perímetro onde as paredes são instaladas. No banheiro outra porta foi colocada, para a área externa, permitir que quem esteja aproveitando a banheira tenha uma vista privilegiada. Seu espaço interno tem medidas de 4,8m X 6,4m, com uma área de cobertura de 69,54m².

Corte EE ESC;1:75 (Autor do Projeto,2019) 0 1 2 3 4 5 85


20m

20,1m

Corte EE ESC;1:75 (Autor do Projeto,2019) 0 86

1

2

3

4

5


elevação oeste quarto ESC;1:100 (Autor do Projeto,2019)

elevação sul quarto ESC;1:100 (Autor do Projeto,2019) 87


elevação leste quarto ESC;1:100 (Autor do Projeto,2019)

elevação norte quarto ESC;1:100 (Autor do Projeto,2019) 88


Render quarto (Autor do Projeto,2019) 89


Render quarto (Autor do Projeto,2019) 90


Render quarto (Autor do Projeto,2019) 91


7.4 Detalhes construtivos

7.4.1 estrutura de cobertura

Estrutura cobertura área comum ESC;1:100 (Autor do projeto 2019) Estrutura cobertura ateliê ESC,1:100 (Autor do projeto 2019)

Estrutura cobertura ateliê ESC;1:100 (Autor do projeto 2019) 92

diagrama encaixe pilar e vigas (Autor do projeto 2019)

A cobertura do projeto foi pensada em telhas sanduiche, con dimensões de 1,40m X 8m, instaladas seguindo a orientação das vigas de maior comprimento. A escolha desse tipo de telha se da não só pela contribuição termica que ela possui, mas por sua estética que contrasta com a materialidade da madeira e do barro. Como mencionado, toda a estrutura é pré fabricada e os encaixes das vicas com os pilares não seriam diferentes.


Gancho de fixação porca Arruela Arruela elástica de vedação Faces telha metálica Espuma rígida de poliuretano Isolamento acústico Forro de madeira vigota de madeira toco de apoio para o forro de madeira vigota de madeira

Detalhe de fixação da telha sanduíche ESC; 1:5 (Autor do projeto 2019)

Apoiando as telhas sanduiche, existe uma estrutura de madeira formada por vigotas, que é fixada através de uma peça metálica em formato de “U” parafusada diretamente nas vigas. Essa estrutura de madeira é cruzada e parafusada entre si, criando assim uma malha bem rígida. E para prender as telhas nessa malha, existe ganchos de fixação que unem estes dois elementos. Além do isolamento térmico da telha uma camada de isolamento acústico foi adicionada, junto com um forro de madeira. Diagrama de fixação da telha sanduíche (Autor do projeto 2019) 93


0,60m

0,87m

1,96m

2,60m

0,97m

0,60m

7.4.2 módulos

1,60m

Este módulo é um dos elementos que permeiam todo o projeto, e suas dimensões foram pensadas de modo que coubes94

1,60m

sem três módulos entre as vigas da estrutura mestra, separadas com um vão entre eixos de 5m.

Módulo de fechamento pré fabricado para barreamento ESC;1:15 (Autor do projeto 2019)


7.4.3 Janelas e portas Todos os fechamentos e aberturas são articulados a partir dos módulos de madeira pré-fabricados. alem disso as paredes de taipa de pilão recebem tambem as janelas pivotantes, sequindo as mesmas dimensões das que estão incorporadas nos módulos.

Espuma rígida de poliuretano Face telha metálica Isolamento acústico Forro de madeira Toco de apoio para O forro de madeira Vigota de madeira

Viga de madeira

Peca metálica de fixação do caibro Ripa de madeira parte superior do módulo Janela pivotante

pivô

Detalhe janelas ESC;1:25 (Autor do projeto 2019)

Detalhe janela pivotante ESC;1:5 (Autor do projeto 2019) 95


O sistema de abertura camarão foi adotado paras as janelas, pois permita uma abertura final considerável, e bem generosa para este projeto, além de não atrapalhar a passagem nas áreas de circulação externa.

Persiana de tecido opaco Trilho metálico roldana carinho da roldana dobradiça

Janela camarão ESC;1:15 (Autor do projeto 2019)

dobradiça Peça guia canal guia Metálico

Detalhe janela camarão ESC;1:5 (Autor do projeto 2019) 96

Diagrama da Janela camarão (Autor do projeto 2019)

Além das janelas o mesmo sistema foi adotado para as portas do banheiro no bloco do quarto e para a varanda da sala na área onde fica localizada a lareira. E a única diferença dessas portas é que elas não estão inseridas em um modulo, porem suas dimensões ainda respeitam a modulação criada.


Janela camarĂŁo ESC;1:15 (Autor do projeto 2019) 97


porta camarĂŁo da sala ESC;1:15 (Autor do projeto 2019) 98


porta camarĂŁo do banheiro ESC;1:15 (Autor do projeto 2019) 99


As portas de correr funcionam por meio de uma roldana simples fixada a uma barra metálica curvada, que por sua vez é parafusada a uma chapa de madeira. O trilho para essa roldana foi pensado para ser uma barra metálica em perfil “V”, soldada a outra estrutura que parafusada a estrutura, eleva a porta do chão permitindo que a ela deslize.

roldana

7.4.4 escada

Detalhe escada ESC;1:25(Autor do projeto 2019)

barra metálica curvada trilho ripa de madeira chama de madeira

peça guia localizada na estremidade da porta

Detalhe porta de correr ESC;1:25 (Autor do projeto 2019) 100

As escadas compartilham o mesmo sistema construtivo. Duas vigotas de madeira formando as laterais 0,5m X 0,15m formando as laterais, tabuas são fixadas a essas vigotas com outra peça de madeira parafusada. Essa estrutura é elevada do contato com o solo por meio de alguns blocos de concreto, como é feito nas outras partes do conjunto.

Chapas metálicas com perfil em “L” fazem a fixação da escada com esse bloco de concreto, e com a chegada da escada no piso dos blocos do conjunto. A passarela sobre o espelho D’Água segue o mesmo princípio, porem ao invés de tabuas de madeira, barrotes foram colocados para melhorar a pisada de quem está caminhado sobre ela. O guarda corpo é feito de metal soldado e parafusado direto nas vigotas.


7.5 Renders do conjunto

Render do projeto (Autor do Projeto,2019) 101


Render do projeto (Autor do Projeto,2019) 102


Render do projeto (Autor do Projeto,2019) 103


Render do projeto (Autor do Projeto,2019) 104


Render do projeto (Autor do Projeto,2019) 105


8 Considerações finais Por meio deste, foi possível concluir que as técnicas construtivas vernáculares podem ser adaptadas ás construções contemporâneas. E que a arquitetura apesar de sempre estar procurando e utilizando novos materiais e soluções formais, ainda existe muito espaço para implementar a utilização da terra como matéria prima de projeto. Observamos que apesar da utilização da terra como elemento construtivo, o cuidado com a execução ainda é essencial para que se possa minimizar as patologias que este tipo de construção possui.

106

Dito isso este projeto aborda e incorpora a grande maioria destas características, aplicando alguns elementos de projeto que colaboram com a preservação das estruturas. E por fim, o trabalho contribui com a ideia de que o barro ainda pode ser utilizado como elemento de projeto, e incentiva o uso de outras técnicas além da taipa de pilão.


Render do projeto (Autor do Projeto,2019) 107


9 Referências bibliográficas 9.1 Textos

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