Trajetテウria Analテュtica (Coletテ「nea)
PSICANALISE E RELIGIテグ
Supervisão Prof. Dr. Sérgio Costa
Cristianismo Primitivo e o Conceito de Jesus Toda tentativa de compreender a origem do Cristianismo deve partir de uma investigação da situação econômica, social, cultural e psíquica de seus primeiros adeptos; A Palestina era parte do Império Romano e sucumbiu às condições de seu
desenvolvimento econômico e social. O principado augustiano representara o fim do domínio de uma oligarquia feudal e ajudou a proporcionar o triunfo do homem da cidade. O crescente comércio internacional não representou nenhuma melhoria para as grandes massas, nem lhes satisfez melhor as necessidades diárias: somente uma pequena camada da classe proprietária se interessou por ele. Depois de Roma , Jerusalém era a cidade com o maior proletariado desse tipo. Os artesãos, que habitualmente só trabalhavam em casa e pertenciam em grande parte ao proletariado, fizeram causa comum com os mendigos, os trabalhadores braçais e os camponeses. O proletariado de Jerusalém estava em situação pior que o de Roma. Não gozava dos mesmos direitos civis dos romanos, nem tinha as suas necessidades prementes, do estômago e coração, atendida pelos imperadores com as
grandes distribuições de pão e os complicados jogos e espetáculos. A população rural achava-se esgotada pelos impostos excessivamente pesados, e se endividou a ponto de se tornar escrava ou lhe foram tomados os meios de produção ou as pequenas propriedades dos pequenos fazendeiros, que em parte foram engrossar as fileiras do proletariado urbano de Jerusalém, enquanto outros recorriam a remédios desesperados, como os levantes políticos violentos e os saques. Acima desse proletariado empobrecido e desesperado, surgiu em Jerusalém, como em todo o Império Romano, uma classe média econômica que, embora sofrendo sob a pressão romana, permanecia economicamente estável. Acima desse grupo, havia uma pequena, mas poderosa e influente classe, a aristocracia feudal, sacerdotal e endinheirada. Os fariseus, os saduceus e o Am Há-aretz eram os grupos políticos e religiosos que
representavam tais diferenças. Os saduceus representavam a classe abastada e superior: "[sua] doutrina é recebida por apenas uns poucos , mas que são os de maior dignidade”. Logo abaixo dessa pequena classe superior feudal estavam os fariseus, representando os setores médios e inferior da população urbana, “cordiais entre si, empenhados na concórdia e na consideração ao público”. A chamada Am Há-aretz (literalmente pessoas da terra), contrapunha-se nitidamente aos fariseus e seu séquito mais amplo. Na realidade constituíam uma classe totalmente desarraigada pela evolução econômica; nada tinham a perder, e talvez pudessem ganhar alguma coisa.
DEUS E A ANGÚSTIA HUMANA
A angústia no Velho Testamento parece ter sido provocada pelo Desconhecido. Isto é, por um Deus sentido, mas ainda não revelado. Deus é um Deus que se esconde, ausente e impossível de abordar, mas que, apesar disso, ameaça, ou impõe a angústia. É possível concluir então que esse perigo interior, neurótico e desconhecido, é Deus oculto no fundo da alma humana. Poder-se-ia objetar, segundo as próprias passagens da Bíblia, que muitos apelos a “Deus oculto” foram ouvidos, livrando aqueles que assim procediam da angústia. Mas a contradição é apenas aparente, pois em nenhum caso, o conflito, a dúvida deixaram de existir na reincidência do pecado (veja-se Davi, por exemplo) levando-os assim a prosseguir no erro, uma vez que Deus atendia, mas a eles não se mostrava, como por exemplo quando Moisés lhe pediu para vê-lo face a face e o Senhor respondeu-lhe: “Nenhum mortal me pode ver e viver.”
Além de, na Eucaristia, Jesus nos revelar que Deus não está fora de nós, mas dentro de nós, e que já não é mais o “Deus oculto”, no fundo da alma, ainda se mostra como o “Deus revelado”, feito homem. Enquanto comiam, Jesus tomou o pão, benzeu-o, partiu-o e dando-o aos seus discípulos, disse: “Tomai e comei, isto é o meu corpo”. E, tomando um cálice, deu-o a eles, dizendo: “Bebei dele todos, pois é meu sangue da aliança, que será derramado por muitos para remissão dos pecados.” (Mateus,XXVI 26,29)
Com a Sua vinda, com a Sua revelação na Eucaristia, com a Sua nova Aliança com o gênero humano, a angústia de morte passa a ter nova significação.
Olhada sob o ponto de vista cristão, ou, mais amplamente, sob o aspecto teológico, a angústia humana ganhara, no Sacrifício da Cruz, a sua libertação. Confirma o Velho Testamento: é no pecado que vamos encontrar a raiz de todas as angústias. Se chamarmos de sentimento de culpa, ou de má consciência, ao fator determinante dos estados angustiosos, encontraremos a mesma etiologia, aqui verificada pelos teólogos e pelos psicanalistas, como já foi dito. Cristo, sofrendo por todos nós, chamando a si a culpa de todos nós, bebendo a última gota do “cálice da amargura”, suportando o suplício até a última expressão da dor carnal, dá-nos o exemplo e nos ensina que a angústia, por mais cruciante que seja, pode ser dominada, e que o nosso sentimento de culpa pose ser vencido, quando nos voltamos para Deus.
Não se diga que a angústia de Cristo foi vencida pela morte, porque Cristo não morreu. Cristo ressuscitou. Esta é a grande lição de Jesus a todos aqueles que são ameaçados pela morte, nas crises de angústia, e que podem também ressuscitar para a vida, isto é, livrarem-se da crise, depois de se debater nas trevas, à procura de luz, da graça divina. Segundo Santo Agostinho, nós caminhamos para Deus pelo Cristo homem. Mas Cristo é homem e Deus, ao mesmo tempo, pois Cristo, segundo São Paulo, “transcende o mundo, aparece como Senhor (Deus) no qual o mundo foi criado e no qual subsiste coeso”. Desse modo, se Deus se ocultara até a vinda de Cristo, agora Cristo nos dá a consciência plena de Deus, uma vez que como homem O encarnou, dando-nos a plenitude do Seu Ser em nosso próprio ser. Esta união tão íntima permitiu a São Paulo afirmar, ainda,
“que não só o cristão vive no Cristo, mas também que o Cristo vive no cristão”. “Deus não fala ao homem, se este não se mantiver num estado de clama”. No desespero, a mente está como que paralisada. Idéias, pensamentos, raciocínios, imagens, tudo enfim que estava ou permanecia na mente, cessa, para dar lugar ao desespero. Com a mente trabalhada, podemos transformar tudo que é ruidoso e enervante, em silêncio, se soubermos repousar os nossos músculos e órgãos, distender o espírito, clarificar o raciocínio e agir com a força necessária “para ser possível suportar a dura vida com que nos acabrunha a nossa civilização”.
A formação religiosa de Freud
• Freud cresceu privado de toda crença num Deus ou na imortalidade e não parece ter sentido necessidade disso. •
As necessidades emocionais que costumam manifestar-se na adolescência encontram expressão, a princípio em cogitações filosóficas bastantes vagas e, logo depois, numa fervorosa adesão aos princípios da ciência.
• Em 1926, ao agradecer a Associação B’nai B’rith de Viena por homenageá-lo em seu septuagésimo aniversário ele(Freud) escreve “... sempre fui um descrente, tendo sido criado sem religião, mas não
sem respeito pelas chamadas exigências ‘éticas’ da civilização humana”. • O ateísmo de Freud era em larga medida intelectual e formal: ele repudia tanto os argumentos da religião como suas observâncias rituais. • Porém ele valorizava acima de tudo a independência de pensamento e a coragem intelectual judaicas, características que atribui com justiça a si mesmo: E talvez não seja inteiramente por acaso que o primeiro advogado da psicanálise seja judeu. Professar a crença numa nova teoria requeria um certo grau de propensão a aceitar uma posição solitária... posição a qual ninguém esta mais acostumado do que um judeu. A formação científica de Freud
• O que emerge é um conjunto de “impulsos do desejo” que mascaram a religião como algo de origem puramente humana, explicável somente em termos do natural desejo humano de proteção e felicidade. • Esses impulsos, se originam da impotência da infância e sobrevivem na idade adulta na imagem do deus-pai. • O verdadeiro pai que um dia protegeu a criança indefesa é agora reanimado com o deus que protege o adulto de todos os perigos do mundo exterior; e o fato de o adulto desejar cultuá-lo é, na opinião de Freud, a evidência mais clara da natureza infantil da sua crença. • Para ele a religião é um retorno à proteção do berço. • Freud despe a religião de qualquer reivindicação de divindade e a situa
simplesmente entre outros fenômenos psíquicos, comparável, por exemplo, às obsessões delusórias dos neuróticos. • Realizar e justificar essa redução é sob muitos aspectos a preocupação central de todo o relato freudiano da religião; mas o fato de ele considerar ser essa a mesmo tempo uma redução cientifica é absolutamente central para a sua crença de que a religião, por mais, que se desempenhe, no final será derrotada pelas forças da razão.
As Personalidades de Freud O argumento de Freud é analógico e indutivo: 1. A psicanálise descobriu que X são os sintomas da neurose. 2. A Religião exibe X. 3. Logo a religião é uma neurose.
A religião como neurose: O recalque e o complexo de Édipo Grande parte da concepção mitológica do mundo, que alcança as religiões mais modernas, não passa de psicologia projetada no mundo eterno. O obscuro reconhecimento de fatores e relações psíquicas que está envolvido no inconsciente é difícil de exprimi-lo em outros termos, e aqui a analogia com a paranóia tem de vir a nossa ajuda que se destina a ser transformada uma vez mais pela ciência em psicologia do inconsciente . Poderíamos nos aventurar a explicar dessa maneira os mitos do paraíso e da queda do homem, de Deus do bem e do mal, da imortalidade e assim por diante, e a transformar a metafísica em metapsicologia. A neurose obsessiva pode ser considerada a contra parte patológica da religião, na qualidade de uma espécie de religiosidade individual, funcionando a religião como uma
neurose obsessiva universal.. Chega-se a essa observação das notáveis semelhanças entre o “aquilo a que se dá o nome de ações obsessivas em pessoas que sofrem de afecções as observâncias por meio das quais os fieis dão expressão a sua piedade”. Por exemplo, tanto o fiel religioso como o neurótico obsessivo, despendem horas na realização de certos rituais e, em ambos os casos a omissão desses atos desperta sensações de aguda apreensão. Nos neuróticos, esses rituais assumem uma importância cerimonial e compulsiva ( por exemplo antes de ir para a cama, as roupas tem de ser dobradas numa ordem particular, os travesseiros organizados de uma maneira especifica, e só depois disso se pode deitar ), e todo o desvio dessas formalidade aparentemente triviais resulta em intoleráveis ansiedades, predominando um sentimento de culpa no caso de elas não serem realizadas. Essas cerimônias tornaram-se, na realidade, “atos sagrados”: nenhuma interrupção é
tolerada e elas são executadas invariavelmente em particular. Mais ou menos a mesma coisa pode ser observada nas práticas religiosas . Porque apesar de essas ultimas terem um caráter público e comunal, também encontramos os mesmos dramas de consciência quando alguma ação ritual é omitida. Para Freud A analogia parece completa: ambos os tipos de ação destinam-se a evitar certas tentações, de modo geral inconscientes , bem como prevenir as punições que advirão se sucumbir a essas tentações . Em outras palavras em ambos os casos o neurótico obsessivo vivencia tanto um profundo sentimento de culpa como uma sensação imprecisa de ansiedade Expectante de infortúnio. Da mesma maneira como a neurose obsessiva, a religião é formada a partir da Supressão de certos impulsos instintuais, ou de renuncia a eles, entre os quais se inclui o
instinto sexual. A religião é, pois, uma expressão e instintos que ela mesma suprimiu. Agora remete o sentimento de culpa e a exigência de proteção que marcam a religião a uma combinação biológica da infância –“ à impotência e a necessidade de ajuda, tão prolongadas, da pequena criança humana” – e, mais especificadamente, a um complexo parental, iniciado primordialmente pela experiência impressionante que a criança tem de seu pai intimidador e autoritário. Nas primeiras observações aparecem muitos dos principais elementos da teoria freudiana da religião: a significação de um complexo paterno para a origem da religião; o papel da religião na renuncia dos prazeres instintuais e no grau até o qual ela proporciona segurança e proteção; e o grau até o comportamento religioso espelha o comportamento obsessivo. Para sua exposição detalhada temos que voltar a atenção para quatro livro o primeiro é Totem e tabu, de 1913,
o Futuro de uma ilusão, de 1927, o mal estar na civilização, de 1930, e moíses e o monoteísmo , de 1939 . Para Freud a religião é uma neurose universal da humanidade – e em nenhum ponto de sua obra ele se afasta dessa tese. O ego obedece invariavelmente às exigências Moraes do superego. Assim surge, diz Freud, o sentimento de culpa inconsciente tão típico dos neuróticos. A primeira análise da religião feita por Freud, talvez a mais bem – sucedida nela ele estabelece o principio central de sua teoria: o princípio segundo o qual se podem explicar os primórdios da religião em termos do complexo de Édipo .
Totem e Tabu
“ Alguns pontos de convergências entre a vida mental de selvagens e de neuróticos” é a principal contribuição de Freud à antropologia social, muito embora como ele mesmo admite, sua colaboração tenha sido altamente especulativa. O primeiro ensaio tem como titulo “ O horror do incesto”. Afirma Freud que uma das mais surpreendentes descobertas da antropologia é o fato de entre os povos primitivos, como os aborígenes da Austrália, as relações sexuais longe de serem sem peias, acharem-se na verdade sujeitas as mais severas restrições e, de maneira mais especifica, de ser um incesto um tabu muito maior entre eles do que no âmbito de comunidades mais civilizadas. Em verdade, o tabu do incesto é tão amplo que leva o sistema conhecido como “exogamia”,sistema que os parceiros sexuais sejam procurados fora do grupo social ou tribo. Essa proibição, alega Freud, vincula-se ela mesmo ao totemismo. O que é um totem?
Um totem é um modo geral um animal – embora as vezes pode ser um animal ou um fenômeno natural como a chuva ou a água considerando pelo clã seu espírito guardião e oráculo, razão pela qual os membros do clã tem a obrigação sagrada de não matar, nem destruir ou comer seu totem. T igual importância o fato de o totem ser considerado o ancestral comum do clã, que em conseqüência trata todos os membros como se eles fossem parentes consangüíneos ou formassem uma só família . É esse parentesco totêmico que explica em larga medida toda a exogamia: não se proíbem apenas as meras relações incestuosas reais, mas toda relação sexual entre membros do mesmo grupo totêmico. Em seu segundo ensaio, intitulado “Tabu e ambivalência emocional” Freud assinala a notável similaridade entre as proibições das sociedades totêmicas que se vinculam ao tabu e os tabus individuais encontradiços com os
neuróticos obsessivos. Estas semelhanças são na verdade tão grandes que seria apropriado descrever pacientes obsessivos como padecendo da “doença do tabu”. A primeira, e mais evidente, crença é que se violar leva ao desastre. Há ainda outras analogias: todo objeto ou pessoa associado àquilo que é tabu também se tornam tabu; e os tabus podem ser tirados por meio de atos cerimoniais como a lavagem. A semelhança mais importante, porém, esta naquilo que Freud denomina, a condição de “ambivalência”, que é o desejo de fazer aquilo que é proibido. Porque qualquer pessoa que viola um tabu também se torna tabu: ela possui o poder de tentar os outros a seguir o seu exemplo, de neles despertar o desejo proibido. É, pois, do risco de imitação que a comunidade tem de proteger-se. Impor um tabu é renunciar a alguma coisa desejável. Porque outra razão, pergunta Freud, se requeriam proibições tão drásticas? Assim
sendo o fato de que os mais antigos e importantes tabus se acharem vinculados às duas leis básicas do totemismo - não matar o animal totem e evitar o intercurso sexual com membros do sexo oposto no interior do clã do totem – indica serem esses os mais antigos e mais fortes desejos humanos, funcionando também no âmbito das proibições obsessivas dos neuróticos. Terceiro ensaio “Animismo, magia e a onipotência dos pensamentos” “Onipotência dos pensamentos” Essa expressão, diz-nos ele, foi lhe apresentada pelo “Homem dos Ratos” (Ernst Lanzer). A vida do paciente era dominada por toda uma gama de premonições, compulsões e rituais, e que suas obsessões se destinavam a evitar adviessem danos às duas pessoas de que ele mais gostava: seu pai, morto a oito anos, e uma moça a quem admirava.por exemplo durante as tempestades ele contava compulsivamente entre os relâmpagos, pensando que isso de
alguma maneira protegeria a moça; ele se sentia compelido a remover uma pedra da estrada porque esta poderia ser um perigo para a carruagem dela; à noite, ele se deixava levar por uma fantasia favorita, a de que o seu pai ainda vivia, realizando elaborados rituais destinados a impressioná-los com a sua engenhosidade,(...) Em outras palavras, a onipotência de pensamentos é um desafio a mesma coisa, uma superestimação do poder da mente de controlar o mundo externo. E isso é visível de maneira mais clara entre neuróticos obsessivos. A onipotência dos pensamentos nesse sentido envolve um afrouxamento da relação com a realidade, sendo parte do processo mediante o qual os neuróticos tanto se defendem de seus próprios impulsos instintuais recalcadas como, ao mesmo tempo, fazem uma reparação pelo fato de terem impulsos. Em outras palavras a ação mental que constrói o mundo fantástico
em que o pensamento controla a realidade é alimentada pela exigência de proibir aquilo a que, ao mesmo tempo satisfaz; e, nessa medida, a crença de que, por exemplo um objeto totêmico especifico tem o poder tanto de proteger como de punir origem na mesma situação de todas as neuroses, Istoé na necessidade de afastar todas as exigências libidinais do complexo de Édipo. Freud vincula a onipotência dos pensamentos a comportamentos religiosos específicos. O fator crucial aqui é a sua análise do animismo. Trata-se de um sistema primitivo de pensamento que, embora não constitua por si uma religião, “contém os alicerces sobre os quais se constroem ulteriormente religiões” O animismo é a doutrina das almas, ou, mais precisamente, a crença de que todos os objetos animados e inanimados do mundo são “animados” por inúmeros seres espirituais, alguns benevolentes e outros malignos. E os seres individuais não estão isentos disso:
também neles habitam seres semelhantes, dotados da capacidade de migrar de um ser humano para outro. À questão pratica de obter o domínio desses espíritos. Os seres humanos primitivos responderam mediante a concepção de todo um conjunto de instruções conhecido como “feitiçaria” ou “magia”. A identificação por Freud da onipotência de pensamentos como o principio da magia subjacente que age no animismo. Em outras palavras vemos animismo precisamente a mesma hipervalorização dos processos mentais, em sua capacidade de controlar ou transformar a realidade, que vimos na neurose obsessiva. Isso permite que Freud defina o animismo como a primeira teoria psicológica sobre a natureza dos seres humanos e do seu mundo. Trata-se do primeiro sistema de pensamento que vemos a passagem de uma realidade insatisfatória e irrevogável a um mundo de fantasia completamente mais agradável, em que a realidade parece menos
estranha, uma vez que pode, em certa medida ser controlada pelos rituais da magia. Neste aspecto reside a conexão entre o animismo e religião. A religião contém esse mesmo movimento de afastamento do mundo real, e vemos nas praticas da religião a mesma fuga para a fantasia. Dizer que a religião é uma neurose obsessiva universal é mais do que ligá-la a certos distúrbios mentais; em conseqüência disso, como outro exemplo da operação da onipotência dos pensamentos - o mecanismo primário da neurose obsessiva. Em outras palavras a religião é filha do animismo. A religião mostra-se pois, como uma modalidade de superstição, por assim dizer, os equivalentes no ritual moderno, das cerimônias do animismo, com suas próprias proibições, precauções, expiações, e satisfação substitutivas. No quarto ensaio de Totem e Tabu, intitulado “O retorno do totemismo na infância”, contem
a reelaboração freudiana da teoria da horda primitiva de Darvin. Segundo Darvin, a vida dos homens primitivos espelhava a dos símios superiores: eles viviam em pequenos grupos ou “hordas” rígidos por um pai poderoso que tinha muitas mulheres e muitos filhos. Para manter sua posição, esse macho dominante obrigava os jovens a procurar parceiras fora da tribo, ao passo que as jovens fêmeas podiam ter a expectativa de acasalar somente com ele. A conseqüência pratica da ordem primitiva foi a exogamia para os jovens machos. Devido ao ciúme do líder, havia a proibição de intercurso sexual, algo que, seguindo o desenvolvimento do totemismo, se tornou uma regulamentação totêmica rigorosa posta em vigor. A segunda idéia veio de Robertson Smith. Em seu livro “A religião dos semitas”, Smith sugeriu que parte do sistema totêmico envolvia uma cerimônia anual conhecida como “refeição totêmica”, na qual o animal totem era
ritualmente sacrificado e consumido pela comunidade. Esse assassinato cerimonial, que permitia os membros do clã totêmico fazer junto o que lhes era proibido individualmente, tinha por justificativa a idéia de que estabelecia um vínculo sagrado entre os fieis e seu deus. Freud apresenta a seguinte reconstrução: a posição do macho dominante no âmbito da ordem primitiva não era garantida de uma vez por todas. Um dia os filhos combinaram matar e comer o pai, que fora tanto seu inimigo como seu ideal, e, assim, não só se identificaram com ele e adquiriram com ele e adquiriram uma parcela de sua força como, ao fazê-lo, levaram ao fim a horda patriarcal. A partir de então, contudo, os filhos, tomados pela culpa daquilo que tinham feito e incapazes individualmente de assumir a posição de pai, formaram um clã de irmãos, passaram a praticar exogamia – removendo assim o motivo original do assassinato do pai – e criaram um substituto do
pai na forma de totem. Dessa maneira a celebração anual da refeição totêmica não passava da comemoração solene do crime original, o assassinato do pai. Significantemente, Freud encontra apoio psicanalítico para essa identificação do totem como pai. Ele nos diz que crianças que sofrem do complexo de Édipo costumam deslocar seu medo do pai para o animais, desenvolvendo fobias relacionadas a cavalos, cães, gatos, menos freqüentes pássaros, mas muitas vezes criaturas bem pequenas como baratas e borboletas. O pequeno Hans sofria de um complexo de Édipo. Ele considerava o pai como um competidor pelos favores sexuais da mãe, mas ao mesmo tempo não conseguia acabar com seus sentimentos, havia muito estabelecidos, de afeição e admiração por ele. Ele então resolveu essa atitude emocional “ambivalente” deslocando seus sentimentos hostis para um animal; o cavalo torna-se assim um “substituto
do pai”. Temos aqui, portanto, uma forma de ritual totêmico: uma substituição do pai para um animal e um deslocamento para este ultimo do amor e do ódio da criança com relação ao pai. O sistema totêmico é um produto das condições envolvidas no complexo de Édipo. Freud já definira como o núcleo de todo o caso da neurose, isto é, o complexo de Édipo. Porque, se o animal totem é o pai, os dois grandes tabus do totemismo – o do incesto e o da morte do animal- totem coincidiram aqui com os dois crimes de Édipo: livrar-se do pai e tomar a mãe por esposa. Assim segundo Freud, a afirmação do totemismo como a primeira religião baseia-se no primeiro desses tabus: tirar a vida do animal- totem. O mesmo totem foi a primeira forma do substituto do pai, e mediante a sua veneração, os filhos exibir seu remorso pelo crime original, aplacar sua sensação ardente de culpa, e desse modo, estabelecer uma nova
aliança com o pai, segundo a qual buscavam não repetir o assassinato do pai real em troca de proteção e cuidado. Em conseqüência, a religião baseia-se no sentimento de culpa e no remorso a ele associado. Mas de maneira que vem a religião totêmica a tomar a forma de crença num deus? Isso sugere Freud, decorreu da impaciência de qualquer dos irmãos, que tinham colaborado no assassinato do pai, de tornar-se como ele, o que levou a um anseio desesperado pelo ideal do pai, anseio que era incrementado à medida que a hostilidade original do anseio que era incrementado a medida que a hostilidade original dos irmãos com relação ao pai se reduzia. Isso se exprimiu de inicio na veneração de indivíduos que se haviam distinguido, estando acima dos outros, e em seguida, na criação dos deuses. O pai é representado duas vezes: o primeiro como vitima animal totêmica e, segundo, como deus. Porem em ambos os casos, persiste a
ambivalência implícita no complexo paterno: o triunfo e o remorso caminham de mãos dadas, sendo o sacrifício do animal duplicado agora no sacrifício humano,mais uma vez, a forma humana. E em nenhum lugar isso é mais evidente do que no cristianismo. Na história cristã, o pecado original é contra Deus Pai – um crime tão grande na realidade, que só pode ser reparado pelo auto- sacrifício do filho. Mas mesmo aqui permanece a lei psicológica da ambivalência. O ato do filho repara o assassinato do pai é o mesmo ato mediante o qual ele alcança vitória sobre o pai. DOIS ACRÉSCIMOS Antes tínhamos uma teoria de que o neurótico duplica em sua própria experiência as ansiedades originalmente sentidas pelos filhos diante do pai primevo ciumento. Freud assume a idéia segundo a qual o animal humano passava sua existência num ambiente
extremamente rico que satisfazia todas as necessidades, ambientes cujos ecos capturamos no mito do paraíso primevo. Essa situação mudou devido às exigências da Era Glacial. O mundo exterior, até então amigável e abundante, transformou-se numa massa de ameaçadores perigos para os humanos primevos. Com insuficiência de alimentos e sem a capacidade para sustentar tantos indivíduos impotentes, eles “devem ter se visto diante do conflito entre auto-conservação e desejo de procriar.. A partir disso, tornou-se uma obrigação social limitar a produção”. Luta darwiana, passando por três estágios, em vez de pelos dois originais. O primeiro deles é o “estagio patriarcal da civilização da civilização”. O segundo é o “estágio social da civilização”, em que a ameaça vem da relação dos filhos com o pai tirânico, de seu medo da castração e do trauma da sua realidade. Os filhos evitam a castração fugindo, o que resulta na criação de outras alianças para o
propósito de sobrevivência,.O terceiro estágio marca o fim da horda e a vitória dos irmãos num ato historicamente momentoso, eles sobrepujam e matam o pai, triunfam sobre a sua morte, mas pranteiam rapidamente a sua perda quando se dão conta de que todos eles ainda o reverenciam como um modelo. Oito anos depois da publicação de totem e tabu, Freud aplicou sua teoria da horda primitiva em outra direção, a emprega para aplicar a função da igreja enquanto a comunidade social organizada. Chama a atenção para a maneira pela qual o individuo, quando situado no interior de um grupo – por exemplo, como membro de uma raça, de uma nação, de uma casta, de uma profissão ou de uma instituição -, começa a agir de modo bem diferente do faz o isolamento. Em primeiro lugar o individuo fica muito mais crédulo e aberto a influência; ele suspende sua faculdade critica e se mostra muito mais a aceitar as “ilusões” promovidas
pela grupo, e em segundo ele se torna naturalmente muito mais obediente a autoridade, submetendo-se instintivamente a todo aquele que emergir com seu mestre. Significativamente estas duas características formam a base da igreja como um grupo e num grau sobremodo notável. O mestre do grupo é o Cristo e a ilusão que ele promove é a idéia de que ama todos os indivíduos do grupo com igual amor –ilusão da qual tudo depende e sem a qual a igreja se “dissolveria”. A igualdade diante do amor de Cristo é a pressão democrática que percorre a igreja, o que explica o fato de a comunidade cristã ser tão freqüentemente comparada com a família e de os fieis chamarem-se irmãos em Cristo, isto é, irmãos por meio do amor que Cristo tem por eles. RELIGIÃO 1. Origem da religião está na relação ambivalente do filho com o pai, ou, para falar psicanaliticamente, na operação do
complexo de Édipo. Na religião, a condição de dependência do filho em relação ao macho dominante e a ambivalência dessa relação final, que oscila entre o amor e o ódio, e que foi encontrada pela primeira vez no âmbito da horda primitiva, é projetada outra vez no objeto idealizado do culto religioso o Deus pai.A submissão a esse objeto é a primeira característica da crença e é, sobretudo ela que une fiéis numa comunidade de fé. 2. Para que essa teoria funcione, cumpre admitir uma segunda idéia, a de que o sentimento de culpa engendrado pelo assassinato tem que ser capaz de persistir por muitos milhares de anos, chegando mesmo a gerações que não tem conhecimento do ato original. Isso, por sua vez, sugere que há um mecanismo de herança, uma espécie de inconsciente coletivo ou psique de massa que explica
essa continuidade. “Disposição psíquica” saber o sentimento de culpa pelo assassinato do pai. 3. Como é uma verdade axiomática para Freud que os seres humanos passam por uma fase edipiana, ele não demora a concluir aquilo que o grupo original de irmãos vivenciou na relação com o macho dominante da horda primitiva e não só herdado como também vivenciado por todos indivíduos em relação a seus pais. Nesses termos, o complexo de Édipo torna-se a repetição pessoal (e ontogenética) de algo que se acha embutido no inconsciente, isto é, a experiência universal do assassinato do pai. 4. No próximo passo de seu argumento, Freud desenvolve uma teoria do comportamento religioso que associa as práticas da religião às que se vêem entre neuróticos obsessivos. Aqui, o
denominador comum é a onipotência dos pensamentos em que se atribuem propriedades mágicas à mente em sua capacidade de controlar o mundo externo. Na religião, isso é visto primordialmente no uso do ritual como defesa contra as tentações advindas dos instintos e também como proteção contra a punição divina por tê-los. Também confirmam o complexo de Édipo como o núcleo de toda neurose e toda culpa. Por conseguinte, todos os rituais religiosos configuram-se como expressões do remorso e como tentativas de reparação pela reexperiência presente de algo ocorrido no passado. 5. O que Freud nos oferece aqui é uma história evolutiva de como o homem vê o universo, e ele, na verdade, especifica três estágios: o animista, o religioso e o científico. Sua próxima caracterização desses três estágios é ainda mais reveladora: o estágio animista
corresponde ao auto-erotismo do começo da infância; o religioso ao estágio ligeiramente ulterior do desenvolvimento sexual infantil em que os instintos encontram no genitor um objeto externo; e o cientifico ao “estágio em que o indivíduo alcançou a maturidade, renunciou ao principio do prazer, ajustou-se à realidade e voltou-se para o mundo externo em busca do objeto de seus desejos” . Isso nos deixa a nítida impressão de que um declínio na religião que coincide com o desenvolvimento humano rumo à idade adulta. Em outras palavras, é religião é uma obsessão que a maturidade deverá, se tiver sorte descartar. RELIGIÃO E ILUSÃO Chegamos agora aos três livros com que Freud completa seu estudo da religião. Trata-se, repito, de O futuro de uma ilusão, O mal estar
na civilização e Moíses e o monoteísmo. Freud, que se afasta de uma discussão da origem da religião, apresentada tão provocativamente em totem e tabu rumo a um exame da religião como fenômeno cultural primordial. O FUTURO DE UMA ILUSÃO (1927); O MAL ESTAR NA CIVILIZAÇÃO A religião é uma ilusão. A principal característica das ilusões é por conseguinte o fato de que “elas são derivadas dos desejos humanos”, ou seja, de que uma motivação para acreditar. Isso contudo quer dizer que as ilusões sejam “desilusões”. Uma desilusão é uma falsa crença, uma contradição da realidade, mas uma ilusão não é necessariamente errônea. Por exemplo: Uma moça de classe média pode ter a ilusão de que virá um príncipe e a desposará. Isso é possível; e ocorreu algumas vezes. Que o Messias venha e de o inicio e de inicio a uma idade do ouro é muito menos provável. Classificar essa crença como ou como análogo
a uma desilusão depende da atitude pessoal de cada um. É importante distinguir ilusão de desilusão. Ao dizer que a religião é uma ilusão, Freud não afirma que as crenças religiosas são necessariamente falsas, mas antes que elas tem de satisfazer os desejo de quem crê: elas podem ser verdadeiras, embora isso seja improvável. Segue-se disso outra característica da ilusão: as ilusões dão pouca importância a verificação. Se a religião pouco leva em conta a justificação racional, parece estranho ainda que tantos homens e mulheres sensíveis continuam a proclamar suas crenças religiosas. Só isso já sugere que a origem das idéias religiosas e psíquica, fundada nas forças dos desejos que contém, desejos tão urgentes e intensos que são capazes de obliterar todas as outras considerações. Ao que parece, a religião proporciona um conjunto ímpar de satisfações.
Em primeiro lugar chegar a um acordo com as forças externas da natureza que ameaçam destruir a humanidade; em segundo, chegar a um acordo com as forças internas da natureza – isto é, os instintos humanos - , não menos ameaçadoras; e, em terceiro, satisfazer o anseio universal da humanidade pela figura do pai. Religião é um método cultural primário por meio do qual homens e mulheres tentam lidar com o sofrimento e a impotência que vivencia em sua relação com o mundo externo. Ela também serve para vencer a ameaça interna emanada da vida instintual do homem. A religião emerge mais uma vez como resposta ao sofrimento, mas o sofrimento agora encontrado vem do antagonismo da civilização e instinto, ou, mais precisamente das renuncia ao instinto que a civilização demanda. Freud enumera desejos instituais o incesto, o canibalismo e a sede de matar. Não é assim imaginar o que sucederia com a nossa sociedade se deixassem esses desejos a solta.
De acordo com a moralidade dominante da sociedade ocidental, a chamada sociedade civilizada, o intercurso sexual é proibido fora do casamento monogâmico. É quase impossível cumprir essa exigência, do que resultam o recalque e a neurose em grande escala. É verdade que em alguns casos essa força sexual pode, por meio do processo conhecido como sublimação, ser redirecionada para alguma atividade de importância ética ou social; mas a maioria esmagadora fica neurótica ou sofre algum tipo de dano. O romancista Romaim Roland (1866-1944) protestou que Freud “não tinha apreciado adequadamente a verdadeira fonte dos sentimentos religiosos”. Estes afirma Roland, podem remontar a um sentido de eternidade a um “sentimento oceânico” em que o individuo sente com o mundo externo um vinculo indissolúvel e um sentido de unidade. Freud não nega que esses sentimentos existam em muitas pessoas, mais interpreta-os como mais
de uma exemplo da maneira pela qual o ego procura consolo. Pai enormemente glorificado que cuida dele e vai compensa-lo numa vida futura por seus sofrimentos na terra. Inclinação a agressão, essas hostilidades mutuas entre seres humanos, que constitui a ameaça primordial a sociedade civilizada; e é por causa da força dessa hostilidade instintual que a civilização despende tanta energia no estabelecimento de limites a ela. “Ama o próximo como a ti mesmo”. Essa lei é a mais antiga do cristianismo, une a humanidade não apenas a maneira lidibial – isto é, desviando o impulso sexual da satisfação genital dirigindo-o grupo-mas também ao conter o instinto agressivo, mediante a promoção da idéia de que o meu amor próximo implica que ele ou ela de algum modo o mereçam, e que eles não devem ser por conseguinte, objeto de minha hostilidade. Em função disso, a civilização adota um segundo método de controle do instinto agressivo,
extraordinário ele cria a consciência (o superego). O superego em outras palavras, constrói o imperativo categórico de dever um ideal de comportamento, afim de se contrapor ao persistente desejo do individuo de satisfazer as necessidades instintuais do id. Os sofrimentos que as pessoas suportam exteriormente, da natureza, e interiormente, das restrições que a sociedade impõe a seus instintos são a um certo grau compensados, de um lado, pela personificação dessa forças adversárias em deuses não tão diferentes de nós, que a religião faz, e de outro, por sua transmutação dos desejos libidinal e agressivos advindos do id no amor ao próximo e na ética da consciência. Essas idéias convergem agora no desejo final e mais potente que a religião satisfaz: o anseio pela figura do pai. O superego enfrenta o ego como um pai severo enfrenta o filho.
A exigência de um pai segue um protótipo infantil na repetição da impotência que cada um sente diante do próprio pai;quando passam da infância para a idade adulta, os indivíduos percebem que permanecem impotentes a necessitam de uma continua proteção. Agora no entanto, o sentido de impotência é criado pela própria natureza e pelas restrições impostas pela sociedade. Assim eles revertem à solução da infância, criando um ser supremo dotado de todos os atributos de um pai. MOISES E O MONOTEISMO (1939) Freud busca substanciar seu relato da origem da religião mediante uma análise das origens do judaísmo e, numa serie de reflexão tardia, dos primórdios do cristianismo. Moises não era hebreu, mas um aristocrata egípcio associado as reformas monoteístas do rei Akenátion no século XIV a .C. Quando o rei morreu e a reação inevitável adveio, Moises, partidário convencido da nova religião,
decidiu deixar o Egito como chefe de um novo povo, os judeus, que permaneceriam fieis a seus princípios. Assim o monoteísmo judaico tem por origem um episodio monoteísta particular da historia egípcia, introduzido pela influencia da figura impressionante de Moises, contudo durante esse processo os judeus se rebelaram contra seu líder, mataramno e abandonaram sua nova religião, simbolizada na história como bezerro de ouro. Veio porem um período em que as pessoas começaram a se arrepender do assassinato de Moises e procuram esquece-lo. Quando portanto um século mais tarde surgiu outro líder, genro do medianita Jetro, esse líder foi fundido na tradição com seu predecessor e recebeu o nome de Moises. Temos então dois Moises: o egípcio e o madianita, e foi sob a liderança desse ultimo que o monoteísmo original transformou-se no culto enotéista da deusa vulcânico Jahweh, crença que seria dominante por muitos séculos. Mas o remorso
dos judeus pelo assassinato não diminui, tendo-se reafirmado a esperança de outro grande líder, o Moises que retornaria e levaria seu povo a redenção e ao prometido domínio do mundo.O monotismo é assim uma reconciliação com Deus pai, as leis e mandamentos a ele associados não são senão um ato de reparação por aquilo que lhe foi feito, obsessivamente sustentado a fim de aliviar o fortíssimo sentimento de culpa. “A circuncisão é o substituto simbólico da castração que o pai primevo que um dia afligiu os filhos na plenitude do seu poder absoluto, e que todo aquele que aceitava esse símbolo mostrava isso que estava preparado para submeter-se a vontade do pai, ainda que isso lhe impusesse o mais doloroso sacrifício mas isso não é toda a historia. Para vê-la completa temos que sair do judaísmo, o remorso pelo assassinato de Moises proporciona igualmente o estimulo para a fantasia desejosa do Messias; não por acaso a morte de um grande homem
veria a ser o ponto de partida do cristianismo. Na verdade que melhor separação para o assassinato do pai do que matar o filho em seu lugar. O monoteísmo estimula neuroses obsessivas e compulsivas por ser ele mesmo uma modalidade de “retorno do recalcado”, porque embutidos nele, há outros sentimentos associados ao pai, sentimentos tão poderosos que exigiram uma defesa contra eles mesmos na forma de recalque. O sentimento de culpa tende a ser o mais importante fator do desenvolvimento da religião em geral e do monoteísmo em particular; e os rituais e cerimônias – observados com rigor e causa de um agudo sentido de ansiedade quando omitidos – associados a eles são revelados como atividades obsessivas destinadas a aplacar o pai a quem ofendemos e, evitar a punição que fizemos por merecer. A culpa pelo assassinato de Moises estimulou o desejo do Messias do desejo de tal maneira
que Cristo se torna um Moises ressuscitado, o filho cujo o sacrifício redime o conjunto de irmãos do pecado primitivo original. Permanece no entanto a ambivalência com relação ao pai: embora a culpa desde seja expiada, o filho também substitui o pai e se torna ele mesmo deus. Isso está claramente expresso na revivescência eucarística da refeição totêmica ocorre a reconciliação, mas a carne e o sangue do filho substitui o do pai. AVALIAÇÃO CRITICA A ideia de que homens e mulheres povoaram o mundo com criaturas advindas de sua própria imaginação e de que suas criaturas tiveram de ser formalizadas em representações de forças do bem e do mal dificilmente é uma coisa nova. Esse processo esta no cerne dos contos de fadas e recua muito longe dos milênios. A contribuição especifica de Freud não esta a afirmar que a religião é uma ilusão, mas em localizar a motivação dessa ilusão na história
recalcada da primeira infância. Logo o que há de original não é sua teoria geral – a ideia da religião como transmutação de desejos em crença é um argumento reducionista bem gasto -,mas a gama de evidências que ele oferece para sustentá-la. ALGUMAS CRÍTICAS GERAIS O problema e que quase todas as evidencias que Freud apresentou caíram, de uma maneira ou de outra, em descrédito. 1. A teoria da horda primitiva de Freud é uma hipótese insubstanciada. Pesquisas subsequentes revelaram uma ampla variação em termos dos agrupamentos sociais dos primatas, assinalado organizações baseadas em indivíduos solitários, pares acasalados, grupos isolados em um só macho e bandos de machos e fêmeas adultos com filhotes. Os gorilas tem reconhecidamente uma estrutura social semelhante a uma horda primitiva. Não há uma razão clara para
que o comportamento social dos ‘préhumanos’ seja considerado semelhante aos do macaco 2. A agressão sexual que Freud requeria para o crime primitivo de assassinato não é,embora não é embora por certo esteja presente entre os primatas, quanto ele supõe,nenhum exemplo de babuíno macho morto como resultado de rivalidade sexual. Encontro-se mais evidencia de agressão entre chipanzés machos incluindo canibalismo e até estermínio sistemático, mas mesmo esses exemplos são isolados de uma espécie particular. “Quanto ao parricídio, a autoridade do pai se acha firmemente arraigada, entre os povos mais antigos, em sua organização social, de um moral e em seus vínculos afetivos; e o assassinato de qualquer um especialmente dentro do seu próprio clã, é algo tão raro que a ideia de matar um
pai simplesmente nunca poderia entrar na cabeça desses povos”. 3. O totenismo é um fenômeno variável, conhecem-se muitos povos, etnologicamente os mais antigos, que não praticam o toenismo: Os aborígenes no sudeste da Austrália, os ainu, os esquimós primitivos, para ficar em alguns exemplos. O totenismo é hoje considerado em geral não apenas um estagio pelo qual nem todos os povos passaram. 4. A ideia da refeição e do sacrifício totêmicos entre os semitas, as experiências passadas podem ser transmitidas de uma geração para a outra. O complexo de Édipo é como vimos a repetição,da experiência, da horda, primitiva de horda primitiva de Darwim de assassinar o pai. Essa teoria requer que se acredite na tese lamarckiana de que as características
adquiridas podem ser herdadas não perturbou Freud.. Sustenta Freud que a religião vem de um complexo de Édipo paterno e que é possível explicar recalcalo ou então reconciliar-se afim de superar o avassalador sentimento de culpa a que esse complexo da inicio. Vale igualmente a pena mencionar que, mesmo no interior do próprio circulo de Freud, a alegação de ser o complexo de Édipo o núcleo de toda a neurose foi rejeitada por estudiosos que, em outros aspectos o seguiam. Alfred Adler (1870-1937) analisou fatores de cunho não sexual na causação da neurose, particularmente o sentimento de inferioridade; Otto Rank (1884-1939) propôs que a causa da neurose residia no trauma do nascimento; o mais famoso de todos, Carl Gustav Jung (1876-1961), rejeitou o componente infantil sexual das neuroses em favor das disposições inatas, ou arquétipos, comuns a raça humana.
A CRITICA DE MALINOWSKI A FREUD Embora fortemente influenciado por Freud, Malinowski ataca-o em muitos aspectos, primordialmente em contestar a visão, não que o complexo de Édipo seja valido – as observações de Freud quanto a natureza destes são consideradas corretas mas de que ele seja o fenômeno universal, não se observa a sua presença entre as famílias matrilineares das ilhas Trobriand.. Nem tem o marido direitos sexuais sobre a mulher, tendo de merece-los e de pagar por eles. Nesses termos as crianças nunca veem a mãe subjugada ou brutalizada pelo marido, nem em abjeta dependência dele, nem mesmo quando ela é uma mulher normal casada com um chefe. Na parte final de sua critica, Malinowski reverte a hipótese de Freud: não é o complexo de Édipo que cria a cultura, mas a cultura que cria o complexo. O CONCEITO MASCULINO DE DEUS DE FREUD
O estranho é que Freud não só conhecia bem a prevalência de pernificações femininas da divindade – pensemos nos primeiros cultos a deusas como a grega Deméter, a egipicia Isis a mesopotânia Istar e a cananita Anat -, como também estava atento para vozes desistentes do próprio movimento psicanalítico, que apontavam para um víeis masculino implícito no interior da ortodoxa freudiana. Como então , devemos explicar o uso quase exclusivo que fez Freud de imagens masculinas do conceito de Deus? Freud segue o estereotipo vitoriano das mulheres. Por seguinte é dificilmente esperado que a origem da religião localiza como é no âmbito das relações assassina na horda primitiva e no complexo de Édipo – seja caracterizada em termos masculinos. A ILUSÃO E A TEORIA DAS RELAÇÕES DO OBJETO
Freud vacila entre chamar a religião de ‘ilusão’ ou de ‘desilusão’. A primitiva lembremos não é necessariamente falsa : ela deriva de desejos que podem tornar-se realidade. Mas temos de admitir, creio eu, que para Freud a chance de isso acontecer era tão remota que para todos os propósitos práticos a religião pertence as “desilusões de massa” da humanidade algo que devera ser eliminado se quisermos amadurecer para além de um estado de infantilismo psíquico. É a avaliação negativa da ilusão por Freud que se opõem com veemência a teoria das relações do objeto. A figura de destaque nesse novo desenvolvimento no campo psicanalítico é Donald Winicoltt, com sua analise do que domina “objetos transicionais” Na qualidade de pediatra ele observou que as criancinhas se apegam co rapidez em algum objeto em especial ou mesmo se
viciam nele, por exemplo um ursinho ou um cobertor. Esse apego advém da atual separação da criancinha com relação a mãe, que antes proporcionara não só um sustento mas um sentido de paz e segurança: o objeto escolhido torna-se por seguinte um substituto da mãe e continua a evocar a experiência maternal da tranquilizarão e do cuidado. O genitor sensível permite invariavelmente que isso aconteça, porem gradualmente, passado um dado período de tempo, o objeto adorado, a essa altura gasto e seme destruído, é usado cada vez menos, não tanto esquecido como, nesse momento desprovido de sentido. Mas o ponto importante a observar é que esse “fenômeno transicional” transcende, ou ocupa uma área intermédia entre elas, experiências objetivas e subjetivas: elas nem se relacionam somente com a vida interior do individuo. Winnicott só trata da religião perifericamente; mas uma importante extensão de seu trabalho
pioneiro The Birth of the God[O Nascimento do Deus Vivo](1979). Para Rizzuro, deus é uma representação de objeto, ocupando o mesmo tipo de espaço intermediário já criado pela criança ao investir outros objetos transcionais – brinquedos, cobertores, etc.- de vidas ilusórias intensamente reais. Tal, como, eles portando Deus não é nenhuma alucinação nem algo totalmente subjetivo, localizando-se para usar a expressão de Winnicott, “fora, dentro, nas fronteiras”. A religião localiza-se assim, ao lado da arte e da cultura, no espaço transcional de Winniicott, sendo a chamada ilusão de Deus redefinida agora com uma representação de tem um vinculo peculiar com o nosso encontro com o mundo e com os seres que o habitam, representação que reflete este encontro. Nesse sentido a religião não é ilusão no sentido freudiano- não é o contrário da realidade nem é infantil -, sendo antes parte integrante do ser humano que não reside menos em nossa
capacidade de criar, tal como as crianças na brincadeira, “realidades fictícias” que se vinculam de modo peculiar tanto com nosso sentido de nós mesmos como com nossas relações com as outras pessoas. A ESTRUTURA DA PSIQUE Um principia fundamental da psicologia freudiana é que os homens e mulheres sempre trazem em seu íntimo as marcas de certas experiências sexuais infantis, e que o ulterior desenvolvimento de neuroses vai depender em larga medida de reação a essas experiências. Embora as relações de Jung com Freud tenham sido muito íntimas entre 1907 e 1912, vale a pena lembrar que, mesmo durante esse período, Jung exprimira algumas reservas acerca da teoria freudiana da neurose e do papel que ela atribuía ao instinto sexual. Parece que embora a gênese da histeria seja predominantemente sexual, ela não o é exclusivamente.
A lealdade a Freud não implica no entanto, ao contrário do que muitos temem, a submissão irrestrita a um dogma; pode-se muito bem sustentar um juízo independente. Se eu por exemplo reconheço os complexos mecanismo dos sonhos e da histeria, isso não que r dizer que atribuo ao trauma sexual infantil a importância exclusiva de Freud, ao que parece, atribui. E tampouco que eu situe a sexualidade de maneira tão predominante no primeiro plano ou que lhe atribua universidade psicológica que Freud, ao que parece postula, levado em conta o papel admitidamente imenso que a sexualidade desempenha na psique. No que se refere à terapia freudiana, trata-se na melhor das hipóteses de um entre vários métodos possíveis, e talvez nem sempre essa abordagem ofereça na prática aquilo que dela se espera na teoria. Símbolos da transformação é, sob muitos aspectos, a obra decisiva no desenvolvimento da psicologia jungniana.
Jung postula, uma camada ainda mais profunda, abaixo do inconsciente pessoal, em quase encontraram imagens primordiais e universais comuns a toda humanidade. Jung da a isso o nome de inconsciente coletivo. Um sonho ou fantasia é um produto patológico no qual podemos descobrir os complexos do paciente, esse sonho ou fantasia, por assim dizer não possui vida própria, sendo antes explicável retrospectivamente, isso é, por preferência a alguma experiência ou trauma passados definidos. Jung, ainda que não negue a validade dessa abordagem, nega-lhe de fato sua exclusividade. Ele faz isso ao definir o ato de sonhar como uma modalidade de pensamento particular. Portanto ao analisar as fantasias e sonhos da senhoria Miller, Jung adota uma abordagem significativamente distinta da de Freud. O método freudiano é causal e redutivo: o sonho contem em si os efeitos patológicos de uma regressão a certos desejos infantis e libidinais,
podendo portanto ser reduzido a um composto de motivos neuróticos camuflados. Para Jung, por outro lado longe de ser um sintoma de complexos patológicos, o sonho é uma função psíquica inteiramente normal e construtiva em que a repetição de reminiscências infantis esta em paralelo com uma modalidade que é ai refletida. Sua verdadeira fonte esta restropectivamente mais além, ultrapassando até mesmo as experiências individuais da infância, mas não obstante torna-se mais acessível na infância em virtude do dom inerente que tem a criança para a fantasia e para a visão menos racional e objetiva das coisas. Freud, lembremos, estava bem pronto a aceitar, tanto em Totem e Tabu como em Moíses e o monoteísmo, que o inconsciente contém herança arcaica. Sonhos aparentemente caóticos e desordenados são menos máscaras de seu passados neuróticos e lidibinal do que reversões mais espontâneas a motivos e ideias
primitivos e arcaicos, sendo pois manifestações de um nível do inconsciente que independe da experiência pessoal dela mas é, mesmo assim, típico do pensamento em termos de fantasia longo das eras, seja em mitos, em contos de fada, em sonhos, em visões. Equipara o desejo da mariposa pelo sol com seu próprio desejo por Deus; e, como Jung vai estão mostrando, essa identificação de Deus com a intensidade e com o poder do sol encontra incontáveis paralelos não só entre as religiões do Oriente Próximo antigo, no simbolismo egípcio, nas visões do Apocalipse de João, mas na literatura em geral, como se pode ver na poesia de Goethe e de Nietzche. “Essas e outras experiências semelhantes foram suficientes para me fornecer uma pista: não se trata de uma herança especificadamente racial, mas de uma característica universalmente humana. Nem é uma questão de ideias herdadas, mas de uma disposição funcional para produzir as mesmas idéias muito
semelhantes. Denominei mais tarde essa posição arquétipo” 1. A psique se compõe de três níveis distintos mas que se acham em interação. São eles a consciência, o inconsciente pessoal e o inconsciente coletivo. O inconsciente coletivo representa o fundamento impessoal a transpessoal da psique, encontrando-se na base tanto da consciência como do inconsciente pessoal. 2. Jung sempre foi particularmente sensível a acusação de que, ao descrever os conteúdos do inconsciente coletivo em termos de imagens primordiais herdadas, ele, assim como Freud antes dele, endossava e desacreditada teoria lamarckiana da herança de características adquiridas. Jung foi inflexível na afirmação de que sua teoria não requeria o lamarckismo. Nesse sentido, o termo “arquétipo” não
é concebido para denotar uma ideia herdada, mas antes uma modalidade herdada de funcionamento psíquico que corresponde a maneira inata pela qual o pintinho sai do ovo, a ave constrói seu ninho, um certo tipo de vespa pica o gânglio motor da lagarta e as enguias encontram o caminho para as bermudas. Em outras palavras, o arquétipo, é um “padrão de comportamento”. Logo o que Jung mais afirma é que mais afim com uma teoria dos instintos, quanto a isso a teoria do inconsciente coletivo é, como observa Anthony Stevens, “biologicamente inquestionável” e plenamente coerente com a abordagem adotada pelos etelogistas em seus estudos do comportamento animal.
CONCEITO ENERGICO DA LIBIDO Não foi contudo, a hipótese do inconsciente coletivo que levou a ruptura com o Freud. Como já vimos, Freud na verdade se aproxima bastante de uma ideia semelhante. Por exemplo, em O ego e o id (1923), Freud se dispõe a admitir que as experiências do ego, se repetidas com freqüência suficiente ao longo de gerações sucessivas, podem transformar-se em “experiências do id, cuja as impressões são preservadas por herança”. Logo, no id se “acham agregados resíduos das existências de incontáveis egos”. Portanto não foi, isso que levou ao rompimento, isto ocorreu quando Jung, na segunda sessão de símbolos de transformação, atacou o conceito fundamental da psicologia freudiana – a libido – reduzindo especificadamente seu componente sexual e substituindo-o por uma noção mais generalizada libido como “energia psíquica”.
Na neurose, nunca há numa perda completa da realidade, mas, uma vez disso, uma falsificação dela, na esquizofrenia, porém, o mundo real é substituído por um universo de imagens arcaicas, sendo a falta de adaptação a realidade compensada por um aumento progressivo sobre a criação de fantasias. Onde Freud se inclina a ver no ato do bebe de sugar o seio materno uma ação extremamente sexual, Jung vê um a função nutritiva que, por isso mesmo, de inicio é desprovida de quaisquer conotação sexuais. Sendo assim era impossível as neuroses de crianças em termos de um trauma sexual ocorrido num período caracterizado de modo geral pela ausência de qualquer função sexual. A psique humana se compõe de duas dimensões complementares porém antitéticas – a consciência e o inconsciente -,
dividindo-se a segunda dimensão de duas esferas, o inconsciente pessoal e o inconsciente coletivo. Tomadas em conjunto, essas três instâncias constituem o que Jung chama de um “sistema relativamente fechado”, expressão pela qual ele designa o fato de a psique funcionar como um fenômeno autônomo e gerar uma energia que lhe é peculiar. Não se pode portanto considerar a psique um epifenômeno – um subproduto de processos físicos - , mas um sistema unitário, auto-condito e autoregulador., Qualquer estimulo que ele receba do exterior por meio dos órgãos dos sentidos é consumido pela psique e convertido em mais energia psíquica libido. “A Libido com que operamos não apenas não é concreta nem conhecida como constitui uma completa incógnita, uma pura hipótese, um modelo ou modo de avaliação, não sendo mais concretamente concebível do que a energia é conhecida pelo mundo da física”.
A primeira coisa a notar é que, embora a libido não se movimente de acordo com nenhum padrão estabelecido, ela opera, de fato, segundo alguns princípios observados. O primeiro deles é o principio dos postos. Segundo a qual cedo ou tarde tudo se transforma em seu oposto – estabelece que o movimento da libido envolve uma constante oscilação dinâmica entre polos contrastantes, algo que se assemelha aos movimentos diastólico e sistólico do coração, nos quais a qualidade de energia gerada está em proporção direta à presença de opostos em conflito. Ao explicar a distribuição da energia nos vários pontos da psique, Jung menciona dois outros princípios, os dois derivados da física. Trata-se do principio de equivalência e do principio de entropia. O principio de equivalência afirma que “para uma dada quantidade de energia despendida ou consumida na produção de certa condição,
igual quantidade da mesma energia ou de outra forma de energia vai aparecer alhures”. Em outras palavras seguindo-se a primeira lei da termodinâmica ( e da conservação da energia), a soma total de energia contida na psique permanece constante e não é suscetível nem de aumento nem de diminuição. Assim por exemplo, a medida que se reduz o apego da criança aos pais, um valor equivalente aparece alhures e a energia lidibinal pode ser transferidas para outros pais substitutos, como um professor ou um amigo mais velho. Num sintoma neurótico como fobia ou obsessão, vemos a geração de um substituto inconsciente, hiper investido de libido, com prejuízo da consciência. Embora o principio de equivalência explique as transformações da energia no âmbito do sistema psíquico, sua explicação não alcança as direções que essas transformações
seguem. Para dar conta disso, temos de nos voltar para um outro principio, complementar, para a segunda lei da termodinâmica ( o principio da entropia). Essa lei afirma que quando dois corpos de diferentes temperatura entram em contato, o fluxo de energia sempre vai ser do corpo , mais quente para o mais frio, o processo que envolve, em consequência, o aquecimento do corpo o mais frio é o resfriamento do mais quente. Esse mesmo principio de entropia opera no sistema psíquico. Aqui também a energia sempre flui de um corpo mais forte para um corpo mais fraco até que se alcance o equilíbrio. Assim falamos das tempestades da juventude que levam a tranquilidade e a maturidade. O sistema psíquico é constantemente frustrado pelas energia que se expõe a partir do exterior. É essa introjeção de estímulos externos adicionais que cria desequilíbrio, substituindo os sentimentos de quietude
por sentimentos de tensão e de conflito. Em condições normais essa nova energia pode ser assimilada pela psique sem causar grandes distúrbios. Alternativamente, as pessoas podem desenvolver diferentes estratégias para se proteger: elas podem fechar a mente a qualquer outras coisas além do seu próprios preconceitos, afastar-se de novas experiências e, assim, aproximar-se de um estado antrópico. Se por analogia consideramos a transferência de energia como algo similar ao movimento da água, o movimento natural da libido é para frente e para trás, que atende as necessidades do inconsciente, regressão. A regressão da energia psíquica reativa os conteúdos do inconsciente e, assim, revela as possibilidades de renovação e de regeneração que residem no interior desses conteúdos. Sugerir que a sexualidade a origem exclusiva a neurose é uma generalização injustificada e fantástica, equivalente a discutir “a Catedral
de Colônia num manual de mineralogia com base no fato de ela consistir em larga medida de pedras”. Logo de maneira mais acurada, deveríamos categorizar a neurose como um distúrbio da distribuição de energia libidinal, como um fracasso na promoção de equilíbrio de opostos, uma falha de reciprocidade, se preferir, entre as demandas progressivas da mente consciente e as demandas regressivas do inconsciente.Segue-se que a ambição terapêutica é resolver essa desarmonia. Essas funções e atitudes combinam-se ara formar toda uma gama de tipos psicológicos, tendo cada tipo a tendência a desenvolver uma forma particular de neurose. O tipo extrovertido-sentimento é predisposto á histeria, o tipo introvertido-sentimento, à neurastenia, os tipos sensação, a fobias, compulsões e obsessões. Nesse tipo portanto seja, qual for a forma que tome, a neurose aponta para sua própria terapia: ela abre o mundo interior da psique e traz a superfície os
elementos que vão estabelecer um novo equilíbrio na sociedade, Jung chama esse procedimento terapêutico de “processo de individualização”. 1. Jung rejeita a definição freudiana da religião como neurose sexual. A primeira condição para a resolução desse dilema é reconhecer que a questão logicamente precedente não é saber se a religião enquanto neurose tem natureza sexual, mas se a neurose é sexual, a rejeição por Jung daquilo que Freud diz quanto a isso advém de sua própria apresentação de um conceito energético de libido que despe o uso do conceito de libido por Freud por sua conotação exclusivamente sexual. 2. Jung rejeita o relato freudiano do mecanismo da neurose religiosa. O caráter sexual da neurose visto na forma obsessiva de ritual religioso em que o fiel busca pacificar seu sentimento de culpa edipiana em relação ao pai. Para Jung, no
entanto esse relato, enquanto descrição geral da prática religiosa não pode estar correto. Mas uma vez, não porque a religião nunca possa ser neurótica em termos freudianos, mas porque não é somente o instinto sexual, mas antes um desequilíbrio em termos das distribuição de energia psíquica, o responsável pela formação das neuroses. A religião, como toda outra disposição humana, será neurótica quando perturbar o equilíbrio psíquico. A religião não terá caráter neurótico se não ocorrer essa ruptura, se exibir uma conjunção harmoniosa dos lados dessemelhantes da psique, o consciente e o inconsciente. 3. Jung nega o relato exclusivamente negativo que Freud faz da religião como neurose. Para Jung a avaliação de Freud é fundamentalmente errônea, dado que se supõe que uma neurose, tenha ou não forma religiosa, não tem atributos
positivos, e que o inconsciente não passa de um quarto de despejo de materiais incômodos advindos do passado infantil do paciente. Longe de ser negativa a neurose também pode ser um passo positivo no desenvolvimento psíquico ao desvelar no processo da regressão, o nível mais profundo e criativo da mente inconsciente, isto é, inconsciente coletivo. 4. Jung nega o relato freudiano exclusivamente retrospectivo da religião como neurose. 5. Jung rejeita o relato freudiano de caráter simbólico dos fenômenos religiosos. A religião não significa primariamente o recalcado de um impulso sexual e infantil, mas antes o movimento energético da libido na direção da camada mais profunda da psique, camada na qual residem as imagens universais e primordiais do inconsciente coletivo. Assim, os símbolos religiosos são
revelados como expressões de uma forma de experiência regressiva ou para dizer de outra maneira como manifestações de conteúdos coletivos. O símbolo é uma revelação de nossa vida psíquica interior, não uma criação nossa vida psíquica interior, não uma criação nossa mas algo autônomo, uma formulação espontânea e irrefletida de certas imagens irredutíveis, universais e intemporais.
DEUS COMO ARQUETIPO DO INCONSCIENTE COLETIVO Uma vez que se descarta Freud, uma vez que se percebe que o culto a deus já não pode ser explicado em ermos de um substituto no plano da fantasia para o pai terreno, temos de buscar alhures uma explicação da natureza e do conteúdo da crença religiosa. A resposta de Jung a essas interrogações é,
deveras especificas e exata: a realidade de Deus é a do pai arquétipo do inconsciente coletivo. Deus assim concebido, é uma realidade psíquica irredutível e inescapável, experienciada pelo individuo do nível mais profundo do seu ser. OS ARQUETIPOS DO INCONSCIENTE COLETIVO “Um grande erro saber que a psique do recém-nascido seja uma tabula rasa, no sentido de nada haver nela” Os conteúdos do inconsciente coletivos são denominados arquétipos. Credita-se a Platão a descoberta do conceito sendo a palavra “arquétipo” tomada como uma “paráfrase explicatória” da “ideia” (eidos) platônica, de que todas as coisas existentes são imitações. Santo Agostinho também emprega o conceito a falar de ideae principales, ideias que são formadas porem contidas na compreensão divina. As imagens
arquetípicas, precisamente por serem imagens advindas das profundezas do inconsciente coletivo,são manifestações da natureza estrutural da própria psique, e, assim, expressivas de um substrato universal e comum que esta presente em todos os seres humanos e que opera de modo constante e dinâmico. “ Todo ser humano civilizado, por mais elevado que seja o seu desenvolvimento inconsciente, ainda é um homem arcaico nos níveis mais profundos da sua psique”. Temos por exemplo, o arquétipo da mãe, observando não só nas deusas da religião como também, em outros lugares, nos círculos recorrentes da fertilidade e da fecundidade (a cornucópia, um campo arado, um jardim). Temos o arquétipo disseminado da criança divina, evidente nas histórias do nascimento miraculoso de Jesus e de Moises, na poesia de William Blake, bem como nos contos de fada do filho do rei ou do filho da
bruxa possuídos por forças demoníacas. Temos o arquétipo do herói, personificados nos vários tipos do herói prevalecentes em quase toda cultura, em que o individuo corajoso não é devorado pelo monstro, mas subjulga e assim agindo, obtem o prêmio (Davi e Golias, Hercules e o Leão, Teseu e Monitauro). Além das figuras arquétipicas que acabamos de mencionar há eventos arquetípicos (por exemplo, o nascimento, a criação, a morte, as bodas, a traição) há objetos arquetípicos (por exemplo, o dragão, a serpente, a esfinge, os animais adjuntores). Embora a forma possa ser inata à psique, a maneira pela qual isso se exprime, sua manifestação concreta é diversa e depende muito mais da experiência individual e social. “Saber se essa escritura psíquica e seus elementos, os arquétipos, um dia se ‘originaram’ é uma questão metafísica e, nessa condição irrespondível”. Isso não
impede Jung de concluir que o arquétipo é metafísico por ser uma “presença eterna” e porque “ transcende a consciência”
A PERSONA O termo “persona” referia-se originalmente à mascara usada pelos atores para indicar seu papel num drama; e o arquétipo indica em larga medida a mesma tendência psicológica, quer dizer, a preocupação do individuo em ocultar aquilo que ele de fato é, em favor daquilo que a sociedade julga que ele deve ser.
A SOMBRA
Em contraste com a Persona, o arquétipo da Sombra designa o lado do individuo que ele ou ela prefere não revelar. Consiste nas partes sombrias e não adaptadas ou reprimidas da pessoa, ou nas palavras de Jung, em “tudo aquilo que o sujeito se recusa a reconhecer sobre si mesmo e que no entanto esta sempre lançando sobre ele direta ou indiretamente, por exemplo traços inferiores de caráter e outras tendências incompatíveis”.
A ANIMA E O ANIMUS Os arquétipos de anima e de animus representam o aspecto constrassexual da psique, anima é o lado feminino do homem e o animus, o lado feminino da mulher. A anima
por exemplo pode assumir a forma da virgem pura, da deusa ou da sedutora, manifestandose também em figuras mitológicas como Eva, Kundry e Andrômeda, ou em heroínas ficcionais como Helena de Tróia ou Dulcinéia. Representações típicas do Animus são o Herói ou o Sábio, Dioniso ou o Holandês Voador variando do amigo ao sedutor. Tanto o Anima como o Animus podem manifestar-se como animais ou objetos: A Anima talvez como vaca, gato, navio ou caverna, e o animus como águia, Touro, lança ou torre.
O SELF Direcionamento da psique rumo a sua meta da integralidade é ele mesmo arquétipo, isto é,
constitui um objetivo que é uma disposição humana a priori, e de que o arquétipo da integralidade é o arquétipo do Self. O que temos aqui, portanto, é um arquétipo da integração psíquica que se apresenta ao individuo como um fator orientador interno, como um componente teológico e psíquico inato, mas que, assim como os outros arquétipos, se apresenta não em sua ‘forma’, mas somente em seus ‘conteúdos’ fenomênicos. Podem-se ver arquétipos do Self, por exemplo, em figuras de poder e de prestigio humanas ou animais (reis ou rainhas, o leão e o urso), em entidades suprapessoais (deuses e deusas, o Sol, a Natureza, o Universo), em personalidades religiosas notáveis ( Cristo, Buda), em símbolos vegetais (o lótus e a rosa), em objetos inanimados ( uma jóia, uma bola, um cálice) e assim por diante. Símbolos do Self também aparecem como figuras geométricas (o circulo, a esfera, o quadrado, a quaternidade, o relógio) e como
mandalas. Derivada da palavra sânscrita que designa “circulo mágico”, a mandala é um desenho baseado num quadrado ou circulo perfeitamente equilibrado, a cujo ponto médio se dá particular proeminência. Embora presentes na arte da Idade Média e da Renascença ocidentais, as mandalas mais impressionantes estão no budismo tibetano. A forma arquetípica, sendo desconhecida, só pode ser expressa de maneira indireta, nas imagens, metáforas e nos símbolos do conteúdo arquétipos. Encontramos nos conteúdos arquetípicos portanto a expressão indireta daquilo que não pode ser expresso de modo direto. Um arquétipo é dinâmico e dualista, o que significa que ele opera, como todos os fenômenos psíquicos, de acordo com a lei dos opostos. Todo arquétipo contém por conseguinte a possibilidade do desequilíbrio psíquico, de uma destruição desigual de
energia libidinal. Assim, um individuo pode ficar demasiado obcecado com sua Persona Pública e suprimir sua própria individualidade peculiar, reprimir o lado Sombra necessário de sua personalidade ou orientar-se em demasia na direção de sua própria natureza contrassexual e assim pop diante. Sabemos que a imagem de deus têm um grande papel na psicologia, mas não podemos provar a existência física de Deus. Na qualidade de cientista responsável não vou pregar minhas convicções pessoais e subjetivas que não posso provar... Contudo ao meu vê, falando pessoalmente a questão se Deus existe ou não é fútil. Estou suficientemente convencido dos efeitos que o homem sempre atribuiu a um ser divino. Se eu exprimisse uma crença que fosse além disso ou afirmasse a existência de Deus, isso seria não apenas supérfluo e ineficiente como também
mostraria que não baseio minha opinião em fatos. Ele deixou bem claro que não se pode provar a existência de Deus; assim, a questão da real existência de Deus pode ser logicamente demonstrada. Podemos no entanto dizer que os sees humanos possuem uma certa característica, a propriedade de formular imagens de Deus, e que essa característica é tão certa e auto-evidente quanto uma capacidade moral. Isso nos permite responder a pergunta com que se iniciou esse capitulo. Porque os fieis concebem a Deus como pai? Se a razão não é edipiana, qual é ela?A resposta é, de acordo com Jung, que o conceito de Deus como pai é arquétipo, ou seja, ele precede da atividade de uma disposição inconsciente e inata. A doutrina cristã da Trindade é para ele “o mais sagrado de todos os símbolos dogmáticos”, mas um símbolo que pode ser
facilmente reduzido ao status do signo, ao nível de uma configuração matemática que é mesmo assim tomada, apesar de todas as suas contradições e interpretações controversas, como demonstração da natureza da divindade.. Fiel a seu método, Jung aplica a técnica de amplificação a fim de desvelar as raízes arquetípicas do dogma. Fala-se então de seus paralelos pré-cristãos no pensamento babilônico (a traíde de Anu, Bel e Ea), na teologia egípcia (a triunidade de Deus, o rei e Ka-manuf) e nas especulações matemáticas dos filósofos gregos (o simbolismo do número em Pitágoras, a imagem de Deus triádica de Platão de Timeu). Qual é então o arquétipo exibido pela figura de Cristo? É, continua Jung, o arquétipo com que estamos familiarizados em nossos sonhos e projeções de fantasias individuais: a idéia de um ser superior, todo-abrangente, completo ou perfeito, invariavelmente representado por um homem de proporções
heróicas. No caso de Jesus, esse ser é descrito como detentor de atributos heróicos: “origem improvável, pai divino, nascimento marcado por muitos eventos, resgate no momento crítico, desenvolvimento precose, conquista da mãe e da morte, façanhas miraculosas, fim trágico e precoce, forma de morte simbólica simbolicamente significante, efeitos post mortem (reaparecimentos, sinais e prodígios etc.)”.Logo aquilo que o individuo identifica em Cristo é o arquétipo que exprime sua própria necessidade psíquica interior da integralidade e unidade: isto é, Cristo, exemplifica o arquétipo do self”.
DEUS E A INDIVIDUAÇÃO Agora ao estágio final do relato junguiano da religião; ele, alega que a religião é necessária
ao desenvolvimento psíquico humano. Esse argumento gira em torno do importante conceito de Jung de individuação. O próprio Jung considerava essa ideia “o conceito central da minha psicologia” precisamente por ser a religião uma função psíquica, tão inseparável do individuo quanto qualquer outro instinto, toda tentativa de negar sua significação vai resultar numa perda de equilíbrio psíquico e, portanto numa regressão à neurose.
O PROCESSO DE INDIVIDUAÇÃO Jung denomina o processo mediante o qual o individuo integra as partes consciente e inconsciente da personalidade processo de individuação. A individuação significa tornarse um “in-divíduo” e, na medida em que abarca nossa mais profunda, última e
incomparável peculiaridade, a “individualidade” também implica que a pessoa se torne o que ela de fato é.Podemos portanto traduzir individuação como “chegada à condição de eu” ou “auto-realização”. Outra forma de indicar que a individuação é um processo inerente à psique é defini-la em termos da meta para a qual tende. Para Jung, a individuação é uma “chegada à condição de eu”, razão porque a meta da individuação é uma realização do self: O self lembremos, é o arquétipo da totalidade, atestando assim, o fato de que a busca de um equilíbrio adequado entre os lados dispares da psique, entre o inconsciente e o inconsciente, é uma disposição humana a priori. Se a meta de individuação é a realização do Self, esse processo passa a ser não só terapeuticamente necessário como também arquetipicamente dirigido. Logo a individualização é inata aos indivíduos, uma lei natural da psique, o componente “prospectivo” e “teológico”
irredutível da psique. A individuação não se restringe a resolver um conflito interior; ela também nos impele a uma relação mais harmoniosa com a sociedade como um todo. Para dar um exemplo: a aceitação de nosso lado Sombra, de nossos impulsos hostis e agressivos, pode por sua vez dar acesso a outras capacidades de afeição espontânea, capacitando-nos assim a tratar com a maior tolerância e calor humano as pessoas que se mostram hostis diante de nós.
A INDIVIDUAÇÃO: DEUS E O SELF O processo de individuação é religioso? Dito de outra maneira: a meta do processo de individuação – quer dizer, a realização do self, é identificável como meta religiosa?
A individuação pode ser definida como religiosa por ser um arquétipo e porque toda orientação para os arquétipos tem cunho religioso, uma experiência religiosa é a experiência “numinosa” que tem o individuo como aspecto de sua psique que é primordial, arquétipo e coletivo; trata-se da experiência da própria forma suprapessoal do individuo, do imanente-transcedente, “o Deus interior”. A concepção junguiana segundo a qual os conceitos d Deus e do self “se apóiam aparentemente num fator idêntico” deriva daquilo que Jung julga ser um fato universalmente atestado, e empírico, o fato de que “os fatos da divindade coincidem com o self; aquilo que, de um lado, se afigura com a experiência psicológica com o significado de integralidade psíquica exprime de outro lado, a idéia de deus , essa hipótese como, Jung deixa claro, não estabelece uma identidade metafísica entre Deus e o Self, mas tão somente a identidade empírica das imagens.
A INDIVIDUAÇÃO E AS IMAGENS DE DEUS Ora há pouca dúvida de que para Jung, como para as imagens de Deus são inseparável das imagens do Self por exprimirem a disposição universal e coletiva para a integralidade, podemos caracteriza-la em termos dos três estágios do processo da individuação. Do ponto de vista psicológico, a Trindade denota um processo de amadurecimento inconsciente que ocorre no interior do individuo. Os três estágios são enumerados aqui nos termos do símbolo da Trindade: isto é, um estagio do Pai, um estagio do Filho e um estagio do Espírito Santo. Examinemo-los. O ESTÁGIO DO PAI
Em teremos gerais o pai denota o mais primitivo estado da consciência, em que ainda se é uma criança, dependente de um padrão de existência definido e pronto que é habitual e tem o caráter da lei. Trata-se de uma condição passiva e irrefletida, uma mera percepção daquilo que é dado, desprovida de juízo intelectual ou moral. Isso assim é tanto individual como coletivamente. O ETÁGIO DO FILHO A transição do estágio do Pai para o Filho ocorre quando o estado de semiconsciência irrefletida e não critica sede lugar a um estado reflexivo e racional de consciência total, correspondendo assim ao ponto intermediário do processo de individuação, no qual o ego em amadurecimento começa a afirmar-se e a emancipar-se.
O ESTÁGIO DO ESPIRITO SANTO O estágio do Filho é, todavia, apenas um estágio de transição, um estado intermediário, parte da criança, parte adulto. É portanto somente no terceiro estágio que se alcança a genuína condição de adulto. Assim o estágio do Espírito Santo corresponde ao processo final de individuação. Aqui lembremos, na segunda metade da vida, o individuo é gradualmente iniciado no mundo interior do inconsciente, e o ego começa a descobrir sua raiz coletiva e suprapessoal. Como o Espírito Santo é a terceira pessoa da Trindade e como Deus está presente por inteiro, a qualquer momento dado, em cada uma das três Pessoas, o habitar do Espírito Santo significa nada menos que a aproximação do fiel do status de filho de Deus. Pode-se portanto compreender o que quer dizer a observação “sois deuses”... Deus, na forma de
Espírito Santo, passa a habitar o homem visto que está obviamente voltado para realizar-se continuamente não só nos descendentes de Adão como num número indefinido de fiéis e possivelmente na humanidade como um todo.
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