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NEPP
TÉCNICAS PSICANALÍTICASII
PROF. SÉRGIO COSTA
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MOMENTO DE REFLEXÃO Uma mãe e um bebê camelo estavam por ali, à toa, quando de repente o bebê camelo perguntou: - Mãe, mãe, posso te perguntar umas coisas? - Claro! O que está incomodando o meu filhote? - Por quê os camelos têm corcova? - Bem, meu filhinho, nós somos animais do deserto, precisamos das corcovas para reservar água e por isso mesmo somos conhecidos por sobreviver sem água. - Certo, e porquê nossas pernas são longas e nossas patas arredondadas? - Filho, certamente elas são assim para permitir caminhar no deserto. Sabe, com essas pernas eu posso me movimentar pelo deserto melhor do que qualquer animal! Disse a mãe toda orgulhosa. - Certo. Então porquê nossos cílios são tão longos? De vez em quando eles atrapalham minha visão. - Meu filho! Esses cílios longos e grossos são como uma capa protetora para os olhos. Eles ajudam na proteção dos seus olhos quando atingidos pela areia e pelo vento do deserto! Disse a mãe com orgulho nos olhos. - Ta. Então a corcova é para armazenar água enquanto cruzamos o deserto, as pernas para caminhar através do deserto e os cílios são para proteger meus olhos do deserto. Então que diabos estamos fazendo aqui no zoológico???? MORAL DA HISTÓRIA: “Habilidade, conhecimento, capacidade e experiências são úteis se você estiver no lugar certo.” ONDE VOCÊ ESTÁ AGORA?
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Técnicas Psicanalíticas
O paciente crê que seus sintomas auxiliarão o psicanalista a compreender sua enfermidade e proporcionar tratamento eficaz. Deseja, habitualmente, contar ao psicanalista qualquer coisa que acredite relacionar-se com a doença. Os sintomas psicanalíticos , por outro lado, compreendem as funções de defesa do ego e representam conflitos psicológicos inconscientes. Na mesma medida que se defende do conhecimento desses conflitos, o paciente procura também escondêlos do entrevistador. Conseqüentemente, o analisando estando motivado para revelar-se, a fim de conseguir alívio para seu sofrimento, está também motivado para ocultar seus sentimentos mais íntimos e as causas fundamentais de seu transtorno psicológico.
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O mesmo podemos dizer do educando, os seus fracassos escolares, estão diretamente ligados aos seus transtornos psicológicos. Qualquer pessoa preocupa-se com a impressão que causa sobre as outras.O psicanalista, como figura autoritária, muitas vezes simboliza os pais, de modo que suas reações são especialmente importantes para o paciente. Segundo Freud os professores são herdeiros dos pais na difícil tarefa de ensinar; o professor também entra na qualidade de autoridade assim como o psicanalista. Se o paciente suspeita que algum dos aspectos menos admiráveis de sua personalidade estão envolvidos na enfermidade, talvez não se disponha a revelar esse material até assegurar-se de que, ao expor-se, não perderá o respeito do psicanalista. Assim o fará também com o professor com que ele tenha tido a transferência. É de fundamental importância , que o professor tenha respeito e compreensão ética para com o aluno que o procura para confidenciar os seus segredos mais íntimos.
Uma entrevista centralizada na compreensão do paciente proporciona informação diagnóstica mais valiosa que aquela concentrada na psicopatologia. Ainda que o entrevistador possa ver o paciente uma única vez, é possível uma interação terapêutica verdadeira. O professor também deveria se centralizar na compreensão do educando..., obtendo maior transferência para o estado de motivação e estabilização do emocional do estudante...; só assim o mesmo teria
condições de deixar o seu emocional estabilizado fazendo com que o cognitivo possa agir.
Afeto e Pensamento Ainda que os pensamentos do paciente, bem como os do aluno, sejam importantes, suas respostas emocionais são a chave para a compreensão da entrevista. Os processos mentais podem ser observados em termos de quantidade, índice de produção, conteúdo e organização. Seu pensamento é restrito? Em caso afirmativo, quais os temas que o limitam? Graves perturbações no padrão de
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associações, índice de produção e quantidade total de pensamentos são facilmente identificáveis. ELEMENTOS FORTES DA PERSONALIDADE. Freqüentemente um paciente vem ao psicanalista esperando que este se interesse apenas por seus sintomas e possíveis deficiências do caráter . Pode ser tranqüilizante para dito paciente se o psicanalista mostrar-se interessado por aspectos positivos, talentos e pontos fortes de sua personalidade. “Gostaria de ver uma fotografia de meus filhos?” - e o entrevistador permanece neutro, aquele experimentará tal fato como indiferença. Se o psicanalista olha a foto e a devolve sem comentários, será pouco provável que o paciente demonstre sua capacidade completa para sentimentos cordiais. Deve-se distinguir a transferência da aliança terapêutica, que é a relação entre o ego analisador do psicanalista e o elemento sadio, observador e racional do ego do paciente. A aliança terapêutica cooperadora realística também tem sua origem na infância e baseia-se na confiança real entre a criança e sua mãe. A transferência positiva é, com freqüência, empregada livremente para referir-se a quaisquer respostas emocionais positivas do paciente para com o psicanalista. Todo o material pessoal do educando é de fundamental importância para os professores e todos que estão envolvidos com o compromisso com a escola, pois isso faz parte da história de vida do sujeito e o seu resgate psíquico de um mundo psicológico mais profundo que é só dele....O professor deveria ter mais atenção com este material do que a sua preocupação com os conteúdos em si. Em algumas ocasiões, sentimentos precoces de transferência podem surgir na forma de determinadas perguntas: “Como pode suportar ouvir, o dia todo, as pessoas a queixar-se?” O paciente teme não ser aceito pelo psicanalista. A observação reflete, além disso, seu próprio auto-desprezo. O entrevistador pode responder: “Talvez esteja preocupado com minha reação para com você?” Mais adiantado o tratamento, o psicanalista converte-se em ego ideal para seu paciente . Este tipo de transferência positiva é interpretado com freqüência. O paciente pode imitar os maneirismos, o modo de falar ou de vestir do terapeuta, geralmente sem ter consciência disto., o que, geralmente se nota na relação professor-aluno.
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Transferência Outras manifestações comuns de transferência competitiva compreendem comentários depreciativos sobre o consultório do psicanalista, suas maneiras e seu modo de vestir, declarações dogmáticas de desafio, tentativas de avaliar a memória do psicanalista, seu vocabulário ou seu grau de conhecimento. Atitudes de menosprezo podem aparecer de outras formas, tais como dirigir-se ao psicanalista como “doc” ou interrompê-lo constantemente. No caso de comentários competitivos óbvios, o entrevistador pode perguntar: “Sente-se em competição comigo?”. Se o psicanalista sentir-se aborrecido com os comentários do paciente deve permanecer quieto. Os pacientes comportam-se desta maneira quando sentem que “o estão dominando”. O psicanalista pode atingir diretamente o sentimento subjacente perguntando. “Sente-se de algum modo humilhado por falar-me?”. Entretanto, a conduta competitiva é habitualmente ignorada na primeira entrevista. Os pacientes do sexo masculino mostram interesse pela força, status ou sucesso econômico do psicanalista do mesmo sexo; enquanto que, com uma psicanalista, preocupam-se mais com seu sentimento maternal, seu poder de sedução ou se é dominadora. Pacientes do sexo feminino geralmente reagem ao contrário. E em sala de aula, acaso não ocorre o mesmo? Como já citei os professores são herdeiros dos pais , e é de fundamental importância que os mesmos resgatem a sua auto estima para o cargo de regente de classe , o próprio termo já fala por si próprio... regente.
Resistência A resistência é qualquer atitude por parte do paciente que se oponha aos objetivos do tratamento. A psicoterapia dirigida ao insight necessita explorar os sintomas e os padrões de conduta e isto provoca ansiedade. Como conseqüência, o paciente é motivado a resistir à terapia a fim de manter a repressão, precaver-se contra o insight e evitar ansiedade. O conceito de resistência é uma das pedras
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angulares de toda a psicoterapia dinâmica. Freud descreveu cinco tipos de resistência, de um ponto de vista teórico, classificando-os de acordo com a fonte. O mesmo acontece dentro da escola, o sujeito está com as suas resistências por motivos psicológicos e estes vão se manifestar em forma de sintomas dentro da escola, podendo ser em forma de agressão , dificuldades cognitiva, etc...
Resistência de repressão - resultante das tentativas do ego, de afastar os
impulsos ameaçadores, mantendo-os fora da consciência. A mesma repressão, que é base de toda a formação de sintomas, continua a operar durante a entrevista. Isto impede o paciente de desenvolver consciência do conflito subjacente à sua enfermidade.
Resistência de transferência - pode desenvolver-se de qualquer atitude
previamente descrita. Cada um dos principais tipos de transferência pode ser utilizado, às vezes, como resistência. O paciente tenta obter a prova da afeição do psicanalista ou espera uma cura mágica através de sua onipotência. Em lugar de resolver seus conflitos básicos, o paciente pode simplesmente procurar identificar-se com o terapeuta ou adotar atitude de competição, em lugar de colaborar com o mesmo. Estes processos assumem, por vezes, formas sutis; por exemplo, o paciente pode apresentar material de particular interesse para o psicanalista, simplesmente para agradá-lo. Assim como a transferência pode ser utilizada como a resistência poderá também servir como fator de motivação para o paciente trabalhar junto com o psicanalista.
Resistência de benefícios secundários - reflete-se na falta de disposição do paciente para renunciar aos benefícios secundários que acompanham sua doença. Assim, o paciente com um sintoma de conversão de dor nas costas está legitimamente incapacitado para executar sua indesejável tarefa de dona-de-casa enquanto estiver enferma, recebendo, ao mesmo tempo, atenção e simpatia.
Resistência do superego - manifestada pelo desejo inconsciente de punição. Os sintomas do paciente lhe infligem um sofrimento ao qual reluta em abandonar. Acontece especialmente no tratamento de pacientes depressivos.
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A última e mais controvertida, de um ponto de vista metapsicológico, é o que Freud chamou de “resistência de compulsão à repetição”. Tal resistência era por ele considerada como manifestação de um aspecto biológico do organismo. Se a melhor explicação está no conceito de Freud - de adesividade da libido - ou em alguma outra hipótese, isto não está estabelecido. O fenômeno clínico que Freud tencionou explicar permanece válido: os pacientes mantêm padrões fixos de má adaptação, não obstante o insight e a anulação de repressão.
Manifestações clínicas de resistência - no exame dos exemplos clínicos de resistência, não serão utilizadas as classificações acima mencionadas, já que a maioria delas representam mesclas de diferentes mecanismos psicodinâmicos. Foram classificadas nos termos de suas manifestações durante a entrevista.
Estão em primeiro lugar as resistências manifestadas pelos padrões de comunicação durante a sessão. Uma das mais fáceis de reconhecer, e das mais incômodas para o entrevistador, é o silêncio. O paciente pode explicar: “Não penso em nada” ou “Não tenho nada para dizer”. Se este parece sentir-se impotente, procurando orientação, o entrevistador poderia interpretar: “Parece que se sente perdido”. Se o silêncio mais parece manifestação de desafio ou obstinação, uma observação adequada seria: “Parece ressentir-se de ter de me expor os seus problemas” ou “Parece que está retendo alguma coisa”. Os entrevistadores principiantes, de maneira involuntária, muitas vezes provocam silêncio pelo fato de assumir desproporcionada responsabilidade em manter o curso da entrevista. Fazendo perguntas que possam ser respondidas por “sim” ou “não”, cujas respostas possam ter múltipla escolha, desestimulam o sentimento de segurança que os pacientes possam ter com os psicanalistas.
Os entrevistadores principiantes encontram particular dificuldade para reconhecer a utilização defensiva do intelecto do paciente, exceto quanto aos obsessivos ou aos esquizofrênicos, nos quais a ausência de afeto é um indício muito claro. Entretanto, no caso do histérico, que fala com vivacidade, muitas vezes com mais “emoção” do que o entrevistador, o processo passa freqüentemente inadvertido. Se o paciente oferece algum insight em sua conduta e então pergunta ao entrevistador: “Está bem assim?” - a resistência está agindo , independentemente da quantidade de afeto colocado. Embora o insight possa ser válido, o comentário releva a preocupação do paciente com a conformidade ou aprovação do entrevistador.
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Sempre que a pergunta “por que?” vir à mente do psicanalista, este poderá pedir ao paciente que se explique melhor ou que ofereça mais pormenores. Perguntando: “O que aconteceu exatamente?” ou “Como se produziu isto?”.
Qualquer pergunta que sugira a resposta que o psicanalista está procurando será um convite à intelectualização. Além disso, dará ao paciente a idéia de que o psicanalista não está interessado em seus verdadeiros sentimentos e sim tentando enquadrá-lo numa categoria de livro didático.
“Por que motivos supõe que fico tão furioso quando Jane está em casa?”. Qualquer tentativa de tratar a pergunta manifesta encoraja a intelectualização. Se o entrevistador permanecer calado, o paciente, em geral, continua falando.
A preocupação do paciente com uma fase de sua vida, tais como sintomas, acontecimentos presentes ou história passada, é resistência notória. Concentrar-se sobre os sintomas é muito mais comum nos pacientes psicossomáticos e nos fóbicos.
É freqüente a resistência dos obsessivos ao concentrar-se em detalhes triviais e, ao mesmo tempo, evitar os temas importantes. Se o entrevistador comenta esta conduta, o paciente insiste que o material é pertinente e tal informação deve ser incluída a título de “antecedentes”.
A manifestação de afeto pode servir de resistência à comunicação significativa. Os pacientes histéricos são comumente hiper-emocionais; afetos tais como aborrecimento são mais próprios dos obsessivos. O histérico serve-se da emoção, utilizando-a para afastar afetos dolorosos mais profundos. Por exemplo, a cólera constante pode servir de defesa contra o orgulho ferido. As “sessões felizes” freqüentes indicam resistência mediante a qual o paciente obtém, durante a sessão, gratificação emocional suficiente para afastar a depressão ou a ansiedade.
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A conduta sedutora tem por objetivo agradar e gratificar o entrevistador, ganhando, desse modo, seu amor e proteção mágica - ou desarmá-lo -, obtendo poder sobre ele. São ilustrativas as perguntas como: “Gostaria de ouvir um sonho?” ou “Está interessado num problema a respeito de sexo?”. O entrevistador poderia replicar: “Estou interessado em qualquer coisa que você tenha vontade de discutir”. Se semelhantes perguntas ocorrerem repetidamente, poderá acrescentar: “Parece preocupar-se com o que me interessa ouvir”. Os diferentes “subornos” oferecidos ao entrevistador, como presentes ou conselhos, são exemplos comuns de resistência sedutora.
Os entrevistadores principiantes sentem-se, muitas vezes, ansiosos pelas propostas sexuais manifestadas ou encobertas. Freqüentemente estas propostas envolvem psicanalista do sexo masculino e paciente do sexo feminino. O psicanalista bem sabe o que significa tal proposta e reconhece-a como resistência. O que se oculta, então, sob sua ansiedade? Geralmente sente-se culpado porque lhe agradou o convite e teme que seu sentimento possa interferir com o tratamento adequado da paciente. Com freqüência isto é revelado.
Outros exemplos de acting-in estão implicados na conduta do paciente durante a entrevista, inconscientemente motivada para afastar sentimentos ameaçadores, no mesmo tempo que permite descarga parcial de tensão. Ilustrações comuns são o acender um cigarro, deixar a entrevista para ir ao banheiro, caminhar pelo consultório.
Acting-out é uma forma de resistência na qual os sentimentos ou impulsos relativos ao tratamento ou ao psicanalista são deslocados para outra pessoa ou situação fora da terapia. A conduta do paciente é habitualmente egossintônica e implica o acting-out das emoções em lugar de sua experimentação como parte do processo terapêutico. Sob o ponto de vista genético, esses sentimentos implicam o redesempenho de experiências infantis que agora voltam a criar-se na relação transferencial, sendo então deslocadas para o mundo exterior. Dois exemplos comuns são de pacientes que discutem seus problemas com outras pessoas que
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não o psicanalista e daqueles que deslocam sentimentos transferenciais negativos para outras figuras autoritárias. A resistência do superego é comum em pacientes depressivos, já que estes somente aceitam “insights” e interpretações para mais flagelar-se. Dizem então: “De que adianta ?” ou “Estou desesperado; não faço nada certo”.
A entrevista é mais eficaz se organizada ao redor de indícios proporcionados pelo paciente e não pelas linhas gerais do exame psicanalítico.
Uma auto-imagem profissional é adquirida pela identificação com os mestres. O jovem psicanalista freqüentemente imita gestos, maneirismos e entonações do supervisor a quem admira. Quanto mais intensos os padrões neuróticos do psicanalista e quanto mais o paciente se assemelhe realmente a tais figuras, maior a possibilidade de respostas de contratransferência. Outro problema contratransferencial comum, provém do fracasso do terapeuta em reconhecer as ocasiões em que o aparente “ego observador do paciente” não passa realmente de uma simulação transferencial. O resultado é uma terapia excessivamente intelectualizada, relativamente despida de emoções. Observações desse tipo menosprezam os sentimentos do paciente. Ainda que a neurose de transferência implique na repetição de atitude do passado, a resposta emocional é real; de fato, freqüentemente, por necessitar de menor defesa, é mais forte do que teria sido na situação original. O constrangimento do terapeuta com as reações intensamente emocionais do paciente poderia levá-lo a defesas sutis.
PAPEL DO ENTREVISTADOR.
A função mais importante do entrevistador é ouvir e compreender o paciente para poder auxiliá-lo. Um aceno ou um “an-hã” serão suficientes para o paciente
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saber que o entrevistador está prestando atenção . Além disso, um comentário simpático, no momento oportuno, ajuda a estabelecer a harmonia. O psicanalista poderá servir-se de expressões como “naturalmente”, “compreendo” ou “claro” para apoiar atitudes comunicadas pelo paciente. Quando o sentimento deste último é bastante evidente, o psicanalista pode demonstrar sua compreensão.
O impacto de uma interpretação sobre um paciente pode ser considerado de três maneiras principais: primeiro, o significado do conteúdo de interpretação sobre os conflitos e defesa do paciente ; segundo, o efeito da interpretação sobre a relação transferencial; terceiro, o efeito sobre a aliança entre o psicanalista e a parte sadia e observadora do ego do paciente. Toda a interpretação atua nas três áreas, embora, algumas vezes, mais em uma que nas outras.
As recordações precoces revelam as impressões emocionais mais duradouras do paciente a respeito de sua infância e estão muitas vezes dinamicamente relacionadas com os aspectos dominantes da estrutura do caráter . Os sonhos, principalmente aqueles repetitivos, e as fantasias recordadas do passado elucidam a vida emocional profunda de cada período do desenvolvimento. As mesmas recomendações servem para os professores..., sendo que cada um tem que buscar o seu estilo próprio...
Princípios Gerais da Psicodinâmica
No marco de referência psicodinâmico, a conduta é vista como produto forças ou impulsos mentais hipotéticos e dos processos psicológicos que regulam, inibem ou canalizam. Os pensamentos e sentimentos são importância capital e a conduta manifesta é compreendida em termos
de os de de
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processos psicológicos profundos, que são inseridos através das palavras e atos do paciente.
Uma formulação psicodinâmica oferece meios de descrever estados mentais anormais, compreender suas origens e desenvolver base racional para o seu tratamento. Ainda que se torne possível desenvolver uma teoria do comportamento abrangendo as causas e as curas da enfermidade mental, ignorando a psicodinâmica, ninguém foi ainda capaz de fazê-lo. Além disso, assim como a entrevista é o principal instrumento da psicanálise, a psicodinâmica permanecerá sendo a ciência básica essencial. No momento, proporciona também a mais ampla compreensão da patologia, da patogênese e do tratamento.
PRESSUPOSTOS BÁSICOS DE PSICODINÂMICA E PSICANÁLISE MOTIVAÇÃO A conduta é considerada como intencional ou dirigida a um fim e como produto de hipotéticas forças: instintos, tendências, impulsos ou motivações.
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Estas últimas são representadas subjetivamente por pensamentos e sentimentos e, objetivamente, por uma tendência para certos tipos de ação. A fome, o impulso sexual e a agressão são exemplos de motivações importantes.
A fase inicial da psicanálise preocupou-se amplamente com a procedência das motivações humanas básicas e, especificamente, com o desenvolvimento de um modelo que pudesse relacioná-las com suas raízes biológicas. Freud serviu-se do termo alemão trieb, que tem sido habitualmente traduzido como instinto, para referir-se àqueles impulsos básicos, que presumiu, contivessem uma fórmula de “energia psíquica”.
Para muitos, a base biológica da motivação é um problema fisiológico que .não pode ser explorado pela psicanálise, ciência psicológica. De qualquer modo, é questão de não estar diretamente ligada à entrevista. No momento em que a criança é capaz de falar, sofre já fortes impulsos que se apresentarão por toda sua vida e que formam o fundamento de nossa compreensão de sua conduta em termos psicodinâmicos. A extensão em que estes impulsos são constitucionais ou adquiridos tem grande importância teórica, mas pouca importância clínica.
FIXAÇÃO E REGRESSÃO As experiências infantis são decisivas ao condicionar a conduta do adulto. A psicopatologia neurótica pode, freqüentemente, ser percebida como o retorno de fragmentos ou padrões de conduta que prevaleceram, muitas vezes, adequadamente na infância, mas que representam má adaptação no adulto. A regressão refere-se a este retorno a um modo anterior de adaptação, enquanto a
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fixação descreve a incapacidade de amadurecer além de determinado estágio de desenvolvimento, habitualmente associado a uma idade mais precoce. Ambas, são processos seletivos e afetam apenas determinados aspectos da função mental. Resulta que o indivíduo neurótico apresenta uma mescla de padrões de conduta, ora apropriados para a idade, ora regressivos. Por exemplo, suas funções cognitivas poderão não estar prejudicadas, mas ter fantasia imatura da vida sexual. O adulto mais normal apresenta alguma conduta característica dos estágios primitivos de desenvolvimento, enquanto o paciente mais enfermo conserva alguns aspectos de funcionamento amadurecido.
A fixação e a regressão podem afetar as motivações, as funções do ego, os mecanismos da consciência ou qualquer combinação destas. Freqüentemente, a mais importante indicação de patologia, especialmente em crianças, não se constitui pela extensão da regressão, mas pela irregularidade com que afetava alguns processos psicológicos, enquanto poupava outros. A regressão é universal durante a doença, stress, o sono, o prazer intenso, o amor, o forte sentimento religioso, a criatividade artística e muitos outros estados fora do comum, não sendo patológica nessas situações. Realmente, a capacidade de regredir e empregar de modo adaptativo essa experiência regressiva é pré-requisito essencial para o pensamento criador, para a compreensão empática e até para conduzir uma entrevista psicanalítica. A capacidade de sentir o mesmo que o paciente e ao mesmo tempo, observar e estudar tal sentimento é a essência da arte psicanalítica e excelente exemplo de regressão a serviço dos aspectos mais amadurecidos da personalidade.
O indivíduo ansioso está consciente dos sentimentos profundos, difusos, desagradáveis e antecipados de medo ou pavor. Sua função cognitiva está prejudicada e ele, provavelmente, preocupado com fantasias de proteção ou fuga mágicas. Sua conduta manifesta é dominada por suas próprias e características reações à ameaça: luta, fuga ou rendição impotente. Há alteração na pulsação, pressão arterial, ritmo respiratório, função gastrintestinal, controle da bexiga, função endócrina, tônus muscular, atividade elétrica do cérebro e outras funções psicológicas. Nenhum desses fenômenos constitui por si mesmo uma emoção, mas a síndrome, como um todo, forma o estado do organismo que chamamos de ansiedade.
As emoções ocupam posições intermediárias entre os mais elementares princípios reguladores do prazer e da dor e o mais abstrato pensamento racional. Desempenham papel importante no desenvolvimento da personalidade como um todo, especialmente no dos sintomas, o que será explorado mais minuciosamente, adiante.
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A ansiedade resultante de conflito entre um desejo e um temor inconsciente é dos sintomas mais comuns de perturbação psicológica. É a feição dominante da clássica reação de ansiedade e é também encontrada em muitas das neuroses sintomáticas. No entanto, algumas pessoas que apresentam psicopatologia neurótica sintomática e, muitos indivíduos com perturbação de personalidade ou de caráter experimentam pouca ou nenhuma ansiedade. Seus problemas manifestam-se por fobias, obsessões, compulsões, fenômenos de conversão ou diversos traços de caráter e a ansiedade por tornar-se parte menos importante do quadro clínico, podendo mesmo estar completamente ausente.
Os mecanismos específicos de defesa não são propriamente mais psicóticos que neuróticos, nem mais patológicos que sadios. No entanto, alguns mecanismos mentais, inclusive a projeção e a negação, são comumente associados aos processos psicóticos. Interferem com as funções autônomas do ego e com a percepção da realidade e, por esse motivo, estão estreitamente ligados à psicose. As alucinações e as ilusões constituem graves perturbações na percepção da realidade, enquanto os delírios representam sérios distúrbios na comprovação da realidade. Esses três sintomas estão habitualmente associados à psicose. No entanto, distúrbios mais sutis, no sentido subjetivo do mundo “real”, tais como a desrealização ou a despersonalização, são tão comuns em neurose como em psicose. Além disso, todos os sintomas neuróticos, na medida em que originam má adaptação, rompem de certo modo com o sentido da realidade. Contudo, este contato deficiente das neuroses com a realidade é mais circunscrito e não afeta a maioria das áreas de vida do paciente. A psicose não é fenômeno constante e muitos pacientes entram e saem dos estados psicóticos em períodos de dias ou semanas ou, mesmo, dentro de uma única entrevista. Com freqüência, o dilema está em trabalhar com os conflitos e problemas do paciente e, ao mesmo tempo, proporcionar suficiente apoio emocional para que o stress da terapia não empurre para a psicose.
O ideal do ego, geralmente considerado componente do superego, refere-se aos objetivos e aspirações que o indivíduo desenvolve através da identificação com os pais e que são aperfeiçoados e modificados através do contato posterior com os companheiros e o ambiente. O ego é o órgão executivo da mente, mediador entre as demandas internas das motivações determinadas biologicamente (id), os objetivos e valores
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determinados socialmente (superego) e as demandas externas da realidade. É a via final comum que integra todos os elementos condicionantes e, então, controla a resposta do organismo. O ego desenvolve-se através da interação entre a psique infantil em amadurecimento e a realidade externa, especialmente em relação à porção de realidade interna compreendida por outras pessoas significativas. Há, de um lado, o despontar de um potencial biológico para a memória, o aprendizado, a percepção, a cognição, a comunicação e outras funções vitais de adaptação, e, de outro lado, um meio ambiente altamente especializado, composto de mecanismos gratificantes de necessidades e controladores de estímulos, contidos dentro de um objeto humano, a mãe atenta e compreensiva. Outras necessidades desenvolvem-se como resultado do comprometimento social e são determinadas pelas exigências sociais. O status, o prestígio e o poder são exemplos de objetivos relacionados com essas necessidades. A teoria psicanalítica clássica considerá-los-ia parte do id, já que se deixam relacionar basicamente com fatores biologicamente determinados. Freud descreveu a atividade mental primitiva do id e do ego inconscientemente mediante a expressão “processo primário” – em oposição ao “processo secundário”, pensamento do ego adulto consciente. O pensamento de processo primário é infantil, pré-lógico, centrado em si mesmo. É controlado pelo princípio do prazer, tolera contradições e incoerências e emprega mecanismos mentais como a simbolização, a condensação e o deslocamento. O pensamento de processo secundário, ao contrário, é lógico racional, centrado na realidade, dirigido a um objetivo e relativamente livre de controle emocional. A maioria dos processos mentais combinam elementos de ambos. O superego é também influenciado pelos substitutos parentais como professores, companheiros e sociedade em geral. Isto é mais verdadeiro para o ideal do ego.
REALIDADE
O mundo real influencia as funções psicológicas apenas no modo como são registradas e percebidas pelo indivíduo. Isto pode ser ilustrado considerando o aspecto mais importante da realidade externa, isto é, a realidade social de outras pessoas importantes. Um indivíduo reage não à mãe ou ao pai real e sim às representações internas do objeto o que, inevitavelmente, implica alguma
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distorção. Esta diferença crucial tem sido reiteradamente mal interpretada, mesmo pelo próprio Freud. Durante sua infância, os pacientes neuróticos freqüentemente consideram os adultos sumamente sedutores ou insensivelmente indiferentes. A conclusão é que a realidade deve ser considerada como outra estrutura psíquica, sensível ao meio ambiente externo, que faz supor, porém, uma interpretação pessoal criadora para qualquer indivíduo determinado.
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RYCKROFT, C, Dicionário
Crítico de Psicanálise.
Imago, R