Educação em rede v. 2 - Mediação de linguagens nas Salas de Ciências

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Educação em Rede

Volume 2

Mediação de linguagens nas Salas de Ciências Serviço Social do Comércio Departamento Nacional Rio de Janeiro Setembro de 2012


SERVIÇO SOCIAL DO COMÉRCIO Presidência do Conselho Nacional

Antonio Oliveira Santos

Departamento Nacional Direção-Geral

Maron Emile Abi-Abib Divisão Administrativa e Financeira

João Carlos Gomes Roldão

Divisão de Planejamento e Desenvolvimento

Álvaro de Melo Salmito

Divisão de Programas Sociais

Nivaldo da Costa Pereira

Consultoria da Direção-Geral

Juvenal Ferreira Fortes Filho

PUBLICAÇÃO

PRODUÇÃO EDITORIAL

Coordenação

Assessoria de Divulgação e Promoção/DG

Christiane Caetano

Gerência de Educação e Ação Social/DPS

Maria Alice Lopes de Souza

Supervisão Editorial

Fernanda Silveira

Equipe do Projeto SESCiência

Ana Carolina de Souza Gonzalez Andres Salomon Cohen Sebilia

Projeto Gráfico

Gerência de Desenvolvimento Técnico/ Divisão de Planejamento e Desenvolvimento

Preparação e Edição

Ana Cristina Pereira (Hannah23)

Márcia Alegre Pina

Márcia Capella

Versão em Inglês

Idiomas & Cia

Organização do Evento

André Souto Witer Elizabeth Haier Maia Melo

Editoração

Ingrafoto Produções Gráficas Revisão de Texto

Elaine Bayma Clarisse Cintra

Produção Gráfica

Celso Mendonça Estagiários

Adonis Nóbrega (Produção Editorial) Thiago Oliveira (Design)

FICHA CATALOGRÁFICA Mediação de linguagens nas salas de ciências. – Rio de Janeiro : SESC, Departamento Nacional, 2012. 164 p. : 23 cm. – (Educação em rede ; v. 2) Inclui bibliografia. ISBN 978-85-89336-79-6.

1. Salas de ciências – Estudo e ensino. 2. Mediação. 3. Projeto SESCiência. I. SESC. Departamento Nacional. II. Série. CDD 507

Impresso em setembro de 2012. Todos os direitos reservados e protegidos pela Lei 9.610 de 19/2/1998. Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida sem autorização prévia por escrito do SESC — Departamento Nacional, sejam quais forem os meios e mídias empregados: eletrônicos, impressos, mecânicos, fotográficos, gravação ou quaisquer outros. ©SESC Departamento Nacional Av. Ayrton Senna, 5555 — Jacarepaguá Rio de Janeiro — RJ CEP 22775-004 Tel.: (21) 2136-5555 www.sesc.com.br


“Hoje não é o bastante dizer que estamos em rede, mas é necessário observar a própria atuação dessa rede como geradora de conteúdos dela mesma, auto-organizadora e autosselecionadora, em uma comunicação de muitos para muitos, berço da pósmodernidade ou contemporaneidade.” — Brasilina Passarelli, coordenadora científica da Escola do Futuro da Universidade de São Paulo



A educação a distância é uma realidade desde o século 19, quando o processo de ensino-aprendizagem tinha como base a troca de correspondências entre alunos e professores. Nas últimas décadas, as tecnologias de informação e de comunicação trouxeram novas perspectivas para essa atividade, fortalecendo a democratização do acesso às ações educativas e encurtando ainda mais as distâncias entre educadores e educandos. O SESC não poderia ficar à margem desse processo e, desde 2006, faz uso das tecnologias para unir em tempo real especialistas e profissionais de destaque nas áreas programáticas e as equipes das Unidades Operacionais da Entidade em todo o país, que cumprem a missão institucional em seu trabalho diário. Esse foi o pressuposto que orientou o planejamento e a realização do curso Mediação de Linguagens nas Salas de Ciências: seu papel sociocultural e inclusivo, que tem nessa publicação seu produto final, fruto da contribuição teórico-metodológica dos assessores e da experiência prática e vivencial das equipes de mediadores das Salas de Ciências do Projeto SESCiência. O presente material compila fontes de estudo para fazer pensar e repensar sobre a importância da formação continuada de profissionais e estudantes que têm como meta a popularização da Ciência, além de difundir o desempenho do SESC nas ações nacionais de divulgação científica. O estabelecimento do diálogo entre os diferentes atores envolvidos, a expressão de pensamentos e a produção compartilhada de conhecimentos transformam as ações de capacitação via videoconferência em práticas sociais significativas.

Maron Emile Abi-Abib Diretor-Geral do Departamento Nacional do SESC

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Sumário PREFÁCIO

10

INTRODUÇÃO A videoconferência na formação continuada das equipes que trabalham nas Salas de Ciências do projeto SESCiência: o diálogo simultâneo com todas as regiões do país

Ana Carolina de Souza Gonzalez, Andres Salomon Cohen Sebilia e André Souto Witer 14

Parte I: Contribuições para a popularização da Ciência: atores, funções e possibilidades Perspectivas e inovações em divulgação e educação científica Antonio Carlos Pavão

24

Conhecer, questionar, duvidar, refletir, interferir...

Fátima Brito

32

A popularização da cultura científica por meio dos Centros e Museus de Ciência – a experiência com unidades móveis

José Ribamar Ferreira

42

Museus e educação: discutindo aspectos que configuram a didática museal

Martha Marandino

54

O papel educativo dos Museus e Centros de Ciência e a contribuição desses espaços para a aprendizagem científica

Vânia Rocha

66


Parte II: O olhar institucional sobre a mediação e os mediadores Os mediadores das Salas de Ciências do projeto SESCiência: formação inicial e expectativa de atuação

Ana Carolina de Souza Gonzalez Andres Salomon Cohen Sebilia

82

Parte III: A fala coletiva das Salas de Ciências: do intangível às experiências práticas Experiência em mediação — Departamento Regional do SESC no Distrito Federal

Adrianne F. da Silva, Bruno C. A. de Azevedo, Demétrius Leão, Diogo B. Sousa, Leila da S. V. Claro, Patrícia J. C. de Souza Martins, Priscila B. de Morais e Valéria A. Sales 94

Experiência em mediação — Departamento Regional do SESC no Ceará

Adriano Wilker Barboza Vasconselos. André Henrique Barbosa de Oliveira, Átilla Mendes Evangelista, Carolina Arruda Pantaleão, Cícero Avelino Lima, Emanuela Páscoa e José Ednaldo de Araújo Filho 110 Experiência em mediação — Departamento Regional do SESC no Amapá

Dayna Filocreão Malheiros, Jorge Emilio Henrique Gomes, Korassony Del Matias Franklin e Ruthe Martins Pedroso 124 Experiência em mediação — Departamento Regional do SESC em Roraima

Aloísia Vital, Caroline Coelho, Cíntia Michelle Correa, Melanie Kaline Truquete, Natalina Gavioli e Nilza Ferreira da Silva 134


Parte IV: Depoimentos de mediadores: percepções sobre o fazer e a permanente construção Entusiasmo e companheirismo

Jaceli Eccher

144

Somos finitos

Larissa de Araújo Dias

148

Física para todos

Luís Gustavo da Silva

152

Biologia na Sala de Ciências do SESC Florianópolis

Manoela Sezerino

156


Prefรกcio


“No deserto espacial, as primeiras moléculas envolvem-se em uma ronda ininterrupta e geram, nos arredores de uma galáxia modesta, um planeta singular.” — Hubert Reeves

Singular. Assim como nosso planeta, são os esforços aqui apresentados para que o conhecimento científico seja discutido e partilhado com a população. Mas é também plural. Plural nas suas estratégias, nos seus sotaques e temas, nos seus atores. Reconhecem-se como mediadores, monitores, estagiários, acadêmicos, graduandos, estudantes... Identidades plurais, como são as responsabilidades e atribuições que lhe são designadas. Atores que vêm e vão, que mergulham em um objetivo e que se formam no dia a dia, na relação com o público e com a equipe de trabalho. É preciso olhar para si para melhor enxergar o outro. Eles têm voz. E querem falar. Contar como é enfrentar esse nobre desafio, exercitar a criatividade e descobrir que estão sempre “em processo”. Essa publicação foi pensada para disponibilizar esse legítimo espaço da interlocução. Ainda que montanhas, rios e fronteiras os separem, muitos aqui se unem, aos nossos olhos. Na introdução desta publicação, o leitor será apresentado aos resultados da ação de capacitação por videoconferência que deu origem à publicação: objetivos, temas, palestrantes, alcance e avaliação. Na parte I, será possível encontrar cinco artigos de assessores que participaram como palestrantes da referida ação. São reflexões no campo teórico que inspiram as equipes das Salas de Ciências ao estudo contínuo, à inquietação do saber e à busca de referenciais que possam embasar cada ação. A parte II aborda o olhar institucional sobre o exercício da mediação e os mediadores das Salas de Ciências, trazendo reflexões para se pensar na multiplicidade de fatores que podem impactar no desempenho dessa função. Chegando à parte III, o leitor terá contato com quatro artigos escritos pelas equipes das Salas de Ciências do Distrito Federal, do Ceará, do Amapá e de Roraima. Esforços que representam todo o país, que trazem nos seus parágrafos a vontade de contar o que fazem, o histórico e o amadurecimento das práticas, frutos de um trabalho em equipe.

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11 Prefácio


Na parte IV, quatro ex-mediadores da Sala de Ciências de Florianópolis trazem seus depoimentos pessoais e apontam as atividades desenvolvidas, apresentando suas percepções sobre o trabalho diário, contando como foi seu percurso, a mudança de olhares, a vivência e a permanente reconstrução. É para esta união de estilos, formações, discursos e ópticas que convidamos o leitor a entrar e saborear. Boa leitura!

12 Prefácio

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Introdução A videoconferência na formação continuada das equipes que trabalham nas Salas de Ciências do Projeto SESCiência: o diálogo simultâneo com todas as regiões do paísi

Trabalho apresentado durante o 62o Encontro da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência — 2010 e o I Encontro da Associação Brasileira de Centros e Museus de Ciência — 2011, modificado e atualizado para esta publicação por Ana Carolina de Souza Gonzalez, Andres Salomon Cohen Sebilia e André Souto Witer.

i


Importância da ação no contexto das Salas de Ciências As Salas de Ciências do Projeto SESCiência são espaços que funcionam como Centros de Ciência de pequeno porte, onde os visitantes são estimulados a interagir com os equipamentos e construir um pensamento crítico e reflexivo, com embasamento científico, com a ajuda de estagiários mediadores. As Salas de Ciências atualmente em funcionamento estão distribuídas por todas as regiões do país e suas implantações aconteceram em diferentes períodos. As equipes locais de trabalho, figuras essenciais à manutenção da proposta, recebem in loco capacitação específica dos coordenadores nacionais somente à época da inauguração. Adicionalmente, segundo a legislação vigente, o período de estágio dos mediadores é de, no máximo, dois anos, o que implica a renovação constante da equipe (SESC, 2009). Tendo em vista a impossibilidade de realizar ações presenciais de capacitação sempre que os mediadores são substituídos, foi planejada a ação de capacitação, via videoconferência, intitulada “Mediação de linguagens nas Salas de Ciências: seu papel sociocultural e inclusivo”. “Considerando as barreiras impostas pela distância e buscando estabelecer processos de comunicação que possam atender às necessidades do ensino a distância, [...] a combinação de dados, voz e imagem deve ser salientada ‘para proporcionar’ [...] uma comunicação bastante rica com troca de informações bastante intensa” (PERIOTTO; COSTA; MALDONADO, 1997). A referida ação teve como objetivo proporcionar um espaço de troca e oferecer a necessária formação continuada das equipes, garantindo, assim, o alcance dos objetivos pedagógicos das Salas de Ciências.

Organização e estrutura do curso A capacitação que aconteceu presencialmente nas instalações do Departamento Nacional do SESC usou a plataforma IPTV, implantada também em núcleos do SESC em todos os estados, e foi composta de seis encontros, ocorridos em outubro de 2009. Cada reunião teve duração aproximada de 2h15, restando 15 minutos de intervalo e 30 minutos adicionais para abertura de discussões e interação com os participantes. As aulas, com a mediação da equipe técnica do Departamento Na-

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15 Introdução


cional do SESC, foram ministradas por professores convidados, todos profissionais renomados na área da divulgação científica. A equipe de palestrantes foi composta pelo Diretor do Departamento de Popularização e Difusão de Ciência e Tecnologia do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovavão, Ildeu de Castro Moreira; pela Coordenadora do Serviço de Educação em Ciências e Saúde do Museu da Vida/Fiocruz, Vânia Rocha; pelo Diretor do Espaço Ciência de Olinda, Antônio Carlos Pavão; pelo Coordenador do Ciência Móvel — Museu da Vida/Fiocruz, José Ribamar Ferreira; pela Diretora da Casa da Ciência/UFRJ e da Associação Brasileira de Centros e Museus de Ciência, Fátima Brito; pela Diretora do Museu de Ciências Morfológicas/ UFMG, Maria das Graças Ribeiro; e pela Vice-Diretora da Associação Brasileira de Pesquisa em Educação em Ciência e Coordenadora do Grupo de Estudo e Pesquisa em Educação não Formal e Divulgação em Ciência, Martha Marandino. Todos assinaram contratos de cessão de direitos de imagem.

16 Introdução

Esses profissionais usaram em suas palestras uma série de materiais de apoio para orientar as explanações, tais como apresentações em Power Point, trechos de vídeos, música, livros, modelos concretos, entre outros. Cada assessor sugeriu bibliografia complementar para consulta e estudo, previamente repassada às equipes. Os cinco encontros iniciais abordaram, respectivamente, as temáticas “Os Museus de Ciência e seu papel na melhoria da qualidade do ensino de Ciências”, “Perspectivas e inovações em divulgação e educação científica”, “As atividades desenvolvidas pelos mediadores”, “Inclusão nas Salas de Ciências” e “Experiências em mediação”. A última reunião foi usada para discussão entre as equipes e avaliação da ação entre os participantes em formulários pré-enviados. O formulário de avaliação reservou um espaço para autoavaliação e pesquisou também questões como relevância dos temas, oportunidade de reflexão diante da prática, aplicabilidade, qualidade do material, carga horária e organização do curso. Na avaliação de cada palestrante, o participante poderia julgar sua exposição, o domínio e a atualização e a associação da teoria com a prática.

Avaliação O curso recebeu 100 inscrições provenientes de 16 estados do país. Dos inscritos, 44 eram servidores dos SESC regionais, 40 estagiários e 16 convidados. Esse resultado foi julgado satisfatório, uma vez que as equipes das Salas de Ciências são constituídas basicamente de um coordenador local e dois estagiários mediadores por turno de atendimento. Considerando as que estão em funcionamento e a média

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de turnos de atendimentos em cada uma, o público esperado seria de aproximadamente 70 pessoas. A grande quantidade de inscrições pode denotar o interesse de profissionais do SESC de outras áreas de atuação pela temática da divulgação científica, bem como a participação de estados que ainda estão em vias de implantação de suas Salas de Ciências ou que se candidatarão a tê-las futuramente. Dos estados que não se inscreveram na ação ou se inscreveram e não participaram, 85% não têm salas implantadas nem em vias de implantação, o que pode justificar suas ausências. No entanto, todos os estados, seja em âmbito público ou privado, oferecem alguma iniciativa na área abordada no curso e, da mesma maneira, as equipes envolvidas necessitam de formação constante. Considerando-se que a ação era aberta a convidados, tais profissionais ou estagiários poderiam ter usufruído da possibilidade de contato com os renomados assessores.

INSCRIÇÕES

100

17 Introdução

14 participantes Estados 12 não participantes (85% sem Salas de Ciências)

16% Distribuição dos inscritos

44% 40%

Funcionários Estagiários Convidados

Do total de participantes inscritos, a média diária de audiência foi de 68,4 pessoas e, ao final da ação, 57 responderam ao formulário de avaliação de reação. Ressalta-se que apenas 26 participantes apresentaram, comprovadamente, frequência recomendada para certificação (mais de 70% dos encontros), o que pode estar relacionado à incompatibilidade do horário dos encontros com as outras atribuições do participante. Como todas as reuniões aconteceram no período da manhã, tal constatação fica ainda mais evidente no caso dos estagiários mediadores, que podem ser alunos de graduação no mesmo turno. Dos 57 participantes que responderam às 27 questões do formulário de avaliação, foram contabilizadas 1.541 respostas totais aos

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aspectos submetidos à apreciação, das quais 988 (64%) apresentaram a avaliação “ótimo”, 519 (34%) “bom”, 34 (2%) “regular” e nenhuma “ruim”. Adicionalmente, 100% desses participantes afirmaram indicar a referida ação a outros servidores do SESC. A

B

C

D

E

F

18 Introdução

Figura 1: Registros de diferentes momentos da ação: (A) janela na qual se apresentam os recursos de interação da ferramenta de videoconferência IPTV; (B) visão que os participantes nos estados têm durante as aulas, enquanto o Power Point está sendo usado. Na janela do recorte, a professora faz sua explanação; (C) mediação da equipe técnica do Departamento Nacional do SESC; (D) visão geral da sala onde aconteceu presencialmente a ação; (E) apresentação concreta de material criado para trabalhar de maneira tátil o tema “organelas citoplasmáticas”; (F) momento de interação com os participantes nos estados. 2

Todas as imagens foram obtidas a partir de print screen das gravações das aulas.

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Esses resultados traduzem a receptividade positiva da ação e o estabelecimento de um momento privilegiado para estudo e reflexão das práticas. INSCRIÇÕES

100

Média diária de audiência

68,4%

Certificados

26%

Responderam à avaliação

57%

2%

Resultado geral da avaliação (1.541 respostas a 27 questões)

34%

Ótimo Bom Regular 64%

Indicariam a ação

100%

Conclusões Sabe-se que certos tipos de ações presenciais são imprescindíveis quando se deseja uma reflexão in loco, considerando as realidades individuais, passíveis de ajustes, que levam em conta determinado contexto. Embora ainda em discussão na literatura, as necessidades locais parecem ser mais bem detectadas e as correções de possíveis desvios mais eficientemente implementadas quando é estabelecido o vínculo de proximidade. No entanto, quando são enfocadas a abrangência de atuação das Salas de Ciências, a heterogeneidade das equipes de trabalho e a renovação constante dos estagiários mediadores, é possível perceber a contribuição que a ferramenta de videoconferência pode dar à formação continuada desses atores. “Hoje a comunicação passa a assumir outro status nos processos educacionais, já que os dispositivos midiáticos tornam-se necessários para que haja uma diversidade de disponibilização e utilização da informação nos processos de ensino-aprendizagem” (PEÑA; ALLEGRETTI, 2007). Além disso, seria inviável prover presencialmente todas as equipes das salas de uma formação com esses assessores de referência se não fosse por uma metodologia a distância.

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19 Introdução


A ação apresentada materializou a possibilidade de que todos os atores das Salas de Ciências no Brasil se vissem e trocassem impressões e relatos em tempo real. Embora treinados sob a mesma proposta pedagógica e trabalhando por um objetivo comum, ainda não há um diálogo estabelecido entre as distintas equipes, caracterizando um momento privilegiado de compartilhamento de experiências. A presente publicação — que une de maneira teórico-prática artigos produzidos por cinco assessores, as realizações e experiências em mediação de cinco Departamentos Regionais e o depoimento de quatro mediadores — é o produto final dessa ação, que se constitui em apoio e inspiração para subsidiar as futuras implantações de Salas de Ciências, além de oferecer suporte para o trabalho nas salas que estão em funcionamento. Adicionalmente, esse material apresenta substrato para formação de equipes e troca de experiências entre profissionais de Centros e Museus de Ciência de todo o país, que comungam dos mesmos objetivos e trazem como missão a tarefa de popularizar os conteúdos científicos e tecnológicos. 20 Introdução

REFERÊNCIAS

PEÑA, M. D. J.; ALLEGRETTI, S. Ação docente, tecnologia e ambiente virtual de videoconferência. In: VIRTUAL EDUCA BRASIL 2007, 2007, São José dos Campos. Anais eletrônicos. São José dos Campos, 2007. Disponível em: <http://aveb.univap.br/opencms/opencms/sites/ve2007neo/ptBR/chamada/Trabalhos_Aprovados_-_Resumos_2.html>. Acesso em: 10 mar. 2011. PERIOTTO, A. J.; COSTA, G.; MALDONADO, Y. A videoconferência aplicada ao ensino a distância. Revista Tecnológica, n. 6, p. 31-42, 1997. SESC. Departamento Nacional. Modelo Programa Especial de Bolsas de Estágio: módulo de orientação para implantação e desenvolvimento. Rio de Janeiro, 2009.

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Parte I

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Contribuições para a popularização da Ciência: atores, funções e possibilidades Educação em Rede

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Perspectivas e inovações em divulgação e educação científica Antonio Carlos Pavãoi

Mestre em Físico-Química, Doutor em Química e professor da Universidade Federal de Per-

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nambuco. Diretor do Espaço Ciência, no Museu de Ciência de Pernambuco, e membro da Comissão Técnica do PNLD-Ciências do MEC, do CTC-Ensino Básico da Capes e do Comitê Assessor de Divulgação Científica do CNPq.

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RESUMO Em minha videoconferência para o Projeto SESCiência procurei destacar a importância social e política do conhecimento científico, a necessidade da apropriação de conceitos de C&T para o exercício da cidadania e o conceito do estudante (visitante) cientista. São aspectos que considero essenciais para serem trabalhados nas Salas de Ciências com o objetivo de democratizar o acesso à Ciência e oferecer um complemento prático e produtivo ao ensino. Neste artigo, procuro aprofundar o debate sobre esses aspectos e, assim, oferecer subsídios para o sucesso da estruturação, montagem e operação das Salas de Ciências do SESC. Palavras-chave: Educação popular. Transformação. Formação.

ABSTRACT In my videoconference for the SESCiência Project, I have tried to emphasize the social and political importance of scientific knowledge, the need of the appropriation of C&T concepts for citizenship exercise, and the concept of the student (visitor)-scientist. These are aspects I consider crucial to be worked out at the Science Rooms aiming at materializing its goals for the democratization of access to science and to offer a practical and productive complement to teaching. In this article, I try to deepen the discussion on these aspects and thus offer the means for the success of the structuring, setting up and operation of SESC’s Science Rooms. Keywords: Scientific knowledge. Citizenship exercise. Democratization.

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Produzir, educar e divulgar

26 Perspectivas e inovações em divulgação e educação científica

Tal como três quarks compõem a estrutura básica dos bárions, a produção, a educação e a divulgação da Ciência formam o tripé para a construção do conhecimento em benefício de um mundo melhor. A revolução científica iniciada no século 19 já trazia no seu seio o conceito indissolúvel de produção, divulgação e ensino, mostrando que cientista, professor e divulgador são a mesma pessoa. Galileu foi o primeiro grande exemplo, quando difundia as ideias de Copérnico, não em latim, mas como diálogos entre professor e alunos em italiano, a língua do povo (MORA, 2003). Boyle, ao publicar o The Sceptical Chemist, lança um verdadeiro libelo contra a comunicação hermética da alquimia e coloca a divulgação como essencial ao avanço do conhecimento científico. As publicações científicas que surgiram naquela época utilizavam padrões de comunicação em um estilo natural, simples e claro, portanto acessíveis a qualquer indivíduo interessado no assunto. As reuniões da Académie Royale e da Royal Society congregavam, sem distinguir cientistas, divulgadores, artistas e escritores. Faraday, além de seu talento como cientista, destacou-se como o maior conferencista científico de sua época (FARADAY, 2003), tornando-se referência e grande estímulo para que todos os cientistas façam algo semelhante. No entanto, com o avanço e consolidação das especialidades, essa “receita Faraday” foi sendo esquecida, confinando o cientista em seu laboratório, o professor em frente ao quadro-negro e o divulgador na mídia. Chegamos ao ponto em que o cientista que aceitasse dar entrevistas a jornal, rádio ou televisão era visto como um pagão que traía sua classe, pois o cientista devia manter sua sobriedade, publicar seus papers em revistas especializadas e pontofinal. Transmitir Ciência pela grande mídia comumente passou a ser considerado “picaretagem de pesquisador que quer aparecer”. Por seu lado, o professor foi reduzido à condição de mero repassador de informações. Foi humilhado por setores retrógados da academia com o mito preconceituoso de que “quem sabe pesquisa; quem não sabe ensina”. Felizmente, a crescente onda de divulgação científica no Brasil e no mundo tem contribuído para superar as diferenças entre os que produzem, os que ensinam e os que divulgam Ciência. Assim, hoje já podemos ver cientistas cada vez mais atentos e abertos às questões do ensino e da divulgação, professores promovendo verdadeiras pesquisas científicas nas escolas e, embora ainda em pequena quantidade, Museus e Centros de Ciência promovendo interessantes atividades de construção do conhecimento. Mas é preciso avançar nesse processo. E as Salas de Ciências do SESC devem contribuir para esse avanço.

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Quem detém o conhecimento detém o poder O desenvolvimento histórico tem mostrado a importância política e social do conhecimento científico, sendo cada vez mais evidente a relação entre conhecimento e poder. Mas foi somente a partir de Marx que o conhecimento adquiriu o caráter de ferramenta a serviço da compreensão do mundo e sua transformação (MOTA, 2003). A truculência do decreto do imperador Diocleciano ordenando “destruir os manuscritos dos egípcios para que eles não dominem a arte e se rebelem contra nós...” e a declaração nada ingênua de T. Jefferson “se uma nação espera ser ignorante e livre, espera o que nunca houve nem jamais haverá” são exemplos da necessidade de Ciência e Tecnologia para o desenvolvimento e sobrevivência de um país. Ciência e Tecnologia são alicerces para a soberania de uma nação e a qualidade de vida de seus cidadãos. O prestígio político do cientista cresceu nos últimos três séculos: Gay-Lussac foi deputado; Berthelot, senador; Thénard, barão; Dumas, ministro; Chaptal, conde; e, recentemente no Brasil, Goldenberg, Vargas e Rezende tornaram-se ministros de Estado. Também cresceu a consciência política, determinada pelo ser social, dos cientistas e dos homens. No entanto, com a explosão do conhecimento nos últimos dois séculos e a maneira ultrapassada de ensinar nas escolas e universidades, cada vez mais a população entende Ciência de modo ambíguo, “com respeito e admiração por um lado e medo por outro” (MEIS, 2002). Os meios de comunicação se ampliaram e, paradoxalmente, informaram e iludiram, produzindo a chamada vida retórica de fatos científicos (FAHNESTOCK, 2005). Cícero afirma que “seja qual for o tema de um discurso, da Arte ou da Ciência, se o orador dominá-lo, falará melhor e de maneira mais elegante do que o próprio criador/autor poderia fazê-lo” (PRETTO, 2004). Isto é, para poder falar (divulgar e ensinar) bem, é preciso conhecer bem sobre o tema. Acontece que hoje existe o discurso da propaganda fantasiado de discurso científico, que no comércio visa ganhar consumidores e na política, eleitores. Na escola, o ensino da Ciência tornou-se desinteressante, pouco útil e muito difícil, quase conseguindo matar o aluno de tédio. Sorte que, em essência, os interesses dos alunos e de todo e qualquer cidadão estão centrados na ação, no diálogo, na confrontação de ideias, no trabalho em equipe, na experimentação, na reflexão conjunta e na busca de novos questionamentos. Sendo assim, divulgar ou ensinar Ciências deve transmitir o caráter de empresa vital, humana, fascinante, indagadora,

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27 Perspectivas e inovações em divulgação e educação científica


aberta, tolerante, útil e criativa próprio da atividade científica (MARTINEZ; FLORES, 1997). Esse é outro aspecto fundamental que as Salas de Ciências do SESC devem sempre contemplar em suas ações.

O cidadão-cientista

28 Perspectivas e inovações em divulgação e educação científica

Não é difícil mostrar, prever ou entender em que medida a atividade científica-tecnológica participa e afeta nossa realidade diária. Sabemos que hoje há uma enorme mistificação da Ciência, e que a imagem do cientista para os alunos e para a sociedade é baseada em estereótipo, quase sempre representado por um Einstein descabelado e de língua de fora. Nos mestres, existe amplo espaço entre os que consideram importante fazer e o que realmente fazem. E nem sempre estão ou podem estar em consonância com conceitos atuais da teoria pedagógica e do conhecimento científico. O mesmo acontece na grande imprensa, que imagina “fazer a cabeça” do público. E como então veicular informação correta, precisa, adequada, atualizada e comprometida com a construção de uma sociedade mais justa? A resposta está no desenvolvimento permanente e integrado de três atividades características da construção do conhecimento útil e socialmente correto: a pesquisa científica, a educação para a Ciência e divulgação científica. A combinação equilibrada desses três eixos de atuação garante credibilidade e qualificação na produção e transmissão do conhecimento. Na prática, significa a implementação dos conceitos de cidadão-pesquisador, cidadão-aprendiz e cidadão-educador. É o reconhecimento de que o pleno exercício da cidadania requer o domínio de conceitos de Ciência e Tecnologia para que o indivíduo possa posicionar-se, por exemplo, a favor ou contra a clonagem humana, o uso de embriões na medicina, uma usina nuclear perto de sua casa, ou até mesmo, como um bom consumidor, saber melhor escolher um eletrodoméstico, celular, carro etc. É claro que o cidadão só poderá fazer bons julgamentos sobre as questões que o século 21 apresenta se aprender e dominar conceitos de Ciência. Precisa garantir-se como um cidadão-cientista.

Quem faz Ciência? Existe uma corrente de pensamento conservadora que não permite ao cidadão comum nem à criança o direito de fazer Ciência. Trata-se de uma concepção preconceituosa e típica do dominador. Pensamento semelhante acaba por mistificar a

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Ciência e considerá-la europeia ou norte-americana, branca, masculina ou deduzir que na América do Sul não se faz Ciência e que vivemos de copiar europeus ou norte-americanos. Mas quando alguém passa a ser um cientista? Quando faz o doutorado? Não, porque existem muitos cientistas que nunca obtiveram grau de doutor ou mesmo de mestre. E a maioria das grandes ideias veio de jovens cientistas que não eram doutores ainda. Será que alguém se torna cientista quando publica seu primeiro trabalho científico? Não necessariamente. E as pesquisas secretas que não resultam em publicações não são feitas por cientistas? Todos aceitam que faz Ciência o estudante que desenvolve um trabalho de iniciação científica na universidade. Do mesmo modo é reconhecido o aluno do Ensino Médio que apresenta seu trabalho. O próprio CNPq — Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico já reconhece como pesquisador o jovem estudante quando oferece bolsas para essa atividade científica. Mas será que no Ensino Fundamental não se faz Ciência? E na Educação Infantil também não? Ora, os trabalhos apresentados nas inúmeras Feiras de Ciências e outros eventos que acontecem no Brasil e no mundo mostram a rica produção científica e tecnológica de estudantes em todas as faixas de escolaridade. E é comum ver trabalhos de alunos e professores em revistas como Ciência hoje das crianças e em outras publicações dedicadas à educação para a Ciência como verdadeiros exemplares de pesquisas científicas. É ainda mais comum ver relatos em revistas, especializadas ou não, de experiências e outras atividades científicas bem-sucedidas desenvolvidas na escola. É também conhecida a participação de muitos pais de alunos em diversas dessas pesquisas. A concepção de que para ser cientista é preciso cumprir certos requisitos (ser doutor, mestre, ter mais de 15 ou 20 anos) é semelhante àquela que identifica o início do verão quando as pessoas saem de chapéu. Em uma visão equivocada de Ciência, afirma-se que a criança e o “pobre cidadão” não têm o nível de abstração necessário para se apropriar dos códigos da Ciência e, assim, construir novos conhecimentos. É uma visão típica de uma sociedade autoritária, baseada na submissão do indivíduo, uma sociedade mais característica do século 19 do que do 21. A escola entendida como um microcosmo da sociedade reflete as relações nela existentes. Queremos uma escola e um mundo com base na troca construtiva de ideias, nos quais aprender tenha uma dimensão lúdica e o conhecimento seja desejado

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e não imposto. As crianças são as que mais perguntam, as que mais respondem, as que mais ouvem... por que excluí-las? Qual é a dificuldade em educá-las para utilizar a metodologia científica de investigação e criação? Por que o Brasil é campeão de futebol? Certamente porque todos jogam futebol... Um menino quando nasce logo ganha de presente uma bola de futebol. Com grande quantidade de jogadores, ocorre a transformação da quantidade em qualidade: daí surgem os craques. Da mesma maneira, se no Brasil estudantes, professores e cidadãos estivessem fazendo Ciência, também teríamos muito craques e seríamos campeões em Ciência, em Tecnologia, em saúde, em educação, em cidadania e no bem-estar social. Nossa sociedade seria diferente dessa que aí está. Portanto, devemos ter coragem para mudar e tomar iniciativas. Que tal experimentar? Que tal saudar o estudante-cientista? E o cidadãocientista? Que tal descobrir o cientista que você e todos nós somos? Claro que as Salas de Ciências também serão palcos dessas preciosas e necessárias descobertas.

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Conclusão Vamos divulgar Ciência, promover debates, realizar oficinas, experimentos, exposições etc. sem tratar o visitante como um mero espectador ou receptáculo de informações, mas como alguém que está contribuindo para a construção coletiva do conhecimento. É o conceito de divulgar e educar fazendo Ciência em todo e qualquer lugar: universidades, escolas, museus, centros, clubes e outros espaços, em particular nas Salas de Ciências do SESC, permanentemente produzindo conhecimentos para a construção de um mundo melhor.

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Referências

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Conhecer, questionar, duvidar, refletir, interferir... Fátima Britoi

Graduada em Ciências Sociais pela Universidade Federal do Rio de Janeiro. Analista de

i

Tecnologia da Informação da Universidade Federal do Rio de Janeiro, Diretora da Casa da Ciência da UFRJ e Presidente da Associação Brasileira de Centros e Museus de Ciência. Faz parte da equipe de organização da série Terra Incógnita (livros sobre divulgação científica), coordena o projeto Caminhos de Darwin e a Semana Nacional de Ciência e Tecnologia no estado do Rio de Janeiro.

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RESUMO A Ciência é uma interpretação humana do mundo que nos cerca e interfere de modo quase inevitável em nosso cotidiano, dos grandes centros urbanos às cidades mais longínquas. Mas de que Ciência estamos falando? Qual a sua importância? Temos clareza de seus riscos e benefícios? Podemos participar e interferir no seu processo? Como entender esses códigos? Que influência tem em nosso cotidiano? Como ter acesso a essas informações? A tecnologia é para todos? Popularizar Ciência é uma questão de cidadania? Palavras-chave: Ciência. Influência no cotidiano. Popularização. Cidadania.

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ABSTRACT Science is a human interpretation of the world that surrounds us and interferes in our daily lives in an almost inevitable way, from the large urban centers to the most distant little towns. But which Science are we talking about? How important is it? Are its risks and benefits clear to us? Can we participate and interfere in its process? How can we understand these codes? What is their influence on our daily lives? How do we access the information? Is technology for everybody? Is popularizing science a matter of citizenship? Keywords: Science. Influence on daily life. Popularization. Citizenship.

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Eu quero tirar a ciência do domínio exclusivista dos sábios para entregá-la ao povo. — Roquete Pinto

O Brasil tem um território de dimensões continentais, uma diversidade cultural ainda pouco conhecida e uma população com interesses e necessidades muito distintas. Muitas são as línguas indígenas existentes, mas falamos, em maioria, um português cheio de sotaques e sonoridades que nos distingue em interesses e necessidades e nos transforma em um povo extremamente plural e, por isso, com diferenças e características muito próprias.

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Nos últimos anos, a área de popularização da Ciência tem crescido e se transformado no Brasil, principalmente nos Centros e Museus de Ciência, que têm diversificado seus campos de atuação, trazendo profundas mudanças em seus “fazeres” diários. Inicialmente, esses espaços eram muito semelhantes, mas, com o tempo, foram encontrando os próprios caminhos. Porém ainda é preciso um entendimento mais aprofundado sobre a particularidade da região, do estado, da cidade, da instituição e do visitante de cada Centro ou Museu de Ciência. São necessários olhares cada vez mais multifacetados, que explorem linguagens e temas multidisciplinares, com equipes compostas de profissionais de diferentes áreas, que participem efetivamente do processo de construção do trabalho: jornalistas, historiadores, designers, mediadores, cineastas, produtores culturais, educadores, sociólogos, comunicadores, pesquisadores, cientistas, administradores. Em 1999, foi criada a ABCMC — Associação Brasileira de Centros e Museus de Ciência, com o objetivo de articular espaços e profissionais que, na época, atuavam no campo da popularização da Ciência, em clara demonstração da importância que já se delineava sobre as atividades desenvolvidas por Centros e Museus de Ciência. A associação vem se fortalecendo ao longo dos anos e tem atuado ativamente nas discussões e nos debates sobre os temas da área. Outro marco importante no Brasil foi a criação do Departamento de Popularização e Difusão da Ciência e Tecnologia, ligado à Secretaria de Ciência e Tecnologia para a Inclusão Social, do Ministério da Ciência e Tecnologia. Políticas públicas, como a implementação de programas e o lançamento de editais, possibilitaram a identificação e a ampliação de ações em todo o território nacional e incentivaram governos estaduais e municipais, principalmente as Fundações de Amparo à Pesquisa.

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A Semana Nacional de Ciência e Tecnologia, criada em 2004 pelo Governo Federal, estimulou a participação expressiva, em todo o país, de universidades, institutos de pesquisa, empresas, rede escolar e órgãos federais, estaduais e municipais no desenvolvimento de atividades voltadas para o público. A cada ano se potencializa a participação de municípios brasileiros e cresce a quantidade de atividades e da população participante. Nesse período também foi criado o Comitê Temático de Divulgação Científica do CNPq para análise e julgamento de projetos, além da inclusão de área de conhecimento, demonstrando o reconhecimento e a importância dessa área na comunidade acadêmica. A popularização da Ciência é um movimento demandado pela sociedade e também por grupos de cientistas, pesquisadores e profissionais que há anos trabalham em um campo pouco reconhecido na comunidade científica. Recente pesquisa realizada pelo Ministério da Ciência e Tecnologia traz um dado alarmante: 96% da população brasileira nunca visitaram um Museu ou Centro de Ciência, por não existir esse tipo de espaço em suas cidades. A maioria desses espaços está localizada no Sul e Sudeste do país, nos grandes centros urbanos, e por isso é preciso dar continuidade a políticas públicas que possam também diminuir a desigualdade social, no que diz respeito ao acesso à Ciência, à Tecnologia e a informações sobre seu desenvolvimento.

Entre a instituição e o visitante O profissional que atua na relação entre Centros e Museus de Ciência e seus visitantes, principalmente em exposições, tem denominações diferentes: mediador, monitor, guia, anfitrião. As nomenclaturas escolhidas deixam claro como cada instituição quer se relacionar com seu público, pois remetem a significados distintos. Será que as instituições se questionam e discutem a nomenclatura escolhida? Será que esses profissionais discutem qual o seu papel na instituição e com o visitante? Será que o visitante entende o papel do profissional que o recebe? Como identificar, entender e atender a demanda desse visitante? Experiências distintas, que envolvem alunos de Ensino Médio, graduação e pós-graduação, professores da rede de Ensino Médio e Fundamental e também profissionais formados em diversas áreas trazem importantes elementos para uma reflexão profunda do fazer diário das instituições com seu visitante.

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A formação educacional deve permitir que sejamos eternos aprendizes nos mais diversos ambientes e situações e instigar o olhar atento, que abre o pensamento para a curiosidade e possibilita a liberdade de questionamento. A escola, os amigos, a família, o trabalho, a leitura e o lazer trazem um aprendizado diário sobre a vida. Nossas escolhas desenham o nosso “estar no mundo” e constroem um universo pessoal de conhecimentos.

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Anos de pesquisa e formulação de teorias — um universo de conhecimentos científicos — não cabem em um ambiente expositivo. Aqui também se definem recortes e se fazem escolhas. E como sintetizar tantas informações? Como entender rapidamente os múltiplos interesses do visitante, e adaptar a linguagem, atendendo às suas expectativas? Nesse contexto, o mediador tem papel fundamental na relação que se estabelece com o público. Mas a exigência que recai sobre ele, seja do público ou da instituição, pode ser excessiva quando pensamos na importância dessa atividade, no tempo de formação oferecido, na complexidade dos temas, que, por vezes, estão muito distantes de suas áreas de estudo, dos baixos valores das bolsas oferecidas e do fato de a maioria ter uma participação extremamente passageira nesses espaços. Os grupos organizados tendem a agendar visitas que sejam “guiadas”, as explicações em excesso tornam-se quase inevitáveis, o tempo é curto... E o mediador transita entre os interesses do professor e do aluno, entre a provocação, a informação e a explicação. Algumas vezes, os visitantes espontâneos se incluem nos grupos; em outras, solicitam explicações ou não querem companhia... E o mediador transita entre os interesses de diversos visitantes, entre despertar, informar e mostrar caminhos. Os grupos de portadores de deficiências diversas (visuais, auditivas, cerebrais e motoras) são presença constante e têm dificuldades no acesso às informações e instalações cenográficas. Não contam com profissionais especializados para que as visitas sejam exploradas de modo mais atraente e interessante. A adaptação e a inclusão de linguagens apropriadas (braile, libras, objetos em relevo, legendas, equipamentos especiais) não são suficientes para atender com mais qualidade esses visitantes. Um novo campo profissional pode se abrir nesses espaços, absorvendo profissionais portadores de necessidades especiais, inclusive como mediadores, e preparando equipes de maneira mais adequada para o trabalho. Afinal, o que fazer? Provocar, explicar ou mostrar caminhos? Despertar, informar ou ensinar? Mediar, guiar ou monitorar?

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Uma experiência de mediação Na Casa da Ciência — Centro Cultural de Ciência e Tecnologia da UFRJ, a Ciência é abordada sob a perspectiva da cultura, proporcionando um encontro com a arte e provocando o debate entre diferentes áreas do conhecimento. A opção por não ter uma exposição permanente e trabalhar com a Ciência no seu conceito mais global, trazendo, sempre que possível, as diversas áreas da Ciência de modo multidisciplinar tem proporcionado parcerias estimulantes e experimentação de formas e linguagens: mostras de filmes, sites, oficinas, artes cênicas, palestras, seminários, cursos, música e publicações. A apresentação de temas instigantes e atuais, por meio de exposições e atividades temporárias, de modo a estimular o público a formular perguntas, fazer as próprias descobertas e aguçar a curiosidade, tornou o espaço mais dinâmico e mais próximo do visitante. As ações não se limitam ao espaço físico da instituição, mas buscam ambientes que possibilitem interação mais explícita com a sociedade: manifestações populares, bares, ruas, cidades, festivais, encontros, feiras e escolas. Mas muitas questões permanecem em latente discussão. A opção de mediação conta com a participação de alunos de graduação de diferentes áreas, traz olhares diferenciados para o tema e reduz o discurso especializado e técnico, flexibilizando, assim, o atendimento ao público. Um dos aspectos mais positivos nesse trabalho é o envolvimento dos alunos em atividades que os aproximam de uma realidade distante daquela vivida no ambiente universitário. Isso possibilita uma reflexão sobre a atuação profissional e o papel no mundo que cada um virá a ter no futuro. Muitos descobrem a popularização da Ciência como um caminho possível para a formação acadêmica e profissional. As bolsas acenam para que a maioria consiga manter-se na universidade, sem, contudo, construir vínculos profissionais mais duradouros. Mesmo assim e apesar do tempo limitado e passageiro em que exerce a função, o mediador pode ter uma experiência transformadora para sua vida. As exposições e atividades se renovam em prazos muito curtos, mas mantêm uma dinâmica nos temas abordados. Pressupõe-se que um centro cultural funcione das 9h às 20h, incluindo sábados, domingos e feriados; com isso, mesmo em sistema alternado de grupos de trabalho, poucos são os mediadores que permanecem ativos e interessados após atuar em exposições por meses consecutivos. O mediador estabelece a conversa, o bate-papo, e a troca acontece no espaço em que o tema, os elementos cenográficos e as experiências tomam vida. O espaço humani-

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zado torna as relações e o trabalho mais próximos do real, da vida cotidiana, sendo possível experimentar, duvidar e descobrir. O mediador precisa ser capaz de trabalhar em equipe, estar disponível para o aprendizado múltiplo, ter clareza de suas limitações no que diz respeito às informações científicas e desenvolver a capacidade de comunicação com públicos plurais, entendendo a necessidade de adaptação de linguagem na perspectiva e no interesse do público. Ser quase um “super-homem”... Conscientes de que isso pode ser absolutamente excessivo para um único profissional e para facilitar o diálogo com o público, é oferecida uma capacitação que considera alguns pontos importantes para o trabalho com o público, que tem interesse diversificado. O programa de formação dos mediadores passa sistematicamente por mudanças, conforme se identificam áreas a serem exploradas. 38 Conhecer, questionar, duvidar, refletir, interferir...

Comunicação, Educação, Cultura, Ciência e Divulgação • Ciência múltipla e interdisciplinar • Ética na Ciência • Ciência no Brasil • História da divulgação científica • Teorias do conhecimento e aprendizagem • Comunicação e o diálogo com a Ciência • Interatividade — participar, refletir e questionar • Educação formal, não formal e informal • PCN — conceitos gerais e relação com a popularização da Ciência • Ciência e Cultura • Contextualização e história dos Centros e Museus de Ciência — Brasil e mundo • Pesquisa e avaliação — percepção pública da Ciência e sua popularização • Mediação • Avaliação • Políticas públicas: Cultura, Educação, Meio Ambiente, Minas e Energia, Saúde e Ciência e Tecnologia • Associações e organizações: ABCMC, ABJC, ABC, ABM, SBPC, Astec, RED POP e outras

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Público diversificado • Meninos de rua e meninos sem rua nos grandes centros urbanos • Portadores de necessidades especiais • Famílias • Especialistas • Grupos organizados — escolas, creches, terceira idade, igrejas, universidades. Interesses plurais e adaptação de linguagem

Desenvolvimento pessoal • Oralidade e expressão corporal • O desafio do trabalho em equipe • O papel do mediador • Dinâmicas de grupo

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Visitas técnicas Visitas a Centros e Museus de Ciência, museus históricos e de arte e centros culturais ou similares, para a troca de experiências sobre as perspectivas institucionais e diferentes metodologias utilizadas em ambientes distintos.

Imersão no tema Pesquisa, palestras, debates e workshops sobre os conteúdos, questões polêmicas, riscos e benefícios, planejamento da mediação.

Segurança Primeiros socorros e brigada de incêndio

Para refletir, rever e reestruturar Pensar diferentes maneiras de popularizar a Ciência e integrá-la à educação é também um desafio para os profissionais de Centros e Museus de Ciência, que têm tido papel fundamental nesse processo. Sabemos que muitas são as realidades existentes no país, onde cada instituição desenvolve seu trabalho considerando o

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público visitante e as necessidades colocadas regionalmente pela população. Independentemente das escolhas, não podemos perder de vista as reflexões existentes sobre o papel desses espaços na vida cultural, educacional e social de uma cidade, de um estado e do país. Essa conceituação vem se construindo, de modo muito particular e diferenciado, em cada um dos Museus e Centros de Ciência brasileiros. Provocar a curiosidade, desenvolver caminhos que levem o cidadão a questionar e refletir sobre o mundo que o cerca, trazer a Ciência para o cotidiano do visitante, propor intercâmbios institucionais, disponibilizar informações científicas e aprofundar a reflexão sobre esses conceitos proporcionam uma visão multi e interdisciplinar da Ciência.

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Geralmente o público é variado, e é desafiante desenvolver atividades que envolvam visitantes com interesses diversificados. Reconhecer e entender a limitação colocada por essa diversidade pode ser elemento motivador para experimentar formas, conceitos, ideias e linguagens, não cristalizando nossas ações em um único modelo. A mediação sempre é considerada uma das principais atividades nos Centros e Museus de Ciência, pois é quem representa a instituição junto ao público que a visita. Apesar disso, esses profissionais costumam não fazer parte da equipe fixa, têm contratos transitórios e, na maioria dos casos, têm bolsas concedidas a alunos de cursos de graduação. Alguns espaços já têm profissionais com formação superior, contratados para desenvolver especificamente o trabalho de mediação. E isso traz à tona novas questões. A mediação pode ser uma futura profissão? É importante manter alunos de graduação e Ensino Médio na mediação, como experiência para sua formação profissional e cidadã? E proliferam perguntas com gosto de respostas diferentes. Como envolver os mediadores na concepção das atividades? É possível planejar a mediação sem a participação efetiva desses profissionais? Como manter uma equipe de mediadores com formação diferenciada? Como oferecer um salário adequado ao tamanho da sua responsabilidade? É preciso profissionalizar? Como identificar a necessidade de readequação do trabalho da equipe? Como estabelecer um diálogo verdadeiro com o público? Como dizer “não sei”? Como falar de riscos e benefícios? Tantas perguntas representam um estímulo para a busca de novos caminhos. E, se continuarmos a fazer novas perguntas, é porque não cristalizamos nossos pensamentos.

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Referências

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A popularização da cultura científica por meio dos Centros e Museus de Ciência — a experiência com unidades móveis José Ribamar Ferreirai

Graduado em Engenharia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro e Mestre em En-

i

genharia Civil pela Universidade Federal Fluminense. É Tecnologista Sênior da Fundação Oswaldo Cruz, coordenador do Projeto Ciência Móvel — Vida e saúde para todos, conselheiro permanente da Associação Brasileira de Centros e Museus de Ciência e coordenador da Semana Nacional de Ciência e Tecnologia no Rio de Janeiro.

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RESUMO Pretende-se, neste trabalho, apresentar um breve relato do processo histórico de desenvolvimento da popularização da cultura científica por meio dos Centros e Museus de Ciência, internacionalmente e no nosso país, com especial atenção para os projetos itinerantes. Além da contextualização histórica do campo em estudo, se buscará identificar as questões relevantes que permitam uma visão panorâmica da área e suas perspectivas atuais. O objetivo é oferecer informações que contribuam para a visualização da evolução do campo da popularização da Ciência e o seu crescente diálogo com a sociedade, justifiquem os esforços realizados na construção e manutenção desse setor, lancem luz sobre suas múltiplas dimensões e sensibilizem o leitor para a importância da continuidade do processo de desenvolvimento da área. Palavras-chave: Cultura científica. Perspectivas da Ciência. Popularização da Ciência.

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ABSTRACT This work intends to present a brief report on the history process of the development of the scientific culture popularization through science centers and museums, both internationally and in our country, with special emphasis to the itinerant projects. Besides the historical contextualization of the field under study, we will proceed at the identification of relevant issues which allow a panoramic view of the area and its present outlook. The goal is to offer information which contribute to the preview of the evolution of science field popularization, its growing dialogue with society, which legitimate the efforts made in the building and maintenance of that sector, and cast some light over its multiple dimensions and sensitize the reader for the importance of following with the area development process. Keywords: Scientific culture. Perceptions of Science. Popularization of Science.

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O processo histórico de divulgação da cultura científica e os Museus de Ciência Do museión, a “casa das musas” — parte da biblioteca de Alexandria, com objetos de arte, instrumentos científicos e animais utilizados para fins religiosos e também para pesquisa e ensino — aos modernos Centros de Ciência deste início de milênio, os museus protagonizaram um papel central na aventura da democratização do conhecimento. Essa tradição da cultura grega não teve prosseguimento durante o Império Romano, só ressurgindo no fim da Idade Média, no período renascentista, que resgatou a importância de resguardar o conhecimento por meio da coleta de objetos. Essas coleções tinham um caráter heterogêneo, unindo, em um mesmo espaço, obras de arte, animais empalhados e conjuntos de espécimes botânicos, além de curiosidades e objetos raros (CRESTANA; CASTRO; PEREIRA, 1998). 44 A popularização da cultura científica por meio dos Centros e Museus de Ciência — a experiência com unidades móveis

As novas propostas estéticas e filosóficas do Renascimento, de revalorização da Antiguidade Clássica e de objetos profanos do seu patrimônio artístico e cultural, possibilitaram o surgimento das coleções, dirigidas a públicos crescentes ao longo dos últimos séculos. No início do século 18, Francis Bacon já propunha esse novo universo de Museus de Ciência e Tecnologia. Na Nova Atlantis, cidade imaginária, máquinas, instrumentos tecnológicos e experimentos científicos estariam expostos para exploração, encantamento e estímulo à descoberta do mundo natural e manufaturado. Nesse mesmo século, René Descartes e Wilhelm Leibniz defenderam ideias semelhantes. Essas ideias não tiveram consequência imediata, mas em 1683 surgiu o primeiro museu público de História Natural, na Inglaterra, na Universidade de Oxford, o Museu Ashmolean e, posteriormente, em 1759, o British Museum, em Londres. Em decorrência dos avanços científicos e tecnológicos da revolução industrial e do desenvolvimento das academias científicas, das universidades e das empresas em geral e também da necessidade de levar à sociedade esse novo cabedal científico e tecnológico, as ideias precursoras de Bacon, Descartes e Leibniz ganham força. Inicia-se uma moderna linhagem de museus, os Museus de Ciência e Técnica, com a fundação do Conservatoire National des Arts et Métiers, em Paris (1794).

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O Conservatoire lança o formato desses novos Museus de Ciência e Técnica. Em seguida, destaca-se o surgimento do Science Museum, originário da Exposição Universal de Londres de 1851. O Deutsches Museum (1903), de Munique, o Museum of Science and Industry (1933), de Chicago, e o Palais de la Découverte (1937), em Paris, são exemplos de uma nova geração de Museus de Ciência. Esses novos museus introduziam importantes novidades: o tratamento de princípios científicos e tecnologias contemporâneas, além da introdução da interatividade, com a superação da fase da simples contemplação. Oskar von Miller, organizador do Deutsches Museum, foi o precursor desse conceito de interatividade em Museus de Ciência, ao “ter a ideia de acrescentar ao acervo histórico modelos que funcionassem de modo simplificado, tais como equipamentos capazes de ser acionados pelos visitantes e que ilustrassem princípios das ciências, da engenharia e da indústria” (CAZELLI, 1992). Essa interatividade inicial ainda se restringia a pequenas intervenções manuais, do tipo push-button, que consistia em apertar botões e girar manivelas, e, no caso do Palais, em oficinas que permitiam um envolvimento maior do que a simples observação de objetos estáticos. Na década de 1960, Frank Oppenheimer desenvolveu uma nova perspectiva para a interatividade, mais abrangente que o push-button, que considerava limitado para estabelecer a conexão da manipulação com o raciocínio. Segundo ele, o museu interativo deveria se basear nos estudos da percepção sensorial humana. Concretizou essa ideia no Exploratorium, em São Francisco, EUA, inaugurado em 1969, que iniciou uma nova era do conceito de interatividade, o hands-on. O Exploratorium se transformou em um marco histórico de relação com o usuário, introduzindo, ainda, a inter e a multidisciplinaridade, envolvendo Arte, Ciência e Tecnologia. Essa proposta já defendia a busca do envolvimento do visitante como condição para promoção da cognição e também lançou as sementes para as novas perspectivas de interatividade, como o minds-on, o hearts-on e o social-on e influenciou e ainda influencia as novas gerações de Centros e Museus de Ciência desde então.

O processo brasileiro Apesar de outras periodizações com focos específicos, pode-se dizer que a Ciência e sua divulgação têm sua “irrupção” no Brasil com a chegada da Família Real, em 1808, que marca o “início explícito da institucionalização de alguns ramos da Ciência no Brasil” (OLIVEIRA, 2005). Assim, o nosso país se insere no movimento mundial de

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museus, seguindo as características dominantes do momento histórico dos museus europeus de então. São exemplos a criação do Jardim Botânico, ainda em 1808, com o objetivo de aclimatar espécimes estrangeiros, e do Museu Nacional, em 1818, na época chamado de Museu Real. Este incorporou o acervo da Casa dos Pássaros, o primeiro gabinete de história natural brasileiro, instalado em 1784. Além de instituição de pesquisa, o museu desenvolvia programas de divulgação científica para “as pessoas cultas”, em sessões que o próprio imperador prestigiava com sua presença. Ainda no século 19, surgiram novos museus de História Natural, Zoologia e/ou Botânica, como o Museu Paraense, em 1866, hoje Museu Paraense Emilio Goeldi; o Museu Paranaense, em 1876; e o Museu Paulista, fundado por von Ihering, em 1893.

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Nas sete primeiras décadas do século 20, o Brasil praticamente desconheceu o movimento iniciado pelos museus interativos de primeira geração. Nesse longo período assistiu-se à implantação de relativamente poucos museus, entre jardins botânicos, jardins zoológicos, planetários e observatórios, com exceção para as décadas de 1960 e 1970, quando já se verifica uma mudança significativa nessa realidade. Em compensação, na década de 1980, aconteceu uma verdadeira revolução nesse campo, com a inauguração de 31 instituições do gênero, em sua maioria museus interativos, já antenados com a proposta museológica do Exploratorium de São Francisco. Nessa década, segundo Ennio Candotti, presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), assistiu-se ao princípio de uma grande quantidade de ações de popularização da Ciência no Brasil, com a criação de Centros e Museus de Ciência, o surgimento de grandes eventos destinados ao público e o lançamento de revistas de divulgação científica (MASSARANI; MERZAGORA; RODARI, 2007). Nas décadas de 1990 e 2000, esse processo continuou com muita força, levando à implantação de um conjunto de Museus e Centros de Ciência e Tecnologia, que atualmente chega a quase duas centenas. A avaliação do nível de implantação de Centros e Museus de Ciência no nosso país nos dois últimos séculos, feita anteriormente, baseia-se no novo guia “Centros e Museus de Ciência do Brasil” (BRITO; FERREIRA; MASSARANI, 2009), assim como o quadro a seguir, que sintetiza esse processo: a quantidade de Centros e Museus de Ciência implantados a cada década no Brasil.

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Implantação de Centros e Museus de Ciências 60

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Gráfico 1: Implantação de Centros e Museus de Ciências.

A ampliação territorial e de público: os projetos itinerantes Ciência Móvel Sendo o Brasil um país de dimensões continentais, seriam necessários altos recursos financeiros e humanos para implantar, mesmo em longo prazo, um Museu de Ciência em cada cidade média e pequena, nas zonas rurais e nas periferias das grandes cidades. Assim, pela sua mobilidade e consequente capacidade de acesso a essas populações, as unidades móveis tornam-se alternativas para atender ao desafio de levar a popularização da Ciência a esse imenso e diversificado público. Essa nova prática dos Centros e Museus de Ciência de ampliar suas fronteiras físicas e de conquistar novos e diferentes públicos é uma maneira de promover maior cobertura territorial e dar prova de sua responsabilidade social, de ir até onde os jovens e adultos estiverem, em suas comunidades e municípios. O Promusit — Projeto Museu Itinerante da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul — foi pioneiro na utilização de um caminhão para promover a popularização da Ciência além dos muros da sua instituição e se constituiu, no Brasil, em um modelo a ser seguido.

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Um marco nesse campo foi o edital Ciência Móvel, de 2004, viabilizado pelo Ministério da Ciência e Tecnologia, que representou uma importante política pública de incentivo à criação de programas de popularização da cultura científica. Grande quantidade de projetos, em um total de 48, concorreu a esse edital, sendo nove selecionados e apoiados. Esse subsídio público proporcionou nova configuração do movimento da Ciência itinerante em nosso país, que passou de uma situação de casos isolados ao que poderíamos chamar de uma malha inicial de Projetos Ciência Móvel no Brasil. No momento, essa malha já conta com 20 projetos (BRITO; FERREIRA; MASSARANI, 2009), incluindo três que não utilizam veículos especialmente adaptados para exposições, como normalmente são caracterizados os projetos Ciência Móvel, mas contam com um conjunto expositivo de proporções semelhantes, igualmente institucionalizados e com regularidade de itinerância, que são a ABCMC Interativa, a Praça da Ciência Itinerante e o SESCiência. 48 A popularização da cultura científica por meio dos Centros e Museus de Ciência — a experiência com unidades móveis

1. ABCMC Interativa (ABCMC — Associação Brasileira de Centros e Museus de Ciências) 2. Caminhão com Ciência (UESC — Universidade Estadual de Santa Cruz/ Ilhéus/BA) 3. Caravana da Ciência (Cecierj — Centro de Ciências do Estado do Rio de Janeiro) 4. Ciência Móvel — Vida e Saúde para Todos (Museu da Vida/Casa de Oswaldo Cruz/Fiocruz — Fundação Oswaldo Cruz) 5. Ciência Móvel — Museu de Ciências e Tecnologia (Universidade do Estado da Bahia — Uneb). 6. Ciência Móvel (Espaço Ciência — Secretaria de Ciência e Tecnologia e Meio Ambiente/PE). 7. Ciência na Estrada — Educação e Cidadania (Centro de Pesquisas Gonçalo Moniz/Fiocruz — Fundação Oswaldo Cruz/BA). 8. Ciência para Poetas na Escola (Casa da Ciência da UFRJ — Universidade Federal do Rio de Janeiro). 9. Circuito da Ciência (Secretaria de Estado de Ciência e Tecnologia de Mato Grosso). 10. Clorofila Científica e Cultural dos Mangues do Pará (UFRA — Universidade Federal Rural da Amazônia).

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11. Experimentoteca Móvel (UNB — Instituto de Física da Universidade de Brasília). 12. Laboratório Itinerante Tecnologia.Com.Ciência (UFRGS — Universidade Federal do Rio Grande do Sul). 13. Laboratório Móvel de Arqueologia (UFPE — Universidade Federal de Pernambuco). 14. Museu Itinerante Ponto (Centro de Difusão da Ciência da UFMG — Universidade Federal de Minas Gerais). 15. Museu na Escola — Planetário Itinerante Museu de Ciências e Tecnologia de Brasília da UNB – Universidade de Brasília). 16. Oficina Desafio (Museu Exploratório de Ciências da UNICAMP — Universidade Estadual de Campinas). 17. Promusit — Projeto Museu Itinerante (PUCRS – Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul). 18. Praça da Ciência Itinerante (Cecierj — Centro de Ciências do Estado do Rio de Janeiro). 19. Sangue na Rua (Faculdade de Medicina de Botucatu da Unesp — Universidade Estadual de São Paulo). 20. SESCiência (Departamento Nacional/Divisão de Programas Sociais — Serviço Social do Comércio). No mapa e nos dois quadros a seguir são mostradas as distribuições, pelas diversas regiões geográficas, dos Centros e Museus de Ciência e dos projetos itinerantes do tipo Ciência Móvel. Observa-se a necessidade da formulação e do cumprimento de políticas públicas que proporcionem a presença de maneira mais equilibrada desses equipamentos científico-culturais nas diversas regiões e estados do nosso país, o que permitiria o acesso ao universo da popularização da Ciência a um imenso contingente de pessoas. No caso dos Centros e Museus de Ciência, verifica-se uma grande carência desses projetos nas regiões Norte e Centro-Oeste, com uma maior concentração nas regiões Sudeste e Sul. Os projetos itinerantes, surpreendentemente, se distribuem de modo mais equitativo entre as regiões do que os próprios Centros e Museus de Ciência, apesar de se concentrarem em apenas nove das 27 unidades federativas e da pouca presença na região Norte.

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49 A popularização da cultura científica por meio dos Centros e Museus de Ciência — a experiência com unidades móveis


No último quadro observa-se uma soma de 18 programas, em vez dos 20 existentes no país, tendo em vista que dois deles, a ABCMC Interativa e o SESCiência, são de âmbito nacional, não podendo, portanto, ser enquadrados em nenhuma região específica. Museus de Ciência e Projetos Ciência Móvel no Brasil Norte Museus C&T: 6 Ciência Móvel: 1

Nordeste Museus C&T: 26 Ciência Móvel: 5

50 A popularização da cultura científica por meio dos Centros e Museus de Ciência — a experiência com unidades móveis

Centro-Oeste Museus C&T: 5 Ciência Móvel: 3 Sudeste Museus C&T: 112 Ciência Móvel: 7 Projetos Ciência Móvel Sim: 9 Estados Não: 18 Estados

Sul Museus C&T: 41 Ciência Móvel: 2

Figura 1: Museus de Ciência e Projetos Ciência Móvel no Brasil.

Tabela 1: Distribuição por região - Museus de Ciência Regiões

Quantidade de museus

%

Centro-Oeste

5

2,63

Nordeste

26

13,68

Norte

6

3,16

Sudeste

112

58,95

Sul

41

21,58

Total

190

100,00

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Tabela 2: Distribuição por região - Ciência Móvel Regiões

Quantidade de projetos

%

Centro-Oeste

3

17%

Nordeste

5

28%

Norte

1

6%

Sudeste

7

39%

Sul

2

11%

Total

18

100%

Objetivos da popularização da Ciência: razões para a defesa do seu desenvolvimento Ao longo do histórico de desenvolvimento dos Museus de Ciência, verifica-se crescente preocupação com a democratização do conhecimento e com a introdução de conceitos ligados à educação e à inclusão social. Mas, finalmente, o que realmente pretende a educação não formal, especialmente a que é praticada nos Centros e Museus de Ciência? Entre as inúmeras propostas identificadas em trabalhos de pesquisadores ligados a Centros e Museus de Ciência nacionais e internacionais, verifica-se uma variada gama de propostas e perspectivas para o cumprimento da missão dessas instituições. Somente em Massarani, Merzagora, Rodari (2007) podem ser observados inúmeros propósitos, a maior parte em uma perspectiva de “promover o diálogo entre ciência e sociedade”. Os propósitos assinalados vão desde divertir, envolver ludicamente, maravilhar, estimular vocações, até buscar o diálogo e a estruturação do pensamento lógico. Mais especificamente, pretende-se fazer o público entender e amar a Ciência, divulgar o método científico e induzir a um comportamento científico. Além desses objetivos, espera-se divulgar o processo histórico de construção da Ciência, abrir oportunidades da construção de novas percepções e visões de mundo, proporcionar uma leitura do universo científico e tecnológico presente no dia a dia das pessoas e contribuir para uma visão crítica da Ciência e da sociedade. Esses propósitos também objetivam proporcionar o acesso ao conhecimento de maneira prazerosa, útil e transformadora, além de contribuir para o aprimoramento

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do ensino formal, ao estimular a curiosidade e a vontade de pesquisar. Considerase, finalmente, que esse conjunto de possibilidades pode concorrer para a promoção da inclusão social e para o exercício da cidadania, especialmente nas regiões socialmente mais fragilizadas. Sem pretender uma visão reducionista dessa gama de possibilidades, mas buscando um contraponto com essa plêiade de pretensões e exemplificando com uma proposta estruturada por um museu específico, cito a do Museu da Vida/COC/Fiocruz, que, de acordo com Seibel (2006), se propõe a divulgar uma Ciência que: [...] informa, forma, e instrumentaliza pessoas para que possam compreender e inserir-se de forma produtiva e crítica nesse mundo de profundas transformações e contradições; uma ciência que subsidia para a tomada de decisões, ações individuais e coletivas do cidadão em seu cotidiano; e que trata da saúde, alimentação, ambiente e seus riscos, envolvendo a qualidade de vida. 52 A popularização da cultura científica por meio dos Centros e Museus de Ciência — a experiência com unidades móveis

Contribuir para a formação de cidadãos capazes de viver plenamente sua contemporaneidade, com a compreensão do processo histórico e comprometimento para com o futuro, poderia ser, também, uma proposta de missão para orientar o campo da divulgação científica e motivar atores que possam dar continuidade ao seu desenvolvimento.

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Referências

BONATTO, Maria Paula de Oliveira et al. Ação mediada em museus de ciências: o caso do Museu da Vida. In: MASSARANI, Luisa; MERZAGORA, Matteo; RODARI, Paola (Org.). Diálogos & ciência: mediação em museus e centros de ciência. Rio de Janeiro: Museu da Vida/Casa de Oswaldo Cruz/ Fiocruz, 2007. BRITO, Fátima; FERREIRA, José Ribamar; MASSARANI, Luisa (Org.). Centros e museus de ciência do Brasil 2009. Rio de Janeiro: Associação Brasileira de Centros e Museus de Ciência; Casa da Ciência da UFRJ; Museu da Vida/Casa de Oswaldo Cruz/Fiocruz, 2009. CAZELLI, Sibele. Alfabetização científica e os museus interativos de ciência. Dissertação (Mestrado em Educação) - Departamento de Educação, Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, 1992. CRESTANA, Silvério; CASTRO, Miriam Goldman de; PEREIRA, Gilson R. de M. (Org.). Centros e museus de ciência: visões e experiências: subsídios para um programa nacional de popularização da ciência. São Paulo: Saraiva; Estação Ciência, 1998. SEIBEL, Iloni. Educação formal e não formal em ciência e tecnologia. 2006. Palestra proferida no Ciclo de Educação em Saúde, no Museu da Vida/Casa de Oswaldo Cruz /Fiocruz, em PowerPoint. MASSARANI, Luisa; MERZAGORA, Matteo; RODARI, Paola (Org.). Diálogos & ciência: mediação em museus e centros de ciência. Rio de Janeiro: Museu da Vida/Casa de Oswaldo Cruz/Fiocruz, 2007. OLIVEIRA, José Carlos de. D. João VI: adorador do deus da ciência? Rio de Janeiro: Coppe/UFRJ, 2005. (Coleção Engenho & arte, v. 8). Bibliografia consultada

BARROS, Henrique Lins de. The role of museums of science in the technological age. Museologia, Lisboa, n. 1, p. 67-84, 2001. CURY, M. X. A cultura da avaliação. In: CURY, M. X. Exposição: concepção, montagem e avaliação. São Paulo: Annablume, 2005. cap. 3. FERREIRA, José Ribamar. Ciência e inclusão social: reflexões e experiências de Manguinhos. In: MATOS, Cauê (Org.). Ciência e inclusão social. São Paulo: Terceira Margem, 2002. Gil, Fernando Bragança; Lourenco, Marta Catarino. Que cultura para o século 21?: o papel essencial dos museus de ciência e técnica. Mimeografado. MOREIRA, Ildeu de Castro. A inclusão social e a popularização da ciência e tecnologia no Brasil. Inclusão Social, Brasília, v. 1, n. 2, p. 11-16, abr./set. 2006.

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Museus e educação: discutindo aspectos que configuram a didática museal Martha Marandinoi

Graduada em Ciências Biológicas pela Universidade Santa Úrsula, Mestre em Educação

i

pela PUC-RJ e Doutora em Educação pela Universidade de São Paulo. É professora doutora da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo e coordenadora do Grupo de Estudo de Pesquisa em Educação Não Formal e Divulgação da Ciência/GEENF. É vice-diretora da Associação Brasileira de Pesquisa em Educação em Ciência (Abrapec) e Tesoureira da Diretoria Nacional da Associação Brasileira de Ensino de Biologia (Sbenbio).

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RESUMO É crescente a percepção por parte do público do papel de local de lazer, deleite, contemplação e diversão que os museus têm. Mas serão os museus ambientes de educação? Se a resposta para essa pergunta for positiva, que processos educativos ocorrem nos museus, especialmente naqueles dedicados a Ciências Naturais? Serão as visitas familiares e escolares aos Museus de Ciência momentos de aprendizagem? Essas perguntas fazem parte de um rol de problemas aos quais investigações no campo da educação vêm se dedicando, ora enfocando temas educacionais amplos relacionados ao papel social e educacional dos museus, ora tomando por foco questões específicas de aprendizagem, ora elaborando processos de transposição do conhecimento científico nos espaços expositivos e nas demais atividades educativas (FALK; DIERKING, 1992; HOOPER-GREENHILL, 1994; HEIN, 1998; FALCÃO, 1999; MARANDINO, 2001). Consideramos os Museus de Ciência espaços educacionais. Neles, as experiências vivenciadas projetam-se para além do deleite e da diversão. Programas e projetos educativos são gerados com base em modelos sociais e culturais. Seleções de parte da cultura produzida são realizadas com o intuito de torná-la acessível ao visitante. Como em qualquer organização educacional, processos de recontextualização da cultura mais ampla se processam, possibilitando a socialização dos saberes acumulados. Mas haverá alguma especificidade nos processos educativos que ocorrem nos museus? Neste trabalho iremos discutir particularidades da educação em museus, em especial os elementos que fazem parte do que estamos chamando de uma didática museal, além de aspectos sobre a relação entre museu e escola, tendo por foco os Museus de Ciências Naturais. Palavras-chave: Educação. Didática museal. Museu-escola.

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ABSTRACT There is a growing perception, by the public, of the role of the museums as a place of leisure, delight, contemplation and entertainment. But, are museums an environment for education? If the answer to that question is positive, with education processes take place at the museums, especially at those dedicated to natural science? Are family and school visits to science museums a time for learning? These questions are part of a series of problems to which some inquiries on the education field have been dedicated, at times focusing on ample education themes related to the social and educational role of the museums, and other times focusing on specific learning issues or on the migration processes of scientific knowledge at the exposition areas and at the remaining educational activities (FALK; DIERKING, 1992; HOOPER-GREENHILL, 1994; HEIN, 1998; FALCÃO, 1999; MARANDINO, 2001). We consider science museums education areas. There, the experiences lived go beyond delight and entertainment. Education programs and projects are produced, based upon social and cultural models. Choices of part of the culture produced are made aiming at making it available to the visitor. As in any education organization, processes of recontextualization of the ampler culture are processed, enabling the socialization of accumulated knowledge. But is there any specificity in the education processes that take place at the museums? In this work, we will discuss some peculiarities of education in the museums, especially those elements which are part of what we call museum didacticism, beside some aspects regarding the relationship between museum and school, focusing on natural sciences museums. Keywords: Education. Museum didacticism. Museum-school.

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Caracterizando a didática museal A literatura na área de Museus de Ciência aponta algumas particularidades relacionadas aos processos educacionais desenvolvidos nesses locais. Para Van-Praet e Poucet (1989, p. 21), a especificidade do museu está relacionada a elementos como o lugar, o tempo e a importância dos objetos. Além disso, esses autores se apoiam na ideia de que a exposição é uma mídia, diferente da escola e de outras mídias, mesmo que usem certas técnicas comuns de comunicação. Com relação às especificidades pedagógicas dos museus, a questão da brevidade do tempo é destacada. Onipresente na escola, o tempo no museu, apesar de ser essencial para as estratégias de comunicação, “é muito breve se considerarmos os minutos que cada visitante concede a um objeto, a um tema, durante uma visita que poderá ser a única de sua vida” (VAN-PRAET; POUCET, 1989). Esse tempo é determinado tanto pela concepção da exposição como pelo animador/mediador. 56 Museus e educação: discutindo aspectos que configuram a didática museal

Outra especificidade do museu indicada por esses autores seria o lugar, concebido como um trajeto aberto, em oposição ao espaço “fechado” da escola. Nele, o visitante é geralmente voluntário e não fica preso, sendo “cativado pela exposição durante seu percurso”, além de ficar rodeado por uma “multidão barulhenta e movimentada”. Nesse sentido, é importante haver uma preparação dos educadores, dos dispositivos de recepção e de organização do tempo no museu para evitar o possível cansaço comum nessas experiências. Nesse aspecto, os educadores devem ser sensibilizados para perceber que “uma exposição é cada vez menos uma sucessão de temas independentes e que sua apropriação passa pelo seu percurso, com sua ambientação, sua inserção no espaço, sua cenografia[...]” (VAN-PRAET; POUCET, 1989, p. 25). Para Van-Praet e Poucet (1989, p. 26), o discurso museal, na sua especificidade, há muito tempo se apoia nos objetos, sendo eles fonte de riqueza e de interatividade. O papel dos objetos foi, desde a época da Renascença até um período recente, semelhante na escola e nos museus. Essas duas instituições conservaram uma reflexão comum sobre o interesse do objeto na aprendizagem e de sua importância na “Lição das coisas”. Os museus, historicamente,

A “Lição das coisas” ou “Método de ensino intuitivo” pretendia substituir o caráter abstrato e pouco utilitário da instrução. Tinha como alguns de seus pressupostos a ideia de que o “ato de conhecer se inicia nas operações dos sentidos sobre o mundo exterior, a partir das quais são produzidas sensações e percepções sobre fatos e objetos que constituem a matéria-prima das ideias” (Valdemarin, 2000).

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não só recebiam escolares, mas emprestavam suas coleções às escolas, o que diminuiu com o fim das “lição das coisas” e com a redução dos trabalhos práticos nos colégios. Esse fato, para os autores, resultou na má preparação dos educadores hoje para utilizar os objetos na pedagogia, ficando a cargo dos museus a responsabilidade pela história de sua coleta, de sua seleção, de sua conservação e de sua exposição. Assim, “uma grande parte da ação cultural dos museus é de fato favorecer o acesso aos seus objetos, dando-lhes sentido, e ensinando a vê-los” (VAN-PRAET; POUCET, 1989). Além disso, para os autores em questão, os objetos permitem ao visitante se sensibilizar, se apropriar e favorecer sua compreensão (social, histórica, técnica, artística, científica) para uma análise pessoal e para discutir com os outros visitantes, com os animadores, com os professores etc. Com base no trabalho de Van-Praet e Poucet, percebe-se a necessidade de considerarmos o tempo, o espaço e o objeto de forma particular ao pensar a educação em museus. Em outra perspectiva, Allard et al. (1996) afirmam que tanto a escola como o museu concorrem para a conservação e para transmissão do substrato cultural de um povo ou de uma civilização. No entanto, as duas instituições têm características distintas. Na escola, o objeto tem o papel de instruir e educar, e o cliente é cativo e estável, estruturado em função da idade ou da formação. A escola obedece a um programa que lhe é imposto e pode fazer diferentes interpretações, sendo, contudo, fiel a ele. É concebida para atividades em grupos (classe), com tempo de um ano, e tais atividades são fundadas no livro e na palavra. No caso dos museus, o objeto encerra funções de recolher, conservar, estudar e expor. O cliente, por outro lado, é livre e passageiro, atendendo a todos os grupos de idade, sem distinção de formação. As atividades são concebidas para os indivíduos ou para pequenos grupos. O museu conta com exposições próprias ou itinerantes e realiza suas atividades pedagógicas em função de sua coleção e do objeto. O tempo utilizado pelo público é, em geral, de uma ou duas horas. Considerando essas diferenças, o grupo de pesquisa desses autores propõe um modelo pedagógico, a seguir, para explicar a situação pedagógica no museu com base em suas exposições (ALLARD et al., 1996, p. 19).

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O MUSEU Aluno visitante

Relação de apropriação

Temática

Interventor Figura 1: Modelo adaptado de Allard et al. (1996) representando a situação pedagógica no museu.

58 Museus e educação: discutindo aspectos que configuram a didática museal

Destacamos, nesse modelo, a “relação de transposição” indicada pelos autores. Ao discutir a medição entre o conhecimento exposto e os alunos em visitas escolares, feita pelo professor ou monitor, Allard et al. (1996) fazem referência ao conceito de transposição didática, fundamentados no trabalho de Chevallard (1991). Afirmam, desse modo, que no processo de mediação o saber apresentado sofre transformações com objetivo de se tornar compreensível ao público. O tema da transposição didática, bastante explorado no contexto do ensino de Ciências e matemática desenvolvido na escola, traz para discussão a existência de uma epistemologia escolar (ASTOLFI; DEVELAY, 1990). Na transformação do “saber sábio” em “saber a ser ensinado”, o conhecimento ganha nova configuração, na busca de torná-lo acessível. Do mesmo modo, Allard et al. (1996) identificam as visitas escolares aos museus como momentos em que processos de transformação de saberes se dão na mediação entre o conhecimento exposto e o público (alunos, no caso), feita nas exposições. Em nosso trabalho de doutorado (MARANDINO, 2001), analisamos a construção do discurso expositivo em bioexposições de Museus de Ciência. Com base no referencial da transposição didática/museográfica (SIMMONEUX; JACOBI, 1997) e dos conceitos de discurso pedagógico e de recontextualização (BERNSTEIN, 1996), foi possível estudar os processos, atores e saberes envolvidos na produção do discurso expresso nas exposições de museus. Percebemos, nesse

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trabalho, que para além da transposição didática ocorrida durante a visita no momento da mediação entre saber exposto e público, outras transposições estiveram em curso na própria elaboração desse saber exposto. O que para nós se constitui como discurso expositivo é resultado de seleções que a cultura científica passa e que são mediadas pelos diferentes saberes dos diversos atores envolvidos na produção da exposição. Além disso, essa produção é também determinada pela história dos Museus de Ciência, pelas histórias das instituições em particular, pelas políticas de Ciência e Tecnologia, de educação e de cultura que, junto com os saberes e atores antes mencionados, constituem-se como um jogo de poder que determina as vozes e os saberes que serão hegemônicos no discurso expositivo final. O esquema seguinte ilustra esse processo de constituição do discurso expositivo. Os saberes indicados têm naturezas particulares e, quando confrontados na elaboração de uma exposição, passam por processos de transposição. Tais saberes poderiam ser caracterizados de diferentes modos, conforme apresentado a seguir. 1. Saberes do senso comum, relativos às concepções e modelos do senso comum (público) sobre conceitos e fenômenos científicos que irão se confrontar com as informações expressas na exposição.2 2. Saber sábio, relativo aos conhecimentos de referência que são considerados na elaboração da exposição e que podem corresponder aos paradigmas hegemônicos das áreas científicas em jogo ou, em uma perspectiva descontinuísta e histórica da Ciência, podem apresentar os diferentes paradigmas em conflito.3 3. Saber museológico, relativo às reflexões do campo da museologia, que dizem respeito tanto ao trabalho de coleta, conservação, salvaguarda e documentação dos objetos, como de organização da informação que será comunicada sobre os mesmos. 4. Saber da comunicação ou das linguagens, relativo às reflexões teóricas e práticas (técnicas de design, por exemplo) da comunicação e aos estudos de linguagem que serão utilizados como modo de extroversão da informação nas exposições. Os saberes do senso comum poderiam ser considerados na elaboração das exposições, já que esta deve favorecer o questionamento dessas concepções e, além disso, constituem referencial para o desenvolvimento de pesquisas no campo educacional nos museus (por exemplo, de aprendizagem). 3 Referem-se também aos saberes da própria história da Ciência. 2

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5. Saber da educação, relacionados tanto a aspectos de aprendizagem, como também a reflexão sobre as diversas dimensões do processo educacional, como a social, a política, a cultural e a ideológica. 6. Outros saberes, relativos aos saberes práticos, profissionais, técnicos que, no caso dos Museus de Ciência, poderiam ser aqueles referentes à taxidermia ou à carpintaria, por exemplo.

Saber do senso comum

Outros saberes

60

n s po s iç ã o t ra

Saber(es) sábio(s)

DISCURSO EXPOSITIVO

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t ra

nsposição

Saber da educação

Saber museológico

Saber da comunicação

Figura 2: Esquema da constituição do discurso expositivo.

Modelo para o estudo das relações pedagógicas nos museus Tendo por base as reflexões apontadas e inspirados no modelo de Allard e colaboradores (1996), elaboramos uma proposta de compreensão da situação didática que ocorre nos museus, levando em conta tanto os processos de transposição que ocorrem na elaboração do discurso expositivo quanto aqueles que se dão na mediação desse discurso com o público. O “modelo para estudo das relações pedagógicas em Museus de Ciência” procura caracterizar especialmente o processo de transposição didática/museográfica, no interior da instituição museu, na sua

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dimensão de educação e comunicação. Tem a intenção de afirmar os espaços de museus enquanto locais onde se estabelecem relações pedagógicas próprias e que, em determinado momento, poderão ser utilizados pela escola ou qualquer outra instituição ou grupo social. Entorno Societal/ Contexto Social Museu Rel. de Apropriação

Visitante

Rel. de Comunicação/ Educação

Temática Programas

Rel. de Suporte

Saberes Pedagogia

educativos

Rel. de Musealização

museal

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Rel. de Transposição (I)

Interventor

Rel. de Transposição (II)

Elaboradores equipe interdisciplinar

Figura 3: Modelo para estudo das relações pedagógicas em Museus de Ciência.

O modelo proposto caracteriza, dessa maneira, a pedagogia museal, que estaria condicionada pela relação entre os diferentes saberes, que passariam por um processo de transposição didática/museográfica assim entendido: 1. Realizado pelos mediadores (equipe de elaboradores das exposições que, em tese, tem caráter interdisciplinar) os quais, por meio de um processo de musealização, tornariam tais saberes comunicáveis, constituindo a temática concretizada na forma de exposição, de discurso expositivo. A segunda parte do modelo repete a proposta de Allard e colaboradores (1996) e estaria relacionada aos programas educativos que poderiam ser desenvolvidos pelo museu na sua relação com a escola, com outra instituição social, com o visitante em grupo ou sozinho. Nesse caso, os interventores seriam os atores do processo da transposição didática.

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2. O conhecimento exposto no museu passaria a ser compreendido pelo público que visita o museu. Todas essas relações estariam ainda ocorrendo dentro de um entorno societal/contexto social e estariam sendo influenciadas diretamente por ele. Desse contexto surgiriam outros atores — órgãos financiadores, instituições governamentais ou não, órgãos de avaliação, por exemplo, que fariam parte da noosfera (CHEVALLARD, 1991) museal ou do campo recontextualizador (BERNSTEIN, 1996)4 nos museus.

62 Museus e educação: discutindo aspectos que configuram a didática museal

Em síntese, consideramos que o saber científico (sábio) passa por transformações — transposição museográfica/recontextualização5 — para se tornar saber exposto. Esse saber é constituído na mediação com outros saberes, oriundos de diferentes campos de conhecimentos, representados pelos atores envolvidos na elaboração das exposições (jogo de poder). Nesse processo de constituição do discurso expositivo, ainda ocorrem outros constrangimentos, referentes à especificidade da pedagogia museal. Desse modo, tal discurso é determinado também pelas especificidades de tempo, espaço e objetos nos museus (no caso de Ciências), que por sua vez configuram certa linguagem específica de comunicação com o público. As reflexões realizadas fundamentadas nos autores citados nos fazem construir um cenário para caracterizar a educação nos Museus de Ciência e, assim, apontar elementos que constituem a pedagogia museal.

Implicações do modelo para relações pedagógicas em Museus de Ciência para as visitas escolares O modelo que ilustra as relações pedagógicas dentro do museu anteriormente apresentado tem a função de elucidar os elementos que compõem o universo

Para Chevallard (1991), a noosfera é onde se opera a interação entre o sistema de ensino stricto sensu e o entorno societal; onde estão aqueles que ocupam postos principais do funcionamento didático e se enfrentam com os problemas resultantes do confronto com a sociedade; onde se desenrolam os conflitos, se levam a cabo as negociações; onde se amadurecem soluções; é local de atividade ordinária; esfera de onde se pensa. Para Bernstein (1996, p. 270), o campo recontextualizador é composto pelos departamentos especializados do Estado e as autoridades educacionais locais, juntamente com suas pesquisas e sistema de inspeção, mas também inclui as universidades e seus departamentos/faculdades de educação, com suas pesquisas, fundações privadas, os “meios especializados de educação, jornais semanais, revistas etc. e as editoras, juntamente com seus avaliadores e consultores” e pode se estender “para campos não especializados do discurso educacional”, mas que exercem influência sobre o Estado. 5 Para aprofundar as proximidades e distâncias entre os referenciais de transposição didática de Chevallard e de recontextualização de Bernstein, ver Marandino (2004). 4

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educacional dessas instituições. Dessa maneira, é possível não somente identificar os elementos, os atores, as práticas, as concepções, as teorias que fazem parte e fundamentam as ações educativas dos museus, como também propor modos mais qualificados para que tais ações sejam desenvolvidas nesses espaços. Especialmente com relação às visitas escolares aos museus, podemos destacar alguns aspectos da educação em museus que, vistos sob a ótica do modelo, podem se beneficiar no sentido de melhor qualificar suas ações.

Formação de professores: entendemos que os museus devem ser mais propositivos nas ações de formação de professores para uso de seus espaços. Tal formação deve considerar, em seus conteúdos, aspectos históricos dessas instituições, mas também suas características pedagógicas específicas, mostrando no que se aproximam e se afastam das escolas. Esses elementos poderão fornecer subsídios para que os professores possam planejar melhor suas visitas e usufruir das possibilidades educativas que os museus podem oferecer, rompendo com a prática comum de entendimento do museu apenas como espaço complementar à escola.

Desenvolvimento de estratégias didáticas: o reconhecimento das dimensões de produção de conhecimento educacional, que envolve a elaboração de uma exposição ou de qualquer outra ação educativa no museu — como oficinas, bate-papos, palestras, materiais didático-culturais, entre outros —, é fundamental para a melhoria da qualidade das ações oferecidas ao público. Tal reconhecimento pode levar professores e profissionais de museus a valorizar mais essas atividades, mas também promover iniciativas de avaliação das mesmas, com o intuito de aperfeiçoá-las e criar expertise na área educativa museal. Em especial, o público deve ser considerado nessas ações, em seus interesses, demandas e concepções para que as estratégias sejam adequadas.

Formação de mediadores: os chamados monitores, guias ou mediadores de museus poderão, com o modelo proposto, tomar consciência do papel crucial que desempenham na tradução do conhecimento científico para o público e de representantes oficiais da instituição. A formação desses profissionais, ainda pouco reconhecidos, deve ser assumida de maneira mais contundente, incluindo conteúdos do campo educacional e comunicacional, para que ganhem a relevância que têm na prática e possam atender aos diferentes públicos de modo mais qualificado.

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Produção de materiais didático-culturais: assumimos aqui que toda produção educacional do museu — incluindo não só as atividades e práticas, mas também materiais impressos, audiovisuais, digitais e objetos tridimensionais — é determinada pelo entorno sócio-histórico (incluindo os elementos pertencentes à noosfera e ao campo recontextualizador). Além disso, os profissionais envolvidos nessas produções realizam processos de adequação do conhecimento científico para que estes possam ser divulgados e ensinados por meio dessas produções, cada uma com características bem particulares. São educadores, comunicadores, designers, museólogos, artistas, arquitetos e cientistas envolvidos em um processo de produção de conhecimento, no qual são feitas seleções e são tomadas decisões com base em modelos de sociedade, de conhecimento e de Ciência que a instituição e cada um desses atores assumem. O reconhecimento dos processos que envolvem a educação em museus em seus aspectos históricos, sociais, políticos e culturais é passo importante para que esse campo de conhecimento se estabeleça. 64 Museus e educação: discutindo aspectos que configuram a didática museal

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O papel educativo dos Museus e Centros de Ciência e a contribuição desses espaços para a aprendizagem científica Vânia Rochai

Licenciada em Ciências Biológicas pela Universidade Estadual de Ponta Grossa, Paraná e

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Mestre em Ensino em Biociências e Saúde pela Fiocruz. Doutoranda do Programa de Pósgradução em Saúde Pública da Escola Nacional de Saúde Pública Sérgio Arouca. Trabalhou nos últimos dez anos como educadora do Serviço de Educação em Ciências e Saúde, Museu da Vida — Fiocruz.

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RESUMO Os Museus e Centros de Ciência são espaços abertos ao público destinados à divulgação e educação científica, que associam lazer e cultura. A imagem que temos hoje dos Museus e Centros de Ciência é resultado de uma construção gradativa ao longo da história dessas instituições. Entre as diferentes atribuições que esses espaços assumiram, o papel educativo vem conquistando lugar, consolidando experiências e submetendo seus educadores a grandes desafios. Podemos destacar como um dos desafios a diversidade de públicos que esses espaços recebem diariamente. São estudantes, professores, profissionais em formação, famílias e grupos da sociedade atraídos pelas atividades lúdicas e interativas oferecidas. As exposições de Ciências integram aparatos, cenários, oficinas, jogos, painéis, peças teatrais, entre outros recursos que podem levar a experiências ricas e positivas, porém nem sempre entendidas como aprendizagem. É possível aprender Ciência durante uma visita? Qual é o papel educativo destes espaços? Como avaliar o sucesso de uma exposição de Ciências em alcançar seus objetivos educacionais? Apresentamos essas questões visando contribuir para a reflexão sobre o papel educativo das exposições de Ciências e sobre os desafios enfrentados pelos profissionais dedicados em encontrar caminhos, nem sempre nítidos, da educação não formal. Por se tratar de um campo relativamente recente, as pesquisas na área,

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ABSTRACT Museums and science centers are areas open to the public aiming at the scientific propagation and education, which join together leisure and culture. The image we have today of museums and science centers is the result of a gradual building of these foundations throughout history. Among the different ascriptions these areas have held, the education role has been taking its place, reinforcing experiences and submitting their educators to great challenges. We may emphasize as one of these challenges, the diversity of public these areas host on a daily basis. They are students, teachers, professionals being formed, families and society groups attracted by the cheerful activities offered. The science expositions compose displays, settings, workshops, games, panels, plays, among other resources which may lead to rich and positive experiences, however not always understood as learning experiences. Is it possible to learn science during a visit? What is the instructional role of these areas? How can we assess the success of a science exposition in reaching its educational purposes? We bring these questions in the sense of contributing to the speculation on the educative role of science expositions and on

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em especial no Brasil, estão, ainda, em fase de consolidação. Nas últimas décadas uma quantidade expressiva de pesquisadores realizou seus estudos no campo da educação, contribuindo para elaboração de critérios e metodologias de avaliação voltadas às práticas educativas que ocorrem em museus e espaços similares. O presente texto contempla questões e reflexões com objetivo de contribuir para a formação de profissionais que atuam em espaços de educação não formal. Nesse sentido apresentamos um breve histórico sobre o papel educativo dos Museus e Centros de Ciência, discutimos os significados dos termos educação e aprendizagem no contexto da educação não formal1 e, por fim, trazemos exemplos de pesquisas na área educação e aprendizagem nestes espaços, seus avanços e desafios. Palavras-chave: Aprendizagem. Formação de profissionais. Educação não formal.

the challenges faced by professionals dedicated to find ways, not always clear, for non formal education. As this is a relatively recent field, researches in this area, specifically in Brazil, are still at a consolidation stage. In the last decades, a growing number of researchers has conducted their studies in the education field, contributing for the formulation of assessment criteria and methods regarding the education practices that take place in the museums and similar spaces. The present text analyses questions and reflections with the purpose of contributing to the formation of professionals who operate in non formal education areas. In this sense, we present a brief historic report on the educative role of museums and science centers, we discuss the meanings of the terms education and learning in the context of non formal* education, and, finally, we bring examples of researches in the education and learning area in these spaces, their advances and challenges. Keywords: Learning. Professional training. Non-formal education.

O termo educação não formal é utilizado neste texto como ações educativas desenvolvidas fora do âmbito escolar. Na literatura sobre o tema podemos encontrar o termo informal com o mesmo sentido, ou ainda, autores que diferenciam educação não formal e informal. 1

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The phrase non formal education is used in this text as educative actions developed outtside the school range. In literature on the theme, we can find the phrase informal with the same sense, or even, some authors who make a difference between non formal and informal education. *

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O que a história dos Museus e Centros de Ciência pode nos ensinar? Com a intenção de melhor compreender o papel educativo conquistado pelos Museus e Centros de Ciência, convidamos o leitor a conhecer um pouco da história dessas instituições. Os museus em sua origem eram considerados espaços de guarda e conservação de coleções que ganharam, ao longo dos séculos, certa organização. A efetiva consolidação como espaços abertos ao público ocorre somente no século 19. Antes desse período, os museus eram frequentados por grupos sociais como cientistas, naturalistas e filósofos, isto é, os “homens de letras”, que, junto aos profissionais liberais, formavam o público dos museus (VALENTE, 2003). A partir da segunda metade do século 21, os Museus de Ciência ampliaram seu propósito de divulgar suas coleções a um público diversificado. A sociedade, em parte influenciada pelas grandes exposições internacionais promovidas na época, mostravase bastante interessada em assuntos científicos. As exposições internacionais foram importantes eventos que contribuíram para a popularização dos Museus de Ciência e funcionavam como grandes vitrines do progresso tecnológico alcançado naquele período. A população era convidada a frequentar em massa esses eventos; a ideia era educar o cidadão comum e incentivar o público a conhecer o progresso científico e tecnológico. O Brasil participou desse movimento a partir da terceira exposição internacional, realizada em Londres, no ano de 1862 (CAZELLI; MARANDINO; STUDART, 2003). O visitante era considerado um observador curioso de objetos, máquinas, peças de coleções científicas, como plantas, conchas, animais taxidermizados e insetos, devidamente etiquetados e expostos em vitrines. As exposições eram organizadas com ênfase no objeto e no conhecimento científico; não havia preocupação sobre como o visitante se apropriaria dos conteúdos apresentados. Ao final do século 19 as exposições em museus, em especial na Europa, ganham novas características. Os organizadores passam a se preocupar com o modo de apresentar o conteúdo científico, elaborando exposições temáticas e de caráter didático, a exemplo da Galeria de Paleontologia do Museu de História Natural de Paris. Nessa exposição, as peças, antes apresentadas em função da sua classificação sistemática, foram organizadas de acordo com as eras geológicas a que pertenciam e com a sua linha evolutiva (VALENTE, 2003).

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A adequação de exposições voltadas aos interesses dos leigos ganha força ao longo do século 20. Os museus tornam-se espaços de experimentação e de exploração de temas diversificados e são frequentados por um público cada vez mais numeroso. Seu papel educativo se amplia, assim como aumenta o compromisso de trazer para diferentes públicos a produção científica mediante a adoção de métodos mais dinâmicos, que pudessem envolver o visitante no tema apresentado. Essas características proliferaram nos Museus de Ciência e se mantêm como importantes elementos das exposições até os dias de hoje. O avanço científico acelerado do século 20 trouxe novos desafios ao campo educativo. A necessidade de formar indivíduos capazes de compreender, participar e produzir em uma sociedade fundamentada no conhecimento científico exigiu a participação de outras instituições no processo de aprendizagem científica. Nesse contexto, os Museus e Centros de Ciência tornaram-se importantes ambientes de aprendizagem, contribuindo para o enriquecimento da cultura científica dos indivíduos ao longo da vida. 70 O papel educativo dos Museus e Centros de Ciência e a contribuição desses espaços para a aprendizagem científica

Embora existam diferentes visões sobre o que distingue os Museus dos Centros de Ciência, podemos considerar que esses últimos são espaços expositivos que se diferenciam dos museus por não apresentarem coleções ou a guarda de acervo. Os Centros de Ciência idealizam suas exposições, essencialmente, sobre temas e conceitos científicos, utilizando uma diversidade de recursos de comunicação, como painéis, aparatos e multimídia, que valorizam a interatividade. A partir da década de 1980, houve no Brasil a implantação de novos Museus e Centros de Ciência com base na ideia de divulgar Ciência a um público diversificado. O termo divulgação científica pressupõe a busca de uma linguagem acessível a uma audiência não especializada. A divulgação científica pode ser compreendida como atividade de explicação ou disseminação dos conhecimentos, da cultura e do pensamento científico e técnico, sob condições de ocorrer fora do sistema formal de ensino. Os riscos, incertezas, controvérsias e o impacto da tecnologia na sociedade são temas incluídos nas ações de divulgação científica (MASSARANI; MOREIRA, 2003). No entanto, muitas dessas instituições passaram a apresentar demonstrações de fenômenos científicos, aos moldes dos grandes Centros de Ciência espalhados pelo mundo. A proposta limitava a Ciência à exibição de fenômenos, sem se preocupar com a construção de uma visão crítica. Diante de uma Ciência assim apresentada, a preocupação dos educadores de museus passou a ser a abordagem dos conteúdos científicos, o processo de produção

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desses conhecimentos, seus riscos, incertezas, controvérsias e as implicações éticas que envolvem a Ciência, compreendida como uma produção humana e inserida em um contexto social e em um tempo histórico. Em consequência, o campo da educação não formal em Ciência se vê fortalecido, promovendo o amadurecimento das discussões nesse âmbito. Entre Museus e Centros de Ciência criados no Brasil no final dos anos 1990, pautados na proposta de divulgação e educação científica, podemos citar o Museu de Ciência e Tecnologia da PUC no Rio Grande do Sul, o Espaço Ciência em Pernambuco e o Museu da Vida no Rio de Janeiro. A partir desse período houve um crescimento expressivo de espaços semelhantes. Segundo dados de 2009 da Associação Brasileira de Centros e Museu de Ciência, a quantidade de instituições ultrapassa duzentos, considerando-se zoológicos, jardins botânicos, aquários, planetários e outros espaços que se dedicam à Ciência e Tecnologia. No entanto, consideramos que é preciso avançar na implementação de novos espaços e distribuir os recursos de maneira mais equilibrada entre as diferentes regiões do país. Os Museus e Centros de Ciência diversificaram seus temas, apostaram em novas linguagens expositivas, tornaram-se mais atraentes e capazes de agradar diferentes faixas etárias e grupos culturais. Preocuparam-se em popularizar suas exposições e privilegiaram o público escolar, investindo na formação continuada de professores e promovendo intercâmbios com a educação formal. Atualmente têm centrado esforços na capacitação de mediadores, profissionais de diferentes áreas do conhecimento que atuam como interlocutores entre a exposição e o público, no sentido de promover um diálogo entre o material exposto e o que o visitante traz sobre o tema. Todas essas características apresentam grandes desafios para o exercício cotidiano da educação não formal e, nesse sentido, há muito a aprender. Os desafios atuais exigem discussão, reflexão e avaliação das práticas educativas que ocorrem nesses espaços. Esta rápida passagem pela história dessas instituições nos ensina que a ideia de Museu e de Centro de Ciência difundida hoje como espaço aberto a diferentes públicos, destinado à divulgação científica e educação, associando lazer e cultura é fruto de uma construção gradativa. A abertura para os mais diferentes públicos, os avanços científicos e a necessidade de promover acesso a esse conhecimento exige dos educadores desses espaços um contínuo processo de reflexão sobre seu papel educativo. Revela ainda que a educação não formal representa uma contribuição efetiva para a formação de indivíduos capazes de exercer sua participação em uma sociedade pautada no conhecimento científico.

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Educação e aprendizagem no contexto da educação não formal Os Museus e Centros de Ciência tiveram impulso nos anos 1980 em virtude do acordo internacional para elevar os níveis de conhecimento científico em todo o mundo, assumido pela Organização das Nações Unidas para a Educação Ciência e Cultura - Unesco. Em consequência, os espaços de educação não formal reafirmaram o compromisso de contribuir para a formação científica da população. A educação científica era, desde então, uma tarefa de todos. É importante salientar que muitos Museus e Centros de Ciência corroboraram com a proposta sem, no entanto, assumir o papel do ensino formal2 no processo de educação científica.

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Nesse sentido, é necessário refletir sobre os conceitos de educação e aprendizagem no contexto da educação não formal. Segundo McManus (2009), é comum os profissionais de museus utilizarem essas palavras como uma “taquigrafia”. Uma vez que incorporamos uma ideia, fica difícil deslocá-la, no entanto esses conceitos requerem reflexão para que se possa conferir profundidade às ações educativas realizadas pelos Museus e Centros de Ciência. Sabemos, por meio de pesquisas de avaliação de público, que famílias, estudantes, professores e demais grupos sociais procuram nos Museus e Centros de Ciência locais para passar horas agradáveis, divertidas, prazerosas e também aprender algo. Os seres humanos são criaturas curiosas, sociais, aptas a pensar, falar, duvidar, aprenderem uns com os outros e entre gerações. Podemos imaginar a educação como uma tentativa de aprender ou ajudar alguém a aprender algo (MCMANUS, 2009). No contexto dos Museus e Centros de Ciência, aprender algo pode representar muitas coisas, como despertar a curiosidade para determinado tema, levantar questões, utilizar o raciocínio lógico, visualizar fenômenos científicos, criar habilidades e socializar conhecimento. Para tanto, entendemos que as práticas educativas nesses espaços requerem a contribuição de diferentes áreas do conhecimento, como História, Arte, Comunicação e Psicologia, entre outras. Educar é um ato político, segundo Maturana (1998), pois o projeto educacional de um local pode diferir em seus objetivos de acordo com uma ideologia, uma

Entendemos que a formação científica ocorre das várias experiências vivenciadas ao longo da vida, incluindo as visitas a Museus e Centros de Ciência. No entanto, os ambientes formais de educação como a escola, a universidade e os institutos tecnológicos desempenham papel primordial nesse processo.

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época, um momento histórico e, de modos diversos, cumprir com a sua responsabilidade social. Nessa perspectiva, quando escolhemos uma exposição científica e elaboramos uma atividade educativa ou uma proposta pedagógica para um Museu ou Centro de Ciência devemos assumir, como educadores, uma intenção, um desejo que o visitante aprenda algo para transformar uma realidade. Esse ponto de vista é reforçado por Paulo Freire (1998) para quem “o homem deve ser o sujeito da própria educação” e não objeto dela. Para que a educação aconteça é preciso haver um movimento interno, um desejo próprio. Assim, a comunicação se estabelece e o intercâmbio de conhecimento e valores se realiza em um processo dialógico entre educador e educando. Da mesma maneira, quando o público deseja vir ao museu, interagir com o material exposto, associá-lo ao conhecimento que traz sobre o tema, sanar dúvidas ou levantar críticas, estamos promovendo um diálogo entre exposição e visitante. Em resumo, os Museus e Centros de Ciência são instituições educativas por vocação, entendendo educação como processo de socialização, formação de valores, aquisição de habilidades e construção de conhecimento. Os Museus e Centros de Ciência têm se dedicado a criar ambientes propícios para aprendizagem. Em relação às teorias que influenciaram as exposições e as atividades educativas dos museus nas últimas décadas, podemos considerar como mais expressivas as construtivistas, que enfatizam o papel do sujeito na construção do próprio conhecimento e priorizam o meio como um importante elemento do processo. As ideias de Piaget sobre desenvolvimento cognitivo e de Vygotsky sobre o papel das interações sociais na aprendizagem são os principais referenciais dos programas educativos dos museus atuais (CAZELLI; MARANDINO; STUDART, 2003). A aprendizagem nos Museus e Centros de Ciência tem características próprias que devem ser consideradas quando avaliamos a contribuição desses espaços para a educação científica. Definir o que é e como ocorre a aprendizagem em Museus e Centros de Ciência não é uma tarefa simples, portanto recorremos a autores que dedicaram seus estudos ao tema. Falk e Dierking (1992) apresentam um modelo para análise da aprendizagem pautado nos seguintes contextos: o pessoal (o interesse, a motivação, os conhecimento prévios), o físico (o ambiente do museu, da exposição) e o social (as interações que ocorrem entre o grupo que participa da visita). O tempo foi acrescido ao modelo, sinalizando a construção de conhecimentos como um processo.

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Seguindo a mesma perspectiva, Rennie e Johnston (2004) ressaltam a importância de considerar esses contextos em avaliações sobre aprendizagem nos Museus e Centros de Ciência. Para os autores, a aprendizagem nesses espaços é pessoal, pois o indivíduo escolhe o tema ou conteúdo, uma vez que é livre para ir ou não ao Museu e para escolher a que tipo de museu pretende ir (Arte, Ciência etc). A aprendizagem é contextualizada, o lugar (Museu ou Centro de Ciência) é o elemento crucial da experiência de aprendizagem. Uma visita nunca é igual a outra, as situações, questões, conversas ocasionadas durante uma visita não se repetirão em uma segunda experiência. Uma das características mais complexas desses espaços é que aprendizagem consiste em mudanças que levam algum tempo para ocorrer, assim o impacto da visita pode acontecer em longo prazo e não somente no momento ou logo após a visita. Portanto, quando consideramos os Museus e Centros de Ciência como espaços de potencial aprendizagem, é fundamental estarmos atentos às especificidades.

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Como a aprendizagem é um processo contínuo, é um desafio identificar quando começa e quando termina a formação de um conceito. O processo pode iniciar ou continuar no museu, na escola, no teatro, no parque ou em qualquer outro local onde é possível aprendermos algo. Portanto, o que podemos avaliar como contribuição desses espaços para aprendizagem científica é sempre uma análise entre a intenção dos educadores quando elaboram exposições e atividades educativas e as interpretações que os visitantes fazem dessas ações, entendendo isso como importante fator no processo de aprendizagem. Em geral, o que chamamos de aprendizagem em Museus e Centros de Ciência consiste, então, na identificação e caracterização das possíveis influências que esses espaços, com todas as suas especificidades, podem promover no processo de formação de novas visões, concepções ou conceito.

Pesquisas sobre aprendizagem no campo da educação não formal A contribuição dos espaços não formais de educação para a aprendizagem científica pode ser avaliada sob diferentes aspectos. Embora complexa, a avaliação é imprescindível no sentido de indicar se os objetivos da atividade foram alcançados, verificar se a exposição cumpre seu papel educativo, corrigir metas e trajetórias ou mesmo reafirmar a missão institucional. Nesse sentido, as pesquisas

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na área de educação não formal têm auxiliado na busca de melhorias, contribuindo com estratégias, critérios e métodos de avaliação e na construção de referenciais teóricos sobre o tema. Considerando aprendizagem como um processo contínuo e não linear, a avaliação é sempre um desafio, motivo pelo qual o tema tem sido debatido e estudado por pesquisadores da educação não formal. Na década de 1990, as investigações sobre aprendizagem nos museus se intensificaram e ganharam enfoques diferenciados (FALCÃO et al., 2003). Podemos encontrar estudos sobre a natureza do processo de aprendizagem nesses espaços, análise sobre aprendizagem por meio de teorias específicas, interações sociais no processo de aprendizagem em grupos, aprendizagem de crianças e entre família, por exemplo. Elegemos alguns trabalhos sobre aprendizagem em Museus e Centros de Ciência realizados por profissionais brasileiros, sem o compromisso de apresentar um levantamento exaustivo das pesquisas produzidas na área. Os trabalhos citados servem como exemplo dos diferentes enfoques que a pesquisa avaliativa pode abranger. O estudo realizado por Gaspar (1993), em sua tese de doutorado, buscou compreender as interações sociais que ocorrem entre os visitantes, bem como entre monitores e visitantes para o processo de aprendizagem nos espaços de educação não formal,3 tomando como base alguns conceitos da teoria de Vygotsky. O estudo evidencia a importância dos Museus e Centros de Ciência estabelecerem uma proposta pedagógica definida para suas ações educativas. Pesquisas realizadas por Falcão (1999, 2005), em dissertação de mestrado e tese de doutorado, enfatizaram o estudo da aprendizagem por meio de modelos mentais e o uso do método da “lembrança estimulada” como maneira de contribuir para as pesquisas sobre aprendizagem em espaços não formais. No primeiro caso, a aprendizagem é compreendida como processo de revisão dos modelos mentais dos indivíduos. A aprendizagem em Ciências envolve, desse modo, uma progressiva revisão do modelo trazido pelo visitante e sua progressiva aproximação aos modelos consensuais construídos pela Ciência. No segundo caso, o autor realizou testes do uso do método “lembrança estimulada”, incluindo adaptações para melhorar sua eficácia no contexto não formal. O método utiliza estratégias nas quais o

Gaspar (1993) utiliza o termo informal para as ações que ocorrem nos museus e centros de ciências e monitores para os profissionais que realizam a mediação entre a exposição e o visitante.

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visitante é exposto a registros da visita como audioteipes, videoteipes, fotografias, escritos, desenhos relacionados à atividade educativa que participou. Os registros funcionam como pistas para ativar a memória do visitante sobre um episódio, facilitando a expressão verbal dos pensamentos que o envolveram na aprendizagem durante a atividade (FALCÃO; GILBERT, 2005). Em uma pesquisa realizada por Studart (2005), o enfoque foi a aprendizagem de crianças e no contexto familiar em visitas a Museus e Centros de Ciência. O estudo analisou diferentes aspectos do comportamento desses grupos em três museus, como a preferência por determinados módulos entre meninos e meninas, as dificuldades em manusear equipamentos, o interesse dos pais e acompanhantes adultos pelas atividades, a satisfação das crianças em visitar o museu com a família e com a escola, entre outros. Os resultados podem auxiliar na elaboração de novos espaços destinados especificamente a esse público. 76 O papel educativo dos Museus e Centros de Ciência e a contribuição desses espaços para a aprendizagem científica

As pesquisas avaliativas sobre aprendizagem vêm ganhando novas adesões de profissionais brasileiros. Recentemente Garcia (2006) realizou, em sua dissertação de mestrado, um estudo sobre o papel dos objetos como esqueletos, peças anatômicas, ovos e peles de animais no processo de aprendizagem durante a visita em um zoológico do estado de São Paulo. A autora acompanhou e filmou uma visita de crianças na qual esses objetos foram utilizados pelo mediador, ao percorrer o zoológico observando os animais vivos. Durante a análise, utilizou uma metodologia que categoriza as conversas do visitante, identificando evidências da contribuição dessas para a aprendizagem (ALLEN apud GARCIA, 2006). Outra pesquisa recente, também produto de dissertação de mestrado, foi realizada por Rocha (2008) em um Museu de Ciências do Rio de Janeiro. A autora avaliou a contribuição de atividades oferecidas em quatro espaços do museu para a aprendizagem significativa. Utilizando questionários e entrevistas antes, logo após e um ano depois da visita, conseguiu identificar que as concepções sobre saúde e ambiente de jovens visitantes foram acrescidas de novas ideias, mesmo um ano depois da visita. A Teoria da Aprendizagem Significativa (AUSUBEL apud MOREIRA, 1999) considera fundamental para o processo de aprendizagem os conhecimentos que o sujeito traz sobre o assunto. Essa característica da teoria a torna compatível com uma proposta de educação dialógica, na qual o conhecimento e a cultura do visitante são valorizados no processo de aprendizagem.

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Considerações finais Os Museus e Centros de Ciência vêm conquistando seu público ao longo do tempo. Manter, ampliar e diversificar esse público são tarefas presentes na pauta atual dessas instituições. Segundo pesquisa recente, a frequência da população brasileira nos museus ou espaços similares ainda é baixa se comparada a países da Europa, indicando que, embora haja motivos para comemorar quando revemos a história dessas instituições, como educadores temos a missão de tornar a visita uma prática na cultura do brasileiro. Em relação ao papel educativo dos Museus e Centros de Ciência, apresentamos neste texto nossa compreensão da contribuição desses espaços para uma educação científica necessária em uma sociedade pautada nesse conhecimento. Em síntese, são espaços capazes de promover a socialização, formação de valores, habilidades e de construção de conhecimento em relação à Ciência, considerando-a como produto da cultura humana. Ao considerarmos os Museus e Centros de Ciência espaços de construção de conhecimento, estamos nos referindo ao potencial de promover aprendizagem. A avaliação da aprendizagem deve levar em conta as suas especificidades e as pesquisas vêm contribuindo para melhor compreender o processo, ampliando o conhecimento no campo da educação não formal. Por fim, é importante salientar que a aprendizagem nesses espaços não se limita ao aspecto cognitivo, pois tem dimensões como a afetividade e a socialização, que são inerentes ao processo.

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O olhar institucional sobre a mediação e os mediadores Educação em Rede

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Os mediadores das Salas de Ciências do projeto SESCiência: formação inicial e expectativa de atuação Ana Carolina de Souza Gonzalezi Andres Salomon Cohen Sebiliaii

i

Graduada em Ciências Biológicas — Modalidade Médica pela Universidade Federal

do Rio de Janeiro, Especialista em Ensino de Ciências pelo Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio de Janeiro e Mestre em Ciências Morfológicas pela Universidade Federal do Rio de Janeiro. É Assessora Técnica da Gerência de Educação e Ação Social do Departamento Nacional do SESC, integrando a coordenação nacional do Projeto SESCiência. ii

Graduado em Ciências Biológicas pela Universidade Santa Úrsula e pós-graduado

em Ensino de Ciências pela Universidade Federal Fluminense. Tem trabalhos/artigos publicados nas publicações Atlântida (1990), Revista Brasileira de Zoologia (1990), Para um Pensamento do sul: diálogos com Edgar Morin (2011). É Assessor Técnico da Gerência de Educação e Ação Social do Departamento Nacional do SESC, integrando a coordenação nacional do Projeto SESCiência, e coordenador do Projeto Especial Ação Comunitária SESC Cidade de Deus.

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RESUMO Os Museus e Centros de Ciência, assim como as Salas de Ciências, assumem cada vez mais seu papel educativo. Os mediadores têm atuação central no cotidiano desses espaços ao cumprirem o papel de elo entre o público e as exposições. Muito se discute sobre os programas de capacitação desses indivíduos e outros fatores que influenciam suas práticas, como as formações diversificadas, discursos, a necessidade de profissionalização, renovação e rotatividade das equipes. Neste artigo serão abordados seus papéis e funções no âmbito do SESCiência, bem como a estruturação da ação inicial de formação. Palavras-chave: Museus de Ciência. Mediação. Papéis e funções.

ABSTRACT The Science Museums, like the Science halls have been assuming their educational role more and more each day. Mediators have a central role in the daily life of these institutions as they fulfill the link between the public and the exhibitions. A lot has been discussed about the training programs of these individuals and other factors that influence their practices, such as the diversity of the formation programs, speeches, the need for professionalization, renewal and rotation of teams, etc. In this article their roles and functions in the SESCiência (SESCience) realm will be addressed, as well as the structuring of the initial training action. Keywords: Science museums. Mediation. Roles and functions.

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Características e especificidades do espaço de atuação Os Museus e Centros de Ciência, entre seus múltiplos papéis, são locais onde os visitantes podem unir entretenimento e lazer cultural ao conhecimento dos avanços científicos que fazem parte do desenvolvimento da sociedade (ELLIS, 2002). Como características desses espaços, destacam-se a premência quanto à compreensão da Ciência pelo público, um desejo de atrair os jovens para o estudo formal de assuntos científicos, o divertimento, o entusiasmo e o compromisso de suas equipes, e uma série de módulos expositivos manipuláveis [...] que evocam expressões de fascinação, prazer estético e reverência (MCMANUS, 2009).

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Embora a interatividade seja uma palavra de ordem na elaboração das exposições que compõem esses espaços, o único componente museal realmente interativo é o mediador, pois é ele que tem a capacidade de instigar o pensamento crítico e motivar o visitante frente a um saber. “De fato, nenhuma exposição interativa ou ferramenta multimídia pode realmente ouvir os visitantes e responder às suas reações” (RODARI; MERZAGORA, 2007). Decorre disso a atuação central que os mediadores têm no cotidiano dos Centros e Museus de Ciência, cumprindo o papel de elo entre o público e as exposições, e auxiliando no alcance dos objetivos pedagógicos traçados pelas instituições. Se “por um lado, as exposições não podem depender de monitores para serem compreendidas, [...] por outro, talvez seja a mediação humana a melhor maneira de obter um aprendizado mais próximo do saber científico apresentado e do ideal dos elaboradores” (CAZELLI; MARANDINO; STUDART, 2003). Segundo Queiroz e colaboradores (2002), o processo de mediação requer a mobilização de um saber com dimensões peculiares, o saber da mediação. Ele englobaria dimensões de vários saberes: os compartilhados com a escola, os compartilhados com a escola no que diz respeito à educação em Ciências e, mais propriamente, os saberes de museus. Os conhecimentos, aptidões, habilidades e atitudes da mediação estão relacionados à articulação desses saberes. Por essa razão, discussões sobre os programas de capacitação desses indivíduos suas formações, funções, profissionalização, renovações e discursos - têm se intensificado na última década (MASSARANI, 2007, 2008; MARANDINO, 2008).

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Definições de questões atitudinais e formativas como marca da versatilidade requerida Embora seja esperado que demonstrem interesse pelas Ciências como um todo, os mediadores das Salas de Ciências são, preferencialmente, alunos dos cursos de graduação das mais variadas áreas: Biologia, Química, Física, Matemática, Pedagogia, História, Engenharia Florestal, Geografia, entre outros. Esse é um fator importante para conferir um olhar multidisciplinar a esses espaços, além de permitir que os próprios mediadores sejam beneficiados pelas ricas trocas entre os componentes da equipe. No entanto, sempre se estabelece um desafio quando analisamos a necessária formação pedagógica e conteudística para liderar o trabalho diário de atendimento ao público: Quando houver presença de monitores e/ou mediadores, eles devem ser preparados quanto ao conteúdo específico em suas relações com as aplicações das tecnologias disponíveis. O embasamento em termos metodológicos e a reflexão sobre diferentes públicos devem merecer especial atenção, pois será essa preparação que tornará o monitor/mediador apto a atuar, a partir de procedimentos flexíveis, diante dos diferentes públicos (SESC, 2000).

Do mesmo modo, deseja-se que os mediadores exerçam uma série de papéis e funções, e que, exatamente por isso, sejam dinâmicos, receptivos, multifacetados, criativos e desinibidos, visando ao pleno desenvolvimento do seu trabalho. As competências e habilidades esperadas para os mediadores estão descritas no Guia de implantação e gestão das Salas de Ciências e estão relacionadas: • A todas as tarefas decorrentes do atendimento ao público, organização dos grupos e disponibilização de informações gerais e específicas. • À adequação dos conteúdos, posturas e linguagens aos mais variados tipos de público, considerando distintas faixas etárias e graus de escolaridade. • À inovação da programação, a partir da criação e implementação de atividades adicionais. • Ao estímulo e auxílio para que os visitantes interajam com o acervo, vivenciem os fenômenos e façam suas (re)descobertas. • Ao cuidado com o acervo e com o próprio visitante. • À seleção prévia dos materiais a serem trabalhados. • Ao auxílio nas ações de divulgação.

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• À participação e contribuição nas reuniões de planejamento e avaliação das ações. • À colaboração na limpeza do ambiente, no uso racional dos recursos e na manutenção dos equipamentos. • Ao registro das informações pertinentes aos atendimentos. • À contribuição da formação dos novos mediadores, por meio do compartilhamento de práticas, incentivo e orientação para a atuação. • Ao entendimento e efetivo uso da expressão “trabalho em equipe”.

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As questões abordadas deixam clara a importância do mediador e da mediação para o alcance de resultados exitosos nas ações das Salas de Ciências. Eles são a voz da Entidade quando recepcionam; são representantes da Educação no SESC e do SESCiência quando se apresentam; detentores de saberes específicos quando abordam os conteúdos; e tradutores/facilitadores do conhecimento científico quando unem o que o público traz de bagagem com o que está sendo abordado na atividade.

Panorama da formação inicial e problematização da formação continuada A necessidade de embasar pedagogicamente as ações educativas em situações não formais vem sendo cada vez mais salientada pelos especialistas que avaliam as iniciativas de Museus e Centros de Ciências e outras instituições afins. Para esta tarefa complexa e multidimensional, faz-se necessário não só formular uma proposta pedagógica que oriente o planejamento das atividades a serem vivenciadas pelo público, mas, também, capacite as pessoas que com elas terão oportunidade de interagir de diferentes formas e em diferentes situações. A variedade de públicos em função da faixa etária, escolarização, capital cultural entre outros fatores, como, por exemplo, experiências anteriores equivalentes, também deve ser levada em consideração [...]. Articular o conhecimento científico com as formas pelas quais ele está operacionalizado nos recursos concebidos e disponibilizados ao público, e também com a atuação de interlocutores capacitados, é fator relevante para o alcance dos objetivos propostos (SESC, 2000).

Quando consideramos a heterogeneidade da equipe e a multiplicidade das atribuições, vemos como as ações de formação são imprescindíveis para que a atuação dos mediadores fique cada vez mais afinada com os objetivos da atividade.

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Mesmo acreditando que o refinamento e a maturidade no trabalho de mediação venham com a reflexão e o repensar sobre a própria prática, no caso específico das Salas de Ciências o desafio da capacitação desses atores fica ainda maior por serem eles estagiários, cujos períodos de estágio, em virtude da legislação vigente, não podem ultrapassar dois anos (SESC, 2009). O fator “rotatividade” tem impacto preponderante na continuidade do trabalho: se, por um lado, pode ser uma importante fonte de oxigenação para ideias e novos projetos, por outro, provoca uma ruptura no processo, demandando o reinício das ações formativas. A formação inicial da equipe de mediadores de uma nova Sala de Ciências é feita pela Coordenação nacional do Projeto SESCiência, e, pelas questões operacionais envolvidas no deslocamento dos profissionais, precisa ser condensada em cinco dias, diferindo substancialmente dos programas de capacitação dos Centros e Museus de Ciência nacionais e internacionais, que duram, minimamente, seis meses. Esta ação de formação contempla reuniões, visitas a sites e outros espaços que trabalhem com divulgação científica, leituras em grupo, apresentações e discussões sobre: • A Proposta Pedagógica do Projeto SESCiência (concepções teóricas sobre educação não formal, construtivismo e sociointeracionismo, contexto histórico do surgimento e evolução de Centros e Museus de Ciência, nascimento e desenvolvimento do Projeto SESCiência). • O trabalho da divulgação científica como fator de inclusão social (pesquisas de percepção pública da Ciência, resultados dos últimos programas internacionais de avaliação de estudantes nas áreas de Ciências). • Modalidades de ações de popularização da Ciência (eventos, espaços permanentes, jornais, revistas, televisão, livros, internet, iniciativas itinerantes, entre outros). • Filosofia de trabalho nas Salas de Ciências (cerne da atuação, metodologia, possibilidades de programação, público-alvo, planejamento, efeitos multiplicadores esperados). • Funções da mediação e do mediador (concepções teóricas e práticas, definições nacionais e internacionais, importância, papéis esperados, experiências de outros Museus de Ciência nessa área).

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A formação conta ainda com uma parte prática de simulação de visita guiada, para familiarização com a abordagem pedagógica adequada e sensibilização quanto à adaptação de posturas e linguagens, de acordo com os diferentes perfis dos públicos. No último dia, os mediadores já iniciam seu trabalho a partir do contato com os primeiros grupos de visitantes, observados pelas coordenações nacional, regional e local. Esses momentos são seguidos de reuniões para apontamentos e ajustes, visando à melhor estruturação do trabalho. No entanto, como dito anteriormente, acreditamos que a própria reflexão sobre a ação seja propulsora de um melhor desempenho.

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Embora sejam deixados e enviados constantemente aos mediadores materiais concretos e bibliografia da área para aprofundamento dos estudos, a participação ativa e permanente dos coordenadores regionais e locais do Projeto SESCiência faz-se premente para conferir continuidade à formação, do contrário, rarefaz-se, progressivamente, o resultado da ação inicial de capacitação. Com a subsequente e gradual substituição desses estagiários, em pouco tempo temos uma equipe inteira (geralmente dois por turno) que não recebeu a formação inicial dada pela coordenação nacional. Ainda que as coordenações regional e local exerçam outras funções institucionais ou possam não ter formação específica na área das Ciências, cabe a esses profissionais articular contato e parcerias com professores de universidades ou responsáveis por Museus de Ciência locais para o planejamento de ações de formação continuada da equipe das Salas de Ciências, o que deve estar incluído na pauta anual de avaliação da própria atuação enquanto coordenador. Por isso é também indispensável que a atuação desses estagiários mediadores seja acompanhada permanentemente pelos professores assessores e/ou orientadores (que podem ser da Escola do SESC onde a Sala está implantada) e supervisores de estágio das respectivas universidades/faculdades de onde os estagiários são oriundos. Esse contato próximo ajuda a dirimir dúvidas, orienta as ações, avalia desempenho, oferece conforto e segurança no desenvolvimento das atividades e na superação de obstáculos, consolidando uma formação processual.

As marcas que queremos deixar e as que são levadas Atividades de popularização da Ciência vêm ganhando destaque no país. Fazendo uma mediação entre Ciência e sociedade, essas ações intentam comunicar

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Ciência em seu sentido amplo, para um público não especializado, entendendo que o acesso ao conhecimento não deve ser de domínio restrito, pois assim contribuiria unicamente para o aumento da exclusão social e da concentração de poder. Nesse contexto, atuar como mediador em um Centro, Museu ou Sala de Ciências “[...] representa uma oportunidade de ampliar seu universo científico e cultural e de contribuir para a superação de uma formação fragmentada e compartimentalizada que ainda persiste nos cursos universitários” (SEIBEL; BONATTO; PEREIRA, 2007). Precisamos ter em mente que, na maioria expressiva dos casos, seja nas licenciaturas ou bacharelados, esses estudantes de graduação não recebem nas universidades nenhum tipo de formação para abordagem da Ciência no âmbito da educação não formal, o que reserva a nós a responsabilidade de formá-los para isso quase que integralmente. De acordo com Costa (2007), os mediadores são geralmente pessoas muito motivadas, com verdadeiro interesse em Ciência e Tecnologia e com uma formação científica a qual estão ansiosos por compartilhar. Adicionalmente, acreditam que o público deveria ser tão entusiasmado com a Ciência como eles o são. De fato, o próprio incentivo às ações de formação é um importante fator motivacional. Uma pesquisa ainda em andamento com 25 mediadores de Salas de Ciências das cinco regiões do Brasil aponta que 76% deles afirmaram que a motivação para o trabalho aumentou ao longo do estágio. Isso estaria relacionado principalmente ao amadurecimento pessoal e profissional, à ação inovadora, ao trabalho em equipe e à percepção do fascínio provocado pelas atividades nos alunos visitantes. Além disso, quando tratamos de mediadores estagiários, a profissionalização é um fator importante a se pensar para motivar e evitar renovações constantes, tendo em vista que há desistências frente a uma possibilidade externa de emprego formal. Na mesma pesquisa citada, 84% dos mediadores entrevistados acreditam que o estágio na Sala de Ciências contribuiu ou contribuirá para o alcance dos seus objetivos profissionais, seja pelo contato com novos conhecimentos, pela possibilidade de aliar teoria à prática, pelo ganho de maior desenvoltura junto ao público e pelo contato com uma nova estratégia para a aprendizagem em Ciências. Exatamente por ser uma experiência absolutamente nova, o trabalho nesses espaços pode assustar e desestimular, ou instigar e motivar. Está em nossas mãos, gestores, a luta para que a segunda situação prevaleça. Acompanhando a onda crescente de novos Centros e Museus de Ciência no país — e a busca por uma distribuição mais equânime pelas regiões —, aumenta também a demanda por profissionais aptos para atuar nessa área. Mais uma vez, somos a fonte.

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Referências

CAZELLI, Sibele; MARANDINO, Martha; STUDART, Denise. Educação e comunicação em museus de ciência: aspectos históricos, pesquisa e prática. In: GOUVÊA, Guaracira; MARANDINO, Martha; LEAL, Maria Cristina (Org.). Educação e museu: a construção social do caráter educativo dos museus de ciências. Rio de Janeiro: Access, 2003. p. 83-106. COSTA, A. G. Os “explicadores” devem explicar? In: MASSARANI, Luisa; MERZAGORA, Matteo; RODARI, Paola (Org.). Diálogos & ciência: mediação em museus e centros de ciência. Rio de Janeiro: Museu da Vida/Casa de Oswaldo Cruz/Fiocruz, 2007. p. 27-30. ELLIS, D. W. Diferentes abordagens para a organização e o funcionamento de centros de ciência. In: SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE IMPLANTAÇÃO DE CENTROS E MUSEUS DE CIÊNCIA, 2002, Rio de Janeiro. Anais... Rio de Janeiro: UFRJ, 2002. p. 19-25. MARANDINO, M. (Coord.). Educação em museus: a mediação em foco. São Paulo: FEUSP, 2008. MARANDINO, M.; ALMEIDA, A. M.; VALENTE, M. E. V. (Coord.). Museu: lugar de público. Rio de Janeiro: Fiocruz, 2009. p. 47. 90 Os mediadores das Salas de Ciências do projeto SESCiência: formação inicial e expectativa de atuação

MASSARANI, Luisa. Workshop sul-americano & escola de mediação em museus e centros de ciência. Rio de Janeiro: Fiocruz, 2008. MASSARANI, Luisa; MERZAGORA, Matteo; RODARI, Paola (Org.). Diálogos & ciência: mediação em museus e centros de ciência. Rio de Janeiro: Museu da Vida/Casa de Oswaldo Cruz/Fiocruz, 2007. MCMANUS, P. M. Uma palavra em seu ouvido…: o que você quer dizer quando fala, ou pensa a respeito de educação (formal e informal), aprendizagem e interação. In: MARANDINO, Martha; ALMEIDA, Adriana; VALENTE, Maria Esther (Org.). Museu: lugar do público. Rio de Janeiro: Fiocruz, 2009. p. 47-62. QUEIROZ, G. et al. Construindo saberes da mediação na educação em museus de ciência: o caso dos mediadores do Museu de Astronomia e Ciências Afins/Brasil. Revista Brasileira de Pesquisa em Ensino de Ciência, São Paulo, v. 2, n. 2, p. 77–88, 2002. RODARI, P.; MERZAGORA M. Mediadores em museus e centros de ciência: status, papéis e capacitação: uma visão geral europeia. In: MASSARANI, Luisa; MERZAGORA, Matteo; RODARI, Paola (Org.). Diálogos & ciência: mediação em museus e centros de ciência. Rio de Janeiro: Museu da Vida/ Casa de Oswaldo Cruz/Fiocruz, 2007. p. 7-20. SEIBEL, M. I.; BONATTO, P.; PEREIRA, M. R. N. Museus e centros de ciências: um espaço de contribuição para a formação do jovem? Anais do Museu Histórico Nacional, Rio de Janeiro, v. 39, p. 329-343, 2007. SESC. Departamento Nacional. Modelo Programa Especial de Bolsas de Estágio: módulo de orientação para implantação e desenvolvimento. Rio de Janeiro, 2009. SESC. Departamento Nacional. Proposta pedagógica do Projeto SESCiência. Rio de Janeiro, 2000.

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Parte III

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A fala coletiva das Salas de Ciências: do intangível às experiências práticas Educação em Rede

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Experiência em mediação — Departamento Regional do SESC no Distrito Federal Adrianne F. da Silvai Bruno C. A. de Azevedoii Demétrius Leãoiii Diogo B. Sousaiv Leila da S. V. Clarov Patrícia J. C. de Souza Martinsvi Priscila B. de Moraisvii Valéria A. Salesviii

Mediadora, graduanda em Química.

i

Mediador, graduando em Química.

ii

Mediador, graduando em Física.

iii

Professor, graduado em Química, cursando pós-graduação em Educação Ambiental.

iv v

Professora, graduada em Biologia e ensino de Ciências, pós-graduada em Biotecnolo-

gia, cursando pós-graduação em Educação Ambiental. Coordenadora pedagógica, graduada em Pedagogia, com pós-graduação em Admi-

vi

nistração Escolar e especialista em Desenvolvimento e Gestão de Educação Profissional pela UNB. Mediadora, graduanda em Biologia.

vii

Mediadora, graduanda em Biologia.

viii


RESUMO O presente artigo apresenta o histórico e o trabalho desenvolvido pela Sala de Ciências do Distrito Federal sob orientação do projeto SESCiência, oriundo do Departamento Nacional. A iniciativa do espaço científico permanente foi motivada pelo desenvolvimento das Ciências Naturais e Sociais, interesse intelectual dos docentes, discentes e comunidade, e em concordância com os Parâmetros Curriculares Nacionais para o qual “o estudo das Ciências Naturais permite investigar os mistérios do mundo, compreendendo o equilíbrio dinâmico da vida com as permanentes interações entre os seres vivos e os demais elementos do ambiente”. O projeto estruturou-se em meados de 2006 e apresenta saberes em torno de temas que comprovam a utilidade e o porquê da área científica no processo cotidiano, em que a experiência e o conhecimento colocam o saber em ciclos de aprendizagens e articulam os diversos pontos de vista. Desde a inauguração do espaço até a atualidade, os objetivos da proposta estão se concretizando cada vez mais acentuadamente, melhorando e inovando o processo de ensino-aprendizagem — em razão das diferentes temáticas abordadas — principalmente junto aos discentes e à comunidade, pois percebem que a Ciência pode ser explicada de uma maneira simples e mais presente do que imaginavam.

ABSTRACT This article presents all the history and work developed by the Federal District science room, under the orientation of the SESCiência project arising from the National Department. The initiative of the permanent scientific space was due to the development of natural and social sciences, intellectual interest by the professors, students and community, and in accordance with National Curriculum Parameters, to which the “study of natural sciences allow to investigate the mysteries of the world, understanding the dynamic balance of life with the permanent interaction between mid-2006, through which, from then on, present the knowledge of themes that face and prove the usefulness and the reason of the scientific area in the daily process, where experience and knowledge place knowing in learning cycles and articulate the several points of view. Since the inauguration of the space to the present year of 2009, the goals of the purpose are being more and more materialized, improving and renewing the teaching-learning process — due to the different themes elucidated — mainly those of the students and the community, since they realize that science can be explained in a simple and more present manner than they had thought.

Palavras-chave: Museu de Ciência. Sala de Ciências. Espaço científico.

Keywords: Science museum. Science room. Scientific spare. Science.

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Histórico do espaço A proposta pedagógica do SESCiência, na perspectiva de potencializar seu papel educativo, tem como um de seus objetivos fazer com que a educação científica torne-se algo mais próximo da população. Nesse sentido, em diversos estados brasileiros foram implantadas Salas de Ciências, uma iniciativa que visa principalmente à popularização da Ciência. Esses pequenos espaços têm um grande objetivo, que é o de transmitir o conhecimento científico a todos os públicos de um modo prazeroso e diferenciado da educação formal. A Sala de Ciências é um espaço predeterminado, capaz de receber acervo variado de equipamentos e suporte pedagógico, em que professores, alunos e a comunidade possam pesquisar, consultar e conduzir os exercícios de pesquisa, estimulando a participação do visitante de maneira prática à observação dos fenômenos científicos. 96 Experiência em mediação — Departamento Regional do SESC no Distrito Federal

O espaço, que trabalha uma linha de ação interativa, libertadora e inovadora, tem uma ambientação artística dos variados ecossistemas representados por pinturas de paisagens, tais como o cerrado brasileiro, o sistema marinho, calotas e ursos polares; Congresso Nacional, fábricas e indústrias representando a poluição do planeta. As paredes atuam como apoio durante a visitação, pois servem como tema de exposição para diversos assuntos trabalhados no espaço, como: importância e manutenção dos recursos hídricos, energias limpas, seres vivos e suas relações, ecossistemas, poluição, reciclagem etc. Para a composição do acervo da Sala de Ciências, inicialmente foram adquiridos microscópios, geladeira, computador, televisão, aparelho de DVD, mobília, maquete de uma hidroelétrica, maquete celular, maquete do corpo humano, roda d’água, bancadas com armários, vidrarias e reagentes para experimentos. Com os materiais à disposição dos mediadores, foi proposta uma série de atividades, em reunião com toda a equipe, para integrar a questão pedagógica, educacional e interdisciplinar do espaço científico. Após a inauguração, em agosto de 2007, foram realizadas reuniões semanais com toda a equipe (coordenadora, mediadores e professores) da Sala de Ciências, visando à ampliação das atividades. Inicialmente a sala teve como temática a água e, em virtude da diversificação de fenômenos observados no planeta, decidiu-se aumentar a temática proposta para todo conteúdo relacionado ao meio ambiente e aos seres vivos. Tomando como ponto de partida os assuntos predeterminados, as

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atividades eram realizadas e estruturadas por toda a equipe. Ao longo dos trabalhos desenvolvidos, surgiu a necessidade de aquisição de novos materiais que pudessem proporcionar melhoria dos trabalhos desenvolvidos, tais como a instalação de uma linha telefônica (para melhor contato com as escolas, com a comunidade em geral e com as instituições parceiras), uma capela e um lava-olhos, para melhor proteção dos mediadores e dos visitantes. Para um fortalecimento e maior divulgação do espaço, a busca de parcerias educacionais foi e ainda é um dos maiores objetivos da equipe, pois sabe-se que parcerias com instituições voltadas para a temática do espaço são benéficas para melhor divulgação científica. As primeiras parcerias foram: laboratório de pesquisa em ensino de Química da Universidade de Brasília (UNB), laboratório de águas da Universidade Católica de Brasília, a WWF-Brasil e Companhia de Polícia Militar, Instituto do Meio Ambiente e dos Recursos Hídricos do Distrito Federal (Ibram), Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), escolas públicas do Distrito Federal (Escola Classe 42 e Escola Classe 8), Companhia de Saneamento Ambiental do Distrito Federal (Caesb), Secretaria de Saúde e Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação.

Capacitação dos mediadores — momentos de estudo e planejamento Na Sala de Ciências são realizados dois tipos de estudos com os mediadores (estagiários), ambos detalhados a seguir.

Primeiro estudo: apresentação inicial com o objetivo de mostrar todas as atividades da Sala de Ciências, juntamente com a proposta pedagógica do Projeto SESCiência, para que o mediador compreenda como elas podem contribuir para a educação dos visitantes e o funcionamento da divulgação científica.

Segundo estudo: o sucesso em uma apresentação — seja um único atendimento a um pequeno grupo ou a grandes recepções durante o extenso período que uma mostra ocupa — pode ser considerado proporcional ao tempo despendido para sua organização. Definitivamente, a tarefa de levar o conhecimento científico a cada estudante, independentemente da modalidade escolar em que esteja, não é uma tarefa para amadores e exige estudo e planejamento, bem como discussões e reflexões em equipe. Com essa crença, pode-se destacar duas importantes ações periódicas com as finalidades mencionadas, são elas:

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• Reuniões quinzenais: com o intuito de aprimorar o trabalho oferecido pela Sala de Ciências, são realizadas quinzenalmente reuniões com toda a equipe (professores, mediadores e coordenadora), para abordagem e estrutura sobre a eficácia da divulgação científica, com o objetivo de desenvolver a capacidade de aperfeiçoamento da linguagem, para melhorar o diálogo com os visitantes. Nessas reuniões, são trabalhadas as questões de linguagem de transmissão das informações, especialmente sua adequação ao tipo de público presente no espaço, considerando as profundas diferenças de idade, capacidade de entendimento e, principalmente, diferenças culturais, de etnias, religiosas, ideológicas ou até mesmo de gênero. Reavalia-se também as atividades já elaboradas e as metodologias e condutas adotadas, tentando detectar falhas que, em situações futuras, possam ser contornadas e corrigidas. Ações futuras e planejamentos também constituem a pauta desses encontros.

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• Sextas de estudo: momento destinado à leitura de artigos, reportagens e textos, divulgação e ensino de Ciências. Geralmente cada mediador seleciona algum trabalho interessante em sua área, como artigos, revistas e livros para estudo e aprofundamento. As sextas-feiras para a leitura são escolhidas dependendo da demanda da sala. Essas reuniões são realizadas para que os mediadores ampliem a capacidade de ouvir e administrar os diálogos, facilitando a troca de diferentes visões e fortalecendo o “exercício” de estudo sobre pressupostos teóricos de amplo aspecto multidisciplinar.

Contribuições dos mediadores e professores A equipe da Sala de Ciências do Distrito Federal é geralmente composta por cinco ou seis mediadores e dois professores, e toda a equipe é orientada por uma coordenadora. Apesar de a Sala de Ciências ter uma temática ambiental diversificada, a contribuição dos mediadores na proposição de novos temas e dispositivos é de grande relevância para o trabalho oferecido aos visitantes; além disso, proporciona autonomia e possibilita o desenvolvimento da iniciativa e criatividade dos mediadores, ajudando em sua carreira acadêmica como educador. Desde a implantação da sala, muitos mediadores passaram e contribuíram com sugestões e projetos, porém, em virtude da grande rotatividade desses profissionais, a criação de projetos mais complexos permanece, geralmente, sob o controle e a produção dos professores. Todavia, muitas contribuições feitas

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com o apoio dos professores tiveram bom êxito em seus objetivos, colaborando para o acervo com materiais e instrumentos de trabalho nas diversas áreas de conhecimento, especialmente nas áreas de Química, Física e Biologia. Essas áreas foram exploradas nos principais eixos temáticos, indicados nos PCN + Ensino Médio (BRASIL, 2002): Vida e Ambiente; Ser Humano e Saúde; Terra e Universo; Tecnologia e Sociedade. Segundo o histórico da sala, as áreas de Química e Biologia foram mais exploradas inicialmente. Primeiro foi confeccionado material explicativo para a maquete que representa uma hidroelétrica e uma maquete de uma roda d’água, representando as formas de transformação de energia, recursos hídricos e temas transdisciplinares — orientações sobre impactos ambientais, estruturas urbanas, tratamento da água potável e de esgoto. Ainda nesse tema, foi produzida uma maquete representando o sistema de tratamento de água de Brasília, com materiais recicláveis (garrafas PET e canos PVC). Outro tema em destaque na Sala de Ciências é o aquecimento global. Sabendo-se da real importância do entendimento de um processo de tamanha grandeza, foi produzida uma maquete sobre o agravamento do efeito estufa e suas consequências, com representações de indústrias e carros poluentes, sendo bastante utilizado nos atendimentos. Entre as colaborações específicas, em Biologia destacam-se os modelos representativos e comparativos do desenvolvimento embrionário, e ainda se tratando do tema da evolução dos seres vivos a confecção de uma maquete comparando as teorias de Lamarck e de Darwin. Também se destaca a confecção de vários outros materiais, como órgãos humanos (coração, esôfago e intestino) e células (uma animal e uma bacteriana) em tamanhos grandes, produzidas com biscuit; uma placa imantada com os tipos e formatos das bactérias; um terrário; um minhocário; um painel interativo sobre a doença de Chagas e a febre amarela; um mural demonstrativo com o tempo de degradação dos materiais; um modelo gigante de um cigarro e seus principais componentes; jogos e brincadeiras científicas. Existe ainda a iniciativa da construção de um canteiro na própria unidade do SESC de Taguatinga Norte, com as principais plantas medicinais e suas aplicações no dia a dia. Em Química, as mais populares oficinas são a de produção de sabão utilizando óleo de cozinha usado — Da gota de óleo à bolha de sabão; constantes demonstrações de reações químicas; lançamentos de “foguetes” de garrafas PET utilizando a combustão como propulsão; demonstrações do efeito estufa segundo a química

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atmosférica, representações do funcionamento das pilhas e baterias, como exemplo a “pilha de batata” e suas relações com a natureza. A área de Física está em expansão e já conta com alguns dispositivos interativos, tais como termoscópios, canhões de brinquedo para o estudo do movimento de projéteis, um plano inclinado, um pêndulo e o “disco de Newton” anexado a um ventilador. Constantemente são realizadas oficinas de construção de um aquecedor solar feito com materiais recicláveis (garrafas PET, canos PVC e caixas de leite usadas).

Organização dos atendimentos

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As visitas ocorrem sob agendamento prévio ou espontâneo. Nos dois anos iniciais de funcionamento observou-se um grande público (escolas públicas e privadas) marcando a visita ao espaço científico e possibilitando mais tempo à equipe para inovações em materiais e oficinas. Antes dos atendimentos, é organizada a temática proposta pelos professores/coordenadores, visitantes ou orientadas pela própria temática desenvolvida na sala, de modo a dividir a visitação para cada professor e mediador exercer sua habilidade. Após a inauguração do espaço, em 10 de agosto de 2007, a Sala de Ciências do Distrito Federal abriu-se ao público para visitação. A visita é organizada com agendamento prévio das escolas, como dito anteriormente, porém não impossibilitando a visita espontânea de público. Durante uma visitação, o visitante é encaminhado a três atividades diferentes, como experimentoteca, vídeos e oficinas. Ainda em 2007, foram atendidas diversas escolas, utilizando a temática principal — Água e Educação Ambiental. Foi realizada a primeira oficina, intitulada Coleta seletiva e reaproveitamento de lixo para turmas compostas por adultos e idosos, e a primeira oficina para Educação Básica e Ensino Fundamental de construção de um filtro caseiro. A Sala de Ciências, procurando inovar seu espaço de divulgação e temática, junto ao setor de Saúde da Unidade Operacional, participou do Projeto Agente jovem — educação em saúde, sobre educação sexual e drogas. Para a divulgação dos trabalhos desenvolvidos na Sala de Ciências na Feira de Ciências da Escola Classe 8 (Escola Pública do Distrito Federal) cabe salientar a participação externa com as temáticas divididas por estações:

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Estação A: torso bissexual — cuidados com o corpo, cuidados com a alimentação e trabalho com os sentidos humanos (tato, olfato, visão, audição e paladar). Estação B: microscópios — apresentação de lâminas com auxílio do microscópio. Estação C: separação das substâncias. Estação D: energia — maquete de energia eólica e pilha de limão. Estação E: reações químicas — reação ativada por voz (indicadores ácido-base). Estação F: coleta seletiva e reciclagem — resíduos e materiais reciclados. Em 2008, como resultado das reuniões pedagógicas, foram feitas propostas de inovação das atividades já desenvolvidas e readequação espacial para melhor acolhimento do público (como remoção da bancada central do espaço), tendo em vista a demanda por mais espaço livre. A programação da Sala de Ciências também passou a contemplar outras ações sistemáticas, como as apontadas a seguir: Ciência na alfabetização de jovens e adultos — Educação Complementar. Dois seminários referentes à capacitação docente e discente com temáticas diferenciadas: Educação ambiental — a pegada ecológica, e Sexualidade e Saúde Pública.

Oficinas Visando disseminar práticas ambientalmente sustentáveis e buscando maneiras de aproximar a Ciência do cotidiano das pessoas, a equipe da Sala de Ciências realizou as oficinas de coleta seletiva de resíduos residenciais recicláveis, construção de brinquedos de sucata e instrumentos musicais com materiais reutilizáveis, confecção de filtro caseiro e aquecedor solar com garrafa PET e caixas de leite, e reaproveitamento de óleo de cozinha usado para geração de sabão. Essas oficinas atendem aos requisitos do projeto SESCiência, uma vez que oferecem suporte pedagógico aos professores, aos alunos e à comunidade para que possam pesquisar, consultar e conduzir o exercício da pesquisa, do experimento e também conhecer variados fenômenos científicos associados ao cotidiano,

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representando enorme estímulo para a participação de modo prático e consciente na integração de saberes: “aprender a conhecer, aprender a fazer, aprender a conviver, aprender a ser”, e talvez seja, até mesmo, o meio para descobrir-se novos pesquisadores e cientistas.

Participação em feiras, mostras e exposições Ação comunitária do SESC em Brazlândia: visando tratar assuntos relacionados à sustentabilidade e à reciclagem junto a comunidades carentes, a Sala de Ciências participou efetivamente, com a equipe de esportes e saúde do Departamento Regional do SESC no Distrito Federal, da oficina Da gota de óleo à bolha de sabão, de produção de sabão caseiro feito com óleo de cozinha usado, em Brazlândia.

Projeto Multiações (escola vem ao SESC) — parceria da Unidade Operacional Taguatinga Norte com Módulo de Educação e Cultura (EduSESC): é um 102 Experiência em mediação — Departamento Regional do SESC no Distrito Federal

projeto realizado por praticamente todos os setores de atendimento ao público da Unidade do SESC de Taguatinga Norte. O projeto desenvolvido na Sala de Ciências em 2008 abordou diversos temas, como a importância ambiental da coleta seletiva; o tratamento de água do Distrito Federal; a água e sua importância para o corpo humano. Nessa temática foram desenvolvidas oficinas de reciclagem, bem como a explanação teórica e experimental das etapas do tratamento de água do Distrito Federal.

Dia mundial sem tabaco no aeroporto de Brasília: a equipe da Sala de Ciências participou efetivamente do combate ao fumo no Dia mundial sem tabaco em Brasília. Durante todo o dia, voluntários promoveram testes físicos em estandes e tiraram dúvidas sobre os males provocados pelo fumo. A Sala de Ciências desenvolveu e apresentou aos visitantes um cigarro gigante, feito com um tubo de PVC, algodão, serragem e isopor. Dentro do cigarro foram acrescentadas algumas das quatro mil substâncias químicas que causam danos ao corpo humano e até mesmo ao meio ambiente, como: veneno de rato, creolina, soda cáustica, formol etc.

Semana do meio ambiente — parceria Sala de Ciências com EduSESC: a Semana do meio ambiente realizada no EduSESC teve apoio e participação efetiva da Sala de Ciências em temas voltados para o meio ambiente. Como a temática é bastante enraizada na Sala de Ciências, foram desenvolvidos por toda equipe vídeos sobre a degradação ambiental provocada pelo aquecimento global e uma maquete simulando o planeta Terra e o efeito estufa. Anteriormente ao evento, turmas

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de todas as séries desta escola, com seus respectivos professores, tiveram apoio teórico/experimental sobre questões ambientais, como a relação dos fenômenos naturais e a ação antrópica.

Semana do meio ambiente e reciclagem em Ceilândia — em parceria com a Sala de Ciências: para participação da Sala de Ciências em Ceilândia, a equipe levou lixeiras coloridas para explanação da “coleta seletiva e sua importância”. Foram realizadas oficinas para produção de brinquedos diversos com materiais recicláveis, como tampinhas de garrafa PET, rolo de papel higiênico, cola, tinta e muita criatividade.

SESC vai à escola — Escola Classe 42: mesma descrição de atividades e logística do projeto Multiações, porém nesse projeto o SESC vai até a escola para o desenvolvimento das atividades nas quais a Sala de Ciências está envolvida.

Construção coletiva da mostra itinerante Circuito evolutivo: parceria da Unidade Operacional Taguatinga Norte com o EDUSESC. Reunião com todos os professores e coordenadores da Educação Complementar e EDUSESC para a organização, produção e ação de atividades na Semana Nacional de Ciência e Tecnologia — Evolução & Diversidade.

Capacitação de estudantes da Educação Básica para monitoria de atividades não formais de ensino-aprendizagem: a capacitação foi destinada aos alunos da EduSESC para a futura apresentação do trabalho desenvolvido na Semana Nacional de Ciência e Tecnologia (SNCT). Nessa capacitação, todos os mediadores e professores mantiveram contato com os alunos, apresentando os aspectos relevantes da temática Evolução e Diversidade da SNCT, bem como sobre comportamento adequado, diferenciação dos tipos de linguagens e como deve ser estruturada a explanação do trabalho desenvolvido.

Visita da Casa masculina de Brasília: a Casa masculina tem o objetivo de recolher menores infratores, visando oferecer um futuro melhor para esses jovens, elucidando conceitos sobre educação, saúde e cidadania. No espaço científico, os mediadores e professores desenvolveram um trabalho sobre drogas e seus mecanismos de ação, apresentando um cigarro gigante, vídeos e relatos dos próprios visitantes sobre experiências ilícitas em relação às drogas. Estande do DR/DF na Semana Nacional de Ciência e Tecnologia, Circuito evolutivo — percepções estudantis: participação efetiva na Semana Nacional de Ciência e Tecnologia 2008 — Evolução & Diversidade, em parceria com a EduSESC,

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na apresentação do inovador Circuito evolutivo — percepções estudantis. O evento foi divido em sete estações temáticas, respectivamente: evolução do universo; teorias de origem da vida; evolução dos seres vivos; história dos povos pré-colombianos; a evolução crítica da relação entre o homem e o ambiente; a situação dos recursos hídricos no Distrito Federal e oficinas de sustentabilidade. A Sala de Ciências estava mais envolvida com as atividades: aquecedor solar com garrafas PET, transformação do óleo usado de cozinha em sabão, produção de instrumentos musicais com materiais reciclados e produção de papéis recicláveis.

Apoio educacional para as Mostras e Feiras de Ciências de unidades da Secretaria de Estado de Educação do Distrito Federal (SESC vai à escola):

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Em todas as escolas, a participação na Feira de Ciências foi um meio bastante significativo para divulgação e explanação da Ciência para alunos e professores sobre o trabalho desenvolvido na Sala de Ciências. Foram abordadas as principais temáticas que são desenvolvidas, bem como a produção de um filtro caseiro para simulação de uma das etapas de tratamento de água.

Atendimentos às escolas públicas e privadas do Distrito Federal: diversos temas voltados para Educação Ambiental: tipos de solos e sua degradação; fontes de energia; tratamento de água; efeito estufa; aquecimento global e mudanças climáticas. Temas relacionados à saúde também foram desenvolvidos, em especial o corpo humano e seus sistemas.

Ano das mostras científicas No início de 2009, a equipe de mediadores recebeu novos integrantes nas áreas de Química e Biologia, em razão da saída de mediadores que cumpriram sua formação acadêmica. Em virtude da demanda e do crescimento da proposta da Sala de Ciências, sempre procurando inovar e ampliar seus horizontes na área educativa, foi solicitada a contratação de um mediador na área de Física. Com as três áreas unidas, foi possível desenvolver e continuar realizando um excelente trabalho, completo e dinâmico.

Projetos permanentes que seguiram com êxito As palestras/debates e oficinas permaneceram as mesmas desde o ano de 2008, bem como os principais temas descritos nas ações de 2008 relacionados ao meio ambiente.

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Congressos e mostras científicas O ano de 2009 foi considerado o ano das Mostras Científicas. Além dos atendimentos planejados da Sala de Ciências em relação a sua temática principal — Educação Ambiental —, o decorrer do ano fora marcado por grandes participações em eventos. Em março, a Sala de Ciências participou do III Congresso Internacional de Odontologia, realizado no Centro de Convenções de Brasília, com a mostra A arte e a ciência do sorriso. Essa mostra foi concretizada por intermédio da parceria envolvendo o setor odontológico e a Sala de Ciências do SESC. Estruturada em seis módulos para a completa visitação do público adulto e infantil, o módulo ocupado pela Sala de Ciências desenvolveu um laboratório de microbiologia bucal, que, por meio da percepção da microscopia óptica, os visitantes puderam observar os micro-organismos causadores de doenças bucais, tais como cáries e doença periodontal. Foram realizadas experiências químicas elucidando o processo de desmineralização do esmalte do dente causado por refrigerantes, bebidas alcoólicas etc. Também foram apresentados tipos e formas de bactérias, dentes saudáveis e cariados. Foram apresentados vídeos sobre micro-organismos para aliar-se aos painéis ilustrativos do módulo. Em abril, a unidade do SESC em Ceilândia recebeu a mostra A arte e a ciência do sorriso, para atender a clientela e a demanda esperada. A Sala de Ciências, mais uma vez em seu laboratório de microbiologia, proporcionou ao público visitante conhecer a microbiologia da boca por análise microscópica, painéis e vídeos apresentados pelos mediadores.

Planetário SESC O planetário SESC foi instalado na Unidade Operacional Taguatinga Norte em homenagem ao Ano Internacional da Astronomia, durante todo o mês de abril. Nessa mostra, as escolas públicas, particulares e a comunidade puderam visitar a mostra e receber informações sobre o universo de um modo lúdico e interativo. Os mediadores e professores apresentaram estudos astronômicos em palestras e oficinas, dando ênfase ao Sistema Solar. O acervo do planetário SESC recebeu a cada sessão até 30 crianças em sua cúpula inflável, projetando de maneira realista o céu noturno, bem como as estrelas, os planetas, a lua e diversas constelações.

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SESC vai à escola O SESC e a Sala de Ciências participaram do evento O dia da família, organizado pela escola. Foram realizadas diversas atividades recreativas, esportivas e educacionais (Educação Ambiental), como oficinas de materiais recicláveis utilizando garrafas PET, entre outros. A participação dos pais e alunos ensejou momento oportuno para sensibilizar a comunidade sobre as questões ambientais.

Mostra Valise - Rastros evolutivos A mostra trouxe em sua conjuntura um excelente tema para trabalhar as questões sobre a origem e a evolução do homem e relacioná-las ao processo de mudanças anatômicas e, principalmente, culturais. É tema de um amplo questionamento científico, que busca entender e descrever como as alterações aconteceram de fato. 106 Experiência em mediação — Departamento Regional do SESC no Distrito Federal

A mostra relacionou a trajetória dessa evolução em representações de habitat, sítios arqueológicos, mapas ilustrativos e utensílios típicos de cada época. Esses materiais eram dispostos e montados em pequenas gavetas, reproduzindo diferentes etapas do processo evolutivo. O evento foi recorde de público, de grande sucesso e acontecimento de inegável importância para a comunidade estudantil. Possibilitou a visualização dos hominídeos mais significativos, das culturas e do início das comunidades. Atraiu pessoas de diferentes faixas etárias e escolaridade, contribuindo assim para a popularização da Ciência arqueológica.

Mostra Galileu Galilei — contribuições e influências A Sala de Ciências, no seu segundo ano de participação na Semana Nacional de Ciência e Tecnologia, apresentou a mostra Galileu Galilei — contribuições e influências. A exposição teve como base os trabalhos desenvolvidos pelos estudantes da EduSESC, orientados pela equipe de mediadores e professores da Sala de Ciências. A mostra ilustrou os cientistas e pensadores da “Ciência no Brasil”, influenciados pela Ciência de Galileu Galilei, motivador do Ano Internacional da Astronomia 2009. A Sala de Ciências ficou responsável por toda parte interativa dentro da mostra, mais uma vez contribuindo para que a população pudesse

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conhecer e discutir os resultados, a relevância e o impacto das pesquisas científicas e tecnológicas.

Programa Brasília Cidade 21 O SESC está sendo representado pela Sala de Ciências na organização da Agenda 21 do Distrito Federal e entorno, oferecendo propostas sustentáveis em cada região administrativa do Distrito Federal e ajudando a elaborar projetos de educação socioambientais. Sabe-se que a construção e a implementação da Agenda 21 em cada país são oportunidades para expressiva reflexão sobre o rumo do desenvolvimento sustentável até então praticado e sobre as possibilidades de implementação de práticas relacionadas à sustentabilidade. A Agenda 21 Local é um processo participativo multissetorial de construção de um programa de ação estratégico dirigido às questões prioritárias para o desenvolvimento sustentável local, que pressupõe ampla participação, com representatividade espacial e setorial do governo e dos diversos segmentos sociais (MaRandino, s.d.). Por meio da participação dessa iniciativa, firmou-se a parceria com o Instituto do Meio Ambiente e dos Recursos Hídricos do Distrito Federal (Ibram).

Conclusão A Sala de Ciências do Distrito Federal, com sua estratégia de abordagem diferenciada das Ciências, busca associar de maneira dinâmica e interativa a educação não formal de Ciências em suas exposições e apresentações, suprindo de certo modo a sociedade carente de conhecimento. Mediadores e professores favorecem a ampliação do campo de ideias, possibilitando a difusão do conhecimento, o experimento e a pesquisa científica nas áreas de Química, Física e Biologia, relacionandose, dessa maneira, também com a educação formal ao estimular o comportamento investigativo científico. Por meio dos atendimentos realizados e da participação em eventos educacionais, nota-se a real inovação do ensino, conquistando o público, oferecendo motivação, sedução e interesse por áreas antigamente consideradas “complicadas”.

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Referências

BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria da Educação Média e Tecnológica. PCN + ensino médio: vida e ambiente, ser humano e saúde, terra e universo, tecnologia e sociedade. Brasília, 2002. MARANDINO, M. A biologia nos museus de ciências: a questões do texto em bioexposições. Ciência & Educação, v. 8, n. 2, p. 187-202, 2002. Disponível em: <http://www.geenf.fe.usp.br/ conteudo/arquivo/A_biologia_nos_museus.PDF>. Acesso em: 16 nov. 2009. MARANDINO, M. A pesquisa educacional e a produção de saberes nos museus de ciências. História, Ciências, Saúde, Manguinhos, Rio de Janeiro, v. 12, p. 161-181, 2005. Suplemento. Disponível em: <http://www.geenf.fe.usp.br/conteudo/arquivo/A_pesquisa_educacional.PDF>. Acesso em: 16 nov. 2009. MASSARANI, Luisa (Coord.). Ciência e criança: a divulgação científica para o público infantojuvenil. Rio de Janeiro: Museu da Vida/Casa de Oswaldo Cruz/Fiocruz, 2008. Disponível em: <http://www.museudavida.fiocruz.br/media/ciencia_e_crianca.pdf>. Acesso em: 19 nov. 2009.

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MASSARANI, Luisa; MERZAGORA, Matteo; RODARI, Paola (Org.). Diálogos & ciência: mediação em museus e centros de ciência. Rio de Janeiro: Museu da Vida/Casa de Oswaldo Cruz/Fiocruz, 2007. Disponível em: <http://www.museudavida.fiocruz.br/media/Mediacao_final.pdf>. Acesso em: 19 nov. 2009. SESC. Departamento Nacional. Proposta pedagógica de educação do SESC: Projeto SESCiência: textos preliminares. Rio de Janeiro, 2000.

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Experiência em mediação — Departamento Regional do SESC no Ceará Adriano Wilker Barboza Vasconselosi André Henrique Barbosa de Oliveiraii Átilla Mendes Evangelistaiii Carolina Arruda Pantaleãoiv Cícero Avelino Limav Emanuela Páscoavi José Ednaldo de Araújo Filhovii

Colaboraram e orientaram a produção do texto: Danilo Dias (Supervisor de Química), Kebeck Reis (Supervisor de Física), Lindemberg Pereira Cândido (Supervisor de Matemática) e Marta Araújo (Coordenadora Regional SESCiência).

Mediador; graduando em Física, pela UECE. Estagiário da Sala de Ciências Ceará

i

desde outubro de 2007. Mediador; graduando em Química Industrial, pela UFC. Estagiário da Sala de Ciên-

ii

cias Ceará desde abril de 2009. Mediador; graduando em Física, pela UFC. Estagiário da Sala de Ciências Ceará

iii

desde outubro de 2007. Mediadora; graduanda em História, pela UECE. Estagiária da Sala de Ciências Ceará

iv

desde agosto de 2008. v

Mediador; graduando em História, pela UFC. Estagiário da Sala de Ciências Ceará

desde outubro de 2007. Coordenadora da Sala de Ciências SESC Ceará.

vi

Mediador; graduando em Matemática, pela UFC. Estagiário da Sala de Ciências Cea-

vii

rá desde março de 2009.

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RESUMO Este trabalho visa abordar as experiências vivenciadas com a mediação, os projetos, a ação sociocultural, as ações inclusivas, externas e internas. Discute o espaço desde a sua concepção até o momento atual, promovendo uma análise acerca dos projetos desenvolvidos e em andamento. Traz o funcionamento da Sala de Ciências do Ceará enquanto espaço lúdico, dedicado à desmistificação do conhecimento científico.

ABSTRACT This work aims at approaching the experiences lived with the mediation, the projects, the social-cultural action, the inclusive, internal and external actions. It discussed the space since its conception till the present moment, promoting an analysis regarding the projects developed and ongoing projects. It brings the operation of the Ceará Science Room as a cheerful space, dedicated to eliminate the mystifying features of scientific knowledge.

Palavras-chave: Sala de Ciências. SESC. Mediação.

Keywords: Science room. SESC. Mediation.

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Introdução Implantado em 1986, o Projeto SESCiência procura demonstrar os fenômenos da natureza, suas implicações no cotidiano e suas bases científicas, assim como as realizações do homem no campo científico e tecnológico. A partir da observação, do contato com esses fenômenos e da exploração dos experimentos, os fenômenos científicos são desmitificados, despertando no estudante a curiosidade e a vocação para as disciplinas científicas e estimulando também a vocação nas áreas afins (SESC, 2000).

O Projeto SESCiência, atuante há mais de 20 anos, busca a desmistificação da Ciência, tornando o saber científico simples e prazeroso. A Ciência deve ser vista como parte do nosso cotidiano e para melhor compreendê-la devemos questionar os acontecimentos, entender a Ciência que há por trás deles.

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Atualmente, o projeto age de duas maneiras: utilizando-se de mostras itinerantes e da exposição permanente das Salas de Ciências. No Ceará, a Sala de Ciências foi inaugurada em 10 de outubro de 2007. A formação inicial aos monitores foi ministrada pela coordenação nacional do SESCiência e contou com a participação de dois mediadores da área de Física, dois de História, um de Química e um de Matemática. As Salas de Ciências têm um caráter de museu interativo, no qual os visitantes podem experimentar e tirar as próprias conclusões, percebendo toda a Ciência que há em volta. A Sala de Ciências do Departamento Regional do Ceará (DR/CE) teve a mostra Imagens múltiplas como foco durante as atividades iniciais. Entretanto, novos projetos surgiram rapidamente e a Sala construiu identidade própria.

Histórico da Sala e rotina de funcionamento Situada na Escola Educar SESC, a Sala de Ciências ocupa uma área de 89,83 m², que representa um espaço considerável dentro das dependências da escola, como se pode perceber na figura a seguir. A capacitação para novos projetos e monitores é realizada pelos próprios mediadores da Sala de Ciências do DR/CE. A dinâmica de encerramento e início de contratos possibilitou autonomia aos mediadores para dar continuidade ao projeto, sem que houvesse uma quebra total de equipe.

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Figura 1: Visão geral da Sala.

Os novos mediadores tiveram contato com os que iniciaram a Sala de Ciências, proporcionando um diálogo entre experiência e novas ideias e percepções para projetos futuros. Além desse contato entre gerações diferentes de monitores, é preciso haver comunicação constante entre os mediadores. Não houve, no entanto, uma formação específica. À medida que compreendiam o funcionamento da sala, os novos estagiários foram se inserindo nas atividades diárias, conhecendo os experimentos e sugerindo novas maneiras de abordagem e experimentação. Essa adaptação progressiva foi possível porque sempre existiam cerca de cinco pessoas que tinham experiência com as atividades desenvolvidas na sala. Após todos se adaptarem à rotina da Sala de Ciências, promovemos encontros periódicos que incluem reuniões com a equipe completa. Os encontros são mensais ou de acordo com as necessidades da sala. Nesses momentos, há o planejamento de atividades e idealização de novas ações, além da avaliação do trabalho que vem sendo desenvolvido. Um dos projetos, o Dia das Ciências,1 por exemplo, precisa de uma reunião mensal voltada apenas para ele.

1 Dia das Ciências é um projeto que leva pequenas mostras à Unidade Operacional do SESC em Fortaleza, todas as últimas quintas-feiras do mês, devendo, cada mês, ter uma temática diferenciada.

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A Sala de Ciências, apesar de ocupar um espaço físico grande, muitas vezes não é suficiente para a quantidade de alunos que atendemos. Por exemplo, uma turma de 100 alunos pede uma logística diferenciada. Para isso, utilizamos salas disponíveis na escola para a realização de oficinas, exposição de vídeos e, mais raramente, para a apresentação de palestras temáticas. A turma pode ser dividida em duas ou três, proporcionando um atendimento de melhor qualidade e maior aproveitamento para os visitantes.

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Figura 2: Entrada da Sala de Ciências.

Em caso de ações externas, a quantidade de mediadores necessários varia de acordo com a demanda. Locais públicos exigem a presença dos mediadores e, muitas vezes, dos supervisores; colégios e demais instituições, de três a cinco monitores, variando de acordo com a necessidade. Vale salientar que todas as atividades realizadas pela Sala de Ciências do DR/CE são gratuitas. No caso de atendimento externo, as instituições arcam com o transporte dos materiais e alimentação dos monitores. Todos os monitores participaram ativamente dos projetos da sala. Mesmo os projetos elaborados individualmente são compartilhados com os demais, que

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Figura 3: Vista da mostra Imagens múltiplas.

contribuem complementando cada um dos projetos. O resultado pode ser percebido por meio dos projetos e realizações da equipe.

Equipamentos que compõem a sala A Sala de Ciências tem em seu acervo a mostra Imagens múltiplas, na qual são utilizados espelhos para reproduzir fenômenos físicos, de maneira que os visitantes interajam e se divirtam. Além da mostra, a sala conta com inúmeros experimentos, em sua maioria criada pelos próprios monitores. Dentre os temas secundários da sala, temos Meio Ambiente, História, Física e Química experimental, jogos educativos, desafios lógico-matemáticos, a Ciência no dia a dia, Astronomia, mídia, entre outros. Além da mostra Imagens múltiplas, a Sala de Ciências conta com os seguintes materiais em seu acervo: telescópio 675x, disco de plasma/globo de plasma, bússola, microscópio, mapas múndi; mergulhão (aquecer água); ferramentas para confecção de experimentos; lupas; balanças; termômetro; captador de energia (instrumento que reproduz ilusão de óptica); multímetro digital; materiais e reagentes químicos; jogos educativos (xadrez, torre de Hanói, Tetra etc.); motor didático e outros.

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Figura 4: Cantinho da leitura.

Figura 5: Bancada de experimentos.

Contribuições dos mediadores 116 Experiência em mediação — Departamento Regional do SESC no Ceará

A Sala de Ciências tem inúmeros projetos, uns em execução, outros em planejamento, produzidos pelos próprios monitores com auxíliio da supervisão e da coordenação. A autonomia que foi concedida à equipe permitiu que os educadores tivessem iniciativas em diversas áreas. Para que possamos compreender melhor as ações e temas contemplados pela Sala de Ciências, é importante conhecer os projetos por ela desenvolvidos. Salientando que os mediadores são de fundamental importância, pois são eles que pensam e desenvolvem as atividades, sejam oficinas, palestras, vídeos e mostras.

Formações para professores A ação inicial da Sala de Ciências, em 2008, foi a participação na Semana Pedagógica da Escola Educar SESC, no fim de janeiro. Os educadores da sala realizaram oficinas com os professores para demonstrar possibilidades de abordagens divertidas das Ciências, bem como envolvê-los com o acervo da sala. As oficinas, realizadas em três dias, tiveram como público-alvo os professores da Educação Infantil, Fundamental I, Idiomas e Pré-vestibular. O eixo central das oficinas foram os Projetos Ciência Móvel e Preservação, com o objetivo de socializar recursos para aulas dinâmicas em Ciências e Educação Ambiental, de acordo com a proposta interdisciplinar da sala.

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Nessa oportunidade, a Sala de Ciências apresentou a sua proposta e os projetos que seriam desenvolvidos ao decorrer do ano. Os professores, por meio de questionários avaliativos, aprovaram a ação. Em seguida, percebemos um aumento considerável de visitas à sala, por esses professores e por seus alunos.

Eventos Dia internacional da mulher: visto que o público majoritário dos servidores da escola é feminino, a Sala de Ciências realizou uma atividade especial no Dia Internacional da Mulher, 8 de março de 2008. A ação contou com a elaboração de cartazes que foram afixados na escola, contendo curiosidades históricas e científicas sobre as mulheres, além de dicas de saúde e entretenimento. A culminância foi uma homenagem, no horário de almoço, com apresentação de imagens das professoras e músicas tocadas ao vivo, por integrantes da Sala de Ciências.

Sábado letivo: três sábados letivos da Educar SESC, em 2008, contaram com oficinas da Sala de Ciências. Essa ação consiste em trazer às crianças da Educar SESC uma atividade diferenciada dentro da Sala de Ciências, desenvolvendo oficinas específicas, relacionadas às demais atividades que realizam durante o dia. A confecção de experimentos pelas próprias crianças desperta a curiosidade científica, instigando novas descobertas.

Mês do meio ambiente: durante o mês de junho, a Sala de Ciências deu início ao Mês do meio ambiente. Foram desenvolvidas atividades com todas as turmas da Educar SESC, cada uma adaptada ao nível das turmas. Destaque para os fantoches SuperEco e Descolado, a exibição de vídeos, o debate entre os alunos, o almoço “Consciência” e a produção de desenhos e textos pelos alunos. Apresentação para os servidores da Educar SESC: no dia primeiro de agosto, a Sala de Ciências realizou uma grande apresentação no Auditório Adísia Sá, localizado na Educar SESC. Essa ação contou com todos os servidores da escola e representou um momento de apresentação dos projetos da Sala, junto com a ação ambiental, na qual foram substituídos os copos descartáveis para água por squeeze.

Museu do escravo liberto: em parceria com as turmas do quarto ano da Educar SESC, houve a realização de oficinas sobre a escravidão e o acompanhamento dos estudantes ao Museu do escravo liberto, no dia 12 de setembro de 2008, fazendo as relações históricas possíveis e levantando questionamentos com os estudantes.

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Noite do pijama: uma oficina de astronomia encantou os alunos que participaram da Noite do pijama, na virada do dia 7 para o dia 8 de novembro de 2008. Eles puderam acompanhar uma reprodução do céu e de suas constelações na Sala de Ciências, acompanhados de uma abordagem especial dada pelos educadores.

Noite da insônia (2008)/Corujão (2009): às vésperas do vestibular da Universidade Federal do Ceará, a Educar SESC promoveu uma noite com aulas-show, atrações culturais e uma programação diferenciada para os convidados. O evento, Noite da insônia, ocorreu na madrugada do dia 21 para 22 de novembro, em 2008; e em 2009, de 6 para 7 de novembro. Na programação, a Sala de Ciências desenvolveu uma oficina com a demonstração de experimentos científicos para que os vestibulandos pudessem rever ou fixar alguns conceitos de uma maneira descontraída. Em 2009, houve a exposição da mostra Ciência do cotidiano durante a noite do Corujão. Ludicidade para o quinto ano: participação da viagem do quinto ano, nos dias 29 118 Experiência em mediação — Departamento Regional do SESC no Ceará

e 30 de novembro de 2008, com a realização de oficinas sobre jogos matemáticos e meio ambiente, animando com muita informação e conhecimento um momento de lazer desses alunos.

Turmas da Educar SESC: todas as turmas da Educar SESC (Educação Infantil, Ensino Fundamental, EJA Fundamental e Médio, Pré-vestibular, Tempo Integral, Programa de Habilidades e Estudos e SESC LER) visitaram a Sala de Ciências, podendo interagir com o acervo e participar de atividades ao decorrer do ano.

Feira de Ciências: em parceria com o corpo docente e núcleo gestor da Escola, a Sala de Ciências participou da criação e execução da Feira de Ciências da Educar SESC. Com o nome de Ciência Interativa, a feira foi colocada como uma consequência do ciclo de atividades desenvolvidas durante os anos de 2008 e 2009. As atividades contaram com a participação dos alunos do tempo integral, que semanal ou quinzenalmente compareciam às oficinas de experimentos científicos diversos, na Sala de Ciências. Em uma visita a oficina era ministrada pelos educadores da Sala de Ciências; na seguinte, era a vez de os alunos desenvolverem os experimentos. A culminância do projeto aconteceu no dia 6 de dezembro de 2008 e no dia 21 de novembro de 2009, com a presença de pais e familiares, que prestigiaram as explicações científicas das crianças.

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A parceria entre Sala de Ciências e Projeto Tempo Integral, acrescido do Projeto Habilidades de Estudos e alunos do sexto ano, teve continuidade em 2009, com as crianças fazendo visitas quinzenais à sala. A II Feira de Ciências Educar SESC ocorreu no dia 21 de novembro de 2009, tendo um notório aumento no público da feira e também na quantidade de alunos participantes.

Brinquedotecas: o SESC, em parceria com Unicef, Associação das Primeiras-damas do Estado do Ceará (APDMCE) e Coelce, desenvolve o Projeto das Brinquedotecas, espaços criados com a proposta de promover o brincar entre as crianças, além dos jogos, leitura e outras habilidades correlatas. A ação consiste em visitas dos mediadores às brinquedotecas situadas no interior do estado. A proposta surgiu de uma parceria entre a Sala de Ciências e a APDMCE. As visitas são compostas de oficinas de elaboração de “brinquedos científicos”, feitos com materiais reutilizados, reciclados ou reaproveitados.

Mostra Valise - Rastros evolutivos: durante os meses de abril e maio de 2009, a Sala de Ciências recebeu a mostra Valise - Rastros evolutivos para ser inserida como acervo. A Sala se transformou em uma caverna, habitada por hominídeos e tornouse mote para a discussão acerca da teoria da evolução biológica, de Charles Darwin. Além da mostra, realizamos oficinas de fósseis e utilizamos as vestes de diversas culturas trazidas para a mostra.

Mostra imagens múltiplas: o acervo da sala, desde outubro de 2007, deixou de ser exibido apenas durante a vinda da mostra Valise - Rastros evolutivos, citada anteriormente. A mostra de espelhos fascina os visitantes, mesmo os idosos, que chegam a dançar em frente aos espelhos formando imagens múltiplas de si mesmo.

Preservação: um dos projetos mais divulgados da Sala de Ciências SESC Ceará utiliza-se de diversos recursos para despertar nos visitantes o cuidado que devemos ter com o meio ambiente. O teatro de fantoches, com o herói, Super Eco; o vilão, Seu Sujão e o menino, Descolado, encanta crianças, jovens, adultos e idosos. Há também a gincana ecológica, na qual grupos disputam para saber quem conhece melhor os meios de preservar o meio ambiente. Além desses métodos, realizamos diversas oficinas, entre elas, a reutilização de óleo de cozinha para fazer sabão e filtração da água.

Ciência Móvel: projeto que tem maior identidade com a Sala de Ciências, pois agrega experimentos lúdicos de Física, confeccionados com material reutilizado. Os

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119 Experiência em mediação — Departamento Regional do SESC no Ceará


materiais utilizados são, em geral, garrafas PET, latas, CDs usados, tampinhas, entre outros. O projeto leva o conhecimento científico de maneira lúdica e alerta para a preservação do meio ambiente, sendo grande parceiro do Projeto Preservação.

Show da Química: agregada ao Projeto Ciência Móvel, a atividade leva a Química de maneira prazerosa. Impressiona misturar dois líquidos incolores e eles se transformarem em cor-de-rosa, ver uma bexiga inflar ao ser golpeada pela mão e outros mais. A Ciência por trás dos experimentos, que antes parecia mágica, é trazida à tona, muitas vezes, pelo próprio público ao ser questionado pelos mediadores.

Cordel científico: utilizando-se de parte do acervo da mostra Perfumes, aromas

120 Experiência em mediação — Departamento Regional do SESC no Ceará

e sabores; a Sala de Ciências levou à X Mostra SESC Cariri de Cultura (2008) Perfumes e cordel — aromas do Nordeste, parte do Projeto Cordel científico. Perfumes e cordel desmistificou a fabricação dos perfumes, utilizando plantas nordestinas para a produção de essências. Os visitantes interagiam com o “cheirômetro”, tentando descobrir as fragrâncias, podiam ver como acontece o processo de extração de essências e recebiam, ao final da mostra, um cordel perfumado. A mostra chamou bastante atenção de curiosos e mereceu destaque, por ser a primeira vez que algo relacionado à Ciência estava em um evento de cunho cultural. O destaque foi evidenciado pelo interesse dos visitantes, que geralmente voltavam ao espaço da mostra com outras pessoas. A mostra foi, inclusive, notícia na rede de televisão local de Juazeiro do Norte, sendo pauta de dois programas da TV Verde Vale. No dia 18 de novembro, a mostra Perfumes e cordel foi inserida no Espaço do cordel, na Bienal internacional do livro do Ceará, realizada no Centro de convenções do Ceará. Naquele evento, foi realizado o lançamento oficial do cordel O mistério dos perfumes, com a participação dos autores e da equipe da Sala de Ciências. Durante a Bienal, a mostra voltou a ser pauta de programas televisivos. Dessa vez, o programa Pegando o sol com a mão, da TV União.

CEU (Ciências e estudos do universo): o projeto teve uma formação específica, um curso de astronomia prática e observacional, ministrado pelo professor Heliomárzio Rodrigues, do Observatório do Colégio 7 de Setembro, com um total de 20 horas, iniciando dia 22 de abril, seguindo até o início do mês de maio. O curso teve como objetivo qualificar os educadores da Escola Educar SESC e da Sala de Ciências para as atividades do Ano internacional da astronomia (AIA), Olimpíada brasileira de astronomia e astronáutica (OBA) e mostra Planetário SESC.

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A atividade teve grande importância para o crescimento profissional de cada participante, pois foi por meio dele que pudemos nos aprofundar em Astronomia, criar o projeto CEU e contribuir para a divulgação do Ano Internacional de Astronomia. Na mostra Planetário SESC, pudemos oferecer outros conteúdos aos visitantes, graças à utilização de seus equipamentos. Houve ainda participação da Sala de Ciências no Programa 100 horas de astronomia, nas Unidades Operacionais de Fortaleza e Luiz Severiano Ribeiro, nos dias 2 e 3 de abril, promovendo a observação do céu e discussões acerca do universo no qual vivemos.

Jogos lógico-matemáticos: com a finalidade de estimular o raciocínio lógico, contamos com um acervo de jogos matemáticos; tais como Tangram, Sudoku, Tetra, Feche a caixa, Soma 15, Torre de Hanói, entre outros. Ciência itinerante: projeto recente, que tem o objetivo de atender o público prioritário do SESC, os comerciários. A Sala de Ciências se propõe a visitar as unidades do SESC no Ceará, tanto na capital, como no interior, a fim de proporcionar o acesso à Ciência. Dentro do projeto, foi pensado atendimento mensal à Unidade Operacional de Fortaleza. Cada mês teve uma proposta diferente. Iniciado em junho, o Dia das Ciências apresentou a Sala de Ciências em uma primeira visita e trouxe temáticas como: “Ciência na cozinha”, “Segurança no lar”, “Ciência do cotidiano” e “Reações químicas”.

Semana nacional de ciência e tecnologia: entre os dias 21 e 24 de outubro de 2008, a Sala de Ciências percorreu as Unidades Operacionais Centro (21 e 22) e Fortaleza (23 e 24), com a demonstração de experimentos divertidos e curiosos, compondo a programação da Semana nacional de ciência e tecnologia (SNCT). As ações da Sala foram cadastradas e divulgadas no site do Ministério da Ciência e Tecnologia e possibilitaram aos participantes perceber a Ciência de uma maneira diferenciada e relacionada com o seu cotidiano, despertando interesse e aguçando a curiosidade. Em 22 de outubro de 2009, a Sala de Ciências esteve na Praça do Ferreira com a mostra Ciência do cotidiano, durante a SNCT. A atividade realizou-se das 8h às 17h, horário em que foi permitido, mediante alvará, pela Prefeitura Municipal de Fortaleza. Os transeuntes interagiram com a mostra e participaram de oficinas sobre magnetismo.

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Divulgação e atuação na comunidade É notório o crescente interesse dos visitantes pelas Ciências e suas abordagens, bem como o fato de as visitas tornarem-se mais frequentes e questionadoras; fortalece-se o desejo de aprender e de descoberta. Por meio de cartazes, chaveiros, folders e eventos públicos, a Sala de Ciências tem conquistado um público mais amplo. Hoje é um local indicado pela Secretaria de Educação (SEDUC) do Governo do Estado do Ceará para visitas relacionadas ao ensino de Ciências.

Atendimentos externos

122 Experiência em mediação — Departamento Regional do SESC no Ceará

Várias escolas demonstraram interesse em participar das atividades da Sala de Ciências, mas tinham dificuldades em locomover suas numerosas turmas até a sala. Para solucionar esse problema, a Sala de Ciências montou uma estratégia de atendimentos externos, de modo que a equipe ia até as escolas, com parte do acervo e com a metodologia de trabalho que desperta o interesse dos professores e alunos que, muitas vezes, visitam a Sala de Ciências pela curiosidade aguçada na visita. Entre as principais instituições que a Sala de Ciências visitou, destacam-se: Faculdade 7 de Setembro (Pedagogia), Instituto Carlos Lobo, Fundação Bradesco, acampamento infantil da Igreja Batista Central, Centro Educacional Brasileirinho, Escola Maria de Lourdes (Guaiuba/CE), Colégio Lourenço Filho, Projeto Fundação da Criança e da Família Cidadã (Funci) da Prefeitura Municipal de Fortaleza, Colégio Henrique Jorge e Faculdade Latino-Americana de Educação (Flated). Durante as visitas externas, levamos os Projetos Ciência Móvel, Preservação e Show da Química, com experimentos que podem ser confeccionados pelo próprio público utilizando material reaproveitado. As ações externas são um modo de divulgar a Sala de Ciências e estimular a criação de novos espaços científicos nas escolas. Entre as escolas que visitamos, tivemos um retorno de que laboratórios que estavam desativados voltaram a funcionar e de que há projetos de criar Salas e Clubes de Ciência.

Considerações finais Pretendemos continuar a desenvolver os projetos já trabalhados, promovendo algumas alterações de acordo com a necessidade e com o novo perfil da Sala de Ciências, que receberá quatro novos estagiários. A criação de novos projetos vem sendo pensada, estando as seguintes ações em planejamento:

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Clubinho da Astronomia: funcionará inicialmente com alunos da escola Educar SESC. O “clube das estrelas” terá como o carro-chefe o reconhecimento das constelações do céu e a descoberta de informações ligadas à astronomia.

Catálogo Sala de Ciências: todo o acervo da sala será catalogado, definindo experimentos, objetivos e conteúdo explorado. Esse catálogo servirá como referência em relação às atividades desenvolvidas pela Sala de Ciências.

I Encontro preservação: agregará conhecimento científico e conscientização ecológica. A ação ocorrerá na Escola Educar SESC e na Unidade Operacional de Fortaleza, com um circuito de palestras, oficinas e apresentações de projetos ambientais.

Semana nacional de ciência e tecnologia: com iniciativa do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação, que promove o incentivo anual de uma semana de eventos científicos em nível nacional, a Sala de Ciências do Ceará promoverá exibições e democratizações de Ciências em Fortaleza. Participação na XII Mostra SESC Cariri de cultura: participação da Sala de Ciências, na Mostra SESC Cariri de cultura, agregando abordagens científicas e cultura regional.

Projeto segundo tempo (parceria): desenvolvimento de oficinas e práticas científicas em encontros quinzenais com crianças e adolescentes do Projeto segundo tempo, que são crianças da comunidade.

Ciência social (parceria com o Trabalho social com idosos — TSI): facilitar visitas dos participantes do TSI na Sala de Ciências, trabalhando com esses experimentos, oficinas e vídeos científicos.

Projeto Ciência itinerante: consiste em apresentações científicas mensais no SESC Fortaleza, ação denominada Dia das Ciências, e itinerância de uma mostra de médio porte de experimentos científicos em Unidades do DR/CE. A Sala de Ciências pretende ampliar seus atendimentos, havendo projetos para execução de atividades em várias Unidades Operacionais, tanto no interior quanto na capital. Além desses, visa procurar atender instituições privadas e públicas em todo o estado, promover maior divulgação do projeto Sala de Ciências e estabelecer parcerias. Pretende continuar divulgando a Ciência na sua forma interativa, buscando aperfeiçoar suas ações.

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Referências

ALBAGLI, Sarita. Divulgação científica: informação científica para cidadania. Ciência da Informação, Brasília, v. 25, n. 3, p. 396-404, set./dez. 1996. CANDOTTI, Enio. Ciência na educação popular. In: MASSARANI, Luisa; MOREIRA, Ildeu de Castro; BRITO, Fátima (Org.). Ciência e público: caminhos da divulgação científica no Brasil. Rio de Janeiro: Casa da Ciência da UFRJ, 2002. p. 15-23. Disponível em: <http://www.casadaciencia.ufrj.br/ Publicacoes/terraincognita/cienciaepublico/artigos/art01_ciencianaeducacao.pdf >. MOREIRA, Ildeu de Castro. A inclusão social e a popularização da ciência e tecnologia no Brasil. Inclusão Social, Brasília, v. 1, n. 2, 2006. Disponível em: <http://revista.ibict.br/inclusao/index. php/inclusao/article/view/29/50> MUELLER, Suzana P. M. Popularização do conhecimento científico. DataGramaZero: revista de ciência da informação, Brasília, v. 3, n. 2, 2002. Disponível em: <http://dici.ibict.br/archive/00000315/> SESC. Departamento Nacional. Proposta pedagógica SESCiência. Rio de Janeiro, 2000. 124 Experiência em mediação — Departamento Regional do SESC no Ceará

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Experiência em mediação — Departamento Regional do SESC no Amapá Dayana Filocreão Malheirosi Jorge Emilio Henriques Gomesii Korassony Del Matias Frankliniii Ruthe Martins Pedrosoiv

i

Mediadora e acadêmica de Licenciatura em Ciências Biológicas da UNIFAP.

ii

Coordenador Local da Sala de Ciências do SESC-DR/AP.

iii

Mediador e acadêmico do Curso de Licenciatura em Química da UEAP.

iv

Mediadora e acadêmica de Licenciatura em Ciências Biológicas da FAMA.

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RESUMO O presente artigo sintetiza as atividades desenvolvidas na Sala de Ciências do Departamento Regional no Amapá por meio da implantação do Projeto SESCiência, que contribui de maneira considerável à disseminação da Ciência como uma forma diferenciada de aprendizagem, a interação dos vários fenômenos científicos, dos mais simples fenômenos do cotidiano, que muitas vezes passam despercebidos, até alguns mais sofisticados. A proposta é sempre desmistificar e oferecer a todos, independentemente da classe social, possibilidade de aprender uma nova ou outra visão e entendimento da Ciência, de seus fenômenos como elementos que ajudam e até mesmo que fazem parte do dia a dia de todas as pessoas. Do mesmo modo, pretende-se que as atividades aqui desenvolvidas sejam elemento promotor na relação social e de qualidade de vida de toda a comunidade participante.

ABSTRACT This article breaks down the activities developed at the Amapá Regional Department Science Room through its implantation with the SESCiência Project, which contributed considerably to the propagation of science as a differentiated form of learning, the interaction of the many scientific phenomena, going from most simple daily phenomena, which sometimes go unnoticed, to others, more sophisticated. However, the proposal is always to eliminate the mystifying features and to allow everyone, regardless of their social position, a new vision or another vision and understanding of science, its phenomena as elements that can help and even that are part of everyone’s daily lives, and also as a promoting element in social relationships and in the life quality of the whole community. Keywords: Mediation. Activities. Science room.

Palavras-chave: Mediação. Atividades. Sala de Ciências.

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Introdução O Departamento Regional do Amapá (DR/AP), diante do compromisso social que tem com a sociedade amapaense e buscando o progresso científico em nosso estado, implantou no dia 28 de fevereiro de 2008 o Projeto SESCiência — Sala de Ciências com foco em plantas medicinais.

128 Experiência em mediação — Departamento Regional do SESC no Amapá

A Sala de Ciências do DR/AP é um espaço alternativo de compartilhamento do conhecimento que, por meio de ações lúdicas e interativas das diferentes áreas do saber, tais como Química, Física, Biologia e Matemática, procura aguçar a curiosidade do visitante e despertar nele a vontade de adquirir mais informação, como também de compreender os fenômenos ocorrentes no mundo. Logo, é um espaço que contribui com a desmistificação de que a Ciência está distante do cotidiano do cidadão comum e que é algo para poucos. A sala é também um espaço concreto de articulação entre os diversos agentes, onde a curiosidade e a motivação em relação ao saber científico contribuem para a disseminação de atitudes que favoreçam a interação, investigação e pesquisa, na busca de respostas a respeito de tudo que os cerca. Além das diferentes áreas do saber, a Sala de Ciências também tem como foco principal as plantas medicinais, em virtude de sua localização geográfica. Como todos sabem, o estado do Amapá faz parte da grande riqueza natural da Amazônia, podendo explorar a flora existente e proporcionando uma opção de conhecimentos grandiosos para que as escolas, universidades e faculdades possam suscitar em seus alunos o prazer em pesquisar.

Metodologia A Sala de Ciências tem suas atividades voltadas à integração, articulação, disseminação e ao fortalecimento dos diversos fatores que promovem transformações nos âmbitos social, educacional, cultural e ambiental. Seu desenvolvimento é articulado em quatro espaços de ação, que são os debates, as palestras, a exposição de vídeos e jogos interativos. Os materiais utilizados são recursos didáticos e audiovisuais para melhor explicação dos conteúdos que serão abordados nos espaços, com explanação dos temas relativos à Química, à Física, à Biologia, à Matemática e a plantas medicinais. As atividades executadas nesse espaço ocorrem com auxílio de pesquisas na internet, consulta no acervo setorial para fundamentação teórica e realização de

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experiências dos fenômenos das Ciências envolvidas, após a pesquisa interativa e/ ou qualitativa no acervo setorial. A Sala de Ciências do DR/AP atende inicialmente o município de Macapá e aqueles mais próximos da capital, como Santana, porém algumas ações podem se estender aos demais municípios do estado, principalmente com as ações externas. Geralmente o público-alvo são alunos e professores do Ensino Fundamental, Médio e Superior. O planejamento das atividades segue a proposta pedagógica do SESCiência, ajustado às necessidades locais para o desenvolvimento, sendo o programa de trabalho delineado de um ano para o outro. As atividades também são realizadas nos finais de semana, mais precisamente nas Domingueiras, com atendimento externo à sala (em uma tenda), em ações externas nas datas comemorativas e/ou solicitações de eventos em instituições parceiras. 129

As contribuições oriundas dos mediadores e do coordenador local enfatizam a necessidade de sempre buscar um olhar para as novas descobertas, novos conhecimentos e saberes dos que participam desde uma visitação até uma oficina. Aliado a isso, os estagiários desenvolvem projetos anuais com temas, experiências, estudos de caso e projetos de pesquisa voltados à área de atuação da sala. Outros aspectos relevantes no desenvolvimento das diferentes atividades são a criação e confecção de novos elementos de interação, como brinquedos educativos científicos, que são idealizados pelos estagiários e confeccionados pelos artífices da instituição. Também se projeta e se planeja a criação de parque interativo de Ciências em áreas ociosas do Centro de Atividades do DR/AP. Para um futuro breve, planeja-se efetivar a parceria de itinerância em conjunto com o BiblioSESC, em bairros da capital, e o Projeto Caravana de Ciências, com a parceria da Secretaria de Estado de Ciências e Tecnologia — SETEC, quando se visitará quase a totalidade dos municípios do estado do Amapá.

Um olhar do público externo para as atividades da Sala de Ciências O estado do Amapá é ainda muito carente de ambientes não formais, pois quando falamos de conhecimento científico nos restringimos a ambientes

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puramente acadêmicos, tais como: universidade federal, universidade estadual, Embrapa e o Instituto de Pesquisa do Amapá — IEPA, os quais geralmente têm público próprio. Dessa maneira, pode-se dizer que a popularização da Ciência é quase inexistente no nosso estado, uma vez que ela não atinge grande parte da população. Nesse contexto, a Sala de Ciências do DR/AP é um espaço que veio contribuir para a aproximação da população amapaense com o mundo científico, pois por meio de suas atividades experimentais e interativas, disponíveis para um público geralmente formado por alunos e professores do Ensino Fundamental, Médio e Superior, provoca a curiosidade e o desejo dos que querem experimentar, descobrir e discutir Ciência.

130 Experiência em mediação — Departamento Regional do SESC no Amapá

Hoje, com a Sala de Ciências do DR/AP, muitas de nossas escolas públicas têm oportunidade de vivenciar uma prática educacional diferente da tradicional, pois ao agendar uma visita nesse espaço, alunos e professores têm acesso ao conhecimento em situações puramente práticas e, dessa maneira, a informação adquirida por eles parte do prazer provocado pela experimentação e pela descoberta, bem como da percepção de se fazer parte integrante do processo de fazer e viver a Ciência. Com base nessa realidade educacional, pode-se dizer que a Sala de Ciências do DR/AP é um caminho na popularização da Ciência no nosso estado e também um ganho, uma vez que esse espaço, quando explorado e aproveitado, proporcionará a nós, cidadãos comuns, professores e alunos, um novo modo de obter conhecimento, além de nos fazer compreender que ela não está distante de nós, afinal nossa história é criada e transformada pela Ciência.

A intervenção: mediação de conhecimento É indispensável ao mediador possibilitar a eficiência do ensino, ajustando-o à natureza e à realidade do educando e da sociedade. Assim, o mediador tem que estar em consonância com os preceitos didáticos para que sua intervenção seja produtiva em relação à aprendizagem, analisando os problemas e as dificuldades

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que o ensino de cada disciplina apresenta e organizando os meios e as sugestões para resolvê-los. Segundo especialistas na área educacional, ensinar é: despertar a mente do aluno para captar e reter verdades; desenvolver potencialidades; motivar o aluno a pensar por si mesmo, de tal modo que ele chegue aos fatos; criar condições para que o aluno aprenda sozinho, chegando às próprias conclusões; orientar em sua aprendizagem. Ensinar não se restringe a transmitir e repartir conhecimentos, mas promover a aprendizagem. É mais que ler, falar diante de uma classe, é motivar a mente do educando, conduzindo-o no processo do aprendizado. Para que ocorra a aprendizagem, o aluno precisa empenhar-se de maneira ativa nesse processo, considerando que não há ensino sem aprendizagem e só há aprendizagem quando há mudança de comportamento. 131

O mediador tem que conhecer o seu aluno, visando às melhores condições de adequação de ação educativa, dominando o conteúdo e utilizando recursos didáticos apropriados.

Considerações finais De posse de todas as percepções e testemunhos colhidos sobre qual a importância da Sala de Ciências como elemento promotor no desenvolvimento de atividades de cunho cientifico, o que se verifica é que de fato a mediação entre o conhecimento científico e o senso comum — ambos em polos diferentes unidos na Sala de Ciências — pode oferecer meios de o aluno a compreender a Ciência e colocá-la como um instrumento a nosso favor. Além disso, a mediação ajuda o aluno a perceber que a Ciência está permanentemente próxima, fazendo parte do nosso dia a dia e da própria constituição de nossa vida. O caso particular da Sala de Ciências do DR/AP é uma conquista para a comunidade comerciária e da sociedade em geral, que procura por espaços experimentais quase inexistentes na capital do estado do Amapá.

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Referências

MARANDINO, Martha; ALMEIDA, Adriana; VALENTE, Maria Esther (Org.). Museu: lugar do público. Rio de Janeiro: Fiocruz, 2009. MUSEU E ESCOLA: educação formal e não formal, Brasília, ano 19, n. 3, maio 2009. MASSARANI, Luisa; MERZAGORA, Matteo; RODARI, Paola (Org.). Diálogos & ciência: mediação em museus e centros de ciência. Rio de Janeiro: Museu da Vida/Casa de Oswaldo Cruz/Fiocruz, 2007.

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Experiência em mediação — Departamento Regional do SESC em Roraima Aloísia Vitali Caroline Coelhoii Cíntia Michelle Correaiii Melanie Kaline Truqueteiv Natalina Gavioliv Nilza Ferreira da Silvavi

i

Mediadora e estudante de Física na Universidade Federal de Roraima (UFRR).

ii

Mediadora e estudante de Física na Universidade Federal de Roraima (UFRR).

iii

Mediadora e estudante de Física na Universidade Federal de Roraima (UFRR).

iv

Mediadora; formada em Física pela Universidade Federal de Roraima (UFRR), em 2009.

v vi

Gerente de Assistência e Saúde do DR/RR e professora especialista em supervisão escolar. Coordenadora; formada em Pedagogia pela Universiadade Estadual de Roraima.

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RESUMO Este ensaio apresenta experiências desenvolvidas no trabalho da Sala de Ciências e na realização de eventos externos em Boa Vista, Roraima. Palavras-chave: Experiências. Sala de Ciências e atividades.

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ABSTRACT This essay presents experiences during activities in the Science Hall and in external events in field work in Boa Vista, Roraima. Keywords: Experiences. Science Hall and activities.

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Introdução A curiosidade é uma característica inerente ao ser humano. Sempre estamos aguçando nosso cérebro a pensar, seja com qual roupa vestir, qual a melhor decisão diante de uma situação, o que falar, por que sentimos sono e o porquê de muitos outros fenômenos. Sempre ou quase sempre estamos em plena atividade. A Sala de Ciências do Departamento Regional de Roraima (DR/RR) busca, em cada atividade, fazer com que o visitante, ao realizar e vivenciar experiências científicas, possa, posteriormente e a sua maneira, abstrair conteúdos importantes para sua futura formação, com a relevância desse ambiente lúdico, interativo e instrutivo que é a Sala de Ciências.

Histórico do espaço e funcionamento 136 Experiência em mediação — Departamento Regional do SESC em Roraima

A Sala de Ciências do DR/RR funcionou durante cinco anos na Escola de Aplicação da Universidade Federal de Roraima — UFRR, inaugurada no dia 26 de setembro de 2003, por meio de uma parceria com a instituição. A partir de janeiro de 2009, a Sala de Ciências foi deslocada para o Centro de Atividades Antonio Oliveira Santos — Escola SESC; com isso ficamos mais próximo de nossos coordenadores, recomeçando as atividades do zero, reabilitando equipamentos e fazendo treinamentos. O desafio foi grande, no entanto, depois de oito meses de adaptações e mudanças, conseguimos alcançar aproximadamente cinco mil visitas.

Equipamentos No acervo de equipamentos, dispomos na área de ótica de dois espelhos planos e dois espelhos de distorção grandes (Figura 1.A), uma câmera escura, uma bancada de espelhos — constituída de três espelhos esféricos, um plano, um côncavo e um convexo, um poço infinito, dois caleidoscópios, o grande e o gigante, um equipamento de ilusão de óptica (Figura 1.B) —, Ciências das cores e, por fim, um holograma (Figura 1.C).

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A

B

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C Figura 1. A, B e C: Alguns dos equipamentos da Sala de Ciências.

Além dos equipamentos voltados para ótica, temos um planetário artesanal (com os planetas feitos de bolas de isopor — Figura 1.C), um vulcão que foi construído por alunos e monitores (Figura 2.A), parte da molécula de DNA (Figura 2.B), construída com arames, algumas estruturas moleculares (feitas de isopor) e uma usina hidrelétrica (Figura 2.C).

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A

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B

C Figura 2. A, B e C: Acervos confeccionados por monitores da sala e alunos.

Contribuições dos mediadores Para a melhoria do acervo e diversificação dos temas abordados, que em princípio limitava-se quase que completamente a ilusões de ótica e equipamentos voltados à ótica, desenvolvemos alguns projetos, idealizados individualmente por cada monitor e construídos em equipe após a aprovação de todos. O primeiro foi um pêndulo simples, projetado com um objetivo diferente do comumente utilizado: ele demonstra o comportamento de uma pequena bola de isopor ao ser atritada em um canudo de plástico. É feito com materiais de fácil adesão, tais como bolas de isopor pequenas, barbante, canudos e um suporte. Nosso segundo projeto foi feito visando abordar vários temas relacionados ao DNA, como células-tronco, testes de reconhecimento genético ou mesmo estrutura molecular dessa macromolécula e suas interações físico-químicas. Para isso, construímos uma estrutura de DNA com fios do cobre e também a estrutura molecular de cada uma das bases nitrogenadas que constituem o DNA (Figura 3). Acompanhando esse projeto, na feira científica, buscamos mostrar que é possível fazer pesquisa apenas com um computador, alguns softwares livres e conheci-

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mento na área a ser trabalhada. Com esse projeto mostramos também como uma molécula de DNA fica quando danificada pela radiação ultravioleta do Sol (pesquisa desenvolvida com softwares livres).

Figura 3: Parte da estrutura do DNA.

Finalizamos com o projeto de confecção de uma maquete de usina hidroelétrica, com o objetivo de abordar temas relacionados à geração de energia (a geração elétrica por meio da força da água) e também a degradação do meio ambiente, tendo em vista a situação em que estamos atualmente (Figura 4).

Figura 4: Confecção da usina hidrelétrica.

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139 Experiência em mediação — Departamento Regional do SESC em Roraima


Divulgação Para divulgar a sala e motivar professores a conhecer nosso espaço, realizamos alguns eventos, dentre eles o Dia do fotógrafo, que contou com palestras, filmes e oficinas sobre fotografia, com aproximadamente 600 visitantes. Realizamos também a Semana do nutricionista, com público-alvo de crianças do Ensino Fundamental até o quarto ano, com o objetivo de incentivar a alimentação saudável. O evento externo Venha observar o céu, aberto para toda comunidade, permitiu que cada participante observasse o céu por meio de um telescópio. Sempre realizado na praça local de maior movimentação, atende um público de aproximadamente 200 pessoas em cada itinerância. 140 Experiência em mediação — Departamento Regional do SESC em Roraima

Considerações finais Podemos concluir que o ano de 2009 foi impulsionador para crescimentos futuros. As atividades desenvolvidas pela sala, que foram de grandes desafios por estarmos recomeçando, nos trouxeram um retorno satisfatório, motivando desde amadores em Astronomia, crianças e jovens de todas as idades até novos pesquisadores, aumentando significativamente a quantidade de visitantes com anseios de novas descobertas, tanto em visitas quanto em oficinas.

Referência

SESC. Departamento Nacional. Diretrizes gerais de ação do SESC. Rio de Janeiro, 2008 Apostila. 62.

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Parte IV

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Depoimentos de mediadores: percepções sobre o fazer e a permanente construção Educação em Rede

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Entusiasmo e companheirismo Jaceli Eccheri

Bacharel e licenciada em Matemática pela UFSC. Foi mediadora da Sala de Ciências do

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Centro de Atividades de Florianópolis (CAF) entre 2009 e 2010.

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O período em que permaneci na Sala de Ciências foi de total importância, não apenas para o desenvolvimento do meu trabalho como futura professora, mas também para o meu desenvolvimento pessoal. A intenção de cada trabalho desenvolvido pela parte que me diz respeito, a Matemática, sempre foi de aproximar o máximo possível as pessoas dessa Ciência que para muitos é tão complexa. Trabalho esse representado por dinâmicas e oficinas que permitiam aos espectadores manipular e tocar na Matemática, resultando em um maior entendimento e compreensão. Pelas experiências que tive e ainda tenho lecionando em colégios, pude perceber que é mais fácil para o aluno aprender e absorver e construir o conhecimento quando se sente próximo daquilo que está sendo proposto. Desde o início “construo” atividades nas quais posso aplicar essa estratégia, ainda mais por eu estar em um campo de trabalho onde o maior público de aprendizes são crianças de três a seis anos. Destaco aqui dinâmicas como a construção de um boneco feito apenas com figuras geométricas, em que foi possível ressaltar a ideia de proporção, grandezas (unidades), área e perímetro e a distinção entre as figuras em si (como, por exemplo: algumas têm os lados iguais, outras não). Outra atividade foi o mosaico geométrico, quando cada criança escolheu sua imagem e, dentro do conceito de mosaico, cada um fez o seu. Trabalhamos com o Tangram, despertando o raciocínio lógico e a criatividade nas crianças. Foi feito um bingo matemático, possibilitando o uso das quatro operações fundamentais de modo suave, porém com efeito sobre eles; um dominó que ressalta a ideia de quantidade e outro que trabalha as operações de adição e de subtração. Atividades que buscavam diferenciar a geometria plana da espacial por meio dos sólidos geométricos e da conexão que é possível fazer com objetos do dia a dia como, por exemplo, uma árvore de Natal com um cone e uma lata de refrigerante com um cilindro, uma bola de futebol com uma esfera. Para a ideia de superfície, trabalhei com a Faixa de Moebius, que apenas com uma tira de cartolina permite definir uma superfície fechada e não fechada; interior e exterior. Também na parte que trata de Geometria, desenvolvi atividades com o geoplano, uma malha quadriculada que permite ao aluno construir a própria figura, visualizando relações de igualdade entre as figuras, de tamanho (quando uma figura é maior do que a outra, a ideia de “caber”), o que foi muito legal, pois manipularam suas construções de maneira arbitrária e depois com sugestões propostas. Vale ressaltar que o pessoal da Sala de Ciências, os estagiários, sempre foram muito companheiros na hora de desenvolver uma atividade de outro ramo, sempre

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compartilhávamos ideias e deveres, o que proporcionou uma expansão de conhecimento para cada um de nós, pois trabalhar em uma área que não lhe diz respeito exige dedicação para obter o conhecimento necessário para poder estar atuando com tal conceito. Fora a amizade que construímos. Impagável. É relevante também o apoio que sempre encontrei vindo da coordenadora, que nos ajudou a alcançar cada objetivo, incentivando sempre nosso trabalho e com isso nos motivando cada vez mais. Agradeço muito seu bom humor todos os dias, suas preocupações com nossa equipe. Um exemplo de trabalho e dedicação.

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Enfim, tenho certeza de que daqui para frente será muito melhor, não só amadurecemos as ideias, mas construímos várias outras. Não é apenas um trabalho, é uma parte de cada um que fica com as pessoas que receberam esse trabalho. É todo dia uma descoberta, uma inovação e um sorriso diferente que se abre diante das atividades. Uma curiosidade que vem de maneira inocente e bonita e que, para nós, é simplesmente valer a pena estar aqui. Por isso, agradeço às crianças por essa inocência e pelo crescimento que proporcionaram para nós, como pessoas e como profissionais. Ressalto ainda atividades que desenvolvi com turmas de maior idade, palestras e oficinas nas quais pude mostrar meu trabalho como pesquisadora da aplicabilidade da Matemática. Cada dia uma conquista. Cada conquista uma motivação para continuar com o trabalho. E com o sorriso. E com o bom humor. Ferramentas fundamentais para um bom desempenho e convívio.

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Somos finitos Larissa de Araújo Diasi

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Licenciada em Química e bacharelanda em Química Tecnológica (UFSC). Foi media-

dora da Sala de Ciências do Centro de Atividades de Florianópolis (CAF). Atualmente é professora de Química em escola do SESC e no Instituto Estadual de Educação.

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Sempre tive informações sobre as atividades desenvolvidas pelo SESC, sempre com eventos grandes e de grande divulgação. Nunca havia tido, porém, notícias ou mesmo informações sobre a Sala de Ciências presente no Centro de Atividades de Florianópolis (CAF). Por indicação, fui informada sobre uma vaga de estágio na Sala de Ciências do SESC. Chegando lá observei um espaço com vários equipamentos, apesar de malplanejado, bastante amplo e arejado. Fui informada pelos colegas da Sala das várias atividades desenvolvidas ali, tanto externamente em diversos colégios em Florianópolis, quanto internamente. Até então, os estagiários que já estavam trabalhando há mais tempo me disseram que os trabalhos da sala eram bem mais externos que internos, ou seja, a sala não era muito utilizada por sua má acomodação para muitos alunos, além de ter muitos materiais ocupando espaço. Quase não havia atendimentos internos ao pessoal do próprio SESC, como Educação Infantil, Habilidades de Estudos, Idosos, Educação de Jovens e Adultos (EJA) e Pré-vestibular. Hoje o trabalho desenvolvido na Sala é bem mais interno que externo. Para todas as atividades desenvolvidas temos completo apoio e orientação de nossa supervisora, que nos dá ideias e capacitação para as diversas atividades, como oficinas e mostras desenvolvidas na Sala de Ciências. Desde o início de meu estágio tive completo apoio, capacitação e informações sobre os trabalhos desenvolvidos e que já foram feitos pela sala, bem como suas propostas e objetivos principais, que no caso é a importante divulgação da Ciência. Ao longo de nosso trabalho, sempre houve momentos de estudo e planejamento sobre os projetos, oficinas e atividades desenvolvidas ao longo do ano, mediadas pela nossa orientadora, que sempre auxilia com ideias, aquisição dos materiais necessários e até mesmo com a organização de alguns projetos e mostras, como recentemente o projeto do Clube Arte Vida Verde, na Semana do meio ambiente, com oficinas de reaproveitamento de materiais reutilizáveis, palestras sobre sustentabilidade e saídas de campo, que proporcionaram a visitação do parque do Córrego Grande em Florianópolis, e a mostra Química divertida, que circulou por vários colégios de Florianópolis em parceria com a UFSC (Quimidex), contextualizando coisas do dia a dia com experimentos que envolvem muitos conceitos de Química.

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149 Somos finitos


O revezamento de horários sempre foi necessário, em virtude dos diversificados horários da faculdade de cada monitor. Sempre nas atividades semanais desenvolvidas para a Educação Infantil e Habilidades de Estudo havia pelo menos dois estagiários em sala. Em grande parte do ano, o revezamento de horários funcionou favoravelmente para o bom desenvolvimento das atividades, sempre planejadas com antecedência pela Sala de Ciências. Quando algum remanejamento de horários era necessário, ou mesmo faltas dos estagiários, todas as atividades eram transferidas com aviso prévio e, sendo assim, encaixadas no horário mais próximo possível, para não prejudicar a continuidade dos trabalhos.

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Praticamente não há dias durante a semana em que a sala fique sem estagiários; durante todos os dias das 8h às 18h, sempre estão presentes estagiários, tanto no intuito de atender ao pessoal do próprio SESC quanto ao externo com agendamento, utilizando o espaço físico da sala, ou quando necessário uma sala de aula nas proximidades da Sala de Ciências. Em mostras, visitações e oficinas, a colaboração e o apoio de nossa orientadora foram essenciais para nos guiarmos no trabalho a ser executado, auxiliando com ideias e organização até mesmo estrutural de todos esses eventos. Todos os trabalhos, independentemente das áreas em foco nos eventos, são realizados em parceria entre todos os estagiários da sala, proporcionando assim um crescimento em relação às experiências interdisciplinares, trabalhando também com todas as faixas etárias. Em muitas oficinas realizadas, como a atividade das borboletas, feita com a Educação Infantil e Habilidades de Estudos, foram importantes a interação e o trabalho em conjunto de todos os estagiários da sala, independentemente da área. Da mesma maneira ocorreram as mostras, como a Ecos da Terra e a Química divertida, nas quais todos os estagiários demonstraram bastante interesse e participaram em conjunto de modo direto ou mesmo indireto de todas as atividades desenvolvidas nessas mostras, tanto internamente, na Sala de Ciências, como externamente, em colégios de Florianópolis. Muitas atividades desenvolvidas pelos próprios monitores são aplicadas externamente, como a apresentação da Astronomia em vários colégios pelos estagiários de Física. As vivências no Instituto Estadual de Educação, que desenvolvem atividades

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práticas com os alunos nos finais de semana, nas áreas de Física e Química, e as desenvolvidas por mim e aplicadas em vários colégios de Florianópolis, como os jogos químicos com baralhos, dominós e truco que desenvolvem conceitos químicos, trabalhando a tabela periódica, compostos orgânicos e ligações químicas. Principalmente com os trabalhos em conjunto, desenvolvi atividades diferenciadas para a Educação Infantil, como a reação que mostra a quantidade de amido nos alimentos, a extração de cores de flores e cascas de frutas para a produção de tinturas, proporcionando assim um valioso aprendizado e uma excelente experiência sobre novas possibilidades de atividades que podem ser desenvolvidas em sala de aula e com uso de materiais alternativos, que não despendem um alto custo e são muito importantes para o desenvolvimento e socialização da Ciência abrangendo todas as faixas etárias. Em todas as atividades sempre se busca focar o aspecto ecológico, sendo que os materiais utilizados, quando possível, são já usados e reaproveitados com as atividades, produzindo um mínimo de resíduos e estimulando os visitantes da sala a ter uma consciência ecológica, e nas próprias casas também fazer o mesmo - reaproveitar e direcionar para reciclagem todo o lixo produzido.

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Física para todos Luís Gustavo da Silvai

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Licenciado em Física, foi mediador da Sala de Ciências do Centro de Atividades de Flo-

rianópolis (CAF). Atualmente é professor no Ensino Médio e em cursos pré-vestibulares.

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Pelo histórico do ensino público brasileiro, assim como pela nossa formação como professores de Física, percebemos uma metodologia de ensino totalmente voltada para o Ensino Médio, o que nos leva a pensar que a Sala de Ciências do Centro de Atividades de Florianópolis (CAF) deveria voltar toda sua atividade de Física para o Ensino Médio, certo? Não, não é isso que ocorre. Talvez se tivéssemos mais aproximação com a Física ou com as Ciências desde pequenos, não haveria tantos bloqueios e fracassos escolares nessa área como encontramos no ensino atualmente. Com esse intuito, a Sala de Ciências do CAF direciona suas atividades relacionadas à Física não somente para o Ensino Médio, mas também para o Ensino Fundamental, a Educação Infantil e até grupos de idosos. Logicamente deve ter uma adaptação de linguagem, conteúdo e metodologia quando se migra por essas diferentes faixas etárias. A seguir citaremos alguns casos recentes que realizamos em nossa sala. Com a Educação Infantil, na qual atendemos alunos de três anos em diante, temos como exemplo as atividades “De onde vem o dia e a noite?”, em que tratamos, por meio de um vídeo infantil, os movimentos de rotação e translação da Terra relacionando com a duração de um dia ou um ano; e “De onde vem o arco-íris?”, em que mostramos as condições e como se forma o arco-íris. Os vídeos normalmente são seguidos por alguma atividade manual: uma construção, um desenho, uma pintura; servindo como recordação sobre o assunto, para que levem para a sala de aula ou para casa e lembrem-se das atividades feitas na Sala de Ciências. Exemplo disso foi a confecção de um Disco de Newton na atividade do arco-íris. Lembramos que todas as atividades foram realizadas com uma linguagem acessível, com bastantes visualizações sobre o que era falado, com vídeos que incluíram até uma “participação especial do Sir Isaac Newton”, explicando sua experiência com o prisma. Apesar da utilização de termos como prisma, translação e até mesmo refração, percebemos uma boa compreensão dos fenômenos envolvidos, sem apegos a esses termos. Claro que todos esses termos foram subitamente “traduzidos” no momento em que eram citados. Outro exemplo em que foram utilizadas diferentes metodologias e linguagens foi na mostra de Astronomia. Sabemos que 2009 foi o Ano Internacional da Astronomia, assim resolvemos montar pequenas mostras para apresentar durante o ano

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153 Física para todos


a diferentes públicos, tendo em vista a grande falta de informações e a existência de mitos e concepções alternativas relacionadas à Astronomia. As pequenas mostras foram apresentadas para a Educação Infantil, Habilidades de Estudos, o Ensino Fundamental, o Ensino Médio e a Educação de Jovens e Adultos (EJA), além de uma apresentação para os técnicos da Unidade. Em cada uma dessas apresentações, o conteúdo e as linguagens foram modificados como já citamos. Para a Educação Infantil, Habilidades de Estudos e o Ensino Fundamental os focos foram: as constelações, a diferença entre estrela e planeta, as dimensões astronômicas e o porquê de 2009 ser o Ano Internacional da Astronomia. Quando apresentamos para técnicos, EJA e para o Ensino Médio (de escolas da rede pública), o foco se deslocou mais para a parte histórica da Astronomia, também falando mais sobre os telescópios, que Galileu apontou para o céu há 400 anos. 154 Física para todos

Além dessas atividades criadas pelos mediadores, existe um acervo de equipamentos para o ensino de Física, que periodicamente é apresentado para os alunos da própria unidade e para alunos do Ensino Médio e Fundamental de escolas da rede pública de Florianópolis. Esse acervo também serve de atração em Feiras de Ciências, mostras (fora ou dentro da unidade), vivências (2008 e 2009 no Instituto Estadual de Educação) e até em capacitação de professores. Esse é aproximadamente um resumo das atividades desenvolvidas em Física e do papel dos mediadores na sala que, além de apresentar, têm que adaptar os conteúdos e as linguagens, dependendo do grupo que será visitante.

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Biologia na Sala de Ciências do SESC Florianópolis* Manoela Sezerinoi

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Mediadora; formada em Ciências Biológicas pela Universidade Federal de Santa Ca-

tarina.

*Colaborou e incentivou a produção dos textos: Josiane Santos da Silva.

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As atividades desenvolvidas na Sala de Ciências do CAF na área da Biologia são direcionadas predominantemente para temas relacionados ao meio ambiente e as turmas atendidas são, em sua maioria, da Educação Infantil e Habilidades de Estudo. A faixa etária corresponde a crianças de 3 a 8 anos, o que exige uma metodologia diferenciada e uma linguagem adequada para possibilitar a compreensão e o diálogo. Inicialmente havia uma grande dificuldade de comunicação entre os monitores e as crianças, pois a linguagem utilizada e os recursos empregados na mediação não eram coerentes com a faixa etária atendida. Percebíamos que a fala dos monitores era muito técnica, o que tornava a compreensão das crianças quase nula. Além disso, não havia recursos voltados para atender o público infantil. As atividades consistiam em longas e cansativas explanações, inexistindo troca, diálogo ou retorno por parte das crianças. Talvez o que explique tamanha discrepância seja a falha na formação dos monitores, uma vez que a universidade oferece arcabouço teórico, metodológico e prático para a formação em Ensino Fundamental e/ou Médio, apenas. Como graduandos de cursos de licenciatura das mais diversas áreas da Ciência, não estamos preparados para trabalhar com a Educação Infantil. Contudo, revendo as nossas práticas percebemos que seriam necessárias mudanças e partimos para os ajustes. Buscamos tornar a linguagem mais acessível e menos técnica, pesquisamos recursos voltados para a área infantil e desenvolvemos metodologias com menos explanação e mais interação. Reduzimos o tempo da nossa fala, abrimos espaço para a troca com questionamentos e incluímos nas atividades um espaço para o lúdico. Entre as ações realizadas pela Sala de Ciências estão: elaboração e desenvolvimento de atividades semanais com o Clube Arte Vida Verde, Habilidades de Estudo, Educação Infantil e Creche Cristo Redentor, além de exposições, apresentações, oficinas e mostras para o público em geral. Como exemplos, podem ser citados: exposição de borboletas confeccionadas com chapas de raios X; apresentação do funcionamento de sistema de aquecimento da água, construído com garrafa PET e funcionamento do forno à base de energia solar; oficinas de construção de brinquedos com material de sucata, oficinas de papel reciclado e sabão ecológico, mostra Ecos da Terra, distribuição de mudas etc.

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157 Biologia na Sala de Ciências do SESC Florianópolis


Dos recursos utilizados, os que melhor se encaixam nas propostas de trabalho são os vídeos educativos, pois prendem a atenção das crianças, não são muito longos e a linguagem é simples e clara. As atividades são estruturadas de acordo com a seguinte metodologia: iniciamos a discussão de determinado tema com um vídeo, seguido por uma conversa onde reforçamos os conceitos mais importantes, em seguida abrimos espaço para a fala das crianças. Como fechamento da atividade, procuramos realizar alguma atividade manual relacionada ao tema trabalhado, como modo de fixar o conteúdo e tornar a atividade lúdica e prazerosa. As atividades manuais consistem principalmente em desenhos, pinturas, colagens etc. Temas como reciclagem, separação de lixo, poluição, redução de consumo da água e preservação da natureza são bastante abordados. Dentro das atividades do Clube Arte Vida Verde, foi realizada na Semana da Criança uma trilha guiada em um Parque Ecológico Municipal, onde as crianças entraram em contato com a fauna e a flora locais e puderam aprender a importância da preservação do meio ambiente. 158

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Biologia na Sala de Ciências do SESC Florianópolis

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Títulos anteriores Currículos em EJA: saberes e práticas de educadores.

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