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A ARTE E SEU ENLEIO
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A ARTE E SEU ENLEIO
APRESENTAÇÃO
Para muitos, os processos artísticos são atributos de homens geniais, mas quando mergulhamos em seus cotidianos, vemos que o trabalho é árduo e intenso. Pensar nos processos e nas práticas habituais que envolvem as artes é também lançar uma reflexão acerca delas. Os mistérios vislumbrados no fazer artístico pertencem ao domínio do essencialmente humano. O ego, os relacionamentos amorosos e a relação com o público, assim como a dureza de vivenciar os processos de elaboração simbólica das obras, são alguns temas esbarrados pelos filmes escolhidos para essa mostra. Artes plásticas, dança, literatura e o próprio cinema estão incluídos como objetos temáticos dos títulos e todos lançam discussões fundamentais sobre o que envolve a criação artística e o próprio papel social da arte. Como pensá-la sem refletir sobre o próprio processo humano, seus esforços, sua luta pela liberdade? Que relações os homens estabelecem com a arte? E os governos, com seus poderes constituídos, a sociedade com seus padrões e regras, como reagem à arte e sua propensão a contestar as amarras impostas por uma determinada tradição política ou religiosa? Nesse momento, em pleno século 21, vivemos agressivas atitudes de intolerância às artes, sejam elas quais forem. Por isso, torna-se fundamental provocar discussões sobre o quanto os artistas são imprescendíveis para a riqueza das visões existentes no mundo, na medida em que eles propõem que olhemos para a realidade sob óticas diversas.
A tão falada incompreensão em relação ao talento artístico de Van Gogh, que tornou sua vida um inferno. A arte como mercadoria e como necessidade de expressão de um mercado, como vista em O cidadão ilustre, mas também como reafirmação de uma sociedade onde as diferenças são tratadas com violência, já que um lado não entende o que significa o outro. Enfim, uma arte e um artista que não dialogam com a sociedade, o que reforça puramente uma vaidade humana. Como pensar em Pendular e não imaginar o quanto a arte significa a própria luta da vida e da sobrevivência, e a difícil tarefa de fazê-la expressão do seu viver? As dificuldades na relação do artista com a fama estão presentes em Eu sou Ingrid Bergman, apontando uma contradição para ser vivida: de um lado a afirmação pública e, de outro, as incertezas no convívio familiar. Todavia, a intimidade pode trazer um estranhamento quando o personagem é o excêntrico e soturno David Lynch, um cineasta famoso, mas desconhecido como artista visual, que revela nesse exercício pictórico muito de sua personalidade e de seu universo criativo.
COM AMOR, VAN GOGH
ORIGEM: REINO UNIDO | POLÔNIA ANO DE PRODUÇÃO: 2017 DURAÇÃO: 95 MIN CLASSIFICAÇÃO: 12 ANOS DIREÇÃO: DOROTA KOBIELA, HUGH WELCHMAN ELENCO: DOUGLAS BOOTH, CHRIS O’DOWD, SAOIRSE RONAN
SINOPSE 1891. Um ano após o suicídio de Vincent Van Gogh, Armand Roulin (Douglas Booth) encontra uma carta enviada por ele ao irmão Theo, mensagem que jamais chegou ao seu destino. Após conversar com o pai, carteiro amigo pessoal de Van Gogh, Armand é incentivado a entregar ele mesmo a correspondência. Dessa forma, ele parte para a cidade francesa de Arles na esperança de encontrar algum contato com a família do pintor falecido. Lá inicia uma investigação junto às pessoas que conheceram Van Gogh, no intuito de decifrar se o artista realmente se matou.
BREVE REFLEXÃO Com amor, Van Gogh é antes de tudo um filme feito para os sentidos. Desde o início, é fácil perceber que a camada imagética se sobrepõe a todas as outras que compõem essa obra. A beleza da técnica de animação, inspirada no próprio estilo inconfundível do pintor, se impõe de tal forma que o melhor a fazer é relaxar e embarcar mesmo nessa inusitada proposta visual. É claro que o desnível entre forma e conteúdo está ali bem evidente, mas não deve impedir ou atrapalhar a fluência das suas imagens nem o impacto inconteste provocado por elas. Os diretores Hugh Welchman e Dorota Kobiela utilizaram 125 artistas contratados para pintar mais de 60 mil telasframes a óleo ao longo dos 95 minutos de filme. O que mais chama a atenção, no entanto, é a dinâmica visual que essas telas criam na imagem. Como o estilo de Van Gogh incorporava um traço brusco com pinceladas de uma rusticidade irregular, um frame não “encaixa” devidamente no seguinte, o que produz um impacto visual impressionante, pois a imagem parece sempre estar em movimento, até quando ela deveria se mostrar estática. Esse efeito visual salienta a própria técnica de Van Gogh e faz nosso interesse crescer no decorrer do filme. A trama transcorre após a morte de Van Gogh e muito se assemelha à narrativa de Cidadão Kane (1941), de Orson Welles, ao evocar flashbacks que sustentam a narrativa. Como em Kane, há uma investigação com o objetivo de tentar desvendar um mistério. Enquanto em Cidadão Kane o alvo são suas últimas palavras – o indecifrável “Rosebud” –, em Com amor, Van Gogh a busca ao seu passado se inicia com uma carta deixada pelo pintor. A partir daí o
personagem Roulin, filho de um carteiro que era amigo de Van Gogh, se esforça em entender algumas circunstâncias desencontradas que envolveram a morte do pintor holandês. Mas sem dúvida, Com amor, Van Gogh foi realizado para encantar a legião de fãs do pintor. Todas as estratégias são evidentes quanto a isso. A presença dos personagens inspirados em célebres pinturas como as do Dr. Gachet, de sua filha tocando piano, da jovem Ravoux, assim como suas paisagens da bela província de Auvers-sur-Oise, são elementos fundamentais para a criação da empatia da obra com o público. E os diretores iniciam muitas vezes as cenas a partir de uma pintura famosa, o que desperta de imediato suspiros na plateia do cinema. É realmente impossível deixar à parte o aspecto sedutor dessa obra. Personagens familiares, com os quais convivemos anos e anos nos livros e museus, abruptamente desabrocham à nossa frente, vigorosos, vívidos, fulgurantes e com uma beleza tal que só nos resta mesmo esquecer tudo e fazer como Akira Kurosawa (talvez o maior inspirador dessa obra) propôs em seu magnífico Sonhos (1990): embarcar com todo encantamento possível numa passagem sem volta pelos quadros extraordinários do mestre Vincent Van Gogh.
PENDULAR
ORIGEM: BRASIL | ARGENTINA | FRANÇA ANO DE PRODUÇÃO: 2017 DURAÇÃO: 108 MIN CLASSIFICAÇÃO: 18 ANOS DIREÇÃO: JÚLIA MURAT ELENCO: RAQUEL KARRO, RODRIGO BOLZAN
SINOPSE Em um galpão abandonado, um casal de artistas contemporâneos observa a arte, a performance e sua intimidade se misturarem. A partir de sequentes contradições, eles vão aos poucos perdendo a capacidade de distinguir seus projetos artísticos da relação amorosa, criando até mesmo um conflito com seu passado.
BREVE REFLEXÃO O segundo longa da jovem diretora Júlia Murat vem reafirmar seu talento já insinuado em Histórias que só existem quando lembradas. Em Pendular podemos dizer que seu voo é mais ousado e impreciso ainda, escolhendo flertar com instabilidades entre narrativo e experimental, entre dança e artes visuais, entre ciúme e possessão, entre sucesso e fracasso, entre equilíbrio e inconstância, e outras dicotomias que poderiam ser aqui elencadas. São muitas incertezas que movem o casal composto por uma bailarina, interpretada com precisão por Raquel Karro, e um escultor, vivido com intensidade por Rodrigo Bolzan, que dividem o protagonismo do filme e o mesmo galpão-ateliê-residência. É nesse espaço-síntese, onde praticamente tudo acontece, que os conflitos e as paixões são desfrutados como se o casal vivesse numa cápsula. Logo na primeira cena, o filme já diz a que veio. Uma fita adesiva divide o ambiente em dois, um da dançarina e outro do escultor. Há nessa cena um detalhe significativo muito bem explorado pelo ângulo escolhido por Murat. A fita que ali demarca o espaço de cada um não é exatamente reta, mas imprecisa, visivelmente tortuosa. Essa é a primeira pista que Murat nos informa acerca do que veremos a seguir: afinal, em nossas vidas, assim como na dos personagens, pendulamos cotidianamente em busca de um equilíbrio emocional e corporal. No filme, por exemplo, os personagens têm que lidar ainda com os permanentes julgamentos e apontamentos da crítica especializada, lhes cobrando coerência e/ou renovação sem fim, ossos de um ofício árduo, muitas vezes solitário, dos que escolheram a arte como modo de vida.
Essas tensões externas espraiam-se para suas vidas, precisando ser enfrentadas a cada dia, e interferem na própria organização de seus espaços. O externo e o interno habitam em qualquer relação amorosa, mas eles se corporificam também nas relações do casal para fora do casulo, portanto o filme fala de diversas fronteiras, algumas físicas e outras emocionais, nas quais esbarramos em nossas vidas, e da nossa tentativa de torná-las corpóreas. A divisão então proposta pelo casal para o trabalho é interrompida constantemente para ardentes momentos de sexo, e também para aflorar as permanentes tensões entre eles. Trabalho e vida pessoal acabam se misturando mais do que o esperado, e desejos são delineados muitas vezes em desacordo, como o de ser pai e o de não ser mãe. Qual seria assim a fronteira dos corpos, das decisões que precisam ser tomadas por eles, como a da gravidez que abre um profundo conflito no emocional da bailarina? As dualidades não se esgotam apenas no espaço do galpão e nos corpos que nele transitam, apesar de o filme se passar praticamente o tempo todo nessas cápsulas corporais e espaciais.
Porém o que mais impressiona em Pendular é a sua camada corpórea incontestável. Sabemos o quanto a dança e a escultura são artes táteis. Não casualmente, o sexo, a dança e os objetos são matérias que se adensam poderosamente no filme. As coreografias assinadas por Flávia Meireles são exitosas ao elevar os corpos a seu protagonismo de fato e de direito, afirmando-os como potência, explosão e importante espaço de fala. O interessante é que as coreografias não roubam a cena nem são meramente ilustrativas; elas são belissimamente incorporadas e assimiladas ao filme, constituem e azeitam seu corpo. As propostas de câmera, assim como os personagens, oscilam e se alternam entre movimentos suavemente bailados que acompanham em especial os corpos quando dançam e fazem sexo, mas respondem com a fixidez, a contrapelo, quando os enquadramentos são mais abertos e exploram mais os espaços ou os corpos situados nessa paisagem. A câmera praticamente fica restrita a um único ambiente, o que faz com que o espectador divida com os personagens uma sensação de claustrofobia, ora incômoda, ora prazerosa. Mas será por meio de suas artes que as possibilidades de equilíbrio vão se concretizar, mesmo que ele seja tão provisório e breve quanto uma apresentação de dança em um objeto projetado para afirmar a instabilidade inerente à arte e à própria vida.
Vale ressaltar que, no último Festival de Berlim, Pendular foi agraciado com um prêmio de melhor filme na mostra Panorama. A ousadia estética da proposta de Júlia Murat deve ser sublinhada ao misturar cinema, dança, game e escultura numa obra corajosa e extremamente bem-sucedida.
DAVID LYNCH, A VIDA DE UM ARTISTA
ORIGEM: ESTADOS UNIDOS | DINAMARCA ANO DE PRODUÇÃO: 2016 DURAÇÃO: 88 MIN CLASSIFICAÇÃO: 12 ANOS DIREÇÃO: JON NGUYEN, RICK BARNES, OLIVIA NEERGAARD-HOLM ELENCO: DAVID LYNCH
SINOPSE Em uma íntima jornada, o documentário narra os anos que formaram a vida do cineasta David Lynch. Desde sua criação idílica em uma pequena cidade até as ruas escuras da Filadélfia, acompanhamos Lynch à medida que ele traça os eventos principais para a sua formação, assim como para o seu estilo cinematográfico enigmático.
BREVE REFLEXÃO A primeira informação importante para se compartilhar a respeito do filme David Lynch, a vida de um artista é a de que não se trata propriamente de um documentário sobre a sua carreira cinematográfica, o que pode a princípio causar uma certa decepção aos fãs de seu enigmático cinema. Mas esse fato, ao contrário que se possa imaginar, enriquece a proposta em vez de enfraquecê-la, pois o que pouco se conhece é a sua relação com as artes visuais como um todo, em que o cinema está incluído. Outro ponto relevante a ser observado é que o filme, ao falar de seu processo de criação e de sua visão sobre a arte, a vida e muito de sua infância, nos possibilita ampliar o nosso conhecimento acerca de sua forma de pensar o mundo, contribuindo muito para quem tem curiosidade sobre o universo artístico que envolve a fantástica obra de David Lynch. O filme se sobressai ao trabalhar um David Lynch mais intimista, mergulhado no seu ateliê, no seu trabalho como artista visual. Fica a impressão de que Lynch influenciou muito o trio de diretores Jon Nguyen, Rick Barnes e Olivia Neergaard-Holm na concepção dessa obra, tratando apenas do que o interessava e revelando muito pouco (quase nada mesmo) sobre sua faceta mais pública e suas obras cinematográficas.
O artista, porém, nos mostra particularidades que podem ser ampliadas para sua obra como um todo. Fala muito de sua infância, seus pesadelos e permite o acesso a aspectos sombrios de sua formação como indivíduo. Os diretores colocam David Lynch em conexão direta com o público, sem intermediários e comentários de terceiros sobre ele ou sua obra. O intimismo e a atmosfera sombria (visíveis nos filmes e na sua obra pictórica) também se revelam na opção de se filmar no seu ateliê, onde a fotografia salienta uma certa sensação de claustrofobia dos depoimentos, e na sua relação com o espaço de trabalho.
O CIDADÃO ILUSTRE
ORIGEM: ARGENTINA ANO DE PRODUÇÃO: 2016 DURAÇÃO: 118 MIN CLASSIFICAÇÃO: 14 ANOS DIREÇÃO: MARIANO COHN, GASTÓN DUPRAT ELENCO: OSCAR MARTINEZ, DADY BRIEVA, ANDREA FRIGERIO
SINOPSE Daniel Mantovani (Oscar Martínez), um escritor argentino e vencedor do Prêmio Nobel, radicado há 40 anos na Europa, volta à sua terra natal, ao povoado onde nasceu e que inspirou a maioria de seus livros, para receber o título de Cidadão Ilustre da cidade – um dos únicos prêmios que aceitou receber. No entanto, sua ilustre visita desencadeará uma série de situações complicadas entre ele e o povo local.
BREVE REFLEXÃO Muitos sabem e comentam sobre a qualidade do cinema argentino no século 21. Mas dentro de um contexto mais amplo, O cidadão ilustre, dos diretores Mariano Cohn e Gastón Duprat, merece uma menção especial por ser um filme com uma gama de reflexões sobre a arte, a sociedade e, mais especificamente sobre arte, sociedade e a relação dos dois temas com o público. Em verdade, o filme aborda a distância entre criação e recepção de uma obra, mas sem esquecer todos os contextos possíveis: entre artistas, mídia, poder, gosto artístico e questionamentos acerca do papel da arte em uma determinada sociedade, onde a estrutura de classes é marcada pela diferença. O mérito incontestável desse longa-metragem está no seu roteiro, pensado para que não só as ações sejam o sustentáculo do filme, mas também cada detalhe cênico, gestual ou de figurino que possa acrescentar informações importantes para dar corpo à narrativa e alinhavar os temas a serem tratados. Logo na primeira cena vemos o escritor Daniel Mantovani recebendo o Prêmio Nobel de Literatura, a maior de todas as distinções que um escritor pode receber em uma carreira literária. Os diretores aproveitam o ensejo para muito dizer sobre traços da personalidade do personagem, em especial sua arrogância perante todos. Reparem que não só o prêmio, alvo da sequência, mas todos os pormenores do modo de agir do personagem no evento são os grandes atributos do que vemos.
A grande sacada de O cidadão ilustre está no confronto entre o escritor e sua pequena cidade natal, Salas, após longos quarenta anos de ausência. Claro, Daniel não é mais o mesmo, entretanto a crueldade está em que a cidadezinha de Salas, esta sim, é exatamente a mesma em seu provincianismo tacanho. O filme trata desses momentos de embate entre o ilustre cidadão, inteligente, famoso, reconhecido como talentoso na Europa, continente onde vive, e sua retrógrada Salas, anacrônica, cafona e que esconde o conservadorismo atroz de seus principais moradores.
Em um concurso de arte, do qual Mantovani participa como jurado, é que o próprio conceito de arte será posto à prova. Qual obra pode ser considerada arte? Quais os critérios que determinam ou permitem essa apreciação para uma devida qualificação? Além dessas perguntas, o filme também demonstra o peso que a sociedade tem sobre essas respostas: a influência da política (ou da politicagem?) como instrumento de pressão sobre a valorização de uma obra em detrimento de outra. Assim, a arte se integra à sociedade e, ao mesmo tempo em que pode contaminá-la, também, contraditoriamente, é impregnada por ela.
Algo interessante no roteiro de Duprat é como ele trabalhou o personagem de Daniel Mantovani, sem enaltecer sua figura imbuída de talento e reconhecimento. Pelo contrário, o filme consegue estabelecer que o mundo do qual saiu o escritor é o mesmo dos habitantes de Salas, e que o fato de ter vivido por quatro décadas na Europa não o fez um ser humano melhor nem pior do que os outros, apenas mais intelectualizado e de sucesso internacional. Desse modo, de forma muito hábil, O cidadão ilustre consegue abordar as relações de poder e fama, que também envolvem as artes, com profundidade e sem maniqueísmos. Vale lembrar que o escritor aceita o convite de visitar sua cidade natal muito mais por vaidade de ser o cidadão mais ilustre de sua história, do que por algum tipo de saudade de suas origens.
EU SOU INGRID BERGMAN
ORIGEM: SUÉCIA ANO DE PRODUÇÃO: 2015 DURAÇÃO: 114 MIN CLASSIFICAÇÃO: 10 ANOS DIREÇÃO: STIG BJÖRKMAN ELENCO: INGRID BERGMAN, ISABELLA ROSSELLINI, LIV ULLMANN
SINOPSE Usando os diários íntimos de Ingrid Bergman, além das cartas enviadas a suas amigas, o documentário traça todo o percurso pessoal e profissional da atriz, incluindo seus diversos casamentos, a relação controversa com os filhos, o escândalo de adultério, as mudanças para os Estados Unidos, França e Inglaterra, os principais filmes e os prêmios recebidos em sua carreira.
BREVE REFLEXÃO O diretor Stig Björkman é um grande estudioso do cinema sueco. Publicou um livro que reúne entrevistas com o maior de seus cineastas, Ingmar Bergman, e realizou recentemente um filme sobre uma de suas mais proeminentes atrizes, Ingrid Bergman (que, diga-se de passagem, não é parente do cineasta). No decorrer do filme nota-se que Björkman fez uma pesquisa muito acurada a respeito da atriz, facilitada por ela própria, que sempre nutriu o interessante costume de filmar sua vida com uma câmera super 8. Estes filmes são a base e a maior delícia do trabalho de Björkman, além das fotografias e cartas que também ajudam na construção narrativa do filme. Ingrid gostava de registrar fatos de sua vida, o que nos permite descobrir diversas facetas de seu viés artístico. O mergulho em um set de filmagem, como é o caso de uma atriz acostumada com papéis de protagonista nos filmes, a afastava dos filhos e este é um dos pontos difíceis da relação entre arte e vida pessoal. As cartas que revelam as impressões de Ingrid Bergman sobre a vida são lidas de maneira muito sensível pela atriz Alicia Vikander. O filme não foge das polêmicas envolvendo Ingrid, como a sua tão propagada paixão pelo famoso cineasta italiano Roberto Rossellini, quando ela deixou tudo para trás nos Estados Unidos e foi viver esse amor.
Embora tenha sido considerado por muitos críticos como favorável demais a Ingrid Bergman, talvez seja esse o maior mérito do documentário: não fazer um julgamento dos atos considerados polêmicos da vida da atriz, preferindo destacar seu direito de levar sua vida como bem entendesse. Essa visão está justificada inclusive no título da obra, francamente afirmativa, que opta por reforçar a coragem de uma mulher frente aos ditames rígidos vindos das regras morais da sociedade dos anos 1950. Ela não aceitou o papel de mulher submissa, tão comum a tantas outras de sua época. Só por isso, já vale assistir a esse prazeroso filme de Stig Björkman.
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José Roberto Tadros DEPARTAMENTO NACIONAL DIREÇÃO-GERAL
CONTEÚDO DIRETORIA DE CULTURA
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Márcia Costa Rodrigues
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PUBLICAÇÃO DIRETORIA DE COMUNICAÇÃO SUPERVISÃO EDITORIAL
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Todo ano, o CineSesc adquire os direitos de exibição de longasmetragens que são levados para todo o Brasil nas programações dos Departamentos Regionais do Sesc. O projeto é organizado por mostras temáticas com filmes contemporâneos em que há uma seleção específica de um movimento estético ou diretor(a) importante na história do cinema. A área audiovisual do Sesc busca ofertar obras com formas narrativas impactantes e que trazem reflexões para todo o público, alinhadas com os princípios sociais que movem a instituição. A principal marca do CineSesc é o foco no cinema independente. Vale dizer que os filmes participantes têm muitas dificuldades para adentrar no circuito comercial, e até quando conseguem entrar em cartaz ficam restritos a uma ou duas salas nas maiores capitais brasileiras. Fazer esses conteúdos atingirem um público mais amplo é o nosso desafio e uma de nossas tarefas mais importantes.
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