3 minute read

BONECAS ABAYOMI

Lena Martins (Waldilena Serra Martins) | RJ

A boneca Abayomi, que hoje é uma marca registrada, tem sua origem nas mãos de Lena Martins, maranhense que mora no Rio de Janeiro há 55 anos.

Advertisement

Alimentada pela experiência, como artesã, das tradicionais bonecas bruxinhas de pano e de bonecas de palha de milho sem cola e sem costura, criou em 1987 um jeito particular de fazer bonecas negras de pano, sem usar linha, agulha, tampouco cola, utilizando uma técnica apurada de nós e amarrações para estruturar e dar acabamento às bonecas feitas com sobras de retalhos de panos e malhas, sem nenhuma estrutura de arame ou madeira.

Logo outras mulheres se juntaram a ela, aprendendo a técnica das bonecas de retalhos superpostos, nós e amarrações e, no ano seguinte, estava constituída a Associação Abayomi.

A palavra Abayomi é um nome próprio da língua Iorubá. Muitas crianças africanas quando nascem recebem este nome, que significa encontro precioso: abay = encontro e omi = precioso, também traduzido como “meu presente”, “meu momento”.

A escolha intencional em fazer exclusivamente bonecas de pano negras, com acabamento estético impecável, tem a ver com o passado de militância da autora no Movimento das Mulheres Negras, que procurava na arte popular um instrumento de valorização da identidade afro-brasileira. “Fazer bonecas Abayomi é minha militância poética”, diz Lena.

Suas bonecas, que variam de 2 cm a 1,50 m, representam figuras do cotidiano, personagens de circo, da mitologia, orixás, manifestações folclóricas e culturais, ganhando até verbete de enciclopédia e temática de teses de mestrado:

› Enciclopédia Brasileira da Diáspora Africana;

Nei Lopes – Editora Selo Negro – RJ 2004. › Dissertação de mestrado: Abayomi: O design nas amarrações dos fios femininos na bandeira de uma cooperativa –

PUC-Rio, 2006, Luciana Grether de Mello Carvalho. › Dissertação de mestrado: Experiência Abayomi – Cotidianos coletivos, ancestrais, femininos, artesaniando empoderamentos – UFF –

Faculdade de Educação – 2008 – Niterói – Sonia Maria da Silva.

Ainda em 2011, Lena lançou seu primeiro livro todo ilustrado com tecido e bonecas Abayomi. A narrativa trata de uma conversa levada ao balanço de uma rede, com uma criança que está aprendendo a falar, inspirada na vivência que teve com sua neta de 3 anos de idade, que hoje completa 18 anos: Vida que Voa, Lena Martins, ilustrações de Carolina Figueiredo, Luciana Carvalho e Lena Martins, Editora Escrita Fina, RJ, 2011.

Possibilidades lúdicas e educativas

Ter bonecas negras e também de diferentes culturas na escola é uma maneira de valorizar a diversidade cultural, incluindo na brincadeira algo que deveria ser natural nas relações: o afeto, o encontro precioso (abay = encontro e omi = precioso) das diferenças.

A opção de Lena pelas bonecas negras tem marca em sua trajetória e na observação de que existia, no Brasil, pouca preocupação no que diz respeito ao cuidado estético com as bonecas negras; e não só isso, também havia escassa produção delas. De 27 anos para cá, a situação melhorou por conta de iniciativas como as de Lena e outras tantas, mas ainda é preciso investir para que as escolhas de acervo lúdico nas escolas possam contemplar melhor a diversidade cultural.

Nesse sentido, procurar ter bonecas negras que não sejam estereótipos ou que não sejam feitas na mesma forma das bonecas brancas, como as grandes indústrias de brinquedos fazem, de certo modo é tratar de valorizar as diferenças como qualidade e não com visão preconceituosa, alimentada pela época da escravidão, que quis fazer acreditar na existência de culturas inferiores e superiores. Todos nós só temos a ganhar e crescer com este encontro efetivo, tão vital e precioso para a formação pessoal e social da Humanidade.

This article is from: