3 minute read
COME-COME, ALIMENTANDO, RIBEIRINHO NA CANOA, BOTO ARTICULADO, SOCA-SOCA, SERRA-SERRA E DANÇARINOS
Valdeli Costa Alves | PA
Valdeli Costa Alves faz brinquedos de miriti desde os 12 anos e como profissão começou em 1999. Antes, trabalhava em fábrica de vassouras e na construção civil. Quando ficou desempregado, começou a fazer os brinquedos profissionalmente e daí em diante nunca mais parou. Participou de uma exposição no Rio de Janeiro, no atuante Museu do Folclore Edison Carneiro, e desde então fornece suas peças para venda na loja desse museu e para muitos outros lugares. Depois disso, fez exposição em vários aeroportos do Brasil, cruzando o oceano para uma exposição em Paris. Na ocasião levou brinquedos – alguns grandes, como uma cobra de duas cabeças de cerca de 2 metros – e esculturas de miriti de mesma metragem. Foi um sucesso a exposição: todas as criações foram vendidas.
Advertisement
Apesar do interesse de países da Europa pelos brinquedos de miriti brasileiros, não é possível a venda para exportação ao exterior, pois é necessária uma certificação da matéria-prima utilizada na confecção do brinquedo (o miriti), garantindo que a sua comercialização não causa danos ao desenvolvimento da palmeira da qual é extraída. Para isso, será necessário um estudo de órgãos responsáveis no setor, como Embrapa, Museu Emílio Goeldi, Universidade Federal Rural da Amazônia (Ufra). Entretanto, essa pesquisa está atualmente parada por falta de verbas que eram conseguidas pelo Centro Internacional de Pesquisas Florestais (Cifor). E esta é uma exigência do mercado internacional para proteção das árvores, embora, no caso da palmeira da qual é tirado o miriti, não seja necessário cortá-la, pois só se utiliza o cabo de sua folha. Na verdade, coletam-se as folhas maduras e a planta continua crescendo.
Valdeli aprendeu cedo a fazer brinquedos de miriti para brincar com os amigos. Morava, inclusive, numa casa de madeira com paredes de miriti. Chegou até mesmo a usar a parede de casa como matéria-prima para suas produções!
Hoje não mora mais em casa de parede de miriti, mas vive cercado por esse material. Participa da Associação Arte Miriti de Abaetetuba (Miritong), que agrega jovens de baixa renda que aprendem a trabalhar com o miriti para gerar renda para a família, ao mesmo tempo em que preservam a cultura. Gosta de lembrar que o brinquedo de miriti é biodegradável e não agride o meio ambiente; ao contrário, contribui para melhorar a terra onde ele apodrecer. E que adquirindo um brinquedo totalmente feito à mão, diferente daquele de plástico, feito por máquina, ajuda-se a gerar renda para famílias que precisam.
Possibilidades lúdicas e educativas
Valdeli sempre buscou materiais de seu entorno para fazer seus brinquedos: madeira, raízes, braço de palmeira, encontrando no meio a riqueza para sua criação. Tal experiência de reconhecer no entorno matérias-primas em abundância para a confecção de brinquedos pode servir de exemplo para que as crianças façam um levantamento na escola quanto ao que o meio ambiente lhes oferece para construção deles. Podem, por exemplo, fazer uma lista de A a Z das sucatas que possam inspirar suas criações e mesmo elementos da natureza que possam virar brinquedos… Mãos à obra para tratar de transformar matéria-prima em matéria-lúdica!
Eu penso assim: criança gosta de movimento – numa peça parada ela se distrai; já o movimento a deixa abismada, quer voltar a encontrar o brinquedo.
José cícero da silva (mestre zezinho)
O desejo de “voltar a encontrar o brinquedo” tão bem colocado pelo artesão Mestre Zezinho cai como uma luva ao escolhermos brinquedos para fazer parte do acervo escolar. É preciso antes de tudo que a criança tenha o desejo de revisitar a brincadeira, encontrar-se novamente em intimidade com o lúdico.
Os brinquedos-engenhocas que envolvem movimento são convites certeiros à curiosidade infantil em apropriar-se de seus mecanismos para produzir seus próprios brinquedos. Nesse sentido, a parceria da escola com artesãos locais é sempre bem-vinda para que o encontro entre crianças experientes na brincadeira e artesãos experientes no fazer possam trocar de papéis. Vamos ensinar para brincar e aprender para brincar!