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instituição
eixo 2
Campo de Trabalho 8 de setembro de 2020
Mediadores: Cintia Masil e Juan Gonçalves Relatoria crítica: Erica Malunguinho
contrato
Tecituras proletárias ou ensaios para Revolta do Sensível Na terça feira do dia 08/09/2020, aconteceu um encontro atípico no universo das artes e da cultura. Nomeei livremente de Tecituras proletárias, ou ensaios para Revolta do Sensível. Não recordo de debate desta natureza no território da cultura institucionalizada. Numa sala virtual com 61 participantes, pudemos ouvir Cintia Masil e Juan Soares explanando o universo da mediação cultural a partir do trabalho realizado pelos profissionais da área e os impasses junto as instituições culturais e as complexas — e na maioria da vezes, precárias — relações empregatícias. É sabido pela lógica que move o sistema, que as relações de poder se organizam de forma mais ou menos iguais. Empurrando para a linha da exploração todes aqueles que a ideologia acumulativa predatória considera aproveitáveis — máximo trabalho pelo mínimo investimento (garantias, direitos) —, é daí que emerge o tão falado, mas nada conhecido por trabalhadores, lucro. Esse desenho se desenvolve de maneira orquestrada e estratificada, eis que está o mapa da nossa reflexão. Essa estratificação fez com que inúmeros atores da classe trabalhadora se vissem como tal, esses atores no estereótipo são profissionais braçais, na maioria das vezes ligades ao que conhecemos como sub emprego. Essa é uma base para uma consciência de classe. O que muita gente não contava era que o efeito cascata de uma lógica predatória fosse avançando cada vez mais e abocanhando outro atores. Cabe dizer que o sistema é sofisticado e se atualiza. Não contávamos com a dita “mão de obra qualificada” com ensino superior e pasmemos ligades a um lugar considerado nobre no imaginário social, das artes. Esses mesmos, agora teriam que se movimentar em torno daquilo que parecia distante, pois a universidade e a circulação cultural deveria/ poderia nos garantir algo melhor. No entanto, eis que estamos a mobilizar para essa conscientização, e este encontro vislumbrou isso, uma quem sabe consciência de classe artística. Digo, dos trabalhadores da cultura, trabalhadores da arte, proletários da subjetividade. Este registro faz parte da relatoria crítica do dia Oito de Setembro de Dois Mil e Vinte, desta que vos fala, Erica Malunguinho, para o projeto Sala Zero de Mediação, sobre o tema “Campo de Trabalho” com as falas de Cintia Masil e Juan Gonçalves.
Cabe frisar que “classe” é um elemento norteador, mas que dentro das estruturas sociais é fundamental interseccionalizar para observar como os fundamentos de raça e gênero são determinantes nesta discussão. Vale ressaltar a inserção de pessoas pretas e indígenas nos cursos universitários, graças às lutas históricas destes povos que foram responsáveis pela política de cotas. Este pode ser um elemento que localiza a constante precarização de determinadas atividades intelectuais/profissionais. Somemos a isso o lugar que a arte e a cultura ocuparam na última década no país. Das inúmeras tentativas e, por fim, dissolução do Ministério da Cultura, são elementos importante nesta discussão. Ao mesmo tempo que isso nos revela o retrocesso de pactos sociais, por outro lado pode nos aliançar ao lugar de onde sempre devemos estar: no horizonte. Olhando e vivendo o mundo como ele é. Afinal das contas, o que seria da arte se não se implicasse com as questões do seu tempo?
Desta vez é conosco, mas sempre foi e já é, e infelizmente continuará sendo com os que denominaram “outres”. É sobre os direitos trabalhistas das domésticas, por exemplo. O que quero dizer com isso? Que a consciência de classe deve ser coletiva e racializada. Pactos ou acordos coletivos
Ao darmos sentido, lugar e imagem a um conjunto de reivindicações, assumimos um pacto pós origem. Será esse o norteador dos próximos passos. O que quero dizer com pacto pós origem? É a ciência de nesta seara profissional haver inúmeras origens étnicas, regionais, de gênero, sexualidade, formativas, etc. E, que todas elas se afunilam, mas não igualam as necessidades e singularidades de cada sujeite nesta disputa política. Isso é evidente também porque o acesso e as relações de poder dentro dos espaços institucionais alocam cada qual num campo de negociação diferentes. Considero este pacto essencial para que não anestesiemos nunca a urgência alheia, mesmo quando estivermos em posição favorável.
E a Arte, cadê? O movimento que foi aqui decidido e criado, assim sendo no sentido da arte que nos move, é uma performance, é uma ação, uma arte ativista. Já que chegamos a camadas de subjetividades tão altas no que diz respeito ao conceito e elaboração artística, não seria compatível se não abstraíssemos como exercício do sentido, da estética que é forma e conteúdo, da ética que anda junta, do conhecimento sensível que é a matéria básica da estética, um movimento político organizado e reivindicante de direitos, luta por sobrevivência, permanência, existência. Na prática quer dizer Pagar as contas, sabe? Do nosso lado é isso. Do outro lado seguem as instituições que se aproveitam de uma legislação frouxa e conivente, melhor, inexistente. Que as salvaguardam de qualquer revolta dos pincéis, das câmeras, do corpo, já pensaram? A mais contemporânea das revoltas: Revolta dos pincéis
Revolta das câmeras
Revolta do olhar
Revolta Sinestésica
Revolta do sensível
Revolta do corpo
Revolta cênica Há ainda, um furtivo interesse desta ou daquela instituição em se apresentar como apoiadora da cultura. É bom pra imagem, é bom pro imposto de renda. São relações turvas de negociações quase sacras, de modo que não há participação e colaboração destes artistas que somos, pois neste roteiro, somos a mão de obra. Na linha sucessória do grande peixe das artes, seriamos a isca chão de fábrica em línguas proletariais A função é nobre, o trabalho é precioso, mas o valor dado a ele não Este registro faz parte da relatoria crítica do dia Oito de Setembro de Dois Mil e Vinte, desta que vos fala, Erica Malunguinho, para o projeto Sala Zero de Mediação, sobre o tema “Campo de Trabalho” com as falas de Cintia Masil e Juan Gonçalves.
Questões para ontem, hoje e amanhã Qual sua valia? Qual a valia da arte? Qual a valia da educação? Do trabalho em arte e educação? A política institucional, o que tem a ver com isso? Como ruir por dentro? Com quem contamos? Quem tá junte quem não tá? Quem é o pelego-fura greve? Quem somos na fila da carteira de trabalho? !Eis a minha resposta! Está tudo no mesmo mocó. Tudo diz respeito a tudo. É um organismo que deve ser visto como tal. A filosofia ocidental capitalista cuidou de fragmentar o pensamento em gavetas, individualizando o senso. Não é sobre ser indivíduo é sobre ser individualista. Em outras ciências como africana, por exemplo, o Ubuntu em síntese diz: Eu sou porque nós somos. Isso é sobre indivíduos referidos e apoiades do todo. Para mim, sem fim esta é a valia da vida. Este é o sentido dos dispositivos de funcionamento da sociedade, seja arte, seja educação, seja construção civil. Os livros de história da arte por vezes não descrevem a história tão bem quanto deveriam. Pois se assim o fizessem, nossa consciência de classe do sensível, categoria trabalhista, já estaria em curso. Falo dos artistas, mas também de todo ciclo produtivo das artes, a mediação faz parte disso. Do grande negócio que historicamente se tornou o mercado das artes, apresentando exposições de renome econômico, midiático e de público. Além de evidenciar o que tragicamente víamos, também vemos um outro futuro: dos robôs mediadores. Significa que assim como outras profissões ficaremos obsoletes no decorrer da história? A mediação, este ato generoso e absolutamente artístico metalinguístico, estaria fadada a desumanização? Não! Relações em torno do sensível não tem a humanidade negociada! Tem algo que é categoria Tem algo que é filosofia Como vocês querem se ver como categoria? Facilitador? Mediador? Arte educador? A filosofia tensiona as coisas. O ser filosófico que navegamos neste fazer são atmosferas de um novo saber, de um conhecimento vivo com C maiúsculo. Pode ser esta a fonte para categorização no cadastro do enquadramento funcional. Sobre o medo: Viver é perigoso.
Encaminhadamente + Decidir sobre como devem ser categorizades, qual nome será aplicado + + Levar essa decisão junto a quem pode efetivar essa demanda, via Projeto de Lei ou Decreto legislativo, precisa averiguar qual o recurso pertinente + + Garantir uma rede de proteção e escuta das violações trabalhistas + + Construir um sindicato? Uma Associação? Qual característica organizativa possível para estabelecer parâmetros e apoiar trabalhadores e de forma expandida? De modo a se tornar tão essencial que inclusive as instituições terão que responder. Para qualquer das formas de organização haverá de ter um estatuto com regras mínimas de contratação e bem estar + + Busca ativa para construir alianças + + Que tal um censo?
Conselhos de Stuart Hall
Kingston, 3 de fevereiro de 1932 — Londres, 10 de fevereiro de 2014
Rupturas significativas, Da Diáspora, 2008 O que importam são as rupturas significativas – em que velhas correntes de pensamento são rompidas, velhas constelações deslocadas, e elementos novos e velhos são reagrupados ao redor de uma nova gama de premissas e temas. Mudanças em uma problemática transformam significativamente a natureza das questões propostas, as formas como são propostas e a maneira como podem ser adequadamente respondidas. Tais mudanças de perspectiva refletem não só os resultados do próprio trabalho intelectual, mas também a maneira como os desenvolvimentos e as verdadeiras transformações históricas são apropriados no pensamento e fornecem ao Pensamento, não sua garantia de “correção”, mas suas orientações fundamentais, suas condições de existência. É por causa dessa articulação complexa entre pensamento e realidade histórica, refletida nas categorias sociais do pensamento e na contínua dialética entre “poder” e “conhecimento”, que tais rupturas são dignas de registro.
Este registro faz parte da relatoria crítica do dia Oito de Setembro de Dois Mil e Vinte, desta que vos fala, Erica Malunguinho, para o projeto Sala Zero de Mediação, sobre o tema “Campo de Trabalho” com as falas de Cintia Masil e Juan Gonçalves.
Sobre os Estudos Culturais, Da Diáspora, 2008 Apesar do projeto dos estudos culturais se caracterizar pela abertura, não se pode reduzir a um pluralismo simplista. Sim, recusa-se a ser uma grande narrativa ou um meta-discurso de qualquer espécie. Sim, consiste num projeto aberto ao desconhecido, ao que não se consegue ainda nomear. Todavia, demonstra vontade em conectar-se; tem interesse em suas escolhas. É importante chegar-se a uma definição de estudos culturais. Não podem consistir apenas em qualquer reivindicação que marcha sob uma bandeira particular. É uma iniciativa ou projeto sério, o que se inscreve no aspecto “político” dos estudos culturais. [...] Registra-se aqui uma tensão entre a recusa de se fechar o campo, de policiá-lo, ao mesmo tempo, uma determinação de se definirem posicionamentos a favor de certos interesses e de defendê-los. *Este excerto me traz a reflexão da conceituação do mediador, facilitador, arte educador... dos papéis e escolhas políticas que podem acomodar este campo, natureza, categoria.
Erica Malunguinho
Cintia Masil é mestra em Artes pelo Programa de Pós-Graduação do Instituto de Artes da UNESP (2017) e bacharela em Artes Visuais pelo Centro Universitário Belas Artes de São Paulo (2010). Iniciou sua atuação na educação não-formal em 1999 e desde 2008 se dedica a área de mediação cultural, desenvolvendo trabalhos para diversos equipamentos culturais, como Instituto Itaú Cultural, Pinacoteca, MAB-FAAP, Sesc São Paulo. Atualmente ministra aulas, oficinas e vivências voltadas ao fazer artístico e à formação crítica; coordena equipes educativas; desenvolve projetos e materiais educativos. Como pesquisadora investiga a relação entre educação e trabalho a partir da intersecção raça, classe e gênero; os impactos do neoliberalismo na educação, arte e cultura; relações e condições de trabalho do/a educador/a. Juan Gonçalves é artista-mediador, educador e produtor cultural. Graduado em Artes Plásticas (UFES, 2018) com a pesquisa Sou artista enquanto mediador? Sou mediador enquanto artista?: A mediação como prática artística em Vitória (ES). Desde 2014 participa de projetos, experiências artísticas e educativas que aproximam entre arte, mediação cultural e educação em esferas institucionais e extrainstitucionais. Atualmente, investiga as formações de base e os modos de organização dos/as trabalhadores/as e das instituições como um meio possível para consciência de classe. Já participou de projetos educativos no Museu de Arte do Espírito Santo (2014-16), no Centro Cultural SESC Glória (2016-17), no Museu Capixaba do Negro (2018) e, mais recentemente, como supervisor de projeto pedagógico no Sesc Vila Mariana e educador no Sesc Pompeia (2019-20). Atualmente, é um dos integrantes do mov.er - Movimento Educadores em Resistência. Erica Malunguinho é educadora e agitadora cultural. Mestra em Estética e História da Arte. Tornou-se a primeira deputada estadual trans eleita no Brasil em 2018 no estado de São Paulo pelo PSOL. É titular da Comissão de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana, da Cidadania, da Participação e das Questões Sociais da Assembleia Legislativa do estado. Nascida no estado de Pernambuco, vive em São Paulo há 17 anos. Antes de entrar na política institucional, trabalhou na educação de crianças e adolescentes, com ampla atuação na formação de professores. Erica é conhecida por ter parido, na região central da cidade de São Paulo, um quilombo urbano de nome Aparelha Luzia, território de circulação de artes, culturas e políticas pretas, visível também como instalação estético-política, zona de afetividade e bioma das inteligências negras. Este registro faz parte da relatoria crítica do dia Oito de Setembro de Dois Mil e Vinte, desta que vos fala, Erica Malunguinho, para o projeto Sala Zero de Mediação, sobre o tema “Campo de Trabalho” com as falas de Cintia Masil e Juan Gonçalves.
Sala Zero de Mediação Proposta e curadoria Bruno Makia, Caio Oliveira, Jucelia da Silva, Juliana Biscalquin, Paula Garrefa e Raylander Mártis Acompanhamento horizontal Graziela Kunsch Equipe Sesc Santana André Martins, Caroline Freitas, Guilherme Guimarães, Jacqueline de Oliveria Souza, Leonardo Borges, Natália Martins, Ricardo Ribeiro, Sidnei Martins, Suellen Barbosa, Wendell Vieira.
Sesc Santana Av. Luiz Dumont Villares, 579 São Paulo – SP Tel.: +55 11 2971-8700 /sescsantana sescsp.org.br/santana