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O exercício do jogO
O jogo está presente na sociedade
A exposição 120 x 115: O ouro
e no cotidiano das pessoas desde as
em Indianápolis coloca em des-
brincadeiras nas lúdicas relações da
taque a partida final – entre Brasil
infância até a idade adulta. Como
e Estados Unidos – do torneio de
parte das experimentações e partilhas
basquete masculino dos Jogos
sociais, ele proporciona o aprendizado
Pan-Americanos de Indianápolis,
de regras e estratégias a serem apli-
ocorrido em 1987, cujas jogadas sur-
cadas em uma situação de interação
preendentes levaram a uma signifi-
entre equipes, marcada por um tempo
cativa e emblemática vitória da equi-
e espaço determinados.
pe menos prestigiada, reavivando as possibilidades, mesmo que ínfimas,
A interação social propiciada pelas
que os jogos têm de recriar cenários
competições esportivas, amadoras ou
e configurações.
profissionais, e o desenvolvimento corporal alcançado na prática de ativida-
Para o Sesc, a percepção crítica
des físicas favorecem tanto a saúde in-
acerca dos eventuais e imprevisíveis
tegral dos praticantes como estimulam
acontecimentos que permeiam as
a sociabilidade e o desenvolvimento
sendas do cotidiano se fortalece a
da autonomia, em um processo edu-
partir dos conhecimentos consti-
cativo de ampliação das capacidades
tuídos pelas diversas experiências
motoras e cognitivas dos envolvidos.
culturais e esportivas vivenciadas em sociedade, momentos esses em que
Nos esportes competitivos, a prepara-
se evidenciam as diferentes possibi-
ção das equipes para o melhor rendi-
lidades do exercício da criatividade
mento durante a disputa nem sempre
humana e de reafirmação de víncu-
resulta em êxito, pois o desempenho
los sociais e afetivos.
ao longo da partida é influenciado por múltiplos fatores, internos e externos
Sesc São Paulo
às quadras e aos seus jogadores. A competição entre times com trajetórias díspares, com históricos diferentes de conquistas, leva a se presumir antecipadamente o vencedor. Contudo, 1
isso nem sempre ocorre.
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120 x 115
o ouro em indianรกpolis
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A 30 segundos do final, o americano
aqueles gigantes pareciam crianças.
Dembo errou o arremesso e, depois
Crianças felizes por realizarem um
de um bate-rebate, a bola sobrou
sonho. O time de basquete mascu-
para Oscar. O brasileiro conseguiu
lino do Brasil conquistava a medalha
escapar da forte marcação e passou
de ouro no Pan-Americano de 1987.
para Israel, do outro lado da quadra, que a entregou a Marcel. O camisa
Para celebrar os 30 anos de uma das
11 marcou aquela que seria a última
mais importantes vitórias do esporte
cesta do Brasil e nem voltou mais para
nacional, o Sesc Consolação recon-
a defesa. Os brasileiros que estavam
ta os bastidores desse jogo. Os 40
em quadra naquele momento – Oscar,
minutos que transformaram doze
Marcel, Guerrinha, Israel e Gérson –
atletas em heróis. Uma mistura de
iniciaram a comemoração. Reservas e
talento, técnica, garra e capacidade
comissão técnica invadiram a área de
de superação (o Brasil chegou a ficar
jogo. Era tanta emoção que nenhum
20 pontos atrás no placar!).
deles lembra de ter visto Ellison fazer a cesta que deu números finais à
O dia em que o Brasil foi a primeira
partida – apenas a segunda de 3 pon-
Seleção a derrotar os Estados Unidos
tos em onze tentativas dos Estados
dentro de casa em jogos oficiais. O
Unidos. A bola que estava nas mãos
dia em que o Brasil liquidou com
de Guerrinha para a saída foi arranca-
uma invencibilidade de 34 jogos do
da pelo árbitro tcheco. Fim de jogo!
rival em Jogos Pan-Americanos. O dia em que o basquete masculino do
A partir daí cada jogador comemo-
Brasil venceu finalmente os america-
rou à sua maneira. Diziam palavrões,
nos em uma partida no Pan, depois
pulavam, dançavam, rolavam no chão
de dez derrotas seguidas.
e choravam. Oscar, cestinha do torneio, com 246 pontos, antecipou a
Eu, um repórter iniciante de 22 anos,
própria entrega da medalha. Pegou a
estava lá. Era minha primeira cober-
rede de uma das cestas e a colocou
tura de um evento internacional.
ao redor do pescoço. Marcel gritava
Difícil imaginar que estávamos en-
“Ganhamos!” quando foi abraçado
trando para a história.
pelo irmão Maury, em imagem que estamparia no dia seguinte a capa
Uma data para nunca esquecer: 23
do prestigiado jornal The New York
de agosto de 1987. O dia do “120 x
Times. Diante da incredulidade de
115 – O ouro em Indianápolis”.
quase todos os 16.292 espectadores 3
que lotavam o Market Square Arena,
MARCELO DUARTE
em Indianápolis, nos Estados Unidos,
curador
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O caminho para o jogo histórico
As seis partidas que levaram o Brasil à grande final, contadas pelos próprios protagonistas
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PRIMEIRA FASE 10 de agosto
BRASIL 110 X URUGUAI 79 “O Uruguai era um dos nossos adversários mais tradicionais. Quase sempre ganhávamos deles” Rolando “Era uma equipe totalmente conhecida por nós, que não estava no mesmo nível físico que o nosso” Paulinho Villas Bôas
“O Uruguai foi para o Pan com um time meia-boca, destreinado” Marcel
11 de agosto
BRASIL 100 X PORTO RICO 99 “Porto Rico sempre foi uma pedra no nosso sapato. Joga no mesmo estilo dos Estados Unidos. Tem muitos jogadores dos times universitários americanos. Havia uma rivalidade muito grande entre nós e eles. Mas na maioria das vezes acabávamos vencendo” Maury “Faltavam 6 segundos para terminar o jogo. Estávamos empatados. O técnico Ary Vidal armou uma jogada para Oscar ou Marcel tentarem o chute. Acabei levando a falta e fui para o lance livre. Errei o primeiro e acertei o segundo. Ganhamos por 100 x 99” Gérson 5
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14 de agosto
BRASIL 103 X ILHAS VIRGENS 98 “Foi um jogo complicadíssimo, disputado de manhã. Eles fizeram uma marcação muito forte no Oscar, que já era um destaque da Seleção” Cadum “Sempre foi uma incógnita, uma surpresa. Você nunca sabe como eles virão” Pipoka “Tinha muitos jogadores que atuavam no basquete universitário dos Estados Unidos. Eram muito fortes na defesa” Israel “Nesse jogo, eu levei uma cotovelada no supercílio. Sangrou muito. A televisão deixou de mostrar o nosso jogo e foi transmitir vôlei. Minha família ficou desesperada” Rolando
15 de agosto
BRASIL 88 X CANADÁ 91 “O Canadá tinha um jogo burocrático, muito técnico. Não estávamos num bom dia, nosso jogo não encaixou” Paulinho Villas Bôas “Depois daquele jogo, parecia que a gente não ia ganhar mais de ninguém” oscar “Esse resultado nos classificou em terceiro lugar no grupo, o que acabou sendo bom, pois evitou que tivéssemos que enfrentar os Estados Unidos antes da final” Marcel
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QUARTAS DE FINAL 16 de agosto
BRASIL 131 X VENEZUELA 84 “Nós tínhamos perdido para a Venezuela no Campeonato SulAmericano, disputado no Paraguai, pouco antes do Pan” guerrinha “Estávamos em pânico. Fomos para essa partida com a água no pescoço” israel “Foi um bombardeio de bolas de 3 pontos” oscar “Apesar do placar elástico, não foi um jogo fácil” Gérson
SEMIFINAL 20 de agosto
BRASIL 137 X MÉXICO 116 “Foi tão difícil quanto a final. Eles jogavam como nós. A partida foi puro ataque, com muita velocidade e arremessos de três pontos o tempo todo” pipoka “Foi um dos jogos de maior placar da história do basquete” Rolando “Sentimos um alívio depois daquele jogo. O dever estava cumprido: chegamos na final” cadum “Aí caiu a ficha: enfrentar os Estados Unidos dentro dos Estados Unidos? Ninguém acreditava que seria possível vencer” Paulinho Villas Bôas 7
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Os herÓIS
Em 1987 e hoje: a trajetória dos 12 gigantes brasileiros paulinho #4 Paulo Villas Bôas de Almeida Posição ala · data e local de nascimento 26/01/1963 (24 anos à época) – São Paulo-SP clube à época Sírio (São Paulo) · Altura 1,98m · Peso 98kg · Número do pé 46 Pontos (pontos na final) 47 (7) · Minutos em quadra (minutos em quadra na final) 69 (11)
Dos 28 anos como jogador de basquete profissional, Paulinho passou 10 como ala da Seleção Brasileira. Um ano antes de estrear pela Seleção, foi campeão Sul-Americano pelo Sírio em 1983. Jogou duas Olimpíadas e dois Mundiais. Trabalha hoje na área de administração esportiva.
MAURY #5 Maury Ponikwar de Souza Posição armador · Data e local de nascimento 02/09/1962 (24 anos à época) – Campinas-SP Clube à época Monte Líbano (São Paulo) · Altura 1,90m · Peso 83kg · Número do pé 44 Pontos (pontos na final) 12 (0) · Minutos em quadra (minutos em quadra na final) 19 (0)
Maury defendeu a Seleção Brasileira entre 1981 e 1996. Dessa geração, foi o que jogou por mais tempo na Liga Nacional (1990 a 2001). Jogou duas Olimpíadas e quatro Mundiais. Atuou também no basquete italiano. Trabalha como cirurgião-dentista.
GÉRSON #6 GÉRSON Victalino Posição pivô · Data e local de nascimento 17/09/1959 (27 anos à época) – Belo Horizonte-MG Clube à época Monte Líbano (São Paulo) · Altura 2,04m · Peso 94kg · Número do pé 50 Pontos (pontos na final) 64 (12) · Minutos em quadra (minutos em quadra na final) 179 (28)
Um dos grandes nomes da final do Pan-Americano em 1987, Gérson começou em Minas Gerais, mas fez sucesso mesmo no basquete paulista. Defendeu times tradicionais, como Monte Líbano e Corinthians. Jogou na Espanha pelo TDK. É diretor esportivo do Esporte Clube Ginástico, em Belo Horizonte.
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ANDRÉ #7 André Ernesto Stoffel Posição ala · Data e local de nascimento 09/04/1960 (27 anos à época) – Jundiaí-SP Clube à época Monte Líbano (São Paulo) · Altura 2,04m · Peso 90kg · Número do pé 47 Pontos (pontos na final) 11 (0) · Minutos em quadra (minutos em quadra na final) 24 (0)
A passagem de André pela Seleção Brasileira não foi tão longa: ele jogou apenas uma Olimpíada e um Mundial. Mas tem trajetória gloriosa no basquete nacional: foi quatro vezes campeão da Taça Brasil pelo Monte Líbano, entre 1982 e 1986. Mora atualmente em Nova York e tem uma empresa de receptivos para turistas.
ROLANDO #8 Rolando Ferreira Júnior Posição pivô · Data e local de nascimento 24/05/1964 (23 anos à época) – Curitiba-PR Clube à época Houston Cougars (Estados Unidos) · Altura 2,14m · Peso 108kg · Número do pé 50 Pontos (pontos na final) 12 (0) · Minutos em quadra (minutos em quadra na final) 54 (3)
O mais novo da equipe no Pan, Rolando foi o primeiro jogador brasileiro a disputar a NBA. Ele começou no Círculo Militar (PR), mas se destacou no Sírio (SP). Logo foi para a Universidade de Houston, de onde foi “draftado” para o Portland Trail Blazers. Voltou depois de um ano e jogou pela Liga Nacional até 2000. Hoje é coordenador e professor do curso de Educação Física da Universidade Tuiuti, em Curitiba.
CADUM #9 Ricardo Cardoso Guimarães Posição armador · Data e local de nascimento 04/10/1959 (27 anos à época) – São Paulo-SP Clube à época Monte Líbano (São Paulo) · Altura 2,00m · Peso 95kg · Número do pé 47 Pontos (pontos na final) 47 (8) · Minutos em quadra (minutos em quadra na final) 92 (25)
Outro que fez parte do Monte Líbano que dominou o basquete nacional em parte dos anos 1980. Foi três vezes campeão paulista e cinco da Taça Brasil. Atua hoje como comentarista e é dono de uma agência de turismo em São José dos Campos (SP).
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GUERRINHA #10 Jorge Guerra Posição armador · Data e local de nascimento 21/06/1959 (28 anos à época) – Franca-SP Clube à época Francana (Franca-SP) · Altura 1,86m · Peso 78kg · Número do pé 43 Pontos (pontos na final) 53 (2) · Minutos em quadra (minutos em quadra na final) 168 (15)
Da geração medalha de ouro em Indianápolis, Guerrinha é o mais ativo no basquete até hoje: depois da aposentadoria, ele se tornou treinador e chegou a ser assistente da Seleção principal e técnico da Seleção Sub-21. É o atual comandante do time do Mogi das Cruzes.
MARCEL #11 Marcel Ramon Ponikwar de Souza Posição ala · Data e local de nascimento 4/12/1956 (30 anos à época) – Campinas-SP Clube à época Alno Fabriano Basquetebol (Itália) · Altura 1,99m · Peso 95kg · Número do pé 46 Pontos (pontos na final) 185 (31) · Minutos em quadra (minutos em quadra na final) 218 (32)
O mais velho jogador da Seleção do Pan já tinha sido campeão mundial Interclubes pelo Sírio em 1979. Começou no Corinthians em 1968. Jogou seis temporadas na Itália e teve algumas experiências como treinador de times no Brasil. É formado em Medicina e atua na área de Radiologia.
PIPOKA #12 João José Vianna Posição pivô · Data e local de nascimento 15/11/1963 (23 anos à época) – Brasília-DF Clube à época Monte Líbano (São Paulo) · Altura 2,04m · Peso 98kg · Número do pé 48 Pontos (pontos na final) 25 (2) · Minutos em quadra (minutos em quadra na final) 75 (11)
Pipoka jogou em Porto Rico em 1991. Seu desempenho no Goodwill Games, em Seattle, nos Estados Unidos, foi a porta de entrada para a NBA, onde defendeu o Dallas Mavericks por um ano. Jogou até 2007 como atleta profissional. É professor universitário do curso de Educação Física em Brasília.
SÍLVIO #13 Sílvio Malvezi Posição pivô · Data e local de nascimento 17/03/1960 (27 anos à época) – São Paulo-SP Clube à época Pirelli (São Paulo) · Altura 2,07m · Peso 98kg · Número do pé 47 Pontos (pontos na final) 6 (0) · Minutos em quadra (minutos em quadra na final) 15 (0)
Sílvio entrou muito pouco em quadra na campanha do ouro brasileiro em Indianápolis. Foram 15 minutos no total. Não jogou a final. Este Pan foi seu último torneio pela Seleção. Foi campeão da Taça Brasil por Franca (1980 e 1981) e Sírio (1983). Hoje trabalha numa multinacional que certifica sistemas de qualidade.
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OSCAR #14 Oscar Daniel Bezerra Schmidt Posição ala · Data e local de nascimento 16/2/1958 (29 anos à época) – Natal-RN Clube à época Juvecaserta (Itália) · Altura 2,05m · Peso 107kg · Número do pé 49 Pontos (pontos na final) 246 (46) · Minutos em quadra (minutos em quadra na final) 244 (38)
É o maior cestinha da história do basquete mundial, com quase 50 mil pontos. Em 1984, recusou a oportunidade de jogar na NBA pelo New Jersey Nets (hoje Brooklyn Nets) para permanecer amador e poder jogar pela Seleção Brasileira. Em 2013, entrou para o Hall da Fama do Basquete e foi homenageado pelo Brooklyn Nets. A principal ocupação de Oscar hoje é de palestrante.
ISRAEL #15 Israel Machado Campelo Andrade Posição pivô · Data e local de nascimento 17/01/1960 (27 anos à época) – Salvador-BA Clube à época Alno Fabriano Basquetebol (Itália) · Altura 2,06m · Peso 110kg · Tamanho do pé 50 Pontos (pontos na final) 81 (12) · Minutos em quadra (minutos em quadra na final) 233 (37)
Israel fez parte da equipe campeã mundial juvenil em Salvador no ano de 1979. Disputou três Olimpíadas e três Mundiais. Atuou por três equipes italianas. Também fez parte do grande time do Monte Líbano, sendo quatro vezes campeão da Taça Brasil. Hoje continua jogando por equipes masters.
ARY VIDAL Ary Ventura Vidal (1935-2013) TREINADOR · Foi jogador de basquete de 1948 a 1961, ano em que iniciou também a carreira de treinador. Treinou
as seleções feminina e masculina de basquete. Trabalhou também na Arábia Saudita e no Peru. Foi o treinador da Seleção masculina nos Jogos Olímpicos de 1988 e 1996. Escreveu as memórias deste Pan no livro Basquetebol para Vencedores (Editora Rigel, 1991). Morreu em 28 de janeiro de 2013, aos 77 anos.
JOSÉ MEDALHA (1944-) assistente técnico · Começou a treinar profissionalmente em 1967. Foi assistente técnico da Seleção entre 1984
e 1987 e posteriormente treinador, entre 1991 e 1992, treinando a equipe no Pan-Americano de Havana e nos Jogos Olímpicos de Barcelona (em ambos, 5º colocado). É coordenador do curso de Educação Física e Esportes da Unaerp, do Guarujá-SP, e diretor-presidente de uma empresa de consultoria e eventos esportivos.
COMISSÃO TÉCNICA Waldir Barbanti preparador físico · Dr. João Paulo de Rossi médico no PAN Francisco da Silva (“Seu” Chico) roupeiro · José Cláudio dos Reis chefe da delegação · Victor Garcia administrador · Dr. César de Oliveira médico no Brasil
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Nas comemorações dos 20 anos da conquista, os jogadores ganharam um pôster com as caricaturas da equipe, criada pelo cartunista Adolar. Os 10 campeões que estiveram na festa numa cantina, em São Paulo, autografaram os pôsteres. André e Paulinho Villas Bôas foram os únicos ausentes. www.adolar.com.br
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ouro, suor e lágrimas
A virada histórica, comandada por Oscar e Marcel, pode ser contada em cincos atos De bravura e superação
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A preleção Impossível. Era assim que uma vi-
Ary aproveitou a derrota para fa-
tória do Brasil sobre os Estados Uni-
lar em vingança pelas meninas.
dos era tratada naquela tarde de do-
E soltou uma frase que entraria
mingo, 23 de agosto de 1987. Acostumada a chegar pelo menos duas horas antes do início das partidas, a Seleção Brasileira mudou de tática para a final contra os Estados Unidos. Por determinação do treinador Ary Vidal, a equipe atrasou a chegada em uma hora. Marcel lembra que todos vieram em silêncio no ônibus, o que não era normal. A ideia era que os
para a história: “Jueguen, no más” (Joguem, apenas isso). “Foi o dia mais importante da minha vida e eu só ouvi isso. Nós achamos aquilo engraçado”, lembra Oscar. Cadum diz que os jogadores estavam mesmo esperando “palavras mágicas”, que não vieram: “Entrem lá na quadra e joguem. Como assim?!? Foi a coisa mais simples do mundo”.
jogadores não se envolvessem com o clima da decisão da medalha de ouro do basquete feminino, também entre Estados Unidos e Brasil, que acontecia naquele momento. Os Estados Unidos venceram o time de Paula e Hortência por 111 x 87. Prenúncio do que viria depois com o masculino?
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1º tempo Placar previsível “O Brasil entrou em quadra para não
mais sustentar uma diferença menor.
perder de 50”, revela Oscar. “A expec-
A vantagem americana foi progre-
tativa era de que perderíamos feio”,
dindo para 6, 8, 9, 12, 14 e chegou
completa Marcel. A partida começou
a 20 pontos. “Foi um show de horro-
dentro do que estava previsto. Desde
res”, afirma Marcel. No último lance,
o início, o Brasil se mostrou inferior em
ele acertou uma cesta de 3 pontos
quadra. Os americanos encontraram
e diminuiu a diferença de 17 para
espaço livre na defesa e só não abriram
14 pontos. O auxiliar técnico José
vantagem ainda maior porque erraram
Medalha apertou o braço do treina-
muitos lances fáceis. O Brasil encon-
dor Ary Vidal nesse momento e ficou
trou uma forte marcação no ataque e
com a sensação de que seria possível
desperdiçou muitas jogadas. Depois
virar: “Temos que animar o time”.
de sair perdendo de 6 x 0, o Brasil diminuiu para 6 x 4, mas depois levou mais 6 pontos, e então não conseguiu
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Intervalo O champanhe Animação era tudo o que o time pre-
a volta ao segundo tempo: “Saímos
cisava. Os jogadores foram para o
do vestiário assim: vamos jogar e
vestiário em silêncio. “Parecia que
nos divertir. Não vamos ganhar, mes-
alguém tinha morrido”, conta Oscar.
mo... Temos que terminar o jogo da
Conversaram sobre como evitar uma
melhor forma possível”. Oscar deu
diferença de pontos muito maior. Mas,
um grito de incentivo para os com-
na hora de voltar para a quadra, alguns
panheiros e o time voltou correndo
jogadores juram que viram no corredor
para o segundo tempo.
um carrinho com garrafas de champanhe entrando no vestiário dos americanos. Eles já estariam preparando a comemoração, o que teria mexido com os brios dos nossos atletas. Cadum lembra que isso mudou o espírito para
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2º tempo A virada O segundo tempo começou no mes-
parafuso”, vibra Pipoka. “Nós senti-
mo ritmo da etapa inicial, mas logo o
mos no semblante que eles estavam
Brasil se colocou em quadra com ou-
assustados com a nossa atuação e
tra atitude. Com uma marcação mais
que não íamos mais perder aquele
forte, que dificultou os ataques dos
jogo”, completa Gérson. Com cin-
Estados Unidos, e maior precisão nos
co pontos em sequência de Marcel,
arremessos, o Brasil levou 3 minutos e
os brasileiros conseguiram tomar a
40 segundos para reduzir a diferença
ponta em definitivo. Amparados por
de 16 para 10 pontos. Oscar voltou
grande atuação de Gérson no setor
diferente: suas bolas de 3 começaram
defensivo, os comandados de Ary
a cair. “Nunca vi uma mão tão cali-
Vidal bloquearam o ataque local e o
brada”, afirma Sílvio, que estava na
Brasil venceu por 120 x 115.
reserva. Com a marcação mais forte, foram os americanos que passaram a exagerar (e errar) nos chutes de 3. “Quando nossas bolas começaram a entrar, os americanos entraram em
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A comemoração Os primeiros momentos depois do
O pódio demorou uma eternidade.
estouro do cronômetro foram de
Não havia o Hino brasileiro no giná-
incredulidade para ambos os lados.
sio. Os organizadores tiveram que
Enquanto os norte-americanos, sen-
mandar buscar no estádio de futebol
tados no banco de reservas, olhavam
vizinho. Na hora da premiação, os
para o nada, os brasileiros corriam sem
brasileiros entraram fazendo o sinal
direção na quadra. Oscar, o mais feliz,
de “número 1”. O som falhou – e o
deitou, chorando, no centro da Market
hino foi interrompido no momento
Square Arena. Impaciente demais para
do “conseguimos conquistar com
esperar a medalha, o craque arrancou
braço forte”. Os jogadores e os pou-
a rede da cesta e a pendurou no pes-
cos torcedores brasileiros continua-
coço, como se já fosse ela o ouro que
ram cantando. Alguma coisa poderia
receberia alguns minutos depois. Pela
estragar aquela festa?
primeira vez naquela edição dos Jogos
Impossível!
Pan-Americanos, o Brasil jogou com os quase 17.000 lugares da Market Square Arena ocupados – nas rodadas iniciais, o público variou entre 2.000 e 4.000 torcedores. José Medalha providenciou uma garrafa de champanhe para a comemoração.
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O JOGO QUE MUDOU AS REGRAS DO BASQUETE
Os americanos tinham pouca familiaridade com a linha de três pontos. E Isso custou muito caro na decisão
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Embora a regra da linha de três pontos
Olímpicos de Seul, em 1988. A equi-
tenha sido criada em 1984, os Estados
pe ficou com a medalha de bronze,
Unidos só começaram a utilizá-la
após uma derrota dolorida para a
em 1986, em jogos universitários e
União Soviética na semifinal. O te-
com medidas diferentes das regras
mor de que houvesse uma perda de
internacionais.
interesse do público por causa da superioridade de um time formado por
A linha fica a uma distância de 6,25
astros da NBA resistiu apenas até
metros do centro do aro, como a
o dia 17 de abril de 1989, quando
meia-lua no futebol. Nas universida-
uma assembleia na FIBA - Federação
des americanas, a medida usada era
Internacional de Basquetebol votou
de 6 metros – e na NBA, ela fica a
a inclusão dos atletas profissionais
7,25 metros no centro e a 6,7 metros
nas competições. Por 56 a 13 votos,
nas laterais.
a medida foi aprovada já para o Campeonato Mundial de 1990.
Durante a final, os Estados Unidos fizeram onze tentativas. Acertaram
Alguns jogadores estrangeiros
apenas duas. O Brasil fez 25 tentativas
da NBA disputaram o Mundial da
e teve 10 acertos – sete delas foram de
Argentina. Os americanos, não.
Oscar. “Nós surpreendemos os ame-
Ainda com um time amador, a
ricanos porque ainda era uma regra
equipe dos Estados Unidos ficou
muito nova”, afirma o professor José
novamente em terceiro. A partir daí,
Medalha, assistente técnico da Seleção.
de olho nos Jogos Olímpicos de Barcelona, na Espanha, em 1992,
Só que a derrota inesperada para o
surgiu o Dream Team, o “time dos
Brasil em 1987 teve algo de positivo
sonhos”, como foi chamada a reu-
para os Estados Unidos: começou a
nião de astros da NBA. O Dream
despertar uma corrente a favor da in-
Team simplesmente arrasou os
clusão dos profissionais nas Seleções
adversários.
de basquete americanas. O coro dos que pediam por mudanças foi engrossado depois de uma campanha ruim dos Estados Unidos nos Jogos 21
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10 CURIOSIDADES QUE VALERAM OURO O Brasil fez quatro
Unidos, Venezuela, México,
amistosos nos Estados
Argentina e Panamá. O Brasil
Unidos antes do Pan-
passou por Venezuela nas quartas
americano. Todos foram contra
de final e México na semifinal.
um time semiprofissional de Houston, o Continental-Coors,
O armador Maury contraiu
que era bancado pela empresa
sarampo durante a
aérea Continental Airlines e pela
competição. Todo o grupo
cervejaria Coors. Os brasileiros
guardou a informação em
perderam os dois primeiros (101 x
absoluto sigilo, pois se temia que
100 e 112 x 109), mas venceram os
o comitê organizador, sabendo
outros dois (107 x 105 e 124 x 104).
disso, obrigasse a delegação a sair do torneio para permanecer
O torneio masculino do
em quarentena. Maury só jogou
basquete no Pan tinha 10
as duas primeiras partidas.
times. Eram dois grupos com cinco times e quatro avançariam para as
Na manhã da decisão,
quartas de final, onde começaria o
Marcel cortou a barba,
mata-mata. O Brasil ficou no Grupo
que deixara crescer “para
B com Uruguai, Porto Rico, Ilhas
não ficar com cara de
Virgens Americanas e Canadá –
bebê”. Era uma promessa que
venceu os três primeiros, perdeu o
fizera se o Brasil passasse à final.
último e se classificou em terceiro. No Grupo A estavam Estados
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O jogo foi disputado às
Brasil conquistou essa
15h de Indianápolis – 17h
vitória memorável, a
no horário de Brasília.
Market Square Arena, o rei do rock Elvis Presley
Terminada a decisão
fez seu último show, em 26
masculina, Maria Helena,
de junho de 1977. O ginásio
técnica da seleção de
funcionou entre 1974 e 1999.
basquete feminino, invadiu
Foi demolido em 8 de julho de
a quadra para abraçar
2001, numa implosão que durou
os jogadores – e beijar
12 segundos. Oscar ganhou de
seu sobrinho, o armador
presente um pedaço do piso
Cadum. As brasileiras haviam
da quadra. Chegou-se a dizer
perdido a decisão da medalha
que a demolição foi decidida
de ouro para as americanas
para apagar as lembranças
por 111 x 87 pouco antes.
daquela derrota. Na verdade, a cidade construiu uma arena mais
Os jogadores receberam
moderna. O local abriga agora
um prêmio de 500 dólares
um centro de distribuição de uma
pela conquista. Oscar, Marcel
empresa de máquinas e terá em
e Israel recusaram o pagamento.
breve um edifício de 28 andares.
Um ano mais tarde, a base do
Por que Oscar escolheu
ouro Pan-americano partiu
o número 14 para
para os Jogos Olímpicos de
imortalizar? “Tem uma história
Seul. Apenas Silvio e André não
curiosa aí e pouca gente me
estavam na delegação (entraram
pergunta”, responde ele. Foi num
Luiz Felipe e Paulão). O Brasil se
dia 14 [Janeiro de 1974] que ele
classificou em terceiro lugar no
começou a namorar Maria Cristina,
Grupo B, atrás de Estados Unidos e
com quem se casaria em 1981.
Espanha, e foi eliminado nas quartas de final pela União Soviética. Com vitórias sobre Porto Rico e Canadá, o Brasil terminou em quinto lugar. 23
No mesmo local em que o
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SESC - SERVIÇO SOCIAL DO COMÉRCIO Administração Regional no Estado de São Paulo Presidente do Conselho Regional
Abram Szajman Diretor do Departamento Regional
Danilo Santos de Miranda Superintendentes
Joel Naimayer Padula Comunicação Social Ivan Giannini Administração Luiz Deoclécio Massaro Galina Assessoria Técnica e de Planejamento Sérgio José Battistelli
Técnico-Social
Gerentes Desenvolvimento Físico-Esportivo Maria
Luiza Souza Dias Adjunto Ricardo de Oliveira Silva Artes Visuais e Juliana Braga de Mattos ADJUNTA Nilva Luz Artes Gráficas Hélcio Magalhães Adjunta Karina Musumeci Consolação Felipe Mancebo Adjunto Simone Avancini Tecnologia
120 x 115 O ouro em Indianápolis Equipe Sesc
Débora Santos França e Cristiane Godoy Trombini Programação Sabrina Marin, Ceres Prado de Oliveira Carvalho, Luciana Lopes Giannocoro, Alexandre Augusto Floriano dos Santos, Daniel Henrique da Silva Leite, Claudia Cássia de Campos, Fabio Henrique Miranda dos Anjos, Juliana Okuda Campaneli, Sandra Leibovici Comunicação Tayná Guimarães, Marina Magalhães, Denis Tchepelentyky, Alexandre Monteiro Babadobulos, Renan Abreu, Gerson Bocato, Lourdes Teixeira, Thais Helena Assessoria de Imprensa Marina Reis Projeto de Iluminação Edson Fernandes Machado Coordenadores Consolação Antonio Zacarias de Carvalho, Cynthia Petnys, Edna Ribeiro S.Fachetti, Elaine de Sousa, Marco Antonio da Silva Coordenação da Exposição
Marcelo Duarte Pesquisa Marcelo Duarte, Leonardo Dahi, Vanessa Sawada Projeto Vasco Caldeira, Karen Doho, Maria Fernanda Miserochi | Artifício Arquitetura e Exposições IDENTIDADE VISUAL E PROJETO GRÁFICO Alexsandro Souza | Artifício Arquitetura e Exposições Criação e Produção Audiovisual Fausto Reis Nocetti | Init Arte Visual Projeto Educativo Ativiva Curadoria e Textos Cenográfico
Fotos
capa – Arquivo CBB, pg 2 – Mark Duncan/AP Photo, pg 8-11 – arquivo CBB (imagens antigas), pg 15-16 – Sérgio Berezovsky/Abril, pg 17 – Hipólito Pereira/Agência O Globo, pg 18 – Sérgio Berezosvky/Abril, pg 19 – Arquivo CBB
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