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As fundações de um trabalho multidirecional
Estado, avenida Mercúrio e praça São Vito, no centro da capital. Poucos dias depois, abrimos as portas da Ocupação Sesc Parque Dom Pedro II para receber o público durante a Virada Cultural. Era o primeiro indício do nosso desejo profundo e urgente de conexão com a cidade. Desde então, em uma área marcada por intensa circulação de pessoas, que se constitui como entreposto comercial e entroncamento viário, nosso esforço tem sido o de criar um espaço e um tempo de respiro, que propiciem aos frequentadores desenvolvimento pessoal e reforcem os laços comunitários.
Para o Sesc, modos de fazer são tão importantes quanto aquilo que se faz. No intuito de registrar as memórias e dar visibilidade a uma experiência que consideramos bem-sucedida, o presente material reúne textos e imagens sobre as estratégias, os dilemas e as realizações do Sesc Parque Dom Pedro II no período de 2015 a 2021.
Fechar as portas para início das obras constitui um desafio quase tão grande quanto o de sua inauguração. A interrupção, mesmo que temporária, das atividades pode trazer uma estranha sensação de vazio e saudade. Esperamos, contudo, que, ao evidenciar alguns dos alicerces do trabalho institucional, esta publicação possa contribuir para manter firmes os vínculos com as pessoas até o momento de reabertura, e para além dele.
na página anterior Vista aérea, em 1º de fevereiro de 2019. Foto: Acervo Sesc onpreviouspage Aerialviewofthetemporaryunit, onFebruary1,2019. Photo:SescCollection
The foundations of multidirectional work
Danilo Santos de Miranda, Director of Sesc São Paulo
There are many ways to turn Sesc’s mission into reality, that is, to provide well-being and improve the quality of life of people, especially workers in the trade in goods, services and tourism and their families. Over more than 70 years, the institution has experimented with paths that vary according to the needs and potential of each time and place.
In some cases, institutional action is based on the territory and takes place in the circumscribed space of a cultural and sports center. In others, it is spread out and happens with the publication of books, Internet broadcasts and the collection and distribution of food that complements the meals of children, young people, adults and elderly people in situations of vulnerability.
The pandemic and social distancing policies have given greater visibility to the strategies we adopt to reach people wherever they are. Even so, we venture to say that it is mainly through the work carried out in the structures that we have come to call “operational units” that the institution is identified and socially recognized. “Sesc” has become almost synonymous with the equipment that supports its action. Many people who hear about “Sesc” imagine, before anything else, facilities with a swimming pool, sports court, restaurant, dental offices, theater, library, exhibition space, rooms for babies and children. Metonymy reveals the intensity of concentrated action and, at the same time, the impact on people’s and cities’ lives of the presence of a multipurpose center, in regions that often lack coexistence areas. However, the awareness that the most important is the socio-educational proposal, which does not depend on predetermined spaces, encouraged us to work with the concept of “temporary units”. These transitory occupations, in still rudimentary physical structures, mark the institution’s advent in a new neighborhood or city, essentially through the exposition of our basic principles: public reception, dialogue with the surroundings and activities thought out and accompanied by a network of qualified professionals. In other words, it is as if in the period prior to the inauguration of the operational unit, the foundations on which the building will later be built were being established. It is also a way for Sesc itself to get acquainted with the location, getting to know the neighborhood, its residents, workers and visitors. On May 28, 2015, we signed the document in which the City Hall of São Paulo grants Sesc, for 99 years, the 9,000 square meter land located at the confluence of Estado Avenue, Mercúrio Street and São Vito Square, in the center of capital. A few days later, we opened the doors of the Occupation Sesc Parque Dom Pedro II to receive the public during the Virada Cultural event. It was the first indication of our deep and urgent desire to connect with the city. Since then, in an
area marked by the intense movement of people, which constitutes a commercial warehouse and a road junction, our effort has been to create a space and time for leisure, which provides visitors with personal development and strengthens community ties.
For Sesc, ways of doing things are as important as what you do. To register memories and give visibility to an experience that we consider successful, this material brings together texts and images on the strategies, dilemmas and achievements of Sesc Parque Dom Pedro II from 2015 to 2021. Closing the doors to begin the works is a challenge almost as big as the one for its inauguration. Interruption, even if temporary, of activities can bring a strange feeling of emptiness and longing. We hope, however, that by highlighting some of the foundations of institutional work, this publication can help to maintain strong bonds with people until the moment of reopening, and beyond.
Várzea, parque, viadutos: a história do Parque Dom Pedro II
Vanessa Ribeiro, Historiadora
Hoje, quando se lê ou escuta uma notícia sobre o Parque Dom Pedro II, certamente a imagem que figura em nosso imaginário é associada aos meios de transporte que por lá circulam: os ônibus que partem do terminal urbano mais movimentado da capital; os trens do metrô que cruzam a estação homônima, da Linha Vermelha, ponto de maior estrangulamento de passageiros por vagão, entre as sempre movimentadas estações do Brás e da Sé; as fileiras de carros, motos, caminhões e ônibus parados no trânsito caótico dos viadutos, que se sobrepõem às copas das árvores centenárias que resistem; e mesmo os ônibus articulados que, solitários, parecem cruzar o céu através do sistema de transporte que revolucionaria o acesso às áreas centrais da cidade, o Expresso Tiradentes. Em meio a tanta fumaça, buzinas e multidões, são poucos os que se lembram de que há um parque nesse cenário de caos urbano.
Há um parque? Sim! Que já teve direito a coreto, casa de banhos, bancos e até parque de diversões, com montanha-russa, carrinhos de bate-bate e joão-minhoca. É o saudoso Parque Shanghai, ali instalado em 1945, e que além dessas atrações organizava festas com artistas ilustres como Ataulfo Alves, Grande Otelo e Adoniran Barbosa.
A região do Parque Dom Pedro II corresponde à antiga Várzea do Carmo, uma porção charcosa de terras do rio Tamanduateí, localizada entre o núcleo antigo da cidade e o bairro do Brás. Desde o final do século XVIII começaram a ser implantados projetos que visavam o saneamento e o embelezamento dessa região, em um esforço que culminaria com a construção de um parque urbano dedicado aos moradores dos bairros operários do Brás e da Mooca, em sua maioria imigrantes.
A transformação do incômodo atributo natural em um grande e encantador parque, como prescrito por um paisagista francês, pode ser apontada como a maior iniciativa tomada pelo poder público para eliminar os males causados à saúde física e moral dos habitantes do núcleo central da cidade.
As constantes cheias do rio Tamanduateí; a presença de lavadeiras que, ao pôr para quarar seus lençóis brancos na beira do rio, atraíam os olhares dos estudantes da Faculdade de Direito e de homens ilustres da capital; os banhos em pele de Adão – expressão usada para a prática de banhos nus, que gerava inúmeras reclamações nas atas da Câmara Municipal – mais a sujeira de dejetos despejados no rio eram alvos de queixas frequentes nas páginas dos jornais – e foi isso o que despertou a atenção do poder público para esse logradouro, que urgia ser saneado. O saneamento da várzea era desejado tanto do ponto de vista da saúde pública, em razão das teorias sanitárias que