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Dom Pedro II Park’s Urban Planning

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Cronologia

Cronologia

Tênis de mesa Table tennis

Recreação com tênis de mesa, em 25 de junho de 2017. Foto: Dóris Larizzatti Recreation with table tennis, on June 25, 2017. Photo: Dóris Larizzatti

Oficina Workshop

Ateliê de Linhas, em outubro de 2018. Foto: Patrícia Ribeiro Yarn whorkshop, on October 2018. Photo: Patrícia Ribeiro

Espaço de Tecnologias e Artes (ETA) Technology and Arts Space

Vista externa do ETA. Foto: Simone Avancini External view of the Space. Photo: Simone Avancini

Ginástica Multifuncional (GMF) Multifunctional gymnastics

Recreação na GMF. Foto: Vania Toffoli Recreation at Multifunctional gymnastics. Photo: Vania Toffoli

Quadras Courts

Recreação orientada nas quadras. Foto: Simone Avancini Guided recreation at courts. Photo: Simone Avancini

Parque de Habilidades Skills Park

Recreação no Parque de Habilidades, em 24 de março de 2018. Foto: Matheus José Maria Recreation at Skills Park, on March 24, 2018. Photo: Matheus José Maria

Escalada Boulder Boulder Climb

Recreação orientada em Escalada Boulder na Semana Move, em setembro de 2018. Foto: Thaís Kruse Guided recreation on Boulder climb, on Move Week, on September 2018. Photo: Thaís Kruse

Horta Vegetable garden

Montagem final da Horta, em fevereiro de 2018. Foto: Thaís Kruse Vegetable garden final assembly, on February 2018. Photo: Thaís Kruse

Central de Atendimento Customer service

Vista externa da Central de Atendimento. Foto: Wagner Pinho External view of the Customer service. Photo: Wagner Pinho

Cafeteria

Cafeteria, em novembro de 2019. Foto: Wagner Pinho Cafeteria, on November 2019. Photo: Wagner Pinho

São Paulo delgada, a impermanência e a vida: por uma arquitetura efêmera

Coletivo Leve — Zoom Urbanismo, Arquitetura e Design, Superlimão Studio, H2C Arquitetura, designers Barão di Sarno e Vanessa Espínola

AS CIDADES DELGADAS¹

A cidade de Sofrônia é composta de duas meias cidades. Na primeira, encontra-se a grande montanha-russa de ladeiras vertiginosas, o carrossel de raios formados por correntes, a roda-gigante com cabinas giratórias, o globo da morte com motociclistas de cabeça para baixo, a cúpula do circo com os trapézios amarrados no meio. A segunda meia cidade é de pedra e mármore e cimento, com o banco, as fábricas, os palácios, o matadouro, a escola e todo o resto. Uma das meias cidades é fixa, a outra é provisória e, quando termina a sua temporada, é desparafusada, desmontada e levada embora, transferida para os terrenos baldios de outra meia cidade.

Assim, todos os anos chega o dia em que os pedreiros destacam os frontões de mármore, desmoronam os muros de pedra, os pilares de cimento, desmontam o ministério, o monumento, as docas, a refinaria de petróleo, o hospital, carregam os guinchos para seguir de praça em praça o itinerário de todos os anos. Permanece a meia Sofrônia dos tiros-ao-alvo e dos carrosséis, com o grito suspenso do trenzinho da montanha-russa de

1 Neste trecho do romance As cidades invisíveis, a personagem Marco Polo descreve, para o imperador mongol Kublai Kan, as cidades do Ocidente, no fim do século XIII. [N.E.] ponta-cabeça, e começa-se a contar quantos meses, quantos dias se deverão esperar até que a caravana retorne e a vida inteira recomece. (CALVINO, 1990, p. 61)

São Paulo são muitas cidades, assentadas em mares de morros e vales, em constante mutação vertiginosa.

Urbanizado com grandes avenidas e viadutos sinuosos que aprisionam o rio e recortam o Parque, está o vale do Tamanduateí, lugar que acolhe de tudo um pouco: mercados de rua, de alimentos e de cereais; a comida e a fome; a madrugada e os invisíveis que vagueiam pelos não lugares, nos baixios e nos espaços residuais dessa urbanização. O antigo Palácio, que outrora representou as indústrias e a modernidade; os terrenos baldios e os empreendimentos sem personalidade, as antigas construções carregadas da história de muitas famílias e trabalhadores. Os edifícios históricos, a colina onde a cidade foi fundada, as crenças catequizadas, o marco zero e a Sé, a igreja universal, as descrenças. Planos e cidades inventadas, construídas e imaginadas, essas muitas cidades operam em muitos sentidos e tempos, se dividem, se sobrepõem, se somam e se subtraem.

A matéria, a memória e a imaginação coexistem. A cidade construída só se completa com a cidade imaginada, onde

Horta Vegetable garden

Montagem final da Horta, em fevereiro de 2018. Foto: Thaís Kruse Vegetable garden final assembly, on February 2018. Photo: Thaís Kruse

Central de Atendimento Customer service

Vista externa da Central de Atendimento. Foto: Wagner Pinho External view of the Customer service. Photo: Wagner Pinho

Cafeteria

Cafeteria, em novembro de 2019. Foto: Wagner Pinho Cafeteria, on November 2019. Photo: Wagner Pinho

São Paulo delgada, a impermanência e a vida: por uma arquitetura efêmera

Coletivo Leve — Zoom Urbanismo, Arquitetura e Design, Superlimão Studio, H2C Arquitetura, designers Barão di Sarno e Vanessa Espínola

AS CIDADES DELGADAS¹

A cidade de Sofrônia é composta de duas meias cidades. Na primeira, encontra-se a grande montanha-russa de ladeiras vertiginosas, o carrossel de raios formados por correntes, a roda-gigante com cabinas giratórias, o globo da morte com motociclistas de cabeça para baixo, a cúpula do circo com os trapézios amarrados no meio. A segunda meia cidade é de pedra e mármore e cimento, com o banco, as fábricas, os palácios, o matadouro, a escola e todo o resto. Uma das meias cidades é fixa, a outra é provisória e, quando termina a sua temporada, é desparafusada, desmontada e levada embora, transferida para os terrenos baldios de outra meia cidade.

Assim, todos os anos chega o dia em que os pedreiros destacam os frontões de mármore, desmoronam os muros de pedra, os pilares de cimento, desmontam o ministério, o monumento, as docas, a refinaria de petróleo, o hospital, carregam os guinchos para seguir de praça em praça o itinerário de todos os anos. Permanece a meia Sofrônia dos tiros-ao-alvo e dos carrosséis, com o grito suspenso do trenzinho da montanha-russa de

1 Neste trecho do romance As cidades invisíveis, a personagem Marco Polo descreve, para o imperador mongol Kublai Kan, as cidades do Ocidente, no fim do século XIII. [N.E.] ponta-cabeça, e começa-se a contar quantos meses, quantos dias se deverão esperar até que a caravana retorne e a vida inteira recomece. (CALVINO, 1990, p. 61)

São Paulo são muitas cidades, assentadas em mares de morros e vales, em constante mutação vertiginosa.

Urbanizado com grandes avenidas e viadutos sinuosos que aprisionam o rio e recortam o Parque, está o vale do Tamanduateí, lugar que acolhe de tudo um pouco: mercados de rua, de alimentos e de cereais; a comida e a fome; a madrugada e os invisíveis que vagueiam pelos não lugares, nos baixios e nos espaços residuais dessa urbanização. O antigo Palácio, que outrora representou as indústrias e a modernidade; os terrenos baldios e os empreendimentos sem personalidade, as antigas construções carregadas da história de muitas famílias e trabalhadores. Os edifícios históricos, a colina onde a cidade foi fundada, as crenças catequizadas, o marco zero e a Sé, a igreja universal, as descrenças. Planos e cidades inventadas, construídas e imaginadas, essas muitas cidades operam em muitos sentidos e tempos, se dividem, se sobrepõem, se somam e se subtraem.

A matéria, a memória e a imaginação coexistem. A cidade construída só se completa com a cidade imaginada, onde

1. Projeto cenográfico, entrada principal. Imagem: Coletivo Leve 2. Praça do projeto cenográfico. Imagem: Coletivo Leve 3. Projeto cenogoráfico, corte com quatro andares. Imagem: Coletivo Leve 1. Scenographic project, main entrance. Image: Coletivo Leve 2. Scenographic project, square. Image: Coletivo Leve 3. Scenographic project, cut with four floors. Image: Coletivo Leve o fixo não necessariamente se corporifica, mas sim as marcas deixadas pelo cotidiano. Pela vida.

SESC, VITALIDADE E MEMÓRIA: PROJETO-SISTEMA FLEXÍVEL NÔMADE, TRANSITÓRIO, TEMPORÁRIO

A Lua, reconhecida, deu à cidade de Lalage um privilégio mais raro: o de crescer com leveza. (CALVINO, 2002, pp. 75-76) De um terreno que abrigava diversas famílias, esse lugar em constante disputa territorial, palco da luta por moradia digna, passou a estacionar carros vazios. Nessa ilha de asfalto às margens do rio brotou a ideia de um espaço comunitário de saúde, lazer, cultura e esporte. Um imóvel móvel, preenchendo com vida o espaço estacionado.

Um projeto nômade, o da unidade temporária do Sesc, que ao fim da sua temporada fosse desmontado e levado a outro espaço vazio. Uma estrutura leve e delgada, aberta ao público e à cidade. Um percurso contínuo e acessível de apreciação dos conteúdos internos e do entorno. Projeto-sistema flexível, multifuncional e adaptável ao cotidiano e à genética do Sesc, abrigando a diversidade e a flexibilidade para o fortalecimento da cidadania. Uma arquitetura que se modifica a partir do uso. Uma experiência e um aprendizado de ativação. Elementos simbólicos da construção e transformação das cidades – os andaimes e escoras – bem como da logística – os contêineres – compõem o sistema arquitetônico desse ambiente e a cenografia de um processo.

Um passeio contínuo do entorno a um sistema de rampas funde o espaço expositivo e a cidade, permeia múltiplos usos e termina num mirante, de onde se avistam os marcos urbanos, o rio e as brutas estruturas viárias.

A estrutura permeável se mistura à paisagem local e sombreia a ilha de calor do concreto e asfalto. Bancos, mesas e plantas partem dos montantes para confortar os usuários. Na extensão do asfalto, uma pintura azul sinuosa com as espinhas de peixe, formigas e tamanduás remete às áreas alagadiças do rio e à história da sua nomeação: os tamanduás que vinham comer as formigas, que vinham comer os peixes mortos, sujeitos à variação do nível do rio.

Manilhas e aduelas – símbolos da cultura de canalização dos rios, associada ao urbanismo rodoviarista – constroem espaços de sombra e floreiras para arborização temporária. Esses elementos fazem uma alusão à “Ilha dos Amores”, que outrora esteve no Parque projetado por Bouvard. A planta baixa do Edifício São Vito remete ao ambiente habitado ao longo de décadas por famílias e suas lutas. Os espaços livres abrigam quadras, pistas de corrida ou hortas, e podem ser convertidos, transformando-se em palco para festivais, feiras e datas comemorativas. Uma grande cobertura contínua abriga esportes, ginástica, skate e atividades lúdicas que geram o intercâmbio de diferentes tribos e gerações, integrando todas estas atividades numa área comum, nos moldes da marquise do Ibirapuera. Ações de ativação para uma construção contínua e conjunta dos espaços possibilitam a construção da relação das pessoas com o projeto-flexível nômade, dando protagonismo ao usuário.

Carrinhos de mão com equipamentos permitem a ativação de diversos espaços com oficinas e atividades educativas.

Projeto-sistema flexível que dilui os limites entre público e privado.

Projeto-sistema flexível nômade, transitório, temporário, que precisa ser desmontado para, mais uma vez, dar lugar ao que é fixo. Assim, chega o dia em que as escoras e andaimes são desmontados, os contêineres e aduelas içados, toda a estrutura fretada para um novo vazio. Permanecem a experiência, a memória e a técnica. A experiência corporificada, fixa na memória.

Parte dessa história é imaginada, parte realizada e vivida. Em Sofrônia, somos levados a pensar na perenidade e efemeridade da arquitetura a partir das suas metades antagônicas. Lá, a cidade que se desloca é a cidade dos mármores, dos muros de pedra e dos pilares de cimento, colocando em um lugar mais elevado a cidade transitória, a cidade da vida cotidiana e das dinâmicas sociais, o que evidencia o atrofiamento da cidade perene e nos faz questioná-la.

Ainda em As cidades invisíveis, Marco Polo, questionado sobre a existência de suas cidades e sobre o efeito consolatório de suas fábulas diante da decadência do império, conclui:

Ao passo que mediante o seu gesto as cidades erguem muralhas perfeitas, eu recolho as cinzas das outras cidades possíveis que desaparecem para ceder-lhe o lugar e que agora não poderão ser nem reconstruídas nem recordadas. Somente conhecendo o resíduo da infelicidade que nenhuma pedra preciosa conseguirá ressarcir é que se pode computar o número de quilates que o diamante final deve conter, para não exceder o cálculo do projeto inicial. (CALVINO, 1990, p. 58)

REFERÊNCIAS CALVINO, Ítalo. 1990. As cidades invisíveis. Trad. Diogo Mainardi. São Paulo: Companhia das Letras. Ed. original: Le città invisibili, 1972. _____ . 2002. As cidades invisíveis. Trad. José Colaço Barreiros. Lisboa: Teorema. 12ª ed. Ed. original: Le città invisibili, 1972.

— Texto escrito coletivamente pelo Coletivo Leve, integrado pelos escritórios de arquitetura Zoom Urbanismo Arquitetura e Design, Superlimão Studio, H2C Arquitetura, pelos designers Barão di Sarno e Vanessa Espinola. O Coletivo Leve foi autor do projeto de cenografia para unidade temporária (provisória) do Sesc Parque Dom Pedro II (não executado) e do espaço expositivo da unidade, que funcionou durante o período de 2015 e 2021, e abrigou importantes exposições, tais como a Bienal de Arquitetura.

Slender São Paulo, impermanence and life – By an ephemeral architecture

Coletivo Leve — Zoom Urbanismo, Arquitetura e Design, Superlimão Studio, H2C Arquitetura, designers Barão di Sarno e Vanessa Espínola

THE SLENDER CITIES¹

The city of Sophronia is made up of two half cities. In the first, there is the great rollercoaster of dizzying slopes, the carousel with chain spokes, the Ferris wheel with revolving cabins, the death globe with upside-down motorcyclists, the circus dome with the trapezoids tied in the middle. The second half city is made of stone and marble and cement, with the bank, factories, palaces, slaughterhouse, school and all the rest. One of the half cities is fixed, the other is temporary, and when its season ends, it is unscrewed, dismantled and taken away, transferred to the vacant lots of another half city.

So,everyyear,thedaycomeswhenthe masons detach the marble pediments, collapse the stone walls, the cement pillars, dismantle the ministry, the monument, the docks,theoilrefinery,thehospital,carry the winches to follow each year’s itinerary fromplacetoplace.HalfSophroniaof target-shootingandcarouselsremains, with the scream suspended from the little train of the roller coaster upside down, and you start counting how many months, how many days you should wait until the caravanreturnsandthewholelifestarts over.(CALVINO,1990,p.61)

1 In this excerpt from the novel The Invisible Cities, the character Marco Polo describes, for the Mongol

Emperor Kublai Kan, the cities of the West at the end of the 13th century. [N.E.] São Paulo is many cities, located in seas of hills andvalleys,inconstantvertiginouschange.

Urbanizedwithlargeavenuesandwinding overpassesthatimprisontheriverandcut throughthePark,istheTamanduateívalley, aplacethatwelcomesalittleofeverything: street,foodandcerealmarkets;foodand hunger;thedawnandtheinvisiblesthat wanderthroughthenon-places,inthe shallows and in the residual spaces of this urbanization.TheoldPalace,whichonce represented industries and modernity; thevacantlotsandthecharacterless developments,theoldbuildingscharged withthehistoryofmanyfamiliesandworkers. The historic buildings, the hill where the city was founded, the catechized beliefs, the groundzeroandSé,theuniversalchurch,the disbeliefs.Invented,constructedandimagined plans and cities, these many cities operate in manysensesandtimes,theydivide,overlap, addandsubtract.

Matter, memory and imagination coexist. The built city is only complete with the imagined city, where the fixed is not necessarily embodied, but the marks left by everyday life. For life.

SESC, VITALITY AND MEMORY: NOMADIC, TRANSIENT, TEMPORARY FLEXIBLE PROJECT-SYSTEM

The recognized Moon gave the city of Lalage a rarer privilege: of growing lightly. (CALVINO, 2002, pp. 75-76)

From a land that housed several families, this place in constant territorial dispute, stage of the struggle for decent housing, started to park empty cars. On this asphalt island on the banks of the river, the idea of a community space for health, leisure, culture and sport emerged. A mobile property, filling the parked space with life.

A nomadic project, Sesc temporary unit, which at the end of its season would be dismantled and taken to another empty space. A light, slender structure open to the public and the city. A continuous and accessible path of appreciation of internal and surrounding contents. Flexible, multifunctional and adaptable projectsystem to Sesc’s daily life and genetics, sheltering diversity and flexibility to strengthen citizenship. An architecture that changes from use. An activation experience and learning. Symbolic construction and transformation elements of cities –scaffolding and props – as well as logistics – containers – make up the architectural system of this environment and the scenography of a process.

A continuous walk from the surroundings to a system of ramps merges the exhibition space and the city, permeates multiple uses and ends in an overlook, from where you can see the urban landmarks, the river and the rough road structures.

The permeable structure blends into the local landscape and shades the heat island of concrete and asphalt. Benches, tables and plants leave the uprights to comfort users. Along the asphalt, a sinuous blue painting with fish bones, ants and anteaters refers to the swampy areas of the river and the history of its name: the anteaters that came to eat the ants, that came to eat the dead fish, subject to variation of the river level.

Shackles and staves – symbols of the culture of channeling rivers, associated with highway urbanism – build shady spaces and flower boxes for temporary afforestation. These elements allude to the “Ilha dos Amores”, which was once in the Park designed by Bouvard. The floor plan of the São Vito Building refers to the environment inhabited for decades by families and their struggles. The open spaces house courts, running tracks or vegetable gardens, and can be converted into a stage for festivals, fairs and commemorative dates. A large continuous coverage includes sports, gymnastics, skateboarding and recreational activities that generate the exchange of different tribes and generations, integrating all these activities in a common area, similar to the Ibirapuera marquee. Activations for a continuous and joint construction of spaces make it possible to build a relationship between people and the nomadic flexibleproject, giving prominence to the user. Wheelbarrows with equipment allow the activation of different spaces with workshops and educational activities.

Flexible project-system that blurs the boundaries between public and private.

Nomadic, transitory, temporary, flexible project-system that needs to be dismantled to, once again, make room for what is fixed.

Thus, the day comes when the props and scaffolding are dismantled, the containers and staves hoisted, the entire structure chartered to a new void. Experience, memory and technique remain. Embodied experience, stick in memory.

Part of this story is imagined, part realized and lived. In Sophronia, we are led to think about the perpetuity and ephemerality of architecture from its antagonistic halves. There, the city that moves is the city of marbles, stone walls and cement pillars, placing the transitory city in a higher place, the city of everyday life and social dynamics, which highlights the stunting of the city perennial and makes us question it.

Still in The Invisible Cities, Marco Polo, when questioned about the existence of his cities and the consolatory effect of his fables in the face of the decay of the empire, concludes:

While through their gesture the cities erect perfect walls, I collect the ashes of other possible cities that have disappeared to give you their place and which now can neither be rebuilt nor remembered. Only by knowing the residue of unhappiness that no gemstone will be able to repay is it possible to compute the number of carats that the final diamond must contain, so as not to exceed the calculation of the initial design. (CALVINO, 1990, p. 58)

REFERENCES

CALVINO, Ítalo. 1990. As cidades invisíveis. Trad. Diogo Mainardi. São Paulo: Companhia das Letras. Ed. original: Le città invisibili, 1972. ______ . 2002. As cidades invisíveis. Trad. José Colaço Barreiros. Lisboa: Teorema. 12ª ed. Ed. original: Le città invisibili, 1972.

— Text written collectively by Coletivo Leve, integrated by the architecture firms Zoom Urbanismo Arquitetura e Design, Superlimão Studio, H2C Arquitetura, by designers Barão di Sarno and Vanessa Espinola. Coletivo Leve was the author of the scenography project for the temporary (provisional) unit of Sesc Parque Dom Pedro II (not executed) and of the unit’s exhibition space, which operated in 2015 and 2021, and hosted important exhibitions, such as the Biennial of Architecture.

A gestão de um espaço em transitoriedade

Simone Engbruch Avancini Silva, Gerente do Sesc Carmo e do Sesc Parque Dom Pedro II

Em minha visão, SER no mundo significa transformar e re-transformar o mundo, e não se adaptar a ele.

Como ser humano, não resta dúvida de que nossas principais responsabilidades consistem em intervir na realidade e manter nossa esperança. Paulo Freire

O DESAFIO

Ao chegar para gerenciar o Sesc Parque Dom Pedro II, em 2017, me deparei com um espaço que tinha data de validade. A concessão do terreno pela Prefeitura da Cidade de São Paulo tinha um cronograma de entrega e aprovação do projeto para início da obra da unidade definitiva, e também o compromisso de uso do espaço até que as aprovações fossem feitas.

Então, desde a assinatura da concessão do terreno, em 2015, o Sesc começou a ocupar o espaço, com ações pontuais até maio de 2017, quando foram instaladas as estruturas provisórias utilizadas até o fechamento em 2021. A esta ocupação nos referimos como unidade provisória, que é uma unidade operacional em que a equipe promove as atividades no espaço ou nas instalações disponíveis, até que sejam construídas as instalações definitivas da unidade. Desde 1998 o Sesc atua desta forma com alguns terrenos que se transformaram ou se transformarão em futuras unidades. O Sesc Parque Dom Pedro II então iniciou sua ação como uma unidade provisória, uma forma de acolher o entorno de que fará parte e ser por ele acolhido.

A GESTÃO DO ESPAÇO Gestão é a ação de gerir, conduzir os assuntos e exercer autoridade sobre uma organização, utilizando o conhecimento como mecanismo de melhora contínua. Essa melhora é centrada não na hierarquia, mas sim na capacidade de promover a inovação sistemática do saber e de sua aplicação na produção do resultado. Trata-se quase do oposto de administração, que é mandar numa estrutura hierarquizada, mecânica, sujeita a procedimentos, normas e controles, garantindo seu correto funcionamento. Desta forma, a gestão vai ao encontro da cultura, por ser uma forma de entender a ação dentro da complexidade. Isso exige uma capacidade de definir os objetivos, bem como autonomia para decisões, liberdade para soluções de problemas, criatividade na busca de alternativas, inovação e sensibilidade. É por isso que:

Gerir significa uma sensibilidade de compreensão, análise e respeito dos processos sociais em que a cultura mantém sinergias importantes.

A gestão cultural implica numa

Vista aérea da unidade provisória, em 3 de novembro de 2017. Foto: Sensoreng Aerial view of the temporary unit, on November 3, 2017. Photo: Sensoreng

Recreação no Parque de Habilidades, em 24 de março de 2018. Foto: Matheus José Maria Recreation at the Skills Park, on March 24, 2018. Photo: Matheus José Maria valoração dos intangíveis e em assumir a responsabilidade de gestão do discutível e da circulação do subjetivo, e circulando, entre a necessária avaliação dos seus resultados e da visibilidade de seus aspectos qualitativos. (MARTINELL, 2011; trad. nossa).

A gestão de um equipamento sociocultural só faz sentido se for dinâmica e efetiva, capaz de contribuir para experiências duradouras e significativas, empenhada em entender os diversos caminhos, as suas relações presentes e suas perspectivas de futuro. E se for capaz de pôr isso tudo em prática a partir dos sentidos que a realidade cultural faz para aqueles que a vivenciam por meio de uma experiência poética que “supõe experiências humanas básicas, vividas ou intuídas, delicadas e violentas, singulares e universais, que se incorporam na vida e se transformam silenciosamente em quem as vive” (WISNIK, 2005).

O grande desafio é como realizar a gestão cultural a partir dessa sensibilidade, sem cair em uma gestão que apenas oferece atividades, serviços e bens, já que, para ser efetiva, tem de propiciar experiências aos indivíduos.

Partimos, portanto, de quatro pontos: o lugar, a equipe, o público e os princípios institucionais.

O LUGAR

Um terreno cercado com gradis, uma grande praça no vértice das avenidas Mercúrio e do Estado, no centro da zona cerealista de São Paulo, entre dois grandes ícones históricos da cidade: o Palácio das Indústrias, hoje Museu Catavento, e o Mercado Municipal de São Paulo, na rua da Cantareira.

O Sesc Parque Dom Pedro II surgiu como um “lugar provisório”, um sítio onde as pessoas poderiam se encontrar para conseguir abrigo, proteção ou mesmo uma pausa, por breves que fossem. Como considera o geógrafo Edward Relph (1979), os lugares só adquirem identidade e sentido por meio das intenções humanas e da relação existente entre elas e os seus atributos objetivos, ou seja, o cenário físico e as atividades ali desenvolvidas. As Unidades Provisórias, assim como as Definitivas, são espaços multidisciplinares, que associam lazer, atividades culturais e sociabilidade, e com isso possibilitam que se construa uma relação de maior intimidade entre os indivíduos e o lugar. Este lugar provisório, marcado pela transitoriedade, ativa uma rede social que insere o Sesc como um ponto de encontro em um contexto de ações que contribuem para difundir e democratizar o acesso do público aos bens culturais.

O PÚBLICO

O funcionamento do Sesc Parque Dom Pedro II ocorria das dez às dezoito horas, de quartas-feiras a domingos, incluindo feriados. Esses dias e horários foram pensados para atender ao fluxo do entorno, com estudantes, turistas, trabalhadores, imigrantes, refugiados e moradores.

O atendimento prioritário e subsidiado é destinado aos trabalhadores do comércio, serviços e turismo, incluindo seus familiares, mas impacta toda a população, todos aqueles que frequentam a unidade e acompanham sua programação, gerando um benefício geral para a comunidade.

As pessoas em situação de rua também usufruem de nossos espaços e nossas programações. Procuramos ter o cuidado em acolhê-los na medida em que nos procuravam, sem nenhuma distinção. As regras de convívio são iguais para todos os que frequentam o espaço.

A EQUIPE

Sob o gerenciamento do Sesc Carmo, o espaço do Sesc Parque Dom Pedro II conta com uma equipe multidisciplinar

Exposição 11ª Bienal de Arquitetura: Imaginários da Cidade, em janeiro de 2018. Foto: Simone Avancini 11th Biennial of Architecture Exhibition: Imaginaries of the City, on January 2018. Photo: Simone Avancini de aproximadamente 30 funcionários, dos setores de Programação de Atividades, Comunicação, Alimentação, Infraestrutura e Serviços, comprometidos com nossa missão institucional¹.

A equipe foi formada por funcionários do quadro funcional do Sesc Carmo e de outras unidades, bem como de novos contratados. Essa mistura gera trocas de experiências e vivências, sendo a oralidade um aspecto fundamental nesse processo.

O espaço ainda em construção exigiu da equipe que, além dos atributos específicos à natureza dos cargos e funções, tivesse sensibilidade e abertura para novos olhares e para a construção de novos caminhos, aprimorando os serviços já prestados.

Deste modo, o Sesc pensa a educação como pressuposto para a transformação social, sendo este conceito fundamental na gestão e qualificação das equipes. Os funcionários atuam como educadores, independentemente de sua formação ou cargo.

OS PRINCÍPIOS INSTITUCIONAIS

O Sesc desenvolve uma ação de educação não formal e permanente, com o intuito de valorizar seus diversos públicos, ao estimular a autonomia pessoal, a interação e o contato com expressões e modos diversos de pensar, agir e sentir.

Para levar adiante a programação dos espaços, o Sesc se pauta por um entendimento de cultura ampliado, de caráter antropológico, em que estão presentes os valores, os hábitos e os aspectos ligados a comportamentos, crenças, condutas, forças políticas, consciência reflexiva e identidade de grupo, isto é, aspectos que ultrapassam

1 “Promover ações socioeducativas que contribuam para o bem-estar social e a qualidade de vida dos trabalhadores do comércio de bens, serviços e turismo, de seus familiares e da comunidade, para uma sociedade justa e democrática.” (Disponível no portal do Sesc em https://www.sesc.com.br/ portal/ sesc/ o_sesc/Missao/) a esfera das linguagens artísticas (MIRANDA, 2018).

O Sesc Parque Dom Pedro II oferta gratuitamente o acesso às práticas culturais, de lazer e esportivas, reunidas nas diversas linhas de ação do Sesc, vinculadas a artes, esportes, alimentação, saúde, educação para a sustentabilidade e diversidade, mais turismo social.

O acesso possibilita o bem-estar às pessoas e o senso de pertencimento. Está vinculado à possibilidade de cada indivíduo participar de relações e interações humanas, dando-lhe dignidade de ser ator nesta cadeia.

Sem o direito de participar da vida cultural, as pessoas não conseguem desenvolver vínculos sociais e culturais que são importantes para a manutenção de condições satisfatórias de igualdade. Quando as pessoas são excluídas da vida cultural, isso pode ter consequências para o bem-estar e até para a sustentabilidade da ordem social. A participação está intimamente relacionada à capacidade dos cidadãos de criar um senso de responsabilidade em áreas como respeito pelos outros, não discriminação, igualdade, justiça social, preservação da diversidade e do patrimônio e no que se refere a outra cultura (LAAKSONEN, 2011, p. 49). O Sesc tem um papel fundamental na formação cultural dos indivíduos, baseado no princípio da democratização da cultura para superar as desigualdades de acesso da maioria da população à cultura. A ideia de democratização cultural fomenta o conceito do direito de todos de participar ativamente da vida cultural, ressaltando a importância dessa participação como fruidores e criadores.

Uma das maneiras de contribuir para a efetivação da participação na vida cultural é por meio da experiência vivida pelos indivíduos. Incorporar esse tipo de experiência na formação dos indivíduos é, provavelmente, o passo mais efetivo

para disseminar essas linguagens e seus códigos, de maneira que provoquem uma real alteração na relação das pessoas com a cultura, a arte e o lazer. Aí está a chance de alterar o padrão de relacionamento com as diversas expressões artísticas e a sociabilidade, permitindo que se passe de uma fruição apenas de entretenimento para uma prática na qual este se desdobra em um processo de desenvolvimento pessoal.

Outro fator importante é a educação informal na alteração da relação das pessoas com as atividades culturais, por ser possível em qualquer etapa da vida dos indivíduos, bem como por seu caráter complementar e continuado. É essa a esfera em que se dá a maior possibilidade de intervenção, podendo chegar a uma atuação propositiva no sentido de formar públicos e ampliar as possibilidades da vida cultural dos indivíduos.

A educação informal como estratégia de alteração do relacionamento entre o indivíduo e a cultura, em sua articulação com o lazer, tem se mostrado um modo efetivo de aproximar públicos de certos conteúdos. O sociólogo francês Joffre Dumazedier (1999) já relatava as bem-sucedidas experiências resultantes da associação entre educação informal e transmissão de conteúdos via lazer e atividades lúdicas.

O FUTURO

O século XXI ampliou o acesso às informações rápidas, por meio da conectividade. A pandemia nos fez migrar e assumir esse espaço virtual também como o lugar de lazer, aprendizagem e sociabilidade.

Com a previsão de início das obras da unidade definitiva para o segundo semestre de 2021, consideramos estratégico manter um núcleo de ação cultural, a fim de elencarmos possibilidades de atividades com apoios e parcerias, para sustentar nossa ação cultural e educativa durante a construção da futura unidade. Tal núcleo tem duas frentes: uma online, em que o sítio eletrônico e as redes sociais do Sesc Parque Dom Pedro II mantêm ofertas de atividades programáticas; e outra presencial, também vinculada aos programas institucionais, realizada com e nos espaços parceiros, mantendo os laços com o público frequentador e o entorno. Assim, aguardaremos a nova unidade Sesc Parque Dom Pedro II seguindo com o nosso fazer.

REFERÊNCIAS

DUMAZEDIER, Joffre. 1999. Sociologia empírica do lazer. Trad. Sílvia Mazza e J. Guinsburg. São Paulo: Sesc SP/Perspectiva. LAAKSONEN, Anamar. 2011. O direito de ter acesso à cultura e dela participar como características fundamentais dos direitos culturais. Observatório Itaú Cultural. São Paulo, SP, nº 11. MARTINELL, Alfons. 2011. Gestión de la cultura y contemporaneidad: problemas, deseos e realidades. Espanha: Universidad de Girona. MIRANDA, Danilo Santo de. 2018. Juventude, públicos e comunidades no Sesc. 2º Encontro IberoAmericano sobre Desenvolvimento de Audiências, Buenos Aires. RELPH, Edward. 1979. As bases fenomenológicas da geografia. Geografia. Rio Claro, SP, v. 4, nº 7, p. 1-25. WISNIK, José Miguel. 2005. Drummond e o mundo. In: NOVAES, Adauto (org.). Poetas que pensaram o mundo. São Paulo: Cia. das Letras.

— Simone Engbruch Avancini Silva é Gerente do Sesc Carmo e Sesc Parque Dom Pedro II, MBA em Gestão Estratégica de Pessoas pela FGV, Especialista em Gestão e Políticas Culturais pelo Itaú Cultural e pela Universidade de Girona e em Semiótica Psicanalítica – Clínica da Cultura pela PUC/SP. Graduada em Educação Física pela Fefisa.

The management of a transitory space

Simone Engbruch Avancini Silva, Sesc Carmo and Parque Dom Pedro II Sesc Manager

For me, BE in the world means to transform and re-transform the world, and not adapt to it.

As a human being, there is no doubt that our main responsibilities consist of intervene in the reality and keep our hope. Paulo Freire

THE CHALLENGE

When I joined Sesc Parque Dom Pedro II to manage it, in 2017, I came across a space that had an expiration date. The concession of the land by the City Hall of São Paulo had a schedule for the delivery and approval of the project to start the construction of the definitive unit, and also a commitment to use the space until the approvals were made.

So, since the signing of the land concession in 2015, Sesc began to occupy the space, with specific actions until May 2017, when the temporary structures used until closing in 2021 were installed. We call this occuppation temporary unit, which is an operational unit in which the team promotes activities in the space or available facilities, until the unit’s definitive facilities are built. Sesc operates in this way since 1998 with some of the lands that have been or will be transformed into future units. Sesc Parque Dom Pedro II then began its action as a temporary unit, a way of welcoming the surroundings of which it will be a part and being welcomed by it. SPACE MANAGEMENT

Management is the action of managing, conducting matters and exercising authority over an organization, using knowledge as a mechanism for continuous improvement. This improvement is centered not on hierarchy, but on the ability to promote systematic innovation of knowledge and its application in the production of results. It is almost the opposite of administration, which is to command a hierarchical, mechanical structure, subject to procedures, rules and controls, ensuring its correct functioning. Therefore, management meets culture as it is a way of understanding action within complexity. This requires an ability to define objectives, as well as autonomy for decisions, freedom to solve problems, creativity in the search for alternatives, innovation and sensitivity. That's why:

Managingmeansasensitivityto understanding, analyzing and respecting social processes in which culture maintains importantsynergies.Culturalmanagement impliesvaluingtheintangiblesand assuming responsibility for managing the debatable and the circulation of the subjective,andcirculatingbetweenthe necessaryevaluationofitsresultsand thevisibilityofitsqualitativeaspects. (MARTINELL,2011;trad.nossa).

Managing a sociocultural facility only makes sense if it is dynamic and effective, capable

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