A cidade de São Paulo dispunha de serviços de eletricidade desde 1886. Um gerador termelétrico a carvão fornecia eletricidade do entardecer até a noite para o triângulo comercial da capital, na época a região mais
(Acervo Fundação Energia e Saneamento)
importante da cidade.
Bonde para passageiros de primeira classe, da linha Santo Amaro, dezembro de 1913
Em 28 de setembro de 1899, a concessão dos serviços de bonde por tração elétrica foi cedida à empresa canadense The São Paulo Railway, Light and Power Company Ltd., assim como a concessão para transmissão, exploração e venda de luz elétrica e energia, que a companhia havia conquistado no mesmo ano.
A Light, como ficou conhecida, alterou o traçado e os fluxos dos rios da região e, por meio das linhas de bonde, estabeleceu no mercado de terras as configurações urbanísticas da cidade. Ela operou os serviços de bondes até 1947 e a produção e distribuição de energia elétrica em São Paulo até 1981. Durante o século passado, a Light diversificou muito seus ramos de atuação, agindo também nos setores imobiliário, hoteleiro, de engenharia, agropecuária, bancos, seguros e shopping centers. O grupo Light se tornou Brascan - Brasil Canadá Ltda. no fim dos anos 1970 e, desde 2009, chama-se
(Acervo Fundação Energia e Saneamento)
Brookfield Asset Management.
Fachada do Edifício Alexandre Mackenzie, onde funcionavam os escritórios da Light. Hoje, abriga o Shopping Light, no centro de São Paulo.
A implantação de uma hidrelétrica de porte, para as
termelétrico, a partir de janeiro de 1900, a Light
condições da época, era necessária para permitir não só
iniciou a construção da usina de Parnaíba, na
a expansão dos serviços de transporte coletivos, como
Cachoeira do Inferno, no rio Tietê, território do
também para gerar eletricidade destinada aos potenciais
município de Santana de Parnaíba.
consumidores industriais, comerciais e residenciais.
(Acervo Fundação Energia e Saneamento)
Juntamente à instalação do primeiro gerador
(Acervo Fundação Energia e Saneamento)
No dia 23 de setembro de 1901, a usina de Parnaíba
Foi para garantir o fluxo constante de água
começava a operar, com duas turbinas de um
para a usina, nos períodos de menor fluxo
megawatt cada. Foram realizados sucessivos
dos rios Pinheiros e Tietê, que foi construída
acréscimos na capacidade instalada até 1912,
a represa de Guarapiranga. As águas do
quando a usina atingiu a capacidade máxima.
reservatório eram liberadas conforme a
Hoje é chamada de Usina Hidrelétrica Edgard de Souza. necessidade de aumento do fluxo dos rios.
Os rios Tietê e Pinheiros, em época de seca, tinham um
grande alteração em seu curso. Em 1906, a Light,
volume de água reduzido, o que causava instabilidade
responsável pela geração de energia da cidade
na geração de energia. Assim, quando faltava água
de São Paulo, iniciou as obras de barragem do rio
em Santana do Parnaíba, as comportas da represa de
com o objetivo de reservar água para geração de
Guarapiranga eram abertas e as águas do reservatório,
energia na hidrelétrica de Santana do Parnaíba,
lançadas no rio Pinheiros, seguiam pelo Tietê até chegar
localizada no rio Tietê.
às usinas hidrelétricas, onde giravam as turbinas.
(Acervo Fundação Energia e Saneamento)
O rio Guarapiranga foi o primeiro a sofrer uma
Você já imaginou como foi construir uma barragem de 900 metros em 1906? Utilizou-se o método de hidromecanização, jateamento com água sob forte pressão transporte da água e do material erodido, por calhas, para a formação de 900 metros de aterro. Foi a maior obra do gênero, à época, em todo o hemisfério sul.
(Acervo Fundação Energia e Saneamento)
para o desmonte de encostas do rio, com
Seca de 1924 As primeiras duas décadas do século 20 em São
alimentavam as usinas diminuiu. A Light foi obrigada
Paulo foram marcadas por um intenso processo
a reduzir o fornecimento de energia elétrica em
de industrialização e crescimento urbano, que
mais da metade, o que ocasionou um forte impacto
demandou um aumento da geração de energia
econômico.
elétrica.
A seca foi o que faltava para que o Projeto Serra saísse do papel. Um empreendimento que
hidrelétricas instaladas, no rio Tietê, além de
demandaria uma série de intervenções no rio
algumas pequenas usinas termelétricas. Em 1924,
Pinheiros, que estaria à altura da expansão
a região de São Paulo sofreu uma grande seca
paulista e atenderia prontamente suas exigências
e, com isso, o nível dos rios e reservatórios que
energéticas.
(Mídia Ninja)
No início da década de 1920, a Light possuía duas
(O Estado de S. Paulo, 7 de dezembro de 1924)
HENRY BORDEN Henry Borden foi presidente da Light a partir de 1946 e realizou importantes obras e investimentos na geração de energia no estado. Após a morte do executivo, a usina hidrelétrica de Cubatão foi renomeada para usina Henry Borden, em sua homenagem.
(Fundo Correio da Manhã - Arquivo Nacional)
(Acervo Fundação Energia e Saneamento)
Edgard de Souza, Henry Borden e Asa White Kenney Billings
(Fundo Correio da Manhã - Arquivo Nacional)
(Acervo Fundação Energia e Saneamento)
ASA WHITE KENNEY BILLINGS Em 1945, a represa do Rio Grande foi rebatizada para represa Billings, em homenagem ao engenheiro norte-americano que chegou ao Brasil em fevereiro de 1922, contratado pela Light, e foi o grande responsável e idealizador do Projeto Serra. Em 1944, Billings assumiu a presidência da Light S. A. e se aposentou em 1946.
O Projeto Serra propôs a geração de energia elétrica por meio da criação de uma usina hidrelétrica em Cubatão que utilizaria a força de queda da Serra do Mar. As águas do rio Tietê, bombeadas pelo rio Pinheiros para a represa Billings, seriam direcionadas para a descida da serra e moveriam as turbinas
(Acervo Fundação Energia e Saneamento).
de geração elétrica.
(Acervo Fundação Energia e Saneamento).
(Acervo Fundação Energia e Saneamento).
Por muitos anos, o rio Pinheiros virou um “canudo” para puxar as águas do Tietê em direção à Serra do Mar.
Em 27 de dezembro de 1927, foi autorizado o projeto de retificação do leito do rio Pinheiros e a inversão do curso de suas águas. As obras para o bombeamento do rio Pinheiros foram iniciadas em 1937 e, em 1940, tanto a Usina Elevatória de Pedreira como a da Traição já estavam funcionando. A retificação do rio Pinheiros só seria concluída integralmente na década de 1950.
Sabe aquele prédio no meio do rio Pinheiros, próximo à Estação Vila Olímpia, da CPTM? É a antiga Usina Elevatória de Traição. Ela foi construída no local onde o rio
(Acervo Fundação Energia e Saneamento).
Traição deságua no Pinheiros.
Inaugurada em 1940 e hoje rebatizada de Usina Elevatória São Paulo, a edificação tem como função bombear a água do rio Pinheiros no sentido contrário ao seu fluxo natural, em direção à represa Billings.
Ao passar pela Ponte Nova (Engenheiro Vitorino Goulart da Silva), no caminho para Interlagos, no bairro do Socorro, é possível ver uma grande estrutura sobre o rio. É a Usina Elevatória de Pedreira. Inaugurada em 1939, ela bombeia as águas do rio Pinheiros para a represa
(Acervo Fundação Energia e Saneamento).
Billings, dando continuidade à reversão do fluxo do rio.
“A Companhia City, empresa loteadora inglesa, responsável por vários projetos de parcelamento do solo na cidade e pela criação de bairros como Jardim América e Jardim Europa, questionou a demarcação de terras da Light. A companhia questionou a legalidade do uso da cota máxima da cheia de 1929 e também levantou a suspeita de que a enchente pudesse ter sido provocada. Mais tarde, fez um acordo com a Light, obtendo parte das terras desapropriadas.”
(Autoria desconhecida)
(PESSOA, 2006, p. 115)
(Anúncio no jornal O Estado de S. Paulo, 24/3/1935)
A MARGINALIZAÇÃO DO RIO A retificação do rio Pinheiros levou ao enxugamento de suas várzeas, criando uma enorme área, comercializada e ocupada posteriormente. Desde então, o eixo sudoeste do município viveu um forte processo de expansão urbana, acelerada pela construção da Marginal Pinheiros. Ao longo das pistas da marginal se encontram alguns dos terrenos mais
(Fotógrafo: MÁXIMO, Camerindo Ferreira Data: 1969. Acervo Fotográfico do Museu da Cidade de São Paulo)
valorizados de São Paulo.
(Fotógrafo: JUSTINO, Ivo - Data: 1968 - 1970. Acervo Fotográfico do Museu da Cidade de São Paulo)
Por percorrer as margens do rio Pinheiros de carro, nós nos acostumamos a vê-lo a distância, em alta velocidade ou parados no trânsito. São raras as oportunidades de estar diante das águas do rio, escondidas por um sem-fim de barreiras. Dessa forma, vamos nos esquecendo de que um dia
(Centro Pró-Memória Hans Nobiling)
ele não foi assim.
“Nosso distanciamento do Pinheiros tem origem em um processo que se iniciou no século passado, quando o rio e seu vale passaram a integrar a engenharia da cidade. Fundamental para a geração de energia e expansão urbana, o rio foi controlado, e suas planícies, ocupadas. Cada vez mais distante, o paulistano deixou de ver as margens do rio e passou a venerar suas marginais.” (Mariana Gil/Embarq Brasil)
Exposição Rios DesCobertos - De Frente Para o Pinheiros, 2021 - Estúdio Laborg
Ponte sobre o rio Guarapiranga 1906
(Acervo Fundação Energia e Saneamento)
(Acervo Fundação Energia e Saneamento)
As intervenções humanas no meio ambiente acompanham a necessidade de ocupar novas regiões. Por toda a história, as pontes cumprem um papel fundamental nesse sentido, conectando territórios separados por rios e outros elementos naturais.
Ponte Rio Grande, 1906
Assim como os rios, as antigas pontes desapareceram com novas intervenções de maior escala, levando consigo as histórias das relações humanas de uma época.
(GAENSLY, Guilherme - Fundação Energia e Saneamento)
Obras da ponte sobre o rio Grande no prolongamento da linha de bonde Santo Amaro, 1912-1915
Toda intervenção humana, em maior ou menor grau, interfere no meio ambiente. Em que medida devemos avaliar a respeito das necessidades humanas de intervir na natureza diante do impacto no território?
No verão de 1929, a cidade de São Paulo viveu a maior enchente de sua história.
(Acervo Fundação Energia e Saneamento)
Uma enorme área das várzeas dos rios Pinheiros e Tietê ficaram alagadas.
ENCHENTE DE 1929 “Aquele início de ano foi bastante atípico por um excesso de chuvas que acometeu não só a capital como diversas outras áreas do estado, como pelo até hoje não totalmente comprovado envolvimento da companhia canadense Light & Power com a tragédia. As suspeitas recaíram sobre a Light & Power devido ao fato de dois anos antes, em 1927, a empresa ter recebido do Governo Federal a licença para canalizar, retificar e inverter o curso do rio Pinheiros. Contudo o acordo também previa que em casos de cheia dos rios, os terrenos atingidos seriam também declarados de propriedade da empresa, que na época já visava expandir negócios e atuar no mercado imobiliário (...)”
(Acervo Fundação Energia e Saneamento)
Douglas Nascimento Presidente do Instituto São Paulo Antiga e membro do Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo (IHGSP)
(PMSP)
Rio Pinheiros, 1940.
(BING 2022)
Canal do rio Pinheiros, 2022
Geologica, 1906-1912
Emplasa, 1981
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