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O Planalto Paulista O Planalto Paulista, onde se encontra a cidade de São Paulo, ocupado, há milhares de anos, por povos indígenas de maneira muito diferente de como fazemos agora. Por possuir muitos morros e planícies fluviais e ser coberta por florestas, essa região oferecia abundância de frutos, caça e pesca.

Mapa da capitania de São Vicente, 1597

Respeitando os ciclos naturais e recursos disponíveis, os povos originários migravam pelo território, por diversas razões. Por vezes, era a escassez de determinado alimento, em outras, a abundância de recursos em outros territórios. Celebrações e rituais também eram motivos de deslocamento.


“Minha tia, que morreu com 120 anos, morava na aldeia do Itariri no começo do século passado. Ela me contava que na subida pelo litoral, à margem do rio Capivari, tinha um descanso Guarani que chamava Guyra Pytã por causa de uma garçavermelha que morava por lá. Essa rota continuava até chegar ao rio Pinheiros e subia pela margem até Bauru. Grupo de cinco, seis famílias, ia pra Bauru e depois voltava. Então ela dizia assim: que uma vez vieram de novo as famílias e, quando chegaram, ficaram assustadas: de repente tinha lago no Guyra Pytã. Ficaram muitos dias lá perto esperando a água baixar, mas nada de a água baixar. Depois de muitos anos, souberam que era a represa feita pelos brancos. Guyra Pytã virou Guarapiranga. Minha tia sempre contava essa história para mim.” Timóteo Verá Popyguá - “Em vez de desenvolvimento, envolvimento” Povos Indígenas no Brasil (socioambiental.org)


Trilha dos Tupiniquins Os portugueses chegaram ao Planalto Paulista com a ajuda dos povos originários, utilizando a Trilha dos Tupiniquins, que era um dos ramais do caminho do Peabiru. A trilha começava em Cubatão, junto ao vale do rio Mogi, atingia o topo da Serra do Mar em Paranapiacaba, região das nascentes do rio Pinheiros e chegava até a Vila de São Paulo seguindo o rio Tamanduateí. Da Vila, a trilha atravessava o vale do Anhangabaú, seguia na direção das atuais rua da Consolação e avenida Rebouças até cruzar o rio Pinheiros no sentido oeste. Saindo da Vila de São Paulo, passando pelo aldeamento de Pinheiros, cruzando o rio Jurubatuba e seguindo em direção a oeste, podia-se alcançar a rota-tronco do caminho do Peabiru, na divisa do Paraná, provavelmente na altura da atual cidade de Itararé.


(“Aldeamentos paulistas”, Pasquale Petrone)


Santo Amaro Registros de 1552 indicam um aldeamento formado

capela que à época ficava nas terras do casal de

com a ajuda do cacique Caiubi ao sul do rio

portugueses João Paes e Suzana Rodrigues.

Jurubatuba (Pinheiros) chamado Nossa Senhora da Assunção de Ibirapuera.

Estes doaram para a nova capela uma imagem de madeira de seu santo de devoção, Santo Amaro,

Em 1560, por haver uma considerável quantidade de padroeiro dos carroceiros e agricultores. A partir daí, indígenas catequizados, o padre José de Anchieta,

o aldeamento passaria a ser chamado de Santo

ao visitar a missão, ordenou a construção de uma

Amaro de Ibirapuera.


Paulo Eiró, santamarense, poeta e dramaturgo (15/4/1836-27/6/1871)

1909. Constava de um galpão com diversos tanques

“O córrego Iguatinga foi um polo de inspiração de

lavavam a roupa e a punham a corar e secar nos

Paulo Eiró. O nosso poeta se inspirou nesse córrego

gramados e matas, em redor da lavanderia.

de águas límpidas no passado e nas moças bonitas de plantão, para escrever um belo poema, o ‘Coatinga’.

de cimento, onde as mulheres (as lavadeiras)

Em homenagem ao córrego do centro da cidade, a sul da Igreja de Santo Amaro, e inspirado no poema de Paulo Eiró, Júlio Guerra criou também o mito

Aí, na rua Iguatinga, a prefeitura de Santo Amaro

Iguatinga, uma estátua de pés alados, conotando

construiu uma lavanderia pública, inaugurada em

agilidade e jovialidade.” Prof. José Jorge Peralta


Colônia Alemã Em Santo Amaro foi fundada a primeira colônia estrangeira no Brasil. Em 1827, o imperador Pedro I, entendia que, no Brasil, deveria surgir uma classe de trabalhadores assalariados que substituísse o trabalho escravo. Assim, determinou aos governantes da Província de São Paulo o assentamento de colonos alemães naquela região.

(Estúdio Laborg)

Em 1829, os imigrantes alemães fundaram a Colônia Alemã, na zona sul de São Paulo, hoje conhecida como o bairro Colônia Paulista, localizado no distrito de Parelheiros.

Segundo o historiador Carlos Fatorelli, o nome Parelheiros é uma “referência a parelhas de disputas entre cavaleiros alemães e caboclos brasileiros que já estavam nas proximidades.”

Igreja da Colônia - Paróquia Santo Expedito e Nossa Senhora Aparecida, inaugurada em 1910


Fubá mimoso Os alemães estabeleceram manufaturas e indústrias, criaram porcos e aves e construíram rodas d’água nos córregos da região para beneficiar farinha de trigo e milho. Seus produtos eram vendidos no mercado de Santo Amaro, importante entreposto da região.

(Autor desconhecido: acervo da Biblioteca Prefeito Prestes Maia, da Prefeitura de São Paulo)

A farinha de milho, normalmente moída grossa, em pilões, era beneficiada pelos moinhos dos alemães em uma farinha mais fina, que hoje chamamos de “fubá mimoso”.


Os caminhos de Santo Amaro Ainda em 1886, um novo caminho foi aberto pela Companhia Carris de Ferro de São Paulo a Santo Amaro. O trajeto feito por linhas de trens a vapor foi posteriormente comprado pela Light e convertido em bondes elétricos, que operaram até 1968. Posteriormente, a linha 1-Azul do Metrô foi construída sobre esse trajeto.

(Acervo Fundação Energia e Saneamento)

Por muito tempo, a principal atividade econômica de Santo Amaro era o abastecimento alimentício para São Paulo pela Estrada Para Santo Amaro, atual avenida Santo Amaro, e pela Estrada da Boiada, que hoje corresponde à avenida Brigadeiro Faria Lima.

Estação de cargas de Santo Amaro, integrante da linha de bonde Santo Amaro, na avenida Adolfo Pinheiro, 1916


Na década de 1950, foi construído, às margens do rio Pinheiros, o ramal de Jurubatuba da Estrada de Ferro Sorocabana, que contribuiu para o crescimento do bairro de Santo Amaro. Por estar

(Autoria desconhecida)

Ramal Jurubatuba da ferrovia Sorocabana em 1966, próximo à Cidade Universitária

localizada às margens do rio Pinheiros, a região oferecia as condições necessárias para instalações industriais, como espaço, facilidade de transporte, abundância de água e escoamento de detritos.


Interlagos Na década de 1920, o engenheiro britânico Louis Romero Sanson e o urbanista francês Alfred Agache deram forma a um projeto urbanístico de uma cidade-satélite em São Paulo, cujo nome era uma referência a Interlaken, destino turístico da Suíça, entre os lagos Thun e Brienz. Dessa maneira, entre as represas Billings e Guarapiranga, surgia o bairro Interlagos, na zona sul da cidade. Segundo histórico da Prefeitura de São Paulo, o

(O Estado de S. Paulo, 1/12/1940)

projeto pretendia “atrair os mais ricos e abastados moradores da capital”.


(O Estado de S. Paulo, 27/8/1938)


Industrialização “O processo de industrialização de Santo Amaro foi acompanhado da necessidade de aumento da mão de obra, acarretando na migração de trabalhadores de diversas regiões do país, que se instalaram nas vilas operárias, favelas e áreas periféricas da zona sul. Por não terem sido foco de um plano urbanístico, diversos problemas começaram a surgir, decorrentes da falta de estrutura e de serviços básicos.” Plano de Desenvolvimento do Turismo Sustentável do Polo de Ecoturismo de São Paulo


Migração “Entre as décadas de 1950 e 1980, São Paulo recebeu uma forte onda migratória de pessoas de origem nordestina. O desenvolvimento econômico e a industrialização desse período foram os principais fatores para que milhões de brasileiros seguissem para o Sudeste, fugindo da miséria e das condições precárias em que viviam em seus estados. Nas décadas posteriores ocorreu também uma intensa migração vinda do interior de São Paulo. Tudo isso acarretou um forte adensamento populacional da zona sul da capital, que despontou como solução habitacional e região-dormitório, principalmente do polo industrial de Santo Amaro.” Observatório da Paisagem / Sesc Interlagos

(Estúdio Laborg)


“Em louvor da batata” Em 1913, dois carpinteiros japoneses que trabalhavam numa construção no Brooklin Paulista, na linha Santo Amaro, fundaram uma colônia no Morumbi, na beira do rio. Eram 29 famílias que se dedicavam ao plantio de hortaliças e chá. Saku Miura (proprietário do Diário Nippak),

que defendia ardorosamente a criação das cooperativas, publicou em seu jornal, no mês de setembro de 1926, um artigo intitulado “Em louvor da batata”, como parte de um projeto para a construção de uma cooperativa na Vila Cotia, na periferia de São Paulo.

(Acervo Fundação Energia e Saneamento)

Da avenida Morumbi olhando para o Brooklin Paulista, à esquerda, a escola japonesa. Ao fundo, a margem esquerda do rio Pinheiros, 1929


O Largo da Batata O Mercado de Pinheiros foi inaugurado em 1910 e,

seus produtos. A região que ficava entre o Mercado

inicialmente, não passava de uma área cercada por

de Pinheiros e o Largo de Pinheiros começou a

arame farpado com um pequeno galpão no centro,

receber os agricultores japoneses de Cotia que se

onde agricultores locais e de Cotia comercializavam

dirigiam ao local para comercializar batatas.

(Autoria desconhecida, 1930 - Museu Histórico da Imigração Japonesa no Brasil)


O aldeamento de Pinheiros O rio Jurubatuba passou a ser chamado de Pinheiros pelos jesuítas em 1560, quando eles criaram um aldeamento de nome Pinheiros, onde hoje é o Largo da Batata. Foi denominado assim em virtude da grande quantidade de araucárias (ou pinheiros-do-brasil) que cobriam a região. O principal trajeto que dava

acesso ao aldeamento era o Caminho de Pinheiros, que, hoje, é a rua da Consolação. Por estar às margens do rio Pinheiros, o aldeamento teve uma função estratégica de ajudar os viajantes em suas travessias. A importância do local se acentuou com a construção de mais vilas ao sul e da primeira ponte de madeira destinada a atravessar o rio, em 1687.


A Vila Operária de Pinheiros No fim do século 19, foi construída a Vila Operária

São Paulo, passando pelo Cemitério do Araçá

de Pinheiros, ao lado das atuais rua dos Pinheiros

e chegando ao cruzamento das ruas Teodoro

e avenida Rebouças. No início do século 20,

Sampaio e Capote Valente. Apenas em 1909 o

foi instalada, na rua Teodoro Sampaio, a linha

bonde chegou ao Largo de Pinheiros.

de bonde que ligava Pinheiros ao centro de Mappa Topographico com o arruamento da Florescente Villa Operária dos Pinheiros na Freguezia da Consolação, 1897


O futebol na várzea do rio Pinheiros “Na virada do século [19 para o 20], todo futebol era de várzea. Mesmo o dito oficial, de elite, também foi jogado na várzea. A São Paulo de então é uma cidade cheia de rios e com planícies, terreno propício para o esporte.” Diana Mendes Machado da Silva “Futebol de várzea em São Paulo: a Associação Atlética Anhanguera (1928-1940)”.

Com o processo de urbanização, o futebol de várzea deixa as margens dos rios e hoje se encontra espremido em meio às comunidades.

(Renato Stockler)

Campo de futebol de várzea localizado no bairro do Campo Limpo


O Represa Nova Futebol Clube, fundado em 1º de maio de 1956, é um time de várzea localizado no bairro Mar Paulista, região da Pedreira, zona sul de São Paulo. A equipe jogava em campos adversários, como o do saudoso Pedreira F. C., na Vila Emir, e, esporadicamente, no gramado da Usina Piratininga.

(Autor desconhecido)

Outro campo que era uma referência no futebol de várzea era o do Continental. Localizado às margens do Pinheiros, próximo à ponte João Dias, ele tinha dimensões oficiais e era muito usado pelos diversos times da região.


O rio Pinheiros cumpria um importante papel como área de lazer da população. As pessoas caminhavam e descansavam às suas margens, nadavam e navegavam em suas águas e admiravam suas paisagens. O Clube Pinheiros, por exemplo, realizava provas de natação e remo nas águas do rio. Hoje, no entanto, o clube já não está às margens do Pinheiros,

(Acervo Centro Pró-Memória Hans Nobiling - ECP)

que mudou de lugar com as obras de canalização.


No início do século 20, as represas se tornaram um novo espaço de lazer. A Guarapiranga passou a ser um local de prática esportiva, como o iatismo, abrigando diversos clubes náuticos. Hoje, a Billings também proporciona a prática de esportes náuticos. Para além do lazer, iniciativas locais utilizam o velejar como instrumento de inclusão social e educação socioambiental.

(Renato Stockler)

A velejadora Laís Guimarães nas águas da represa Billings


Tenondé Porã Demarcada em 2016, a Terra Indígena Tenondé Porã abrange parte do município de São Paulo, próximo à represa Billings, e abriga, atualmente, 1.500 guaranis, distribuídos por oito tekoa, que os não indígenas conhecem por “aldeias”: Tenondé Porã (também conhecida por “aldeia da Barragem”), Krukutu, Guyrapaju, Kalipety, Yrexakã, Kuaray Rexakã, Tape Mirĩ e Tekoa Porã. Ao longo do território, perto das matas e rios, há diversas localidades que outrora já foram aldeias, assim como antigas trilhas que até hoje são utilizadas para a coleta de material para artesanato, plantas e ervas medicinais, compondo uma extensa rede de caminhos que vão até as aldeias guarani no litoral.


O povo guarani habita a região da mata atlântica meridional há milênios. Essa região, que para os indígenas não tem fronteiras e leva o nome de Yvyrupa (leito ou plataforma terrestre), foi imensamente devastada pelos colonizadores, chamados de juruá: aqueles que têm “cabelo na boca” (bigode).

“Àqueles que não entendem nossa língua, vou traduzir. O povo guarani era como um rio que corria lentamente em seu curso quando uma pedra gigante foi lançada dentro do córrego. A água espirrou para vários cantos. E os sobreviventes estão aqui hoje reunidos.” Anastácio Peralta (guarani-kaiowá)

(Caio Ferraz)

Aldeia Kalipety


João Pedro Peralta era português. Veio para o Brasil com 9 anos, em 1919, e trabalhou como barqueiro no porto de areia do rio Pinheiros - livro O Rio Pinheiros.

“No Martinelli, o primeiro grande edifício da cidade, há muita areia do rio Pinheiros, tirada por mim e por outros barqueiros. Transportávamos areia prá Companhia City. Havia um tanque de madeira e dezoito barcos trabalhando. O nosso barco chegava e descarregava tudo na pá, em duas ou três horas de trabalho. Éramos dois homens, desde as duas ou três horas da manhã. Mas havia também o guindaste da Companhia City. Trabalhávamos até dezoito horas por dia. Almoçávamos no próprio barco. Perto da Reta das Lavadeiras, havia muita jabuticaba, mas não dava tempo de parar para pegá-las. Tínhamos que tirar depressa a areia que ia construir São Paulo. Quem nos mandou embora foi a Light. O rio só corria pra baixo, mas queriam força elétrica e fizeram a Traição… Antigamente, o rio era cheio de meandros. As curvas davam tantas voltas que às vezes voltávamos sem querer ao mesmo sítio.”


(Acervo Fundação Energia e Saneamento)

Porto de areia Santo Amaro sobre o rio Grande no término da linha férrea olhando a jusante do rio a partir da ponte da estrada, 1926


(O Estado de S. Paulo)

Anúncio da Cia. City O Estado de S. Paulo, 1927


Jornal O Estado de S. Paulo, 1º de setembro de 1996



E ssemat er i al épar t ei nt egr ant edae xposi çãoRi osDesCober t os-Dos Jer i v ásaosPi nhei r os. Ousodessemat er i al est áper mi t i dosoment enocont e xt oeducaci onal , par afinse x cl usi v ament edi dát i cos, nosest abel eci ment osdeensi no, não hav endoemqual quercasoi nt ui t odel ucr o. Év edadaasuadi st r i bui çãoou publ i cação, i nt egr al oupar ci al , semaut or i z açãopr é vi aee xpr essados r espect i v osdet ent or esdosdi r ei t osaut or ai s. Osdocument os, cont eúdosecr i açõescont i dosnest emat er i al per t encem aosseuscr i ador esecol abor ador es. Aaut or i adoscont eúdos, mat er i ai se i magense xi bi dassãopr ot egi dasporl ei snaci onai sei nt er naci onai s. Não podemsercopi ados, r epr oduz i dos, modi ficados, publ i cados, at ual i z ados, post ados, t r ansmi t i dosoudi st r i buí dosdequal quermanei r asem aut or i z açãopr é vi aeporescr i t odosaut or es. Osdi r ei t osaut or ai ssobr easi magensper t encemaosr espect i v osdonos. Emat ençãoàl ei 9. 61 0/ 1 998, t odososes f or çosf or amf ei t ospar al ocal i z ar osdet ent or esdosdi r ei t osdasobr asaqui e xpost as. Emcasodepossí v ei s omi ssões, porf av orent r eemcont at ocom: cont at o@est udi ol abor g. com. br .


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