PRETATITUDE_Rio Preto.pdf

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Novembro de 2020 a marรงo de 2021


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Visitação

De 17 de novembro de 2020 a 21 de março de 2021 terças a sextas, 15h às 21h Sábados, 10h às 14h Agende seu horário em sescsp.org.br/riopreto.



VALORES E PREMÊNCIAS..................................................6 CONSTATANDO A EMERGÊNCIA: ARTE CONTEMPORÂNEA AFRO-BRASILEIRA.............................8 ARTISTAS........................................................................11 FICHA TÉCNICA...............................................................52

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VALORES E PREMÊNCIAS

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A prática artística condiz a uma modalidade de produção com alto nível de valor agregado. As elaborações estéticas congregam, em si, dimensões cruciais da experiência humana. Para além de sua conotação econômica, tal raciocínio nos permite identificar diferentes aspectos que se amalgamam numa obra de arte. Destacam-se aí os expedientes simbólico-formal, conceitual, afetivo, material, contextual e mnemônico. Sondados e articulados pelos artistas, estes e outros aspectos formam a base de construções poéticas capazes de ressignificar a realidade. Entretanto, as oportunidades de que as pessoas dispõem para se dedicar a esse tipo de produção têm se mostrado, no transcurso da história, altamente desiguais. Não podemos perder de vista que o exercício profissional da atividade artística exige uma série de pré-requisitos que, por sinal, não se encontram igualmente disponíveis a todos. Basta pensar, com relação a isto, no quão decisivos são o acesso à formação especializada, a escolha de como usar o tempo, a garantia de uma renda satisfatória, a familiaridade com referências e códigos da arte e, ainda, a interação com as redes de agentes e instituições habilitados a financiar e legitimar a produção artística.


Produzir arte apesar da interdição a algumas dessas prerrogativas corresponde a uma atitude insurgente, desafiadora de um status quo que privilegia uns (poucos) em detrimento de (tantos) outros. Num país que segue escamoteando as dívidas geradas pela escravização das populações negras, podem-se depreender os efeitos das assimetrias no tocante à inserção dos artistas afro-brasileiros nos circuitos hegemônicos. A este quadro procura responder a exposição PretAtitude: insurgências, emergências e afirmações na arte contemporânea afro-brasileira. Para surtir efeito, a defesa da diversidade étnicoracial-cultural deve transpor a linha do discurso, comprometendo-se com suas premências concretas. Ciente do seu papel viabilizador e validador das manifestações artísticas em sua multiplicidade, o Sesc busca contribuir para o processo, já em curso, de visibilização e afirmação da potência da produção artística afro-brasileira.

Danilo Santos de Miranda Diretor do Sesc São Paulo

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CONSTATANDO A EMERGÊNCIA: ARTE CONTEMPORÂNEA AFRO-BRASILEIRA

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As exposições de arte atendem a múltiplos propósitos e a elas estão agregados valores e qualidades que traduzem, em hipótese, as também variadas funções das obras que exibem. As particularidades das sociedades que promovem as exposições estarão também mais ou menos evidenciadas nessas exposições. No SESC da cidade de São José do Rio Preto, importante polo comercial e industrial situado no interior do Estado de São Paulo, a exposição “PretAtitude: Emergências, Insurgências e Afirmações” cumpre aquela que será a quinta etapa numa série talvez inédita de itinerância, que teve início em fevereiro de 2018 na cidade de Ribeirão Preto, no interior do mesmo Estado de São Paulo. Além disso, a mostra foi posteriormente acolhida respectivamente pelas unidades do SESC em São Carlos, Vila Mariana (na capital do Estado) e Santos, sugerindo que a mostra expressa a necessidade de afirmar a emergência de uma produção negra brasileira insurgente – por insurgente, entendemos o artista que, a despeito das interdições impostas pelo meio onde vive, cria os meios competentes e hábeis para afirmar sua produção. Um cenário sociocultural como o nosso, que se pretenda democrático, plural e tão descolonizado quanto possível, não deve acomodar-se a concepções da arte que tolerem


em suas premissas conceituais o discurso elitista, marcadamente eurocêntrico e heteronormativo, classista, machista e, portanto, misógino, racista e por tudo isso excludente. Não se observa na recente história da arte do país uma atenção como esta que atualmente recebe a produção artística afro-brasileira. E essa projeção é o evidente e exitoso resultado das lutas que precederam esse momento. Lutas que foram (e são) empreendidas por uma resiliente coletividade de artistas, pesquisadores, curadores independentes, de instituições públicas e privadas e também por adictos colecionadores. É impossível contornar o fato de que o atual interesse repercute também a pugna de movimentos sociais organizados principalmente pela aguerrida militância negra e indígena – mas também branca – contra o racismo, na defesa da democracia, que questiona hegemonia e pleiteia pluralidade cultural. A exposição “PretAtitude: Emergências, Insurgências e Afirmações” recebeu do SESC um tratamento coerente com a posição de vanguarda que esta instituição ocupa no cenário sociocultural brasileiro, adequado às ações de afirmativa valorização das produções materiais e imateriais da população afro-brasileira e indígena que a entidade vem promovendo. Isso tem permitido à curadoria da mostra o aprofundamento da pesquisa até aqui empreendida, levando ao público uma

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cada vez mais generosa exibição das competências e habilidades desse elenco de artistas afro-brasileiros, de modo a expressar mais enfaticamente a realidade incontornável da arte afro-brasileira e dos artistas que, a despeito das condições e ambientes às vezes adversos, apresentam produções de grande densidade poética e excelentes arranjos conceituais.

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O elenco representado por Aline Motta, André Ricardo, Betto Souza, Eneida Sanches, Eric Martinelli, Janaína Barros, Juliana dos Santos, Laércio, Lídia Lisboa, Luiz 83, Marcelo D’Salete, Márcio Marianno, No Martins, Peter de Brito, Rosana Paulino, Santidio Pereira, Sérgio Adriano, Sidney Amaral, Wagner Celestino e Washington Silveira segue afirmando valores, prospectando memórias, revelando e resgatando identidades e ancestralidades, projetando futuros e – por que não dizer – alimentando a autoestima de parte daqueles que porventura tomarem contato com essa exposição.

Claudinei Roberto da Silva Curador


Artistas Dispondo as obras em relação à exposição de arte arrisca-se, eventualmente, a destacar nos distintos projetos ali exibidos, os sutis pontos de contato que porventura possam existir. Essa disposição de obras pode, por outro lado, realçar a heterogeneidade desse conjunto de realizações exibindo, desse modo, suas inevitáveis singularidades e distinções fundamentais. Em qualquer dos casos a complexidade da narrativa polifônica ensejada pelo coletivo das obras pretenderá aprofundar o grau de conhecimento sobre o fenômeno em que se detém, neste caso, a arte afro-brasileira contemporânea. As obras são os vetores do conhecimento posteriormente mediado. História, identidade, memória, questões étnicas, de sexo, gênero e raciais projetam preocupações às vezes tangentes na construção dos vários percursos poéticos apresentados na mostra “PretAtitude”.

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ALINE MOTTA

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É formada em Comunicação Social pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, pós-graduada em Cinema pela The New School University Nova York, nasceu em Niterói, Rio de Janeiro, atualmente vive e trabalha em São Paulo. Como é comum a outros artistas presentes à mostra, é também da matéria da memória que se ocupa Aline Motta. Na obra instalação “Escravos de Jó” a antiga brincadeira/ canção é invocada em chave poética para revelar dela seus elementos velados e surpreendentes. A partir da proposição realizada pela artista a singela canção fornece elementos que, ressignificados, organizam arranjos que evocando a poesia concreta comentam com ludicidade ácida o escravismo. É essa espessura poética amalgamada a soluções formais que combinam técnicas e práticas diferentes que garantem a potência da proposta, baseada, como de habito nessa artista, em caudalosa pesquisa. Sua obra multifacetada tem recebido o reconhecimento de instituições como IMS-SP, Centro Cultural São Paulo e Instituto Itaú Cultural.


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Escravos de Jó (2016)

Instalação Impressão em papel vegetal


ANDRÉ RICARDO

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Nasceu em 1985 na cidade de São Paulo onde vive e trabalha; graduado pelo Departamento de Artes da Universidade de São Paulo, dedica seu cotidiano a prática da pintura, do desenho e da gravura além de lecionar pintura em diversas instituições. A despeito de sua juventude, sua caudalosa produção tem se desdobrado em mais de uma direção, em todas elas fica evidente o apuro técnico e a busca das melhores soluções formais. Na sua pesquisa um “olhar pedestre” para a paisagem urbana conforma uma concepção de espaço que elabora essa perspectiva em delicadas e potentes pinturas apresentadas em chave concretista. Assim como Luiz 83, também presente a essa mostra, ele é um dos jovens artistas afro-brasileiros que contemporaneamente participam de uma estética derivada de um “concretismo sincrético” e sofisticado legado por artistas como Rubem Valentim, Almandrade e Emanoel Araújo. Na série de pinturas “Campo Limpo” Ricardo explora a paisagem de um bairro da periferia de São Paulo, com acuidade e economia de recursos o artista borra a fronteira entre abstrato e figurativo evidenciando nessas pequenas composições a qualidade pictórica. Sua obra gráfica, expressa em desenhos e gravuras, apresenta um relato sensível da sua pesquisa filtrada por denso sentido poético e solidário.


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SĂŠrie Campo Limpo (2017)

31,2 x 39 cm CaseĂ­na e aquarela sobre papel


BETTO SOUZA

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É natural de São Paulo cidade onde nasceu em 1990, viveu sua adolescência em Franco da Rocha, periferia dessa capital. Professor, poeta, ativista e artista visual Betto Souza faz do desenho um instrumento pedagógico em favor da emancipação e valorização das “minorias” em geral e da população negra mais especificamente. Desenvolve projetos gráficos de grande lirismo e apuro que estão geralmente contidos em fanzines que o artista produz de maneira artesanal. Desde 2015 mora em Ribeirão Preto, interior do Estado de São Paulo, onde cursa Biblioteconomia e Ciência da Informação pela Universidade de São Paulo, nesta cidade trabalha como educador, inclusive em exposições de arte, e atua ativamente na cena cultural da periferia da cidade. É membro fundador do coletivo artístico literário “Encontrão Poético Francisco Morato” e Slammaster do “Slam da Cana” em Ribeirão Preto – SP.


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Cardume (2018)

30 x 20 cm ImpressĂŁo


ERICK “CK” MARTINELLI

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CK Martinelli – como é conhecido o artista Erick Martinelli – nasceu em 1987 em São Paulo, capital, onde vive e trabalha, privilegiando nas suas especulações de caráter estético a linguagem da fotografia e seus desdobramentos. Artista autodidata, Martinelli inicia-se como fotógrafo de paisagens, valendo-se para isso de meios digitais. Aos poucos, expande sua pesquisa para o vídeo, a xilogravura e a pintura. O artista acredita que a fotografia é uma ferramenta não apenas para fruição estética, mas de documentação da realidade, que sensibiliza e ao mesmo tempo informa. Trabalhando como montador de exposições, ele tem a oportunidade de tomar contato direto com artistas e obras, fato que contribui na construção do seu repertório teórico e sensível. Não raro, Martinelli faz uso inusitado das imagens que capta, imprimindo-as em suportes variados, uma operação que cria ou aprofunda o sentido original da imagem. Essa estratégia foi empregada no trabalho exibido nesta exposição, onde imagens de escravizados estão associadas à pintura com folhas de ouro e veladas por suporte tridimensional.


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O silêncio vale ouro

180 x 82 x 82 cm Foto-instalação


ENEIDA SANCHES

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Nasceu em 1962, em Salvador na Bahia, artista polivalente Eneida explora na sua pesquisa as múltiplas dimensões da gravura e diferentemente dos demais artistas constantes dessa mostra, o trabalho de Sanches está perpassado por informações que são derivadas de uma sensibilidade afro-religiosa. A delicada e laboriosa elaboração das matrizes que resultam nas suas estampas, denuncia sua formação de ourives, herdeira de uma rica (e ainda pouco estudada) tradição de profissionais que confeccionaram as jóias de Axé, os “Ferros de Santo”, as “jóias de crioula” e outros adornos de corpo que fazem enfim a grandeza da joalheria afro-brasileira que tem sua raiz mais remota na África ancestral. Esta dimensão sacra do trabalho de Eneida não é porem, a única na sua gravura, as matrizes que são recortadas e tratadas, podem assumir papeis menos convencionais, assim como as estampas podem ser o vetor de novos arranjos, inclusive tridimensionais.


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Matriz e gravura (2004)

DimensĂľes variĂĄveis Matriz em cobre e gravura sobre metal


JANAINA BARROS

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Nasceu em São Paulo em 1979, é doutora em artes pelo Instituto de Artes da UNESP, instituição em que também se graduou. Assim como outras artistas também presentes a esta exposição, Janaina Barros faz da memória, da história e dos afetos da mulher negra, a matéria para a realização de sua obra. Em desenhos, colagens e bordados Janaina vai realizando uma espécie de prospecção de “retalhos” que são costurados no grande painel que reconstitui cotidianos, e apresentam histórias antes silenciadas, histórias que remontam a fazeres desprezados, por femininos e domésticos, que são, no entanto, indicies inestimáveis a fundação de uma história que agrega em suas narrativas, tradições que pautaram, para o bem e para o mal, toda uma cultura, não apenas denunciando a subserviência forçada da mulher na sociedade machista, mas também iluminando o estoicismo e a resiliência daquelas que fizeram uso dessas técnicas. Há nessas proposições uma discussão sobre o corpo especifico da mulher negra e as projeções e expectativas nele lançadas, são trabalhos de caráter marcadamente emotivos que não descuidam das soluções formais apropriadas.


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Psicanálise do cafuné: sobre remendos, afetos e territórios (2016) 56,1 x 41,2 cm Grafite e colagem sobre papel


JULIANA DOS SANTOS

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É o nome artístico de Juliana Oliveira Gonçalves dos Santos, nasceu em 1983 na cidade de São Paulo onde vive e trabalha, é arte-educadora e doutoranda em Artes Visuais pelo Instituto de Artes da UNESP, a artista elabora á partir de diferentes linguagens seu projeto estético-politico que investiga questões de gênero e raça, artista não raramente, extrapola estes temas avançando em especulações de caráter lírico-formais que flertam, ás vezes, com a abstração. Na performance “Qual é o pente?” registrada em vídeo e em exibição nesta mostra, Juliana submete-se a uma quase “torturante” sessão de alisamento de cabelos, ação que neste caso, é significativamente levada a cabo por sua própria avó. Essa “singela” operação, repleta de sentidos, será tanto mais contundente quanto for a capacidade de alteridade de quem a observa, afinal o corpo (e os cabelos) da artista é oferecido como símbolo de toda uma considerável parcela da humanidade que se vê na contingência de “aceitar” valores, inclusive estéticos, que lhes são arbitrária e violentamente impostos, violências naturalizadas por outras violências numa cadeia perversa que arruína memória, subjetividade e história.


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Qual é o Pente (2016) 15’57” Vídeo


LAÉRCIO

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Nascido em 1939 na cidade de Piracicaba interior do Estado de São Paulo onde vive e trabalha, “seu” Laércio é um artista de difícil classificação, e chamá-lo de artista já é tomar um partido que problematiza a discussão em torno desse termo. Laércio é um demiurgo criador de fantasias, muitas delas inspiradas na realidade. Ele é um construtor de bonecos, sem ser exatamente um “bonequeiro”, é também um “fazedor” de brinquedos, objetos, máscaras, instrumentos e geringonças de uso impreciso. Atuando sobre os materiais mais diversos, geralmente refugos e recolhidos na natureza, ele vai descobrindo e alterando a qualidade das matérias, atuando sobre elas vai criando e recriando um universo de sonho e às vezes de pesadelo. A “Roda de Capoeira” presente na exposição é simbólica das qualidades desse artista, que precipitadamente chamaríamos de “ingênuo” ou “Naïf”, mas que é, a seu modo muito particular, tão sofisticado no trato com a matéria do seu trabalho quanto são quaisquer dos artistas presentes a PretAtitude. Laércio alude a Festa, ao folguedo e ao jogo lúdico, vitais à manutenção da nossa subjetividade e identidade de grupo.


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Roda de Capoeira (s/d)

80 x 70 x 30 cm Material de reuso


LIDIA LISBOA

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Nascida em 1977 em Guaíra, no Paraná, tem elaborado no seu trabalho de múltiplas facetas a sua experiência de mulher, mulher negra atenta à própria história e à história de outras mulheres, suas iguais. Nas tramas que a artista cria estão entretecidas várias narrativas que, de maneira imanente, apresentam uma ideia de corpo poético que é também político, sensual e martirizado. São artefatos realizados em tecidos de origens diversas que, na sua confecção, acabam por configurar uma espécie de moto perpétuo, cujo motor é a própria artista que reelabora e ressignifica esses materiais em proposições que parecem encubar a seguinte numa linha contínua que imaginamos, contida somente, talvez, pela extinção da própria artista. É interessante considerar o quanto daqueles fazeres manuais apreendidos na infância, na observação do cotidiano proletário, humilde e doméstico (nem sempre paziguado, pacífico ou idílico) estão presentes no trabalho dessa e de outras artistas afro-brasileiras, que realizam em chave sensível operações de grande espessura poética, e que denunciam, por exemplo, as violências que historicamente contra elas é perpetrada.


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Colares de botões (s/d)

Dimensões variáveis Técnica mista


LUIZ 83

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Nasceu em 1983 na periferia da cidade de São Paulo, dado biográfico que será importante na trajetória deste singular artista. Seria o trabalho de Luiz 83 a consequência inevitável do encontro entre o saber, que dizemos acadêmico, e aquele advindo das ruas? De todo modo sua trajetória confirma a uma inventividade que restrições de ordem material não puderam conter. Ele executa, com desenvoltura e inteligência, o translado dos signos plásticos que são resultado de sua prática (marginal) de “pichador” (não grafiteiro), para os planos da pintura, do desenho e da escultura de ateliê e o faz sem, no entanto, domesticar sua orientação original e sensibilidade transgressiva. Luiz 83 é um observador da cena artística contemporânea que ele conhece e contempla à partir do mirante que ocupa como profissional dedicado a “montagem” de exposições, suas escolas são, portanto, a rua e o trabalho, disso resultando esses desenhos, pinturas e esculturas que dialogam tranquilamente com um Weissmann ou um Amilcar ao mesmo tempo em que sugerem a adesão a uma permanente e específica vertente concreta da arte afro brasileira e afro atlântica.


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Sem tĂ­tulo (2015)

8,5 x 9,5 x 13 cm Escultura em bronze


MARCELO D’SALETE

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Nasceu em 1979 em São Paulo, mestre em história da arte pela Universidade de São Paulo, D’Salete é professor e um artista internacionalmente reconhecido, foi agraciado em 2018 com os importantes prêmios “Eisner Award” e “Jabuti”. Particularmente dedicado ao universo gráfico das novelas e histórias em quadrinhos, sempre em busca de soluções formais que atendam a densidade poética das proposições, que fazem dele um dos nomes de referência de uma nova geração de desenhistas nacionais. “Cumbe” e “Angola Janga”, seus mais recentes trabalhos, são resultado de minuciosa pesquisa sobre o passado de lutas dos africanos escravizados e seus desdobramentos entre nós brasileiros, afrodescendentes ou não. Aliados a outras narrativas como “Noite Luz” e “Encruzilhada” que contemplam os dias atuais, essas novelas gráficas tem tido a capacidade de iluminar nossa história, alcançando públicos que de outro modo talvez não tivessem contato com essa realidade. Marcelo D’Salete está presente na exposição, pelo tanto que seu trabalho nos diz de uma competência que foi as vezes negada preconceituosamente a esses artistas que, lidando com uma mídia de massa, como as HQs, logram elevá-las a um patamar poético inédito, sem com isso negar a qualidade característica a essa comunicação direta que o quadrinho logra alcançar com seu público.


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Angola Janga (2017)

44 x 32,3 cm Grafite e nanquim sobre o papel


MARCIO MARIANNO

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Nasceu em 1978 em Santo André município de São Paulo, é artista visual e educador, profissão que ele compartilha com alguns dos artistas da exposição. Sua pintura, de caráter naturalista, tem em comum com outros artistas desse elenco narrativas que consagram o protagonismo da pessoa negra a partir de sua própria imagem, em autorretratos que criam ficções, projeções poéticas a partir das quais, o particular se arroja à condição de universal. Assim como Luiz 83 sua formação não é devedora dos saberes derivados do ensino artístico formal, mas partilha e participa da tradição de pintores negros que, desde pelo menos o sec. XIX, realizaram projetos de consistente cabedal a partir de premissas não convencionais e não raro, adversas. A pintura de Marianno denota o gosto pelo uso da tinta a óleo, material exigente que ele investiga em suportes diversos nas suas potencialidades com a paciência de profissional dedicado.


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O regador (2017)

50 x 70 cm Ă“leo sobre tela


NO MARTINS

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Da Zona Leste na periferia da cidade de São Paulo onde o artista nasceu em 1987, até o reconhecimento internacional o multi-artista No Martins, vem, com competência incontestável e a paciência tão necessária aos criadores afrodescendentes, construindo um sólido percurso nas artes. Na sua formação contou com a orientação dos artistas Rosana Paulino, Kika Levy e Ulysses Boscolo, conhecimentos que absorveu nas oficinas de gravura, pintura e desenho da Oficina Cultural Oswald de Andrade, centro cultural mantido pelo Estado e frequentemente ameaçado de extinção. Como outros artistas da sua geração, afrodescendentes ou não, Martins praticava o grafite, dessa experiência ele captura das ruas seus símbolos, seus espaços, e os padrões gráficos que serão resignificados e sutilmente reelaborados em seus trabalhos, notadamente na pintura caracterizada pela paleta brilhante e pelo poder de síntese. O artista transita com desenvoltura por várias linguagens realizando inclusive performances onde denuncia as violências cometidas contra a população negra à partir de ações públicas de grande impacto e contundência. “Corpo Alvo” vídeo presente nesta mostra é representativo dessa parcela da profícua produção de No Martins.


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Regras do Jogo (2018)

15 x 55 x 55 cm PlĂĄstico e acrĂ­lica sobre madeira


PETER DE BRITO

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Nasceu em 1967 em Gastão Vidigal, interior do Estado de São Paulo, e transferiu-se para a capital onde vive e trabalha. Graduou-se em Artes Plásticas pelo Instituto de Artes da UNESP Universidade Estadual Paulista. Peter de Brito tem elaborado, em suas proposições, questões que problematizam assuntos que, por delicados, nem sempre são apresentados com a sofisticação formal conseguida pelo artista. Temáticas que, no entanto, estão na ordem do dia: gênero, raça, sexo, transexualidade são assuntos que o artista não evita e trata em refinada chave poética. O artista, assim como Sidney Amaral, Washington Silveira e Marcio Marianno, se ocupa da confecção de autorretrato usando, para tanto, uma peculiar técnica por ele mesmo criada. Ele também cria e manipula imagens digitalmente oferecendo-nos um universo em que tensões de ordem política e erótica se apresentam acidamente. Ganhador de vários prêmios em exposições coletivas foi coordenador e organizador da feira de fotografia Captura da Luz (2006 e 2007) em suas três edições. Foi idealizador do projeto A Presença Negra, ação em que afro-brasileiros ocupam galerias e instituições de arte em dias de abertura de exposições.


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Mímese (2015)

25 x 38 cm (cada) Fotografia


ROSANA PAULINO

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Desenhista, gravadora, escultora, curadora, doutora em artes pela Universidade de São Paulo, é também professora que trabalha em São Paulo, cidade onde nasceu em 1967. Recebeu o prêmio “Mario Pedrosa” da Associação Brasileira dos Críticos de Arte como melhor artista visual. Em seu trabalho artístico, Rosana Paulino evidencia uma sensibilidade solidária e militante, atenta a história pretérita, presente e quem sabe futura dos afrodescendentes e mais particularmente da mulher negra. Através de diversas estratégias, seu trabalho afronta o racismo estrutural do Brasil, expondo-o pela ótica da mulher que tem em seu próprio corpo as máculas desse processo, inevitavelmente doloroso. Desse modo, são vários os materiais de que a artista lança mão para compor um denso painel onde são questionados os preconceitos, os padrões de beleza impostos, o feminicídio e a memória silenciada de todo um povo. Sua obra é resultado de formação rigorosa iniciada na oficina de gravura do Departamento de Artes da Universidade de São Paulo, e aprofundada em uma especialização em gravura no London Print Studio. Seu trabalho está presente em instituições de prestígio nacional e internacional.


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Assentamento nĂşmero 3 (2012)

77,3 x 59 cm Litografia sobre papel


SANTÍDIO PEREIRA

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Nasceu em 1996 no povoado de Curral Comprido interior do Estado do Piauí, ainda criança mudase para São Paulo onde se instala com a mãe nas cercanias do CEAGESP. A partir dos oito anos de idade começa a frequentar o Instituto Acaia, organização social sem fins lucrativos que oferece apoio e atividades socioeducativas a crianças, adolescentes e suas famílias. Ali, no Ateliê Acaia, recebe orientação do artista xilogravador Fabricio Lopez e destaca-se nas sessões de desenho e xilogravura. Membro do coletivo XILOCEASA, Santidio tem se estabelecido como artista singular pelos usos que faz das matrizes das suas xilogravuras, criando imagens complexamente compostas pela sobreposição de cores e figuras. Essas imagens carregam algo da força ancestral da gravura popular do Nordeste amalgamadas a outras vertentes modernas e contemporâneas da arte. Em alguns casos as matrizes das xilogravuras constituem-se, elas próprias, obras autônomas que são eloquentes no depoimento que trazem a cerca da força poética que move o artista. Pássaros, flores, plantas, paisagens, gente, são temas tratados em obras que variando muito entre os formatos revelam a relação de afeto que o artista estabelece com esses elementos do seu universo e da sua memória.


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Sem Título (2019)

33,5 x 26,5 cm Linoleogravura


SÉRGIO ADRIANO

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Sérgio Adriano nasceu em 1975 na cidade de Joinville e divide trabalho e residência entre seu Estado natal de Santa Catarina e a capital do Estado de São Paulo. Mestre em filosofia, é também pesquisador e artista que faz uso de variadas linguagens – notadamente a performance – que elaboram narrativas problematizando a condição do negro a partir de um entendimento sobre seu corpo e os lugares por ele ocupados, ao mesmo tempo em que prospecta e oferece uma perspectiva da história do Brasil e do mundo a partir desse território. A pesquisa que realiza sistematicamente fornece ao artista os subsídios necessários ao aprofundamento das operações poéticas, que não dispensam, por exemplo, a fotografia e o vídeo. São, aliás, fragmentos de uma dessas performances que estão presente à mostra na forma de fotografias. Sérgio Adriano apresenta seu corpo provocando tensões de caráter político que estão às vezes veladas, às vezes explicitadas nas operações poéticas que o artista realiza manipulando objetos, fotografando, performando.


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Ordem e Progresso – Direto das Obrigações (2018)

80 x 120 cm Fotografia


SIDNEY AMARAL

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Pintor, desenhista, escultor e professor da rede pública de ensino, nasceu em 1973 na cidade de São Paulo, onde faleceu precocemente em 2017. Comparece à mostra com dois desenhos, até então nunca exibidos, além de esculturas em bronze de grande impacto visual. Sidney Amaral foi graduado em artes pela Fundação Armando Álvares Penteado, onde foi bolsista, como reconhecimento ao seu, já naquele momento, inequívoco talento. Foi o primeiro artista a receber o Prêmio Funarte de Arte Negra, instituído em 2012. Nesses desenhos estão explícitas suas preocupações de ordem política e humanitária, preocupações de cidadão e de homem negro, comprometido com os desígnios de sua gente. São trabalhos que afirmam certo caráter insurgente e rebelde, flertando com o surrealismo, que na sua elaboração, também nos dizem da urgente necessidade de nos questionar mais e atentamente sobre a história dessa parcela importante da população brasileira: os afrodescendentes. Artista de múltiplos recursos seu trabalho foi adquirido por importantes instituições de arte tais como o Museu Afro Brasil, a Pinacoteca do Estado de São Paulo, Instituto Itaú Cultural e o Museu da Solidariedade de Santiago do Chile.


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Aรงoite (2012)

72 x 52 cm Grafite, lรกpis de cor e aquarela sobre papel


WAGNER CELESTINO

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Fotógrafo e documentarista nasceu em 1952 na zona leste da cidade de São Paulo, através do seu trabalho tem realizado um fundamental esforço de preservação da memória de artistas negros inestimáveis à cultura brasileira, são eles a “Velha Guarda” do samba de São Paulo. Estes artistas são (ou foram) mananciais inesgotáveis das histórias de suas comunidades e do gênero musical ao qual se dedicaram, o samba. Trata-se da discussão da memória coletiva, mas inerente à essa pesquisa, está sua qualidade poética explícita na construção da imagem fotográfica, nos enquadramentos sensíveis e rigorosos que espelham o cuidado do artista que perpetra a imagem. Wagner, a convite da ONG APOIO, é o autor da reportagem fotográfica que deu origem ao livro “Cortiços – a realidade que ninguém vê” de 1997, um oportuno sensível e infelizmente ainda atual, documento que registra vida das camadas mais humildes da população da grande metrópole brasileira e que equivale dizer, a história de uma maioria minorizada pelo esquecimento e o preconceito. Seu trabalho consta do acervo do Museu Afro Brasil.


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Bahiana (1977)

60 x 60 cm Fotografia


WASHINGTON SILVERA

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Nasceu em Curitiba, no estado do Paraná, em 1969. Além de artista visual Washington é um reconhecido chefe de cozinha, profissão que contamina sua produção artística. Artistas de uma mesma geração, tem em comum com Sidney Amaral certa influência do surrealismo e o diálogo com correntes conceituais da arte contemporânea sem que, no entanto, seu trabalho se torne hermético, pois existe nele um apelo pop compatível com as suas proposições. Como Amaral, ele é também um artista de múltiplos interesses e recursos que transita com desenvoltura entre mídias variadas, fazendo uso frequente da escultura, da fotografia e da videoarte. Seu trabalho está presente no núcleo de arte contemporânea do Museu Afro Brasil, onde já realizou importante exposição individual.


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Pião Solo, Tentativa de moto contínuo (2016)

39 x 30 x 30 cm Escultura em imbuía e latão


SESC – SERVIÇO SOCIAL DO COMÉRCIO Administração Regional no Estado de São Paulo PRESIDENTE DO CONSELHO REGIONAL Abram Szajman DIRETOR DO DEPARTAMENTO REGIONAL Danilo Santos de Miranda SUPERINTENDENTES Técnico-Social Joel Naimayer Padula Comunicação Social Ivan Giannini Administração Luiz Deoclécio Massaro Galina Assessoria Técnica e de Planejamento Sérgio José Battistelli

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GERENTES Artes Visuais e Tecnologia Juliana Braga de Mattos Estudos e Desenvolvimento Marta Raquel Colabone Artes Gráficas Hélcio Magalhães Sesc Rio Preto Sebastião Martins


PRETATITUDE Curadoria Claudinei Roberto da Silva Equipe Sesc Adriano Alves, Arlindo Aparecido Sanches Stábile, Camila Barbosa Granado, Carolina Barmell, Danilo Simonetti Beltrame, Denis Salzano, Elisa Arroyo Hassem Mancine, Ivan Franco dos Santos, Jeff Santanielo, Leonardo Borges, Marcia Cristina Xavier, Pedro Henrique Horta de Oliveira, Renata Zanin Covizi, Suellen Barbosa, Thais Franco, Vilmar Calejan Sanches, Willian Oliveira Produção Cristiane Santos e Regiane Rykovsky Fotos João Liberato Vidotto e CK Martinelli (página 19) Expografia Estúdio Risco Projeto Gráfico Cristina Kiminami e Everton Gavino Projeto de Iluminação Danielle Meireles Laudos Técnicos Cristiana de Freitas e Marília Fernandes Montagem Fina Juan Manuel Wissocq, Leandro Araújo e Márcio Rene Antonio Coordenação Educativa Juliana dos Santos Assessoria Educativa Marcio Farias

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Sesc Rio Preto

Rua Francisco das Chagas Oliveira, 1333 CEP 17090-190 - São José do Rio Preto – SP Tel.: +55 17 3216-9300 /sescriopreto sescsp.org.br


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