Livreto - Exposição Genesis de Sebastião Salgado

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GENESIS SEBASTIÃO SALGADO Seleção de obras

Curadoria de

LÉLIA WANICK SALGADO


Genesis é uma jornada em busca do planeta como existiu, desde sua formação e em sua evolução, antes que a vida moderna se acelerasse e nos afastasse do núcleo essencial. É uma busca das paisagens terrestres e aquáticas até hoje intocadas; uma viagem em direção aos animais e grupos humanos que conseguiram escapar das transformações impostas pelo mundo contemporâneo. E Genesis comprova que o nosso planeta ainda abriga vastas e remotas regiões onde a natureza reina em imaculada e silenciosa majestade. E estas maravilhas foram encontradas nos círculos polares e em florestas tropicais, em extensas savanas e nos tórridos desertos, em montanhas geladas e ilhas desertas, lugares às vezes excessivamente gélidos ou escaldantes, onde apenas as mais resistentes formas de vida perseveram. Outros recantos tornaram-se lar de animais ou de povos ancestrais cuja sobrevivência depende fundamentalmente do isolamento em que se mantêm. O conjunto forma um esplendoroso mosaico da natureza em toda a sua grandiosidade original. É essa beleza oculta, defendida, protegida que Genesis deseja compartilhar. Fazemos um tributo a esse nosso frágil planeta que temos o dever de proteger. Lélia Wanick Salgado Curadora

Grandes dunas entre Albrg e Tin Merzouga, Tadrart. Sul de Djanet, Argélia. .


TRAZER PARA PERTO: DAR SENTIDO O que acontece quando a lente da câmera capta imagens que são praticamente inacessíveis ao olhar direto do ser humano? Apesar do espalhamento crescente dos indivíduos pelo planeta, há regiões a que pouquíssimos chegam, nas quais imperam ciclos e ritmos distintos da lógica urbana contemporânea. Existem, entretanto, aqueles que, por motivos variados, vão ao encontro dessas realidades – que se tornaram insólitas na medida em que constituem o outro do nosso mundo. A expectativa de encontrar visualidades originais é um desses motivos de peregrinação na direção do “quase nunca visto”. Mas, em tempos de proliferação de fotógrafos (todos nós somos, não?), vale indagar o que qualifica um olhar fotográfico, diferenciando-o dos demais. Quando o olhar em questão desdenha rotas conhecidas para se embrenhar por ecossistemas incomuns, a indagação ganha peso. Afinal, é através desse ponto de vista que públicos mais amplos poderão, num segundo momento, vislumbrar aquelas paisagens que milhares de quilômetros distanciam. As lentes de Sebastião Salgado testemunharam, ao longo das últimas décadas, facetas tão preciosas quando desconhecidas do mundo. E o mundo, por meio de suas fotografias, pôde refletir sobre essas facetas, até então veladas. Isso é especialmente verdade no caso de Genesis, exposição que reúne imagens captadas, de  a , em regiões que permanecem alheias à velocidade vertiginosa das mudanças implementadas pelo homem. Assim como ocorreu nas séries Trabalhadores e Êxodos, Salgado envolve-se num empreendimento de escala global. A diferença reside no protagonismo dado ao sistema de forças da natureza, no qual vez ou outra aparece o ser humano, em estado de comunhão. Distâncias superlativas, inexistência de meios convencionais de transporte,

condições extremas de temperatura, altitude e umidade: os quesitos que nos afastam desses contextos transparecem nas fotografias, metamorfoseados em expressivas gradações de preto e branco. A potência deste trabalho do fotógrafo reside na intersecção entre política, geografia e estética. Há, inscrita nas imagens aqui reunidas – qual alerta –, a incômoda presença daquilo que elas não figuram: o desequilíbrio que rege as relações entre homem e ambiente na maior parte do globo. O que contemplamos nessas sofisticadas composições é o que conseguiu fugir à regra, ao menos por enquanto. Para o Sesc, realizar a exposição Genesis: Sebastião Salgado – Seleção de Obras é, antes de tudo, um posicionamento de ordem cultural. Isso porque as fotografias expostas, ao mesmo tempo em que representam algo que está longe, apresentam-se em sua vigorosa autonomia artística, sem a qual naufragariam nas duas frentes: não seriam capazes de presentificar nossos dilemas ambientais caso abdicassem de nos sensibilizar. Nada mais distante do que se pode observar nesta exposição. A itinerância reverbera este impacto quando se aproxima de outros públicos, reduzindo ainda outras distâncias. Ao ampliar a difusão de manifestações artísticas elaboradas a partir de impasses cruciais da contemporaneidade, o Sesc reafirma a cultura como campo de forças, no qual se age na medida da ética e da lucidez. Danilo Santos de Miranda Diretor Regional do Sesc São Paulo


PLANETA SUL Da Antártica, surgem as paisagens congeladas e seus destemidos animais, como pinguins, leões marinhos e baleias, fotografados inclusive em suas zonas de reprodução na Península Valdés. Também estão nessa seção imagens do Sul da Georgia, as Falklands/ Malvinas, o arquipélago Diego Ramirez e as Ilhas Sandwich, onde vivem as numerosas espécies de albatrozes, petréis-gigantes, cormorões e pinguins.

Baleias-franca-austrais (Eubalaena australis ), atraídas para Península Valdés devido a proteção formada por seus dois golfos, o Golfo San José e o Golfo Nuevo, frequentemente nadam com suas caudas à superfície d’água. Península Valdés. Argentina. .

Pinguins-de-barbicha (Pygoscelis antarctica) sobre icebergs localizados entre as ilhas Zavodovski e Visokoi. Ilhas Sandwich do Sul. .


SANTUÁRIOS Abrindo com as singularíssimas paisagens vulcânicas e a fauna das Ilhas Galápagos, a seção engloba ainda as populações anciãs da Nova Guiné e Irian Jaya, os Mentawai da Ilha Siberut, nos arredores da província de Sumatra, na Indonésia, e paisagens, vida selvagem e vegetação dos diferentes ecossistemas de Madagascar.

Artistas do festival sing-sing de Mount Hagen. Planalto Ocidental. Papua Nova Guiné. .

Árvores baobá (Adansonia rubrostipa ) numa ‘ilha cogumelo’ na baía de Moramba. Madagascar. .


ÁFRICA Uma impressionante variedade de imagens do continente apresenta tanto a extraordinária vida selvagem do Delta de Okavango, na Botswana, quanto os gorilas do Parque Virunga, na divisa de Ruanda, Congo e Uganda; do grupo Himba, da Namíbia, e dos tribais Dinkas do Sudão, à população do Deserto Kalahari em Botswana; das tribos do Omo Sul, na Etiópia, às antigas comunidades cristãs do Norte da

Mulheres das tribos mursi e surma são as últimas do mundo a usarem discos nos lábios. Dargui, povoação mursi no Parque Nacional de Mago, perto de Jinka. Etiópia. .

Etiópia. Na África, revelam-se espetaculares – e numerosos – desertos, com suas texturas de areia e pedra; alguns são planos, como oceanos, outros estão interrompidos por montanhas áridas. Em algumas imagens capturadas na Líbia e na Algéria, vêem-se sinais de vida: não somente os cactos e roedores mas igualmente na arte rupestre datada de milhares de anos.

Perseguidos por caçadores furtivos na Zâmbia, os elefantes (Loxodonta africana ) temem humanos e veículos e geralmente fogem em direção do mato. Parque Nacional do Kafue, Zâmbia. .


TERRAS DO NORTE Mostra as visões do Alasca e do Colorado, nos Estados Unidos; as paisagens naturais do Parque Nacional Kluane, no Canadá; estão aqui também o extremo Norte da Rússia, incluindo o local de reprodução do urso polar na ilha Wrangel, a população indígena Nenet, no Norte da Sibéria, e a península Kamchatka, na ponta mais oriental do país.

O Grand Canyon a partir da Floresta Nacional, Arizona. O grande planalto no extremo do desfiladeiro (canyon ) está em território navajo. Esta fotografia foi tirada durante uma nevasca local. Utah. EUA. .

Os trenós maiores são conduzidos por mulheres. Os homens conduzem trenós menores para se deslocarem mais rapidamente: é tarefa deles reagrupar o rebanho todas as manhãs e conduzir as renas na mesma direção ao longo do dia. Península de Yamal. Sibéria. Rússia. .


AMAZÔNIA E PANTANAL A enorme floresta tropical, vista do céu, é cortada pelo rio Amazonas e seus afluentes – e o desenho lembra uma gigantesca árvore da vida, com braços e mãos se estendendo do coração do Brasil em direção aos países vizinhos. Seguindo para o Norte para capturar os Tepuis Venezuelanos, as mais antigas formações geológicas na terra, a seção inclui ainda as imagens da vida selvagem do Pantanal no Mato Grosso, da tribo indígena Zo’e, alcançada pela primeira vez há apenas duas décadas, assim como as tribos mais assimiladas do alto Rio Xingu.

Tipicamente, as mulheres da povoação zo’é Towari Ypy usam urucum (Bixa orellana ), fruto vermelho do urucueiro, para colorir seus corpo. Também utilizam para cozinhar. Pará, Brasil. .

O Pantanal, uma das maiores planícies inundáveis do mundo, que abrange uma extensa área do oeste brasileiro até o Paraguai e Bolívia, abriga cerca de dez milhões de jacarés-do-pantanal (Caiman yacare ). Mato Grosso do Sul, Brasil. .


Além de trazer aos olhos do público a beleza de povos isolados e paisagens grandiosas, Genesis representa uma convocação para uma luta. O fato é que não podemos continuar poluindo nosso solo, nossa água e o ar. Precisamos agir de imediato para preservar terras e águas ainda intocadas, e para proteger o ambiente-santuário de animais e povos ancestrais. E devemos ir além. Devemos tentar reverter os danos. Nossa modesta contribuição foi a de reflorestar um terreno na região sudeste do Brasil. Nos últimos  anos, o Instituto Terra – nossa organização sem fins lucrativos – plantou cerca de dois milhões de árvores, de mais de  diferentes espécies que já floresceram por lá. O resultado: encostas esgotadas e áridas ganharam vegetação exuberante. O renascimento deste microclima tropical atraiu, por sua vez, pássaros e animais que não eram vistos naquela área há décadas. O reflorestamento é uma das maneiras de recuperar o tempo perdido e o prejuízo causado. Árvores ainda desempenham o papel central na neutralização das emissões de dióxido de carbono responsáveis pelas alterações climáticas, como o aquecimento global. Leis e governos devem tentar controlar estas emissões, mas somente as árvores conseguem absorver o dióxido de carbono e produzir oxigênio. Cada árvore plantada alivia um pouquinho nossas preocupações a respeito do futuro do planeta. Lélia Wanick Salgado e Sebastião Salgado

Devemos a nossa gratidão à empresa brasileira Vale. Fundada na década de 1940, esta empresa tem sido uma parte central da vida da região onde ambos nascemos e crescemos. Quando criamos o Instituto Terra, a Vale desempenhou um papel muito importante fornecendo mudas para o programa de reflorestamento, assim como outras ajudas oportunas. E continuou a apoiar o Instituto Terra desde então, tendo mais recentemente trabalhado conosco na recuperação de centenas de nascentes de água na Bacia Hidrográfica do Rio Doce. Com esta relação próxima, nos voltamos para a Vale quando parte dos nossos parceiros editoriais já não podiam apoiar o projeto Genesis, e a empresa respondeu novamente com entusiasmo. Sem essa participação, nosso projeto não poderia ter sido concluído como fora planejado. Sebastião Salgado e Lélia Wanick Salgado

Para a realização das viagens fotográficas, também recebemos apoio de Susie Tompkins Buell, do Fundo Christensen, do Fundo Wallace Global e da Companhia Siderúrgica de Tubarão, atual ArcelorMittal Tubarão.


SESC – SERVIÇO SOCIAL DO COMÉRCIO Administração Regional no Estado de São Paulo PRESIDENTE DO CONSELHO REGIONAL Abram Szajman DIRETOR DO DEPARTAMENTO REGIONAL Danilo Santos de Miranda SUPERINTENDÊNCIAS Técnico-Social Joel Naimayer Padula Comunicação Social Ivan Giannini Administração Luiz Deoclécio Massaro Galina Assessoria Técnica e de Planejamento Sérgio José Battistelli GERÊNCIAS Artes Visuais e Tecnologia Juliana Braga Adjunta Nilva Luz Assistentes Juliana Okuda Campaneli e Kelly Teixeira Artes Gráficas Hélcio Magalhães Adjunta Karina Musumeci Assistente Rogerio Ianelli Contratações e Logística Jackson Andrade de Mattos Adjunta Adriana Mathias Estudos e Desenvolvimento Marta Colabone Adjunto Iã Paulo Ribeiro Licitações Márcia Mitter Adjunto Paulo Cesar dos Santos Patrimônio e Serviços Jair Moreira da Silva Junior Adjunto Nelson Soares da Fonseca Araraquara Daniel Eiji Hanai Adjunto Rafael Barcot Tintor Bauru Celina Kunie Tamashiro Adjunto Jorge Luís Moreira Campinas Hideki M. Yoshimoto Adjunta Ilona Hertel Piracicaba Fabio José Rodrigues Lopes Adjunto Renato Oliani Santos Luiz Ernesto Alvarez Figueiredo Adjunta Maracelia Ramos Teixeira São José do Rio Preto Sebastião Eduardo Costa Martins Adjunta Fabíola Gaspar das Dores Taubaté Eliana Ribeiro de Lima Rahal Adjunto Bruno Bolini Tadeucci

GENESIS | SEBASTIÃO SALGADO – SELEÇÃO DE OBRAS Curadoria e cenografia Lélia Wanick Salgado Equipe Amazonas Images: Edição e produção Françoise Piffard e Marcia Navarro Mariano Assistente de campo Jacques Barthelemy Impressão de cópias Valérie Hue e Olivier Jasmin Expografia ÁlvaroRazuk Assistente de expografia Ricardo Amado Iluminação ÁlvaroRazuk e Wagner Freire Projeto gráfico Cássia Buitoni Assistentes de projeto gráfico Denise Yui e Mariane Klettenhofer Produção Ponto Produção Molduras Aleide Alves As impressões foram feitas em papel Ilford Galerie Prestige Gold Fibre Silk.


A itinerância Genesis: Sebastião Salgado – Seleção de Obras acontecerá em sete unidades do Sesc São Paulo, entre julho de  e julho de .

Sesc Taubaté |  de julho de  a  de novembro de  Avenida Engenheiro Milton de Alvarenga Peixoto, 1264 | tel. 12 3634-4000 Sesc Bauru |  de novembro de  a  de fevereiro de  Avenida Aureliano Cardia, 6-71| tel. 14 3235-1750 Sesc Rio Preto |  de fevereiro de  a  de maio de  Avenida Francisco das Chagas Oliveira, 1333 | tel. 17 3216-9300 Sesc Araraquara |  de junho de  a  de setembro de  Rua Castro Alves, 1315 | tel. 16 3301-7500 Sesc Piracicaba |  de setembro de  a  de janeiro de  Rua Ipiranga, 155 | tel. 19 3437-9292 Sesc Santos |  de janeiro de  a  de abril de  Rua Conselheiro Ribas, 136 | tel. 13 3278-9800 Sesc Campinas |  de maio de  a  de julho de  Rua Dom José I, 270/333 | tel. 19 3737-1500

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