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me Trilha da Memória Queixada


TRABALHAR E MORAR NA FÁBRICA

Para se ter um ideia da importância da fábrica para a região, até o início dos anos 1950 a luz elétrica atendia apenas aos moradores que residiam dentro da fábrica: no dormitório para os operários, nas Vilas Fábrica e Portland, e na Vila Triângulo. Também havia casas grandes e confortáveis para médicos, químicos, engenheiros. As vilas operárias, organizações comuns no início do século passado, tornavam viável a permanência dos funcionários e eram uma maneira de os patrões exercerem controle social sobre eles.

SAIBA MAIS SIQUEIRA, E. et al. O Rio pelos Trilhos: introdução à História de Perus e Cajamar. Caieiras: IPEH Instituto de Pesquisas em Ecologia Humana, 2009. www.teses.usp.br

A PROXIMIDADE DA MINA DE CALCÁRIO

Antes da construção da ferrovia Perus-Pirapora, a Indústria Drysdale y Pease, de Montreal, interessada em construir no Brasil a primeira fábrica de cimento, descobriu em Cajamar, a vinte quilômetros da estação Perus, uma promissora mina de calcário. Dali viria a ser extraída a matéria prima para uma extensa produção de cimento, fundamental para a construção do Brasil. Apenas em seu primeiro ano de funcionamento, 1926, a Fábrica de Cimento Portland Perus produziu treze mil toneladas de produto.

ACERVO NELSON CAMARGO

Uma fábrica de cimento pioneira

entos A FERROVIA

Com a expansão do café no interior de São Paulo e a construção, em 1867, da ferrovia Santos-Jundiaí, da São Paulo Railway, Perus ganhou uma estação de trem que a tirou do isolamento. A partir daí a pequena vila da Freguesia do Ó experimentou certa expansão. Mas foi em 1914, com a instalação da pequena estrada de Ferro Perus-Pirapora, que a vila ganhou importância nacional ao receber as instalações da Fábrica de Cimento Portland Perus. Apesar do nome e da intenção religiosa de sua construção, a ferrovia nunca chegou a Bom Jesus de Pirapora, local de romarias, mas chegou a Cajamar.


FIRMEZA PERMANENTE

O lema da famosa Greve dos Sete Anos foi a Firmeza Permanente. O conceito se alicerçava nos ideais de

SAIBA MAIS MOREIRA, Jéssica; GOULD, Larissa. Queixadas - por trás dos setes anos de greve. São Paulo: Fapcom, 2013. www.movimentofabricaperus. files.wordpress. com/2013/12/livro-queixadas.pdf

A FORÇA DAS MULHERES QUEIXADAS

As mulheres tiveram papel fundamental no sucesso da greve. Com os maridos sem receber salário por tantos anos, elas passaram a trabalhar fora de casa e a sustentar a família. Também cabia a elas organizar a participação das famílias nos piquetes, fazendo uma greve que, além de ser um movimento de trabalhadores, foi um movimento familiar.

ACERVO NELSON CAMARGO

O Movimento Queixada

TRABALHADORES ORGANIZADOS

A Greve dos Sete Anos, que começou em 1962, celebrizou no país todo a luta dos operários da Fábrica de Cimento de Perus, organizados desde 1954 no Sindicato dos Trabalhadores da Indústria do Cimento, Cal e Gesso de São Paulo. Eles já haviam feito, em 1958, uma greve menor, de 46 dias. Os termos de sua reivindicação levaram o movimento a ganhar o respeito da opinião pública: exigiam 40% de aumento salarial, mas aceitariam 30% desde que o patrão se comprometesse a não aumentar o preço do cimento para o consumidor.

resistência pacífica de Martin Luther King e Mahatma Gandhi. Os Queixadas entendiam que sua força deveria vir da união. Eles recebiam apoio dos amigos, da família e da Igreja local. Piquetes, greves de fome e passeatas eram suas formas de reivindicar, entre outros, melhores condições de trabalho e a instalação de filtros nas chaminés para diminuir a poluição, pois os trabalhadores e moradores de Perus sofriam com doenças respiratórias.


O trabalho com a memória hoje

Tekoa Jopo'i, do guarani Tekoa, que significa território, e Jopo'i, que significa solidariedade, ajuda mútua

A LUTA PELO TOMBAMENTO DA FÁBRICA

Após o fechamento da Fábrica de Cimento de Perus, em março de 1987, iniciou-se a luta dos queixadas e seus descendentes pelo tombamento e preservação das instalações. Em 1992, o Conpresp tombou o conjunto. O ato administrativo, mais do que salvaguardar a materialidade da fábrica, significou a preservação de um lugar simbólico de resistência. Desde então o Movimento pela Reapropriação da Fábrica de Cimento de Perus se preocupa com a possibilidade de fruição do lugar e com o destino que será dado a ele.

O MUSEU TERRITORIAL E A AGÊNCIA DE TURISMO DE BASE COMUNITÁRIA

A CRIAÇÃO DE UM NOVO INSTRUMENTO DE PRESERVAÇÃO

As propostas apresentadas durante a elaboração do plano diretor de 2014 pelo Movimento pela Reapropriação da Fábrica de Cimento de Perus, em colaboração com o Núcleo de Estudos da Paisagem da fau-usp e da Iniciativa pelos Territórios Culturais (criada a partir do Movimento Cine Belas Artes), levaram a discussões sobre a criação de uma nova ferramenta de preservação que pudesse reconhecer o conjunto de manifestações culturais de um território. O processo culminou com a criação do instrumento Território de Interesse da Cultura e da Paisagem, o Ticp.

SAIBA MAIS VELLARDI, Ana Cristina Valcarcel. Uma narrativa histórica e geográfica de paisagem da porção noroeste da metrópole de São Paulo: uma contribuição à educação. Dissertação – Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo, São Paulo, 2017. www.teses.usp.br

Após a região ser reconhecida como Ticp Perus-Jaraguá, lideranças locais reunidas na Comunidade Cultural Quilombaque criaram o Museu Aberto Tekoa Jopo'i, a partir do mapeamento de lugares de interesse histórico, ambiental, cultural e afetivo (veja mapa no verso). E como parte do esforço de desenvolvimento sustentável local, fundaram a Agência Queixada de Desenvolvimento Eco Cultural Turístico, que faz trilhas educativas sobre as memórias vivas dos locais mapeados. Além das trilhas, a agência organiza hospedagem comunitária e formação de guias locais que já atenderam visitantes de países como EUA, China e Peru.


Cim ESTE ROTEIRO INTEGRA A PROGRAMAÇÃO VINCULADA AO SEMINÁRIO MEMÓRIA COMO DIREITO, REALIZADO PELO SESC


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