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Sonhadorxs: Alessandra Leão Amanda Sampaio Ana Novi Ana Paula Anderson André Bonami Andrea Barcelos Angela Quinto Anna Theresa Bárbara Esmenia Beatriz Cruz Brenda Carlos Cecília Queiroz César Barcelos Jr. Claudia Tordatto Conde Baltazar Daniel Quintiliano Débora Oelsner Diogo Bueno Erica Maradona Fabi Freier Flavia Bomfim Flavia Tavares Heitor Gabriel Isabela Berto Jeferson Carvalho

Joana Lavôr João Pedro Rosa Karina Brisola Kimberly Oliveira Lili Almendary Marcela Lins Marcus di Bello Maria Isabel Mariana Apolinário Mariana da Mata Marize Moreno Maurício Pokemon Natalia Resegue Nathália Ferreira Nestor Jr. Priscilla Herrerias Rachel Monteiro Rayssa Rita Vênus Sarah Hallelujah Tahuany Bovi Thiago Goya trisRi Vânia Medeiros Victor Verdile Zele Garcia


Classificação indicativa: 14 anos


A oficina Sonhário: Experimentações entre corpo, cidade e o mundo onírico foi um espaço de investigação a partir da observação e do registro dos sonhos. Em 5 semanas, nos debruçamos sobre a criação de sonhários e tivemos encontros por videoconferência aos sábados. Nestes, foram propostos uma série de procedimentos criativos inspirados nos cadernos da semana, que eram previamente enviados para nós. Escritos e imagens de criadorxs como Ailton Krenak, Akira Kurosawa, David Lynch, Grete Stern, Kaká Werá Jecupé, Klauss Vianna, Luchita Hurtado, Sandra Vásquez de la Horra, Sidarta Ribeiro e Ursula Le Guin entraram em sinergia com o que foi sonhado por nós nesse fragmento de tempo. Experimentamos também criar narrativas oníricas juntxs, durante a vigília, buscando apreender acordadxs o gesto de tecer situações que nos surpreendem e ensinam, como fazemos quando sonhamos. Sonhar, lembrar e relatar - mantra ensinado por Sidarta - se confirmou como uma prática potente de reflexão sobre si e sobre mundos possíveis, além de uma maneira de desenvolver um tipo de escuta profunda e íntima entre xs membros de um grupo. Este zine traz uma parte da nossa produção e busca ser um convite à criação de sonhários e espaços de partilha a quem se aventurar por essas páginas. Preferimos manter a grafia original dos textos dos sonhários, portanto, serão encontradas algumas divergências em relação à norma gramatical da língua portuguesa quanto à acentuação e a pontuação.

Beatriz Cruz e Vânia Medeiros

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Sonhei que minha amiga escondia um segredo numa mistura de concreto. E que seu namorado revelava que tinha atropelado uma menina, mas que o juiz tinha o inocentado.

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Havia uma criança e alguém a jogava para o alto, mas era brincadeira. E ela voava – mas em vez de diminuir, ia ficando maior e maior e maior, como se eu a enxergasse por cima. Ela desmaiou e mostrou a linguinha – não foi nem era pra ser trágico. Todos rimos. Isso tudo parecia um filme. Assisti tudo em 3ª pessoa. As cores, extremamente vívidas, de um campo gramado completamente liso e um céu azul. Os sons eram predominantemente as risadas dessa criança, mas era tudo bem abafado, praticamente não se ouvia nada – os sons eram sentidos, o processamento se diferenciava. No fim não sei onde ela foi parar, a câmera mudou de posição.

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Estava em Buenos Aires de férias com Júlia e íamo nhar pedíamos papas fritas. Chegava a cerveja com arretava porque não era isso que ela tinha pedido. E amiga – Dany, mas que, às vezes, era Rita. Bebíamo um problema porque Dany/Rita só queria pagar 4 pe consumido era mais do que isso. Nos despedíamos e Tinha que chegar em casa e me organizar para viaja casa que eu tinha reservado só para mim num local q trava na casa, me organizava, colocava minhas coisa quartos) e saía para praia. Quando voltava, a casa e deveriam estar ali. Tinha muita gente junta, tentava era. Tinha um cara moreno (tipo moreno, alto, boni que parecia ser esse responsável, mas ele nunca ass que ir embora. Como ninguém fazia nada, resolvia b fazer uma reclamação. Enquanto mexia no celular, c soas da casa. Tentava me esconder, mas os Orcs est Nessa hora eles já tinham matado todos e me pegav les). Antes de partir, eles resolviam comer e o pessoa eu sabia que os Orcs só iam me alimentar com sangu eu pegava escondida da mesa, nos bolsos da saia bra

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os beber num botequim uma cerveja, para acompaum prato de couve-flor e cenoura cozidos. Júlia se Ela ia embora e eu ficava, pois tinha encontrado uma os cerveja juntas e, no final, íamos pagar, mas dava esos, só que, aparentemente, o valor do que ela tinha e eu ia pegar o busão – era tarde da noite e chovia. ar no dia seguinte. Chegava no meu destino, era uma que era a mistura de Japaratinga com La Serena. Enas no quarto maior (era uma casa enorme com vários estava cheia de gente. Tentava explicar que eles não a falar com o responsável, mas ninguém dizia quem ito e sensual com duas pitadas de novela mexicana) sumia isso. Eu ficava o tempo todo que eles tinham baixar o app do airbnb para acessar minha reserva e chegavam uns Orcs que matavam quase todas as pestavam me procurando e acabavam me encontrando. vam como prisioneira (iam me levar para o chefe deal do Casseta e Planeta comia junto com eles. Como ue no caminho, escondia dois filés de peixe fritos, que anca que estava usando.

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estou em pé num barco em alto mar, o barco ao mesmo uma beliche talvez, quarto que ao mesmo tempo é o a muito tempo com o barco sobre o mar agitado selvagem suicida, continuo em pé em cima da cama, olhando pr se minha cabeça estivesse na altura de uma ave que v a distância, lá embaixo. meu olhar está a uns 2km de a barão branco que vem subindo do fundo daquelas águ abocanha alícia, na verdade é como se ela tivesse se jo moedinhas na água. fico estupefata, converso com bian po inteiro na boca de um tubarão/baleia tão gigante. d morrer, sinto que eu serei a próxima a ser engolida, é imagino o corpo de alícia no meio da garganta vermel ria o animal” eu penso e vou sentindo o meu corpo en tubarão surge nas águas e sinto seus dentes arranhare volta da boca do tubarão, está no barco conosco novam um remix de britney spears, pergunto “nossa, como vo dentro da boca do tubarão” aí eu respondo afirmativa da. sinto o barco/cama sob meus pés que agora é como prevejo um tubarão vindo lá de baixo vindo me abocan sonho inteiro, a iminência da morte. há muitos tubarõe todo fora da água, o clima é de tensão mas aprendemos que se deita sobre o barco, ele é um jacaré, ele quer com caixa azul de espaguete barilla. eu seguro ele como en agarro as mãos duas pontas e giro giro giro muito, emb

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o tempo é uma cama, um quarto pequeno, duas camas, alto mar. bianca e alicia estão comigo. lidamos muito m, queremos sobreviver. alícia se joga na água num ato ra baixo, observo alicia mergulhando no mar e é como voa muito alto por cima das águas, vejo alícia pulando altura. água de azul escuro vivo e límpido, vejo um tuas, ele agora tem um bico de peixe espada gigante. ele ogado justamente na boca desse peixe gigante. jogamos nca sobre como deve ter sido pra alícia entrar com cordescer inteira. fico imaginando várias possibilidades de uma certeza, preciso lidar com isso, não temos saída. lha, “ela nem pode se debater, porque assim machucantrar também guela abaixo do peixe. pavor. um outro em a minha perna. quase que morro agora. mas alícia mente, ela volta cantarolando ou tocando uma música, ocê teve tempo de fazer essa música?” ela responde “fiz “bem que eu imaginei mesmo”. continuamos sem saíum plástico, um papel muito fino, uma sacola flexível. nhar com tudo, é essa a sensação que me acompanha o es na água que mostram suas cabeças e dentes o tempo s a lidar com aquilo, um dos peixes sobe violento, como mer espaguete, ele é ao mesmo tempo um jacaré e uma nrolando numa sacola plástica, talvez o próprio barco, brulhando o peixe violentamente.

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Eu estava com a minha avó (que faleceu em janeiro) no prédio dela e pegamos o elevador para o oitavo andar, porque meu pai estava morando lá (na verdade ele mora no quinto andar, no apartamento que era dela). Eu e minha avó tínhamos que levar um móvel para o apartamento do meu pai. Mas o elevador não parava no oitavo andar, ou ele ia para o nono ou para o sétimo. (Esse é um sonho recorrente que tenho desde pequeno, o elevador não parar no andar que eu quero). Então resolvemos parar no sétimo andar e subir de escada. Desse jeito conseguimos chegar no oitavo andar e entrar no apartamento, meu pai estava lá em um quarto. A escadaria era igual ao prédio dela, mas o apartamento não.

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Estava noite e a única luz era a da Lua. Tinha um caminho de terra que cortava a floresta ao meio. Uma trilha. No sonho, eu me via correndo, como se eu fosse o olho da câmera que assiste a si mesma enquanto corre. Era eu correndo, mas a minha sensação era a de quem assiste. Eu corria para acompanhar eu mesma correndo, mais à frente. Por vezes o eu-mais-à-frente olhava para trás, talvez porque sentisse que existia alguém correndo atrás dela. No caso, era eu, ou melhor, ela mesma. Via em seus olhos o medo e nos seus passos acelerados, meio tropeçados, sentia que ela estava fugindo - escapando de algo na madrugada. Mas na medida em que ela corria, ela adentrava ainda mais a mata, a floresta. E ficava cada vez mais escuro e mais frio. Foi mais ou menos isso e só. Fazemos um corte e agora eu sou eu e sinto as minhas mãos apertarem o pescoço do gato frajola. Eu tinha que matá-lo, pois o gato na verdade era uma cobra disfarçada. Era muito difícil matar a cobra por ela ser um gato. Na medida em que apertava seu pescoço, apertando e esticando seu pescoço, sua pele deixava de ser peluda e macia e passava a ser pegajosa e fria - era a pele da cobra. Uma cobra amarela e branca gigante. Não sei dizer muito bem se ela era de fato ameaçadora. Eu chorava e no choro sentia o mesmo medo transpassado como naquela noite em que corria na floresta, sozinha - fugindo de algo que nem sei.

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Estou num lugar um pouco como figurante, mas descubro que sou mais figurante que outros, que estou meio deslocada. Estou com meu short preto feio. Tem algo que não está bom com os tênis também. Estou numa casa antes de voltar para o tal lugar. Penso em trocar algumas coisas que eu levo. Vou fazer xixi, mas minha privada está superalta, regularam pra alguém que vai chegar. Vou fazer xixi num outro banheiro, pensando se é um gigante que vai chegar.

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Uma pequena vila, no deserto. Casas brancas, pequenas, simples. Estou dentro de uma, a minha casa. Venta muito, as janelas estão abertas, as cortinas esvoaçam. A luz de fim de tarde, na hora dourada, ilumina as partículas de poeira no ar, parece um véu. Estou com uma máquina fotográfica nas mãos. Tiro fotos da casa, de cantinhos. Estou só, sou a única no vilarejo. Sinto-me sozinha, mas desfrutando de uma beleza incomum e misteriosa.

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É um grande deserto com três estradas que o atravessam. Estou de jeans e mochila andando apressada para o casamento da minha mãe lá. Era um movimento confuso porque eu dava uma aula em um ginásio e em seguida estava andando no deserto, no vento, procurando um endereço sem endereço caminho entre estruturas de triângulos e esferas grandes e gelatinosas no meio do nada. Algumas são vermelhas, outras acinzentadas. O deserto era amarelado. De vez em quando eu via cavalos longos e placas de caminhão, mas não havia estrada. De repente, estou em um buraco, como uma ponte/ passarela submersa, toda suada e suja e vejo minha mãe de noiva e um show de rock rolando. Ela brava porque eu estava atrasada e eu dizendo “que diabo de lugar pra casar, me explica”.

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Eu sonhei com um rio todo entremeado turas e troncos. Meio verde, mangue. Eu de boia cross, acho que um ex meu tamb nesse lugar, mas eu não dava muita bola cava tentando uma aproximação e eu mei em que eu olhava o rio de cima, como se neceu, mas a situação se transformou. E cara fortão e ligado em natureza. Ele nos rio e que tínhamos alugado para passar a meio caindo por cima da água e a água m eu ia por esse “fim” porque escutava algo que por trás desse mangue havia mar, me meio levantada, de palafitas, dava na água amplo, com muitas janelas, estilo mais c tudo bem limpo e arrumadinho mas testa lembrar de Waking life, quando ele diz q

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de árvores, meio amazônico, com curvau passava por esse rio sinuoso, não sei se bém estava. Não sei se ele que me levava a pra ele. Tenho essa sensação que ele fiio ignorava. Havia também um momento e estivesse num pico. Então, o rio permaEu estava com minha família e tinha um s levava numa casa que era no fim desse as férias. Um monte de galhos e troncos meio se interrompia ali. Em um momento o que parecia o mar, tentava olhar, sabia esmo não dando para enxergar. A casa era a mesmo. Era um grande único ambiente casa de montanha. Lembro-me de achar ar a luz da sala e não acender - isso me fez que acender a luz é a prova da realidade.

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Me capturaram para um experimento (sociológico, científico e bizarro). Fui levado para dentro de um ônibus com pessoas que provavelmente tivessem sido separadas por algum tipo de categoria, talvez por personalidades equivalentes. Me lembro do estofado do ônibus: velho, de couro gasto, rasgado. A sensação era de apreensão, medo. Enquanto eu via os carros e as luzes através da janela sentia algo estranho no ar. Lá fora o mundo parecia prestes a entrar em um caos apocalíptico. De repente, as ruas se fechavam em compartimentos com cortinas pretas, como se fossem apenas um cenário, como no filme “O Show de Truman”. Não sabia aonde iríamos, mas sei que ninguém estava espantado, todos esperavam por esse grande momento de uma possível mudança ou do fim da humanidade.

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Eu estava em uma obra e via paredes, pilares e outras partes desconectadas flutuando como em gestação. Não encontro pessoas, parece que vejo apenas meus próprios pés, observo onde caminho, vejo as largas réguas de madeira do piso do Instituto Butantan.

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Estamos em uma rodoviária, acompanho uma amiga que vai viajar, o horário do ônibus já está perto. Entra um cavalo no saguão, marrom escuro e brilhante. Quer brincar, parece cachorro. Brinca com meu companheiro. A brincadeira torna-se mais intensa, o cavalo cai em cima dele, e o esmaga. Um cartaz publicitário da rodoviária dizia: “A pinça do cavalo brincalhão”. Leio, olho para minha amiga que vai pegar o ônibus: é, faz sentido. Levo minha amiga até a plataforma. Não é um ônibus: ela entra numa cápsula de vidro, deitada. O vidro trinca, escorre água. Ela desaparece, como uma viagem no tempo.

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Eu estava na rodoviária do Tietê e tinha uma irmã muito pequena, mas que já andava. Fui ao banheiro com ela, a ajudei a usar o banheiro primeiro e fui usar em seguida. Eu estava com o celular na mão, que caiu pra fora do banheiro por baixo da porta, eu estiquei a mão e peguei. Minha irmã se enfiou de trás do vaso sanitário brincando, eu tirei ela dali. Saímos do banheiro e estávamos com muita bagagem sentadas numa escada esperando, olhei para o celular, quando voltei o olhar ela havia sumido, olhei em vários lugares procurando, chamava por ela e nada. De repente, apareceram a Heloísa e uma outra amiga da prefeitura, essa estava grávida e sentada. Eu pedia para ela cuidar das minhas coisas que eu ia procurar minha irmã. A rodoviária estava cheia de gente, eu olhava agachada, para tentar encontrá-la. Ia num guichê e pedia para anunciar, o moço do guichê dizia que havia um jeito de anunciar que atraía as crianças, mas eu sentia que estava perdendo tempo ali e saia para seguir procurando. Não a encontrava.

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D. estava grávida, mas usava uma bolsa gestora que ficava para fora, uma placenta plástica, retangular. Parecia algo comum de se ter acoplado ao corpo. Ninguém parecia surpreso com isso, apenas eu. Me perguntava como deveria ser ver o desenvolvimento do bebê a todo momento naquela bolsa plástica.

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Sonhei que colocavamos os pés num riachinho que desenbocava no mar, as cores eram ocre, sujas, o riachinho estava quente e passava da meia-noite, alguém comentava sobre a temperatura da água olhava minha amiga e dizia que precisamos viajar para longe em breve.

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Estou numa cidade em que todas as ruas estão alagadas, mas isso parece ser algo absolutamente trivial. As pessoas andam com águas nos pés. Há algumas jangadas para transitar e os carros, quando acelerados, conseguem percorrer os caminhos alagados.

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Estou desafogando crianças, mergulhada numa rua toda alagada, como um rio agitado que se formou. Uso umas bolas de futebol de borracha pra salvar as crianças, como boia. Uma delas é desafogada com um pneu, que volta feliz pra sua família.

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Estava no supermercado. Em um dos corredores eu coloquei uma escada grande e amarrei uma corda no teto. Coloquei nos degraus alguns sacos cheios de terra pra facilitar subir e descer. Depois eu continuei andando pelo supermercado. Lembrei que tinha esquecido a escada e voltei pra tirar do caminho. Lá, encontrei um mestre oriental, pedi desculpas pra ele e ele disse que tudo bem. Ele me mostrou que tinha tirado os sacos de terra dos degraus e no lugar tinha colocado pedaços grandes de queijo branco. Um queijo branco em cada degrau. Ele me explicou que o queijo branco era muito melhor pra subir. Então dois ajudantes dele me mostraram como subir: era preciso tirar os sapatos e colocar os pés no queijo. Ele explicou que o contato do pé com o queijo branco fazia muito bem e que era melhor subir a escada daquele jeito. Então eu subi pra desamarrar a corda.

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Rapaz de programa careca seminu, uma mulher ao lado. Estão numa espécie de cama, num lugar aberto (campo?). O rapaz está em cima de um papel com desenho de milhos. Eu falo para ele sair. Várias pessoas no local. Tomo banho, estou de toalha procurando uma roupa. Preciso voltar, pois está rolando uma atividade do trabalho que estou responsável. Minha supervisora, que é minha mãe, me olha, mas não fala nada. Penso se preciso ir rápido. Procuro uma tarracha para o brinco. Olho o rapaz de programa. Escuto que alguém pede ajuda na mediação da atividade. Fala você ou a Bárbara. Victor Nóvoa, que é o “você”, diz “pode ser comigo”. Eu fico preocupada, não estou lá para fazer o trabalho. Bibi pelada sentada ao centro de um espaço com paredes brancas, sozinha. acho que ela faz uma performance.

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Uma explosão. Meu corpo é arremessado por ci do meu apartamento em direção ao corredor. A vem com nome LGBTQ... Vejo a imagem um ra sado, como no começo da explosão, ele aparece em duas fotos, me olha terno, é como se ele est a frente, arremessada pela explosão, estou na Bruno bem atrás de mim, na sala, uma família rece ser indiana. Eu bato o pé no chão e grito: s impulsionada pela explosão, sou levada a um t curta, é meu atual namorado. Me abraça e cu explosão o passado o presente e o futuro-prese da nesse túnel de força temporal. [acordo com o pela primeira vez nessa temporada de sonhos si do quarto e escrever meu sonho] volto a me dei que logo também se tornam sonhos. Sinto essa e no sonho, difícil traduzir logicamente) e também ca, uma dor que vai me acompanhar secretame palavras surgem em caixa alta

FRASIL BRA

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ima do móvel de madeira armário baixo da sala A explosão é uma força do passado, a explosão apaz, Bruno, um crush antigo, que está no pastambém sem barba, com a face duplicada como tivesse agora se afirmando LGBTQ....e eu mais sala grande da casa da breja, consigo perceber a conservadora, a matriarca me observa, ela pasou marica! sou traveca! agora como que ainda terraço, onde encontro outro rapaz, com barba umprimenta Bruno. Parece que habituei nessa ente em sequência muito ligeira, fui arremessao coração palpitando, são 1h30 da madrugada, e into a necessidade de me levantar, acender a luz itar e logo sou tomada por alguns pensamentos explosão que tem nome LGBTQ... (fazia sentido m sinto esse coração acelerado como uma marente por trás de toda ação e reação nessa vida.

ASIL FRAGIL

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Faz -10 lá fora, não tenho casaco. Neve e um curto-circuito, fogo. Neve fogo. Vejo meus pés.

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Eu era uma ursa estava num lugar de proteção e acolhimento aos ursos todos de diversas cores mas às vezes a gente não se dava tão bem e a mulher que cuidava de nós tinha muito trabalho mas também era muito carinhosa. Ela me levou para ajudar a destruir a empresa do qual a gente havia sido recuperado que maltratava ursos e os torturava para usar para trabalhar. Uma das pessoas que trabalhavam ali era um japonês que se recusou a torturá-los e foi perseguido e acharam que ele havia morrido, mas foi ele quem criou esse lugar de acolhimento e era ali que a verdade ia ser exposta. Lutamos e nos ajudamos e divulgamos a ação do homem para salvar os ursos, fomos pegas mas o olhar das pessoas para com o urso mudou.

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Acordei dentro de um sonho com alguém no quarto que me sugava, sentia muita pressão e dor no peito. Consegui escapar, levantei da cama e ao chegar na cozinha percebi por um detalhe que não estava em casa: eram dois relógios antigos, ao invés de um, e a prateleira de comida estava vazia. Com esses detalhes, percebi que estava sonhando e senti muito medo de ter acordado em uma dimensão errada. Voltei para cama e fiz muito esforço para abrir os olhos. Acordei.

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Participo de uma residência artística, que acontece na antiga casa da minha avó. Eu reviro escondido as gavetas do quarto dela. Ela fica com raiva e grita: “Estou sendo violada! Não adianta mentir pra mim, eu reconheço o som que a madeira faz quando abres a gaveta”. Não encontro o que procuro na gaveta. A artista mineira Efe Godoy me dá um copo com aguá “e um floralzinho para equilibrar as energias da casa” Me diz que o momento está tenso pra todos. E completa: “Acabo de voltar do enterro da mãe.”

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Estou fazendo uma viagem, estou em outro país. De repente, há uma explosão. Parece ser um atentado, pela reação das pessoas em volta. Um grande monumento/prédio histórico vem abaixo. É um edifício grande, mas não alto, poderia ser um museu, a sede do governo, com uma imensa escadaria na frente e colunas redondas na fachada. Tem ares do Templo de Salomão. Vem abaixo em duas fases, como numa implosão. Primeiro, a parte do meio e depois, a parte de fora, envolta. Não resta nada de pé. Do ponto onde estou acompanho a queda, vejo as duas fases acontecerem e a poeira subir. Em seguida, inicia-se uma confusão. Quero e sei que temos que ir embora pois começarão a perseguir as pessoas para ver quem foi. Uma multidão tenta fugir, estou com um grupo de pessoas que conheço, mas só reconheço a presença da Ligia. Durante a fuga, buscamos um lugar para nos abrigar. Numa das ruas, apertadas, em meio a muitas pessoas, olho para dentro de uma loja e vejo um grupo de pessoas prontas para uma gira de terreiro. Sinto que elas conseguiram um lugar para se refugiar no meio do caos. Penso que precisamos disso.

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Estávamos reunidos em um grupo de estudos sobre modos de vida sustentáveis. Eu, meu irmão, minha cunhada, um amigo e outras pessoas. Sentávamos em caixas de madeira, claras, as paredes de madeira, claras também. Entrava uma luz bonita, de fim de tarde de outono. O sonho tinha um tom amarelo alaranjado brilhante. Sentia que o grupo de estudos era algo falso e inútil, não tínhamos o menor embasamento para pensar modos de vida sustentáveis, éramos bichos urbanos, tentando aliviar a consciência. Mas só a beleza daquela luz me bastava e de alguma forma, sentia que tínhamos salvação.

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Olhei para o céu e vi a lua cheia, ela estava brilhando muito. Ao lado dela, parecia ter uma segunda lua começando a crescer. Elas faziam um raio de luz. Era lindo de ver. Mas depois de um tempo, comecei a perceber que a segunda lua era na verdade um balão que estava pegando fogo. Fiquei preocupada, sem saber onde cairia. Muita coisa se passou no sonho, mas não me recordo. De repente a lua em chamas que era na verdade um balão reapareceu e estava quase caindo numa casa cercada de árvores. Acompanhei meio desesperada e sem saber direito o que fazer. Mas veio um vento mais forte e a direcionou para uma piscina. O fogo apagou e via que era uma boia de cisne, que estava intacta.

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Eu tinha uma mala de voo como um paraglyde e estava voando em direção a praia para pegar o trem e continuar a viagem. O voo foi tranquilo mas tinha um avião pequeno fazendo o mesmo trajeto que eu. Conseguia me comunicar com o piloto, era possível ver o rosto dele, e aterrissamos. O avião dele também virou uma mala com uma grande roda, acompanhei-o por algum tempo, ele dava aulas na universidade e não tinha as pernas. Eu estava preparada para a viagem com um skate e um mochilão. Cheguei ao trem, a viagem da China até a América duraria uma semana, mas eu não fiz o percurso completo. Pela janela, eu conseguia ver construções vernaculares sobre pontes, como a Ponte Vecchio, mas no sonho a ponte era bastante alta e as construções eram feitas de tijolinhos e as paredes externas tinham nichos que guardavam altares religiosos. A cidade tinha várias dessas pontes, passamos por debaixo de uma dessas com o trem. O corredor do trem era muito interessante, tinha um volume central que separavam os fluxos. Me levantei, percorri o corredor e saí com o lixo que estava dentro do vagão, desembarquei.

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Tive uma série de pesadelos, não consigo lembrar de nenhum, todos acerca da morte do Luis Felipe Macalé, e os seus últimos minutos que são um mistério para os entes queridos. Acordei várias vezes assustada. No meio desses sonhos vi o Adelson Chaves, passando como um trabalhador no meio dessa história toda. E vi minha Avó Maria, no centro de um lugar, toda iluminada como uma santa, sentia a pele dela, do jeito que era em vida, eu beijava a sua bochecha e ela me abraçava, sentia sua pele geladinha e ela me dizia “é assim mesmo fia” querendo me confortar sobre a morte e lembrar que os processos desse planeta são do jeito que são. Esse mundo não é um lugar fácil.

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Casa da avó Maria, eu do outro lado da rua esperando a pessoa que vai dirigir o carro. Não sei quem é. Vem Edilamar Galvão com um cara. Eu fico uau, é a Edilamar Galvão. Ela para perto de mim (ele também) y começa a conversar sobre a rua lateral da casa da avó. Sobre um casarão que tem lá no final da rua. Eu entro na conversa, falamos sobre esse casarão. Percebo que ela y ele também irão nesse carro que estou esperando. Entramos. Já não é mais um carro, é um barco. Edilamar compra xampu y condicionador. Eu quero fazer xixi. A privada é meio aberta, sem portas. Eu abro uma porta ao lado, encontro papel higiênico. A gente desce, caminha um pouco. É um rio lindo. Um rio meio urbano, rachado no meio como se fosse uma ponte y no meio isso de ser uma casa. Seguimos andando. Um rapaz caminha ao meu lado, vamos conversando. É um bairro. Tudo é do Senninha. Decorações, fliperama... Eu pergunto pro rapaz: você reparou que é tudo do Senninha? Ele não tinha reparado. Minha mãe também está nessa caminhada. Chegamos numa igreja. Minha mãe fala da blusa dela. Eu olho Edilamar. Parece que a igreja é passagem pra gente ir a outro lugar.

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Sonhário: Experimentações entre corpo, cidade e o mundo onírico foi uma oficina de 5 semanas ministrada por Beatriz Cruz e Vânia Medeiros no Sesc Consolação, entre maio e junho de 2021. Edição do e-zine: Beatriz Cruz e Vânia Medeiros Design gráfico: Vânia Medeiros



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