The New Yorker - Ed. 4

Page 1

sep.

Keith Pfeiffer Illustration

4th Edition 20, 2015


02

Sep. 20, 2015 TNY - 4th Edition

Into the past

The Talk of the New Yorker

US

Discurso proferido em junho de 1944

A hidra do medo

Na edição de ontem (19/09), o TNY já previa por sua enigmática bola de cristal a importante discussão sobre o avanço do Estado Islâmico no mundo. A organização terrorista aos poucos vai se articulando e mirando seus tentáculos de medo para partes além do Oriente Médio. O atentado à redação do Haaretz, em Tel Aviv, é o reflexo do avanço e demonstra a força da organização que leva suor às testas dos mais capacitados e desarticula edições factuais de jornais ao redor do mundo, ao bel prazer de um gatilho apertado. Os tentáculos do medo são similares aos tentáculos de uma Hidra, monstro mitológico com sete cabeças de serpente e capacidade de se regenerar, que atormentava os sonhos de Héracles, até que esse o tenha vencido em batalha deveras épica. Pergunta-se: Quantas nações dariam um momento de sorte para, assim como Heracles, derrotar a hidra e não deixar que as cabeças cortadas espalhem-se como o medo que se alastra pelo mundo? A enigmática bola de cristal não pode prever como as medidas tomadas em meio a crise diplomática no marcante 19/09/2015 irão repercutir no futuro, porém, não nos interessa encontrar cabeças de serpente rolando por aí.

Bate-boca sem finalidade na UNODC BY REBECA SOARES

Não é segredo para a sociedade internacional que enfrentamos graves problemas. Um deles é o Estado Islâmico (EI), grupo terrorista que amedronta os quatro cantos do mundo com suas ações. Tais feitos foram discutidos fortemente em comitês internacionais, como a Organização Marítima Internacional (OMI), a Liga dos Estados Árabes (LEA) e o Escritório das Nações Unidas para Drogas e Crimes (UNODC). É interessante observar que enquanto até mesmo membros da

Churchill’s Cabinet

By General George Smith Patton Jr.

Na guerra, a única defesa certa é o ataque, e a eficiência do ataque depende das almas guerreiras daqueles que a conduzem. No gabinete do Primeiro-Ministro britânico, temos reunidos os cavalheiros mais bem preparados no mundo para lutar contra os nazistas, não há falta de almas guerreiras aqui. Existem dois pontos principais quando começamos a analisar estratégias de guerra. Primeiro de tudo, não se deve subestimar um inimigo, mas é igualmente fatal superestimá-lo. A ameaça nazista agora é um problema enorme para o mundo, mas temos certeza que eles não serão capazes de lidar com todas nossas operações, surgindo de diferentes frentes ao mesmo tempo. Estaremos em todo lugar, a todo tempo. O segundo ponto é que, não importa o quão cansado e faminto você pode estar, o inimigo estará mais cansado, mais faminto, então continuaremos atacando. Guerras podem ser travadas com armas, mas elas são ganhas por homens. É o espírito dos homens de liderança que garante a vitória. Patriotismo, coragem e bravura estão sendo demonstrados a cada dia por nossas tropas, e isso nos faz ainda mais confiantes de que a vitória está perto. Um litro de suor pode salvar um galão de sangue. É hora de atacar com tudo que temos. Deus nos abençoe.

LEA, com todo o histórico de conflito local, encontraram solução, a organização responsável por combater o tráfico de armas foi a única que silenciou sobre o aproveitamento da situação já precária de refugiados transportados por navios que tinham como único objetivo mercadejar armamento. Além disso, os delegados nada se importaram ao ataque da Agência Haaretz, fato crucial para descobrimento de navios ilegais com rota para Iraque e Síria. As discussões bastante acalouradas, por sinal, pareciam girar em torno do orgulho das nações ameri-

Spotlight

cana e russa. Em entrevista exclusiva, os dois declararam que abririam mão de suas vontades para um resolução eficiente. Mas isso chegou tão longe de acontecer, que a Organização, fundada com o objetivo de discutir e buscar soluções, manteve o comércio ilegal de armas para Iraque e Síria, países com maior atuação do EI. Com toda a discórdia, ambos continuam suas ações encobertas.

“Há aqueles que deturpam o nome de Alá e nós iremos destruir todos que deturpam o nome de Alá” Rafael Bessa, Arábia Saudita [se referindo ao Estado Islâmico]

“Este será o comitê da Branca de Neve e os Sete Anões mudado para ‘Crise falha e os sete golpistas’” Gabriel Braga, delegado da Síria na UNODC “Foi dito pelo delegado dos EUA que a minha postura está distorcida, mas quem está distorcido aqui é ele”.

Errata

Matéria da OMI da edição de ontem deu a entender que o delegado da China Rafael Nogueira não concordou com tudo da resolução aptovada. Na verdade, ele não concordou com alguns pontos votados e, por isso, absteve-se.

Ana Beatriz Rodrigues, delegado do Iemem na UNICEF

Expediente Editores-chefes Letícia Alves e Lucas Bernardo Reis Repórteres David Nogueira, Matheus Facundo e Rebeca Soares Projeto gráfico e edição Letícia Alves e Lucas Bernardo Reis


4th Edition - TNY Sep. 20, 2015 03

CRISE

Jornal Haaretz sofre atentado do Estado Islâmico Ataque deixa vários feridos e levam quatro comitês da ONU a crise

A

redação do jornal israelense Haaretz foi bombardeada na noite da última sexta-feira, 18. Vários jornalistas e funcionários do local ficaram feridos, mas, até agora, não há nenhuma morte. A ação foi feita por homem-bomba disfarçado de zelador e aconteceu após jornal publicar charge criticando ações do grupo terrorista do Estado Islâmico (EI) na manhã do mesmo dia. Em vídeo enviado à emissora japonesa Fuji News Network (FNN), terrorista mascarado do EI assume autoria do atentado. “Qualquer um que tentar ameaçar nosso glorioso estado também será ameaçado e destruído, não importa se for em texto, imagem ou qualquer tipo de ameaça ou ofensa, nós mataremos um por um”, afirmava o homem no vídeo.

BY MATHEUS FACUNDO, IN NEW YORK

piratas lotados de refugiados de nações em conflito. As armas de fabricação russa deviam seguir para o Irã, mas foram desviadas para a Síria e o Iraque e agora seguem para a Europa. Esta resolução acarretou no estabelecimento de crise nos comitês da Organização Marítima Internacional (OMI), do Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF), do Escritório das Nações Unidas para Drogas e Crimes EI assume autoria do atentado. Foto: (UNODC) e da Liga dos Estados Árabes Reprodução/FNN (LEA), que se reúnem desde sexta-feira Em coletiva de imprensa, a editora em suas sedes para discutir outros do Haaretz Maria Navarro declarou assuntos. que continuará forte crítica às ações do EI com a missão do seu jornal VIEWPOINT BY LUCAS BERNARDO REIS que é “informar o povo”. Esperamos que os olhos tenham Em investigação especial, o sido abertos. Não somos guerrilheiros, secretariado da ONU divulgou tampouco homens de leis, para legislar, documento apontando que o discutir e avançar. Como jornalistas, podemos apenas forçar e reforçar o que grupo terrorista, além da investida é decidido, talvez apontar algo. Por isso, contra o jornal israelense, estaria aqui vai um apontamento: Basta! transportado armas em navios LEA

E

Vítimas de atentados receberão auxílio

m primeira reunião da Liga dos Estados Árabes (LEA) para discutir medidas para combater o Estado Islâmico (EI) foi marcada pela crise causada pelo ataque ao grupo terrorista ao jornal israelense Haaretz. A proposta de uma possível intervenção militar nos países em conflito, sugerida em sessões anteriores, voltou mais uma vez à discussão, sendo apoiada por países como a Jordânia, Arábia Saudita, Emirados Árabes e o membro-observador, Estados Unidos. A ideia, no entanto, foi refutada por nações como a Tunísia, Líbia e Iêmen. O delegado tunisiano, Renato Tartuce, pediu que o foco da sessão se voltasse unicamente para a resolução e prevenção de possíveis ataques a veículos midiáticos. Em seguida, a delegada da Líbia, Isabelle Lima, sugeriu a publicação de uma nota que expressasse o

BY DAVID NOGUEIRA, IN CAIRO

apoio ao Haaretz e à comunidade israelense. A delegada do Iêmen, Fernanda Assunção, propôs um projeto de reforço nas fronteiras das nações árabes, para que o tráfico de armas se enfraqueça. O representante jordaniano, João Carlos, apresentou uma iniciativa de proteção militar nas sedes de jornais árabes e fiscalização rígida de jornalistas. Depois de muita demora e com o prazo quase acabando, dois projetos de resolução foram aprovados. O primeiro instaurou medidas como o auxílio às famílias atingidas no jornal e a fiscalização dos transportes de refugiados em áreas mediterrâneas. O documento procura também alertar aos países europeus que armamentos estão sendo transportados pelo EI através do mar em direção à suas nações.

Terceiro dia na LEA é marcado por crise. Foto: Gustavo Linhares

O segundo documento prevê o apoio da Organização de Informação Digital Árabe (OIDA) na proteção de qualquer um que propague mensagens anti-terroristas. Também sugere criação de grupos de proteção a repórteres e integrantes de mídias sociais que foram ou podem ser atacados pelo grupo. O arquivo também recomenda que a Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) intensifique a patrulha naval em seu território. Hoje, a LEA continua debate sobre as repercussões da expansão do Estado Islâmico e o combate aos seus efeitos.


TIME MACHINE 1961 JERUSALEM

Condenação é aguardada By Hannah Arendt Terceiro dia de julgamento de Adolf Eichmann foi marcado por produção de provas e participação de testemunhas importantes. Mulher que trabalhava no mesmo lugar que o acusado e um sobrevivente de campo de concentração nazista engrossaram provas contra ele. Walli Malka Zimer, advogada checa e funcionária da Sociedade Hebraica de Ajuda aos Imigrantes (HIAS), declarou que “preparava série de documentos para os judeus saírem do país”, garantindo a emigração só após entrega de bens ao governo alemão.

A advogada insistiu que Eichmann ocupava o maior posto no departamento, por isso tinha todo poder de decisão, apesar de ela não conhecer outro processo além do que participava. Já Nachum Hoch, um romeno sobrevivente de Auschwitz, não conheceu o réu, mas garantiu o desejo da condenação. Entre as provas apresentadas e acatadas pelo júri, a promotoria apresentou suposto documento do FBI que continha que “este documento não contém conclusões (...), ele não pode ser distribuído fora da agência”. A defensoria apresentou trecho da Declaração dos Direitos Humanos para garantir que Eichmann fosse julgado assim como qualquer pessoa. Após os três dias de julgamento, representantes interrogarão o ultimo declarante e explanarão as considerações finais.

UNICEF

Crianças usadas para tráfico de armas Transporte de crianças refugiadas volta a ser discutida pela Unicef

O

BY MATHEUS FACUNDO, IN NEW YORK

terceiro dia de reunião do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) foi interrompido por crise. O transtorno foi causado pela descoberta de que o Estado Islâmico (EI) criou rotas alternativas de transporte de refugiados de países em conflito para transportar armas em navios piratas; além da notícia do bombardeio à redação do jornal israelense Haaretz. O documento que divulgou as informações deixou as delegações islâmicas em posição desconfortável, já que as rotas clandestinas partiam da Somália, passavam pela Síria e Iêmen. Foram indicadas também supostas facilitações governamentais destas nações para com o tráfico. O delegado israelense Silas Araújo frisou que enquanto esses países não declararem repúdio e guerra ao EI esses problemas nunca seriam sanados, visto que, segundo ele, punham em risco vida de dezenas de vidas

inocentes, em sua maioria crianças. As delegações presentes resolveram as questões mais urgentes para a resolução dos conflitos. Foi estabelecido que a resolução se pautaria em dois pilares: intervenção e prevenção. Primeiro foi proposta ação conjunta com a Organização Marítima Internacional (OMI) no sentido de fechar as rotas clandestinas traçadas pelos terroristas para resgatar todas as crianças em situação de risco. O segundo artigo do projeto sugere a conscientização por meio de programas governamentais de que viagens irregulares são perigosas. Os últimos pontos de plano visam reiterar que em países onde há atuação de forças do EI, o combate seja fortemente ativo.

UNODC

Com embate, crise não é solucionada BY REBECA SOARES, IN VIENA O terceiro dia de encontro do Escritório das Nações Unidas para Drogas e Crimes (UNODC) foi marcado por crise. O ataque do Estado Islâmico (EI) à sede da Agência Haaretz e o descobrimento de um navio transportador de armas em navios de refugiados foram os motivos. Por conta de confronto causado pela crise, os delegados não chegaram a solução para o tráfico, competência do comitê. O UNODC ficou dividido. As delegações de Rússia e Irã e China e EUA lideraram dois grupos. O primeiro insistia que a resolução deveria ser construída por Rússia, Irã, Iraque e Síria, os países envolvidos, enquanto o segundo grupo, liderado pelos americanos, mostrava desejo de intervir com a Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) no Iraque e Irã com o objetivo de controlar entrada de armas. Rússia, Irã e aliados apressaram-se para compor primeiro documento, mas foram barrados pela mesa por apresentar preâmbulo destoante do tema discutido. China e os países ocidentais produziram projeto, que não foi aceito. Como ponto em comum entre os lados, a proposta de emendada da Itália que sugeria apoio humanitário aos refugiados, foi aceita pelos signatários do novo projeto russo. Já a alteração de autoria americana propondo a sugestão para o Conselho de Segurança analisar a possibilidade de intervir nos territórios ocupados pelo EI foi negada. Com apenas um minuto para o fim da sessão, delegações “deram um golpe”, segundo Bruno Lima, delegado francês. O golpe se referia à “ação de má fé” do americano e chinês por protelar a votação final. Zanocchi afirmou que as ações tinham como objetivo debater.

OMI

Segurança no mar é reforçada O atentado terrorista que ocorreu na última sexta-feira, 18, na sede do Jornal Haaretz, em Israel, gerou consequências em todos os comitês da Organização das Nações Unidas (ONU) que estão reunindo-se desde quinta-feira, 17. Na Organização Marítima Internacional (OMI), o debate teve como principal propósito impedir que Estado Islâmico continue

Realização

BY DAVID NOGUEIRA, IN LONDON

usando navios com refugiados para o tráfico de armas, fato que foi descoberto logo após a investida contra o jornal. O Projeto de Resolução aprovado no fim da discussão teve como signatários a China, os Estados Unidos, Vietnã, Japão, Somália e Coréia do Sul. A principal medida do documento institui a criação de uma aliança tem-

porária entre as nações que assinaram o projeto, com o propósito de fiscalizar navios que se encontrem em ancoradouros ou em alto-mar. O documento também prevê o uso de ferramentas tecnológicas na vigilância das rotas que são desviadas pelo Estado Islâmico.


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.