Um Um Inimigo Inimigo Vencido Vencido Um Inimigo Vencido
ST
sumário TEMÁTICA
Revista Internacional Edição Trimestral em Língua Portuguesa
Paulo Lima
Ano XXXV – Nº 132 1º Trimestre 2015
Perante a dura realidade da morte, os Cristãos têm uma esperança vibrante.
Um Inimigo Vencido......................................................................................4
Direção Artur Machado
TEMÁTICA
Direção de Redação Paulo Sérgio Macedo
Samuele Bacchiocchi
Redator Paulo Lima Diagramação Sara Calado Fotografia © Shutterstock Proprietária e Editora PUBLICADORA SERVIR, S.A. Rua da Serra, 1 – Sabugo 2715-398 Almargem do Bispo Portugal Direção Carlos Simões Mateus ANGOLA Caixa Postal 3 – Huambo S. TOMÉ E PRÍNCIPE Caixa Postal 268 – S.Tomé MOÇAMBIQUE Av. Maguiguana, 300 – Maputo Edição em Língua Espanhola Editorial Safeliz Edição em Língua Francesa Editions Vie et Santé Edição em Língua Italiana Edizione ADV Preços Número Avulso € 2,00 Assinatura Anual € 8,00 Impressão e Acabamento Mário Macedo – Design e Impressão V. N. Famalicão Isento de Inscrição no ICS – DR 8/99 ISSN 0873-9013 Depósito Legal Nº 63193/93 Tiragem 20 000 exemplares
Corpo e Alma, Dois Aspetos da Indivisível Natureza Humana......10
Somos nós constituídos por um corpo mortal e por uma alma imortal que deixa o corpo no momento da morte? TEMÁTICA
Três Coisas que Deve Saber Acerca da Morte...................................12 Joy Wendt
Quando Deus criou a vida no planeta Terra, Ele não incluiu nos Seus planos que os Seus filhos sofressem. A BÍBLIA ENSINA
O Estado do Homem na Morte...............................................................15 LINHA ABERTA
A Parábola do Pobre Lázaro.....................................................................16 Ángel Manuel Rodríguez VIDA CRISTÃ
Como Viver Livre do Sentimento de Culpa.........................................20 Loren Seibold
Assim que o sentimento de culpa realizou o seu propósito levando-nos ao arrependimento, ele deve cessar.
editorial
Artur Machado Diretor
Do horizonte da literatura ao sentido da existência
Q
uando fazemos um périplo pela literatura portuguesa ao longo dos séculos e procuramos, por exemplo, saber o que os diferentes poetas, escritores e pensadores lusos nos deixaram acerca da morte, encontramos uma vasta quantidade de escritos sobre o tema, alguns dos quais conhecemos de cor. De Gil Vicente a Camões e Bocage, passando por Camilo Castelo Branco, Eça de Queirós, Antero de Quental, Fernando Pessoa, Miguel Torga e muitos outros, apercebemo-nos de como cada autor sentiu, refletiu, experimentou e procurou transmitir a sua perceção e a sua compreensão sobre a morte. Fernando Pessoa, por exemplo, no poema “A morte chega cedo”, ecoa aquele que é o sentir de cada ser humano sobre a brevidade da existência, ao afirmar: “A morte chega cedo, pois breve é toda a vida, o instante é o arremedo de uma coisa perdida.” Já a Bíblia afirmara, também em forma poética, que a vida de cada ser humano é como a flor que cedo se desvanece. Job, no seu livro, exclama: “O homem, nascido da mulher, é de poucos dias e farto de inquietação. Sai como a flor, e murcha; foge também como a sombra, e não permanece” (Job 14:1 e 2). E o Salmista acrescenta: “Quanto ao homem, os seus dias são como a erva, como a flor do campo assim floresce. Passando por ela o vento, logo se vai, e o seu lugar não será mais conhecido” (Salmo 103:15 e 16). A morte confronta-nos não apenas com a brevidade da nossa existência, mas também com a busca pelo sentido da mesma. E as reflexões que fazemos acerca da morte têm a ver, sobretudo, com o sentido e o significado da existência humana. É que, se a vida humana se resume apenas a existir por um breve, muito breve, período de tempo, poderíamos afinal de contas questionar, tal como o fez Jean Paul Sartre: “Porquê o ser e não o nada?” Por outro lado, se a vida tem um sentido que
vai para lá do período de tempo em que estamos vivos e que transcende a morte, então que sentido é esse? É a esta última questão que as religiões procuram dar uma resposta. E essa resposta é suscitada pelo próprio ser humano, na sua busca de sentido, na sua procura por segurança, na sua tentativa de encontrar solução para as questões que o preocupam e que ele não domina. O homem precisa de saber que a vida não termina com a morte. Precisa de saber de onde vem e para onde vai. A Bíblia responde a estas questões, e na sua resposta não apenas nos elucida sobre o que é a morte, como nos faz descobrir também o verdadeiro sentido da nossa existência. Porque, para se compreender bem o que é a morte, é preciso perceber o que é a vida, qual a sua origem, qual o plano original para a existência humana, como é que a morte entrou na história humana e, finalmente, como é que, apesar dela, podemos ter esperança de vida. E, por último, perceber como é que essa esperança me ajuda a viver a minha finitude e traz significado à minha existência. É que o nosso maior problema em face da morte não é morrer, mas morrer sem esperança, morrer como se a morte fosse o aniquilamento total e absoluto, fazendo da vida apenas um vago instante no percurso interminável do tempo. Ao ler os artigos que lhe propomos sobre este tema, vai descobrir que a Bíblia traz uma esperança e uma abordagem séria à questão da morte, abordagem essa que, esperamos, não apenas o ajude a perceber o que é a morte segundo o ponto de vista bíblico, como também contribua para lhe dar esperança para o futuro e sentido de vida no presente. Artur Machado Diretor 1T 2015 | Sinais dos Tempos 3
temática
Um inimigo vencido A esperança cristã perante a morte paulo lima
P
hilip tinha nascido com Síndrome de Down, a doença genética vulgarmente conhecida como mongolismo. Ele era uma criança feliz, mas com uma crescente compreensão da diferença que havia entre ele e as outras crianças. Philip frequentava assiduamente a Escola Dominical, onde aprendia as histórias da Bíblia. Ele estava na turma do terceiro ano, juntamente com nove outras crianças de oito anos. Devido à sua diferença, Philip era tolerado, mas não era realmente
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aceite pelos seus colegas. No entanto, o professor estava consciente da diferença de Philip e procurava ajudar as crianças da sua turma a amarem-se umas às outras, tendo em conta as circunstâncias. Elas aprendiam, riam e brincavam juntas. Preocupavam-se umas com as outras. Mas havia uma exceção. Philip não fazia realmente parte do grupo. Ele não tinha escolhido, nem queria, ser diferente. Simplesmente era diferente. No domingo após a Páscoa, o professor da Escola Dominical teve uma ideia maravi-
lhosa. Ele levou dez caixas vazias com a forma de ovos de Páscoa para a sua classe e deu uma a cada criança da turma. Esse domingo era um belo dia primaveril e o professor propôs uma tarefa relacionada com a Páscoa. As crianças deveriam sair para o jardim da igreja, encontrar um símbolo que expressasse o renovar da vida, colocar esse objeto na caixa em forma de ovo e trazer a caixa para a sala da igreja onde se reuniam. Cada uma abriria então a sua caixa e partilharia com a turma o símbolo de uma nova vida que tinha encontrado. Quando o professor acabou de explicar a tarefa, as dez crianças correram para o jardim e começaram à procura de símbolos de nova vida. Quando regressaram à sala da igreja, cada uma pôs a sua caixa sobre a mesa do professor e este começou a abri-las, uma a uma. Todas as crianças se tinham reunido à volta da mesa. O professor abriu uma caixa, e encontrou uma flor. Todas as crianças se mostraram impressionadas. “Que flor colorida!”, disseram. O professor abriu outra caixa e encontrou uma borboleta. “É tão bonita!”, disseram as raparigas da classe. O professor abriu uma terceira caixa e encontrou uma pedra. Alguns dos miúdos riram-se e outros disseram: “Que parvoíce! Como pode uma pedra simbolizar uma nova vida?” Mas o rapaz inteligente que tinha escolhido pôr a pedra na caixa disse: “Essa é a minha caixa. Eu sabia que vocês iriam procurar flores e rebentos e borboletas e coisas dessas. Por isso, eu escolhi uma pedra porque quis ser diferente. Para mim, a pedra é o símbolo da nova vida.” Perante esta explicação, todas as crianças riram alegremente. O professor abriu então outra caixa. Mas esta estava vazia. As crianças ficaram desapontadas. “Que estupidez! Houve alguém que não percebeu o que o professor pediu.” Então o professor sentiu alguém a puxar a manga da sua camisa e olhou para baixo. “Essa caixa é a minha”, disse Philip. “É a minha caixa!” Ao ouvirem isto todas as crianças disseram: “Tu nunca fazes as coisas como deve ser, Philip! A caixa está vazia!” “Eu fiz como deve ser!”, respondeu Philip. “Eu fiz como deve ser! O túmulo de Jesus está vazio!” Fez-se silêncio, um silêncio profundo, e um milagre aconteceu. A partir deste dia, Philip tornou-se verdadeiramente parte daquele grupo de crianças de oito anos. Elas finalmente acolheram-no como um igual. Philip fora libertado do túmulo da sua diferença. Passado cerca de um ano, Philip morreu. A sua família sabia, desde que ele tinha nascido, que ele não viveria até chegar a ser adulto, pois além da Síndrome de Down, ele tinha outros graves problemas de saúde. Por causa de uma infeção que qualquer criança saudável poderia ultrapassar, Philip morreu. No dia do funeral, nove crianças de nove anos acompanhadas pelo seu professor da Escola Dominical dirigiram-se ao caixão. Não com flores, que pouco serviriam para cobrir a negra realidade da morte. As crianças, juntamente com o seu professor, aproximaram-se do caixão e colocaram sobre
ele um símbolo de uma nova vida, um símbolo da ressurreição prometida por Cristo: uma caixa vazia com a forma de um ovo de Páscoa. Perante a dura realidade da morte, os Cristãos têm uma esperança vibrante. De acordo com a Bíblia, a morte não é necessariamente o destino final dos seres humanos. Na verdade, ela é um inimigo vencido. Cristo venceu a morte ao ressuscitar no domingo de Páscoa e Ele fê-lo para que nós pudéssemos ter esperança. Assim, hoje vamos descobrir o que a Bíblia tem a dizer sobre a morte e sobre a ressurreição. Veremos o que acontece aos seres humanos quando morrem e descobriremos a solução de Deus para a morte. Após terminarmos este breve estudo sobre a morte e a ressurreição, poderemos ficar com o coração confortado pela promessa de Deus de que também nós podemos vencer a morte, tal como Cristo a venceu. Para iniciarmos o nosso estudo, vamos começar por abordar a natureza mortal do homem e o estado do homem na morte. A natureza mortal do homem e o estado do homem na morte Se queremos compreender verdadeiramente a natureza mortal do homem e o estado do homem na morte, devemos começar por descobrir o que a Bíblia ensina sobre a natureza do homem. Para o fazermos, devemos voltar-nos para o relato da Criação. Neste relato é-nos dito que Deus começou por criar o homem a partir do pó da terra, formando o seu corpo com elementos inorgânicos presentes no solo. Depois de ter modelado o corpo, Deus “soprou em seus narizes o fôlego da vida”. Este corpo material animado pelo espírito de Deus tornou-se, então, numa “alma vivente” (Génesis 2:7, ARC). Note-se que o ser humano foi feito uma “alma vivente” apenas quando se deu a união do “fôlego da vida” vindo de Deus com o corpo feito a partir do “pó da terra”. Portanto, a Bíblia entende por “alma” (nephesh) o ente que resulta da união do corpo material com o espírito, representando este o poder vital vindo de Deus que dá vida. O ser humano é uma alma vivente na medida em que é um corpo animado pelo espírito de Deus dador de vida. A alma não é uma parte etérea do ser humano, distinta do seu corpo, que seria a sede da consciência e participaria da imortalidade. A alma é o próprio ser humano total, enquanto ser vivo corporal. Convém ter presente que a Bíblia fala dos animais como sendo também “almas viventes”, pois são igualmente corpos vivos animados pelo fôlego de Deus (Génesis 9:10, 12, 15 e 16). Sendo assim, como descreve a Bíblia o processo da morte? O que acontece quando uma pessoa morre? De acordo com as Escrituras, quando uma pessoa morre o seu corpo, feito do “pó da terra”, volta à terra e o espírito ou fôlego de Deus volta a Deus, que o concedera (Ecle1T 2015 | Sinais dos Tempos 5
siastes 12:7; Salmo 104:29). É esta realidade que o livro de Job traduz, quando afirma: “Se [Deus] levasse de novo a si o seu espírito, se concentrasse em si o seu sopro, expiraria toda a carne no mesmo instante, e o homem voltaria a ser pó” (Job 34:14 e 15). Assim, não é de estranhar que a Bíblia ensine que o processo da morte de um homem é semelhante ao processo da morte de um animal. Os homens morrem da mesma forma que morrem os animais. O sábio Salomão ensinou claramente esta verdade, ao escrever o seguinte: “Quanto aos homens penso assim: Deus os põe à prova para lhes mostrar que são animais. Pois a sorte do homem e a do animal é idêntica: como morre um, assim morre o outro, e ambos têm o mesmo alento; o homem não leva vantagem sobre o animal, porque tudo é vaidade. Tudo caminha para um mesmo lugar: tudo vem do pó e tudo volta ao pó” (Eclesiastes 3:18 e 19). Portanto, a Bíblia ensina que o homem é um “ser mortal” por natureza (Salmo 8:4; Isaías 51:12). Deus é “o único que possui a imortalidade” (I Timóteo 6:15 e 16). De facto, devido à Queda moral de Adão e Eva, os seres humanos perderam o gozo da vida eterna, tornando-se passíveis de morte. Por isso, Deus disse a Adão, após este ter caído em pecado: “Tu és pó e ao pó tornarás” (Génesis 3:19). Assim, o destino do ser humano fica determinado quando morre, pois “até que não haja mais céus, não acordará, nem se erguerá do seu sono” (Job 14:12, ARC). Pois bem, estabelecemos até aqui, biblicamente, a natureza mortal do homem. Convém, agora, que compreendamos o estado do homem na morte. Quando uma pessoa morre, “naquele mesmo dia perecem os seus pensamentos” (Salmo 146:4, ARC). Os seus sentimentos também desaparecem, pois as Sagradas Escrituras dizem-nos, falando dos mortos, que “o seu amor, o seu ódio e a sua inveja já pereceram” (Eclesiastes 9:6, ARC). Os mortos também nada sabem acerca dos seus entes queridos que ainda vivem (Job 14:21). Aliás, “os mortos não sabem coisa nenhuma” (Eclesiastes 9:5, ARC), nem participam nos assuntos do mundo dos vivos. De facto, o sábio Salomão escreveu que os mortos “já não têm parte em coisa alguma do que se faz debaixo do sol” (Eclesiastes 9:6, ARC). Esta situação verifica-se porque, quando o homem morre, nada resta do conhecimento humano. “Tudo o que te vem à mão para fazer, fá-lo conforme à tua capacidade, pois, no Sheol para onde vais, não existe obra, nem reflexão, nem conhecimento e nem sabedoria” (Eclesiastes 9:10). É interessante notar que a Bíblia compara a morte com um profundo sono sem sonhos. De facto, Jesus descreveu a morte do Seu amigo Lázaro como sendo semelhante ao sono (João 11:11-14). O patriarca Job também fala da sua morte futura como sendo um sono tranquilo (Job 3:11, 13) e o rei David descreve igualmente a sua morte como 6 Sinais dos Tempos | 1T 2015
sendo semelhante a um sono (Salmo 13:4). Para a Bíblia, o morto está como que a dormir no pó da terra (Daniel 12:2), e permanecerá aí até ao fim deste mundo, pois “até que não haja mais céus não acordará nem despertará do seu sono” (Job 14:12, ARC). Sendo este o destino de todos os homens, a pergunta que nos aflige a todos deixa-se enunciar de modo bem simples: “Morrendo o homem, porventura tornará a viver?” (Job 14:14, ARC). O mesmo é perguntar: Como pode o homem obter a imortalidade? Paulo dá-nos a resposta. Ele diz-nos que Cristo “não só destruiu a morte, mas também fez brilhar a vida e a imortalidade pelo evangelho” (II Timóteo 1:10). É pela fé em Jesus que podemos ser herdeiros da vida eterna. Como escreveu o apóstolo João: “E o testemunho é este: Deus nos deu a vida eterna e esta vida está em seu Filho. Quem tem o Filho tem a vida; quem não tem o Filho não tem a vida” (I João 5:11 e 12). Portanto, Deus está disposto a dar-nos a imortalidade, se colocarmos a nossa fé no Seu Filho, Jesus Cristo. Apontando para a situação presente da Humanidade, Paulo disse claramente que “o salário do pecado é a morte”. No entanto, ele também fez notar que “a graça de Deus é a vida eterna em Cristo Jesus” (Romanos 6:23). O próprio Jesus Cristo foi muito claro sobre a oferta de vida eterna que Ele tem para todo aquele que O aceitar pela fé como Salvador. “Disse-lhe Jesus: Eu sou a ressurreição e a vida. Quem crê em mim, ainda que morra, viverá” (João 11:25). Cristo pôde fazer esta promessa porque será Ele que chamará de novo à vida os mortos justos que dormem no pó da terra. Quando chegar o último dia da história do nosso Planeta, “os mortos ouvirão a voz do Filho de Deus, e os que o ouvirem, viverão” (João 5:25). Os mortos justos serão então ressuscitados, voltando à vida. Como disse o apóstolo Paulo: “Quando o Senhor, ao sinal dado, à voz do arcanjo e ao som da trombeta divina, descer do céu, então os mortos em Cristo ressuscitarão primeiro” (I Tessalonicenses 4:16). Será então que os homens e as mulheres que fizeram de Jesus o seu Salvador e Senhor receberão o dom da imortalidade. Esta é a boa-nova do Evangelho de Cristo.
Vejamos mais de perto esta promessa bíblica sobre a ressurreição dos mortos para a vida eterna. A ressurreição dos mortos para a vida eterna De facto, Deus fez, desde a Antiguidade, uma promessa ao Seu povo acerca dos que pereceram na morte: “Os teus mortos tornarão a viver, os teus cadáveres ressurgirão” (Isaías 26:19). O profeta Ezequiel expõe claramente esta promessa de Deus. “Assim diz o Senhor Iahweh: Eis que vou abrir os vossos túmulos e vos farei subir dos vossos túmulos, ó meu povo, e vos reconduzirei para a terra de Israel. Então sabereis que eu sou Iahweh, quando abrir os vossos túmulos e vos fizer subir de dentro deles, ó meu povo” (Ezequiel 37:12 e 13). Diante destas promessas de Deus, torna-se claro que “o justo até na sua morte tem esperança” (Provérbios 14:32, ARC). De facto, a ressurreição era a esperança do justo e sofredor Job. Perante a catástrofe em que se tinha transformado a sua vida, ele exclamou: “Porque eu sei que o meu Redentor vive e que, por fim, se levantará sobre a terra. E, depois de consumida a minha pele, ainda em minha carne verei a Deus” (Job 19:25 e 26). Esta esperança na ressurreição geral dos mortos justos, a ocorrer no último dia, era também a esperança dos crentes Judeus do tempo de Cristo. Por exemplo, Marta, a irmã de Lázaro, cria que o seu falecido irmão ressuscitaria “na ressurreição, no último dia” (João 11:24). A mesma esperança tinha o apóstolo Paulo. O objetivo que ele tinha na vida era alcançar “a ressurreição de entre os mortos” (Filipenses 3:11). Paulo acreditava que Deus iria ressuscitar todos os que tivessem crido em Jesus, da mesma forma que Ele tinha ressuscitado o próprio Cristo (I Coríntios 6:14; II Coríntios 4:14). Esta esperança de Paulo na futura ressurreição dos mortos justos estava alicerçada na promessa que Jesus tinha feito aos Seus discípulos. “Disse-lhe Jesus: Eu sou a ressurreição e a vida. Quem crê em mim, ainda que morra, viverá” (João 11:25). “Sim, esta é a vontade de meu Pai: quem vê o Filho e nele crê tem a vida eterna, e eu o ressuscitarei no último dia” (João 6:40).
Jesus pôde fazer esta promessa porque, graças à Sua morte e à Sua ressurreição gloriosa, Ele tinha conquistado o poder sobre a morte, adquirindo simbolicamente as chaves da morte e da sepultura (Apocalipse 1:17 e 18). Portanto, por Cristo é possível a ressurreição dos mortos. Como escreveu Paulo: “Com efeito, visto que a morte veio por um homem, também por um homem vem a ressurreição dos mortos. Pois, assim como todos morrem em Adão, em Cristo todos receberão a vida” (I Coríntios 15:20-22). Esta promessa de ressurreição para os justos é crucial, porque, se não houvesse ressurreição dos mortos, não haveria qualquer esperança para a Humanidade. Como fez notar Paulo: “Pois se os mortos não ressuscitam, também Cristo não ressuscitou. E, se Cristo não ressuscitou, ilusória é a vossa fé; ainda estais nos vossos pecados. Por conseguinte, aqueles que adormeceram em Cristo estão perdidos” (I Coríntios 15:16-18). Vamos agora estudar mais de perto o fenómeno da futura ressurreição dos mortos, tal como é exposto na Bíblia. Sabemos que a ressurreição ocorrerá apenas quando a história deste mundo chegar ao fim, pois é-nos dito que o morto, “até que não haja mais céus, não acordará nem se erguerá do seu sono” (Job 14:10-12). A Bíblia diz-nos que haverá duas ressurreições distintas e separadas: a ressurreição dos justos e a ressurreição dos injustos (Daniel 12:2; Atos 24:15). Falando sobre Si mesmo, Cristo ensinou claramente que “todos os que repousam nos sepulcros ouvirão a sua voz e sairão; os que tiverem feito o bem, para uma ressurreição de vida; os que tiverem praticado o mal, para uma ressurreição de julgamento” (João 5:28 e 29). Portanto, a primeira ressurreição será a dos mortos justos. O Apocalipse descreve assim a primeira ressurreição: “Vi então tronos, e aos que neles se sentaram foi dado o poder de julgar. Vi também as vidas daqueles que foram decapitados por causa do testemunho de Jesus e da palavra de Deus, e dos que não tinham adorado a besta, nem a sua imagem, e nem recebido a marca sobre a fronte ou na mão: eles voltaram à vida e reinaram com Cristo durante mil anos. […]. Esta é a primeira ressurreição. Feliz e santo aquele que participa da primeira ressurreição! Sobre estes a segunda morte não tem poder; eles serão sacerdotes de Deus e de Cristo, e com ele reinarão durante mil anos” (Apocalipse 20:4-6). A segunda ressurreição será a ressurreição dos ímpios para enfrentarem o juízo final. O livro de Apocalipse também nos descreve esta ressurreição. “Vi depois um grande trono branco e aquele que nele se assenta. O céu e a terra fugiram da sua presença, sem deixar vestígios. Vi então os mortos, grandes e pequenos, em pé diante do trono, e abriram-se os livros. Também foi aberto outro livro, o da vida. […]. O mar devolveu os mortos que nele jaziam, a morte e o hades entregaram os mortos que neles estavam, 1T 2015 | Sinais dos Tempos 7
e cada um foi julgado conforme a sua conduta” (Apocalipse 20:11-13). Estas duas ressurreições – a dos justos e a dos ímpios – serão separadas por mil anos. De facto, o livro de Apocalipse afirma claramente que os justos ressuscitarão primeiro, antes do começo do milénio, e que os ímpios ressuscitarão apenas após o termo do milénio. “Vi também as vidas daqueles que foram decapitados por causa do testemunho de Jesus e da palavra de Deus, e dos que não tinham adorado a besta, nem a sua imagem, e nem recebido a marca sobre a fronte ou na mão: eles voltaram à vida e reinaram com Cristo durante mil anos. Os outros mortos, contudo, não voltaram à vida até ao término dos mil anos” (Apocalipse 20:4 e 5). O apóstolo Paulo afirma claramente que a primeira ressurreição, a ressurreição dos crentes em Cristo, ocorrerá por ocasião da Segunda Vinda de Jesus (I Coríntios 15:22 e 23). Ele diz-nos o seguinte: “Pois isto vos declaramos, segundo a palavra do Senhor: que os vivos, os que ainda estivermos aqui para a vinda do Senhor, não passaremos à frente dos que morreram. Quando o Senhor, ao sinal dado, à voz de arcanjo e ao som da trombeta divina, descer do céu, então os mortos em Cristo ressuscitarão primeiro; em seguida nós, os vivos que estivermos lá, seremos arrebatados com eles nas nuvens para o encontro com o Senhor, nos ares. E assim, estaremos para sempre com o Senhor” (I Tessalonicenses 4:15-17). Paulo também descreve com detalhe o processo da ressurreição, que envolverá a glorificação dos justos ressuscitados. Ele escreveu: “Eis que vos dou a conhecer um mistério: nem todos morreremos, mas todos seremos transformados, num instante, num abrir e fechar de olhos, ao som da trombeta final; sim, a trombeta tocará e os mortos ressurgirão incorruptíveis, e nós seremos transformados. Com efeito, é necessário que este ser corruptível revista a incorruptibilidade e que este ser mortal revista a imortalidade. Quando, pois, este ser corruptível tiver revestido a incorruptibilidade e este ser mortal tiver revestido a imortalidade, então cumprir-se-á a palavra das Escrituras: A morte foi absorvida na vitória” (I Coríntios 15:51-54). Portanto, Paulo diz-nos que ocorrerá uma mudança ontológica no corpo dos justos ressuscitados. Estes não surgirão da sepultura com o mesmo tipo de corpo que tinham quando aí foram depositados. Aos ressurretos será concedido um tipo de corpo incorruptível, que já não estará sujeito à doença e à morte. Paulo acrescenta: “O mesmo se dá com a ressurreição dos mortos; semeado corruptível, o corpo ressuscita incorruptível; semeado desprezível, ressuscita reluzente de glória; semeado na fraqueza, ressuscita cheio de força; semeado corpo psíquico, ressuscita corpo espiritual” (I Coríntios 15:42-44). Este novo “corpo espiritual”, que possuirão os justos ressuscitados, será semelhante ao corpo do Cristo ressus8 Sinais dos Tempos | 1T 2015
citado e glorificado (Filipenses 3:20 e 21). Sabemos que, após a Sua ressurreição, Cristo possuía um corpo físico glorificado ou espiritual, isto é, um corpo de carne e osso, mas possuidor de capacidades novas e de uma glória que o “corpo psíquico” com que nascemos não possui (Lucas 24:37-40). Este aspeto glorioso do corpo espiritual dos ressurretos é expresso por Jesus, quando Ele disse que “os justos brilharão como o sol no reino de seu Pai” (Mateus
13:43; cf. Daniel 12:3). Graças a este novo corpo, os justos ressuscitados já não estarão sujeitos à morte e terão um corpo semelhante ao corpo espiritual dos anjos. “Mas os que forem julgados dignos de ter parte no outro século e na ressurreição dos mortos, nem eles se casam, nem elas se dão em casamento; pois nem mesmo podem morrer: são semelhantes aos anjos e são filhos de Deus, sendo filhos da ressurreição” (Lucas 20:35 e 36). Portanto, os justos ressuscitados desfrutarão da vida eterna a partir da ressurreição (João 5:24). Quanto à ressurreição dos ímpios, vimos que ela ocorre após o milénio, isto é, mil anos depois da Segunda Vinda de Jesus e da ressurreição dos justos. Será então decidido o destino dos ímpios, dos anjos caídos e do próprio Satanás. Este destino é a destruição total por incineração (Salmo 37:20). O profeta Malaquias descreve graficamente o destino dos ímpios. Ele escreveu o seguinte sobre o dia do castigo decorrente do juízo final: “Porque, eis que aquele dia vem ardendo como forno; todos os soberbos e todos os que cometem impiedade, serão como palha; e o dia que está para vir os abrasará, diz o Senhor dos Exércitos, de sorte que lhes não deixará nem raiz nem ramos. […]. E pisareis os ímpios, porque se farão cinza, debaixo das plantas dos vossos pés, naquele dia que farei, diz o Senhor dos Exércitos” (Malaquias 4:1, 3, ARC). O apóstolo João, em Apocalipse, descreve também a cena final de juízo e de destruição dos ímpios, após o milénio. “Quando se completarem os mil anos, Satanás será solto de sua prisão e sairá para seduzir as nações dos quatro cantos da terra, Gog e Magog, reunindo-as para o combate; o seu número é como a areia do mar. Subiram sobre a superfície da terra e cercaram o acampamento dos santos e a cidade amada; mas um fogo desceu do céu e os devorou” (Apocalipse 20:7-9). Assim, todos os ímpios serão destruídos por incineração no lago de fogo e enxofre, que resultará da queda do fogo sobre a Terra, descrita pelo Apocalipse. Por isso, João escreveu: “Quanto aos covardes, porém, e aos infiéis, aos corruptos, aos assassinos, aos impúdicos, aos mágicos, aos idólatras e a todos os mentirosos, a sua porção se encontra no lago ardente de fogo e enxofre, que é a segunda morte” (Apocalipse 21:8). A recompensa dos ímpios será a segunda morte, a morte eterna, pois recusaram aceitar para si as provisões do Plano da Salvação que lhes poderiam ter valido a Salvação eterna. Com a destruição final dos ímpios será também destruído simbolicamente o último inimigo da Humanidade, a morte. Como escreve o apóstolo Paulo, “o último inimigo a ser destruído será a morte” (I Coríntios 15:26). Resolvido o problema do pecado pelo Plano da Salvação concebido por Deus, deixará de haver morte. Os seres humanos resgatados viverão com Cristo e com Deus por toda a eternidade. Eles poderão então exclamar vitorio-
sos, como Paulo: “Tragada foi a morte na vitória. Onde está, ó morte, o teu aguilhão? Onde está, ó inferno, a tua vitória?” (I Coríntios 15:54 e 55). Conclusão Durante muitos séculos, os Europeus contemplaram o mar ocidental, a que chamamos Oceano Atlântico, e interrogavam-se. Eles perguntavam-se se haveria algo mais para além do Atlântico. Os eruditos afirmavam que nada mais havia para além do mar. No século XV, a Espanha tornou-se senhora das regiões situadas em ambos os lados do estreito de Gibraltar, onde se avizinhavam o continente europeu e o continente africano. Nesse local tinham sido colocados dois grandes pilares de pedra, as “Colunas de Hércules”, onde estava inscrito o mote latino Ne Plus Ultra, isto é: “Nada mais além.” Esta era a crença generalizada daquela época. Ninguém se atrevia a questionar a convicção generalizada de que nada havia para além do horizonte ocidental. O reino de Espanha tinha mesmo inscrito no seu escudo de armas o mote Ne Plus Ultra como lema nacional. Mas, em 1492, Cristóvão Colombo partiu de Espanha, desbravando o Oceano Atlântico em direção a Ocidente. Após terem passado muitos meses, as velas dos barcos de Colombo reapareceram no horizonte e a nação espanhola exultou de alegria. Colombo anunciou ao rei de Espanha que havia terra para além do Oceano Atlântico. Havia para além do mar um glorioso paraíso, que continha riquezas nunca sonhadas. Após a extraordinária viagem de Colombo, que descobrira um novo mundo no Ocidente, o rei de Espanha reescreveu o lema nacional do seu país e mandou imprimi-lo em novas moedas de prata. Este lema passou a ser Plus Ultra, que significa “Mais Além”. Este é, ainda hoje, o lema nacional do reino de Espanha. Durante muitos séculos as pessoas colocaram-se ao lado de uma escura cova, viram os restos mortais dos seus entes queridos serem descidos à terra, e interrogavam-se: Existirá algo mais para além das trevas da morte? Então, um dia, Cristo foi colocado numa sepultura e, passado três dias, ressuscitou de entre os mortos. Ao fazê-lo, Ele abriu o caminho para que a morte não fosse o destino final do homem. Ao ressuscitar, Jesus Cristo ganhou o direito de ressuscitar também todos os seres humanos que aceitem as condições do Plano da Salvação concebido por Deus. Todo aquele que aceitar Jesus como seu Salvador obterá o direito de ressuscitar no último dia, na ressurreição dos justos. Portanto, o que Cristo nos oferece é a vida eterna. Queremos nós aceitá-la? Se aceitarmos esta oferta, poderemos fazer nosso o lema Plus Ultra, pois, para além da morte, encontraremos Salvação e vida sem fim no paraíso de Deus. Paulo Lima 1T 2015 | Sinais dos Tempos 9
temática
Corpo
dois aspetos natureza
Samuele B ac chioc c hi
O
que são os seres humanos? Somos nós constituídos por um corpo mortal e por uma alma imortal que deixa o corpo no momento da morte? Ou somos um todo indivisível, que perece na morte e é reavivado na ressurreição? Este artigo explora o que a Bíblia ensina sobre a natureza humana na ocasião da Criação, após a Queda e depois da Redenção. Na Criação Génesis 1:26 e 27 diz-nos que, quando Deus criou Adão e Eva, disse: “Façamos o homem à nossa imagem.” O que é esta “imagem de Deus”? Alguns argumentam que se trata de uma alma imortal implantada no corpo humano. O Novo Testamento refere-se ao facto de os Cristãos serem conforme à imagem de Cristo (Romanos 8:29; I Coríntios 15:49). Algumas pessoas dizem que, dado que Deus é imortal, também nós devemos ser imortais, pois fomos feitos à Sua imagem. No entanto, Deus também é omnisciente, omnipotente e omnipresente, mas nós não diríamos que os seres humanos têm igualmente estas qualidades. Uma imagem fica sempre aquém da pessoa ou da coisa que ela representa. O facto de sermos feitos à imagem de Deus significa que temos mentes racionais que podem compreender conceitos abstratos e, em especial, assuntos morais. A imagem de Deus que recebemos na Criação não é uma “alma” imortal. É a nossa reflexão do caráter moral de Deus. O livro de Génesis tem outra afirmação bíblica que é importante para se compreender a natureza humana no momento da Criação. “E formou o Senhor Deus o homem do pó da terra e soprou em seus narizes o fôlego da vida: e o homem foi feito alma vivente” (Génesis 2:7). Muitos estudiosos da Bíblia têm partido do princípio de que “o fôlego da vida” era uma alma imaterial e imor-
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tal que Deus colocou em Adão e Eva quando os criou. Eles interpretam a frase “o homem foi feito alma vivente” como se ela significasse “o homem obteve uma alma vivente”. No entanto, o fôlego da vida que Deus soprou no nariz de Adão não era uma alma imortal; era o Espírito de Deus, dador de vida. Job 33:4 diz: “O Espírito de Deus me fez; e o sopro do Todo-Poderoso me dá vida.” O paralelismo entre o “Espírito de Deus” e “o sopro do Todo-Poderoso” sugere que as duas frases são usadas de modo intercambiável e que ambas se referem ao dom da vida que Deus comunica às Suas criaturas. Uma pessoa que já não respira está morta. Job disse: “Enquanto em mim houver alento, e o espírito de Deus no meu nariz, não falarão os meus lábios iniquidade, nem a minha língua pronunciará engano” (Job 27:3 e 4). Aqui o “fôlego” humano e o “espírito” divino são correlacionados, porque o ato de respirar é visto como a manifestação do poder sustentador do Espírito de Deus. Possuir o fôlego da vida, por si só, não confere imortalidade, porque no momento da morte este fôlego regressa a Deus. Eclesiastes 12:7 exprime esta verdade: “E o pó volte à terra, como o era, e o espírito [ou fôlego] volte a Deus, que o deu.” Este espírito, ou fôlego, não é um espírito ou uma alma imortal que Deus concede às Suas criaturas. É o dom da vida que os seres humanos possuem durante a duração da sua existência. Enquanto o “fôlego da vida” permanece neles, os seres humanos são “almas viventes”. Mas quando o fôlego se vai, eles tornam-se almas mortas. Isto explica o facto de a Bíblia, por vezes, se referir à morte humana como sendo a morte da alma (veja Ezequiel 18:4, 20). A maioria dos estudiosos da Bíblia reconhece que a “alma” (em Hebreu, nephesh) referida em Génesis 2:7 não é uma essência imortal implantada no corpo, mas é a vida que Deus confere ao corpo. Por exemplo, ao comentar este versículo no seu livro The Biblical Meaning of Man (O Significado Bíblico do Homem), o académico Católico
e alma,
da indivisível humana
Dom Wulstan escreveu: “É a nephesh [alma] que dá a vida ao bashar [corpo], mas não enquanto substância distinta. Adão não tem nephesh [alma]; ele é nephesh [alma], tal como ele também é bashar [corpo]. O corpo, em vez de estar dividido do princípio que o anima, é a nephesh [alma] visível.” Uma prova fortíssima de que a expressão “alma vivente” em Génesis 2:7 não significa “alma imortal” resulta do modo como a Bíblia usa a mesma expressão para descrever a criação dos animais (Génesis 1:20 e 21, 24, 30). Este facto não é visível na maioria das traduções, porque nelas as palavras hebraicas para “alma vivente” usadas em Génesis 2:7 (nephesh hayyah) são traduzidas pela expressão “criaturas vivas” quando se referem à criação dos animais em Génesis 1. No entanto, a tradução portuguesa de João Ferreira de Almeida em Génesis 1:20 e 21, 24, 30 traduz acertadamente a expressão hebraica nephesh hayyah, aplicada aos animais, usando a expressão portuguesa “alma vivente”. Portanto, a diferença entre seres humanos e animais não reside no facto de que os seres humanos têm uma alma imortal. Ela reside, sim, no facto de que os seres humanos foram criados à imagem de Deus – isto é, com capacidades mentais e morais semelhantes às capacidades divinas, que não estão presentes nos animais. Após a Queda A Queda não modificou a natureza humana, mas fez com que deixássemos de poder viver para sempre e passássemos a ter inevitavelmente de enfrentar a morte. Antes da Queda, Adão e Eva tinham a certeza da imortalidade, não porque possuíssem almas imortais, mas porque tinham acesso à árvore da vida. Após a Queda, eles deixaram de ter acesso à árvore da vida (Génesis 3:22 e 23). Consequentemente, eles começaram a experimentar o lento processo de envelhecimento que conduz à morte. O aviso que Deus deu a Adão e Eva indica a existência de uma conexão clara entre a vida e a obediência, por um
lado, e a morte e a desobediência, por outro (veja Génesis 2:17). A desobediência resultou na morte, não apenas para o corpo, mas para a pessoa na sua totalidade. Deus não disse: “No dia que dela comeres o teu corpo morrerá, mas a tua alma sobreviverá num estado extracorporal.” O que Ele disse foi: “Tu – isto é, toda a tua pessoa – morrerás.” Este é um ensino fundamental da Bíblia. O salário do pecado é a morte, não apenas para o corpo, mas para a pessoa na sua totalidade (Romanos 6:23). “A alma que pecar, essa morrerá” (Ezequiel 18:4). A morte do corpo está ligada à morte da alma porque o corpo é a forma visível da alma. Após a Redenção Jesus não veio libertar a nossa alma do nosso corpo. Ele veio para conceder (1) a regeneração espiritual da pessoa na sua totalidade nesta vida presente e (2) a ressurreição física da pessoa na sua totalidade para o mundo vindouro. Paulo atribuía importância vital ao papel do Espírito na nova vida do crente (II Coríntios 5:17). Isto é indicado pelo facto de que, nas suas epístolas, ele refere-se ao “espírito” (em Grego, pneuma) 146 vezes e, em contraste, refere-se à “alma” (em Grego, psyche) apenas 13 vezes. Além disso, Paulo nunca usou a palavra “alma” (psyche) para denotar a vida que sobrevive à morte. Pelo contrário, ele usou uma frase grega que significa “corpo psíquico” para descrever o corpo físico que irá ser transformado num corpo espiritual no momento da ressurreição. A transformação final da natureza humana será realizada no glorioso dia do regresso de Cristo, quando “isto que é corruptível se revestir da incorruptibilidade e isto que é mortal se revestir da imortalidade” (I Coríntios 15:54). Paulo assegurou aos crentes que “o Espírito daquele que dos mortos ressuscitou Jesus... também vivificará os vossos corpos mortais” (Romanos 8:11). É evidente que a imortalidade não é uma característica natural da alma, mas é um dom divino que os corpos mortais irão receber após a ressurreição. Paulo não menciona a alma em I Coríntios 15, o único capítulo da Bíblia inteiramente dedicado à ressurreição dos crentes. Se a ressurreição realmente envolve a reunião da alma com o corpo, certamente é estranho que Paulo deixe totalmente de mencionar esse facto neste capítulo. Esta nossa breve exposição mostrou que a perspetiva bíblica sobre a natureza humana é global. Para a Bíblia, o homem é uma pessoa una e indivisível. Na Criação toda a natureza humana era condicionalmente imortal. A Queda fez com que toda a natureza humana se tornasse incondicionalmente mortal. Mas, na Redenção, Deus forneceu um meio para que a natureza humana na sua totalidade seja moralmente renovada nesta vida e fisicamente restaurada no mundo vindouro. Este é o glorioso plano de Deus para nós. Samuele Bacchiocchi 1T 2015 | Sinais dos Tempos 11
temática
Três coisas
que deve saber acerca da morte
Joy Wend t
E
ra uma manhã normal, semelhante às manhãs que muitas mães costumam viver. Ela apanhou as chaves do carro, saiu porta fora, assegurou-se de que o seu filho de cinco anos tinha o cinto de segurança posto e estava sentado no banco da frente, pôs as chaves na ignição e preparou-se para sair da garagem. Subitamente, percebeu que se tinha esquecido da mala, pelo que voltou a casa a correr. A intrusão de uma chamada telefónica deteve-a por um momento. Posso despachar isto rapidamente, deve ela ter pensado. Terminou a conversa telefónica logo que lhe foi possível. Ao correr de volta para o exterior, ficou horrorizada ao descobrir que o seu filho tinha sido atropelado pelo carro. Aparentemente, ele tinha conseguido retirar o cinto de segurança, passado para o lugar do condutor e colocado o carro em movimento. Quando o carro começou a andar, ele deve ter entrado em pânico e saltou para fora da viatura, sendo atropelado. A mãe chamou imediatamente por socorro, mas era tarde de mais. Os dias seguintes pareceram ser um pesadelo sem fim para aquela mãe desolada, à medida que procurava ultrapassar o choque. O absurdo da situação parecia fazer pouco da sua dor. Será que esta ferida permanente alguma vez sararia? No seu livro The Healing Path (A Senda da Cura) o terapeuta cristão Dan Allender conta o final da história: “Dois anos depois do acidente, a mulher estava muito melhor, mas ainda sofria de vagas de náusea e de sentimento de 12 Sinais dos Tempos | 1T 2015
culpa que ameaçavam submergi-la. O seu casamento estava em risco de se desfazer e ela continuava a tomar medicamentos para a depressão. A sua história e a dor expressa pelos seus olhos abalaram-me. Mas um comentário em particular emocionou-me. ‘Obrigada’, disse ela, ‘por me dizer que não é errado sofrer’. Como ela explicou, todos os outros queriam que ela estivesse ‘bem’. Eles queriam que ela ‘retomasse a sua vida’. Ela disse que costumava ter o mesmo tipo de sentimentos para com aqueles que tinham sofrido perdas trágicas; não tinha compreendido a profundidade do mal com o qual eles se debatiam. Agora, já compreendia. Melancolicamente, comentou: ‘Eu simplesmente nunca pensei que a tragédia podia realmente, mas mesmo realmente, vir bater à minha porta’.” Muitas vezes, durante tais tragédias inesperadas, nós interrogamo-nos: Onde está Deus no meio de tudo isto? Especialmente em tragédias coletivas, como quando ocorre um sismo ou outra calamidade, Deus é sempre dado por culpado. Os desastres naturais até são designados “atos de Deus” pelas seguradoras. Mas as histórias milagrosas de sobrevivência são compreendidas apenas como resultados de “boa sorte”. Não é culpa de Deus Mas isto não é realmente verdade. Quando criou a vida no planeta Terra, Deus não incluiu nos Seus planos que os Seus filhos sofressem. A morte e o sofrimento atingiram a
Humanidade quando Adão e Eva aceitaram a oferta de um inimigo para terem uma vida supostamente melhor (veja Génesis 3:1-9). Embora o salário do pecado tenha trazido a morte como o destino final de todos os seres humanos, Deus arranjou um modo de nos trazer novamente a vida eterna através do sacrifício do Seu Filho. O Seu plano introduziria de novo a estabilidade, ao erradicar o pecado e ao proteger completamente os Seus filhos de Satanás, o autor do pecado e da morte (veja Romanos 6:23; Naúm 1:9). Deus sabia que, para que o Universo ficasse para sempre livre da rebelião contra as Suas leis, Satanás precisaria de tempo para demonstrar como é terrível a rebelião e quais são os resultados que ela traz. Então, quando os filhos da Terra estiverem finalmente redimidos, eles nunca mais quererão experimentar o pecado. Assim, é importante compreender que, embora haja uma razão para o sofrimento e para a morte que experimentamos, estes não são culpa de Deus. As boas notícias são que Deus está connosco através destas circunstâncias difíceis. Nós nunca contamos, nos nossos planos, que a dor nos bata à porta, mas, quando tal acontece, temos um Salvador que é capaz de compreender a grande perda emocional associada à morte. Ele anseia por nos confortar e suster, mesmo no meio das ondas de dor que ameaçam submergir-nos (João 14:18). A Bíblia diz-nos que “Jesus chorou” quando perdeu um amigo (João 11:35). Ainda que Ele planeasse ressuscitar Lázaro,
Aquele que foi chamado a Ressurreição e a Vida chorou antes de realizar uma ressurreição. Ele passou algum tempo a sentir a dor da morte. Os seus entes queridos estão a dormir Olhando mais de perto, vemos algo extraordinário na história da morte de Lázaro. Jesus soube que o Seu amigo estava doente vários dias antes de ele ter morrido. No entanto, Cristo continuou a curar outros doentes. Os discípulos ficaram preocupados e duvidaram da sinceridade da amizade de Jesus pelo Seu amigo. Quando ouviram as notícias de que Lázaro tinha morrido, perderam toda a esperança. Foi por isso que ficaram surpreendidos com o facto de esta notícia sobre o estado de Lázaro ter motivado Jesus a agir. A Bíblia diz-nos que, quando Jesus ouviu “que Lázaro estava enfermo, ficou ainda dois dias no local onde estava. Depois disto, disse aos seus discípulos: Vamos outra vez para a Judeia”. Jesus explicou aos Seus discípulos que “Lázaro, o nosso amigo, dorme, mas vou despertá-lo do sono. Disseram, pois, os seus discípulos: Senhor, se dorme, estará salvo. Mas Jesus dizia isto da sua morte; […]. Então Jesus disse-lhes claramente: Lázaro está morto” (João 11:6 e 7, 11-14). E esta não é a única vez que Jesus comparou a morte com o sono. Mateus, Marcos e Lucas contam a história de outra ressurreição que Jesus realizou. Desta vez, um
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homem chamado Jairo tinha uma filha de doze anos que estava gravemente doente. Ele veio até Jesus numa última tentativa desesperada para a salvar e Jesus concordou em acompanhar Jairo ao seu lar. No entanto, a multidão de pessoas que buscavam a cura impedia que eles progredissem com rapidez, pelo que a viagem até casa de Jairo se tornou numa jornada irritantemente lenta. Finalmente, um mensageiro chegou com uma notícia nauseante. “A tua filha está morta; para que enfadas mais o Mestre?” (Marcos 5:35). Apesar da pressão exercida pela multidão, Jesus olhou Jairo nos olhos e disse-lhe: “Não temas, crê somente” (Marcos 5:36). Jesus tinha um plano! Quando chegaram à casa de Jairo, Jesus ofereceu esperança aos enlutados. Ele disse: “Porque vos alvoraçais e chorais? A menina não está morta, mas dorme. E riram-se dele” (Marcos 5:39 e 40). Estes pseudo-amigos, que fingiam estar de luto, realmente riram-se de Jesus. Eles riram-se porque podiam ver se os sinais vitais estavam ou não presentes. Eles sabiam distinguir entre a morte e a vida. Mas perderam o grande conforto oferecido pelas palavras de Jesus. A Bíblia diz-nos que “os mortos não sabem coisa nenhuma” (Eclesiastes 9:5) e que, no mesmo dia em que eles morrem, “perecem os seus pensamentos” (Salmo 146:4). Jesus revela-nos, através destas duas histórias e do simbolismo do sono, que a morte é apenas uma pacífica e inconsciente espera pela ressurreição. A Bíblia também nos diz que algumas pessoas serão ressuscitadas, na primeira ressurreição, para a vida eterna, e que outras irão ter de enfrentar o juízo, na segunda ressurreição (veja Apocalipse 20:6). Mas, felizmente, a decisão de ressuscitar uns e outros cabe a um Deus misericordioso, que não deseja que alguém pereça (veja II Pedro 3:9). Apenas Ele pode ler o coração nos últimos momentos da vida de uma pessoa. Nós não podemos julgar, mesmo quando a pessoa parece viver totalmente à margem da vontade de Deus. Que conforto é saber que os nossos entes queridos não estão a arder no inferno ou a desfrutar do céu, vendo-nos sofrer nesta vida na Terra sem eles. Eles estão simplesmente a descansar até que Deus lhes dirija o Seu chamado final. 14 Sinais dos Tempos | 1T 2015
Encontrar-vos-eis de novo Jesus já provou que é o dador da vida. Nós sabemos que Ele gosta de devolver os mortos à sua família e aos seus amigos. Portanto, podemos acalentar a esperança de que nos voltaremos a reunir com os nossos entes queridos um dia, ainda que nos seja pedido que aguardemos com fé a vitória final de Deus sobre a morte. Steven Curtis Chapman conhece a dor da perda e a esperança da reunião. Há alguns anos, ele perdeu a sua filha Maria num trágico acidente. Ela tinha cinco anos. Aparentemente, quando um condutor adolescente recuava o seu Jeep para fora da garagem, não viu a criança que brincava no passeio. Esta tragédia aconteceu, apesar de os Chapman terem trabalhado como missionários em orfanatos chineses. Será justo que aqueles que estavam a ajudar os filhos de outras pessoas devessem perder uma filha? Parecia tão injusto! Como podia um mal como este acontecer a pessoas tão boas? Chapman e a sua esposa devem ter ficado paralisados com o desgosto, tal como aquela mãe que nunca pensara que tal tragédia pudesse bater-lhe à porta, até que perdeu o filho num acidente similar. No entanto, os Chapman decidiram colocar a sua confiança em Deus, mesmo quando não entendiam os Seus propósitos. Pouco tempo depois desta terrível perda, Chapman compôs a canção “Beauty Will Rise” (“A beleza erguer-se-á”), que é verdadeiramente pungente e que mostra o profundo anseio da sua alma pelo dia em que se reunirá com os seus entes queridos falecidos. À medida que Chapman foi lidando com as emoções suscitadas por aquela experiência, tenho a certeza de que alimentou a urgência da sua esperança em ver de novo aquela preciosa menina. Na canção, ele diz: “A partir destas cinzas a beleza erguer-se-á. Pois nós sabemos que a alegria virá pela manhã, pela manhã.” Sim, a Bíblia diz-nos que “o choro pode durar uma noite, mas a alegria vem pela manhã” (Salmo 30:5). Esta noite de agonia terminará um dia. A bendita manhã da ressurreição chegará. E quando Deus restaurar para nós a beleza e a alegria, ao recebermos de volta os nossos entes queridos, iremos para um lugar onde nunca experimentaremos de novo a dor da morte. Deus prometeu que “limpará dos seus olhos toda a lágrima; e não haverá mais morte, nem pranto, nem clamor, nem dor; porque já as primeiras coisas são passadas” (Apocalipse 21:4). Nesse momento, Deus irá finalmente destruir o pecado e Satanás e o último inimigo – a morte – deixará de existir (veja I Coríntios 15:25 e 26). A bondade de Deus obterá a vitória completa sobre o mal. Ouvir-se-á o grito: “Onde está, ó morte, a tua vitória? Onde está, ó morte, o teu aguilhão?” (I Coríntios 15:55). Que manhã maravilhosa será esta!
Joy Wendt
a bíblia ensina
O Estado do Homem na Morte 1. O que é a morte? O que acontece quando o homem morre? “Antes que o pó volte à terra de onde veio e o sopro volte a Deus que o concedeu.” Eclesiastes 12:7. 2. Então o homem morre da mesma forma que morrem os animais? “Quanto ao homem penso assim: Deus os põe à prova para lhes mostrar que são animais. Pois a sorte do homem e a do animal é idêntica: como morre um, assim morre o outro, e ambos têm o mesmo alento; o homem não leva vantagem sobre o animal, porque tudo é vaidade. Tudo caminha para um mesmo lugar: tudo vem do pó e tudo volta ao pó.” Eclesiastes 3:18-20. 3. Sendo assim, o homem é um ser mortal por natureza? “Quando vejo o céu, obra dos teus dedos, a lua e as estrelas que fixaste, que é um mortal, para dele te lembrares, e um filho de Adão, que venhas visitá-lo?” Salmo 8:4. 4. O que sucede aos pensamentos do homem ao morrer? “Sai-lhes o espírito e eles tornam à terra: naquele mesmo dia perecem os seus pensamentos.” Salmo 146:4. 5. O que sabe o morto acerca dos entes queridos que ainda vivem? “Seus filhos adquirem honras, mas ele não o chegará a saber; caem em desonra, mas ele não o percebe.” Job 14:21. 6. Então, os mortos nada sabem? “Porque os vivos sabem que hão de morrer, mas os mortos não sabem coisa nenhuma; não têm jamais recompensa, mas a sua memória ficou entregue ao esquecimento.” Eclesiastes 9:5. 7. Portanto, os mortos em nada participam nos assuntos deste mundo? “O seu amor, o seu ódio e a sua inveja já pereceram; já não têm parte em coisa alguma do que se faz debaixo do sol.” Eclesiastes 9:6.
8. Resta alguma coisa do conhecimento humano quando o homem está morto? “Tudo o que te vem à mão para fazer, fá-lo conforme à tua capacidade, pois, no Sheol para onde vais, não existe obra, nem reflexão, nem conhecimento e nem sabedoria.” Eclesiastes 9:10. 9. Mas, então, os mortos nem sequer louvam Deus? “Volta-te, Iahweh! Liberta-me! Salva-me, por teu amor! Pois na morte ninguém se lembra de ti, quem te louvaria no Sheol?” Salmo 6:5 e 6. 10. Como pode o homem obter a imortalidade? “E o testemunho é este: Deus nos deu a vida eterna e esta vida está em seu Filho. Quem tem o Filho tem a vida; quem não tem o Filho não tem a vida.” I João 5:11 e 12. 11. Então, Deus dá-nos a imortalidade apenas através da nossa fé em Jesus? “Disse-lhe Jesus: Eu sou a ressurreição e a vida. Quem crê em mim, ainda que morra, viverá.” João 11:25. 12. Quem chama de novo à vida os mortos na ressurreição? “Em verdade, em verdade, vos digo: vem a hora – e é agora – em que os mortos ouvirão a voz do Filho de Deus, e os que o ouvirem, viverão.” João 5:25. “Quando o Senhor, ao sinal dado, à voz do arcanjo e ao som da trombeta divina, descer do céu, então os mortos em Cristo ressuscitarão primeiro.” I Tessalonicenses 4:16. 1T 2015 | Sinais dos Tempos 15
linha aberta Pergunta: A parábola do pobre Lázaro (Lucas 16:19-31) sugere que não estamos totalmente inconscientes quando morremos?
A Parábola do Pobre Lázaro Án g el Manuel R odr ígu e z
T
alvez a questão básica que se nos coloca é a de se saber se esta história é uma parábola ou uma narrativa histórica. Se é histórica, então Jesus está a descrever o que realmente aconteceu ao homem rico e a Lázaro depois de terem morrido. Se é uma parábola, devemos descobrir o seu propósito. 1. Um acontecimento histórico? Uma leitura da passagem indica que ela não está a descrever um acontecimento literal que teve lugar no Além. Se ela fosse histórica, seria necessário fazer uma leitura literal; no entanto, uma interpretação literal desta passagem revela alguns problemas muito sérios. Em primeiro lugar, não há uma referência explícita à alma ou ao espírito de Lázaro ou do homem rico. Aqueles que acreditam que a história descreve as condições existentes durante o estado intermediário situado entre a morte e a ressurreição também ensinam que a alma ou o espírito sobrevive após a morte, mas não o corpo. Mas uma leitura literal do texto indica claramente que eles estavam no “inferno” (em Grego, Hades), de um modo corpóreo. Jesus mencionou a língua do homem rico, o dedo de Lázaro e a existência de comunicação verbal. Os seus olhos permitiam-lhes verem-se mutuamente. Estas des-
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crições e imagens indicam que não estamos a lidar aqui com espíritos desencarnados. Em segundo lugar, o local de repouso para os salvos não é a presença de Deus, mas o seio de Abraão, um lugar de felicidade segundo a literatura judaica; obviamente não é um lugar literal. A expressão “seio de Abraão” era usada pelos Judeus para se referirem ao grande privilégio de se sentarem ao lado direito de Abraão. Em terceiro lugar, a parábola sugere que os justos e os ímpios coexistem perto uns dos outros. Se os justos fossem capazes de ver a dor e o sofrimento dos ímpios, tal certamente não lhes traria um estado de paz e de repouso. Em quarto lugar, o termo Hades (Inferno) não é usado em mais lado nenhum do Novo Testamento para denotar um lugar de tormento eterno, mas é empregue simplesmente para designar o túmulo ou o reino dos mortos. Portanto, uma interpretação literal desta história contradiria o que a Bíblia ensina sobre o assunto noutros lugares. Em quinto lugar, uma interpretação literal também contradiz o ensino bíblico de que as recompensas são dadas após a Segunda Vinda de Cristo, não imediatamente após a pessoa morrer (Mateus 25:31 e 32; Apocalipse 22:12).
2. Uma parábola? Provavelmente Jesus não estava a discutir a condição dos mortos durante o estado intermediário, mas estava simplesmente a contar uma parábola. Esta parábola, como todas as parábolas, tem um de vários propósitos. O próprio texto revela dois propósitos principais. O primeiro é prover conforto aos oprimidos seguidores de Cristo: Chegará o tempo em que a sua sorte será revertida; os ímpios serão humilhados e os justos serão exaltados por Deus. O segundo elemento na parábola, e possivelmente o mais importante, ensina que as nossas decisões tomadas nesta vida tornam-se irrevogáveis após morrermos. Não há nada que se pareça com um purgatório. Devemos ouvir “Moisés e os profetas” enquanto estamos vivos. As Escrituras são o bastante para nos esclarecer sobre o propósito eterno de Deus para nós. 3. Por que razão Jesus escolheu contar esta parábola? Jesus contou esta história como um veículo para ensinar aos Seus ouvintes uma importante lição. Ela é apenas uma ilustração. Mas por que razão usou Ele uma história com um fundo teológico tão errado? Em certo sentido, o que Ele fez aqui foi semelhante ao que Ele fez com a parábola do servo injusto (Lucas 16:1-10). Nesta parábola, Jesus não estava a ensinar que é correta a administração desonesta do dinheiro; Ele estava a enfatizar a importância de colocar os nossos recursos ao serviço dos outros e de Deus. Na parábola sobre o rico e sobre Lázaro, Jesus estava a recontar uma história bem conhecida pela Sua audiência. O pano de fundo cultural desta parábola era uma história popular que tinha as suas raízes em fontes egípcias. Na versão judia era feito um contraste entre a experiência de um rabi pobre e de um publicano rico. Num sonho, um amigo do rabi pobre viu-o, a gozar da bem-aventurança celestial num jardim paradisíaco com cursos de água, enquanto o homem rico estava preso ao lado de um ribeiro e incapaz de beber a sua água. Jesus contou esta história fictícia e dramatizou-a, tendo em vista tornar o Seu discurso mais relevante para a Sua audiência. Eis a tese: Nós temos apenas esta vida para escolher o nosso destino eterno. Ángel Manuel Rodríguez
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vida cristã
Como viver livre do sentimento de culpa Lor en Seibo ld
D
orothy estava a chorar. Grandes soluços faziam tremer o seu frágil corpo. Uma mão acariciava o gato deitado no seu colo e a outra mão permanecia agarrada à canadiana colocada ao lado da sua cadeira, enquanto ela me contava a sua história: uma vida inteira de álcool, drogas, conflitos familiares e imoralidade. “Agora estou velha”, disse ela. “Já não vejo bem, já não consigo andar livremente. Os meus filhos não querem estar perto de mim. E estou, finalmente, a aperceber-me de tudo o que fiz e que feriu a minha família, de toda a minha maldade e negligência. Sinto-me muito mal – e não posso culpar ninguém, a não ser eu mesma.” Era uma cena triste, no entanto poderá ficar surpreendido se eu lhe disser que a experiência de Dorothy era, na verdade, muito positiva. Os seus remorsos indicavam que o Espírito de Deus a estava a conduzir ao arrependimento. É o sentimento de culpa algo de mau? O sentimento de culpa não é popular nos dias de hoje. Já ouvi pessoas culparem o sentimento de culpa e, por extensão, a religião pela sua infelicidade, em vez de remontarem às coisas erradas que fizeram e que estão na origem do seu sentimento de culpa. Alguns psicólogos têm encorajado os seus pacientes a livrarem-se do seu sentimento de culpa ao simplesmente declararem que as coisas que a Bíblia nos diz para não fazermos não são, afinal, assim tão 20 Sinais dos Tempos | 1T 2015
más, pelo que não necessitam de se sentir culpados por as realizarem. “Seja você mesmo!”, dizem eles. “Faça aquilo que lhe parece bem! Nada é errado, desde que não prejudique os outros – e, às vezes, mesmo que prejudique. Não permita que a velha moral o impeça de ser feliz!” No entanto, o sentimento de culpa, ainda que nos faça sentir horrivelmente, é absolutamente necessário. Quando Deus confrontou Adão e Eva acerca da sua desobediência, eles sentiram-se muito mal – e com razão, porque o remorso levou-os a reconhecerem e a admitirem o seu erro. Desde o início, Deus queria que nós entendêssemos que desobedecer às Suas leis perfeitas torna todos – Ele, os outros e nós mesmos – infelizes. Pode imaginar um mundo sem sentimento de culpa? Qualquer um podia matar outra pessoa sem pensar duas vezes, tornando a amizade impossível e a segurança pessoal inexistente. Qualquer um poderia ter relações sexuais com qualquer outra pessoa sem sentir remorso, pelo que o casamento e a parentalidade desintegrar-se-iam. Dado que as pessoas podiam roubar tudo o que lhes apetecesse sem remorso, os negócios e o comércio seriam impossíveis. Promessas, votos e contratos? Seriam todos sem sentido. As pessoas poderiam desobedecer às leis do país impunemente, pois não haveria aquela pequena voz dizendo-lhes que não o deveriam fazer. Por fim, evitaríamos a companhia das outras pessoas, porque cada momento que passássemos juntos seria cheio de traição e
perigo, e assim a raça humana auto-destruir-se-ia. Deste modo, não é de admirar que Sigmund Freud, que dificilmente pode ser considerado um homem de fé, tenha admitido que, sem o sentimento de culpa, não poderia haver a civilização, porque é o sentimento de culpa que sustém a agressividade e o egoísmo humanos. O remédio Mas, assim que o sentimento de culpa realizou o seu propósito – assim que nos levou a vermos a nossa necessidade de perdão e de correção – ele deve cessar. De facto, de modo a vivermos uma vida emocional saudável, ele tem que cessar. Não é desígnio de Deus que soframos constantemente acerca de pecados passados. A questão é: Como pode uma pessoa livrar-se do sentimento de culpa? Começa-se por se aceitar a responsabilidade pelas nossas próprias ações. O rei David cometeu alguns pecados verdadeiramente horríveis. Uma vez, ele mandou matar um outro homem para ficar com a bela esposa dele (II Samuel 11). Mas, quando confrontado com o seu pecado, David assumiu-o. Ele escreveu: “Porque eu conheço as minhas transgressões, e o meu pecado está sempre diante de mim” (Salmo 51:3). David não apenas reconheceu que tinha pecado, ele sentiu tristeza por tê-lo feito – uma experiência a que a Bíblia chama “arrependimento”. Às vezes, as pessoas culpam os outros pelos seus pecados. “Eu tornei-me violento porque tu me enfureceste.” “Eu adulterei porque a outra pessoa me seduziu e eu não tive outra escolha.” Isto são desculpas. Podia ter escolhido agir de modo diferente. Não pode arrepender-se dos
seus pecados a não ser que admita que, devido às suas escolhas, é responsável por eles. Confissão Ao ato de traduzir o arrependimento em palavras chama-se confissão. A palavra grega do Novo Testamento traduzida por “confissão” (homologeo) significa literalmente “dizer o mesmo”, pelo que confessar é concordar com a avaliação que Deus faz dos nossos pecados, em vez de tentarmos escapar usando subterfúgios. David, na sua confissão, concordava com Deus: “Contra ti, contra ti somente, pequei, e fiz o que a teus olhos parece mal, para que sejas justificado quando falares e puro quando julgares” (Salmo 51:4). Dado que a maioria dos pecados não ocorre apenas na relação existente entre nós e Deus, confessar a nossa culpa às pessoas que ferimos também é importante. “Confessai as vossas culpas uns aos outros, e orai uns pelos outros, para que sareis”, aconselhava Tiago, o irmão de Jesus (Tiago 5:16). Quando Zaqueu, o coletor de impostos, se arrependeu das suas práticas desonestas, declarou: “Se nalguma coisa tenho defraudado alguém, o restituo quadruplicado” (Lucas 19:8). Falar com aqueles que prejudicámos e fazer restituição para compensar o mal que causámos elimina o fardo da culpa. Perdão Ao mesmo tempo que realizamos a confissão, pedimos a Deus que nos perdoe. David orou: “Purifica-me com hissope e ficarei puro: lava-me e ficarei mais alvo do que a neve. […] Esconde a tua face dos meus pecados e apaga 1T 2015 | Sinais dos Tempos 21
todas as minhas iniquidades” (Salmo 51:7, 9). Para terem os seus pecados perdoados, as pessoas no tempo do Velho Testamento tinham de os confessar na presença de um sacerdote e oferecer um sacrifício. Hoje já não! Porque o Filho de Deus, Jesus, Se deu como perfeito sacrifício pelo pecado, nós podemos aproximar-nos do Criador do Universo “com confiança” e “alcançar misericórdia e achar graça, a fim de sermos ajudados em tempo oportuno” (Hebreus 4:16). Receber – e sentir – o perdão de Deus é uma experiência que transforma a vida, uma experiência que Jesus ilustrou com uma história. Ele disse: “Um certo credor tinha dois devedores: um devia-lhe quinhentos dinheiros e o outro cinquenta. E, não tendo eles com que pagar, perdoou-lhes a ambos. Diz, pois: qual deles o amará mais?” (Lucas 7:41 e 42). É claro que o homem a quem foi perdoada a dívida maior seria aquele que tinha o motivo mais forte para amar e servir o que lhe perdoara tal dívida. E é também assim com os nossos pecados. Quando David recebeu o perdão, ele convidou Deus a assumir o controlo da sua vida e a modificá-lo, de modo a que ele não fosse tão facilmente tentado no futuro: “Cria em mim, ó Deus, um coração puro e renova em mim um espírito reto” (Salmo 51:10). Ele prometeu que, em resposta, ensinaria “aos transgressores os teus caminhos e os pecadores a ti se converterão” (Salmo 51:13). Lembre-se apenas de que, quando pecamos de novo, o sentimento de culpa também voltará. Ele é uma luz de aviso no painel da nossa vida, para nos alertar, de modo a nos desviarmos dos nossos maus caminhos e a fazermos as pazes com Deus. 22 Sinais dos Tempos | 1T 2015
Um sentimento de culpa teimoso O filósofo Alfred Korzybski cita, numa das suas obras, a seguinte máxima: “Deus pode perdoar-te, mas o teu sistema nervoso não o fará.” Com isto ele queria dizer que, por vezes, as pessoas que sabem intelectualmente que Deus as perdoou não conseguem livrar-se do seu sentimento de remorso. Uma vez, um certo homem disse-me que não tinha qualquer esperança de se sentir plenamente perdoado porque não conseguia encontrar a pessoa que ele tinha prejudicado há muitos anos, de modo a confessar a sua culpa. Um pai cruel pode arrepender-se mais tarde do modo como maltratou a sua família, mas não pode compensar os anos de relacionamentos desfeitos. Um assassino pode arrepender-se de ter morto um homem, mas não pode devolver a vida à vítima. Os resultados do pecado persistem mesmo depois de o perdão ter sido concedido. O sentimento de culpa persistente é doloroso e destrutivo. David sentiu o peso da culpa, como se os seus ossos estivessem a ser quebrados (Salmo 51:8). Quando um homem paralítico foi trazido até Jesus, Cristo perdoou-lhe os seus pecados muito antes de fazer qualquer referência às suas pernas paralisadas, porque Ele reconheceu que os pecados do homem lhe causavam mais dor do que a sua enfermidade (Lucas 5:17-26). Se está a debater-se com um fardo de culpa, deixe-me assegurar-lhe que tem todo o direito de aceitar o perdão de Deus e deixar que Ele sepulte os seus pecados “nas profundezas do mar” (Miqueias 7:19). Se ainda não depôs esse fardo para que Jesus o carregue por si, então ore para que Deus faça tudo o que for necessário para lhe conceder o alívio do perdão. E não tenha receio de falar com um conselheiro espiritual de confiança. Por vezes um conselheiro gentil e compassivo é precisamente o que é necessário para o ajudar a aceitar a alegria que Deus quer que você tenha. Deus não faz vista grossa aos nossos pecados, mas Ele vem armado com algo que pode derrotar o sentimento de culpa. O Seu perdão foi selado e entregue por Jesus, O Qual levou “ele mesmo, em seu corpo, os nossos pecados sobre o madeiro, para que, mortos para o pecado, pudéssemos viver para a justiça” (I Pedro 2:24). O perdão é tão transformador que experimentá-lo é como ressuscitar para uma nova vida! “Não reine, portanto, o pecado no vosso corpo mortal, para lhe obedecerdes em suas concupiscências”, escreveu o apóstolo Paulo. “Mas apresentai-vos a Deus, como vivos de entre os mortos” (Romanos 6:12 e 13). Não se apegue ao seu sentimento de culpa quando Jesus deu a Sua vida para o perdoar! Loren Seibold
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A Maior
N
ão queremos, porém, irmãos, que sejais ignorantes com respeito aos que dormem, para não vos entristecerdes como os demais, que não têm esperança. Pois, se cremos que Jesus morreu e ressuscitou, assim também Deus, mediante Jesus, trará, em sua companhia, os que dormem. Ora, ainda vos declaramos, por palavra do Senhor, isto: nós, os vivos, os que ficarmos até à vinda do Senhor, de modo algum precederemos os que dormem.
Porquanto o Senhor mesmo, dada a sua palavra de ordem, ouvida a voz do arcanjo, e ressoada a trombeta de Deus, descerá dos céus, e os mortos em Cristo ressuscitarão primeiro; depois, nós, os vivos, os que ficarmos, seremos arrebatados juntamente com eles, entre nuvens, para o encontro do Senhor nos ares, e, assim, estaremos para sempre com o Senhor. Consolai-vos, pois, uns aos outros com estas palavras. I Tessalonicenses 4:13-18.