SINAIS TEMPOS DOS
META:
ETERNIDADE
Publicação Trimestral 36o Ano › No 138 3º TRIM. 2016 › 2,00€
ALCANÇAR A META TÊM OS CRISTÃOS QUE GUARDAR A LEI DE DEUS? OBEDIÊNCIA DE CORAÇÃO O UNIVERSO EM GUERRA!
ÍNDICE
TEMÁTICA Alcançar a meta..................................................04
Ninguém, seja a que nível for, considera sem importância as Olimpíadas. Meta: A eternidade............................................. 07
Sete passagens da Bíblia fazem diretamente alusão aos jogos do estádio. BÍBLIA Uma Lei de amor .................................................10
A BÍBLIA ENSINA Obediência de coração...................................... 20 LINHA ABERTA A Nova Aliança em Hebreus............................... 21 TEOLOGIA O Universo em guerra!....................................... 22
Há uma guerra que prossegue atualmente e que é mais ruinosa do que qualquer outra guerra.
Conheça qual é a origem, a natureza e a função da Lei de Deus. TEOLOGIA Têm os Cristãos que guardar a Lei de Deus?... 16
Devemos pesquisar a Bíblia para aprendermos mais sobre o tipo de vida que Deus planeou para nós.
SINAIS TEMPOS DOS
Revista Internacional Edição Trimestral em Língua Portuguesa Ano XXXVI – Nº 138 3º Trimestre 2016 DIREÇÃO Artur Machado
DIREÇÃO DE REDAÇÃO Paulo Sérgio Macedo
DIREÇÃO Carlos Simões Mateus
Edição em Língua Italiana Edizione ADV
REDATOR Paulo Lima
ANGOLA Caixa Postal 3 – Huambo
DIAGRAMAÇÃO Sara Sayal
S. TOMÉ E PRÍNCIPE Caixa Postal 268 – S. Tomé
Preços Número Avulso € 2,00 Assinatura Anual € 8,00
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MOÇAMBIQUE Av. Maguiguana, 300 – Maputo
PROPRIETÁRIA E EDITORA PUBLICADORA SERVIR, S.A. Rua da Serra, 1 – Sabugo 2715-398 Almargem do Bispo Portugal
Edição em Língua Espanhola Editorial Safeliz Edição em Língua Francesa Éditions Vie et Santé
Impressão e Acabamento Mário Macedo – Design e Impressão V. N. Famalicão Isento de Inscrição no ICS – DR 8/99 ISSN 0873-9013 Depósito Legal Nº 63193/93 Tiragem 20 000 exemplares
EDITORIAL
Empenho e Determinação Para a Vida Artur Machado
O
verão deste ano tem sido pródigo em acontecimentos desportivos. Tivemos de 10 de junho a 10 de julho o Campeonato Europeu de Futebol, de 6 a 10 de julho os Campeonatos Europeus de Atletismo, de 11 a 16 de julho o Campeonato Europeu de Hóquei em Patins, eventos que decorreram em simultâneo com a Volta à França em Bicicleta, que se realizou de 2 a 24 de julho. E a culminar esta série de eventos desportivos temos a reunião magna do desporto com os Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro, de 5 a 21 de agosto. Tal como a esmagadora maioria dos leitores, situo-me entre aqueles que apreciam a competição a partir do assento confortável da minha sala de estar. A minha prática desportiva limita-se a alguns exercícios semanais para tonificar os músculos e manter minimamente a forma. Porém, quando assisto aos grandes eventos desportivos, em particular às grandes competições, como os Jogos Olímpicos, não posso deixar de me sentir impressionado pela mobilização, pelo empenho, pela determinação, pela capacidade de sacrifício e pela resiliência demonstrados pelos atletas que estão em competição. A concentração máxima na busca da perfeição, o esforço de procurar superar os seus limites, tendo sempre diante de si o
alvo proposto, constitui a marca do verdadeiro atleta. Nem todos conseguirão alcançar a glória almejada de uma medalha, mas todos os que competem com determinação e empenho merecem o respeito e a consideração, quer dos seus concorrentes, quer dos que assistem. Este exemplo de abnegação, empenho, determinação e disciplina demonstrados pelos atletas na busca de uma medalha, de um recorde desportivo, de uma classificação, da inscrição do seu nome nos anais da história desportiva, interpela-nos e questiona-nos sobre se, na nossa existência, temos objetivos definidos, se nos entregamos a eles com os mesmos empenho e determinação, de forma a que a nossa vida tenha realmente significado. Não se trata tanto de deixar o nosso nome na História, mas de fazer com que a história da nossa existência tenha conteúdo significativo, se traduza num exemplo de vida que mereça ser seguido e reproduzido pelos valores e princípios de vida que deixa. Na vida precisamos de desafios e de objetivos aglutinadores, envolventes, de futuro, que mostrem que Deus nos criou a todos com capacidades e aptidões que, quando bem canalizadas e aproveitadas, nos levam a alcançar objetivos extraordinários, capazes de fazer a diferença na nossa vida e na vida dos outros.
Esses desafios e objetivos podem ser o envolvimento em projetos sociais, de saúde, de ecologia, na Igreja ou na comunidade em que estamos inseridos. O que importa é que sejam objetivos elevados, promotores de desenvolvimento e de crescimento. E quando nos envolvemos nesses objetivos com o mesmo empenho, determinação, vontade e energia com que um atleta olímpico se entrega a uma competição, podemos estar certos de atingir a mesma satisfação e realização pessoais que sente um atleta que concluiu a sua prova com sucesso. E, embora na maioria das vezes a nossa ação e o nosso envolvimento não tenham o reconhecimento geral das pessoas (ao contrário do que acontece com um atleta que recebe uma medalha), a maior recompensa está em perceber que tal ação contribuiu decisivamente para fazer a diferença na vida de alguém. Porque, tal como uma participação nos Jogos Olímpicos é uma oportunidade única na vida de um atleta, contribuir para mudar a vida de alguém, para melhorar a sociedade, para construir um futuro mais significativo é uma oportunidade que, além de única, é imperdível e cujo significado perdura no tempo. Artur Machado Diretor
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TEMร TICA
Alcanรงar a Meta
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JOHN GRAZ
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ogos Olímpicos! De quatro em quatro anos fala-se deles. As instalações estarão preparadas? Os atletas que defendem as cores dos nossos países subirão ao pódio? Durante algumas semanas, o mundo inteiro respira à cadência dos campeões. Não falta o “suspense”. Quem vai vencer a rainha das corridas, os 100 metros? Que equipa vai totalizar o maior número de medalhas? Cada nação prepara intensamente os seus atletas. Para além da competição, está em jogo a honra nacional. Ninguém, seja a que nível for, considera sem importância as Olimpíadas. Um pouco de História
Na Antiguidade, os habitantes da província de Eleia reuniam-se todos os quatro anos na pequena cidade de Olímpia para prestar culto a Zeus. O encontro era sobretudo de caráter religioso. A única atividade desportiva era uma corrida a pé de cerca de 180 metros. O vencedor dava o seu nome aos quatro anos seguintes. Chamava-se a esse período uma “olimpíada”. Alguns meses antes da abertura dos Jogos, embaixadores vindos de Olímpia visitavam cada cidade e impunham o respeito da trégua sagrada. Conta-se que Filipe da Macedónia teve de pagar uma multa, porque os seus soldados tinham roubado algo a um cidadão ateniense que se dirigia aos Jogos. Religiosa na sua origem, a festa tornou-se desportiva e comercial. Menandro descreve as festas de Olímpia em cinco palavras: “Multidão, feira, acrobatas, divertimentos, gatunos” (N. Durant, La vie de la Grèce, t. IV, p. 356). Os atletas, todos eles Gregos, nascidos de pais livres, eram enviados pela sua cidade depois de uma seleção severa e de um treino intensivo de dez meses. Eles comprometiam-se a respeitar as regras dos Jogos. Quando tudo estava a postos, eram
introduzidos no estádio. Um arauto proclamava os seus nomes e os das suas cidades. Em volta deles, nas bancadas, quarenta mil espectadores entusiastas aclamavam-nos. As provas eram numerosas. Nos séculos IV e V a.C., contavam-se treze, a maior parte das quais persistem ainda hoje: corridas, lançamento do peso, boxe, equitação, corridas de carros de cavalos, lançamento do disco e lançamento do dardo. Na última tarde, depois de cinco dias de luta e de fadiga, os vencedores recebiam a sua recompensa. Cada um deles levava em volta da cabeça uma faixa de lã. Os juízes avançavam e punham-lhes sobre a cabeça uma coroa de oliveira-brava. Não de qualquer oliveira, mas da que fora plantada pelo próprio Zeus. A cerimónia era seguida de um enorme banquete. No seu regresso, o herói recebia um verdadeiro triunfo. Entrava na sua cidade por uma brecha aberta especialmente para esse efeito nas muralhas. Vestido de púrpura, levado num carro puxado por quatro cavalos brancos, ele tornava-se para o resto da sua vida numa pessoa sagrada. Isento de encargos e de impostos, alimentado nos santuários, por toda a parte o herói tinha um lugar de honra. A sua vitória era cantada em versos e imortalizada numa estátua com a sua efígie. Na época do apóstolo Paulo, várias cidades tinham os seus próprios jogos. Quatro grandes encontros reuniam uma multidão considerável. Os Jogos Olímpicos, sempre os mais célebres; os Jogos Píticos, todos os quatro anos, no santuário de Apolo, em Delfos; os Jogos Ístmicos, em Corinto, todos os dois anos, em honra de Poseidon; os Jogos Nemeus, também todos os dois anos, em Nemeia, em honra de Héracles. A vida cristã é uma corrida
Nas cartas do apóstolo Paulo encontram-se frequentemente alusões ao desporto. A vida cristã é uma luta, uma corrida. Eis alguns extratos tirados de uma versão moderna: “Exer-
cita-te a permanecer espiritualmente em forma, adestra-te para uma conduta que corresponda à tua fé. O exercício físico tem a sua utilidade, certamente, mas essa é limitada. Por sua vez, exercitar-te espiritualmente, adestrar-te para viver a tua fé, eis o que é essencial: isto te será útil para tudo e em todas as circunstâncias” (I Timóteo 4:7 e 8). Para permanecer em forma, é necessário manter o treino. Caso contrário, depressa surge o cansaço. O mesmo se passa na nossa vida espiritual. É necessário exercitar-se, treinar, praticar a fé todos os dias. Quer isto dizer que a oração e a leitura da Bíblia devem fazer parte do nosso treino quotidiano. Isto é certamente uma imagem, mas uma imagem que diz muito. Se não acreditam em mim, corram um quilómetro, sem parar, em grande velocidade. Em seguida, tirem as vossas conclusões no plano espiritual.
PARA PERMANECER EM FORMA, É NECESSÁRIO MANTER O TREINO. CASO CONTRÁRIO, DEPRESSA SURGE O CANSAÇO.
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Um outro desporto, a corrida com armas, reteve a atenção do apóstolo. Os corredores iam equipados com a armadura clássica da infantaria grega: couraça, capacete, escudo, lança, espada. Era necessário simultaneamente correr e combater, avançar e proteger-se. O Cristão deve também combater, mas contra o mal: “Equipai-vos com as armas que o Senhor vos oferece. Assim podereis resistir aos enganos do diabo” (Efésios 6:13). “Luta no bom combate da fé; faz por conquistar a vida eterna, para a qual foste chamado” (I Timóteo 6:12). Escrevendo aos Cristãos de Corinto, provavelmente algumas semanas antes da abertura dos Jogos Ístmicos, Paulo insiste sobre a importância do treino físico. Para vencer, é necessário estar disposto a fazer muitos sacrifícios. “Não sabeis que no estádio todos os corredores se esforçam por ganhar, mas só um é que recebe o prémio? Correi, portanto, de maneira a poder recebê-lo. Todos os atletas que se preparam para uma competição desportiva impõem a si mesmos toda a espécie de abstinências. Disciplinam a sua vida em todos os domínios para alcançar a vitória e obter
uma coroa, que, todavia, em breve murchará. Mas nós aspiramos obter uma coroa que jamais murchará. É por isso que não corro às cegas, mas no trajeto prescrito, mantendo os olhos fixos no alvo. Se me exercito para o pugilato, não é para desferir golpes no ar; não me bato contra fantasmas. Treino o meu corpo pelo endurecimento e pela disciplina, a fim de o submeter à minha direção: domino-o e mantenho-o sujeito, não suceda que, depois de ter chamado os outros ao combate e lhes ter proclamado as regras da competição, venha eu mesmo a achar-me desqualificado” (I Coríntios 9:25-27). A preparação de um desportista é um assunto sério. As técnicas são tão elaboradas, o treino é tão intensivo, que basta um erro mínimo para perder o primeiro lugar. Tenho ficado impressionado ao ouvir, por vezes, os atletas dizerem: “Estou no máximo da minha condição física, o moral é excelente.” Os que perdem invocam, por vezes, o seu baixo moral. O atleta deve ter uma condição física perfeita e um excelente moral para enfrentar a prova. Deve saber para onde vai, por que corre, quais as suas possibilidades, os pontos fracos
dos seus adversários. Tem de estar a par de tudo. Porquê? Porque tudo o que não estiver em ordem virá martelar o seu espírito durante a corrida, sobretudo se se trata de uma corrida de fundo. Quanto mais longa ela for, mais dará que pensar. É por isso que a condição moral é tão importante como a condição física. Corro... mantendo os olhos fixos no alvo...
A vida é uma corrida de fundo. Há tempo para pensar, fazer perguntas, sofrer. Lembro-me de uma vozinha que, ao passar os primeiros mil metros, me dizia: “Vale a pena continuar? Eles são mais fortes do que tu! Para! Não vale a pena, desiste...” É difícil manter os olhos fixos na meta. A diferença entre a corrida de fundo e a vida existe realmente. Toma-se muito mais a sério a primeira do que a segunda. Seguindo Jesus Cristo, entramos no estádio. Começamos a corrida. A maior, a mais bela, a mais importante da nossa vida. No final, há o encontro com Deus, a vida eterna, o triunfo. Podemos todos sair vitoriosos nesta luta, porque Jesus nos precede e nos apoia. É possível! Tal como eu, não participareis nos Jogos Olímpicos como atletas. O nosso nome não aparecerá nos jornais. Não seremos o homem ou a mulher do dia. Não conheceremos o calor dos abraços, as honras internacionais, a medalha de ouro. Pouco importa o Rio de Janeiro, pois Jesus convida-nos a corrermos por medalhas que não enferrujam, e o nosso nome não ficará escrito no papel, mas nos Céus. Essa é a nossa corrida, o nosso combate. John Graz
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TEMÁTICA
Meta: a eternidade MICHEL MAYEUR
“N
ão sabeis vós que os que correm no estádio, todos, na verdade, correm, mas só um leva o prémio? Correi de tal maneira que o alcanceis. E todo aquele que luta de tudo se abstém; eles o fazem para alcançar uma coroa corruptível, nós, porém, uma incorruptível. Pois eu assim corro, não como a coisa incerta; assim combato, não como baten-
do no ar. Antes subjugo o meu corpo e o reduzo à servidão, para que, pregando aos outros, eu mesmo não venha de alguma maneira a ficar reprovado” (I Coríntios 9:24-27). Os jogos no tempo de Paulo
Sete passagens da Bíblia fazem diretamente alusão aos jogos do estádio. Estes estavam em voga na época em que o apóstolo Paulo dirige esta
carta aos crentes de Corinto. Nessa época, quatro tipos de jogos tinham lugar periodicamente na Grécia antiga. Citemos em primeiro lugar os Jogos Olímpicos. Mas não esqueçamos os Jogos Píticos, de Delfos, os Jogos Nemeus, em Argos, e os Jogos Ístmicos, em Corinto. Tomar parte nessas manifestações desportivas era uma honra. Esta atingia o ápice quando a vitória ilusJ U L H O · A G O S T O · S E T E M B R O 2016
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trava um atleta a quem era oferecida uma coroa que garantia ao feliz vencedor o reconhecimento e a gratidão da sua cidade natal. Diversas coroas ornavam assim a cabeça do feliz atleta: a oliveira-brava em Olímpia, o louro nos Jogos de Delfos, a salsa – leu bem – em Argos, e o pinheiro em Corinto. Quanto aos jogos, eles iam da corrida de carros ou de cavalos à corrida a pé, ao lançamento do dardo, ao boxe ou à luta. Estes encontros atléticos foram introduzidos na Palestina por volta de 165 a.C. pelos Helenos, no reinado de Antíoco Epífanes. O texto bíblico que introduz esta reflexão mostra-nos que Paulo, o apóstolo dos Gentios, sabia adaptar as suas instruções aos grandes acontecimentos do seu tempo. Empregava imagens familiares aos seus leitores. Com palavras simples, queria dizer aos seus contemporâneos que a vida é também uma corrida na qual todos estão empenhados. Mas qual é o seu prémio? Uma coroa de louros? Ou outra coisa?... O prémio do esforço
“Prossigo para o alvo, pelo prémio da soberana vocação de Deus em Cristo Jesus” (Filipenses 3:14). O alvo aqui é o ponto em que o corredor mantém fixos os olhos. No final da prova, o nome do vencedor era proclamado publicamente e em alta voz. “Estes jogos eram organizados e presididos por agonotetas ou atlotetas, cujas funções eram particularmente respeitadas. Em Olímpia, tinham o nome de Hellanodikai, e depois de cada prova faziam proclamar por um arauto o nome do vencedor, do seu pai, da sua terra: o atleta ou o condutor do carro vinha receber das suas mãos um ramo de palmeira.”1 A corrida da vida deve também ter um alvo que lhe confere o seu sentido, sem o qual a experiência humana não pode deixar de cair no desespero e no absurdo. Dirigindo-se aos crentes de Filipos, Paulo sa8
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lienta que o que está em causa não é algo de puramente desportivo, mas é algo de transcendente, e que o agonoteta é o próprio Deus, cujo arauto é Jesus Cristo. O apelo dirigido por Deus a todos os homens passa pela cruz e pela ressurreição de Jesus. A corrida da vida é um esforço em que todos estamos envolvidos, em muitos casos contra a nossa vontade. Nenhum de nós pediu para nascer, nem tão pouco para morrer. Para muitos, o terminus inevitável de toda a existência humana é a morte, para além da qual nada mais há. Mas há mais qualquer coisa! “Nada se passa – nem a criação do mundo, nem o seu fim, nem o menor acontecimento da História, nem nada do que sucede a um ho-
A CORRIDA DA VIDA É UM ESFORÇO EM QUE TODOS ESTAMOS ENVOLVIDOS, EM MUITOS CASOS CONTRA A NOSSA VONTADE. NENHUM DE NÓS PEDIU PARA NASCER, NEM TÃO POUCO PARA MORRER. mem no decurso da sua vida – que não tenha um sentido. Não existe o acaso. Há um plano de Deus. Há um desígnio de Deus que preside em todas as circunstâncias; em cada circunstância, há uma pergunta que Deus nos faz e que requer uma resposta num sentido ou no outro; um
sim ou um não. Porque é em função de Deus que todas as coisas tomam um sentido.”2 Saulo, o Fariseu, corria numa estrada larga, persuadido de ter tomado o melhor caminho. Mas foi detido pelo seu Mestre e Senhor no caminho de Damasco. E aí descobriu o verdadeiro sentido da sua caminhada. Compreendeu que Jesus Cristo, crucificado pelos Seus, tinha ressuscitado e estava presente para todos os que criam n’Ele para sempre, sucedesse o que sucedesse. E que Ele vai voltar. Como Paulo, como milhões de homens e de mulheres que correm ou terminaram já a corrida, quer conhecer a alegria de já não avançar sozinho, ao acaso, sem bússola e sem mapa? Quer correr por uma razão que valha a pena? Evidentemente tal escolha supõe, talvez, a necessidade de renunciar a uma orientação anterior em que se empenhou, porque a julgou infalível. Toda a mudança de direção implica uma rutura com certos hábitos profundamente arreigados no seu quotidiano. Talvez seja necessário derramar algumas lágrimas. Mas a
verdadeira felicidade só pode ser alcançada por esse preço. Um pouco de História
Pouco depois da descoberta da América, o capitão espanhol Hernán Cortez, no comando de uma frota e de algumas centenas de soldados espanhóis, desembarcava, em 1519, em Tabasco, numa terra desconhecida, que se tornaria mais tarde no México. Num instante, foi tomada a sua decisão: ele conquistará aquele território. Com o seu punhado de homens, triunfará naquele imenso império. Mas é preciso que esses homens sejam decididos, resolutos;
gam o coração dos soldados ao país natal; a única saída possível tem de ser a vitória; tem de se perder tudo para tudo ganhar. Enquanto a sua pequena tropa acampa na praia e as sombras da noite se estendem sobre aquele continente misterioso, levanta-se um fumo espesso, seguido por chamas que se elevam da pequena frota; o braseiro torna-se geral e daqueles navios não resta nada senão esqueletos calcinados. Cortez tinha queimado os seus barcos! Num primeiro momento, um grito de desespero soou no acampamento espanhol. Tornava-se impossível uma retirada! Estavam
TODA A MUDANÇA DE DIREÇÃO IMPLICA UMA RUTURA COM CERTOS HÁBITOS PROFUNDAMENTE ARREIGADOS NO SEU QUOTIDIANO. é necessário entusiasmar os fortes. Têm de ser cortados os laços que li-
palavras, Cortez inflama o zelo dos seus companheiros. Mostra-lhes que é impossível recuar, que a única esperança de salvação é a conquista deste novo mundo. Num instante, todos os homens voltaram costas ao passado! Não temos forçosamente a ambição de conquistar um império! O que buscamos, acima de tudo, é a felicidade, uma felicidade autêntica e simples, desde agora e para sempre, mesmo para além da morte. Então, não hesitemos e abandonemos hoje mesmo todos os fardos que nos impedem de progredir. Em seguida, unamo-nos a Jesus Cristo com toda a nossa energia, suceda o que suceder! “Deixemos todo o embaraço, e o pecado que tão de perto nos rodeia, e corramos com paciência a carreira que nos está proposta, olhando para Jesus, autor e consumador da fé” (Hebreus 12:1 e 2). As Suas promessas são certas. A todos os desanimados da Terra, a todos os desesperados da vida, a todos os abandonados da sociedade, Ele traz a certeza do Seu socorro, sem condições. “Vinde a mim, todos os que estais cansados e oprimidos, e eu vos aliviarei” (Mateus 11:28). Michel Mayeur
1. J. F. Collage, L’Epître de Saint Paul aux Philippiens, Neuchâtel: Delachaux & Niestlé, 1973, p. 118. 2. Dr. Paul Tournier, Bible et Médecine, Neuchâtel: Delachaux & Niestlé, 1951, p. 29.
desfeitos todos os elos com a pátria, com o passado! Mas, com algumas J U L H O · A G O S T O · S E T E M B R O 2016
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BÍBLIA
Uma Lei de amor – O eterno código moral
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PAULO LIMA
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uando o missionário Robert Pierson viajava de comboio de Lahore para Karachi, no Paquistão, partilhou a cabine com um advogado, um homem de educação e de cultura superiores. Em breve, o pastor Pierson e o seu novo amigo estavam empenhados numa agradável conversa. A certa altura, a conversa centrou-se no tema dos Dez Mandamentos. “Do meu ponto de vista”, disse o advogado, “o conceito de beleza indica o único caminho possível até Deus. Eu vejo beleza em muitas coisas que alguns homens consideram ser ímpias e pecaminosas. A fruição da beleza é muito mais importante do que a obediência a quaisquer Leis supostamente provenientes de Deus. De facto, eu não vejo nada de errado em atos que são recriminados por muitos Cristãos, tais como praguejar, cobiçar ou adulterar. Para mim, o que importa é a beleza”! Este comentário sobre os Dez Mandamentos parece ser o eco de posições adotadas por alguns indivíduos das sociedades atuais, sejam eles não crentes ou professos crentes cristãos. Essas tomadas de posição defendem a caducidade da Lei moral dos Dez Mandamentos. Por isso, convém perguntar: Será que a Lei de Deus deve ainda ser obedecida pelo Cristão? Está o Decálogo ainda em vigor para o crente em Jesus? Convido-o a partir comigo numa viagem pela Bíblia, tendo em vista a obtenção de uma perceção clara sobre a perenidade e a santidade da Lei moral. Comecemos por determinar biblicamente a origem, a natureza e a função da Lei de Deus. Origem, natureza e função da Lei de Deus
Depois de ter libertado o Seu povo da escravidão e tê-lo feito sair do Egito, Deus revelou-Se majestosamente a Israel desde o cume do Monte Sinai. Moisés relata no livro de Êxodo
a solene manifestação de Deus nessa ocasião. O Criador surge diante do povo em toda a Sua terrível glória e promulga a Lei dos Dez Mandamentos, isto é, o Decálogo (Êxodo 21:1 e 2; Deuteronómio 4:12 e 13). Ora, é significativo que as palavras que Deus escolheu pronunciar, quando Se revelou ao povo no Sinai, sejam a expressão da Sua santa Lei moral. De facto, tendo-Se identificado como o redentor de Israel – “Eu sou Iahweh teu Deus, que te fez sair da terra do Egito, da casa da servidão” (Êxodo 20:2) –, Deus enuncia em seguida os Dez Mandamentos. Estes estabelecem os seguintes princípios morais: “[1º] Não terás outros deuses diante de mim. [2º] Não farás para ti imagem esculpida de nada que se assemelhe ao que está lá em cima, nos céus, ou em baixo na terra, ou nas águas que estão debaixo da terra. Não te prostrarás diante desses deuses e não os servirás, porque eu, Iahweh teu Deus, sou um Deus ciumento, que puno a iniquidade dos pais sobre os filhos até à terceira e quarta geração dos que me odeiam, mas também ajo com amor até à milésima geração para aqueles que me amam e guardam os meus mandamentos. [3º] Não pronunciarás em vão o nome de Iahweh teu Deus, porque Iahweh não deixará impune aquele que pronunciar em vão o seu nome. [4º] Lembra-te do dia de sábado para santificá-lo. Trabalharás durante seis dias, e farás toda a tua obra. O sétimo dia, porém, é o sábado de Iahweh teu Deus. Não farás nenhum trabalho, nem tu, nem teu filho, nem tua filha, nem teu escravo, nem tua escrava, nem teu animal, nem o estrangeiro que está em tuas portas. Porque em seis dias Iahweh fez o céu e a terra, o mar e tudo o que eles contêm, mas repousou no sétimo dia; por isso Iahweh abençoou o dia do sábado e o santificou. [5º] Honra teu pai e tua mãe, para que se prolonguem os teus dias na terra que Iahweh teu Deus te dá. [6º] Não matarás. [7º] Não cometerás adultério. [8º] Não
roubarás. [9º] Não apresentarás um falso testemunho contra o teu próximo. [10º] Não cobiçarás a casa do teu próximo, não cobiçarás a sua mulher, nem o seu escravo, nem a sua escrava, nem o seu boi, nem o seu jumento, nem coisa alguma que pertença a teu próximo” (Êxodo 20:3-17). É muito significativo o facto de o próprio Deus, depois de pronunciar a Sua Lei, ter escrito essa mesma Lei em duas tábuas de pedra, as quais foram entregues a Moisés para memória futura (Êxodo 24:12; 32:15 e 16). É evidente o simbolismo patente neste ato divino. Deus queria deixar claro que a Sua Lei era tão duradoura quanto a pedra em que ela fora gravada. É igualmente significativo que Deus tenha ordenado a Moisés que colocasse na Arca da Aliança as duas tábuas de pedra contendo a Lei (I Reis 8:9). Sendo a Arca da Aliança o móvel mais sagrado do Tabernáculo e, mais tarde, do Templo, Deus pretendia assim fazer sobressair a santidade da Sua Lei condensada no Decálogo. De facto, a eternidade e a santidade da Lei dos Dez Mandamentos é revelada pelas Escrituras Sagradas na medida em que a essência de Deus e a essência da Sua Lei partilham os mesmos atributos. Deus é justo (Romanos 3:26) e a Sua Lei é justa (Romanos 7:12); Deus é verdadeiro (João 3:33) e a Sua Lei é verdadeira (Neemias 9:13); Deus é fiel (I Coríntios 1:9) e a Sua Lei é fiel (Salmo 119:86); Deus é bom (Naum 1:7) e a Sua Lei é boa (Romanos 7:12); Deus é espiritual (I Coríntios 10:4) e a Sua Lei é espiritual (Romanos 7:14); Deus é santo (Isaías 6:3) e a Sua Lei é santa (Romanos 7:12); Deus é a verdade (João 14:6) e a Sua Lei é a verdade (Salmo 119:142); Deus é vida (João 14:6) e a Sua Lei é vida (João 12:50); Deus é a nossa justiça (Jeremias 23:6) e a Sua Lei é justiça (Salmo 119:172); finalmente, Deus permanece para sempre (João 8:35) e a Sua Lei também permanece para sempre (Salmo 111:8). J U L H O · A G O S T O · S E T E M B R O 2016
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te que “aquele que guarda toda a lei, mas desobedece a um só ponto, torna-se culpado da transgressão da lei inteira, pois aquele que disse: Não cometerás adultério, também disse: Não matarás. Portanto, se não cometes adultério, mas praticas um homicídio, tornas-te transgressor da lei” (Tiago 2:10 e 11). Tiago também declara que a Lei dos Dez Mandamentos é a norma que orientará o juízo final a que a Humanidade será submetida (Tiago 2:12). Se a Lei tem uma função a desempenhar no processo da justificação pela fé que conduz o homem à salvação, então podemos interrogar-nos sobre a relação existente entre a Lei e a Graça no Plano da Salvação da Humanidade concebido por Deus. Note-se igualmente que, segundo as Santas Escrituras, a Lei de Deus está fundamentada num princípio essencial: o amor. Segundo o apóstolo Paulo, “quem ama o outro cumpriu a lei. […] O amor não faz mal ao próximo. De sorte que o cumprimento da Lei é o amor” (Romanos 13:8-10). Ora, de
PODEMOS INTERROGAR-NOS: QUAL É A FUNÇÃO QUE A LEI DE DEUS DESEMPENHA NO PLANO DA SALVAÇÃO DA HUMANIDADE?
acordo com o apóstolo João, “Deus é amor” (I João 4:8, 16). Mais uma vez, a essência da Lei e a essência de Deus partilham o mesmo atributo essen12
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cial. Esta coincidência de atributos essenciais explica-se pelo facto de a Lei moral dos Dez Mandamentos ser a expressão do próprio caráter moral de Deus. Assim sendo, a Lei não só é tão santa como Deus, mas ela é também tão eterna e tão imutável como Ele. A Lei dos Dez Mandamentos, o Decálogo, é efetivamente o eterno código de conduta moral a que o homem deve prestar obediência (Salmos 111:7 e 8; 119:152). No entanto, podemos interrogar-nos: Qual é a função que a Lei de Deus desempenha no Plano da Salvação da Humanidade? Segundo o apóstolo Paulo, no processo da justificação pela fé que leva à salvação, o Decálogo tem como função determinar e identificar o que é o pecado (Romanos 3:20; 5:13). Como ele próprio escreveu: “Que diremos, então? Que a lei é pecado? De modo nenhum! Entretanto, eu não conheci o pecado senão através da Lei, pois não teria conhecido a concupiscência se a lei não tivesse dito: Não cobiçarás” (Romanos 7:7). Ora, se o pecado é a transgressão da Lei, quantos mandamentos da Lei de Deus é necessário transgredir para sermos considerados pecadores, isto é, transgressores da Lei? Tiago, o irmão de Jesus, afirma claramen-
A Lei e a Graça no Plano da Salvação
Para compreendermos a relação da Lei e da Graça no Plano da Salvação, devemos determinar qual a definição bíblica de “pecado”. O apóstolo João afirma de modo cristalino que “o pecado é a violação da lei” (I João 3:4, BS-EP), sendo evidente que a Lei a que ele se refere é a Lei moral, o Decálogo. Ora, quando o homem viola a Lei e comete um pecado, ele deve arcar com as consequências do seu ato. A mais grave dessas consequências é a condenação à morte, pois “o salário do pecado é a morte” (Romanos 6:23). No entanto, na Sua misericórdia, Deus não quer condenar à morte o homem penitente. Assim, Ele estende ao homem a Sua Graça, para salvar o pecador da morte eterna. Por isso o apóstolo Paulo pôde escrever: “Pela graça fostes salvos, por meio da fé” (Efésios 2:8 e 9). Assim, “o homem não se justifica pelas obras da lei, mas pela fé em Jesus Cristo” (Gálatas 2:16). Mas, se a observância da Lei não justifica, que relação existe entre a fé e a Lei de Deus? A justificação pela fé anula a necessidade de o crente observar a Lei moral? A resposta bíblica a estas perguntas cruciais sobre a função da Lei no Plano da Salvação
é bem clara: “Anulamos, pois, a lei pela fé? De maneira nenhuma, antes estabelecemos a lei” (Romanos 3:31). A Lei é estabelecida pela fé, porque aquele que é salvo pela Graça mediante a fé é salvo para viver uma vida de santificação, isto é, é salvo para ser guiado pelo Espírito de Deus na observância da Lei a que antes desobedecia. De facto, diante de Deus “ninguém será justificado pelas obras da lei” (Romanos 3:20), pois é o sangue redentor de Jesus que “nos purifica de todo o pecado” (I João 1:7). No entanto, ao sermos salvos, somos redimidos para andar em novidade de vida e para abandonar a prática do pecado. Por isso Paulo escreveu de modo contundente: “Que diremos, então? Que devemos permanecer no pecado a fim de que a graça atinja a plenitude? De modo algum! Nós que morremos para o pecado, como haveríamos de viver ainda nele? […]. Portanto, que o pecado não impere mais em vosso corpo mortal, sujeitando-vos às suas paixões. […]. E daí? Vamos pecar porque não estamos mais debaixo da lei, mas sob a graça? De modo nenhum!” (Romanos 6:1 e 2, 12, 15.) Ao afirmar enfaticamente que o Cristão salvo pela graça não deve continuar a pecar, Paulo está necessariamente a afirmar que o Cristão deve passar a viver em obediência à Lei. Pois, como vimos, o pecado é a violação da Lei. Portanto, o Cristão deve obedecer à Lei moral não para ser salvo, mas porque foi salvo! Como é isto possível? Deus prometeu ajudar os crentes a observarem a Lei moral, quando afirmou: “Eu porei a minha lei no seu seio e a escreverei em seu coração. Então eu serei o seu Deus e eles serão o meu povo” (Jeremias 31:33; cf. Hebreus 8:10). Portanto, pela ação do Seu Espírito, Deus grava a Lei na mente ou no coração do crente, levando-o a crescer em santidade à medida que ele progride na caminhada cristã. Por isso, o homem que é salvo pela graça mediante a fé não somente tem a Lei no seu coração,
como tem prazer em observar essa Lei. Paulo declara com emoção: “Eu me comprazo na lei de Deus segundo o homem interior” (Romanos 7:22). O rei David tinha sentimento idêntico: “Deleito-me em fazer a tua vontade, ó Deus meu; sim, a tua lei está dentro do meu coração” (Salmo 40:8). Na verdade, o Cristão salvo pela graça demonstra a sua gratidão e o seu amor a Deus observando a Lei moral. Como diz João, o discípulo amado: “Pois este é o amor de Deus: observar os seus mandamentos. E os seus mandamentos não são pesados” (I João 5:2 e 3).
DEUS GRAVA A LEI NA MENTE OU NO CORAÇÃO DO CRENTE, LEVANDO-O A CRESCER EM SANTIDADE À MEDIDA QUE ELE PROGRIDE NA CAMINHADA CRISTÃ. Jesus, os Apóstolos, a Igreja dos últimos dias e a Lei de Deus
Desafortunadamente, há muitos Cristãos que não compreendem a função da Lei de Deus no processo de santificação do homem que é justificado pela graça mediante a fé. Eles creem que a Lei foi anulada na cruz ou revogada por Jesus Cristo. No entanto, o próprio Jesus foi bastante claro ao afirmar que não tinha vindo à Terra para revogar a Lei. Ele veio para dar-lhe pleno cumprimento. Daí ter declarado: “Não
penseis que vim revogar a lei e os profetas. Não vim revogá-los, mas dar-lhes pleno cumprimento” (Mateus 5:17 e 18). Portanto, Ele afirmava a imutabilidade e a perenidade da Lei moral. Daí ter dito que “é mais fácil passar céu e terra do que uma só vírgula cair da lei” (Lucas 16:17). Isto significa que Jesus era um observador da Lei. De facto, se Ele viveu uma vida sem pecado, e se o pecado é a violação da Lei, então isto significa que Jesus viveu toda a Sua vida em perfeita obediência à Lei moral de Deus. Ele próprio o declarou, quando disse: “Eu guardei os mandamentos de meu Pai e permaneço no seu amor” (João 15:10). Jesus ensinou também que cada discípulo Seu deve ser um observador da Lei moral de Deus, devendo praticar e ensinar os mandamentos de Deus (Mateus 5:19). Quando Lhe perguntaram o que se deveria fazer para alcançar a vida eterna, Cristo respondeu: “Se queres entrar na vida, guarda os mandamentos” (Mateus 19:17-19), deixando bem claro nessa circunstância que os mandamentos a que Se referia eram as normas do Decálogo. Também o apóstolo Paulo, o arauto da justificação pela fé, deixa claro a elevada estima que tinha pela Lei moral. Ele escreveu: “Eu me comprazo na lei de Deus segundo o homem interior” (Romanos 7:22). Ele sustentou também que “a circuncisão nada é e a incircuncisão nada é. O que vale é a observância dos mandamentos de Deus” (I Coríntios 7:19). Paulo não estava só nesta tomada de posição. Tiago tinha também uma visão muito positiva sobre a Lei de Deus, acreditando que o observador da Lei seria feliz. De facto, ele deixou escrito que “aquele que considera atentamente a lei perfeita da liberdade e nela persevera, não sendo um ouvinte esquecido, antes, praticando o que ela ordena, esse é bem-aventurado naquilo que faz” (Tiago 1:25). Finalmente, as Sagradas Escrituras deixam também perceber claramente que a J U L H O · A G O S T O · S E T E M B R O 2016
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Igreja do tempo do fim, que aguarda a Segunda Vinda de Jesus, observa todos os mandamentos da Lei moral de Deus. De facto, o Apocalipse indica que os “santos” dos últimos dias, que constituem a Igreja verdadeira, “guardam os mandamentos de Deus” (Apocalipse 12:17; 14:12). Portanto, fica bem claro que, assim como os membros da Igreja Apostólica eram observadores da Lei moral de Deus, também os membros da Igreja dos últimos tempos serão observadores da mesma Lei. Entre os verdadeiros Cristãos do tempo do fim não haverá qualquer lugar para a tese de que a Lei moral de Deus foi ab-rogada por Cristo. A recompensa na observância da Lei de Deus
Sendo a observância dos mandamentos da Lei “o dever de todo o homem” (Eclesiastes 12:13), aquele “que desvia o ouvido para não ouvir a Lei, até mesmo a sua prece se torna abominável” (Provérbios 28:9). Ora, tal como a desobediência à Lei 14
SINAIS DOS TEMPOS
acarreta consequências negativas, também a observância da Lei de Deus traz consigo uma recompensa inerente. De facto, a observância da Lei é bastante útil para o crente que busca alcançar a vida eterna. Conhecer a Lei permite “discernir e detestar todo o caminho mau” (Salmo 119:104), pois “a lei é uma luz” que conduz para o caminho da vida (Provérbios 6:23). Na verdade, a obediência à Lei traz ao Cristão “grande paz” (Salmo 119:165). Portanto, há uma recompensa já nesta vida para aqueles que observam a Lei de Deus. Essa recompensa é a felicidade. Pode assim o Salmista exclamar: “Felizes os íntegros em seu caminho, os que andam conforme a lei de Iahweh!” (Salmos 119:1; cf. 37:30 e 31; 19:9.) Assim, segundo as Sagradas Escrituras, o homem que vive uma vida de santificação e tem prazer na Lei de Deus será necessariamente feliz (Salmo 112:1; Tiago 1:25). Não estranha que assim seja, pois a satisfação que traz uma consciência em paz com Deus não
pode deixar de resultar numa sensação de profunda felicidade. Conclusão
Depois de termos percorrido as principais passagens bíblicas sobre a Lei moral de Deus e de termos compreendido que as Sagradas Escrituras atribuem a essa Lei uma função fundamental no Plano da Salvação, convém que nos interroguemos sobre o modo como devemos proceder daqui em diante. O que devo eu fazer, agora que tenho diante de mim os requisitos da santa Lei de Deus? Deus pede-nos apenas dois atos muito simples: que amemos a Sua Lei (Salmo 119:97) e que guardemos os Seus mandamentos (João 14:15). Se assim procedermos, certamente seremos abençoados na nossa caminhada rumo à vida eterna que Deus quer oferecer àqueles que Lhe são obedientes. PAULO LIMA
TEOLOGIA MARVIN MOORE
U
m dos aspetos mais interessantes das minhas funções enquanto editor da Sinais dos Tempos norte-americana é ler as cartas que chegam até à redação como resposta aos artigos que publicamos. Há algum tempo um dos nossos leitores escreveu o seguinte: “Deus sabia que os Dez Mandamentos não podiam ser guardados, pelo que nos deu uma Nova Aliança. Agora tudo o que pre-
cisamos de fazer é continuamente aceitar Jesus e arrepender-nos – e os nossos pecados serão perdoados.” Eu concordo que devemos aceitar continuamente Jesus e arrepender-nos. No entanto, o nosso leitor parece pensar que, porque não conseguimos guardar perfeitamente os mandamentos da Lei, não precisamos deles para nada. Ele não vê qualquer função para estes mandamentos durante a era cristã, porque agora a Lei deve ser guardada a partir da sua inscrição no coração humano. Assim, podemos desembaraçar-nos do código moral escrito a que chamamos “os Dez Mandamentos”. Afinal, Deus disse que iria estabelecer uma Nova
Aliança connosco, na qual as Suas leis seriam escritas no nosso coração (Jeremias 31:31, 33; Hebreus 8:10). A questão fundamental é esta: Devem os Cristãos dos dias de hoje procurar num padrão escrito orientação para determinar o que é justo e injusto? É ainda apropriado que o Cristão consulte um documento escrito chamado “Bíblia” de modo a distinguir entre o que é justo e o que é injusto? Um dos meus amigos já me disse que “devemos ser fiéis ao nosso cônjuge, devemos honrar os nossos pais e devemos honrar Deus, mas não por causa da existência de qualquer Lei”. O meu amigo quer dizer com isto que o Cristão não necessita de qual-
Têm os Cristãos que guardar a Lei de Deus?
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quer tipo de guia moral escrito. Vamos ver algumas razões que muitos Cristãos usam para suportar esta conclusão antinomista, isto é, a conclusão que dispensa a necessidade de existir uma Lei moral. Textos bíblicos
Duas afirmações de Paulo presentes na primeira metade da Epístola aos Romanos são habitualmente citadas pelos antinomistas para apoiarem a sua perspetiva. Em Romanos 6:14, Paulo escreveu: “Pois não estais debaixo da lei, mas debaixo da graça”; e em Romanos 7:6, ele escreveu que nós, os Cristãos, “estamos livres da lei”. Mas até mesmo uma leitura da Epístola aos Romanos revela várias declarações que estabelecem que a Lei ainda tem a função de indicar o pecado na nossa vida. Paulo escreveu que “pela lei vem o conhecimento do pecado” e “eu não conheceria a concupiscência, se a lei não dissesse: Não cobiçarás” (Romanos 3:20; 7:7). O problema de interpretarmos Romanos 6:14 e 7:6 à maneira dos antinomistas reside no facto de não podermos fazer com que Paulo diga simultaneamente que a Lei não tem qualquer função na vida dos Cristãos e que ela tem uma função na vida dos Cristãos. E dado que Paulo é tão enfático na sua afirmação de que a Lei tem realmente uma função bem determinada na nossa vida cristã, devemos partir do princípio de que ele pretendia afirmar algo diferente nas declarações em que aparenta pôr de parte a Lei.
diante dele pelas obras da lei” sob a Nova Aliança. Paulo não afirmou: “Concluímos, pois, que o homem é justificado pela fé, sem as obras da
UMA LEITURA DA EPÍSTOLA AOS ROMANOS REVELA VÁRIAS DECLARAÇÕES QUE ESTABELECEM QUE A LEI AINDA TEM A
A Lei como meio de salvação no Antigo Testamento
FUNÇÃO DE INDICAR
Alguns antinomistas pretendem que o modo que Deus empregou para salvar pessoas na Antiga Aliança, durante a era do Antigo Testamento, era a obediência à Lei, enquanto o uso da graça e da fé são o Seu modo de salvação sob a Nova Aliança, na era do Novo Testamento. No entanto, Romanos 3:20 não diz “nenhuma carne será justificada
O PECADO NA NOSSA VIDA. lei” apenas na era do Novo Testamento (Romanos 3:28). Ele queria dizer, sim, que ninguém, em tempo algum da história do mundo, foi ou
será justificado pela observância da Lei. Um dos principais argumentos de Paulo em Romanos foi o de que Abraão, o pai dos Judeus, foi salvo pela fé; e em Gálatas ele disse que a Lei, que veio 430 anos depois, não anulou a promessa que Deus fez de que a salvação seria apenas pela fé em Cristo (Romanos 4:1-12). A obediência humana nunca foi a base para a aceitação do homem por parte de Deus. Todos os seres humanos que herdam a vida eterna, sejam Judeus ou Gentios, seja na era do Antigo Testamento ou na era do Novo Testamento, são salvos apenas pela graça mediante a fé. Amor no Novo Testamento
Outro argumento que alguns antinomistas têm usado contra a ideia da vigência de um código moral externo afirma que, na era do Novo Testamento, o povo de Deus supostamente obedece-Lhe por puro amor. Isto é realmente verdade, mas – mais uma vez – é igualmente verdade nos tempos do Antigo Testamento. Jesus disse que toda a Lei pode ser resumida em dois princípios: amar Deus com todo o nosso coração e amar o próximo (Mateus J U L H O · A G O S T O · S E T E M B R O 2016
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22:37-40). E Ele estava a citar passagens do Antigo Testamento quando disse isto (Deuteronómio 6:5; Levítico 19:18). De facto, Deuteronómio – um dos principais livros da Lei no Antigo Testamento – está cheio de imperativos para que se ame Deus (7:9; 10:12; 11:1, 13, 22; 13:3; 19:9; 30:6, 16, 20). A obediência por amor é uma ideia que pertence tanto ao Antigo como ao Novo Testamentos. Obediência de coração
Outro argumento que defende o antinomismo pretende que, na Nova Aliança, os Cristãos devem obedecer a Deus de coração, e não motivados por um código exterior de conduta. Este argumento é semelhante ao argumento que citámos anteriormente. É verdade que devemos obedecer a Deus de coração, porque temos um coração convertido. Esse é um dos principais argumentos do próprio Paulo, tanto em Romanos, como noutras das suas Epístolas (Romanos 2:14 e 15; Efésios 6:6; Colossenses 3:23). No entanto, Deus pretendia a obediência de coração tanto no tempo do Antigo como no tempo do Novo Testa18
SINAIS DOS TEMPOS
mentos. Pouco tempo antes de os Israelitas terem entrado em Canaã, Moisés disse-lhes: “E estas palavras, que hoje te ordeno, estarão no teu coração” (Deuteronómio 6:6). De facto, a palavra “coração” surge 26 vezes em Deuteronómio e, na maior parte dos casos, está ligada ao modo como Deus queria que os Israelitas se relacionassem com Ele e com as Suas leis. Tanto o “argumento do coração” como o “argumento do amor” baseiam-se na falsa suposição de que uma mente e um coração transformados são guias adequados para se determinar a diferença entre o justo
não é verdade num mundo de seres humanos dotados de natureza pecaminosa. Jeremias escreveu: “Enganoso é o coração, mais do que todas as coisas, e perverso: quem o conhecerá?” (Jeremias 17:9.) Eu sugiro que isto é verdade mesmo no caso da nossa mente e do nosso coração convertidos. As mentes convertidas estão dispostas a aprender com os seus comportamentos enganosos, mas a conversão não nos cura de todos os enganos de que o nosso coração é capaz. Precisamos de uma orientação externa para nos indicar os pecados e os defeitos de caráter com que temos de lidar.
É VERDADE QUE DEVEMOS OBEDECER A
DEUS DE CORAÇÃO, PORQUE
TEMOS UM CORAÇÃO CONVERTIDO. e o injusto, pelo que as pessoas convertidas não necessitariam de uma orientação moral escrita e externa. Este pode ser, de facto, o caso dos anjos no Céu, mas simplesmente
A Lei como a totalidade da vontade revelada de Deus
Por vezes os Judeus pensavam na Lei como sendo a totalidade da
vontade revelada de Deus. Eu sugiro que precisamos hoje de pensar na Lei da mesma forma. E quando o fazemos, o Novo Testamento torna-se numa “Lei” para nós, tal como o Antigo Testamento com os seus Dez Mandamentos, porque o Novo Testamento está repleto de orientações morais escritas. Eis alguns exemplos: •“Toda a alma esteja sujeita às potestades superiores” (Romanos 13:1). •“Não vos prendais a um jugo desigual com os infiéis” (II Coríntios 6:14). •“Vós, mulheres, sujeitai-vos aos vossos maridos... Vós, maridos, amai as vossas mulheres” (Efésios 5:22, 25). •“Irmãos, não faleis mal uns dos outros” (Tiago 4:11). •“Não torneis mal por mal” (I Pedro 3:9). •“Não ameis o mundo, nem o que no mundo há” (I João 2:15). Cada uma destas afirmações, e dezenas de outras semelhantes a elas, são guias externos – leis, se quiser – que ajudam o Cristão a compreender o que significa viver uma vida em que o amor brota do coração. No nosso mundo pecaminoso, nós simplesmente não podemos ter a noção de que um coração transformado, cheio de amor, é um guia moral suficiente para o Cristão e de que nenhum guia externo é necessário. Assim, a questão que devemos resolver ao lermos a discussão que Paulo faz da Lei em Romanos não é a de saber se existem linhas de conduta moral externas que devem ser seguidas pelo Cristão, porque elas realmente existem, tanto no Antigo como no Novo Testamentos. A questão é a de se saber como o Cristão deve relacionar-se com estas linhas de conduta externas. E a resposta é que “pela lei vem o conhecimento do pecado” (Romanos 3:20). Assim, se quer saber o que é a imoralidade, não se limite a consultar o seu coração. Consulte também o código externo conhecido como
“a Lei”. Os Dez Mandamentos são o guia moral mais sucinto da Bíblia e o facto de eles terem sido escritos pelo próprio dedo de Deus confere-lhes importância acrescida. Mas toda a Bíblia é um guia moral externo – uma Lei, se quiser – que ajuda os Cristãos dos tempos modernos a compreender as questões morais. Eu concordo com a ponderação do teólogo britânico James Dunn que, no seu excelente comentário sobre a Epístola aos Romanos, escreveu: “Deve-se notar que Paulo não se refere à Lei como uma concessão, uma reflexão tardia ou uma
NO NOSSO MUNDO PECAMINOSO, NÓS SIMPLESMENTE NÃO PODEMOS TER A NOÇÃO DE QUE UM CORAÇÃO TRANSFORMADO, CHEIO DE AMOR, É UM GUIA MORAL SUFICIENTE PARA O CRISTÃO E DE QUE NENHUM GUIA EXTERNO É NECESSÁRIO. nota de rodapé. Deus quer que a Lei seja cumprida, quer que os seus requisitos sejam realizados. Que Paulo se tenha expressado nestes termos tão inequívocos [em Romanos 8:4] é importante, especialmente para aqueles que consideravam (e
consideram) os seus ensinos como sendo antinomistas.” Pense na confusão que reinaria entre os Cristãos, se nos livrássemos de todas as instruções morais da Bíblia e determinássemos o que é justo e injusto apenas baseados no que o nosso amoroso coração nos dissesse! Uns pretenderiam que o seu coração dizia que determinado ato era injusto, mas outros diriam: “Não, o meu coração diz-me que isso é justo, mas aquela outra ação é que é injusta.” Os Cristãos necessitam de uma autoridade externa e escrita para os instruir sobre o que é justo e injusto. É precisamente por esta razão que Paulo afirmou repetidamente que a função intrínseca da Lei no Novo Testamento é indicar o que é o pecado. Já alguma vez começou a fazer algo e depois lembrou-se de um texto na Bíblia que o advertia para que não fizesse isso mesmo? Já alguma vez prosseguiu no seu curso de ação e fez algo que sabia ser errado, tendo-se depois sentido culpado, porque tomou consciência do que a Bíblia dizia sobre esse ato? Em ambos os casos, a Lei estava a desempenhar a respetiva função na sua vida. É impossível vencer um defeito de caráter de que não estamos conscientes. Se encararmos com seriedade a nossa relação com Jesus, acolheremos cada uma destas impressões como avisos sobre a existência de defeitos de caráter na nossa vida, os quais temos de resolver. Também iremos pesquisar a Bíblia para aprender mais sobre o tipo de vida que Deus planeou para nós. E louvaremos Deus, porque a Lei está a realizar o seu propósito na nossa vida. Marvin Moore
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A BÍBLIA ENSINA
Obediência de coração 1. Porque é tão difícil viver uma vida de obediência a Deus?
“Porque bem sabemos que a lei é espiritual; mas eu sou carnal, vendido sob o pecado.” Romanos 7:14. 2. O que é próprio da inclinação carnal?
“Porquanto a inclinação da carne é inimizade contra Deus, pois não é sujeita à lei de Deus, nem, em verdade, o pode ser. Portanto, os que estão na carne não podem agradar a Deus.” Romanos 8:7 e 8. 3. Como é que podemos viver com sucesso uma vida de obediência piedosa?
“Porque, se viverdes segundo a carne, morrereis; mas, se pelo espírito mortificardes as obras do corpo, vivereis.” Romanos 8:13. 4. A Bíblia refere duas alianças: a Velha e a Nova Alianças. Porque falhou a Velha Aliança? Em que difere desta a Nova Aliança? O que garante o seu sucesso?
“Porque, se aquele primeiro [concerto] fosse irrepreensível, nunca se teria buscado lugar para o segundo.” Hebreus 8:7. 5. Quais são os quatro aspetos da Nova Aliança?
“Porque este é o concerto que, depois daqueles dias, 20
SINAIS DOS TEMPOS
farei com a casa de Israel, diz o Senhor: Porei as minhas leis no seu entendimento, e em seu coração as escreverei; e eu lhes serei por Deus, e eles me serão por povo.” Hebreus 8:10. “Porque serei misericordioso para com as suas iniquidades, e dos seus pecados e das suas prevaricações não me lembrarei mais.” Hebreus 8:12. 6. Quem é o mediador da Nova Aliança?
“E a Jesus, o mediador de uma nova aliança.” Hebreus 12:24. 7. O sangue da Nova Aliança é prometido a cada crente. O que operará ele?
“Ora o Deus de paz, que pelo sangue do concerto eterno, tornou a trazer dos mortos o nosso Senhor Jesus Cristo, grande pastor das ovelhas, vos aperfeiçoe em toda a boa obra, para fazerdes a sua vontade, operando em vós o que perante ele é agradável, por Cristo Jesus, ao qual seja a glória para todo o sempre. Ámen.” Hebreus 13:20 e 21.
LINHA ABERTA
ÁNGEL MANUEL RODRÍGUEZ
PERGUNTA: HEBREUS 8:10 REFERE-SE A UMA NOVA ALIANÇA E À RESPETIVA LEI. QUAL É O CONTEÚDO DESSA LEI?
Fale connosco! Envie-nos as suas dúvidas e questões para: Rua da Serra, 1 – Sabugo 2715-398 Almargem do Bispo sinais@pservir.pt
A Nova Aliança em Hebreus
O
texto citado na pergunta não afirma explicitamente qual é o conteúdo da “Lei”, mas a terminologia usada no contexto imediato, bem como a perspetiva sobre a Lei no resto da Epístola aos Hebreus, fornece-nos uma resposta clara à pergunta. Examinemos estes dois aspetos. 1. A Lei em Hebreus 8:10. Este versículo cita Jeremias 31:33, o único lugar no Antigo Testamento em que é mencionada a “nova aliança”. Segundo a Nova Aliança, o Senhor promete: “Porei as minhas leis no seu entendimento e em seu coração as escreverei” (Hebreus 8:10). Ora, devemos notar o seguinte: Primeiro, não se faz referência a uma nova Lei. Fala-se simplesmente das “minhas leis”, sugerindo que o seu significado é claro para os leitores da Epístola. O que é novo é o facto de a Lei ser colocada na mente humana ou no coração humano. Segundo, o versículo afirma explicitamente que Deus irá escrever a Sua Lei no coração humano. É impossível deixar de perceber a referência que aqui é feita à promulgação dos Dez Mandamentos no Sinai: “E escreveu [Deus] nas tábuas de pedra as palavras do concerto, os dez mandamentos” (Êxo. 34:28). Elas foram “escritas pelo dedo de Deus” (Êxo. 31:18). Estas tábuas de pedra são chamadas as “tábuas do concerto” (Deut. 9:9, 15), isto é, da Lei do Concerto, e foram colocadas dentro da “arca do concerto” (Deut. 10:8). Na Nova Aliança, o Senhor irá escrever a mesma Lei da Aliança no coração humano. Ela será interiorizada, tornando-se parte da vida do crente. Terceiro, o plural “leis”, usado apenas em Hebreus 8:10 e 10:6, não se refere a uma diversidade de leis diferentes daquelas que figuram no Antigo Testamento, mas ao conteúdo do Decálogo. No texto hebreu de Jeremias 31:33, o termo “lei” é singular, mas a tradução grega do Antigo Testamento, usada pelo apóstolo, tradu-lo como plural. O plural foi empregue porque a Lei inscrita nas tábuas de pedra consistia de uma lista de leis específicas – os Dez Mandamentos (cf. Êxo. 34:28). Baseados nestas evidências, podemos concluir que o escritor bíblico tinha em mente o
Decálogo como sendo a Lei da Nova Aliança. 2. Hebreus coloca de lado a Lei. Poderia argumentar-se que não deveríamos interpretar o verbo “escreverei” muito estritamente, limitando-o ao Decálogo; talvez ele esteja a ser usado de um modo impreciso. No entanto, a única coisa que temos para interpretar a passagem é o que a passagem diz e a ligação que ela estabelece com outras partes da Bíblia. Mas examinemos o uso do termo “lei” no resto da Epístola aos Hebreus. Há uma lei que o apóstolo acredita ter sido posta de parte (Heb. 7:18), não porque fosse má, mas porque era apenas “a sombra dos bens futuros” (Heb. 10:1). Trata-se da lei sacerdotal que lida com a restrição do sacerdócio aos descendentes de Levi (Heb. 7:5, 16, 18), com o sistema sacrificial (Heb. 8:4; 10:8), com as abluções rituais (Heb. 9:10) e com o sangue de animais (Heb. 9:22). Dado que estas leis foram postas de lado através do sacrifício e do ministério sacerdotal de Jesus, elas não podem ser parte da Lei inscrita no coração daqueles que aceitam a Nova Aliança. 3. Hebreus confirma a Lei. A Epístola aos Hebreus reafirma a Lei, particularmente os mandamentos que se encontram nos Dez Mandamentos, e indica que ela ainda é válida para a vida da comunidade da Nova Aliança. O autor afirma: “Aos adúlteros, Deus julgará” (Heb. 13:4), ele declara que devemos adorar Deus (Heb. 12:28) e apela aos seus leitores para que sejam obedientes à vontade de Deus para eles (Heb. 10:36). Há até uma referência ao Sábado (Heb. 4:4) e ao facto de que Deus descansou e de que “resta ainda um repouso para o povo de Deus” (Heb. 4:9). Isto mostra-nos que a Epístola aos Hebreus estabelece uma diferença entre os Dez Mandamentos, enquanto Lei da Nova Aliança, e os mandamentos da Velha Aliança, relacionados com as leis sacerdotais. Talvez a coisa mais importante nesta discussão seja o facto de que a Lei deve ser interiorizada, moldando o nosso caráter e as nossas ações. Ela não é um fardo, mas uma expressão feliz da nossa aliança com Deus; uma aliança instituída através do gracioso sangue de Jesus. J U L H O · A G O S T O · S E T E M B R O 2016
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TEOLOGIA
O Universo em guerra! LOREN SEIBOL
D
urante o século XX, duas guerras provocaram uma devastação tão grande que foram chamadas “Guerras Mundiais”. Este nome foi merecido, porque cada uma destas duas guerras envolveu dezenas de países, que se degladiaram por causa de vastos territórios, e as baixas contaram-se aos milhões. A Primeira Guerra Mundial e a Segunda Guerra Mundial foram os mais horríveis conflitos em toda a história humana. No entanto, há uma guerra que prossegue atualmente e que é mais ruinosa do que as guerras que referimos atrás. Chamemos-lhe a Guerra Universal. Ela tem vindo a decorrer há muito tempo – na verdade, ela começou antes mesmo de os nossos primeiros ancestrais terem caminhado sobre a Terra. Todas as guerras em que exércitos humanos têm estado envolvidos são apenas escaramuças desta Guerra Universal. Nós, bem como aqueles que vieram antes de nós, e aqueles que virão depois de
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SINAIS DOS TEMPOS
nós, somos apenas parte dos seus danos colaterais. O que é especialmente irónico acerca desta Guerra Universal é que a maioria dos seres humanos vive a sua vida sem estar consciente das batalhas espirituais que estão a ocorrer ao seu redor. Um campo de batalha espiritual
O livro de Apocalipse regista um pedaço significativo de história antiga: “E houve batalha no céu: Miguel e os seus anjos batalhavam contra o dragão, e batalhavam o dragão e os seus anjos” (Apocalipse 12:7). Esta história ocorreu durante um tempo anterior à existência da raça humana, estando o Universo povoado de anjos e sendo todos eles parte do séquito de Deus. Embora eles tivessem sido criados para serem o exército leal de Deus, Este deu aos Seus anjos a capacidade de realizarem escolhas. E um deles escolheu alimentar no seu interior uma semente de inveja.
Este anjo era o anjo mais proeminente associado a Deus, a quem a Bíblia chama “um querubim protetor” (Ezequiel 28:14). Ele era o anjo mais exaltado do Céu. Este querubim protetor tinha qualidades extraordinárias: Ele era “o aferidor da medida, cheio de sabedoria e perfeito em formosura” (Ezequiel 28:12). Falando dele, Deus disse: “Perfeito eras nos teus caminhos, desde o dia em que foste criado, até que se achou iniquidade em ti” (Ezequiel 28:15). Essa iniquidade foi a ambição de assumir o lugar do próprio Deus, pois a Bíblia cita este anjo, quando diz: “Serei semelhante ao Altíssimo” (Isaías 14:14). Quando líderes em competição reclamam a supremacia, normalmente resulta o conflito. O Deus omnipotente e omnisciente não poderia permitir que um rival continuasse a viver no Céu. A Bíblia cita Deus, quando Ele afirma: “Pelo que te lançarei fora do monte de Deus, e te farei perecer, ó
querubim protetor” (Ezequiel 28:16). Esta foi a primeira batalha da Guerra Universal, quando Deus expulsou este anjo rebelde do Céu. Satanás deixou de ser o mais exaltado anjo para se tornar no inimigo número um do Universo. Satanás não lutou sozinho contra Deus. Sabemos isso porque, falando de Satanás, a Bíblia diz que “a sua cauda levou, após si, a terça parte das estrelas do céu, e lançou-as sobre a terra” (Apocalipse 12:4). Esta parece ser uma referência críptica ao facto de Satanás ter conseguido conquistar a lealdade de um terço dos anjos. Isto deu lugar à segunda batalha da Guerra Universal. Satanás tinha soldados. Agora ele precisava de súbditos. Pelo que ele levou a guerra até à Terra, implicando nela o primeiro homem e a primeira mulher. O livro de Génesis diz-nos como Satanás sugeriu a Eva que ela deveria comer do fruto de uma árvore especial – uma árvore de cujo fruto Deus tinha proibido que se comesse. Nesta primeira tentação, nós vemos a astúcia de Satanás. Perante a afirmação de Eva de que desobedecer a Deus levaria à morte, Satanás afirmou: “Certamente não morrereis.” Ele argumentou que Deus estava apenas a tentar impedi-la de gozar de uma experiência maravilhosa ao dar-lhe aquela ordem proibitiva. Satanás disse a Eva: “Porque Deus sabe que, no dia em que dele comerdes, se abrirão os vossos olhos, e sereis como Deus, sabendo o bem e o mal” (Génesis 3:5). Assim, por detrás desta Guerra Universal está esta acusação: “Deus é egoísta. Não se pode confiar em Deus.” Portanto, o que está em jogo não é apenas a nossa lealdade a Deus, mas também a própria reputação de Deus. Ele é, ou não, merecedor da confiança do Universo? A escolha errada de Adão e Eva permitiu que os seus descendentes, bem como a Terra na sua totalidade, ficassem à mercê da maldade de Satanás. Astúcia, audácia e ferocidade são as características do método seguido por Satanás. Cada tentação que sofremos é uma tentativa
de Satanás para nos levar a confiar nele e a desconfiarmos de Deus, ao mesmo tempo que causa a maior devastação possível na nossa vida. A batalha decisiva
Passaram-se séculos durante os quais um observador isento hesitaria em declarar o resultado final da Guerra Universal. O registo da História, desde os tempos antigos até ao presente, demonstra que as táticas de batalha de Satanás são extraordinariamente eficazes. Ele raramente se manifesta em pessoa. Em vez disso, ele segreda tentações especialmente atrativas aos ouvidos dos seres humanos. Ele não só encoraja a inveja, o egoísmo e o ódio, mas provoca-nos de modo a nos levar a agir guiados por esses sentimentos. As consequências que resultam de escolhermos seguir as suas sugestões vão desde o mexerico até ao roubo, à violação, ao adultério, à violência, à guerra, ao homicídio e a muitas outras variedades de atos que geram sofrimento humano. Felizmente, a vitória de Deus passou a ser uma certeza após uma batalha crucial na Guerra Universal. Essa batalha aconteceu há cerca de 2000 anos, quando Deus enviou um Representante do Céu para assumir o controlo da frente de batalha. O Seu nome é Jesus Cristo, e as Escrituras indicam que Ele é o Filho de Deus. A estratégia seguida por Jesus não podia ser mais diferente da estratégia de Satanás. Enquanto Satanás acusa, Jesus simplesmente ama. Ele encheu o mundo de bondade, curando, ensinando a verdade e indo ao encontro das necessidades humanas. E num ato supremo de bondade infinita, Ele ofereceu-Se como mártir, para provar que o amor de Deus pela Humanidade era puro e desinteressado. Quando Cristo morreu na cruz, Ele derrotou Satanás. As acusações deste foram infirmadas, pois como é que se podia acusar de egoísmo Alguém que, “sendo em forma de Deus, não teve por usurpação ser
igual a Deus, mas aniquilou-se a si mesmo, tomando a forma de servo, fazendo-se semelhante aos homens” (Filipenses 2:6 e 7)? Quanto à acusação de Deus não ser merecedor de confiança, ela mostra ser absurda quando se considera a vida, a morte e a ressurreição de Jesus. Ele amou de tal modo o mundo e a Humanidade que foi “obediente até à morte” (Filipenses 2:8). Através da Cruz, Ele pôde “reconciliar consigo mesmo todas as coisas”, incluindo você e eu, “havendo feito a paz pelo sangue da sua cruz” (Colossenses 1:20). Com a misericórdia a triunfar sobre a justiça, Ele pôs de parte os resultados inevitáveis de se desrespeitar a Sua Lei, “cravando-os na cruz” (Colossenses 2:14). Mesmo derrotado, Satanás continua a fazer guerra a Deus – e a nós. Embora não possa ganhar, ele combate, animado de um ódio feroz, de modo a levar com ele para a destruição eterna o maior número de seres humanos que puder. Mas quando tudo chegar ao fim, ele será derrotado. Pois Jesus “despojou os principados e potestades”. Ele “os expôs publicamente e deles triunfou em si mesmo” (Colossenses 2:15). Satanás e todos os que o seguem estão destinados à destruição. Eis como o Apocalipse descreve a batalha final, quando as forças de Satanás estiverem perfiladas contra as forças de Deus: “Desceu fogo do céu e os devorou” (Apocalipse 20:9). Com este evento trágico terminará a Guerra Universal, e todo o Universo será livre para sempre da mácula do pecado. Há apenas uma pergunta a que deve responder: De que lado está nesta Guerra Universal? Se está do lado de Satanás, partilhará o seu destino final. Mas, se está do lado de Deus, passará uma eternidade feliz com Ele no Seu reino para sempre eterno. A escolha é sua! Loren Seibold
J U L H O · A G O S T O · S E T E M B R O 2016
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O sofrimento atinge o mais profundo do indivíduo, da família e da sociedade. Enfrentá-lo é um desafio, que pode ser vencido com ânimo e esperança. “Vinde a mim, todos os que estais cansados e oprimidos, e eu vos aliviarei.” Mateus 11:28.
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