Quem são essas mulheres? Há exatamente um ano, Interativa voltava a circular depois de um intervalo de mais de uma década de interrupção. Desta vez, antenada com os novos tempos, em edição digital. Neste terceiro número após a retomada, a escolha novamente do 8 de Março, Dia Internacional de Mulher, não acontece por acaso. Como no início do século passado, as mulheres são a maioria no segmento que mais simboliza as telecomunicações - o teleatendimento, sucessor das telefonistas de décadas atrás. E quem são essas mulheres? Para responder a esta pergunta o Departamento de Formação do Sindicato saiu a campo, numa pesquisa feita em parceria com o Arquivo de Memória Operária do Rio de Janeiro, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (Amorj/ UFRJ). O resultado completo dessa pesquisa é apresentado em caderno especial encartado nesta edição de Interativa 3. Numa categoria marcadamente jovem, Interativa também aborda um tema que sacode a galera: o funk, ritmo que não é brasileiro, mas ganhou um balanço genuinamente nacional a partir da juventude das comunidades populares. Com poucas opções de lazer, esses jovens fizeram do funk seu meio de desabafo e sua forma de expressão. Algumas das letras mais famosas estão na matéria que começa na página 3. Os 80 anos da eleição da primeira mulher deputada constituinte e o Vegetarianismo, uma opção de alimentação e de vida, são outros dos nossos temas. Boa leitura!
EXPEDIENTE Edição: Rosa Leal Programação Visual: Alexandre Bersot Diretor de Imprensa: Marcello Miranda Foto da capa: Telefonistas da Companhia Telefônica Brasileira (CTB), em 1915. Registro do fotógrafo Augusto Malta
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Interativa é uma publicação do
Sindicato dos Trabalhadores em Empresas de Telecomunicações do Estado do Rio de Janeiro Rua Morais e Silva, 94 Maracanã - Rio de Janeiro 20271-030 Filiado à Fenattel e à CUT
FUNK
Do romântico ao
pancadão “Que batida é essa que na balada é sensação É claro que é o funk meu irmão Várias mulheres lindas rebolando até o chão Isso que é pura sedução” Tô tranquilão – Mc Sapão
É indiscutível a dimensão adquirida pelo funk e suas vertentes, que hoje é ritmo, estilo de vida e arte. Considerado por muitos como indispensável nas festas, o funk saiu das favelas, conquistou jovens de todas as classes sociais e hoje é um dos ritmos mais tocados nas baladas cariocas. Faz tanto sucesso que se tornou uma marca - FNKU - criada pelo músico carioca Anderson França, da Agência Dharma, junto com o Movimento Funk You. O nome é originário da expressão inglesa “funk you” que quer dizer o mesmo que “se vira”. A agência, que funciona no Complexo da Maré, quer divulgar o funk a partir da arte criada pelos moradores de favelas. Camila Palmares
O
funk conquistou alguns pela batida e outros pela letra, como a estudante de Jornalismo, Taís de Amorim: “Eu gosto de funk porque é uma manifestação musical autêntica das pessoas que moram na periferia carioca, além de ser um grito da galera marginalizada.” Taís não vê com maus olhos
os proibidões. Para ela, essa vertente só é vista como “pesada” porque o funk é marginalizado e tudo que é marginalizado é visto como peso. A universitária Marianne Souza é fã do funk melody, que costuma dançar nas boates e casas de show que frequenta. Ela acredita que o estilo é popular porque
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Taiana Storque / Cristina Morais
VIDA DE OPERETE
Ex-teleatendente, Tatiane Lira (foto) utilizou a música em favor dos teleoperadores que, em 2012, paralisaram as atividades em protesto contra a Criativa, empresa que prestava serviço de call center para o Detran. Trabalhando em péssimas condições, ela e um grupo de amigas compuseram uma paródia da música Vida de Empreguete, que fazia sucesso na novela das 7. A Vida de Operete, apresentada durante a greve, foi um sucesso: - As pessoas paravam na rua para prestar atenção na letra e se solidarizavam com a causa. Foi uma luta muito difícil, porque as pessoas se dividiram entre aderir ou não à greve. Vi muitos amigos que não quiseram participar das manifestações ficarem contra mim. Quando me dei conta pessoas que tive muito próximas se afastaram. Só ficou o Sinttel-Rio como apoio mesmo. Depois da greve, aqueles que não lutaram também receberam o seu salário, apesar de não terem nos apoiado. Mas quando lembro, me sinto realizada por saber que fui útil. A música foi um protesto.” Tatiane é fã do funk: “Acho um ritmo superpopular porque, mesmo tendo vindo dos Estados Unidos, tem uma batida brasileira. Mas acho que as letras não deveriam se limitar à temática do sexo. Antigamente as letras não retratavam apenas essa questão. Eu componho músicas, inclusive uma delas patenteei, e gostaria de investir na carreira de funkeira. Só não tive ainda oportunidade de ter um patrocínio.”
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é uma forma do morador da comunidade expressar seu pensamento, como na letra “Rap da Felicidade”: “Eu só quero é ser feliz/ Andar tranquilamente na favela onde eu nasci, é. / E poder me orgulhar, /E ter a consciência que o pobre tem seu lugar”. O estilo também é o preferido da assistente de Marketing, Martha Karolina, que adora o “Glamurosa!/Rainha do funk/Poderosa! / Olhar de diamante/Nos envolve, nos fascina/Agita o salão/Balança gostoso/Requebrando até o chão...” Quando perguntada a respeito da associação do funk à violência, Martha afirma: “não acho que o funk estimule a violência. Isso é apenas um argumento que tentam utilizar para justificar a prática da mesma.” Já a estudante Amanda Souza, que gosta de funks lights, com letras sem palavrões, acha os proibidões degradantes e desnecessários, por explorar explicitamente a sexualidade. Amanda diz que o
funk sofre preconceito por ser um ritmo que nasceu nas favelas. BAILES PROIBIDOS As dificuldades vividas pelos funkeiros foram mostradas no programa “Esquenta”, apresentado por Regina Casé. Segundo eles, por conta da repressão que o ritmo sofreu quando chegou ao Rio de Janeiro, das brigas e confusões que passaram a acontecer nos bailes, o funk se “refugiou” nas favelas cariocas. Mesmo hoje, com a pacificação, os moradores das comunidades muitas vezes são impedidos pelos policiais de realizar os bailes. O presidente da Associação dos Profissionais e Amigos do Funk, Mc Leonardo, conta que as comunidades passaram a ter seus eventos regidos pela Resolução 013, assinada em 2007 pelo atual secretário de Segurança Pública do Rio, José Mariano Beltrame. A Resolução proíbe a realização de eventos de cunho cultural, esportivo e social sem a autorização prévia das autoridades responsáveis pelo policiamento de determinadas áreas. Um erro, na avaliação de Mc Leonardo, pois outorga à polícia o direito de proibir eventos culturais de qualquer dimensão sob critérios
pouco claros. Já o Mc Mano Teko, vice-presidente da Apafunk, em entrevista ao Observatório das Favelas, em setembro de 2012, afirma que a proibição tem suas raízes no estigma sofrido pelo funk. Apesar de, após muita luta, ter se tornado em 2009 Patrimônio Cultural do Estado do Rio de Janeiro, o ritmo ainda é associado à criminalidade. Mas a autenticidade e popularidade do funk brasileiro são incontestáveis. O ritmo, a marca, o passinho e as letras ousadas se reúnem em uma certeza presente na música: “O nosso som não tem idade, não tem raça /E não tem cor /Mas a sociedade pra gente não dá valor / Só querem nos criticar pensam que somos animais /Se existia o lado ruim hoje não existe mais /Porque o funkeiro de hoje em dia caiu na real/ Essa história de porrada isso é coisa banal/ Agora pare e pense, se liga na responsa /Se ontem foi a tempestade hoje vira a bonança/É som de preto/De
favelado/Mas quando toca ninguém fica parado/ Tá ligado”. SENSUAL E IRREVERENTE Apesar de a sensualidade estar associada ao funk carioca, segundo o pesquisador Pablo Laignier os temas das canções não se restringem a pornografia e criminalidade. Segundo a divisão feita por Laignier há, por exemplo, o funk meloso, com letras mais românticas “Amor sem beijinho/ Buchecha sem Claudinho /Sou eu assim sem você /Circo sem palhaço/ Namoro sem abraço / Sou eu assim sem você” e o de louvor, que aborda temas religiosos. Para o pesquisador, ambos os segmentos têm semelhanças na construção da linguagem própria, que reafirma a identidade dos que os construíram. E é essa linguagem própria, estilo único, carregado de irreverência que vem sendo retomada por
uma nova vertente de artistas, os dançarinos do “Passinho.” Pela internet, os moradores de diversas favelas e bairros pobres do Rio passaram a se desafiar no Youtube, com coreografias mirabolantes, como foi o caso do Allan Gustavo, morador do Morro da Formiga. Ele conheceu o ritmo através dos vídeos e terminou formando um grupo chamado DL. A repercussão do estilo cresceu levando o funk e o passinho a programas de TV e dando origem ao filme “A batalha do passinho”, dirigido por Emilio Domingos, que estreou em 2012 no Festival de Cinema do Rio
A marca criada pelo Movimento Funk You e a Agência Dharma
Mistura de estilos
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funk é um estilo musical que nasceu na década de 60, nos Estados Unidos, pela mistura do Jazz, R&B e da Soul Music. O Soul é a união do Rhytm and Blues e do Gospel, música protestante negra, que se tornou famosa com músicos como James Brown, personagem que deu ao funk uma característica que ele ainda não tinha: o swing. A partir daí o estilo se tornou dançante e conquistou o mundo. A década de 80 marcou o funk tradicional devido a vários outros subgêneros que nasceram a partir dele como o Rap, Hip Hop e House, e da comercialização do mesmo. O derivado mais presente no Brasil é o funk carioca, que teve inicio com o desdobramento do movimento chamado Black Rio, que realizava bailes soul em toda a cidade. Em 1970 surgiram as primeiras equipes de som no Rio de Janeiro, como a Soul Grand Prix e a Furacão 2000, organizadoras de bailes dançantes feitos com vitrolas e hi-fi. Como diria o Mc Marcinho, na música “Funk da antiga”: “Há muito tempo
atrás surgia um movimento/ Que cada dia que passava pouco a pouco ia crescendo/ Um ritmo moderno e muito maneiro/ Surgia assim o nosso funk no meu Rio de Janeiro/ Oi, vários pancadões, internacionais/ Surgiram os Mcs e vários festivais/ E o Dj nos pratos mandando um squah maneiro/ E levando ao delírios os funkeiros.” A partir de 1989, quando os bailes começaram a atrair cada vez mais pessoas, foram lançadas músicas em português, abordando temas como violência e a pobreza nas favelas. Exemplo disso é o “Rap do Silva” que se tornou um clássico ao retratar a violência cometida contra um funkeiro: “Era trabalhador, pegava o trem lotado/Tinha boa vizinhança, era considerado/ Todo mundo dizia que era um cara maneiro/ Outros o criticavam porque ele era funkeiro /O funk não é motivo, é uma necessidade /É pra calar os gemidos que existem nessa cidade Todo mundo devia nessa historia se ligar/ Porque tem muito amigo que vem pro baile dança /esquecer os atritos, deixar a briga pra lá /E
entender o sentido quando o DJ detonar/ E era só mais um silva que a estrela não brilha ele era funkeiro, mas era pai de família” Aos poucos o funk carioca foi se tornando mais popular, mais dançante e suas letras foram se tornando mais sensuais. Surgiram os “proibidões”, que exploram intensamente a violência e a sexualidade, e as versões mais “lights” que abordam a questão erótica através do duplo sentido: “Quando a nossa música tocar/Dá água na boca, me sobe uma coisa boa, me dá/Pensamento voa, imagino um milhão de coisas, sei lá/Seja na boate, na cama, no carro, em qualquer lugar/E só você que sabe me dá/Só você me da, me faz delirar/ Só você me dá”
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Augusto Malta (1915) - Acervo Oi Futuro - Centro de Documentação Iconográfica
PESQUISA
As mulheres
Telefonistas da Companhia Telefônica Brasileira (CTB), em 1915.
Por que uma pesquisa sobre As Mulheres e o Trabalho nas Telecomunicações? Será que ainda persiste a desigualdade entre homens e mulheres no mundo do trabalho ou esta seria uma questão ultrapassada, levantada por um feminismo que nem tem mais tanta importância na atualidade? Que mudanças foram consolidadas na definição de direitos específicos para as mulheres? Como a sua maior participação no mercado de trabalho tem afetado as atividades e as relações familiares? E qual o sentido de um sindicato se colocar estes questionamentos?
É
inegável que as mulheres vêm assumindo, cada vez mais, no mundo e no Brasil, um lugar mais ampliado que aquele definido historicamente e restrito ao espaço privado da família. Mas é preciso, por um lado, não perder de vista as lutas travadas, especialmente ao longo de todo o século XX, pelos variados movimentos feministas e de mulheres, para que tais conquistas se consolidassem e, por outro lado, ainda procurar identificar as amarras – políticas, culturais, econômicas – que têm impedido a igualdade entre homens e mulheres na sociedade contemporânea.
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E é nesta segunda parte que o sindicato também cumpre um papel. Reconhecido, historicamente, como um instrumento de defesa dos direitos dos trabalhadores, na atualidade cada vez mais “novas” questões (gênero, raça/etnia, diversidade sexual) vêm sendo incorporadas à ação sindical, para além da questão salarial e de condições de trabalho, na perspectiva de ampliação dos direitos de cidadania e da democracia. Nesse sentido, é que a pesquisa se justifica, não apenas para levantar dados sobre o perfil das mulheres trabalhadoras nas empresas de telecomunicações, mas, principalmente, para, a partir deles, poder
e o mundo do trabalho nas telecomunicações questionar até que ponto avançamos, onde permanecemos presos a relações conservadoras de determinado papel feminino/ masculino, assim como identificar os desafios colocados para o sindicato como sujeito social propositor de mudanças. Especialmente quando parece prevalecer uma lógica mercantil em todos os espaços sociais, onde o pragmatismo e o individualismo se impõem sobre as diversas ações coletivas, a pesquisa e seus questionamentos pretendem contribuir para que pensemos, coletivamente, nos desafios postos para a defesa dos interesses e dos direitos da classe trabalhadora, em toda a sua complexidade e diversidade.
Como foi feita a pesquisa? • Período: Março/2011 a Julho/2012 • Público: - Trabalhadoras Aposentadas (da CTB/Telerj e Embratel) - Trabalhadoras das Operadoras, Empresas de Teleatendimento e de Rede • Metodologia da Pesquisa: - Entrevistas com 11 (onze) trabalhadoras aposentadas da CTB/Telerj e EBT; - Aplicação de questionários com 1644 trabalhadoras das operadoras (Oi, Embratel, TIM, Vivo, Claro), Teleatendimento (Contax, Atento, TMKT e PC Service) e de Rede (Serede, Nokia Siemens e Telemont). • Quem realizou a Pesquisa: Deptº de Formação/Sinttel-Rio; AMORJ/ UFRJ; ESS/UFF, com a participação dos diretores e representantes sindicais de base.
O perfil das trabalhadoras nas telecomunicações do Rio de Janeiro
P
rincipalmente após as mudanças advindas com a privatização do setor de telecomunicações, em 1998, é possível constatar uma mudança no perfil dos trabalhadores, com o crescimento da participação das mulheres. Essa participação, entretanto, não acontece de maneira igual nos três segmentos que compõem as Telecomunicações – Operadoras, Empresas de Teleatendimento e de Rede. Se compararmos o número de homens e mulheres nas empresas pesquisadas, concluímos que há uma predominância dos homens nas Operadoras (8.787 homens e 6.530 mulheres) e na Rede (11.584 homens e
2.038 mulheres), enquanto as mulheres são maioria no Teleatendimento (22.031 mulheres e 9.799 homens).
Idade
E como poderíamos apresentar as mulheres trabalhadoras nas telecomunicações do Rio de Janeiro?
TELEATENDIMENTO
REDE
OPERADORAS
40,5% até 24 anos 32,1% de 30 a 49 anos
51,1% entre 30 e 49 anos
62,8% entre 30 e 49 anos
Com quem mora 38% com os pais
32,9% com marido e filhos 34% com marido e filhos
Cor
42,2% pardas
41,8% pardas
63,8% brancas
Estado Civil
Solteira
Solteira
Casada
Escolaridade
44,1% Ensino Médio 56,5% Ensino Médio 21,2% Superior Incompleto
Onde estudou
Rede Pública
Rede Pública
43,2% Superior Completo 27,6% Pós Graduação Rede Privada
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Mulheres são mais escolarizadas Segundo dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD 2011) as mulheres, de modo geral, são mais escolarizadas que os homens, com média de 7,5 anos de estudo enquanto eles têm 7,1 anos de estudo. Em todos os grupos etários, com exceção do grupo de 60 anos ou mais de idade, a média de anos de estudo das mulheres foi superior a dos homens. A maior média foi a do grupo etário de 20 a 24 anos (9,8 anos), sendo de 10,2 anos de estudo na parcela feminina e de 9,3 anos na masculina. A PNAD 2011 ainda concluiu que de 2009 para 2011, na população ocupada, cresceram os percentuais de trabalhadores com pelo menos o ensino médio completo (de 43,7% para 46,8%) e de trabalhadores com pelo menos o ensino superior completo (de 11,3% para 12,5%), enquanto o percentual de trabalhadores com o ensino fundamental incompleto caiu de 31,8% para 25,5%.
Mais estudo, melhor trabalho Quanto ao grau de instrução e ocupação da mãe, a pesquisa constatou que as mães das mulheres trabalhadoras têm, na sua maioria, o ensino fundamental, diferentemente de suas filhas que possuem o ensino médio e ensino superior completo. A maioria das mães trabalhava como autônomas (no caso das trabalhadoras do Teleatendimento) ou viviam exclusivamente para o lar (no caso das trabalhadoras de Rede e Operadoras). Nesse avanço em relação às gerações anteriores, dois aspectos se associam: a participação em ocupações/profissões de maior prestígio social e o aumento da escolaridade. Ao mesmo tempo, a expansão da escolaridade e o ingresso nas universidades viabilizaram o acesso a novas oportunidades de trabalho. Todos esses fatores explicam não apenas o crescimento da atividade feminina, mas também as transformações no perfil da força de trabalho. As trabalhadoras, que até o final dos anos 70 em sua maioria eram jovens solteiras e sem filhos, envelheceram, casaram-se e tiveram filhos. Em 2005, a mais alta taxa de atividade feminina, 74%, é encontrada entre mulheres de 30 a 39 anos, assim como 69% das mulheres de 40 a 49 anos e 54% das de 50 a 59 anos. Camila Palmares
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Como trabalham e o que pensam do seu trabalho
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trabalho em telecomunicações no Brasil sofre profundas transformações, tanto no que se refere a mudanças no padrão tecnológico quanto às suas formas de gestão e organização, associadas à privatização do Sistema Telebrás, em 1998, marcando a desestatização e também a desnacionalização do setor. Que impactos têm essas transformações no setor de telecomunicações? Como as mulheres participam atualmente do trabalho neste setor? O que caracteriza o trabalho das mulheres nas telecomunicações? Os dados fornecidos pelas empresas revelam um equilíbrio na composição da força de trabalho nas Operadoras. Nas empresas de teleatendimento, temos um quantitativo feminino muito superior ao masculino - 22.032 mulheres e 9.799 homens, confirmando que o trabalho no Teleatendimento é marcadamente feminino, com participação majoritária de negras/os e jovens. Os dados dão destaque a desigualdades historicamente produzidas na sociedade brasileira, explicitadas de forma contundente pela questão racial. Ainda são as mulheres, as/os jovens e as/os negros que ocupam as funções mais desvalorizadas e desprotegidas no mercado de trabalho como nos grupos de Teleatendimento e da Rede. A feminização no setor de teleatendimento marca a precarização do trabalho, visto que há uma lógica que reafirma esta atividade profissional como naturalmente feminina, podendo, assim, não demandar qualificação e, como consequência, flexibilizar o tempo de trabalho, como nos aponta Hirata: É possível porque há uma legitimação
Acervo Oi Futuro - Centro de Documentação Iconográfica
Sala das telefonistas na década de 1970
social para o emprego das mulheres por duração mais curta de trabalho: é em nome da conciliação entre vida familiar e a vida profissional que tais empregos são oferecidos e se pressupõe que essa conciliação é de responsabilidade exclusiva da mulheres. (Hirata, 2000)
Acervo Telefônica
Supervisora fiscaliza o trabalho
Trabalho precarizado Os resultados da pesquisa corroboram os estudos que apontam a alta rotatividade como uma característica do trabalho precarizado, especialmente entre as mulheres negras/os e jovens. É interessante, ainda, perceber como os dados da pesquisa são reafirmados pela PNAD 2011, que aponta a queda da Taxa de desocupação de 8,2%, em 2009 para 6,7%, em 2011. No entanto, os dados apontam que a maioria, 59,0%, eram mulheres; destas, 35,1% nunca tinham trabalhado; 33,9% eram jovens entre 18 e 24 anos de idade; 57,6% eram pretos ou pardos e 53,6% deles não tinham completado o ensino médio. Outro elemento que indica as formas de manifestação da precarização do trabalho feminino nas empresas de telecomunicações se refere ao tempo de trabalho: os números indicam uma certa estabilidade das trabalhadoras nas Operadoras, apontando que 55,5% delas mantém vinculo empregatício há 5 anos ou mais, ao passo que no grupo do Teleatendimento, a maioria, 36,2%, está há apenas seis meses no trabalho. No que se refere a como pensam o seu trabalho, as mulheres que responderam à pesquisa, de modo geral, demonstram desconhecimento sobre as decisões tomadas pela empresa. Quando perguntadas se havia setores onde as mulheres eram mais numerosas, no grupo das Operadoras 45,7% afirmaram não saber. Ainda sobre este tema, a maioria – 23,3% no Teleatendimento; 26,2% na Rede; 40,6% nas Operadoras - afirma desconhecer as justificativas das empresas para o maior número de mulheres em determinados setores. É importante considerar esse desconhecimento e criar formas de enfrentá-lo, uma vez que o discurso empresarial anuncia hoje a transparência e a democracia internas, dando ênfase a uma linguagem que apregoa uma “parceria” entre capital e trabalho. Este discurso tem, como símbolo, o apagamento da ideia de trabalhador e o reforço insistente na ideia de colaborador.
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Camila Palmares
Igualdade ou ilusão?
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Trabalho e vida doméstica e familiar. Como conciliar?
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abemos que um dos grandes desafios que se colocam às trabalhadoras é conseguir conciliar a vida familiar e os afazeres domésticos com a profissão, sobretudo quando são mães, solteiras ou com companheiro. A participação das mulheres no mercado de trabalho aumentou expressivamente nas últimas décadas, mas este ritmo superou em muito a velocidade das mudanças na organização da vida em família. A maior responsabilidade atribuída às mulheres nesta esfera leva a uma sobrecarga de trabalho, em jornadas que não se encerram
P. Agilson (1977) - Acervo Oi Futuro - Centro de Documentação
No que se refere à igualdade entre homens e mulheres prevalece, ainda, a noção do esforço pessoal como determinante para o sucesso ou fracasso no mercado de trabalho, transferindo para o indivíduo - independente da classe de origem, do gênero, da cor – a responsabilidade pela vida profissional, apenas a partir do esforço próprio, mesmos que as condições cotidianas sejam profundamente desiguais. Os resultados são reveladores: 94, 4% no Teleatendimento; 80,2% na Rede; 84, 7% nas Operadoras consideram que há uma igualdade entre homens e mulheres no que se refere a remuneração, capacitação profissional, promoção e ascensão funcional e respeito e dignidade por parte da gerência. Os dados do Censo 2010, no entanto, permitem questionar esta visão um tanto idealizada, ou naturalizada, da realidade, quando apontam que “enquanto o rendimento médio real dos trabalhos dos homens passou de R$ 1.450 para 1.510, de 2000 para 2010, o das mulheres foi de R$ 982 para R$ 1.115. Em termos de ganho real, a diferença foi de 5,5% para ambos os sexos, 13, 5% para as mulheres e 4,1% para os homens. A mulher passou a ganhar 73,8% do rendimento médio do trabalho do homem; em 2000, esse percentual era de 67,%.” É importante perceber o paradoxo entre os dados: o Censo da Educação Superior, no Brasil, aponta que no ano de 2010, dentre os concluintes dos cursos de graduação presenciais e a distância no Brasil, 60,9% eram mulheres e 39,1%, homens (Dados do Resumo Técnico Censo da Educação Superior no Brasil 2010, Inep, MEC). Podemos, então, concluir que hoje a mulher tem investido mais na escolaridade e na formação profissional, com vistas a galgar melhores postos de trabalho e, consequentemente, melhores remuneração e condições de trabalho. Por que, persiste, então, a desigualdade salarial entre homens e mulheres? Como e onde debater estes dados, a fim de que percebamos as desigualdades presentes no mundo do trabalho? Este é mais um importante desafio para o sindicato e um papel de que não se pode abdicar.
ao fim do expediente de trabalho, mas estendem-se por horas após a chegada em casa. Tendo em vista esse complexo equilíbrio, nos perguntamos se as mulheres são ainda as únicas responsáveis pelas tarefas domésticas atualmente. Os homens têm participado mais na divisão de tarefas? Quais são os fatores que influenciam positiva ou negativamente em uma divisão de tarefas mais equânime - idade, classe, nível de instrução? No setor de telecomunicações, é possível identificar diferenças entre os segmentos de teleatendimento,
rede externa e operadoras? Apesar dos dados da pesquisa As Mulheres e o Mundo do Trabalho nas Telecomunicações não corroborarem tal afirmação, acreditamos que a participação de cônjuges masculinos na realização das tarefas domésticas é usualmente encarada como uma “ajuda” por suas companheiras e, por isso, tende a ser supervalorizada. Segundo Bruschini, o mesmo ocorre com os filhos homens, que não têm o mesmo nível de responsabilidade em casa que suas irmãs, mesmo quando são mais velhos que elas. Se a participação dos homens nos afazeres domésticos parece substancial, de acordo com os 1.644 questionários respondidos pelas trabalhadoras, o mesmo não pode ser dito dos cuidados com as crianças menores de 10 anos. De uma série de atividades imprescindíveis no dia-a-dia das crianças (são elas: vestir e dar banho, dar comida, brincar, levar e buscar da escola ou creche, levar ao médico, por para dormir e ajudar nas tarefas de casa), as mães aparecem como as principais responsáveis em todas elas, independentemente do segmento
onde trabalham ou faixa etária. Notamos que a participação paterna aumenta quando o casal coabita, mas via de regra o auxílio dado por avós, tios, ‘outros’ e empregadas domésticas é largamente mais expressivo do que a participação do pai no cotidiano dos pequenos. ‘Brincar’ é a atividade onde esta participação mais ocorre, sem, contudo, ultrapassar a responsabilidade materna exclusivamente na maioria dos arranjos familiares analisados - mesmo considerando as respostas “pai e mãe” e não apenas “pai”. Há um único caso em que “pai e mãe” é estatisticamente mais relevante que as respostas “mãe”, que é na faixa de 30 a 49 anos de idade para mulheres com companheiro. Tendo em vista a desafiadora conciliação entre trabalho e vida familiar e doméstica, sobretudo para as mulheres, tanto a reivindicação pela existência e melhoria dos benefícios relativos à família, quanto uma necessária reflexão e reformulação das atribuições de feminino/masculino nas esferas de produção e reprodução colocam-se na ordem do dia para o Sinttel-Rio.
DIVISÃO DE TAREFAS NO LAR TAREFAS
OPERADORAS
REDE
TELEATENDIMENTO
Lavar, passar, cuidar de doentes, cozinhar, fazer faxina
36% a 40% responderam “sempre eu”
25% a 43% responderam “sempre eu”
Igual aos outros da casa
Consertos
Outra pessoa da casa – pai, marido, irmãos, filhos
30% a 40% responderam “outra pessoa da casa”
Outra pessoa da família
Entretanto, é na análise da divisão de tarefas domésticas por faixa etária, considerando mulheres com e sem cônjuge e com e sem filhos, que percebemos melhor as disparidades entre os grupos: as trabalhadoras entre 30 e 49 anos sem companheiro e com filhos são as mais atarefadas, já que das oito atividades pesquisadas, responderam “sempre eu” para sete delas - com exceção, apenas, dos consertos de casa, realizados em 38,5% dos casos por “outra pessoa da família” e 32,2% por elas mesmas, trabalhadoras. O grupo de 50 anos ou mais, solteiras e com filhos, apresentam acúmulo de tarefas semelhante. As trabalhadoras menos atarefadas estão na faixa até 24 anos, sem companheiro e com ou sem filho: os afazeres domésticos são, via de regra, compartilhados ou feitos por outra pessoa da família.
De acordo com Soares e Saboia (2007), algumas variáveis influenciam na maior ou menor concentração da responsabilidade pelos afazeres domésticos sobre as mulheres, tais como idade, cor, escolaridade, renda e sua posição nos diferentes arranjos familiares (se são filhas, cônjuges, mães, etc.). Tanto estas autoras quanto Maria Cristina Bruschini (2008) afirmam que a comparação entre o tempo médio despendido nas atividades domésticas por mulheres ‘chefes’ de família e mulheres que vivem com companheiro, ambos os grupos com filhos, levam a crer que a existência de um cônjuge masculino representa um aumento na carga de afazeres domésticos, e não em sua diminuição, como era de se esperar (IBGE, Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio, 2005 e a pesquisa “Articulação Trabalho e Família: famílias urbanas de baixa renda e políticas de apoio às trabalhadoras”, 2008.)
O que pensam do sindicato
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etomando o que apresentamos no início deste texto, acerca do papel dos sindicatos como instrumento de defesa dos direitos dos trabalhadores e dos desafios postos para que os mesmos permaneçam com este potencial, destacamos que tal papel é experimentado/vivenciado na história. Uma história que não depende unicamente da vontade dos trabalhadores ou dos dirigentes sindicais, mas que é resultado dos conflitos entre interesses divergentes (capital e trabalho) e que traz consequências para o conjunto da vida social, influenciando a forma, as condições de trabalho e a organização dos trabalhadores. Ao longo da apresentação dos dados da pesquisa vimos dando destaque às mudanças - tecnológicas, organizacionais e de 11
gestão - acontecidas no setor de telecomunicações, aprofundadas com o processo de privatização do Setor, para que, a partir destas mudanças, pudéssemos compreender o impacto na organização dos trabalhadores e a crise instalada no movimento sindical a partir de então. Esta crise não foi exclusiva do setor de telecomunicações brasileiro. Afetou, desde a década de 1970, o movimento sindical em todo o mundo, que se colocou numa postura mais defensiva em consequência do grave desemprego que se efetivou a partir das mudanças tecnológicas e de gestão do trabalho (Sobre a crise do movimento sindical ver: Antunes; Alves; Ramalho; Rodrigues; Linhart, dentre outros). Apesar de alguma estabilidade, ainda é neste cenário de profundas alterações e precarização do trabalho que analisamos a relação das trabalhadoras entrevistadas com o Sinttel-Rio. Nesse sentido, devemos considerar tais elementos na perspectiva de não tratar como definitivos os dados que ora apresentamos. PARTICIPAÇÃO NO SINDICATO Não participa
50% falta de tempo/ 20% desinteresse
Campanhas salariais/atos/ eventos
40%
A maior sindicalização nas Operadoras, a nosso ver, está relacionado a maior permanência dessas trabalhadoras no setor, especialmente se comparado com as empresas de Teleatendimento, cuja média de permanência no emprego é de 6 meses. Quanto ao Papel do Sindicato, as trabalhadoras dos três segmentos apontam como principal a Negociação Salarial, seguida pelos Cursos de Formação e Serviços de Assistência Jurídica. Quando perguntadas sobre a necessidade 12
Acervo Oi Futuro - Centro de Documentação Iconográfica
Mesas da telefonia interurbana, 1939
de uma Pauta Específica para as Mulheres, a maior parte respondeu Não Sei (cerca de 40%) nas empresas de Teleatendimento e Rede e Não (44%) nas Operadoras. Mas, entre aquelas que responderam Sim (cerca de 30%) para a Pauta Específica, o item mais destacado, com cerca de 30%, foi Benefícios ligados à Família, dentre eles incluídos o direito de levar os filhos ao médico, aumento do valor do auxílio creche, aumento da licença maternidade, dentre outros. Este conjunto de dados confirma mais
os desafios do que as dificuldades por que passa o movimento sindical, quando se trata da mobilização dos trabalhadores e quando seu perfil vai sendo modificado com a entrada de um número cada vez maior de jovens e de mulheres, com novas demandas e necessidades. Nesse caso, é preciso que o sindicato se questione quanto às formas de organização da categoria, e que fortaleça seu contato com estes trabalhadores, através das visitas aos locais de trabalho e dos seus meios de comunicação, como o jornal semanal e o portal.
TAXA DE SINDICALIZAÇÃO REDE
35% na Telemont/ 73,8% na Nokia Siemens
OPERADORAS
12% na Oi/ 30% na Embratel, Claro, Vivo
TELEATENDIMENTO
43,2% na Contax/ 62,2% na Atento/ 76,9% na TMKT/ 33,9% na PC Service
Conclusão A pesquisa ora apresentada, na totalidade das questões tratadas pretendeu, desde a sua concepção, envolver academia, dirigentes sindicais e trabalhadoras/trabalhadores nessa importante temática da relação gênero e trabalho, na perspectiva de que conhecendo mais detalhadamente a realidade do
trabalho das mulheres nas empresas de telecomunicações do Rio de Janeiro, as ações do Sinttel-Rio venham fazer avançar os direitos de trabalhadoras e trabalhadores, além de ampliar a participação na defesa destes direitos. Este é só o começo. O desafio está posto para todos e todas.
MULHERES NA POLÍTICA
Eleição da primeira deputada faz 80 anos
Reprodução
No dia 3 de maio de 1933, três anos após a Revolução de 30 e a vitória de Getúlio Vargas, foram realizadas as eleições para a Assembleia Constituinte. Dos 254 deputados eleitos - cada estado elegia um número proporcional à sua população - havia uma única mulher, Carlota Pereira de Queirós, de São Paulo. Oitenta anos após essa eleição, o papel das mulheres na política ainda é pequeno Socorro Andrade
A
pesar da eleição de Dilma Rousseff para a Presidência da República, dos atuais 513 deputados federais, apenas 46 são mulheres. Entre os 81 senadores, dez são mulheres. Nas Assembleias estaduais e nas Câmaras Municipais de todo o país, a situação não é muito diferente. Segundo uma pesquisa realizada pelo professor José Eustáquio Alves, da Escola Nacional de Ciências Estatísticas, logo após as eleições de 2008, em apenas 17, dos mais de 5 mil municípios brasileiros, as mulheres conquistaram a maioria na Câmara. Atualmente, as mulheres ocupam menos de 10% das prefeituras. Nas Câmaras Municipais elas são cerca de 12% dos vereadores. Um exemplo dessa baixa participação da mulher foi o curso de formação dos novos vereadores eleitos em 2012, realizado no início de fevereiro pela Escola do Legislativo do Estado do Rio de Janeiro (Elerj). Dos 185 vereadores presentes, apenas 16 eram mulheres. Para a deputada Luiza Erundina (PSB-SP), o cenário atual é uma "vergonha", principalmente porque as mulheres já são maioria do eleitorado. O Brasil ocupa hoje a 141ª colocação em um ranking de 188 países que avalia a presença de mulheres na política. Erundina lembrou também que, em fevereiro, a ONU cobrou uma maior participação da brasileira no Congresso.
PARTIDOS Segundo os especialistas, uma maior participação feminina na política passa por uma mudança na cultura dos partidos. Alves destaca que as legendas precisam perceber que está na hora de investir nas mulheres. Segundo ele, isso ficou claro nas eleições de 2010. No primeiro turno, 67% dos eleitores votaram em mulheres: ou em Dilma ou na candidata do PV, Marina Silva. “O eleitorado vê com bons olhos votar em mulheres. Mas não basta lançar candidatas, elas precisam ter uma vida política, um currículo respeitável”, destacou. Para o professor José Rodrigo Rodriguez, o papel dos partidos seria investir na formação política da mulher para formar quadros competitivos para as eleições. Uma solução para o problema, segundo a deputada Janete Pietá (PT-SP), é aproveitar a atual discussão sobre a reforma política para criar mecanismos que aumentem a participação das mulheres. Ela destaca, no entanto, que alguns passos já foram dados nesse sentido. Em 2009, o Congresso conseguiu aprovar uma minirreforma que proporcionou alguns avanços. A primeira foi assegurar a obrigatoriedade de preencher com, no mínimo, 30% de mulheres as candidaturas de cada sigla. Também foi conquistada a reserva de 5% do fundo partidário para capacitação e
formação de mulheres. O professor José Eustáquio Alves, destaca, contudo, que essa cota não foi respeitada nas eleições de 2010. “Os partidos começaram a inscrever a mãe, a tia, a sogra. Mesmo os que tinham os 30%, era de candidatas laranjas.” Para o professor, se as legendas respeitarem essa regra, a tendência é que cresça o número de prefeitas e vereadoras no País: “A lógica é simples: quando aumenta o número de candidatas, aumenta o número de eleitas”.
A conquista do voto No dia 24 de fevereiro de 2012, o Brasil comemorou os 80 anos da conquista do voto feminino. As mulheres passaram a poder votar em 1932, por meio de um decreto assinado pelo então presidente Getúlio Vargas. Essa, no entanto, foi uma vitória parcial. O Código Eleitoral daquele ano permitia apenas que mulheres casadas (com autorização do marido), viúvas e solteiras com renda própria pudessem votar. Houve algumas mudanças em 1934, mas o voto feminino sem restrições só aconteceu mesmo em 1946, quando passou a ser obrigatório.
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Vegetarianismo: que bicho é esse? “As pessoas devem parar e quebrar essa mística de que vegetariano só come alface, que fica fraco.” Taiana Storque
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dieta vegetariana é composta exclusivamente por alimentos de origem vegetal. Há diversas razões que levam o indivíduo a ser tornar vegetariano: direitos e defesa dos animais, ambientais, saúde, espirituais, estéticas, religiosas e muitas outras. De acordo com os hábitos e cultura de cada grupo, vegetarianismo é entendido de forma diferente. Os ovolactovegetarianos são os que consomem ovo e leite. Os lactovegetarianos consomem leite, os ovovegetarianos apenas e os apivegetarianos incluem mel na dieta. Os vegetarianos de fato excluem da dieta ovos, laticínios e mel. Já os veganos, além de excluírem estes alimentos, não utilizam qualquer derivado de origem animal como couro, seda, lã e sabonetes com gordura animal. Os protovegetarianos não podem ser considerados vegetarianos porque, embora adeptos da dieta “vegetariana”, consomem derivados de origem animal. A adequação nutricional das dietas vegetarianas ainda hoje gera debates. Há inúmeras pesquisas científicas que comprovam a sua eficácia e contribuição na prevenção de doenças como o diabetes tipo 2, cânceres do sistema reprodutor e de mama. O Instituto Nacional do Câncer (Inca) indica para a prevenção da doença o consumo de uma porção diária de frutas cítricas e vegetais ricos em caroteno, encontrado em legumes e frutas amarelo-alaranjadas e em vegetais folhosos verdes escuros. O médico cardiologista Ricardo Oliveira Dreux, lactovegetariano há 21 anos, conta sobre a sua experiência. “A dieta vegetariana desgasta menos o organismo no processo
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Divulgação
lentilha, soja, ervilha e tofu. 3 - Gordura - nozes, castanhas, azeites, óleos de soja, canola e de milho. 4 - Vitamina - frutas, verduras e legumes. 5 - Sais Minerais - em todos os vegetais. O dr. Ricardo também afirma que a vitamina B12 é de difícil absorção pelo organismo, independentemente de o indivíduo ter uma dieta vegetariana ou não. Ele encontra essa dificuldade em seus pacientes, principalmente em idosos. A vitamina B12 é produzida por bactérias que ficam no intestino dos animais ou nas raízes das plantas.
8% da população brasileira se declaram vegetarianos de digestão. Depois que me tornei lactovegetariano me senti mais leve, mais calmo e com bem-estar. As pessoas devem parar e quebrar essa mística de que vegetariano só come alface, que fica fraco. O valor nutricional da dieta vegetariana não é menor do que quem consome carne. Os vegetarianos se recuperam mais rápido de algumas doenças porque o organismo está mais equilibrado. A ferida cirúrgica em pessoas em pós-operatório cicatriza mais rápido”, assegura o dr. Ricardo. Ele destaca que para uma alimentação balanceada o prato deve ser composto pelas seguintes combinações: 1 - Carboidratos - arroz, cevada, trigo, triguilho, aveia, arroz, milho, centeio e gérmen de trigo. 2 - Proteínas - feijões, grão de bico,
Em outubro de 2012 o Ibope publicou uma pesquisa que indicou que 8% da população das principais capitais e regiões metropolitanas afirma ser adepta do vegetarianismo. Fortaleza é a capital com maior percentual entre as capitais, 14% da população afirmam ser vegetarianos. Resta saber se a indústria está percebendo o crescimento desse público. A desinformação é o pior inimigo de uma pessoa adepta da dieta vegetariana. O dr. Ricardo alerta que é importante manter uma dieta equilibrada. Por exemplo, quem consome macarrão, pão e chocolate em excesso está ingerindo uma grande quantidade de calorias e pode ter muitos transtornos. O ideal, como em qualquer outra dieta, é dispor do bom senso. E para quem quiser seguir uma alimentação vegetariana é essencial procurar ajuda de um nutricionista especializado.
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Sindicato dos Trabalhadores em Empresas de Telecomunicações do Estado do Rio de Janeiro Rua Morais e Silva, 94 Maracanã - Rio de Janeiro 20271-030 Filiado à Fenattel e à CUT
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