A DOR DA DEPRESSテグ
SANDRA NOVO
Sandra Novo
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A Dor da Depress達o
FICHA TÉCNICA Edição: Sandra da Conceição Lima Carvalho Novo Título: A Dor da Depressão Autora: Sandra da Conceição Lima Carvalho Novo Capa e Paginação: Paulo Silva Resende 1.ª EDIÇÃO Lisboa, Fevereiro 2012 Impressão e Acabamento: Agapaex ISBN: 978-989-20-2902-3 Depósito Legal: 340333/12 © SANDRA DA CONCEIÇÃO LIMA CARVALHO NOVO Publicação e Comercialização Sítio do Livro, Lda. Lg. Machado de Assis, lote 2, porta C — 1700-116 Lisboa www.sitiodolivro.pt
AGRADECIMENTOS Gostaria de agradecer a todos os que me ajudaram nesta fase difĂcil da minha vida. Por isso, ĂŠ para mim um privilĂŠgio desejar que recebam em dobro toda a felicidade que me proporcionaram. Sei que nada tenho que possa recompensar... Apenas me limito a dizer obrigada e oferecer sempre a minha amizade! Bem haja! Sandra Novo
Poder partilhar a minha história é uma forma de poder ajudar quem vive em depressão, bem como fazer com que os seus familiares entendam que a Depressão é uma doença, e assim conheçam a sua gravidade, procurando todas as ajudas disponíveis!
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A DOR DA DEPRESSÃO Adoptei este título para o meu livro pois é o que acontece ao sofrermos de depressão pós-parto! Depressão pós-parto é fácil de ser pronunciada, mas quem por ela passa sabe bem o peso que tem! O sofrimento, as incompreensões, existentes actualmente na nossa sociedade podem originar sequelas para o resto das nossas vidas! Engravidei pela segunda vez aos trinta e dois anos e, ao longo da minha gravidez, tive várias complicações a nível da tensão arterial. Estes problemas foram o maior motivo de quatro internamentos para controlo da tensão. À partida não aceitei bem estes internamentos, eram dias após dias e dava tudo no mesmo: a tensão piorava e o meu estado de ansiedade crescia! Finalmente, tive que entrar em baixa de alto risco, quebrando assim o ritmo de dez anos consecutivos de trabalho, em que senti imensa falta daquilo que fazia e, evidentemente, dos meus colegas de serviço! Passei a gravidez entre a minha casa e o hospital e isso mexeu imenso comigo, pois sentia a falta deles, mas infelizmente nunca me visitaram, limitavam-se a perguntar ao meu marido, esquecendo-se de que a doente era eu e que uma visita me consolaria a alma! 11
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Instalou-se em mim uma grande dor, pois tratavam-se de colegas de longa data e, naturalmente, eu não estaria no hospital se tivesse saúde, estava lá por doença. Magoou-me muito. Dava por mim a chorar, tentando encontrar uma resposta para tal acontecimento, e por mais voltas que desse à minha cabeça… voltava à estaca zero… não havia resposta. Pior ainda foi não receber a visita de familiares, de quem gostava imenso! Eu pensava muito neles, ou seja, a minha cabeça no hospital era uma bola que girava sem sentido, sempre buscando respostas, e como não as encontrava, entrava em stress, pedia para me ir embora, desesperava. Espreitava os meus colegas irem para o trabalho de madrugada, tal como eu ia, pois o hospital ficava mesmo de frente para o meu local de trabalho! Que procurava eu em querer vê-los? Sentia saudades mas, ao mesmo tempo, mágoa, porque eu via-os, mas a mim, nenhum deles me veio ver! O que me valeu foi uma bela equipa de enfermagem e auxiliares, a eles devo muito… proporcionaram-me momentos inesquecíveis! Todas as vezes que me dirigia ao hospital já sabia que ia ficar mas, graças a Deus, o meu marido acompanhava-me sempre e, claro, também passou muito. As finanças em casa não eram muitas, não somos ricos e, por vezes, ele nem comia para ter gasóleo para alguma emergência… e estas eram bem frequentes! Até que, na minha consulta dos sete meses, a enfermeira não sentiu o bebé, e a tensão estava altíssima: eu encontrava-me em risco 12
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de pré-eclâmpsia, e o médico de serviço deu ordens bem claras à obstetra para me fazer o parto o mais depressa possível, pois estava perante uma situação, como referi anteriormente, de risco. O meu coração sangrava, os meus olhos cintilavam de lágrimas, e quando me perguntavam como estava, sorria e dizia que estava tudo bem, só que o meu estado de nervos era bem visível. Naquele mesmo dia fiz novamente análises e a espera delas foi um desespero total. Eu tremia por todos os lados! Lágrimas… perdi a conta delas, e naquele momento só queria o apoio da minha mãe que, durante a minha gravidez, esteve sempre ausente! O meu marido tinha ido entretanto a casa orientar a minha outra filha com a irmã! Foi ele a chegar ao hospital e, junto a mim, estava a médica a dizer-me que as análises tinham vindo alteradas: havia já pequenas alterações num dos rins e aguardar por um parto normal seria um risco para mim e para o bebé. Assinei o termo de responsabilidade da cesariana e laqueação, sim, porque, segundo a médica, uma nova gravidez poderia ser fatal, dadas as consequências que tive na gravidez devido à tensão alta. A cesariana foi complicada, tiveram que parar três vezes, pois a tensão tinha a tendência de subir, tanto que tive duas obstetras comigo… era grave a minha situação! As minhas ecografias mostravam um rapaz, segundo o médico, mas na realidade tive uma menina, e fiquei sem saber que nome dar à bebé… então optei por Filipa! 13
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Mas entrei em pânico, não esperava que isso fosse acontecer, tanto que o enxoval era muito mais para o azul! Ela nasceu ás vinte e uma horas e cinco minutos, no dia vinte e nove de Março de dois mil e dez, com apenas um quilo e oitocentos e cinco gramas (era prematura), vi-a só de relance… tinha que ir para o serviço da Neonatologia. Instalou-se mais uma confusão na minha já confusa cabeça! Eu fiquei em recuperação da anestesia que levei (epidural), mas o meu pensamento estava centrado naquela carinha redondinha, tão terna que nem toquei, o meu coração estava tão transtornado de tanta dor … passei tanto… e no fim ela não ia ficar no meu quarto! É doloroso, e não há explicação possível! Chegou a hora em que tive de ir para o meu quarto. Para mim foi um caos, olhar em meu redor e ver as mães com os seus bebés. E a minha? Estava perto, mas ao mesmo tempo parecia a quilómetros de distância... Que sensação amarga, que dor tão profunda! Instalou-se uma enorme revolta no meu ser, que só quem passa por essas situações pode dar valor, pois são coisas muito pessoais e, além do mais, que nos custa a perceber o porquê delas acontecerem. Por isso, dificilmente conseguimos entrar num diálogo! Senti que estava a bater no fundo do poço e que estava sem saída. Entretanto o meu marido chegou com as irmãs e tentou tranquilizar-me, dizendo-me que ela estava bem, e que a razão dela estar na neonatologia era para ganhar peso, não tinha mais problemas, era normal! Para uma recém-mamã, é lógico que foram palavras de conforto, sim, é verdade! Mas quem acalma o coração de uma mãe? Ninguém! 14
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No dia seguinte fiz das tripas coração para me levantar, e proceder assim a uma mais rápida recuperação, para poder ir ver a minha filhinha. Nas primeiras vezes fui de cadeira de rodas, mas depois já ia pelos meus pés. A evolução dela era impressionante, era bem mexilhona… mas cada vez que me aproximava do berço, chorava desalmadamente, e mais uma vez não sabia explicar o porquê! Após o terceiro dia da cesariana estava convicta de que me dariam alta. Assim poderia ir ver a minha outra filha e vir ver a pequenina que tinha que ficar pelo tempo necessário. I nfelizmente não aconteceu nada como estava a prever! Eu fiquei seis dias internada porque, ao fazer a cesariana, estava com indícios de AVC, e fiquei mais tempo porque estava levando injecções para a sua prevenção; nem isso eu sabia… foi-me ocultado devido ao meu estado de saúde. Estive também a aguardar um médico que vinha esporadicamente do continente ao nosso hospital, que viu minha cicatriz e as análises e me deu a tão esperada alta. Foi também ele que me contou acerca do AVC. Saber que estive entre a vida e a morte chocou-me imenso. Fez com que fosse ainda mais devota do Senhor Santo Cristo dos Milagres porque Ele é e será sempre o meu melhor Amigo! Foi com Ele que falei durante vários dias e Ele escutava-me, tanto que estou aqui… viva… graças à sua bondade e compaixão! Não esqueci de me despedir das auxiliares e enfermeiras que se encontravam de serviço, porque melhor não poderiam ter-me tratado, e saí com as lágrimas nos olhos… eu sou assim, afeiçoo-me muito às pessoas! 15
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Ao sair da maternidade, fui ver a Filipa, estava dormindo de barriguinha para baixo, o meu marido já lhe havia dado banho e biberão. Lá, até à data, ele tinha sido o melhor pai que elas alguma vez tinham visto, ele era destemido, dava-lhe banho sem medo, e cuidava muito bem dela! E ainda hoje, ela é muito apegada ao pai, criou-se logo ali uma ligação muito forte entre pai e filha! Na Neonatologia, a Filipa ficou dezanove dias, como já referi anteriormente, só para adquirir peso e, visto que, dito por elas, nós pais éramos muito responsáveis, ela saiu com um quilo e novecentos gramas pois, pelas normas de lá, os bebés têm que sair se não existem problemas aparentes quando atingem o peso de dois quilos. Ficámos radiantes e, como levávamos todos os dias a cadeira do bebé e as roupinhas, foi meio caminho andado para trazermos a nossa filhinha para junto de nós! Ainda deu tempo de irmos almoçar enquanto a médica declarava a alta. É importante salientar que o hospital só fornece almoço a um dos pais, mas dividíamos o mesmo almoço por nós dois, pois o dinheiro não esticava para tudo! Foram etapas que mexeram muito comigo, mas estava longe de ficar com depressão pós-parto. Aliás, nem tinha conhecimento dos seus sintomas e, por mim, nada passava de um mau humor passageiro! Então, com a vinda da bebé para casa, nos meus primeiros dias lá me ia habituando, visto ter sido mãe onze anos antes, mas com a enorme diferença: na época existiam a minha sogra e a minha mãe, e desta vez via-me sozinha. Embora tivesse o meu marido, ele também se desviava de cuidar dela ao longo da noite, pois tinha que ir trabalhar. 16