Com o teu calor os meus dias de inverno são primavera

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CARLOS RIBEIRO

Com o teu calor os meus dias frios de inverno s達o primavera


FICHA TÉCNICA Edição: edições Vírgula ® (Chancela Sítio do Livro) Título: Com o teu calor os meus dias frios de inverno são primavera Autor: Carlos Ribeiro Capa: Patrícia Andrade Paginação: Nuno Almeida 1ª Edição Lisboa, Outubro 2014 ISBN: 978-989-8678-81-2 Depósito Legal: 380617/14 © Carlos Ribeiro PUBLICAÇÃO E COMERCIALIZAÇÃO:

Rua da Assunção nº 42, 5º Piso, Sala 35 1100-042 Lisboa www.sitiodolivro.pt


Com poemas e não com flores Alumio o nosso caminho, Testemunhando o meu amor.

O amor não tem idade, está sempre a nascer. [Blaise Pascal] A medida do amor é não ter medida. [Santo Agostinho]



1. Separação do que fui para renascer para outra



Com o teu calor os meus dias frios de inverno são primavera

I. O sol vertical cega-nos as retinas e orvalha a pele. Os teus olhos líquidos interrogam-me. Sigo a linguagem dos corpos, dispo-te: Desaperto o véu do coração e vejo uma casa desarrumada de janelas abertas por onde o vento entra. Afasto as tuas pálpebras e pelas pupilas dilatadas observo as cinzas do que foi floresta, esperança verde. Percorro o teu corpo com as quilhas dos meus dedos com um rumor antigo que antes supunhas amor mas que agora sentes como lâminas a ferir a pele. No teu ventre as mãos que antes sentiam uma cálida carícia queimam-se com a lava das tuas recriminações.

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II. Os meus lábios já não são barcos percorrendo a água da tua pele porque gelados pelo janeiro da tua indiferença entrei na noite. O silêncio é cúmplice das palavras. Tenho a certeza que parto. O teu barco navega nas águas das minhas lágrimas, as lágrimas molharam as palavras. Todavia, tudo é passageiro e quando sobre a terra da minha sepultura crescerem ervas estarei esquecido por ti.

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III. Respirámos o mesmo hálito, confundimos as nossas pulsações, ouvimos o mesmo rumor do vento, tivemos nas nossas retinas o mesmo horizonte sentimos juntos punhais ferindo a pele ou barcos navegando na água dos lábios húmidos. Percorremos as mesmas curvas das estradas, entrámos juntos na noite e na madrugada, dormimos os mesmos sonhos onde trocámos as personagens, enclavinhámos as mãos para construções de areia ou cimento, suportámos juntos o silêncio onde cabem todas as palavras, transpirámos juntos à procura dum instante de felicidade. Mas também molhámos muitas vezes as palavras nos gritos, as lágrimas abriram ravinas na nossa pele, as nossas mãos navegaram de velas destroçadas, observámos lodo onde devia haver água límpida, o fumo fechou-nos as pálpebras quando o lume nos devia aquecer. É por tudo isto que as amarras quebraram e o barco partiu à procura doutros portos.

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IV. As águas dum rio nunca são as mesmas. Estão contidas entre duas margens, são fieis ao seu leito e correm para o mar. São sulcadas por mãos diferentes e bebidas por sedes diferentes. Por que somos diferentes das águas dum rio? Têm dias de sossego e dias agitados, faces múltiplas refletindo o céu azul ou cinzento e muitas línguas que falam a mesma linguagem. Somos diferentes das águas dum rio?

Agora a vida contigo não passa por mim como aragem ou rumor duma respiração amada mas como tempestade que arranca os ramos e priva de seiva as suas flores. Mas aos vórtices dos ventos sucede o silêncio morno. Terá a minha vida igual sossego? Poderei renascer para outro amor?

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V. Envelhecemos. Observo-te. As rugas dobram a pele, papel amarrotado onde várias escritas se misturaram. Afirmas-me espelho de ti, mas os meus nervos têm um limiar jovem e o coração pulsa verde. Ainda quero agarrar a lua na mão e ter nos olhos as curvas do desejo. Enquanto sonhar ser praia ou búzio e ouvir chamamentos de um amor possível, estou vivo. E as rugas não serão ravinas para as lágrimas, nem os olhos estarão baços de vazio. Se o vento varreu a minha pele e arrastou as ervas, deixando areia e pedras, as raízes na terra levarão a seiva para as folhas e o amor renascerá cada dia. A cada poente sucederá a madrugada e o sol nascerá nos meus lábios que procurarão o amor.

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2. As palavras abrem-se em desejos Falamos com a cidade aos pés, indiferentes a quem está. O dia rasga-se em confidências mas que só no papel desenham o voo, palavra a palavra, ramo a ramo, com um sorriso de madrugada e um gosto atrevido de liberdade. Quero tocar nos teus ramos como um sopro de aragem fresca, uma carícia mansa de folhas, e fazer deles asas da minha inspiração. Quero fazer das tuas pálpebras asas para o meu poema, dos teus lábios velas para navegar até longe, dos teu olhos doces sóis para iluminar o meu dia, da tua voz meiga o chamamento que me arrasta mar dentro à tua procura. Quero navegar na tua pele quente à procura dum porto de abrigo ou duma ilha em que fiquemos os dois plasmados num só. Tenho esperança que a cinza deste fogo que ateaste será húmus e alimentará o nosso caminho futuro. Ainda não tivemos o momento em que as nossas almas nuas se olhem e procurem a comunhão, e as palavras se desenhem com gestos que procuram a felicidade. Poderemos tê-lo um dia?

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3. Deixa que me amarre no teu cais Posso acariciar-te? Deixa que a minha mão te sulque a pele, sem rumo certo, como um navio de velas brancas desfraldadas ao sabor do vento num mar calmo de Agosto. Deixa que sinta os teus cabelos a enredar-me a alma, a atar-me os dedos, a preencher de espanto as minhas pupilas. Deixa que a minha pele fria de ansiedade se aqueça no teu abraço. Deixa que te olhe nos olhos, para saber se o meu barco tem cais, ou fica perdido no mar. Podes ser o meu porto de abrigo?

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4. Já embalados nos beijos Respirámos o mesmo ar saturado de vida, a língua navegou na água dos lábios húmidos, confundimos as nossas pulsações apressadas, ouvimos o mesmo rumor de vento e chuva, naveguei aos soluços pela tua pele quente, acariciei e beijei os teus cabelos, tivemos nas nossas retinas a mesma paisagem. Mas ainda não entrámos juntos na procura de um corpo só, nem transpirámos juntos à procura dum instante de felicidade, nem a vertigem dos sentidos nos enevoou a vista. Há um mar revolto que quero sulcar para então ficarmos um corpo só, eu em ti e tu em mim, numa comunhão de felicidade e futuro. Estamos sempre preparados para a felicidade e nunca estamos preparados para o desgosto.

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5. Ansiedade da espera Figura esbelta, cabelos sedosos que me entrançam a alma, olhar meigo, voz doce, pele macia e quente, peito seguro, ventre liso que apetece percorrer, púbis que atrai, coxas duras de adolescente que quero acariciar, joelhos que apetece afastar… Conto as horas e os dias para que possamos renovar os abraços e os beijos, para que possamos fundir os nossos corpos e colar as nossas bocas num selo para a felicidade… Desejo mergulhar a minha raiz no teu solo fértil até ao espasmo de felicidade. Mas ainda falta tempo demais e a espera impacienta-me o coração… E nem sei se o meu desejo se cumprirá…

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6. Namoro num carro perdido na natureza 1. A tua presença enche o meu carro: cabelos de mel, olhos doces, face onde o olhar descansa; afirmo-te a evidência: és bela como o anjo dos dias da nossa infância. 2. A espera aguça o desejo de te abraçar. 3. Lábios famintos procuram a alma na boca seca de ansiedade. Trocamos beijos. Procuramos plasmar os nossos lábios. O abraço é forte. Por mim, é já amor. 4. Estamos embalados pelos nossos beijos, partimos à descoberta um do outro. Os nossos peitos aquecem-se na fornalha da minha paixão – e da tua? O olhar dos outros começa a ser pequeno porque o olhar entre nós é cada vez mais estreito. A distância entre nós fica esmagada pelos nossos corpos juntos. 5. O desejo da união é já uma chama que queima, consome. As minhas mãos e o meu olhar sentem-te, contempla-te na plenitude da criação. 6. O desejo, flor carnal que desabrocha, permanece comigo. O tempo incerto do novo encontro fá-lo tropeçar. Quando? Onde? Como? 7. A ansiedade deste novo encontro queima-me e só tu me podes sossegar. 8. Quando o mundo é do tamanho da nossa paixão, o nosso teto é esse mundo. Os instantes de felicidade são fugazes porque são instantes. Aproveitemo-los. 9. Sejamos felizes em comunhão um com o outro! 10. Vamos amar-nos? Terei resposta?

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7. Desejos de uma alma apaixonada Aquece-te no meu regaço, meu amor. Deixa lá fora o frémito do vento e o inverno do descontentamento e agarra a minha mão para percorrermos uma trilha de luz. Aquece os teus lábios nos meus, meu amor. Deixa para os outros invejas e maldizeres que os enredem e acarinhemos as nossas línguas na plenitude dos instantes perfeitos. Aquece-te na minha pele, meu amor. Deixa que os rios cavem cada vez mais fundo os seus leitos e bebamos a nossa felicidade pelas nossas bocas. Que importa o frio dos outros se o nosso amor nos pode aquecer! Amemo-nos. Pode ser? Morro de saudade dos teus lábios e da tua pele lisa e quente! Quero percorrer-te toda de beijos, repetidamente, quero penetrar-te pelos olhos até à alma, quero contigo ser apenas um, pregados pelo desejo e pelo amor. Unidos, quero embalar-te no nosso ritmo à procura do êxtase. A espera é um tormento. Amanhã é muito longe para amar-te, mas as circunstâncias ditam as suas leis. Fica o desejo mais vivo!

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