Emoções Em Poesia

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JOSÉ DE NUNES

EMOÇÕES EM POESIA


FICHA TÉCNICA EDIÇÃO:

Vírgula Emoções em Poesia AUTOR: José De Nunes TÍTULO:

PAGINAÇÃO: CAPA:

Paulo Resende Patrícia Andrade

1.ª EDIÇÃO LISBOA, FEVEREIRO 2013 IMPRESSÃO E ACABAMENTO: ISBN:

Publidisa

978-989-8413-82-6 353838/13

DEPÓSITO LEGAL:

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JOSÉ DE NUNES

PUBLICAÇÃO E COMERCIALIZAÇÃO

Sítio do Livro, Lda. Av. de Roma n.º 11 - 1.º Dt.º | 1000-261 Lisboa www.sitiodolivro.pt


PREFÁCIO Nesta obra «Emoções em Poesia», o autor, na senda já traçada na sua obra anterior, «Palavras Feitas Poesia», permanece fiel ao seu estilo assertivo e cristalino, não se extravasando para uma linguagem pretensiosamente «literária». Entre um jogo de «Palavras Feitas Poesia» e «Emoções em Poesia», José De Nunes descreve com admirável simplicidade o ambiente que o envolve e os sentimentos que o avassalam, particularmente os momentos mais críticos da sua existência. Porém, as dores e desânimos que moram nos seus versos não o impedem, muito pelo contrário, de em poema dar asas à sua volúpia e a sublimes sonhos de amor. Estamos, ouso dizer, perante uma confissão recheada de redemoinhos de insatisfação, resistência, tropeções e, fundamentalmente, de uma inabalável coragem de desbravar as contrariedades existenciais. A introspeção, os sacrifícios constantes, as angústias, o medo, e até a visão da morte conduziram o autor à reflexão sobre a vida e à descoberta de si mesmo como de um ser humano que necessita de exteriorizar a sua inquietação profunda e disposição sombria do espírito. Por vezes, desperta mesmo para o mistério da vida sobrenatural. O autor procura não só aliviar a revolta de um paciente mas também encontrar explicações e interpretações para a sua própria realidade. Sente-se a verdade, nua e crua, em cada um dos poemas e, por isso, esta obra ganha um cunho de documento humano, não se tratando pois de uma produção prodigiosa mas o relato de uma vida 5


esculpida e sentida em verso. Permitam-me, até como incentivo, dizer-vos que a melhor forma de concluir este preâmbulo com “chave de ouro”, mais do que explicar ou justificar a obra, é transcrever o próprio José De Nunes: «quando escrevo, sinto alívio, a minha dor diminui e a coragem volta... Ao escrever, desabafo, revelo os meus sentimentos, as minhas preocupações, a resenha de muitos dos meus momentos. Escrevo por impulso em toada e ritmo que surge num sopro que vem não sei de onde nem quando, a que se poderá chamar inspiração.» Hernâni Lopes

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“Quantas vezes nos autorreprimimos, por medo do que os outros possam pensar de nós, por vergonha, por insegurança, por "educação". Medo de parecermos ridículos, fracos, idiotas. E, então, (nessas vezes), onde fica a nossa criança interior? Aquele serzinho que habita no fundo da nossa alma, sufocado por tantos "não pode". Quando ele o que mais está precisando é de se expressar? E sem a nossa criança como é que ficam nossas emoções? Sufocadas? Nossa alegria encerrada? Nossa tristeza bloqueada, a raiva encalacrada, o amor reprimido doendo no peito porque não pode ser demonstrado.” Autor desconhecido.

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Ă€ Maria, minha esposa. EĂ Ana Carina, minha filha.

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Emoções em Poesia

PERDIDO E ACHADO Já me perdi de tanto achar Que dou comigo à procura De mim mesmo e, se calhar, Vou perder-me nesta aventura. Agora que estou empenhado E deveras mais decidido Em achar-me noutro lado Que não neste lugar perdido. Já me dava por contente Se um dia me achasse Comigo, com toda a gente. E na verdade te digo Gostava de finalmente De poder achar-me contigo.

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José De Nunes

SILÊNCIO Há dias que nem me falas, Passas por mim, espias e calas, Noutros, porém, és tão eloquente, Falas-me de uma forma tão evidente. Tu me tens acompanhado toda a vida, A tua voz já me é bem conhecida, E tanta coisa poderia mudar, Se acaso tu me pudesses falar, Sobre o que me anda a inquietar, Sobre o que me anda a consumir. Se algum dia eu te souber ouvir, Espero então que tu me digas, Porque é que tanto me castigas, Ora com a tua ausência, Ora com a tua impaciência, Para estares mais comigo, Qual vingança ou castigo, Por eu não te entender, Ou por não te saber dizer, A falta que tu me fazes, O bálsamo que tu me trazes.

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Emoções em Poesia

QUEM SABE Quando partir deste mundo, se calhar, Vou ver entes queridos, lá no Além, Vou, quem sabe, descobrir lá quem, Tanta saudade nesta vida me fez passar. E lá, quem sabe, algum contentamento Vou poder por fim desfrutar, Já que nesta vida nunca me vi passar Por tal regozijo um só momento. Se estes versos que agora componho Me puderem ajudar a relembrar Esse alguém, lá na eternidade. Talvez até, quem sabe, do meu sonho Eu possa justamente lá acordar Nos braços de quem expiei tanta saudade.

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SIMPLESMENTE MULHER Sob esse teu lindo vestido, Realça na audácia das formas A tua vontade e o desejo contido, Com suas regras, com suas normas. Sobressai em ti, bem vejo, A semente que quer emergir do chão, E o teu contido desejo Pelo pólen da fecundação. É a natureza a falar, A expressar o seu conflito, E tu não a deves calar. Faz o que a natureza quer, Deixa afirmar esse teu grito, Deixa-te ser simplesmente mulher.

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SE EU SOUBESSE Se eu soubesse como expressar Todo o sentir que há em mim Meus poemas não teriam fim E eu escreveria sem parar Lembranças de tudo e de nada Do que fui e do que sou forjado Da minha ventura inacabada Das mágoas com que fui contemplado Só agora estou concluindo Que nesta vida me é impossível Partilhar o sentir que é de apenas um E por mais que pareça incrível Meu sentir é de todos os tempos Que me vem talvez de tempo algum.

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PROFUSO OLHAR Na vastidão do mar Creio que ainda vou ver O que não consegui perceber Oculto em teu olhar. Se conseguir vislumbrar O que o teu olhar esconde Algures não sei aonde Vou, quem sabe, divisar. Teu mistério, teu segredo E a razão por que ofuscas Na senda das tuas buscas Nesse teu olhar sem medo Esse teu profuso olhar Que tu insistes em ocultar.

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Emoções em Poesia

QUEM NÃO SENTE Quem não sente não viveu Não entende com certeza Que na vida só é seu A alegria e a tristeza. Na vida nada nos pertence Tudo nos é emprestado Quem disto não se convence Só pode andar enganado. Portanto, te peço, amigo Que penses bem e reflitas Nisto que agora te digo. Se a vida não te quis dar Remédio para as horas aflitas Foi karma, não foi azar.

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DESAFIOS Os desafios que a vida me fez Foram de tal envergadura Que apenas estive à altura De responder a dois ou três. Muitos ficaram sem resposta Porque não fui então capaz Fui deixando-os para trás Aguardando por nova aposta. E os dias foram passando, Os meses, os anos, sem contar O tempo que fui protelando, Aqueles desafios mais prementes A que apenas consegui dar Respostas insuficientes.

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Emoções em Poesia

NÃO TE ENCONTRO Onde estás que não te encontro Para onde foste sem me dizer Levaste contigo o encanto E o gosto do meu viver. Estás talvez por aí Deambulando pelo caminho Fostes à procura de ti E deixastes-me a mim sozinho. Por mais que pense porque partiste Não encontro explicação Nem enxergo sequer a razão Porque sem ti vivo triste. Já fiz tudo para te olvidar Já fiz mais do que podia Para viver o meu dia-a-dia Sem o desejo de te encontrar.

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José De Nunes

EXORTAÇÃO Sonho que tanto me exortas Dá-me um pouco de percepção Para que eu aceda ao coração E lhe consiga abrir as portas. Dá-me também se te calhar E se não for pedir de mais Algum bálsamo para os meus ais Algum remédio para me curar. De tanto me questionar Sem obter qualquer conclusão Já me estou a quebrantar Já nada discirno como evidente E nesta implacável decepção Ando cada vez mais descontente.

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