Encantamentos de Serpa

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Encantamentos de Serpa Francisco Parreira

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FICHA TÉCNICA Edição: edições Vírgula ® (Chancela Sítio do Livro) Título: Encantamentos de Serpa Autor: Francisco Parreira Capa: Patrícia Andrade Paginação: Nuno Almeida 1ª Edição Lisboa, Fevereiro 2014 ISBN: 978-989-8678-50-8 Depósito Legal: 369786/14 © Francisco Parreira PUBLICAÇÃO E COMERCIALIZAÇÃO:

Av. Roma nº11 1º Dtº 1000-261 Lisboa www.sitiodolivro.pt

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“Um Pássaro não Canta por estar feliz, ele está feliz porque canta” Fredéric Skinner

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¶ Òh, Serpa do Alentejo ¶ Alentejo em Serpa é sempre belo Por causa da planície organizada, Ouvir a ribeira correr ondulada, Paisagem da vida faz-nos o apelo. O calor faz suar o homem do gelo No tempo que passa antes da chegada, Ao branco de Serpa, porque é caiada, Na Páscoa d`Abril do anjinho singelo. Os Arcos parecem amigos dos pares, Vistos do Altinho, altar da beleza, Alindam tão perto aqueles lugares. Altura da torre recorda realeza, Perante ameias que são circulares Castelo lindo de uma fortaleza.

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¶ Berço da Poesia ¶ Poesia vive na terra onde nascemos Porque sorrimos conhecendo as ruas, Os largos, casarios onde crescemos, Com raízes fundas nestas lembranças nuas. Desenhos das letras que nós aprendemos, São louras sementes esperando luas, Valores meninos porque escrevemos Tantas tradições das noites escuras. Sem percebermos recebemos a poesia Dos nossos avós, do colo do vizinho, Ou da nossa Mãe rainha da magia. Aliando sempre farinha do ninho, Declamam-se sonhos, enigmas d`alegria, Da alma do poeta amando cantinho.

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¶ Òh, Serpa pois

tu não Ouves ¶

Ser filho de Mãe notável, Com uma Cultura nobre, É uma responsabilidade! Por dar nomes à nação Deixou nos tempos lição: Nos tratados do Abade, Na Prosa do Conde de Ficalho, Na Poesia do Mário Beirão, Nas Telas do Manuel Bentes, Nas Ideias do Calixto, Nas Quadras da Virgínia Lagarto. Sonhos das noites Com os cantes dos Corais Deliciando-se encantados Ao luar dos rurais. Nas solidões naturais, Nasceram vultos notáveis, Como Castelo levantado Por filhos tão responsáveis.

¶ Raízes ¶ Viverei sempre esta Serpa, a minha terra, Atento às tradições, com saudade. Mostrando pouca mudança Nestas calçadas velhinhas, Serei sempre criança, Nas ruas por razões minhas. Por isso percorro sozinho Noites da minha idade. Nostalgia do meu ninho, Família da minha vida Debaixo do Sol ouvida Porque ao nascer se levanta. Manhãs tão engraçadas, Com rostos das raparigas, quando saíam sozinhas, Com as horas acertadas No relógio das vizinhas.

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¶ Terça-feira

de Altinho ¶

Contornando árvores por veredas Nos solos irregulares A natureza enobrece, os sons que se vão ouvindo, Lá do cerro do Altinho. Com os lindos passarinhos No chão sempre aos saltinhos Avista-se a branca ermida Onde luz lenta das velas Recolhe letras das preces. Pôr-do-Sol deslumbrante! Chegando devagarinho, como reza a tradição, Os lírios-roxos do campo Criados na Primavera Inspiram os cantadores À porta da Padroeira.

¶ Cante Alentejano ¶ Cantado nas ruas tem raça, Desfilando os passos levantam, Ares nostálgicos com muita graça Alegram as vozes que cantam. O ponto começa e a moda passa, Ao alto que sobe tons qu`encantam, Eterno cantar onde se agigantam. As letras do cante, hoje cancioneiros, Nos ventos do tempo louvadas Transportam os sons dos mosteiros. Inspirando os ceifeiros, Os trajes são cores suadas Nos corpos das gentes amadas.

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¶ Custos das

Saudades ¶

Compreender as mudanças Desta Serpa tão cantada, Lembra-me menina sem tranças Nas ruas desfigurada. Porque havia operetas Do teatro popular Nas Sociedades abertas, Com o dinheiro a chegar. Costumes da vida local Trocaram a velha gestão Desta terra de Portugal Que punha Sº João no festão. Chamando-lhe cidade forte, Mantendo o mesmo concelho, Entregue à sua sorte Na desertificação do espelho. Sem ceifeiros nos celeiros, Nem pastores nos ribeiros, Os almocreves partiram Deixando museus que não viram.

¶ Fases da Vida ¶ Hoje vivo a experiência Fora da formatura Depois de tanta vivência Dentro da formatura, Da Filarmónica de Serpa. Afirmo que os sons são sentimentos, Duma e doutra maneira, Porque os sopros nos instrumentos Lembram-me gente porreira. Parece milagre! Mas não me sinto fardado Antes me sinto encantado.

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¶ Serpa, serpente ¶ Vejo-a à minha maneira, Humilde no Altinho, vaidosa no Castelo. Tão linda de madrugada Nos rostos das mondadeiras Sorrindo às lavadeiras No caminho da ribeira. Depois da Rua dos Arcos, Ouvindo os passarinhos, Voando tão pequeninos, Como as crianças da Escola Brincam no verde jardim. Lindos botões florindo Lembram trajes das ceifeiras, Nas ceifas, mostrando as cores, Onde estão os cantadores Da vila dos meus amores.

¶ Altinho eterno ¶ No Altinho sozinho Vivo e sonho. Ao azul do céu me exponho Mirando paisagem que guarda sementes. Sossego do monte deixa-me risonho, Não sei o porquê? Talvez sejam parentes, Porque lhe reponho Lembranças dos ausentes. Nas árvores com muitos raminhos, O som do sino ouve-se nos ninhos Onde sonhos circulando deleitam A branca ermida qu`enfeitam.

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¶ Roteiro de Serpa ¶ A Cruz Nova encaminha Pessoas ao Salvador, Rezando, todas em linha, À frente do seu prior. Os aromas dos andores São das flores do Abade, Guardando como valores Oliveiras com idade. Vistas do lindo Castelo, Idos tempos dos Marqueses, Nos Arcos parecidos barcos, A alma dos Portugueses. Comemorando festejos Na Praça desta República, Os trajes destes cortejos, Nas moças são coisa rica. Brilhos das Luas Novas, Ninhos da maravilha, Na história como filhas Destas Portas de Sevilha.

¶ Coisas de Serpa ¶ A curta passagem da felicidade Sorri no momento da coisa vivida. As casas bonitas da minha vaidade Plantadas no tempo da vida Envelhecem a mocidade Porque continuam a lida. Percebe-se tudo, fluindo nos ares, Ao longo da Barbacã do Castelo. Novas ideias, novos lares, Caiados de branco singelo Perante olhares: Pedras seculares deleitam Casas que outros enfeitam.

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¶ Postal da Páscoa ¶ Espalhar aromas De Serpa Antes das procissões Com andores, É trabalho de paixões. Antes das Aleluias, dos sinos do Salvador. Conservando costumes, Os amigos contentes Abraçam os ausentes Sentindo tanto os perfumes… Do Castelo das Serpentes. Decorações comentam As damas que por cá estão, Mostrando cores sustentam Salvas de prata nas mãos. Esperando os cantadores, Airosas aonde estão.

¶ Moças da

Minha Terra ¶

São doces da noite Sonhos dos dias românticos. Luzes do pensamento, Iluminando cegonhas Ao longo do firmamento. Do verão que excita as moças da minha terra. Alentejanas! Vestidas de camponesas, Nas melancolias serenas, Namoram aos serões, depois dos sermões, Deliciam-se morenas Às portas da natureza.

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¶ Serpa Medieval ¶ Lugar com Castelo e ruas estreitas Convida pessoas a Serpa dos cantes, Nas noites do tempo nunca imperfeitas, Brilhante luar dá luz aos amantes. Postigos abertos motivam espreitas, Alumiam pessoas pouco falantes, Despertando olhares moças perfeitas, Porque a beleza pressente-se antes. O pregão alertou moço pregoeiro A ler os decretos envoltos no laço, Que juntava os guerreiros no terreiro. Na Serpa medieval, pequeno espaço, As casas pequenas alindam mosteiro Mas já sem abadia e também sem paço.

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