25 de Abril, 25 Lugares

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MANUEL DO NASCIMENTO

25 ABRIL LUGARES

ASSEMBLEIA CONSTITUINTE 50.° ANIVERSÁRIO (1975-2025)

25 de Abril, 25 Lugares

Assembleia Constituinte 50.° Aniversário (1975-2025)

MANUEL DO NASCIMENTO

FICHA TÉCNICA

título: 25 de Abril, 25 Lugares

autor: Manuel do Nascimento

edição: edições Ex-Libris ® (Chancela do Sítio do Livro)

revisão: Margarida Félix

arranjo de capa: Ângela Espinha

paginação: Alda Teixeira

Lisboa, janeiro 2025

isbn: 978-989-9198-16-6

depósito legal: 539977/24

© Manuel do Nascimento

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publicação e comercialização:

www.sitiodolivro.pt publicar@sitiodolivro.pt (+351) 211 932 500

Obras do mesmo autor

• Otelo Saraiva de Carvalho et la Révolution des Oeillets – 25 avril 1974-Poste de commandement-50e anniversaire (versão francesa) Paris, 2024.

• Lição de Liberdade-25 de Abril de 1974-Quando os cravos substituem as balas-50.° aniversário (versão portuguesa) Lisboa, 2024.

• Os Números da Guerra – CEP nas Trincheiras da Flandres Francesa (1917-1918) (Versão portuguesa) Lisboa, 2023

• Présence Française au Portugal (Versão francesa) Paris, 2023

• Présence Portugaise en France (Versão francesa) Paris, 2022

• Da ditadura ao Estado Novo (1926-1974), Lisboa, 2022

• O 9 de Abril de 1918 foi um desastre? Lisboa, 2021

• Chronologie Commentée de Napoléon 1769-1821, Paris, 2020. Versão francesa

• Por Uma Vida Melhor-Memória de Vivências, Lisboa, 2020

• Les Oubliés de la Guerre des Flandres-Les soldats portugais dans la bataille de la Lys – 9 avril 1918, Paris, 2018. Versão francesa

• Nem Tudo acontece por acaso, Colibri, Lisboa, 2017.

• Histoire du Portugal – Une chronologie, (versão francesa – 621 páginas), Paris, 2016.

• Première Guerre mondial (centenaire 1914-2014), Les Portugais des tranchèes et la main d’œuvre portugaise à la demande de l’État français, (versão francesa), Paris, 2014.

• História de Portugal – Uma cronologia (Versão portuguesa – 3 volumes – 1.850 páginas), Lisboa, 2013.

• D. Afonso Henriques – Assim Nasceu Portugal, Leiria, 2012.

• Troisième Invasion Napoléonienne – Bicentenaire 1810 – 2010 (Versão francesa, Paris, 2010).

•  Revolução dos Cravos em Portugal – Cronologia de um combate pacífico, (versão bilingue Português/Francês) Paris, 2008.

• A Batalha de La Lys – 9 de abril de 1918 (versão bilingue Português/Francês) Paris, 2008.

• Em Luta contra o Estado salazarista, Norton de Matos, uma certa ideia de Portugal (versão bilingue Português/Francês) Paris, 2007.

• Cronologia da História de Portugal (versão bilingue Português/Francês) Paris, 2001.

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INTRODUÇÃO

O 25 de Abril não se deve esgotar só nas festas anuais.

Continua e deve continuar ao longo dos anos nos espaços das ruas da Capital, nos lugares que traçam os lugares do dia da liberdade.

Se a Revolução dura um só dia, que começa a 25 de abril de 1974, os acontecimentos que mudam a história devem demorar mais tempo.

No dia 25 de Abril de 1974 o Movimento das Forças Armadas (MFA) leva a efeito um golpe de Estado através de uma ação militar, derrubando a ditadura do Estado Novo e iniciando um processo que leva à implantação de um regime democrático em Portugal.

Contrariamente às anteriores tentativas de derrubar a ditadura, a operação militar do 25 de Abril abrange todo o território nacional e estende ações sequentes tanto às regiões dos Açores e Madeira como aos territórios coloniais, mas é em Lisboa que se concentra o essencial da manobra militar.

Diversos locais da cidade ficam ligados à ação do Movimento das Forças Armadas (MFA) e à conquista da Liberdade, tanto os que estavam previstos no plano de operações e constituíam objetivos das forças revolucionárias, como aqueles em que ocorrerem confrontos com forças do regime ou mesmo os que se tornam locais emblemáticos da Revolução.

Em Lisboa confluem forças militares de vários pontos do País que, juntamente com as forças sediadas na Capital, aqui desenvolvem as ações que consumam a libertação dos Portugueses e de Portugal. Enquanto outras forças manobravam em vários locais do País, em Lisboa participam forças oriundas da própria cidade, como o:

Batalhão de Caçadores n.º 5 (BC5)-Lisboa

Escola Prática de Administração Militar (EPAM)-Lisboa

Escola Prática de Transmissões (EPTms)-Lisboa

Regimento de Engenharia n.º 1 (RE1)-Lisboa

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Grupos de Comandos criados especificamente para o efeito, e também forças vindas de:

Almada

Aveiro

Estremoz

Figueira da Foz

Mafra

Santa Margarida

Santarém

Serra da Carregueira

Tancos

Vendas Novas

Viseu.

Numa situação de gozo, Salgueiro Maia diz aos seu camaradas: “Meus senhores, como todos sabem, há diversas modalidades de Estado. Os estados socialistas, os estados capitalistas e o estado a que chegámos. Ora, nesta noite solene, vamos acabar com o estado a que chegáPreview

Estas ações libertadoras executadas pelas forças do Movimento das Forças Armadas (MFA) dignificam os Capitães de Abril e todos os militares participantes, assim como o povo que os apoia incondicionalmente, acabando vários locais da cidade por ficar ligados ao 25 de Abril, à Liberdade e ao nascimento da democracia portuguesa.

São esses locais que agora se assinalam, recordando que nenhum povo pode consentir na usurpação dos seus direitos.

25 de abril (03h30): Escola Prática de Cavalaria de Santarém (EPC).

Se 30 homens sabiam tudo, os outros 200 homens foram chamados para aula noturna.

mos. De maneira que quem quiser vir comigo, vamos para Lisboa e vamos acabar com isto, com este Estado.

Quem for voluntário sai e forma lá fora.

Quem não quiser ir, fica aqui.”

A piada é que toda a gente foi formar lá fora. Não ficou ninguém na sala.

https://www.youtube.com/watch?v=PTORidcrgkc

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Percurso dos locais das lápides na fita do tempo

Os 25 lugares de Abril (lápides) traçam o percurso do Dia da Liberdade e Democracia em Portugal.

As primeiras lápides são colocadas em 2019 na comemoração dos 45 anos da revolução, numa iniciativa da Associação 25 de Abril (A25A) em parceria com a Câmara Municipal de Lisboa.

Em 2024 existem já no total 25 lápides (25 de Abril), e cada uma dispõe de um código QR através do qual se obtém a descrição do episódio ocorrido nesse local, e permite às pessoas conhecer os locais físicos da revolução do 25 de Abril, história que tem de ser contada às gerações mais novas de forma a mantermos a nossa memória coletiva deste Dia Histórico para Portugal (Viragem Histórica).

Os 25 lugares do 25 de Abril, são os Pontos Chave para a Revolução dos Cravos.

122 a 25 de abril

Forças do Movimento das Forças Armadas (MFA)

Escola Prática de Transmissões (EPT)

Rua dos Sapadores – Lisboa (encontra-se no princípio da Rua)

É aqui que se organiza o núcleo de militares do Movimento das Forças Armadas (MFA). Este levou a efeito o lançamento clandestino de um cabo telefónico do quartel dos Pupilos do Exército até ao Posto do Comando da Pontinha (PC) chefiado pelos capitães Carlos Veríssimo da Cruz e Pedro Pena Madeira apoiados pelo furriel Cedoura. Foi uma organização do Centro Nacional de Transmissões da EPT e consistiu num sistema de escutas permanentes dos principais regimes do Estado Novo – as redes da Guarda Nacional Republicana (GNR), da PIDE/DGS, da Legião Portuguesa (LP) – que fornecia informações ao Posto do Comando da Pontinha (PC) desde as 00h30 de 25 de abril.

24 e 25 de abril

Quartel do Regimento de Engenharia n.° 1 (RE1)

Rua Regimento de Engenharia Um – Pontinha

O Quartel do Regimento de Engenharia n.° 1 (RE1) na Pontinha acolhe o Posto do Comando (PC) do Movimento das Forças Armadas (MFA), num pavilhão pré-fabricado discreto e longe da entrada principal. O estado-maior do Posto do Comando (PC) é composto por sete oficiais, onde o major Otelo Saraiva de Carvalho coordena a ação.

Estavam também no Posto do Comando (PC), os tenentes-coronéis

Amadeu Garcia dos Santos e Nuno Fisher Lopes Pires, majores Hugo dos Santos e José Sanches Osório, capitão-tenente Victor Crespo e o capitão Luís Macedo.

É neste local que se coordena e se conduz a ação militar do Movimento das Forças Armadas (MFA) para o derrube do regime do Estado Novo (chamado também VIRAGEM HISTÓRICA).

É também ainda neste local que são tomadas as decisões para consolidar a tomada do poder.

Marcelo Caetano, após a rendição do poder, é detido neste local antes de ser transferido para a Madeira.

Este edifício é em 2015 classificado como Monumento Nacional e integra hoje o Núcleo Museológico do PC do MFA (Museu Militar de Lisboa).

24 de abril (22h55)

Emissores Associados de Lisboa, que neste dia se encontra na Avenida Elias Garcia, n.° 162, 7.°, em Lisboa.

Esta emissora é escolhida pelo Movimento das Forças Armadas (MFA) para transmitir a senha que assinala o arranque da operação militar contra o regime do Estado Novo.

Assim, às 22H55 do dia 24 de abril, é transmitida a canção “E Depois do Adeus”, de José Niza, interpretada por Paulo de Carvalho.

Quis saber quem sou

O que faço aqui

Quem me abandonou

De quem me esqueci

Perguntei por mim

Quis saber de nós

Mas o mar

Não me traz

Tua voz

Em silêncio, amor

Em tristeza e fim

Eu te sinto, em flor

Eu te sofro, em mim

Eu te lembro, assim

Partir é morrer

Como amar

É ganhar

E perder

E depois do amor

E depois de nós

O dizer adeus

O ficarmos sós

Teu lugar a mais

Tua ausência em mim

Tua paz

Que perdi

Minha dor que aprendi

De novo vieste em flor

Te desfolhei…

Tu vieste em flor

Eu te desfolhei

Tu te deste em amor

Eu nada te dei

Em teu corpo, amor

Eu adormeci

Morri nele

E ao morrer

Renasci

E depois do amor

E depois de nós

O adeus

O ficarmos sós.

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25 de abril (00h20)

Rádio Renascença, que neste dia se encontra na Rua do Capelo, esquina com a Rua Ivens n.° 14, 2.°, em Lisboa

Esta emissora é escolhida pelo Movimento das Forças Armadas (MFA) para transmitir a segunda senha (ou a senha de confirmação) que assinala o arranque da operação “Viragem histórica”.

Assim, às 00H20 do dia 25 de abril, é transmitida a canção “Grândola, Vila Morena”, interpretada por José Afonso ou Zeca Afonso, no programa “Limite”, com a leitura da primeira quadra gravada previamente por Leite de Vasconcelos e posta no ar por Manuel Tomás.

Grândola, vila morena, À sombra duma azinheira

Terra da fraternidade, Que já não sabia a idade, O povo é quem mais ordena Jurei ter por companheira,

Dentro de ti, ó cidade.

Dentro de ti, ó cidade, O povo é quem mais ordena,

Terra da fraternidade, Grândola, vila morena.

Terra da fraternidade, Grândola, vila morena, Em cada rosto igualdade, O povo é quem mais ordena.

Grândola a tua vontade

Jurei ter por companheira, À sombra duma azinheira,

Que já não sabia a idade.

Em cada esquina um amigo, Em cada rosto igualdade, Grândola, vila morena, Terra da fraternidade.

Grândola a tua vontade.

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Francisco Fanhais, José Mário Branco e José Afonso na gravilha onde gravaram os passos da «Grândola, Vila Morena». Château d’Hérouville, França, 1971 (outubro).
©
Afonso

Château d’Hérouville, nos arredores de Paris, França

Como nasceu “Grândola, Vila Morena”.

Os passos foram gravados às 3h00 da manhã num local onde havia gravilha.

“Quando, em outubro de 1971, José Afonso chegou a Paris para gravarmos o que viria a ser o seu álbum Cantigas do Maio, uma das canções que ele propunha para esse álbum chamava-se Grândola, Vila Morena. Era uma canção simples com três quadras – aparentemente simples como tantas canções desse cantautor genial – que, no dizer dele, só fora cantada uma vez na coletividade a quem a dedicava, a Sociedade Musical Fraternidade Operária Grandolense.

Então eu que, embora nascido e crescido no Porto, fora desde muito jovem marcado por várias estadias na aldeia de Peroguarda (Baixo Alentejo), propus ao Zeca que déssemos a essa canção a estrutura tradicional do cante alentejano: a sequência do ponto (solista inicial), do alto (introdutor de uma segunda voz mais aguda) e do coro masculino grave. Além disso convinha alterar a estrutura da letra acrescentando a inversão das quadras tão típica desta forma coral.

Assim foi. Foi decidido apresentá-la com essa forma, sem acrescentar quaisquer instrumentos para além das vozes.

Porém, influenciado por uma das imagens mais fortes que eu guardo de Peroguarda – a imagem dos homens abraçados, regressando da monda ao fim da tarde, cantando no regresso a casa – também propus que se ouvissem os passos deles, no macadame da estrada, ao ritmo da canção. Passos lentos, porque a monda cansa. E então ensinei ao Zeca, ao Fanhais e ao guitarrista Bóris (Carlos Correia) como é que os camponeses faziam esses passos: alternadamente, num claro compasso quaternário, um pé arrasta-se e, no tempo seguinte, pousa no chão – o movimento seguinte do outro pé completa o quaternário.

Aceite a proposta, pedi ao técnico que, numa dessas noites – bem tarde, para evitar ruídos parasitas na estrada e nos campos vizinhos – colocasse 4 microfones em redondo no saibro do jardim do estúdio, que era no sótão de um palacete acastelado de uma pequena aldeia 60 km ao norte de Paris. Foi preciso encontrar 4 longos cabos para ligar os microfones ao estúdio, e outros 4 cabos, de igual comprimento, para nós termos, ao gravar, uma referência rítmica nos auscultadores. Gravado um metrónomo com o andamento numa das pistas, às 3 da manhã de uma dessas noites gravámos os passos no saibro. Nos dias seguintes foram gravadas as vozes – o Zeca cantando o ponto e o alto, e o Fanhais, o Bóris e eu cantando o coro.”

José Mário Branco (Jornal Público)

https://www.youtube.com/watch?v=HyQYeXhDU8k Preview

25 de Abril – Gravação Original da rádio de 1974 – sinal para a saída das tropas.

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25 de abril (02h50)

Escola Prática de Administração Militar (EPAM), que neste dia se encontra na Alameda das Linhas Torres n.° 179, em Lisboa.

A Escola Prática de Administração Militar (EPAM), sai para ocupar os Estúdios da Radiotelevisão Portuguesa (RTP) onde há cerca de 100 militares envolvidos comandados pelo capitão Teófilo da Silva Bento, e o capitão Carlos Joaquim Gaspar assume o comando da unidade.

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