MARGARIDA
e Todo O Amor do Mundo, no Seu Coração RITA LACERDA Ilustrações Regina Blacher
RITA LACERDA
MARGARIDA
e Todo O Amor do Mundo, no Seu Coração
Edição: Berbequim das Letras (Chancela Sítio do Livro) Título: Margarida e Todo O Amor do Mundo, no Seu Coração Autora: Rita Lacerda Ilustrações: Regina Blacher Paginação: Marco Martins Capa: Marco Martins 1.ª EDIÇÃO LISBOA, 2011 Impressão e Acabamento: Snapbook ISBN: 978-989-20-2319-9 Depósito Legal: 323166/11 Publicação e Comercialização: Sítio do Livro, Lda. Lg. Machado de Assis, porta C — 1700-116 Lisboa www.sitiodolivro.pt Obra redigida conforme o novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa
4
Era Verão, Margarida sentia-se muito contente por viver num local tão bonito e calmo, em contacto com a Natureza. Através dos vidros grandes da sala, ela via um jardim imenso de verdura, relva e pinheiros, um pequeno bosque, por onde ali passavam pessoas e alguns animais. Os cães passeavam com os seus donos; os coelhos, moravam nas suas tocas e de manhã cedo, era lindo ver tantos coelhinhos aconchegados na relva fresca, bem quietinhos e consolados; e por fim, havia também os pombos, que diariamente por lá passavam à procura de alimento.
5
Margarida já era crescidinha, “criança adolescente” e tinha agora um cão de raça Pug, chamado Paguito que era o seu companheiro para toda a parte. Quando passeavam por este jardim, que gostavam tanto, ela via um homem já de idade avançada, sentado num banco, a dar pão aos pombos. Era um homem muito pobre, antigo pescador, reformado e viúvo, que por ali matava o seu tempo. Era um homem bom. Adorava animais, a Natureza, e andava à procura, nos caixotes do lixo, de pão para os seus queridos amigos pombos e muitas vezes, de comida para os cães abandonados.
6
7
E quando ele não encontrava alimento para estes amiguinhos, deixava de comer algo, para assim lhes poder matar a fome. Seu nome era José. - Olá Sr. José. - Ora viva minha menina. Mas que lindo cãozinho, que engraçado… ah o focinho dele… ehehehe… mas que patusco, todo enrogadinho… ehehehehe… e o rabinho… ah todo encaracolado… que lindo! - É o meu companheiro de 4 patas, o Paguito. - Estes pombinhos ficam todos contentes com um bocadinho de pão. Olhe para eles, tão felizes.
E assim, Margarida
8
e o Sr. José, diariamente iam-se encontrando, conversando e conhecendo. Ela começou a tomar atenção a ele, a ver o seu comportamento, a entender a sua maneira de ser e a falar com ele, com muita ternura e compreensão. Um dia, aconteceu uma coisa Linda… Margarida, sonhou com o José. Foi como se o Céu, lhe estivesse a dizer, para ela cuidar um pouco desse homem. Ela sentiu naquele momento, que estava a ser escolhida para lhe dar um pouco de conforto, um pouco de Carinho, enfim, dar-lhe Todo o Amor que ela tinha no seu Coração.
9
Agradeceu a Jesus, por ter sido escolhida e ter entendido o que naquele momento o Céu queria dela. Não sabia ao certo, o que comprar… o que realmente lhe faria falta… tentou abrir bem o seu coração, pedir ajuda ao Universo, para que ela intuísse o que de facto fosse bom para ele e para não comprar o que ele não precisasse. Mais tarde, Margarida soube que um estabelecimento lhe dava carne e peixe, para toda a semana, o que era muito bom, porque assim, pelo menos fome… ele não passava. Fazia uma boa refeição por dia e se encontrasse alguém que não tivesse que comer, ele repartia o pouco que tinha.
10
Ela tentou, proporcionar um pouco de aconchego àquele homem, que nada pedia, nada mendigava, de nada se queixava, mas que nada de nada materialmente possuía. Sentia-se muito feliz, por estar a ajudar aquele Ser Humano tão querido e aos poucos, foi-lhe comprando e oferecendo o que certamente lhe faria muita falta. Um dia, Margarida tinha ido com seu cachorro Paguito, ao encontro do José, para lhe oferecer umas coisinhas. Quando chegaram junto à casa dele, Margarida começou a chamá-lo: - Senhor José… ...huuuuuu…
11
12
- Senhor José… Sou eu a Margarida… - Oh minha querida menina… mas que Bommm ver os meus Queridos amigos… vou já descer. Ao chegar junto deles, ficou Encantado e Emocionado, com todos os presentes que Margarida tinha para ele, e foi a casa buscar algo, para o seu amigo Paguito roer e brincar. Nessa altura, uma vizinha aproximou-se e disse: - Tanta coisa para o José… xiiiiiiiiiiiiiiiii… ele vai vender tudo isso, rapidamente… é só virar costas… mal empregado, as pessoas dão sempre a quem não precisa…
13
14
Foi um BANHO DE ÁGUA FRIA… Margarida, sentiu-se muito triste, muito confusa, muito enganada, nem sabia o que pensar… Não podia acreditar no que estava a ouvir… mas não respondeu àquela vizinha, não disse nada! Podia ser mentira… mas… e se fosse verdade? Seria possível, que o José a tivesse enganado tanto? Não… não podia ser! E se fosse verdade? Nessa altura, chega o José todo contente, com o brinquedo para o Paguito, o seu amigo brincalhão. Margarida despede-se dele e vai-se embora com seu cachorrinho querido, sem nada dizer sobre esse assunto tão doloroso.
15
Ela tinha que refletir no que se estava a passar! - Paguito, tu viste o que aconteceu? Será possível que o José venda tudo o que nós lhe demos? - Não sei, Margarida, mas se ele o fizer, está no seu direito… Ele não te pediu nada, tu é que lhe quiseste dar, certo? - Sim, claro… mas… - Mas nada, minha Linda…. Não cobres, Margarida… Ele é livre, de fazer as suas escolhas. Se ele escolheu vender o que tu lhe deste, tu só tens de aceitar isso. Nada mais. - O que é cobrar, Paguito? Que queres dizer com isso?
16
- Cobrar, é…vamos ver se eu te consigo explicar. Cobrar de uma pessoa, é muito feio, é pedir em troca. Não é por tu lhe teres dado algo que ele não tinha, que te dá o direito de achar que ele te deve alguma coisa. Entendes? Se deste, foi porque tu quiseste, ninguém te obrigou, e muito menos ele te pediu. E também, não é o facto de dares algo a esse homem, que te faz superior ou melhor que ele. - Sim, claro que sim. Eu dou com o coração, dou com muito amor, com muita ternura e carinho.
17
Eu sei que sim, por isso acompanho-te sempre e tenho tanto Orgulho “na Minha Doninha Querida”. Bom, mas como eu estava a dizer: Claro que ficas triste… claro que sentes uma dor no peito… é normal… e só tens de fazer uma coisa, que é chorar bem essa dor... mais nada, é Chorar… Chorar… Chorar… mas não é chorar de vítima, mas sim, chorar de dor. Essa dor pertence só a ti, a mais ninguém. Depois dessa “Dor” vivida o tempo que for necessário, ela vai diminuindo… ficando cada vez mais leve… mais pequena até desaparecer, e aí, já não vais sentir nada, quando pensares ou falares nisso.
18