FICHA TÉCNICA EDIÇÃO:
Vírgula Metodologias de Investigação Científica AUTOR: Joaquim Alberto Marques Duarte TÍTULO:
PAGINAÇÃO: CAPA:
Paulo S. Resende Patrícia Andrade
1.ª EDIÇÃO Lisboa, Maio 2013 ISBN:
978-989-8413-87-1 357732/13
DEPÓSITO LEGAL:
© JOAQUIM ALBERTO MARQUES DUARTE PUBLICAÇÃO E COMERCIALIZAÇÃO
Sítio do Livro, Lda. Av. de Roma n.º 11 – 1.º Dt.º | 1000-261 Lisboa www.sitiodolivro.pt
Joaquim Alberto Marques Duarte
Índice Capítulo 1. Ciência e Metodologia . . . . . . . . . . . . . . 1.1 Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1.2 A Ciência . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1.2.1 Breve Historial da Ciência . . . . . . . . . . . . . . 1.2.2 Requisitos da Ciência . . . . . . . . . . . . . . . . 1.3 A Metodologia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1.3.1 Perspectiva Filosófica . . . . . . . . . . . . . . . . 1.3.2 O que é a Metodologia . . . . . . . . . . . . . . . 1.3.1 O Positivismo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1.3.3.2 O Construtivismo – Interpretativismo . . . . . . . 1.4 Comparação das Metodologias, Métodos e Técnicas. 1.4.1 Métodos Quantitativos e Qualitativos . . . . . . . . 1.4.2 Técnicas e Comparação das Técnicas . . . . . . . 1.4.3 Quadro Comparativo Final . . . . . . . . . . . . .
. . . . . . . . . . . . . .
. . . . . . . . . . . . . .
. . . . . . . . . . . . . .
. . . . . . . . . . . . . .
. . . . . . . . . . . . . .
11 11 12 13 16 19 20 21 22 23 24 28 34 35
Capítulo 2. Exemplo Prático – Questionário (Estudo A) . . . . . 2.1 Considerações Gerais. . . . . . . . . . . . . . . . . . . 2.2 Procedimentos Metodológicos do Estudo A. . . . . . . . 2.3 Universo de Análise e Constituição da Amostra. . . . . . 2.4 Fontes, Técnicas e Instrumentos de Recolha de Dados do Estudo A . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 2.5 Processo de Recolha de Dados. . . . . . . . . . . . . . 2.6 Elaboração do Questionário. . . . . . . . . . . . . . . . 2.7 Procedimentos de Validação do Questionário . . . . . . 2.8 Processo de Implementação e Aplicação do Questionário 2.9 Considerações Finais . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
. . . .
. . . .
. . . .
39 39 40 43
. . . . . .
. . . . . .
. . . . . .
45 46 48 53 54 55
Capítulo 3. Exemplo Prático – Estudo de Caso (Estudo B) . . . . . . 3.1 Considerações Gerais. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3.2 Procedimentos Metodológicos do Estudo B. . . . . . . . . . . 3.3 Constituição da Amostra e Sujeitos Envolvidos . . . . . . . . .
57 57 58 64
3.4 3.5 3.6 3.7 3.8 3.9
Fontes, Técnicas e Instrumentos de Recolha de Dados . . . . Matriz do Processo de Recolha de Dados . . . . . . . . . . . Matriz da Entrevista ao Administrador da MOODLE . . . . . . Matriz da Entrevista aos Professores Utilizadores da MOODLE Matriz do Questionário aos Alunos Utilizadores da MOODLE . Considerações e Conclusões Finais . . . . . . . . . . . . . .
64 67 71 73 79 82
Bibliografia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
83
ANEXOS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 87 ANEXO 1 Questionário aos Administradores da MOODLE . . . . . . . . 89 ANEXO 1A Matriz do Questionário aos Administradores da MOODLE 90 ANEXO 1B Versão Final do Questionárioaos Administradores da MOODLE . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 92 ANEXO 1C Versão Final do Questionário (Adaptado aos Peritos) . 108 ANEXO 1D Carta Enviada a Peritos. . . . . . . . . . . . . . . . . 128 ANEXO 2 Guião da Entrevista ao Administrador da MOODLE . . . . . ANEXO 3 Guião da Entrevistaao Professores Utilizadores da MOODLE ANEXO 4 Guião para o Questionário aos Alunos . . . . . . . . . . . . ANEXO 5 Processo de Investigação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Contextualização e Enquadramento . . . . . . . . . . . . . . . . . Identificação do Problema e Definição dos Objetivos do Estudo . . Procedimentos Metodológicos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Considerações e Conclusões . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
131 141 147 155 155 155 157 157 158
Índice de Tabelas Tabela 1 Tabela 2
Tabela 3 Tabela 4 Tabela 5 Tabela 6 Tabela 7 Tabela 8 Tabela 9 Tabela 10 Tabela 11 Tabela 12 Tabela 13 Tabela 14 Tabela 15 Tabela 16 Tabela 17 Tabela 18
Requisitos Científicos: (Adaptado de Bunge citado em Heller 2003, p. 27,28) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Quadro Comparativo de Opções Metodológicas (Constuído com suporte nas definições de Borg and Gall 1989, pp. 380-385, Barbosa 1995, pp. 62-63) . . . . . . . . . . . . Continuação da tabela anterior . . . . . . . . . . . . . . . . Comparação entre métodos quantitativos e qualitativos (Adapatado de Silva 2002, pp. 129-130, Amaral 2005) . . . . Técnicas de Recolha de Dados . . . . . . . . . . . . . . . . Metodologias em Investigação (adaptado de Macedo, Zacarias et al. 2005). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Etapas do processo de recolha de dados . . . . . . . . . . . Etapas do processo de construção do questionário. . . . . . Matriz do Questionário . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Inventariação das fontes, técnicas e instrumentos de recolha de dados do estudo B . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Relação entre as fontes, técnicas e instrumentos de recolha de dados. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Questões Levantadas para este Estudo . . . . . . . . . . . Matriz do Estudo B . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Matriz para a Entrevista ao Administrador MOODLE . . . . . Matriz para a Entrevista ao Professor Utilizador (1ª Fase) . . Matriz para a Entrevista ao Professor Utilizador (2ª Fase) . . Matriz de objetivos do guião das entrevistas aos professores Matriz de objetivos do guião do questionário aos alunos . . .
16
26 27 31 34 36 47 48 49 66 66 68 69 72 74 75 76 81
Índice de Acrónimos AICC CCUM CRIE EU GEPE LMS MOODLE ME ODS NEE PT PTE REPE RNG RSS SCORM SP TE TI TIC UE UM-IEP uARTE VLE’s
Aviation Industry Computer-Based Training Committee Centro de Competência da Universidade do Minho Computadores, redes e Internet nas escolas União Europeia Gabinete de Estatística e Planeamento da Educação Learning Management Sistems Modular Object-Oriented Dynamic Learning Environment Ministério da Educação OpenDocument Spreadsheet Alunos com Necessidades Educativas Especiais Plano Tecnológico Plano Tecnológico da Educação Repositório de portefólios Educativos Redes de Nova Geração Really Simple Syndication Sharable Content Object Reference Model, ou Modelo de Referência para Objetos de Aprendizagem Compartilháveis Sem Numeração de Página Tecnologias Educativas Tecnologias de Informação Tecnologias de Informação e Comunicação União Europeia Universidade do Minho- Instituto de Educação e Psicologia Unidade de Apoio à Rede Telemática Educativa Virtual Learning Environments
METODOLOGIAS E INVESTIGAÇÃO CIENTÍFICA
Capítulo 1. Ciência e Metodologia “Science may be described as the art of systematic over-simplification — the art of discerning what we may with advantage omit”. (Popper 1992, p. 44)
1.1 Introdução Abordaremos neste capítulo, de forma resumida, as metodologias de investigação, começando pelas diferentes e antagónicas perspectivas filosóficas que as suportam: a realista (mais objectiva) e a relativista (mais subjectiva). Com base nessas perspectivas, pretendemos compreender e abordar as principais metodologias de investigação – o positivismo e o construtivismo – e os diferentes meios, métodos, processos, técnicas e instrumentos de investigação. O enquadramento metodológico, o conhecimento e a comparação dos métodos e técnicas de investigação fornecem-nos os conhecimentos essenciais para, em cada momento da investigação, escolher a metodologia mais indicada e a mais adequada a seguir em cada situação particular de investigação. O conhecimento de conceitos base, como é o caso dos relativos à ciência e às metodologias e tecnologias, é importante para o nosso trabalho, na medida em que esses conceitos base englobam e ajudam-nos na definição das nossas variáveis de investigação. Isso permite-nos ter uma visão mais concreta da 11
JOAQUIM ALBERTO MARQUES DUARTE
ciência de hoje, dos métodos e metodologias com ela associados, assim como do modo de a obter, os caminhos a percorrer para uma investigação científica e os métodos de trabalho a seguir.
1.2 A Ciência Não é consensual a “discussão” em torno do conceito de ciência1 nem da sua epistemologia2. São várias e muito diferentes as perspectivas, do que é a ciência, que se estendem ao longo da sua história, e são muitas e variadas as formas e os meios de obtenção de conhecimento. Por isso, a ciência pretende ser uma fonte “de obtenção de conhecimentos mais seguros que os fornecidos por outros meios” (Gil 1995, p. 20). Embora, do ponto de vista etimológico3, a “ciência signifique conhecimento” (“Soma ou conjunto de conhecimentos que se possuem sobre variados objectos”) (Moreno, Júnior et al. 2002, p. 185), esta tem evoluído ao longo dos tempos e é vista de diferentes ângulos, consoante a corrente filosófica e a época em que se insere. Segundo a Verbo – Enciclopédia Luso-Brasileira de Cultura, a noção de ciência indica, em geral, conhecimento. Todavia, de facto, designou sempre algo mais do que o conhecimento vulgar não demonstrativo, com especificação um tanto diversa, desde a antiguidade até hoje. Os gregos usavam o termo correspondente para designar todo o saber criticamente fundamentado (Verbo 2001, Vol. 5, p. 450). 2 “Ciência, conhecimento; λόγος logos, discurso” é um ramo da filosofia que trata dos problemas filosóficos relacionados à crença e ao conhecimento” (Wikipedia, acedido a 7 de Novembro de 2007). Epistemologia é a teoria do conhecimento científico (Universal, acedido a 7 de Novembro de 2007). 3 Do grego antigo (ἐτυμολογία, composto de ἔτυμον e -λογία “-logia”) é a parte da gramática que trata da história ou origem das palavras e da explicação do significado de palavras através da análise dos elementos que as constituem (Wikipedia, acedido a 7 de Novembro de 2007). 1
12
METODOLOGIAS E INVESTIGAÇÃO CIENTÍFICA
1.2.1 Breve Historial da Ciência Dividiremos as diferentes perspectivas da ciência em três grandes grupos: ciência clássica (da qual faremos uma breve descrição), moderna e contemporânea, por constituírem marcos na sua evolução. No conceito de ciência clássica, que veio desde os gregos até à idade média (ciência de Platão e Aristóteles e, mais tarde, de Santo Agostinho e S. Tomás Aquino), a ciência estava subordinada à filosofia, que, por sua vez, se subordinava à teologia: Deus era o centro do universo e o criador de todas as coisas, e as suas crenças não eram postas em causa. No conceito de ciência moderna, a ciência começou por romper com importantes teorias da igreja e teve a sua génese no século XVI4. É a ciência de Galileu5, Descartes6, Newton7 e, mais
“O século XVI já preparara a emergência dessa nova concepção: o Renascimento, o Humanismo, o Naturalismo, os Descobrimentos, por um lado, Kepler e Copérnico, por outro, tinham provocado uma crise cultural generalizada e sem precedentes […] crise essa que se materializa no desabamento e ruína da anterior concepção do mundo e da antigo ‘ciência’. A terra, afinal, não é plana como os nossos sentidos teimam em nos fazer crer e já não está, também, no centro do universo, corpos celestes movem-se, o cosmos é infinito (Giordano Bruno).” (Fonseca 1996, pp. 39-51). 5 Com a defesa do heliocentrismo, “a terra já não é o centro do universo, então o homem já não está, também, no centro, onde Deus o tinha colocado para ‘reinar’ sobre o cosmos” (Fonseca 1996, pp. 39-51). 6 Introdução da dúvida metódica: a procura de metodologias racionais para chegar à verdade das coisas. Aplicando o método a si mesmo, conclui: penso, logo existo. 7 Introdução do conceito de força, que tanto se aplicaria ao mais pequeno objecto como a um planeta. 4
13
JOAQUIM ALBERTO MARQUES DUARTE
tarde, do positivismo8 de Auguste Comte e do idealismo9 de Kant. É a ciência do real e do observável: “Importa referir que a filosofia em que cada um dos paradigmas10 se baseia é de natureza bem distinta. O positivismo de Auguste Comte fundamenta o paradigma quantitativo11. O idealismo de Kant e seus sucessores está na base do paradigma qualitativo.12” (Fernandes 1991, p. 1). Todavia, a evolução da ciência levou-nos ao domínio do muito pequeno (mecânica quântica) e do muito rápido (relatividade), o que revelou as insuficiências da visão do mundo, 8
9
10
11
12
Auguste Comte iniciou-o e Edmund Leach definiu-o: “Positivismo é a visão de que o inquérito científico sério não deveria procurar causas últimas que derivem de alguma fonte externa, mas sim confinar-se ao estudo de relações existentes entre factos que são directamente acessíveis pela observação” (Wikipedia, acedido a 2 de Outubro de 2007). “A posição positivista assume que a realidade é objectiva e independente do observador” (Macedo et al. 2005, p. 3). Contrária ao materialismo, nesta corrente filosofia a realidade está no mundo das ideias: “Propensão a idealizar a realidade ou a deixar-se guiar mais por ideais do que por considerações práticas” (Wikipedia, acedido a 2 de Outubro de 2007). Este conceito, introduzido na literatura científica por Kuhn, é definido pelo autor como “realizações científicas universalmente reconhecidas que, durante algum tempo, fornecem problemas e soluções modelares a uma comunidade de praticantes de uma ciência” [Kuhn, T. S. (1998). A estrutura das revoluções científicas (5.ª ed.). São Paulo: Editora Perspectiva S.A., p 13]. Ainda o mesmo autor salienta que o termo paradigma supõe “toda uma constelação de crenças, valores, técnicas, etc., partilhadas pelos membros de uma comunidade determinada” (idem, p. 218). Também Patton se refere ao conceito e às suas implicações ao nível da investigação de modo incisivo e particularmente claro: “uma perspectiva do mundo, uma perspectiva geral, um modo de desmontar a complexidade do mundo real”, à qual subjaz uma epistemologia e filosofia da ciência. O autor salienta ainda que, “os paradigmas são importantes construtores teóricos para esclarecer as adopções fundamentais sobre a natureza da realidade. Contudo, ao nível pragmático da tomada de decisões concretas sobre os métodos, a ênfase nas decisões estratégicas ajudará a esclarecer a ideia de que realmente existe uma vasta gama de possibilidades quando seleccionamos os métodos” [Patton, M. Q. (1990). Qualitative evaluation and research methods (2nd ed.). Newbury Park, CA: Sage, pp. 37 e 39]. Em linhas gerais, considera-se que existe uma realidade objectiva que o investigador tem de ser capaz de interpretar objectivamente; cada fenómeno deverá ter uma e só uma interpretação objectiva (científica) (Fernandes 1991, p. 1). Aqui não se considera a existência de uma só interpretação (objectiva) da realidade. Pelo contrário, admite-se que há tantas interpretações da realidade quantos os indivíduos (investigadores) que a procuram interpretar (Fernandes 1991, p. 2).
14
METODOLOGIAS E INVESTIGAÇÃO CIENTÍFICA
apresentada pela ciência moderna, e o surgimento de um outro conceito de ciência: a ciência contemporânea. No conceito de ciência contemporânea, Hegel13 deu um dos primeiros contributos (a verdade é vista como um todo), cuja evolução “retira ainda mais a vida e o homem do centro do mundo, reforçando o papel científico da aleatoriedade e da contingência” (Pereira 2006, p. 56), para a qual as ideias de Darwin (Naturalismo14), sobre a selecção natural na evolução das espécies, deram um importante contributo. É uma ciência caracterizada pelo construtivismo15 – Ponte, refere que “o construtivismo é um ponto de vista geral, que inclui múltiplas correntes” e que, de acordo com Kilpatrick “na sua versão mais vulgarizada, a tese essencial do construtivismo é que os indivíduos não recebem passivamente o conhecimento do mundo exterior, mas constroem-no de uma forma activa” (Kilpatrick citado em Ponte citado em Lacerda 2007, p. 317)16 – e o interpretativismo17, “também designado, por alguns autores, por contextual ou naturalista” (Barbosa 1995, p. 62). 13 Introduziu a dialéctica (tese, antítese e síntese) e, como tal, levou à abolição do princí-
14
15 16
17
pio do terceiro excluído: “O que é, é, o que não é, não é, e não há uma terceira opção” (Wikipedia, acedido a 4 de Abril de 2007), o que permitiu à ciência “conviver com a incerteza e o paradoxo” (Pereira 2006 p. 56). O Naturalismo é a radicalização do Realismo (1880). Essa nova escola literária baseava-se na observação fiel da realidade e na experiência, mostrando que o indivíduo é determinado pelo ambiente e pela hereditariedade. (Wikipedia, acedido a 7 de Novembro de 2007). Segundo a filosofia construtivista, o conhecimento não se apresenta como algo acabado, mas constrói-se pela interacção do homem com o meio físico e social. Ponte, J. (1992). “Concepções dos Professores de Matemática e Processos de Formação”. http://www.educ.fc.ul.pt/docentes/jponte/docs-pt/92-Ponte(Ericeira).pdf (acedido a 4 de Março de 2007) [corresponde a um artigo publicado em 1992, em J. P. Ponte (ed.), Educação matemática: Temas de investigação. Lisboa: Instituto de Inovação Educacional, pp. 185-239]. “Defende que a realidade é o resultado da interpretação do observador” (Macedo et al 2005, p. 3).
15
JOAQUIM ALBERTO MARQUES DUARTE
Numa época desde Einstein (1879-1955), até à globalização, ao ADN e à biologia molecular, entre outros aspectos, novas concepções da ciência surgem e “o método é desvalorizado no seu aspecto absoluto e rígido embora os princípios metodológicos […] devem estar presentes em todas as investigações científicas” (Pereira 2006, p. 56).
1.2.2 Requisitos da Ciência São muitas as definições dadas para a ciência. Por exemplo, segundo Heller, a ciência deve obedecer a certas metodologias normativas, pelas quais é possível oferecer uma explicação racional do desenvolvimento do conhecimento científico. Essas normas devem obedecer a um conjunto de requisitos, que a seguir se apresentam: Requisitos
Tópicos
Sintáticos
Modelos para levar a cabo em função dos objectivos, ou seja proposições bem formuladas e coerentes entre si:
Semânticos
Explicação
Correcção sintática
As proposições devem ser bem formadas e mutuamente coerentes.
Sistematicidade ou unidade conceptual
A teoria deve ser um sistema conceptual unificado.
Clareza na terminologia usada: Exactidão linguística
Evitar a ambiguidade, imprecisão e obscuridade dos termos específicos.
Interpretabilidade empírica
Deve ser possível derivar, das assunções da teoria, proposições a serem comparadas às proposições observacionais, de modo a decidir a conformidade da teoria com o facto.
16
METODOLOGIAS E INVESTIGAÇÃO CIENTÍFICA
Requisitos
Metodológicos
Epistemológicos
Tópicos
Explicação
Representatividade
É desejável que a teoria represente (ou reconstrua) eventos reais e processos – e não os descreva simplesmente – e preveja seus efeitos macroscópicos observáveis […].
Simplicidade Semântica
É desejável economizar pressuposições; nesse sentido, juízos empíricos podem ser feitos e testados sem pressupor a totalidade.
Tem de ser capaz de indicar uma metodologia a seguir para fazer uma determinada investigação. Supõe a existência de conceitos processuais (métodos, processos, técnicas e modos de funcionamento)18 e garante: Escrutabilidade
Devemos poder analisar todos os pressupostos da teoria
Refutabilidade ou Verificabilidade
Deve ser possível imaginar casos ou circunstâncias que pudessem refutar a teoria. Os enunciados que constituem uma teoria devem prestar-se à verificação empírica.
Confirmabilidade
A teoria deve ter consequências particulares que podem concordar com a observação. A confirmação efectiva numa ampla extensão, deverá ser exigida para a aceitação de toda teoria.
Simplicidade metodológica
É possível que seja tecnicamente possível submeter a teoria (partes dela) a provas empíricas.
Ciência do conhecimento. Saber como se obteve o conhecimento (ex: observação e experimentação) e ter: Coerência externa
A teoria deve ser coerente com a massa de conhecimentos aceitos.
Poder explanatório
A teoria deve resolver os problemas propostos pela explicação dos factos e pelas generalizações empíricas.
Poder de previsão
Prever uma classe desconhecida de factos e efeitos
Profundidade
Devem explicar coisas essenciais.
Extensibilidade
Deve poder ser expandida.
Fertilidade
Deve ser capaz de guiar nova pesquisa.
17
JOAQUIM ALBERTO MARQUES DUARTE
Requisitos
Filosóficos
Tópicos
Explicação
Originalidade
Deve ser nova em relação a sistemas estabelecidos.
Tem de ser educável, falível (porque reconhece a sua própria capacidade de errar) e racional (porque se vale da razão para chegar aos resultados e não de percepções ou impressões).
Tabela 1 – Requisitos Científicos: (Adaptado de Bunge citado em Heller18 2003, p. 27,28)19
De uma forma geral, podemos dizer que a ciência deverá obedecer a um conjunto de requisitos sintácticos, semânticos, metodológicos, epistemológicos e filosóficos: Sintáticos – modelos para levar a cabo em função dos objectivos definidos, o que se traduz por proposições bem formuladas e coerentes entre si; Semânticos – há aqui uma certa discrepância na terminologia usada, como, por exemplo, na utilização dos conceitos de método e técnica. Os mesmos conceitos nem sempre são usados do mesmo modo; Metodológicos – refere-se a aspectos processuais, ou seja, o processo seguido para se fazer uma investigação; 18 Métodos: Caminhos para atingir um resultado, modo de proceder; maneira de fazer as coisas (Augusto Moreno, 2002ª, p. 32, Vol. V). São Caminhos para alcançar um objectivo. Ex. Exposição, Simulação, Descoberta, Pesquisa e Resolução Problemas entre outros. Processos: Realização contínua e prolongada de alguma actividade […] modo de fazer alguma coisa (Houaiss, 2003, Vol V, p.2983 ) Exemplos: Experimentação, Demonstração; Análise e Síntese entre outros. Técnicas: É a utilização de meios, de instrumentos e métodos específicos que visam a obtenção de determinados resultados (Verbo 2001, p. 1172, Vol 17). 19 BUNGE, M. Teoria e realidade. São Paulo: Perspectiva, 2002. 170p.
18
METODOLOGIAS E INVESTIGAÇÃO CIENTÍFICA
Epistemológicos – refere-se à ciência do conhecimento, ou seja, saber como se obteve o conhecimento. Por exemplo, se se obtiver os dados através da observação e experimentação, pode dizer-se que há epistemologia; Filosóficos – têm de ser educáveis e racionais. Muitas outras definições de ciência poderiam ser dadas. Contudo, é importante ter presente que qualquer investigação tem de ser orientada segundo metodologias científicas, e as afirmações e conclusões têm de ser regidas por critérios que as suportem e fundamentem.
1.3 A Metodologia São muitos os termos usados a propósito de questões que se relacionam com abordagens metodológicas. Essas abordagens incluem o conceito de paradigma, metodologia, métodos e técnicas. São, por isso, esses os conceitos que iremos abordar. Essas nomenclaturas confundem-se, por vezes, e não são usados sempre da mesma forma. Assim, definiremos esses mesmos conceitos tal como foram seguidos nesta investigação e por nós utilizados. Manteremos, no entanto, os conceitos tal como são citados por outros autores, quando a eles se referem.
19
JOAQUIM ALBERTO MARQUES DUARTE
1.3.1 Perspectiva Filosófica O modo como se vê o mundo, ou seja, a perspectiva filosófica, o modelo ou paradigma20 filosófico onde o inserimos, define a metodologia seguida, o método adoptado e as técnicas utilizadas. O “Paradigma é aquilo que nos permite olhar o mundo e identificar o que nele é, para nós, importante” (Bogdan e Biklen citados em Santos 2000, p. 183). O paradigma filosófico, ou perspectiva, dá sentido à forma como se encara a ciência, a construção do conhecimento, a realidade (desde um todo como um conjunto das partes até ao conjunto das partes que forma o todo, e desde um olhar objectivo até um olhar não objectivo) e a sua interpretação, na importância do processo e/ou produto, no grau de regularidade dos fenómenos e na sua quantificação e observação, na relação causa-efeito e no modo de descoberta da verdade. São esses os factores que dão suporte ao processo de investigação (ver Anexo 5) e aos métodos e técnicas a seguir. Distinguiremos dois tipos de paradigmas, colocados em campos opostos, que são identificados por realistas e relativistas, respectivamente. Na perspectiva realista, procura-se “a reprodução exacta da realidade” (Verbo 2001, p. 973). Trata-se de um “sistema que 20 “A paradigm may be viewed as a set of basic beliefs (or metaphysics) that deals with
ultimate or first principles. It represents a worldview that defines, for its holder, the nature of the ‘world’, the individual’s places in it, and the range of possible relationships to that world and its parts, as, for example, cosmologies and theologies do. The beliefs are basic in the sense that they must be accepted simply on faith (however well argued); there is no way to establish their ultimate truthfulness. If there were, the philosophical debates reflected in these pages would have been resolved millennia ago.” (Guba e Lincoln 1994, p. 107).
20