Nem Complexos PolĂticos Nem Eufemismos
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ex-Libris® (chancela Sítio do Livro) Complexos Políticos Nem Eufemismos – Conversas de Café autor: Fonseca Alves título: Nem
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Patrícia Andrade Paulo S. Resende
paginação:
1.ª edição Lisboa, novembro 2016 isbn:
978‑989-8714-84-8 413444/16
depósito legal:
© Fonseca Alves
publicação e comercialização
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Fonseca Alves
Nem Complexos Políticos Nem Eufemismos Conversas de Café
ร minha esposa. Ao meu filho Flรกvio. A todos aqueles que se batem com pundonor por um ideรกrio de Portugal e por Portugal na defesa intransigente dos valores pรกtrios e bons costumes.
Sumário Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15 Capítulo I . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 25 –– Concurso televisivo Os Grandes Portugueses (com comentários; próprio para comediógrafos) –– Uma minissérie de televisão sobre a vida privada de Salazar (com comentários; próprio para comediógrafos) –– Literatura e Educação (tema para comediógrafos) –– Segurança e criminalidade – antes e depois (com comentários; próprio para comediógrafos) –– Conceitos de liberdade –– Alusivas a Charles Maurras
Capítulo II . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 53 –– Algumas falsas conquistas de Abril e o exaurir das regalias sociais do Estado Novo (com comentários) –– Subtrações nas pensões de reforma e salários. Discriminação entre funcionários públicos (com comentários) –– A utopista reforma do Estado (com comentários) –– Alguns bons exemplos de Salazar e Américo Tomás –– A extinção da Fundação Salazar (com comentários) –– Falta de valores, inversão de valores e aberrações democráticas
Capítulo III . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 71 –– Sibarismo ao tempo dos resquícios da «Época do Terror» –– Entre mulheres divorciadas, bonitas e atraentes –– Machismo, feminismo e feminilidade –– Breves comentários
Capítulo IV . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 85 –– 12 anos de separação de uma amizade cimentada em Moçambique ao tempo do Império –– Competências e incompetências. A mediocridade pós-Abril –– Longa conversa sobre o fascismo (discordância de opiniões) –– A descolonização – um dos mais horrendos crimes da nossa História (comentários e realidades vividas) –– Pérfidos e perfídias (comentários e realidades vividas) –– Alusivas à corrupção e bancarrotas. A velha história das 950 toneladas em barras de ouro –– Uma viagem turística a Moçambique – 30 anos depois da independência (com comentários) –– O bizarro comportamento dos nossos ex-ultramarinos (com comentários)
Capítulo V . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 119 –– Sodomia – antes e depois –– Embustice, oportunismo, complexos políticos, conversão e mutações rápidas (com comentários)
Capítulo VI . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 125 –– –– –– –– –– ––
O refalsado subsídio de combatente Disciplina militar – antes e depois A balbúrdia dos fardamentos da polícia Justiça social – antes e depois Emigração – antes e depois A senda das mentiras democráticas
Capítulo VII . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 137 –– Ocupações selvagens –– Fogo posto –– O país a arder (tema para comediógrafos)
–– O femeaço e os «clubes de divorciadas» –– O fim dos pedidos de namoro e a liberdade sexual para os adolescentes –– Virgindade – um grande problema –– Desemprego – antes e depois –– Uma classe hegemónica de pedreiros-livres, refratários, desertores e larápios
Capítulo VIII . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 151 –– No tempo do marcelismo – um emigrado parisiense criticando a falta de liberdade em Portugal –– A Censura no Estado Novo –– Lisboa transmutada no pós-Abril (comentário) –– O reencontro com um velho amigo –– Bombas e redes bombistas –– Um amigo, um laurentino, um deputado da «Montanha» –– A velha história do 25 e do 26 de Abril –– Catilina e uma grande verdade (com comentários) –– Refugiados do Magrebe e do Próximo Oriente –– Os americanos nas guerras e guerrinhas. A guerra de Angola: à conversa com um refratário (com comentários) –– Com Salazar não haveria tempo para o 25 de Abril –– Temos um país de coletores de impostos – antes e depois –– A economia crescia a bom crescer – antes e depois
Capítulo IX . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 185 –– O 7 de Setembro em Moçambique – democratas, democracias, carnificina e um herói (com comentários) –– A desonra de crimes cometidos durante a descolonização; o fuzilamento de heróis guineenses (comentário)
–– A epimania da democracia, prenhe de paradoxos e aberrações baseada na tríade: Igualdade, Liberdade e Fraternidade (com comentários) –– Esta terrível Censura –– Novos conceitos de «patriotismos e heroísmos» (comentário)
Capítulo X . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 205 –– À roda de mais um almoço-convívio dos ex-combatentes da Guerra do Ultramar –– O ódio figadal aos ex-combatentes (comentário) –– A tropa no seu modus vivendi paisano – antes e depois (comentário)
Capítulo XI . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 209 –– Rodrigo Emílio: um amigo e um dos mais geniais poetas do mundo contemporâneo (comentário) –– Escândalos e escandaleiras – antes e depois –– O atual silêncio quanto a valores –– Salazar era o modelo da moral e das virtudes cristãs –– A efeméride dos 20 anos de Abril: Democratização, Descolonização e Desenvolvimento (com comentários) –– Cenas burlescas durante a descolonização (tema para comediógrafos)
Capítulo XII . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 229 –– A efeméride dos 90 anos da Revolução Nacional (comentário) –– Ainda os resquícios da «célebre» minissérie A Vida Privada de Salazar (com comentários) –– O reencontro com uma velha amiga e a preponderância de uma conversa sobre mais uma lei aberrante (com comentários)
«Dizem que os reis não têm memória; parece que os povos têm muito menos ainda.» Salazar, na efeméride da Revolução Nacional, 28/5/1930
Introdução Se é certo que qualquer humano, ainda que consiga abarcar vários domínios do saber, não se debruçar sobre as questões da História, seja ela antiga ou mais recente, não é nem se transfigurará num ser verdadeiramente culto. Vem isto a propósito dos povos de línguas novilatinas, como é o nosso caso, e que esquecem rapidamente a memória coletiva dos acontecimentos. Quando se deu o 25 de Abril de 1974 – para uma grande percentagem de portugueses a dita «Revolução dos Cravos»; para alguns historiadores de renome apenas uma sublevação militar, mais por demérito do Governo de então do que por mérito das forças insurgentes –, ao invés do que para aí se diz, houve forte resistência por parte de muitos dos nossos compatriotas: os ditos «reacionários», isto para não incluir milhares de ex-ultramarinos denominados «retornados», nem sempre benquistos em alguns núcleos populacionais mais atreitos ao jacobinismo de Abril, e por muitos outros inditosos pobretes 15
que, por alogia, se deixaram arrastar por falsas promessas da vetusta demagogia de tradições democráticas. Infelizmente, muitos desses «reacionários» e ex-ultramarinos, vieram, não muito tempo depois, a ser assimilados, aleivosamente, pelo novo sistema mental abrilino, a despeito dos últimos persistirem lamurientos pela perda dos seus bens e investimentos, da salutífera ambiência social e até das localidades onde muitos nasceram e cresceram. É com comiseração que me refiro a esta situação, porquanto a realidade emergia sobremodo, tendo em conta miríades de recém-chegados de África – e assim se instituir um ingente movimento de génese lusitanista sob a égide da tríade Deus, Pátria e Família, que norteou o virtuoso Estado Novo durante o salazarismo. Mas não. Preferiram enveredar os destinos dos partidos políticos, e a grande Nação que se partiu pós-Abril mais estilhaçada ficou: sempre o vírus dos partidos que estiveram direta ou indiretamente envolvidos na debandada de milhares de portugueses aquando da ominosa «Exemplar Descolonização». E, todavia, gente havia competente e fidelíssima ao ancien-regime, mesmo alguns militares que poderiam liderar um qualquer movimento de resistência, mas nunca um partido – convém sublinhar. Neste entrecho político há uma pergunta que se coloca. Como foi possível aos ditos «retornados» tamanha incongruência? Será que foram vítimas de mau-olhado de algum aleivoso «antifascista» odiento a Salazar – ele que tanto os protegeu com a manutenção do nosso Império?! Ou estaremos perante um caso de puro masoquismo coletivo?! 16
Deixemos, porém, as incongruências e os masoquismos a que o povo português, por vezes, é demasiado atreito e retomaremos o assunto mais adiante. É um facto que anualmente nas comemorações do 25 de Abril e fora delas, pois temas não faltam alusivos à data, alguns intrépidos – heróis com enlace à «revolução», lamentavelmente, façam declarações incônditas relativamente ao Estado Novo, alegando que tal evento se deu para restituir a liberdade ao povo, como se o povo vivesse agrilhoado. Mas não dizem, até porque convém escamotear um dos pontos altos que serviu de mote para a «bernarda», que esteve na base de um diferendo entre os oficiais do Quadro Permanente e do Quadro do Complemento. Não importa circunstanciar todo o entrecho das quezílias e descontentamento no seio do Exército por via da escala de antiguidades e graduações e que teve o desfecho que sabemos. Agora, nesta oportunidade, é assunto de somenos importância. Mais importante será que, nesta detença abrilina de quatro longos decénios, ainda ninguém da Comunicação Social tivesse confrontado esses «heróis» com uma pergunta tão simples como esta: Se Salazar detivesse o poder em abril de 74 teriam a mesma determinação e ousadia para levar a efeito tal evento? Bastaria que para isso houvesse um jornalista sem complexos políticos – tão-só. Como não há, resta todavia sublinhar que o nosso augustal estadista, fazia quando a isso obrigado, uso da sua legítima e cimentada autoridade, como aconteceu com o general Botelho 17
Moniz, seu ministro da Defesa Nacional, envolvido na tentativa de um golpe militar em abril de 1961 – sempre o tartáreo abril –, de parceria com alguns dos seus acólitos militares, dentro e fora da estrutura governativa, e com a cumplicidade da administração norte-americana relativamente à nossa política ultramarina e que a dado momento do entrecho resultou o diálogo que se segue, segundo a versão da época: «Senhor Presidente, eu sou o ministro da Defesa!...» E Salazar, sem complexos, retrucou: «Senhor General, tem toda a razão, V. Ex.ª era o ministro da Defesa!...» Independentemente da exatidão ou inexatidão, ou até da ausência das sobreditas palavras, uma coisa é certa: Botelho Moniz foi exonerado das suas funções bem como o coronel Almeida Fernandes, ministro do Exército, e os respetivos subsecretários de Estado – um deles o coronel Costa Gomes, que depois do 25 de Abril vem a ser Presidente da República –, e Salazar aproveitou para remodelar o Governo, e pela rádio e televisão fala aos portugueses ao assumir ele próprio a pasta da Defesa Nacional. Como lhe era peculiar falou pouco, apenas algumas palavras: «Se é preciso uma explicação para o facto de assumir a pasta da Defesa Nacional mesmo antes da remodelação do Governo que se verificará a seguir, a explicação pode concretizar-se numa palavra e essa é Angola. […] Andar rapidamente e em força é o objetivo que vai pôr à prova a nossa capacidade de decisão». Este é apenas um exemplo de entre muitos da sua forte personalidade e determinação.
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No entanto, importa lembrar que o Estado Novo não foi derrubado em 25 de Abril de 1974, embora de modo oficial e para a história assim seja, porém em bom rigor, desaparece com a subida do Professor Marcelo Caetano ao poder em 1968, depois do fatídico acidente que lançou o grande timoneiro da Nação Portuguesa no leito da morte. Naturalmente que muito haveria a referir para fundamentar tal afirmação, mas não é de todo apropositado. Percorri longos anos de vivência em duas Repúblicas: a vigente e a anterior, bem diferenciadas em muitos aspetos da vida sociocultural, socioeconómica e política. Por isso compete-me, por inerência, repor alguma verdade, tanto quanto possível, porque da verdade, na sua plenitude, ninguém é dono absoluto. Salazar, não apenas o brilhante estadista, mas o sage que transcende a maioria dos homens iluminados, razão por que quando discursava à Nação, os Portugueses (quase todos) ao som do rádio e atentos às suas palavras viam nele um mestre virtuoso e providencial, e pensavam: magister dixit. Tal era a admiração por tão venerável figura – um estadista que fazia e ainda faz, certamente, quando o seu nome é citado, muita inveja e calafrios a muitos destes hodiernos políticos da frioleira. Além do mais, e a despeito de alguns defeitos, porquanto ninguém é perfeito, são muito mais os predicados, tendo em conta a sua forte personalidade, o seu portuguesismo, a defesa intransigente dos valores morais e bons costumes, a sua inteligência, o seu modesto modus vivendi, pensamento e ação, mas 19
sobremodo pela sua probidade – nunca se apropriou de uma só migalha do Estado –, ele que tinha todas as condições para se locupletar e ser o homem mais opulento do planeta, ele que esteve à frente perto de quatro décadas dos destinos de uma das maiores nações da orbe, do Minho a Timor, ele que teve muito poder (ou quase todo), o que facilitaria e muito a «ação» se não se tratasse de uma figura impoluta. Ora foi neste ambiente de portuguesismo, impregnado de inspiração cristã que tive a felicidade e o deleite de viver vinte e sete anos na plenitude de todas as liberdades. Sim, porque liberdades é um pouco diferente de liberdade. Por isso Salazar dizia: «Não creio na liberdade, mas nas liberdades. A liberdade que não se inclina perante o interesse nacional chama-se anarquia e destruirá a Nação». António José Saraiva, persona non grata ao ancien-regime, mas intelectualmente honesto, fez a apologia das virtudes de Salazar, como se pode ver no («Expresso», 22 de abril de 1989). Vou apenas citar alguns trechos: «Salazar foi, sem dúvida, um dos homens mais notáveis da história de Portugal e possuía uma qualidade que os homens notáveis nem sempre possuem – a recta intenção.» «[…] Era essa possivelmente a grande virtude e o grande defeito de Salazar: o rigor talvez excessivo consigo mesmo e com os outros.» «[…] Conseguiu-se também, pela primeira vez desde Pombal, pôr fim à tutela inglesa, que fora confirmada com sangue na 1.ª guerra mundial. E hoje vemos, com uma dura clareza, como o período da nossa história a que cabe o nome de 20
Salazarismo foi o último em que merecemos o nome de nação independente. Agora, em plena «democracia» e sendo o povo «soberano», resta-nos ser uma reserva de eucaliptos para uso de uma obscura entidade económica que tem o pseudónimo de CEE.» E se o autor destas linhas ainda fosse vivo o que diria desta União Europeia? Provavelmente o que venho dizendo há largos anos: Portugal não passa de uma «satrapia» que está na berlinda da Europa – tal e qual. Não me compete nem é apropositado fazer uma resenha biográfica sobre Salazar. Muitos biógrafos já o fizeram, todavia será interessante reproduzir algumas palavras que denunciam bem o seu cunho pessoal, no célebre discurso «O Meu Depoimento», proferido no Palácio da Bolsa do Porto em janeiro de 1949. «Devo à Providência a graça de ser pobre, sem bens que valham, por muito pouco estou preso à roda da fortuna, nem falta me fizeram nunca lugares rendosos, riquezas, ostentações. E para ganhar, na modéstia em que me habituei e em que posso viver, o pão de cada dia não tenho de enredar-me na trama dos negócios ou em comprometedoras solidariedades. Sou um homem independente. «[…] Nunca tive os olhos postos em clientelas políticas nem procurei formar partido que me apoiasse mas em paga do seu apoio me definisse a orientação e os limites da acção governativa… Se lhes defendo tenazmente os seus interesses, se me ocupo das reivindicações dos humildes, é pelo mérito próprio e imposição da minha consciência de governante, não por ligações partidárias ou compromissos 21
eleitorais que me estorvem. Sou, tanto quanto se pode ser, um homem livre.» Compete a nós – às gerações mais antigas –, perfeitamente contextualizados nos factos e no tempo, defender, sem complexos políticos, o nome de Salazar e o salazarismo. Salazar foi considerado em 1952, segundo as Seleções do «Reader’s Digest», e por várias instâncias internacionais um dos mais geniais estadistas de toda a orbe terrestre. Não é por acaso que os oficiais da Ditadura Militar quando chegaram a Santa Comba Dão lhe disseram: – Precisamos de um ministro das Finanças que seja honesto, inteligente e corajoso. Um escritor francês referiu-se a Salazar como um «místico devotado a Deus e aos números». Um dos estadistas mais religiosos dos nossos dias, ele começa seu dia com prece e meditação, e acredita sinceramente na necessidade de defender o cristianismo contra o comunismo. Amigos de Salazar sugeriram que ele se candidatasse à Presidência da República. Salazar recusou, pois teria de abandonar o seu sistema de vida, teria de viver num palácio, ter muitos criados, receber muitas visitas. Os amigos insistiram em que ele precisava da presidência para alcançar a glória suprema em sua missão de renovar Portugal. – Se eu morresse como presidente, respondeu Salazar, seria enterrado com pompa no santuário nacional do Mosteiro dos Jerónimos. E meu desejo é ser enterrado perto de meus pais, na minha aldeia natal. 22
Só os maléficos e odientos dizem mal de Salazar, e mesmo esses deviam fazer um exame de consciência e verem-se muito bem ao espelho antes de pronunciar o nome do eminente estadista. Depois da queda fatídica que atirou o augusto Presidente do Conselho para o leito da morte, teria dito a Franco Nogueira, seu ministro dos Negócios Estrangeiros: «No dia em que abandonar o poder, quem voltar os meus bolsos do avesso, só encontrará pó.» Avancemos mais um pouco e ouçamos D. José dos Santos Garcia a dado momento do seu discurso na Missa de Sufrágio por alma do augusto Presidente durante as suas exéquias: «Admiremos e agradeçamos a Deus os quarenta anos de calma e de Paz concedidos ao País durante o Governo de Salazar. Como crentes que todos somos e devemos ser, aprendamos as grandes lições do Insigne Português que em primeiro lugar quis servir a Deus; em segundo, quis servir a Pátria; em terceiro, quis servir a Família e para alcançar estes novos fins usou a autoridade, com verdadeira liberdade e o trabalho.» Como escreveu a beata irmã Lúcia «Salazar foi o homem providencial que Deus escolheu para salvar Portugal». Segundo um estudo da Universidade Católica sobre «os quarenta anos de Abril» ficou-se a saber que oitenta e cinco por cento dos portugueses estão insatisfeitos com o funcionamento da Democracia; sessenta por cento disseram que o país está menos rico do que há quarenta anos; que em matéria de segurança e estabilidade de emprego estava melhor há quarenta 23
anos. Posto isto, acresce apenas referir: é que uma grande parte dos portugueses já não se deixa embalar por refalsados argumentos da vetusta jacobinagem abrilina e muito menos pelos maus exemplos que partem de cima para baixo sistematicamente e com enlace a casos de corrupção por parte de quem está direta ou indiretamente ligado às estruturas do Estado. Depois desta simples e aligeirada resenha competirá ao meu generoso e complacente leitor perguntar. Mas afinal o Estado Novo e o seu fundador foram assim tão perfeitos?! Não, longe disso! Sabemos que não há seres humanos perfeitos logo não há sistemas políticos perfeitos. O que está aqui em causa é o confronto entre as duas últimas Repúblicas e o despertar de algumas realidades que têm a ver com o real e não com virtualidades num mundo, já por si, virtual – lavra de uma Informação, salvo raras exceções desacreditada, extremamente sensacionalista e tendenciosa, que procura surripiar factos às novas gerações – infelizmente desfasadas da nossa História – e comprometedores aos olhos da Democracia. Mas esta resenha tem igualmente um outro propósito: fazer ver que há valores bem mais importantes que os valores democráticos. Exemplo disso são os valores cristãos emanados do Altíssimo, enquanto os valores da democracia emergem do Homem impregnados de muita influência maçónica.
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Capítulo I Caio Júlio – não o Caio romano que chegou a imperador sem a ratificação do Senado – é um amigo que tive a felicidade de conhecer há cerca de oito anos, justamente durante a efeméride do 28 de Maio de 1926 – a grande Revolução Nacional. Este Caio, jurista e literato que tem por missão honrar a memória dos seus ancestrais – personagens maiores do nosso panorama intelectível dos séculos XIX e XX tem a qualidade distintiva de ser um nacionalista revolucionário, como ele frequentemente o diz e muito se ufana. Inserido na ambiência social parisiense, desde muito novo, e alternando de quando em quando com estadias em Portalegre (Brasil), nunca descartou a sua lusitanidade. Foi com angústia que teve conhecimento do golpe de Abril e da facinorosa descolonização, do atassalhar do que nos resta como nação e da consequente e perenal subversão dos valores pátrios e morais. Mas foi com a perda da nossa soberania – se é que alguma vez a tivemos sob a égide da Terceira República –, já Portugal feito satrapia e vassalo de Bruxelas e integrado na 25
moeda única, que o meu generoso amigo regressou definitivamente ao solo pátrio. – Fonseca Alves conte-me o que se passou naquele concurso televisivo «Os Grandes Portugueses» … Estou com uma curiosidade tremenda de saber coisas… – Ó Caio isto é uma história alongada… e ou se conta ou não se conta… – Compreenda, eu não estava cá e as agências noticiosas francesas limitaram-se a divulgar o evento de modo formal… Soou-me aos ouvidos que houve lamentos e palhaçada… Só me interessa a palhaçada… que me vai dar um gozo tremendo… Tenha paciência, conte-me as passagens burlescas tim-tim por tim-tim… – Então, tudo bem!... Quando chegou a noite da votação, após meses a fio de propaganda elogiosa a figuras do regime vigente, levou a que muitos se convencessem que a figura premiada fosse alguém do jacobinismo. Tudo leva a crer que o evento tinha propósitos bem firmes nesse sentido. A proscrição de Salazar do rol dos elegíveis é a prova disso, mas os bons portugueses reagem sempre... e foram muitos que revelando forte indignação, forçaram a comissão que acabou por inscrever o nome daquele que veio a ser o maior português … – … de tudo isto eu tenho, embora vagamente, conhecimento, gostava antes que me falasse das partes mais ridículas… – Então vamos diretos ao assunto… A grande noite avançou marcada pelos incidentes que acabei de referir… 26
– … antes que avance, diga-me só uma coisa… Quem é que fazia parte da comissão?! – Concretamente não sei, mas certamente que eram figuras fidelíssimas ao regime vigente… Seguramente abrilinos até à medula… – Sem dúvida, é fácil perceber – retrincou Caio, com ar de enfastiado. – Mas retomando o assunto da grande noite da RTP há a referir a presença de duas fulaninhas telegénicas bem conhecidas do nosso público: uma famosa bolchevista, e uma jornalista tremendamente feminista que, irritadíssima, reclamava por não ter sido incluída uma só mulher no dez primeiros lugares. Pelos vistos não tinha sido respeitada a regra das quotas… – … ah!... ah!... essa faz-me rir… Quantos eram os concorrentes?! – Cerca de duzentos, mas o número, numa fase mais adiantada, foi restringido a uma centena, desde a fundação do reino de Portugal até ao século XX, enfim uma alongada lista de heróis: D. Afonso Henriques, D. Nuno Álvares Pereira, Vasco da Gama, Pedro Álvares Cabral, Afonso de Albuquerque… – Isso eu sei!... e dos contemporâneos os mais badalados foram o Cunhete e o Suarez, e outros pedreiros-livres e antipatriotas bem conhecidos do antigo reviralho – concluiu, arrebatadamente, o meu amigo. – Pois, foi para os primeiros que o concurso foi feito. Já quase no término da campanha, a poucos dias da votação foi publicado um livro do Suarez, por sinal muito publicitado, a descambar 27
Salazar. Pelos vistos já se temia a sua vitória. Enfim… houve de tudo… Costuma-se dizer que o feitiço vira-se contra o feiticeiro, e foi o que aconteceu. Mas para não perder o fio à meada há a dizer que as duas fulaninhas mantiveram-se sorridentes, aparentemente tranquilas, mas à medida que a noite amadurecia e a votação avançava, a tal tranquilidade parecia sumir-se. Já próximo do fecho, notava-se a olhos vistos que estavam altamente perturbadas, porque se adivinhava que Salazar ia ser o grande vencedor. A feminista já gaguejava com aquela voz de choquinha, mas sempre impulsiva contra o masculino… A bolchevista fazia muitas caretas, igualmente impulsiva contra os fascismos num derradeiro apelo para a votação não incidir em Salazar. – Ah!… ah!… ah!... deixe-me rir… Está-se mesmo a ver que perdi um grande espetáculo!... – Se perdeu meu caro Caio, se perdeu!... E já que falou em espetáculo, mantenha-se calmo mais um pouco, porque ainda falta a apoteose… Logo que confirmado o desfecho e pronunciado o nome do maior português, a feminista, apesar de muito engasgada, num último alento, de forma visivelmente odienta, ainda bateu uma vez mais no «malvisto masculino». Por seu turno, a bolchevista foi realmente a grande figura, sem dúvida a figura central de todo aquele cenário televisivo, o que não é de estranhar porque está preparada para cenas teatrais. Totalmente transfigurada, exasperada, num desengonço de braços e mãos, de olhos esgazeados e espantosas expressões coléricas, bramia repetidamente: «O Povo português quer de retorno o fascismo, sim, quer 28
outra vez o fascismo!... Parece impossível que tenha votado num fascista!... parece impossível!... parece impossível!...» Na verdade, esta foi a mais inconveniente, a mais cruel e a mais marcante noite até então e que arrastou pela lama o regime abrilino. E se para alguns o evento foi pouco relevante – a começar pelo próprio patrono, a meu ver, pouco recomendado para tão nobre função e que se teria pronunciado publicamente que o concurso valia o que valia –, tendo em conta o nome do vencedor, o mesmo não sucederia, se porventura, fosse uma figura proveniente do «Clube dos Jacobinos». Daí a pergunta pertinente do meu amigo Caio Júlio: – Diga-me uma coisa... eu sei que Salazar ganhou com uma margem muito grande, mas qual foi o impacto a nível de comunicação social?! – Os Órgãos de Informação, como era de esperar, não deram o relevo que o evento merecia… Claro que se o vencedor fosse um qualquer abrilino… um qualquer pedreiro-livre ou um desses «famosos» conspiradores do antigo reviralho era certamente notícia a destacar várias vezes ao dia durante semanas a fio… Como não foi, os noticiários televisivos e radiofónicos restringiram o acontecimento… Os jornais – salvo o semanário O Diabo que é dos poucos, talvez o único verdadeiramente independente e isento de complexos políticos – comprometidos com o regime, não procederam de modo diferente… Contudo não faltou expetativa, entusiasmo, sensacionalismo e, sobretudo, alarde durante 29