Daniel Santos, nasceu em Abril de 1995, em Sion na Suiça. Veio para Portugal aos dois anos de idade, onde estuda e reside actualmente. Encontra -se no 10º ano do Curso de Línguas e Humanidades da Escola Eb3/S de Moimenta da Beira.
Joana, uma jovem advogada recebe uma chamada durante a noite de um presumível assassino. Esse assassino conta a sua história a Joana e diz -lhe que está arrependido de todos os homicídios que cometeu. Esse assassino, classificado como Assassino em Série já tinha assassinado várias mulheres, para cumprir o seu objectivo. E se, Joana não o conseguisse capturar ele iria atacar a próxima vítima. Durante a busca pelo Assassino, ela conhece Daniel, um jovem jornalista por quem se apaixona. Daniel acompanha Joana na busca. O fim promete ser surpreendente.
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O Pr贸ximo DANIEL SANTOS
FICHA TÉCNICA
Edição: Daniel Santos Título: O Próximo Autor: Daniel Santos
Capa: Daniel Santos Paginação: Paulo Silva Resende
1.ª EDIÇÃO LISBOA, 2010
Impressão e Acabamento: Publidisa ISBN: 978-989-20-2263-5 Depósito Legal: 321035/10
© Daniel Santos
Publicação e Comercialização Sítio do Livro, Lda. Lg. Machado de Assis, lote 2, porta C — 1700-116 Lisboa www.sitiodolivro.pt
Índice
Prefácio
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Agradecimentos e Dedicatórias
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Moimenta da Beira, 2h45
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Capítulo I – O telefonema
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Capítulo II – Horrores e descobertas
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Capítulo III – O fim? Sinceramente, não.
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Capítulo IV – Inacreditável
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Capítulo V – Depois da tempestade vem a bonança e o amor.
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Capítulo VI – O julgamento
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Prefácio
Neste livro, falo sobre as monstruosidades que o ser humano é capaz de fazer. E o leitor que estiver a ler isto, estará neste momento a dizer que não… Não é capaz de matar. Há situações na vida, que nos podem levar a tomar decisões que noutros momentos seriam impensáveis. Certamente nunca pensaram na facilidade com que se tira a vida a alguém, não quero que pensem que sou um Assassino, porque não digo que não sou, nem que um dia virei a ser, não se sabe o que o futuro nos reserva. Mas, agora que já o assustei, espero que goste do meu livro, foi algo trabalhoso, a história é algo entusiasmante, e esperem por outros livros meus. Daniel Santos
Agradecimentos e Dedicatórias
Antes de mais, começo por agradecer a todos os que me ajudaram a escrever. À minha mãe, Fátima Santos, por não se ter chateado por eu estar horas sentado em frente ao ecrã do computador. Ao meu irmão, Alexandre Santos, por me ter desenhado a capa, e por, de certa forma me ter encorajado a escrever o livro. A última parte aplica-se também à minha cunhada, Filomena Cleto Santos. À Ana Raquel Cardoso, à Cláudia Dias, à Ana Sofia Teixeira, à Ana Raquel Julião e à Daniela Pereira, por me terem deixado usar os vossos nomes no livro e no desenrolar da história. E para evitar zangas, a vossa ordem de aparecimento não tem nada a ver com a amizade que tenho por vocês.
E por fim, a dedicatória: O livro é dedicado à minha afilhada, Eva Cleto Santos, com a esperança de um dia vir a ler os meus livros.
O PRÓXIMO
Moimenta da Beira, 2h45
Algures nesta vila, encontra-se uma pessoa acabada de cometer uma monstruosidade. Com as mãos ensanguentadas, uma segurando uma faca e a outra, que segura num telefone, prepara-se para fazer uma chamada. Marca um número, e coloca o telefone junto do ouvido. Do outro lado, um telefone toca, repetidamente, à espera que alguém atenda…
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Capítulo I – O telefonema
Estava perdida nos meus sonhos, quando de repente, um som proveniente da minha escrivaninha, me faz acordar. Abri os olhos, e estendi a mão à procura do botão para ligar o meu candeeiro de hula. Acendi, e olhei para o meu relógio que marcava duas horas e quarenta e cinco minutos. Os meus olhos azuis, encheram-se de raiva, e fizeram levantar-me da minha cama. – Espero que não seja a Daniela com mais uma das suas histórias de sonambulismo e insónias! – disse, prevendo o que se ia passar a seguir. Esfreguei os olhos para conseguir ver melhor e avancei para a secretária, onde um objecto luminoso, o meu telemóvel, vibrava e tocava a música do Michael
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Bublé. Adoro a música, mas neste momento, era capaz de a odiar, só por me ter acordado. Peguei no telemóvel, esperando que fosse a Daniela, mas não, do outro lado, alguém sem a mínima noção das horas, estava a ligar-me em anónimo. “Só pode ser brincadeira” – pensei eu. Peguei nele, e a música continuava, premi o botão verde e coloquei o Iphone junto à minha orelha. – Quem fala? – disse eu. – Boa Noite – disse uma voz distorcida – Acabou! – Acabou o quê? – A vida de alguém. – Hãn? Está a brincar comigo? – Brincar, eu? – Ouça, quem é que pensa que é para me estar a importunar a meio da noite para me dizer… Coisas sem o mínimo sentido. – Não se enerve, que não vale a pena. Eu estou farto da minha vida. – E? O que é que isso contribuí para a minha felicidade? – Pouco ou nada… Simplesmente, já fiz sangue suficiente na minha vida. – Bem, quem o ouvir falar, até vai pensar que é um assassino! – disse eu em tom de sarcasmo. – Assassino em série… Os meus olhos ficaram perplexos com o que acabara
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de ouvir. A minha boca abriu-se, e a adrenalina começou a circular pelas minhas veias. De repente, tudo isso parou, e comecei a assimilar tudo. Não passava de uma brincadeira. – Ouça, tenho quase a certeza que não fez por mal. Acordar-me a esta hora. Tenho que desligar. – disse eu. – Espere! Isto é tudo menos uma brincadeira. Amanhã verá, ou venha ver agora… – O quê? – Perguntei eu. – Mais uma mulher morta em Moimenta da Beira. A adrenalina voltou a circular, e a minha boca secou por completo, fazendo-me pigarrear. Comecei a juntar as peças e rapidamente entendi. Realmente este “anónimo” tinha razão. Nos últimos três meses, sucederam-se na vila, vários homicídios, e todos de mulheres. O mais chocante foi há três meses, quando uma mulher grávida apareceu numa casa de banho da escola secundária decapitada. Ainda hoje se procura a cabeça e o bebé. – Como é possível? – É fácil, aliás, é mais fácil do que se pensa. Sentir a pessoa, a cair nos braços, a esvair-se em sangue. E a seguir, é só fazer uma coisa qualquer, como cortar-lhe a cabeça, ou os braços, ou as pernas. – Isso é macabro. – Sim, diz que sim. Mas eu gosto daquilo que faço. É o meu trabalho…
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– Trabalho? – Sim trabalho. Mas chega de conversa fiada, e vamos ao que interessa. – Que é? – Quero ser apanhado. – Apanhado? Ser preso, é isso? – Basicamente, sim. – Então, porque é que precisa da minha ajuda? – Para seguir as pistas, que eu vou deixar pela noite dentro, até mim. – Não seria mais fácil, ir até à esquadra, e entregar-se? Riu-se. – Não. – Mas tudo isto tem um senão. Evite o próximo. Tem até a meia-noite de hoje, para me encontrar. – disse ele. – Mas porque é que me pediu a mim? Desligou. Fiquei pálida, com tremores, e senti-me aterrorizada. Procurei algo para me acalmar, olhei em volta, e foquei-me no meu candeeiro havaiano. Concentrei-me na dançarina, tão real, a fazer os movimentos do hula, tão suave, tão realista, tão trabalhada. Inspirei, e esperei até que o meu corpo pedisse para expirar, e depois expirei até que os meus pulmões pedissem mais oxigénio. Sentei-me na borda da cama, pus-me a olhar para o tecto.
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Como é possível? Pensava eu… Não conseguia fazer tudo isto sozinha… Aterrorizada, levantei-me e fui à janela, ver se havia algo de anormal lá fora. Nada. O meu jardim estava intacto, aliás, os aspersores ligaram para regar a relva. Olhei para a estrada, e encontrava-se vazia. E por último olhei para a entrada da garagem, onde estava o meu BMW. Comecei a pensar na Daniela, provavelmente, esta foi das noites em que ela dormiu, sem me chatear. Lembrei-me que lhe podia ligar, mas apenas a ia acordar, e amanhã, no trabalho, ia andar maldisposta. Lembrei-me do trabalho, e que amanhã ia ter um julgamento. Esta vida nova de advogada está a deixar-me exausta. São casos atrás de casos, nem consigo ter mãos a medir. Olhei para o meu relógio, que marcava 3h00, e resolvi, deitar-me na cama. Embrulhei-me nos lençóis, e aconcheguei-me. O pânico ainda estava instalado no quarto, e simplesmente, não conseguia fechar os olhos. Estava ali, sozinha, naquela vivenda magnífica. O Assassino podia perfeitamente entrar e cometer mais um homicídio. Podia telefonar à polícia, mas ninguém ia acreditar no que uma rapariga dizia a meio da noite. Diriam que eu tinha tido um pesadelo, e desligavam-me. E talvez tenha sido isso mesmo, um pesadelo. Um
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pesadelo tão real que me impedia agora de voltar a adormecer. De repente, sem mais nem menos, os meus olhos começaram a fechar, e quando dei por mim, estava a dormir…
Acordei e olhei para o relógio. Eram 7h30. O sol entrava pela janela, e aquecia-me a cama, o que me fazia sentir muito bem. Rapidamente comecei a lembrar-me de tudo o que se tinha passado nessa noite. Estremeci. Lembrei-me que tinha de me preparar para ir trabalhar. Se bem que após esta confusão toda, conseguia tudo, menos concentrar-me no trabalho. Fui até o meu roupeiro e abri as duas portas de vidro que me mostraram bastantes opções de vestuário. Comecei a procurar entre montes de camisolas, casacos e calças. Peguei num casaco de malha cinzento e aproximei-o do meu nariz para sentir o cheiro do amaciador, peguei numa camisola branca e nas minhas calças pretas favoritas. Peguei também em roupa interior e fechei as portas de vidro. Fui para a minha casa de banho, liguei o aquecedor e abri a torneira. Comecei por tirar as calças rosa de pijama e em
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seguida a camisola. Tirei o soutien e as cuecas, deixando-me da mesma forma como vim ao mundo. Olhei-me ao espelho, e acariciei o meu cabelo loiro. Aproximei-me do espelho, para procurar borbulhas, ou qualquer sinal de buço, mas nada, a minha cara estava imaculada, como dizia a minha mãe. Ao pensar nela, lembrei-me dos tempos em que ela me dizia que ia ser médica, pois tinha muito jeito para tratar de feridas, e tinha medo de tudo menos de sangue. Enfim, enveredei por outros caminhos. Abri a porta de acrílico do meu chuveiro e entrei para dentro. Pus-me debaixo do chuveiro e senti a água a escorrer pelos cabelos, passando pelas costas e por fim pelas pernas chegando ao chão. Era tão calmante, fez-me esquecer tudo, mas ao aperceber-me que me tinha esquecido de tudo voltei a lembrar-me da minha última chamada telefónica. Peguei no frasco do champô e pus algum na minha mão. Esfreguei a cabeça e enchi a cabeça de espuma. Retirei-a com água e voltei a repetir. Depois peguei no gel de banho e lavei o meu corpo. Passei-me por água e fechei-a. Embrulhei-me na toalha e saí do cubículo. Coloquei-me em frente do aquecedor, comecei a sentir-me aconchegada. Peguei na toalha, e sequei o cabelo. Em seguida, com outra toalha maior, sequei o corpo.
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Começando a tremer, peguei nas primeiras peças de roupa e comecei a vesti-las, em seguida vesti as minhas calças pretas, seguindo-se pela camisola branca e por fim pelo meu casaco de malha de gola em “V”. Desliguei o aquecedor e saí. Saí do quarto e desci as escadas para o hall de entrada. O sol incidia directamente na parte da frente da casa, aquecendo-a. Entrei na cozinha, e liguei a televisão, para procurar qualquer notícia relacionada com um homicídio. Nada, apenas estavam a falar de trânsito e de como era aborrecido viajar numa segunda-feira de manhã em Lisboa. De repente, o meu Iphone dá sinal de vida, estremeci, corri para junto dele, e coloquei-o no ouvido atendendo, sem ver quem era. – Estou? – Perguntei com voz trémula. – Bom dia Joana! – Saudou-me uma rapariga. – Quem fala? – Sou eu. A Daniela! – Ah! Desculpa, pensei que fosse outra pessoa. – Quem? – Esquece… – Está bem. Olha, não vais acreditar no que se passou! – O quê? – Perguntei prevendo a resposta. – Apareceu mais uma mulher morta. – Onde? Mais um caso de homicídio?
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– Nos jardins em frente da Câmara Municipal. Parece que sim. Ao que tudo indica aconteceu durante a noite, desta vez o assassino cortou-lhe os pés e as mãos… – Que horror! – Podes crer. Mas pronto. Olha, o julgamento de hoje foi adiado para sexta-feira. – Porquê? – Parece que o juiz apanhou uma gripe ou algo do género. – Pois, pois! Ele queria era ficar em refastelado no sofá a ver televisão… – Isso não sei – riu-se – mas vem cá ter. – Está bem. Até já! E desligou. Tudo tinha sido verdade, não que eu tivesse duvidado da verdade, mas há sempre aquele ponto de que alguém estava a brincar comigo. Mas não. Na madrugada de 22 de Novembro, alguém cometeu algo macabro, para não dizer pior. Liguei a cafeteira, que começou imediatamente a aquecer a água do meu café e fui preparar umas torradas. Em menos de nada, a notícia chegou às televisões: “Notícia de última hora: Mulher encontrada sem vida em Moimenta da Beira” Lá estavam as manchetes. Mudei de canal, e lá estava, a mesma coisa, mais uma vez, e continuava. A cafeteira desligou, e as torradas saltaram da torra-
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deira. Preparei o meu café e pus manteiga nas torradas, que começou imediatamente a derreter. Que cheirinho! Bebi dois tragos do meu café e dei uma trinca na torrada, repeti até acabar. Levantei-me e meti a loiça na máquina de lavar. Fechei a tampa e voltei-me para a televisão que desliguei imediatamente. Vi as horas no telemóvel, já marcavam 8h30. Fui ao escritório buscar as chaves e os documentos e saí pela porta da frente. O sol estava quente, mas notava-se um frio de Outono, bastante incomodativo. Abri a porta do carro e entrei para dentro. Pus o cinto e coloquei a chave na ignição. Rodei-a duas vezes, e esperei até o motor aquecer, e depois mais uma vez, que fez o carro ligar. Liguei o rádio, e sintonizei com a Comercial. Estava a dar música. Meti a marcha atrás e saí da entrada da garagem. Na estrada, meti a primeira mudança e arranquei dali em direcção ao Jardim onde se encontrava algo à minha espera.
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Capítulo II – Horrores e descobertas
Cheguei ao jardim, estacionei o carro na câmara municipal e fui a pé até ao local do crime. De longe, via-se uma grande multidão, mas de perto, apenas se viam polícias, jornalistas e a Daniela. Lá estava ela. – Olá, Bom Dia. – disse eu, cumprimentando-a. – Bom Dia. – Onde está o corpo? – Perguntei, para ver se chegava a alguma coisa… – Ali. – disse ela, apontando com o dedo para uma poça de sangue. Um pouco ao lado da poça, encontrava-se um corpo pálido, e quando digo corpo, não é completo. O Assassino cortou as mãos e os pés, deixando apenas os ossos de ligação. Era claramente uma jovem rapariga, tinha cabelos loiros, e não parecia ser muito
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alta, se bem que sem pés, não se podia ter a certeza. – Que horror! – exclamei. – Mesmo, não sei como é que há pessoas capazes de o fazer… – Também eu. – de repente lembrei-me do que se tinha passado durante a noite, e fez-me acordar para procurar pistas… – Olha, tenho que ir. Tenho coisas para fazer. – disse a Daniela. – Está bem. Eu daqui a pouco também vou para casa. E foi-se embora. Comecei a olhar para as pessoas. No local encontrava-se a polícia forense e os jornalistas. Enquanto estava a olhar à minha volta, houve uma pessoa que me chamou à atenção. Deduzi ser jornalista, pois tinha um bloco de notas na mão e um fotógrafo ao lado dele. Tinha cabelos pretos, era alto e magro. De vez em quando sorria para as pessoas, mostrando o aparelho que tinha nos dentes. Senti um formigueiro na barriga, ou como costumam dizer, “as famosas borboletas”. Decidi aproximar-me dele, para pedir autorização para ver algumas fotos. Lembrei-me que podia existir qualquer tipo de pista numa das fotos. Dirigi-me a ele, e os seus olhos direccionaram-se para mim. Sorriu.
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– Olá, bom dia! – Cumprimentei-o. – Bom dia. Em que posso ajudar? – Eu estou interessada neste caso, e gostaria de ver algumas fotos se fosse possível… – Pois… – Ah, já agora. Chamo-me Daniel Dias. – Joana Morgado. Muito prazer. E mais uma vez, ele voltou a sorrir para mim. E disse: – Vou pedir ao meu fotógrafo para telefonar para a redacção para fazer o teu pedido. – Está bem. Foi até uma carrinha, e começou a falar com o seu ajudante, que imediatamente, como acatando ordens, pegou no seu telemóvel e ligou para o chefe. A chamada foi curta, e rapidamente o Daniel voltou-se para mim e caminhou suavemente até ao meu lado. – Lamento. O meu chefe disse que não. Que devias esperar pela edição de amanhã. – A sério? – disse eu, desiludida – E não podes fazer nada? – Não, lamento. Mas como ele disse, espera por amanhã. – É muito tempo. – Porquê a pressa? – perguntou ele, intrigado. – Por nada. – Bem, precisas de mais alguma coisa? – Não, por agora é tudo.
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– OK, então adeus. – Adeus. – disse ele, e sorriu. Saí dali. Voltei para o meu carro, quando para minha surpresa desagradável, tinha sido maltratado. Tinha uma risca de tinta vermelha que percorria o lado direito do cinzento metro do meu carro, o que me deixou possessa. “Quem terá feito isto?” – Pensei eu – “Terão sido crianças?” Aproximei-me mais do carro, e por baixo do limpa pára-brisas encontrava-se um papelinho branco. Levantei o limpa pára-brisas e retirei o papel. Abri-o, pois encontrava-se dobrado, e comecei a ler:
“O primeiro de três. Já que não consegues encontrar o primeiro, o primeiro encontrou-te a ti. O bilhete seguinte fica junto ao parque infantil junto ao Banco. Já sabes, tens pouco tempo. EVITA O PRÓXIMO!”
Fiquei mais uma vez, aterrorizada, estava a lidar com alguém, que certamente queria brincadeira. Mas porquê EU? Tinha que limpar o carro, antes que aquilo secasse. Aproximei-me de perto, e aquela “tinta” estava fresca, e
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era tudo menos “tinta”. Era sangue! Afastei-me do carro, e virei-me de costas. Comecei a contar. 1,2,3…10, para me acalmar. Voltei a olhar para o BMW e decidi ir lavá-lo na lavagem automática mais próxima, em frente do Terminal de Autocarros. Destranquei as portas, e abri a porta do condutor. Entrei para dentro e sentei-me. Pus o cinto e liguei o carro. Saí do parque de estacionamento e segui para cima, em direcção à rotunda. Quando lá cheguei, saí na terceira saída e virei à esquerda. Passei pelo centro comercial abandonado e entrei no Car Wash. Desliguei o carro, e olhei para as horas. Eram 9h00. Saí e em menos de nada, vejo um carro aproximar-se. Era um Porsche 911, cinzento. Bonito, mas barulhento. Comecei a assustar-me, pois não sabia o que ia sair dali, e um carro daqueles era minimamente suspeito numa vila como Moimenta da Beira. Estacionou ao meu lado. Desligou o motor e o rádio parou. Abriu a porta, e lá de dentro saiu o Daniel. – Olá! – disse ele sorrindo. – Olá, isto parece perseguição! – disse eu rindo-me. – Não, apenas vim aspirar o meu carro, e foi coincidência ver-te aqui. – Pois! Eu vim lavar o meu. – O que é que lhe aconteceu? – perguntou ele apon-
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tando para a risca vermelha. – Não sei. Devem ter sido crianças. – menti. – Pois. As crianças não têm noção do bonito, muito menos do valioso. A propósito, isto foi um elogio ao teu carro. – Obrigada, o teu também é… Ostentoso. – Sim, diz que sim. – É estranho como o salário de um jornalista dá para um “Porsche”. – disse eu. – Pois, mas dá. – e riu-se – O que é que vais fazer a seguir? Pareceu um pouco directo, aliás, até demais. – Talvez vá até casa, tomar um café. Porquê? – Por nada. – E tu? – Nada de interessante. – Podias acompanhar-me… – Não me importava! – disse ele sorrindo. – Está bem. Então vamos acabar isto, e vamos para minha casa. Ele voltou-se para o seu Porsche, e eu em seguida, comecei a lavar o meu carro. A tinta, ou melhor, o sangue demorou a sair. Por fim, apenas restava no chão uma mancha cor-de-rosa. Já que estava ali, aproveitei e aspirei o carro. – Já está. – disse o Daniel. – É, o meu também. Limpo, limpinho.
O PRÓXIMO
Rimo-nos. – Vamos? – sugeri eu. – Sim. E entrou dentro do carro. Fiz a mesma coisa. Enquanto eu punha o cinto, colocava a chave na ignição e punha o CD no rádio, o Porsche já rugia. Em seguida, liguei o meu, mas não conseguiu acompanhar o Porsche. Saí do Car Wash, e fui até o cruzamento. Virei para a esquerda e segui a avenida. Parei nos semáforos, sempre com o Daniel atrás de mim, e virei para a direita, até chegar ao cruzamento do Centro de Saúde onde cortei para a esquerda e mais uma vez para a direita, onde entrei para a entrada da garagem. O Daniel estacionou o seu 911 atrás do meu 118. Desligamos os carros, e saímos. Sorrindo um para o outro, mais uma vez. Dirigimo-nos para dentro da minha vivenda. – Bem, vamos lá fazer café. Ele ficou admirado com a decoração contemporânea e linhas direitas da minha casa, tão admirado, que até me ignorou, só pelo facto de estar a olhar para o meu candelabro do hall. – Sim vamos. – A tua casa é linda. . Completou ele. – Obrigada, fui eu que a decorei. Com a ajuda dos meus pais, admito. Na cozinha, ele continuou a admirar a beleza da
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decoração. Liguei a minha Dolce Gusto, e esperei que aquecesse. – Deves estar a tirar ideias! – Para quê? – Sei lá! – É mesmo muito bonita a tua casa. – Mais uma vez, agradeço os elogios. Voltei-me para a Dolce Gusto, coloquei a cápsula com o café, e liguei-a. Rapidamente começou a sair um café cremoso. – És advogada há muito tempo? – Cerca de 6 meses. – Mas tu não és daqui, pois não? – Não, sou de Coimbra, tirei Direito lá. Mas estava farta de grandes cidades, e resolvi meter-me nesta vila pacata. – Se bem que não tem sido bem isso que tem acontecido. – Ao dizer isto, relembrou-me de tudo o que tinha acontecido nos últimos seis meses. Voltei-me novamente para a máquina, e desliguei-a, deixando-a em stand by. Servi os cafés. – E tu? Jornalista há muito ou pouco tempo? – Pouco, aliás, muito pouco. Há cerca de 2 semanas. Mas só hoje comecei a trabalhar como repórter de rua. – E logo com este caso… - disse eu. – Pois… Realmente não é dos melhores, por um lado,
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mas por outro, é uma grande notícia, e tive sorte em ser eu o primeiro a apanhá-la! – Sim, tens razão. – E então, o que é que sabes sobre este caso? De repente, apercebi-me do verdadeiro motivo porque ele estava em minha casa a tomar um café comigo. Apenas queria informações sobre o caso. – Pouca coisa. – Então porquê o interesse? Que eu saiba, nem sequer és polícia, ou és? – Não, não sou! – Mas não deixa de ser estranho. – O quê? – Nunca ninguém testemunhou nenhum homicídio por parte deste assassino. – E é estranho porque… – Porque, segundo a polícia, é impossível apanhá-lo. – Não deve ser… - disse eu. – É! Ele é muito profissional naquilo que faz, demasiado limpo. – Pois, realmente é preciso ser-se muito burro para cometer um deslize. – E burro, é coisa que ele não é. – disse ele. E era verdade, se bem que o plano dele para ser apanhado, não era muito engenhoso. Nos filmes, já tinha visto casos mais interessantes que este. – Está bem, está bem, não me pressiones. Eu conto!
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– Mas não te estou a pressionar… Não és tu a assassina, pois não. – Riu-se. – Não. – Ri-me – mas sei algo sobre ele. – Sabes? – Sim, ele telefonou-me a meio da noite, logo após ter assassinado a pobre rapariga. – Estás a falar a sério? – perguntou ele, mesmo muito desconfiado. – Estou! Ele quer ser apanhado… – Apanhado? – Sim, ele está cansado da vida que tem. – Vida de Assassino? – Em série, foi o que ele disse. disse estar cansado do seu trabalho. – Trabalho? – Sim, e que não consegue continuar assim, tem demasiada culpa na consciência. – Consciência? – Sim. Já agora, vais parar de repetir tudo o que eu digo? – Tudo o que dizes? Estou a brincar. – Mas não é altura para brincadeiras. – Oh, fala a sério. Nem tu te acreditas nisso. – Juro! – E porque não se entrega, o “ASSASSINO”, na polícia? – Porque ele diz que não quer ser demasiado fácil.
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Ele deixou pistas, e eu tenho de as seguir. – Porquê tu? – Não sei, isso continua um mistério. – Tal como toda a história. – concluiu ele. Ele não estava a acreditar em nada o que eu dizia, até que resolvi mostrar-lhe o bilhete. – Tenho uma prova! – Mostra, e se for plausível, eu acredito. Fui ao bolso do meu casaco, e tirei de lá o pedaço de papel que ainda há pouco estava no pára-brisas do meu carro. – Aí tens. – disse eu entregando-lhe o bilhete. Ele leu, com calma, e mais que uma vez. No fim: – Não acredito! – Mas a intenção é “acreditares”. – Como é possível? – Não sei, quer dizer. Não, não sei mesmo. – Como é que não estás aterrorizada? – Estou! – disse eu, apercebendo-me que estava mesmo aterrorizada. – O que é que precisas para o apanhar? – Não sei, eu não vou conseguir! – Claro que vais, aliás, claro que vamos! Olhei para ele e sorri. Foi a primeira vez que ele usou o pronome “nós”, e para além disso, mostrou que ele acreditava no que lhe tinha contado. – “Temos” que seguir bilhetes, até ele. Este foi o
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primeiro, e diz que o próximo bilhete está junto ao parque infantil. Ficou pensativo, e disse: – Diz aqui que tens que evitar, “o Próximo”. O que quer dizer? – Quer dizer que… Se até à meia-noite de hoje eu não o encontrar, haverá mais um homicídio. – Estás a falar a sério? Pior ainda, ele impôs um limite. – Que não quero quebrar. Quero evitar a todo o custo mais massacres por causa de uma pessoa sem escrúpulos e piedade, e que se diz arrependido… – Tens razão, vamos conseguir. Desconfias de alguém? – Não, até agora, não encontrei ninguém capaz de o fazer. – Ajudava que suspeitasses de alguém… – Temos que ir para o próximo local. – O parque infantil. – disse ele. Comecei a arrumar as chávenas, e rapidamente estávamos a vestir os casacos. Saímos, e fomos em direcção ao Porsche. Bastava andarmos num só carro, e assim poupava no combustível e contribuía para o ambiente. Ele ligou o carro e rapidamente saímos dali. – É um carro magnífico. – disse eu. – Pois é. Comprei-o há uma semana.
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– Foi prenda por teres acabado o curso? – Não. Quer dizer, sim, de mim, para mim. – riu-se. Ri-me também. Passando pela rua, eu olhava para toda as pessoas que via, com a esperança de ver alguém suspeito, coisa que não acreditava que viesse a acontecer. – Achas que vai ser óbvio encontrar o próximo bilhete? – Não sei, se queres que te diga, até tenho medo de não o conseguir encontrar. – Pois. – Concordou ele. Estacionou no parque de estacionamento, desligou o carro, e tiramos o cinto. Saímos. – Estás pronta? – disse ele. – Tenho que estar. Demos um passo de corrida até ao parque infantil, que se encontrava vazio, pois a esta hora as crianças estavam todas na escola. Começamos a procurar, por baixo do Sobe-e-Desce, nos baloiços, dentro da casinha do escorrega, mas nada. – Ele disse que era mesmo no Parque? – Mesmo no parque, não. – Então pode estar aqui nos arredores. – Sim, pode. Alargamos as buscas nas redondezas. Ali à volta, havia uns quantos bancos, jardins, uma
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estátua, um palco de espectáculos e, um quiosque. O Daniel foi procurar nos bancos, por baixo e por cima. Eu procurei ao lado da estátua e nos arbustos dos jardins. Procuramos, e procuramos, e procuramos. – Nada! – Disse o Daniel, desapontado. – Aqui também. Só restava o quiosque. Aproximamo-nos do quiosque. Espreitamos pelos vidros, e lá estava, o próximo bilhete.