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FICHA TÉCNICA edição: edições Ex-Libris ® (Chancela Sítio do Livro) título: O Mito das Religiões – Reflexões autor: António Graça Miranda revisão: Mafalda Falcão paginação: Alda Teixeira capa: Patrícia Andrade 1.ª Edição Lisboa, Julho 2014 isbn: 978-989-8714-04-6 depósito legal: 374074/14 © António Graça Miranda
publicação e comercialização:
Av. de Roma, n.º 11 – 1.º Dt.º | 1000-261 Lisboa www.sitiodolivro.pt
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As religiões biblícas são para aqueles que temem Deus e o Inferno.
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PREFÁCIO O que me levou a escrever estas linhas sobre as religiões? Talvez um impulso, uma curiosidade em querer saber porquê tanta gente reza a um Deus de uma qualquer religião, a uma entidade acerca da qual nada sabemos, com quem nunca ninguém falou, viu ou ouviu. Será um sentimento de receio? Uma intuição de que algo poderá existir que funciona como um observador externo, severo e oculto, vigiando-nos permanentemente e analisando o nosso comportamento e o de mais de sete biliões de pessoas na Terra? Corresponderá esta ideia ao mesmo sentimento religioso de Deus em todas as pessoas, em cada uma das três religiões bíblicas e nas correntes filosóficas não-bíblicas deste Mundo? As chamadas correntes filosóficas ou religiões sem Deus – Budismo, Taoismo e Jainismo – não têm cultural nem filosoficamente o mesmo entendimento espiritual das religiões bíblicas. Assim, a “obsessão em Deus” dá a entender tratar-se apenas de uma manifestação cultural e tradicional das religiões bíblicas. Por outro lado, as três grandes religiões bíblicas não se entendem quanto à natureza e essência divina do Deus que dizem adorar. O Judaísmo e o Islamismo afirmam que Deus é uno (único) e não admitem outra ideia; o Cristianismo, por sua vez, afirma 7
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que “Ele” é trio (ou trino), que são três pessoas da mesma essência numa só pessoa. Em que ficamos? Em quem vamos acreditar? Se as próprias grandes religiões bíblicas não se entendem quanto à natureza do Deus que adoram, como será possível aos crentes acreditarem no que elas pensam e dizem sobre o Deus que recomendam? Começa logo aqui, a discórdia divina. Quando penso nos milhares de pessoas que estão a ser subtilmente mentalizadas e manipuladas, desde a infância, por religiões, seitas e igrejas, cujo único fim é o de explorar o próximo economicamente através de uma “fé” martelada na cabeça das crianças e jovens nas escolas de catequese, por pessoas ligadas a organizações que são autênticas “máfias religiosas”, julgo que há algo a fazer em prol dessas vítimas, para que de algum modo as possamos ajudar a abrir os olhos e a acordarem. Pessoas que estão a ser conduzidas como cordeiros dóceis para o matadouro da fé, onde ingenuamente vão à procura de protecção e do consolo, de um Deus desconhecido de cuja religião muitas vezes mal conhecem o conteúdo doutrinário mas que apesar de tudo acreditam por receio ou dúvida, que “Ele” os possa valer numa hora de aflição e nos momentos mais difíceis e de insegurança das suas vidas, deixando-se arrastar fácil e obedientemente para o sacrifício do pagamento do dízimo ou muito mais que isso, pelas palavras convincentes de quem os conduz. Esse bálsamo que lhes é prometido, é vendido por seitas religiosas e igrejas de identidade suspeita e duvidosa, conduzidas por verdadeiras máfias com um perfil religioso, constituídas na verdade por gente que não é particularmente bem intencionada e cujo único objectivo é explorar economicamente pessoas incautas até ao último cêntimo, como infelizmente se vê hoje por aí em múltiplas igrejas e seitas religiosas que, usando 8
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uma “pseudo-doutrina de Jesus” como ferramenta activa, agem impunemente, sem escrúpulos ou pudor. Isto gera uma sensação de injustiça e revolta, que obriga a denunciar e a desmascarar este tipo de gente, a começar pela própria Igreja Católica, que deu o exemplo desde o início da sua fundação, ao alterar não só os objectivos da doutrina de Jesus para fins mais políticos que religiosos, a favor de um Estado Romano e criando a figura mítica de Jesus, de cariz mais comercial que religioso, o “Jesus teológico”, baseado em parte no perfil de Mitra, deus pagão do Zoroastrismo, em Horus deus egípcio do Sol e nos escritos e interpretações de Paulo sobre os ensinamentos de Jesus (que nunca o conheceu pessoalmente) e nos Quatro Evangelhos canónicos que foram modificados e acrescentados, sendo depois atribuídos aos quatro evangelistas, que transformaram todo o processo da doutrina de Jesus, num Cristianismo manipulado construído como uma religião, para benefício político-religioso do estado romano! O intuito destas páginas é apenas o de tentar demonstrar que “Deus” não pode ser aquela figura pictórica apresentada nos livros sagrados das religiões bíblicas, um deus de temor, de medo, um deus psicótico, justiceiro por vezes até cruel e vingativo, um deus personalizado e interventivo nos pensamentos e actos da Humanidade e que a Igreja Católica ainda persiste em nos querer impingir a todo o custo com ameaças da existência de um “Purgatório”, onde parece que o Papa ainda tem uma palavra a dizer sobre o tempo de permanência das almas neste local, através de bulas e indulgências papais (pensava que isto já tinha acabado na Idade Média), diminuindo deste modo o tempo de condenação a troco de umas massas para as algibeiras do Vaticano e também de um Céu e Inferno exteriores, onde as 9
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almas dos não-católicos e dos pecadores irão “assar” em fogo brando ou forte, conforme os humores do diabo que estiver de serviço no dia do Juízo Final, para os que não cumprirem ou não se submeterem às leis dogmáticas das três religiões bíblicas, mas da católica em particular! “Deus”, Inconsciente Colectivo, Consciência Quântica Universal ou o que Lhe quiserem chamar não é um Deus antropomórfico como o Deus Bíblico, vive em nós como uma consciência que é a base de tudo o que existe, inclusive da própria realidade subjectiva e objectiva. A realidade concreta só existe porque uma consciência observa e mede, interferindo com o processo de interacção da matéria, conforme constatado pela Física Quântica (FQ). As chamadas “religiões sem Deus”, já antes referidas como sendo o Budismo, Taoismo e Jainismo, conhecem o efeito desta propriedade (da Consciência) através da prática meditativa e contemplativa dos seus místicos, que chegaram a resultados muito semelhantes ao da Ciência ocidental sobre a estrutura da matéria muito antes e sem a necessidade de cálculos matemáticos ou teorias físicas complexas. Também nunca sentiram a necessidade de fazer rezas (pedidos), promessas, terços, missas ou outros rituais e acções religiosas do género a qualquer “Deus exterior” para atingirem os resultados que pretendem – praticam apenas a meditação e a contemplação a fim de sentirem a presença da divindade, dessa força cósmica que existe em nós, que nos transporta e nos conduz à felicidade! O conhecimento da Física Quântica (FQ) ou melhor, da Mecânica Quântica (MQ) descoberta por Einstein, Bohr, Heisenberg e outros grandes cientistas da Ciência ocidental, está profundamente ligada ao fenómeno da “Consciência” e abriu 10
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brechas profundas nas certezas do mundo materialista, que conceituava a consciência apenas como um epifenómeno que resultava da interacção da matéria cerebral! Hoje sabe-se e está provado pela FQ pela Escola de Copenhaga, constituída pelos vários prémios Nobel da Física acima citados, que não é possível existir a realidade concreta da matéria, nem nenhuma outra, sem que haja uma “medição ou uma observação” feita previamente por um observador consciente, sobre a onda de possibilidade da matéria. O electrão/onda só vira electrão/partícula, realidade, quando colapsado pela observação de um observador consciente. Também Carl Jung comprovou a existência de um ‘Inconsciente Colectivo’ na psicologia moderna ao qual todos estaríamos ligados. O “Deus” exterior que vive no “Céu” das religiões bíblicas é assim apenas um deus fictício, mítico, criado pela imaginação do próprio homem, que o configurou à sua própria imagem e semelhança e que foi incutido culturalmente nas pessoas através das religiões e respectivas igrejas; esta ideia foi ainda mais distorcida pelos mentores destas religiões do Antigo Testamento (AT) Tora, Bíblia e Alcorão como se “Deus” fosse um imperador, alguém proveniente de um Olimpo qualquer, algures no Espaço Sideral (CÉU), como o Olimpo grego ou romano, ideia essa incutida na cabeça das pessoas, sobretudo em crianças e adolescentes, dando uma perspectiva de que o homem, foi “o objecto principal da criação” num Universo tão vasto com biliões de outras galáxias que nunca vamos poder conhecer como seres humanos que somos, e onde podem e certamente devem existir milhares de outras civilizações mais avançadas que a nossa, dispersas por esse Universo fora.
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Só pessoas tradicional e culturalmente manipuladas na ideia da existência de um “Deus bíblico” é que aceitam de mão beijada a ingénua crença, por preguiça mental de não pensarem por eles próprios sobre estes assuntos, e aceitam na sua ingenuidade uma crença que lhes foi e é ainda martelada na cabeça, anos a fio como verdadeira e que acaba por ficar gravada na memória como uma verdade absoluta, como acontece nos catecismos das várias Igrejas e religiões bíblicas. A isto chamo de “Lixo Sagrado”. Se as pessoas não se derem ao trabalho de procurar, pensar e estudar um pouco sobre estes assuntos de uma maneira lógica e racional, acabam por aceitar uma série de ideias absurdas, como “verdades sagradas”, seguindo-as depois como doutrinas que conduzem ao fanatismo religioso, tornando-se intolerantes e agressivos para com outras crenças e culturas, conduzindo a confrontos e guerras religiosas completamente absurdas e desnecessárias, com consequências maléficas para a Humanidade! É com o fim de alertar sobre este tipo de “Deus” das religiões monoteístas, um Deus fictício e mítico, que escrevo estas reflexões. A. M IRANDA
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Krishna, Buda, Laotsé, Confício, Jesus, nunca seguiram qualquer religião; apenas condutas éticas!
CAPÍTULO I
(A origem das Religiões)
A palavra religião tem origem na palavra religio, cuja procedência vem do étimo latino “reler”, que significa tratar com cuidado. No entanto, outros pensam como Lactâncio, apologista do século IV, e como Agostinho de Hipona (354-430) que a palavra tem origem em religare, isto é, tornar a ligar o Homem a “Deus”. Mas o verdadeiro sentido que a palavra religião deveria ter é o de “o caminho para o autoconhecimento”, buscando a transformação no íntimo do Homem através do desenvolvimento da sua espiritualidade pela via da meditação e contemplação. Infelizmente, a interpretação da palavra religião foi desvirtuada e dividiu os homens, que movidos por pensamentos interesseiros de sacerdotes e outros intermediários divinos, criaram credos e deuses da sua imaginação, lançando a confusão na humanidade com religiões que se digladiam entre si, semeando a discórdia, a violência e o ódio no Mundo. O sentimento religioso no homem tem a ver com a profundidade da sua crença em algo muito superior a si próprio, motivada pelo condicionamento cultural e religioso a que esteve 13
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sujeito e da aceitação por sua parte das ideias religiosas que lhe foram incutidas à força pela educação tradicional da sociedade em que viveu; por outras palavras: com a quantidade de ‘Lixo Sagrado’ que lhe foi introduzido na mente. A evolução da Espiritualidade em qualquer pessoa depende da capacidade da sua transformação interior e da sua mentalidade, não necessitando de qualquer “Deus exterior” como agente ou trampolim para poder evoluir, porque o Homem é por natureza um ser espiritual. A finalidade de qualquer religião deveria ser o de melhorar essa espiritualidade, não através de doutrinas religiosas egocêntricas, que só dividem a humanidade, mas sim através da prática introspectiva da meditação, para que cada indivíduo encontre a sua própria verdade pelo autoconhecimento. Mas infelizmente, o Homem ainda não atingiu a evolução espiritual necessária para alcançar o estatuto de verdadeiramente “Humano”. Essa condição só poderá um dia ser alcançada quando o ego que cultivamos e com o qual nos identificamos no dia-a-dia for reduzido e diluído no divino do Ser, através do autoconhecimento. Para isso um dia acontecer, é necessário que o Homem deixe de ser manipulado desde criança por programas educacionais mal orientados, dirigidos fundamentalmente para estimular o seu egoísmo e egocentrismo, levando à criação de novos consumistas na sociedade capitalista em que vivemos e que também deixe de ser influenciado por religiões cujas doutrinas, muitas vezes dogmáticas e de visão sectária, são por vezes absurdas e deformam a mentalidade das crianças e jovens, tornando-os, mais tarde, em adultos condicionados e submissos a essas religiões, aceitando-as, mais por medo que por convicção, como verdadeiras e sem 14
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contestação, mesmo que por vezes chegue ao irracional, unicamente pelo condicionamento e receio que sentem de poderem vir a ser um dia julgados e castigados pelo “Deus” dessa religião (caso das religiões bíblicas). Deste modo, a espiritualidade fica embotada porque não se desenvolve através do medo, mas sim através de sentimentos de paz, amor, justiça e liberdade. Hoje em dia, no mundo materialista e capitalista em que vivemos, a alta finança mundial tornou-se na nova religião do Homem, e o dinheiro o “novo Deus” que move o mundo do consumismo e do egoísmo em que todos vivemos – o novo ídolo de ouro do povo de Moisés voltou mais sofisticado e está aí de novo! Os bancos são os novos templos por todos frequentados, os banqueiros os novos sacerdotes que exploram os crentes da actual sociedade materialista, e as pessoas, de tão ocupadas com os problemas materiais da vida, do apego que sentem pelos bens materiais (o alimento dos seus egos), nem se lembram da componente espiritual que neles existe. Pouco se preocupam em saber quem são na realidade, o que fazem neste planeta e a razão pela qual aqui estão. Vivemos pensando exclusivamente no consumismo, no lucro, em satisfazer as necessidades físicas de um corpo temporário, esquecendo-nos que somos uma consciência, um espírito que evolui temporariamente num corpo de matéria e não o contrário, um corpo de matéria usando transitoriamente uma mente, como se esta fosse apenas um subproduto da matéria cerebral, um epifenómeno! Para exemplificar, apresento uma pequena história acerca do nosso modo de viver a vida no Mundo ocidental e na sociedade capitalista, totalmente virada para a competição, consumo, quantificação da riqueza material de cada um e principalmente, 15
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para a glorificação dos egos das pessoas através do êxito material na vida. Certo dia, um professor universitário ocidental, com um vasto currículo, quis experimentar o que era o Zen (o caminho para a iluminação). Escreveu então para um conhecido mestre Zen no Japão e este consentiu que ele fosse ter com ele. Quando lá chegou, dirigiu-se de imediato a casa do mestre, que o convidou para tomar um chá enquanto o escutava e conversavam sobre o motivo que o levara até ele – para aprender sobre o Zen. À medida que o professor falava sobre os seus méritos académicos, o mestre ia deitando o chá na chávena. A certa altura o mestre encheu a chávena e o chá começou a derramar; o professor continuava a falar dos seus méritos e prémios académicos, que lhe davam tanto prestígio e orgulho no Ocidente e o chá continuava a derramar-se. Então o professor chamou a atenção do mestre Zen de que estava a derramar o chá. O mestre virou-se para ele delicadamente e disse-lhe: “Meu caro, esta chávena é você. O seu ego está cheio de si, até extravasa. Enquanto estiver assim cheio, não lhe vou poder ensinar o que é o Zen. Tem que esvaziar primeiro todo o seu ego!” Quer isto dizer que, para se aprender o que é o Zen – o caminho para a Iluminação, o acordar do homem, – temos primeiramente que ser humildes e de estar vazios de todos os ressentimentos que antes sentíamos de crenças, preconceitos, invejas, orgulhos e vaidades. Por isso, quando retirarmos de nós a máscara dos sentimentos que configuraram o nosso ego e o apego pelas coisas materiais que acumulámos durante anos a fio nas nossas vidas e com as quais o nosso ego se alimenta e identifica, passaremos então a saber quem na realidade somos, porque dei16
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xaremos de ter as influências exteriores que alimentavam e mascaravam o «Eu» verdadeiro que existe em nós. O ego é apenas a máscara em que nos tornamos, ou seja, a máscara que encobre o Eu, ou o verdadeiro Ser, que em nós vive. É por isso que toda a vida capitalista ocidental se afirma e alimenta quase exclusivamente na ideia da glorificação do ego. Vive-se na competição e na rivalidade em tudo, dando-se grande ênfase aos valores materiais acumulados, ao apego, ao orgulho, vaidades e ressentimentos, sendo estes os verdadeiros valores de referência do êxito na vida do mundo capitalista: o que é preciso é “Ter”, não interessa como! São estes os valores que na verdade contam para as pessoas e para os seus egos no mundo Ocidental. A Ética bem pode esperar e ficar para trás porque só atrapalha! Não se pensa no Espírito como entidade fundamental do Ser, nem na Ética como o caminho a seguir; cada vez mais se ouvem e vêem nos media e na imprensa casos e casos de corrupção nas altas elites dos governos de todas as nações, até nas Religiões e nas Igrejas que pululam por aí. É a ganância da riqueza a comandar o mundo do capitalismo, onde o crime floresce cada vez mais, com maior intensidade, violência e impunidade! Na Igreja Católica, basta olhar para as ricas vestimentas dos seus bispos e cardeais para sentirmos quanta vaidade e soberba se escondem por debaixo dessas vestes, alimentando os egos desses prelados! Os “príncipes” da Igreja! Alguém ouviu falar que Jesus, na escolha dos seus apóstolos, tivesse escolhido algum alto dignatário das Igrejas ou Sinagogas do seu tempo? As religiões bíblicas nunca souberam explicar que a evolução espiritual do Homem devia ser feita individualmente e em recato. As pessoas pensam que quando um dia a vida acabar, as 17
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“alminhas” vão logo direitinhas para um lugar chamado “Céu”. Lugar esse onde todos ficam logo “santos” com a ajuda das missas que levam de cá, rezadas pelos padres aos mortos. Esqueceram-se, assim, da mensagem que Jesus transmitiu, quando disse: “em casa de meu Pai, há muitas moradas” (João, XIV, 1:3), o que quer dizer que cada um vai para o plano espiritual que merece, segundo o grau de desenvolvimento espiritual alcançado aqui na Terra. Mas qual o significado – de ser espiritualisado para um ser humano ou para um crente? Ou o que significa melhorar a espiritualidade de cada crente através da Religião? – É ir à missa todos os dias e comungar? É rezar não sei quantos terços por dia, é confessar os seus pecados ao padre, é levar penitências e ter de rezar por castigo? É fazer ofertas a “Deus” a pensar que “Ele” seja sensível e subornável aos nossos interesses, anseios e pedidos, ou será fazer promessas negociando sacrifícios físicos ou morais com um Deus que não se conhece, que não sabemos o que é nem quem é?! Num conceito ético normal, ser espiritualizado é conseguir eliminar o apego como sentimento, é eliminar os nossos ressentimentos, é abdicar do próprio orgulho e egoísmo em prol dos outros, é ser solidário para com o próximo em todos os momentos, é saber como melhor ajudar e servir os que precisam de nós, é não julgar os outros pelo que fazem ou deixam de fazer, é não tirar partido dos outros para benefício próprio – Portanto, ser espiritualizado é desenvolver a capacidade de amar o próximo, independentemente de quem ele seja e que necessite de ajuda na sociedade em que vive; não é rezar a um deus desconhecido e pedir isto e aquilo! Assim, para se ser espiritualizado não é necessário qualquer religião nem qualquer deus! Basta que as pessoas sigam e tenham 18
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uma conduta ética de acordo com a sua consciência, que não prejudiquem o seu semelhante nem o meio ambiente em que vivem e que saibam perdoar os que erram; uma pessoa pode ser muito espiritualizada sem ser religiosa ou até mesmo ser ateia! Espiritualidade não é apanágio das Religiões, mas sim da ética com que as pessoas orientam as suas vidas. O Homem na sociedade materialista ocidental ainda há pouco tempo era visto como uma espécie de máquina de natureza dual, com uma cabeça onde se produzia uma actividade psíquica, de natureza bio-eléctrica (a mente) – que não passaria de um mero fenómeno da interacção da matéria cerebral. O Espírito (Consciência), a entidade verdadeira do Ser, passava ao lado, era assunto somente para as religiões. A matéria, sim, era destinada a ser o objecto de estudo pela Ciência. Mas o confronto da Ciência com o caso extraordinário de Phineas Gage em 18481 e também com a realidade dos fenómenos inicialmente conhecidos como “espíritas” ou “espiritualistas” e posteriormente conhecidos como “paranormais” relacionados com a actividade da Consciência, levou a que esta também passasse a ser objecto de estudo da Ciência. Vários cientistas de
Phineas Gage, funcionário dos Caminhos de Ferro de Vermont, foi apanhado numa explosão, tendo um ferro com mais de um metro atravessado o seu crânio por trás dos lobos frontais de ambos os lados com destruição de parte sustancial da massa encefálica. Para espanto o sinistrado não morreu, sobreviveu após um coma vários meses tendo ficado depois disso com a sua personalidade bastante alterada. Foi um caso muito falado na época em que a neurociência dava os primeiros passos e que impulsionou o estudo do Cérebro e da Consciência, em conjunto com os fenómenos psíquicos relacionados com o Espiritualismo. 1
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renome, como se sabe, alguns deles prémios Nobel da Ciência e Medicina, têm estudado a Consciência e a sua fenomenologia com muito rigor nestes dois últimos séculos, até que recentemente surgiu uma nova “Ciência de Vanguarda”. A “Conscienciologia” que procura estudar a natureza da Consciência e os fenómenos com ela relacionados, sabendo-se desde já que a Consciência transcende as funções cerebrais, funcionando como uma onda quântica, como podemos ver nos resultados dos estudos realizados em co-relação (EPR), no laboratório do neurocientista Jacobo Grinberg-Zylberbaum e dos seus colaboradores2 e também nas saídas voluntárias controladas para fora do corpo, conhecidas vulgarmente como “viagens astrais”, estuda-
Segundo a Teoria da Relatividade de Einstein, nada pode andar mais depressa que a luz. Einstein propôs uma experiência com dois outros cientistas, Podolsky e Rosen para comprovar o fenómeno da realidade materialista, que representa a Localidade. Apresentou então um ensaio em que dois fotões co-relacionados (que estivessem juntos algum tempo) fossem emitidos com spin (movimento giratório do próprio fotão) em sentidos opostos. A certa altura um dos spins teria de ser mudado. O que com isto se verificou foi que naquele preciso momento o outro fotão também alterou o seu spin sem qualquer troca de sinais entre ambos, o que constitui um fenómeno chamado não-Local. Esta experiência foi repetida com duas pessoas mais tarde, que meditaram em conjunto e foram depois separadas e metidas em gaiolas de Faradey, onde nenhum sinal eléctrico-magnético pode entrar ou sair. Emitiram-se flashes de luz para aumentar o potencial de ondas cerebrais sobre um deles, sem que o outro soubesse, verificou-se que nesse preciso momento no outro paciente também se detectou um aumento do potencial das suas ondas cerebrais apesar de estar noutro local a poucos kms de distância. Isto prova a existência do paradigma da Não-Localidade, onde os fenómenos são instantâneos e portanto, muito mais velozes que a velocidade da Luz. 2
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das em laboratórios de neurociência de várias universidades, a nível mundial. As religiões de raiz bíblica deveriam ser, por obrigação, o veículo de união, solidariedade, fraternidade e tolerância, e não grupos radicais de combate entre as mesmas, criando a incompreensão, conflitos, temor, ódios, agressões e guerras constantes, como temos visto a acontecer na realidade ao longo dos tempos, em países onde as três religiões têm co-existido, apesar de todas elas terem à partida, a mesma raiz bíblica. Assim, o que nos parece óbvio é que todas as religiões incluindo as de origem bíblica, não passam de mitos, porque todas surgiram na humanidade como fruto do medo e da ignorância dos homens, que na ânsia de se defenderem dos males do mundo, procuraram criar meios de defesa, recorrendo intuitivamente a forças desconhecidas como espíritos, rituais mágicos, deuses imaginários, astros como o Sol, que os protegessem, explicando-se desta maneira o aparecimento de tantas e de tão diversas religiões neste mundo como meio para apaziguar e afastar os males e os medos da vida dos povos, relacionados com as superstições e crenças culturais de cada povo. É assim que surge na humanidade a tendência do homem para a procura de algo superior a si próprio que o proteja do mal, a ideia de um Deus a quem pudesse recorrer. Nasce assim o “teo-tropismo”, a tendência do Homem na procura de Deus. Criaram-se idolatrias apropriadas, muitas das quais com figuras representativas de deuses imaginários, seres demoníacos, animais ou seres meio homens e meio animais alguns vistos como sagrados ou então idolatrias em que se adoravam os astros que influenciavam o meio ambiente, como o Sol e a Lua, ou os vários fenómenos da natureza, perante os quais os homens primitivos 21
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nada sabiam – nem como agir nem como explicar as suas causas, e contra os quais nada podiam fazer. Nesses tempos remotos, quando os homens e mulheres, começaram a interrogar-se sobre todos estes acontecimentos naturais que se desenrolavam à sua volta, a ideia do mundo era ainda muito primitiva e diferente do que é hoje em dia. A observação dos fenómenos da natureza levou-os a perceberem que alguns deles eram seguros e regulares, como o dia e noite, as fases da Lua, as estações do ano, o movimento solar, a posição das estrelas no céu, enquanto outros eram arbitrários, repentinos, como terramotos, tempestades, erupções vulcânicas, etc. Como não sabiam explicar nem compreendê-los como organização própria da natureza, começaram a interpretá-los como fenómenos de causas temperamentais, de forças poderosas, e a atribuí-los a espíritos poderosos por vezes irados e a quem era preciso acalmar por meio de sacrifícios. Desta forma nasceu o culto pelo espírito da mãe Terra, do espírito do Fogo, das florestas, dos rios, das montanhas e por aí adiante. Em algumas sociedades, estas «forças desconhecidas» transformaram-se com o tempo em verdadeiras personalidades divinas, e as pessoas intuíram na existência de espíritos e deuses por de trás desses acontecimentos que influenciavam o meio ambiente, criando-se assim verdadeiras hierarquias mitológicas, dentro de um estilo e de um conceito de tipo imperial, semelhante ao conceito representativo e organizativo dos seus próprios povos: com um rei e uma organização dinástica de ordem social, constituída e estabelecida seguindo por modelo a dos seus povos. O poder desses deuses era levado muito a sério, chegando a ser a maior força sociológica dentro das respectivas comunidades; como consequência, foram surgindo, como se pode calcular, 22
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os intermediários e especialistas nas relações entre essas forças divinas e o povo. Surgiram primeiro os feiticeiros nas sociedades mais primitivas e tribais e nas mais evoluídas, surge toda uma classe sacerdotal, a mais sabida, oportunista e poderosa logo a seguir a uma classe de reis muitos com poderes divinos, seguida de outras classes de acordo com a sua riqueza e poder, em hierarquia social. Mas em algumas sociedades, como por exemplo a Hindu, onde as castas constituem a estrutura principal da sociedade, estabelecida pela lei de Manu, o «Adão» dos hindus, a classe sacerdotal dos Brâmanes, chega a ter uma posição mais elevada que as dos próprios reis (Xatrias). Também no Ocidente, as classes sociais foram divididas na Idade Média, logo a seguir ao rei, em clero, nobreza e povo. No extremo Oriente, porém, e principalmente nas sociedades sob influência da cultura Chinesa e Japonesa, o grande desejo dos seus ancestrais traduziu-se numa filosofia diferente, de harmonia e acção do Homem fazendo parte integrante da Natureza. Este conceito do Homem ser reconhecido como parte integrante da Natureza teve origem nas experiências vividas por esses povos e no consequente sofrimento, harmonia e bem estar por eles vividos em tempos remotos. Perceberam a necessidade do Homem em ser integrado como parte activa da natureza que age sobre o ambiente, conceito que só nos meados do século XX foi interiorizado e assimilado pelos ocidentais, após aperceberem-se dos malefícios do aquecimento global causado por uma industrialização desenfreada, conduzida pelo apego à riqueza e à ganância de um lucro fácil. Os filósofos chineses, muitos anos antes da era cristã, intuíram na conveniência de uma boa relação entre o Homem e a 23
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Natureza, guiados pela filosofia de Confúcio e do Taoismo de Lao Tzé. Começaram a estudar essa relação com o mundo Cósmico, aprendendo e procurando interpretar os seus fenómenos, as suas causas e as consequências daí resultantes. «É a chamada sabedoria oriental, de natureza introspectiva e intuitiva». Por sua vez, no Ocidente, a Tora, a Bíblia e o Al Corão, livros sagrados de Judeus e Cristãos e Muçulmanos na sua infantil e ingénua interpretação como sendo de sabedoria sagrada, afirmam no «Génese» que a Humanidade tem apenas cerca de 6000 anos e que «Deus» criou o Homem à sua imagem e semelhança a partir do barro (esse homem foi Adão, que teve por sua companheira Eva, criada a partir de uma das suas costelas e «Deus» pô-los no Paraíso de onde podiam comer todos os frutos excepto de duas árvores, a da Vida e a do Conhecimento, o que resultou numa tragédia para toda a Humanidade, do ponto de vista bíblico. Todavia, interrogamo-nos – se “Deus” não queria que eles provassem dessas árvores, por que razão foi pô-las lá e ainda por cima, mostrar-lhes o local exacto onde elas ficavam? Não foi «Deus» quem deu o dom da curiosidade ao Homem? Então o que podia o «Deus» omnisciente esperar que o homem fizesse com essa sua qualidade? Não saberia logo o que iria acontecer? Devemos considerar, biblicamente, que a culpa foi de Adão? Ou teria sido do próprio «Deus» do Antigo Testamento (AT) Tora, Bíblia, que o fez intencionalmente e deliberadamente? Será que não previu as consequências do seu acto, apesar de ‘Omnisciente’? Parece-nos que, para além de uma perversa «provocação divina», foi também um impiedoso castigo para toda a Humanidade ao longo dos séculos até aos dias de hoje, desde o início da sua existência, com «consequências bíblicas bem trágicas, que 24
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O MITO DAS RELIGIÕES – REFLEXÕES
ainda hoje estamos a sofrer sem qualquer culpa», o que é de difícil compreensão e aceitação para o Homem moderno do século XXI. A ideia de que um “Deus” se tenha vingado tomando uma atitude tão dura, perversa e injusta contra uma Humanidade primitiva, desprotegida, desamparada e ignorante, quando comparada com a de hoje, do século XXI, muito mais evoluída e sofisticada, mostra-se como uma ideia completamente absurda. É como castigar uma criancinha de tenra idade por toda a vida por um simples pecado inocente de curiosidade! Será este o tipo de amor que «Deus» dedica ao Homem, obra da sua Criação? Outra! Se «Deus» foi quem criou a Humanidade a partir de Adão e Eva, como é que Caim, depois de assassinar o seu irmão Abel, e se não existia mais ninguém na Terra além de Adão, Eva e Caim, pôde ter uma prole? Das duas uma: ou foi por incesto com a própria mãe e então a Bíblia torna-se numa fonte de imoralidade e de pecado pelos padrões morais do cristianismo em geral e do Catolicismo em particular (até porque existe reincidência do acto em Lot, sobrinho querido de Abrão, que violou as suas duas filhas depois de ser embebedado por elas, como consta no livro do Génesis, 19:30:38) ou, se Caim não teve filhos de Eva, então é porque já existia mais gente na Terra! Mas, nesse caso, de onde vieram e quem os teria lá posto? Um outro Deus ou deuses? (Tudo isto parece-nos uma enorme trapalhada bíblica!) Assim, pensamos precisamente o contrário; que foi o Homem quem inventou “Deus”, através da sua imaginação e do seu egocentrismo, considerando-se a figura principal da Criação e do Universo, reflectindo na sua ideia de Deus a sua própria imagem, dando-lhe um conceito e dimensão antropomórficos, como consta da Bíblia, criando a ideia de um “Deus” personalizado, exterior, 25
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ANTÓNIO GRAÇA MIRANDA
que interfere na vida humana como um “Deus” justiceiro que lhe provoca temor e impõe castigos, criando-lhe regras de conduta e de vivência duras na condição de ser humano vivente na Terra, para que se acautele com a sua própria sobrevivência. Não existe neste Deus qualquer espécie de amor manifesto à humanidade; existe apenas temor que Deus se preocupa em impor e recordar constantemente como imposição rígida à Humanidade no cumprimento da sua lei, quer no Antigo Testamento como no Al Corão. Por outro lado, a Teologia Católica tem a pretensão de querer estudar o «Deus exterior» do Antigo Testamento dentro do conceito religioso. Poderá alguém fazê-lo? Eventualmente poderá, quando muito, estudar o «Sagrado», que é a parte divina do Homem relacionada com a Consciência, na sua integralidade e fenomenologia. Mas «Deus»? Parece-nos impossível de ser estudado teologicamente por alguém, pois nem se quer a ideia cabe no conceito religioso que as religiões bíblicas lhe querem dar, porque não existe uma base lógica de sustentação partindo da própria definição religiosa do conceito de “Deus”, como se demonstra pela prova do absurdo! Começamos logo com a discórdia entre as três Religiões, sobre a essência de Deus. Para as religiões Judaica e Islâmica Deus é Uno. Para a Cristã, Deus é Trino (ou Trio): são três pessoas numa só! Se «Deus», como as religiões bíblicas pretendem, é uma entidade exterior, omnipotente, omnipresente, omnisciente, etc., então a sua obra (O Universo) tem de estar omnicompleto. Porque é uma «Criação» e porque, por definição o que é criado está completo, é obra finalizada. Portanto, algo Criado por «Deus»,
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