Ser ilhéu é sentir a casa azul. Ser ilhéu é ver um torrão, Como se vê um irmão. Ser ilhéu é ver o horizonte, Como se fosse uma fonte. Ser ilhéu é estar deitado, E ver o céu estrelado, Como quando Pela primeira vez nos foi dado. Ser ilhéu é sair fora do mundo, É sonhar, É bater asas, É poder rasgar o céu.
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MARCELINA AURÉLIA BAPTISTA PEREIRA está reformada, nasceu na Ilha da Madeira em Câmara de Lobos, em 1927/06/02, formou-se em Educação Física pelo antigo INEF/ISEF, nunca perdendo o amor pelas Letras. Escreve desde sempre, mas só agora publica o seu livro de Poesia.
Os meus vividos versos
Ser ilhéu é ter o mar permanente, Por dentro de toda a mente.
MARCELINA AURÉLIA BAPTISTA PEREIRA
SER ILHÉU
Os meus vividos versos MARCELINA AURÉLIA BAPTISTA PEREIRA
Os meus Vividos Versos
FICHA TÉCNICA Edição: Maria Clara Madeira Título: Os Meus Vividos Versos Autor: Marcelina Aurélia Baptista Pereira Capa: Quinta de S. João, Câmara de Lobos Casa onde a autora nasceu e cresceu (hoje, casa de turismo rural) Revisão, Capa, Paginação: Paulo Silva Resende 1.ª EDIÇÃO LISBOA, 2011 Impressão e Acabamento: Publidisa ISBN: 978-989-20-2187-4 Depósito Legal: 318620/10 © Marcelina Aurélia Baptista Pereira Publicação e Comercialização Sítio do Livro, Lda. Lg. Machado de Assis, lote 2, porta C — 1700-116 Lisboa www.sitiodolivro.pt
Os meus Vividos Versos MARCELINA AURÉLIA BAPTISTA PEREIRA
Aos meus pais.
A CRIAÇÃO POÉTICA | 9
Dou-te versos, Que é o que eu sei escrever, Mal ou bem, Pouco importa. O que importa é dizer, Em meus versos, O que ainda está por dizer. Tanto grito, Tanto risco, De eu já não ter tempo P’ra escrever! Se assim for… Fica muito por dizer.
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Escrevo como sou e como sei, E nem sequer sei o que sou inteiramente! Dou mil voltas para dar por mim, E às vezes não sei onde estou presente. 6 de Janeiro de 1989
A CRIAÇÃO POÉTICA | 11
O poeta nunca escreve Toda a sua poesia. Parte às vezes, tão de breve, Já não é ele que está ao leme. (o barco ficou no porto ou na baía) Depois de ancorado, Perde toda a sua protecção. Envelhecido e encalhado, As velas de miocárdio Secam com o vento suão. Que poema escreveria O poeta já desabitado, Se soubesse que partia, Deixando o barco encalhado? (a David Mourão Ferreira)
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Tão docemente um verso a cair das tuas mãos, Como uma flor que a brisa rouba aos dedos. Fizeste-o para cair num coração de meninos infelizes e com medos. Lembraste-te deles e eles esperam que o verso seja o verso Da mãe que não tiveram. Deixa cair o verso, Que hão-de colher o verso, Os que versos na vida não tiveram.
A ETERNA MENINICE | 13
A ETERNA MENINICE
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Dias caiados, felizes. A criança brinca e ri. E, às vezes, até está rindo, P`ro mundo que não sorri. Passam os anos, Porque o tempo não é lento. E a criança que sorriu, Vê depois muito tormento. Foi uma que perdeu a mãe E não sabia chorar. Depois ela pensou bem, Ninguém a soube ocupar. Dias caiados felizes. Às vezes uma criança ri, Rodeada de carência.
A ETERNA MENINICE | 15
Era uma vez um menino Loiro e rosado. Cada passinho que dava Era um mundo começado. Era uma vez um menino Que nasceu esperto. Menino, menino, Explora o deserto! A vida é tão vasta Tu tens que ganhar. Aposta, não basta Um simples sonhar! Menino, menino, Quem te ama sente! Menino, menino, Não andes descrente!
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Não te deixes entristecer. Prende-te aos ramos floridos Que há nos braços das crianças, Às flores de Maio do seu sorriso, Às suas palavras francas. Não chores por teres crescido. Nunca esqueças que és criança, Que podes sempre brincar, Que a tua cabeça branca Tem a prata do luar. Que os teus olhos são fontes, Que nunca podem secar, Se tu soltares um sorriso, Sobre a hora de chorar. Não te deixes entristecer. Canta! Assim te espera o ar que passa. Canta para o encher, Canta!
A ETERNA MENINICE | 17
Que o menino seja o que ele quiser, Que depois de herdado seja o dono dos seus haveres. Que o seu tutor seja o primeiro conservador Desses preciosos bens, Que hão-de luzir P`lo mundo inteiro. A mão tem que ser branda E a palavra doce. Que a áspera nunca seja faca, Que lhe corte o coração, Que lhe encha de lágrimas a cristalina taça.
18 | MARCELINA AURÉLIA BAPTISTA PEREIRA
Está um barco no cais. As vigias são olhos fartos de água e horizontes, E os meus, de espanto, São perguntas abertas como fontes.
A NATUREZA DA VIDA | 19
A NATUREZA DA VIDA
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Acordei. Corri a gelosia. Chove. O asfalto parece o pêlo preto e macio de um cão de raça pura, cão que me entristece. Os automóveis circulam uns atrás dos outros à distância de um palmo entre si. Excesso de comodismo ou falta de transportes alternativos. Tudo está mal aqui. Até a chuva no dia em que o manga de alpaca está doente e nem sequer Tem um guarda-chuva.
A NATUREZA DA VIDA | 21
Ai as rosas do meu jardim! Cantar-te em versos… Ser feliz, enfim. A cameleira, junto ao pocinho tão redondinho… Ai flores! Ai flores! Ai as borboletas brancas, Com suas danças, E as estrelícias, Como as minhas tranças! Ai flores! Ai flores! Os amores-perfeitos, De tantas cores… Cetim e veludo, Carmesim e malva, Amarelo e roxo, Gazear de pétalas, Ali inquietas.
22 | MARCELINA AURÉLIA BAPTISTA PEREIRA
Ai flores! Ai flores! Meu espaventar, Ainda a brincar… Já era poeta.
A NATUREZA DA VIDA | 23
Num dia de calor abrasador, Com um sol cego e tresmalhado, Os pássaros foram caindo Sobre um chão tão magoado. Foram caindo, caindo, Como folhagem sem eco, Sem preferência de ritmo, Com intervalos incertos. O céu ficou desolado, O céu perdeu a alegria, O céu ficou depenado. 26 de Janeiro de 1997
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Passam empurradas pelo vento as aves, Emigrando suas asas para outros montes. Deixam no céu traços imensos, Que se cravam nos meus olhos pardacentos. Como um livro que estivesse lendo, Roubando meus olhos à leitura, Leio esse livro imenso, Que é uma ave que o céu procura.
A NATUREZA DA VIDA | 25
Vinha não sei de onde, Vinha não sei porquê. Estava cansada. Sentou-se a meu lado, Estranhei um bocado. Rompeu o silêncio E disse-me quem era, Que era o amor irmão de uma hera. Parecia-se com os bosques, Abetos e tojos, As luas formosas, Torgas, alecrim, A boca das rosas. Pôs as mãos ungidas, Parecia uma tulipa, E quando me olhou, Quase me trespassou.
26 | MARCELINA AURÉLIA BAPTISTA PEREIRA
Vinha de muito longe, Com um peixe na mão, Que apanhara solto, Sem água nem pão. E ali vivia das suas águas, Era o seu único amor, Entre tantas fráguas.
EVASテグ | 27
EVASテグ
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Ai quem me dera ter a ventura do vento, Oscilar no ar o meu tormento de alma, Ir a todos os encontros inesperados, Ver os oásis dos desertos abandonados E compreender o calor que sufoca. Ver os dromedários assustados, por verem numa mulher a solidão. Ai quem me dera que o meu coração fosse uma asa sem aflição. Ai, quem me dera que uma nuvem fosse um barco, Para eu fazer uma viagem de circum-navegação. Ai, tanta nuvem desperdiçada pela poluição. Ai, quem me dera que o meu sonho, Tão vigoroso em mim, Fosse uma gaivota, Que só põe os pés no chão para comer.
EVASテグ | 29
Ai, quem me dera conhecer o poeta, Que anda com uma pena na mテ」o, Por tanto saber sofrer. Ai, quem me dera encher uma raiz E poder fazテェ-la feliz.
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PARA ME ENCONTRAR | 31
PARA ME ENCONTRAR
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A infância, a adolescência, a idade madura, Onde estão, p’ra onde foram? Deitei-me à sua procura, Deixei rugas na calçada. Para encontrar todas, Para ficar aliviada, Rompi tanto nevoeiro, Rompi sombra. Eu andei p’lo mundo inteiro Não vi nada! Era aqui dentro de mim Era aqui sua morada. 18 de Abril de 1995
PARA ME ENCONTRAR | 33
Ai, como é bom viver, Para ver o comboio correr. Ai, como é bom viver, E sentir que tudo é pátria. O torrão do chão, O homem que faz o pão, O que não usa gravata, (cumprimento o diplomata) E toda a alimentação, Das tripas ao coração. Tudo isto é pátria, Tudo isto é pátria! Ai como é bom viver! Lisboa, 5 de Dezembro de 1988
34 | MARCELINA AURร LIA BAPTISTA PEREIRA
Ai, como tenho saudades de mim! Ai, como me perdi do meu passado! Onde estou? De onde vim? Para onde irei? Ai, como tenho saudades de mim! Ai, como queria rir um bocado! Onde comeรงou o meu caminho Para eu seguir o rasto do meu passado!... 12 de Fevereiro de 1989
PARA ME ENCONTRAR | 35
Ainda espero que alguém me leia um dia, Alguém igual a mim, Triste e alegre ao mesmo tempo, Alguém que tenha visto a flor de cada dia Subir ao céu. Alguém, alguém, Que tenha esperado como eu, Que lhe leiam tão somente os olhos, Frente a frente, frente a frente… 5 de Maio de 1997
36 | MARCELINA AURÉLIA BAPTISTA PEREIRA
Apetece-me o mar, Um mar branco como a memória antes do primeiro amor. Queria ir pelo mar fora E ficar à espera Que um barco pequenino passasse perto de mim e dissesse: “Estou sozinho.” Então eu saltaria para o barquinho E, com delicadeza, perguntar-lhe-ia “Porque andas sozinho?” E se ele me dissesse que era branco como a memória antes do primeiro amor, Eu diria ao barquinho: “Pega na minha mão, porque eu tenho tudo o que tu precisas, para não andares sozinho.”
PARA ME ENCONTRAR | 37
Era o fogo da estrada que queimava, Era o fogo da planície que gritava, Era a fome do sobreiro que bradava, Era a beleza da planície que escaldava. Era a nuvem sem nuvem que ali estava, Era a flutuação sem cores que passava, Era o céu esticado que secava, Era a alma a tremer que galopava. Era Espanca que cheirava o alecrim, Era a música do silêncio que tocava, Era o destino que caía sobre mim, Era a planície que eu amava.
38 | MARCELINA AURÉLIA BAPTISTA PEREIRA
Minha mãe para me poupar a vida, Não parava de me castigar. Quando eu subia às árvores, Eu pensava: “é para eu não descobrir o que está para além do mar.” E fui crescendo sempre entre aventuras e castigos, Guardando ainda hoje as minhas taças de vencedora – os arranhões. Onde fui procurar agora todas estas recordações? Lisboa, tantos de tal, o que mudou afinal?
PARA ME ENCONTRAR | 39
Morrerei a escrever E a gritar a minha dor. Dor que, como lastro, Me consome, Deixando feridas No seu rastro. Sem saber o que fazer da minha dor, No queixar-me no talo de outra dor, Nos dois talos a dor foi bem menor. Ficou provado que ainda havia amor. Junho de 1997
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Na movediça mocidade Ardia intensamente. Descobria sempre um búzio junto ao mar, Que o mar trazia bem de longe Para alguém o apanhar. E subia a um promontório, Como subiria a um monte, Para te ver defronte. E ficava a assobiar o búzio, Ouvindo a voz do mar como uma fonte.
PARA ME ENCONTRAR | 41
Não me gabo, nem me queixo, Nem deixo a vida morrer. Aquele que está parado, Não pode dar um parecer. A vida corre tão certa, É o maior rio do mapa. Corre também a pensar Num verso, d`oiro ou de prata. Fevereiro de 1992
42 | MARCELINA AURÉLIA BAPTISTA PEREIRA
Neste mundo que não é o meu (Porque queria viver num mundo sem mal) Em vez de um mundo de doçura, Há sempre o temor de encontrar Uma travessia escura, Um copo de vinho azedo no final.
PARA ME ENCONTRAR | 43
Nove horas da manhã, Todo o céu cinzento, difuso. A luz da minha sala Atravessa a vidraça E põe-se lá no céu, Como se fosse lua. Posta assim tão distante, Esta mesma luz É um acervo místico que me arrebata. Subo pelo céu adiante. Suprema surpresa para mim, Ver o meu candeeiro tão distante. Fixo os olhos neste fenómeno lunar. Apago e acendo a luz Para não ter dúvidas Que às nove da manhã, Numa manhã sem luz, Como o peso do basalto, A luz do meu candeeiro É vista lá no alto.
44 | MARCELINA AURÉLIA BAPTISTA PEREIRA
Para onde ir não sei, Ou sei mas não posso ir. A vontade não me falta, Falta a força para partir. A gazela muito corre, E já me chamaram gazela. Batia o recorde nas pistas E nas regatas à vela. Nesse tempo de abundância, Eu vencia qualquer pista. Até estive na Grécia, Numa Grécia já não vista. 15 de Julho de 1997
PARA ME ENCONTRAR | 45
Quantas vezes, me lembro de ti, sensibilizada! Talvez, Como Quando Um velho colhe um fruto, Proveniente da sua pr贸pria enxada.
46 | MARCELINA AURÉLIA BAPTISTA PEREIRA
Rio que corres para o mar, Ouve a minha voz! Diz ao mar que nunca o vi, Senão na semelhança que há em mim, De tanto mar de mágoas, De tantas rotas à procura de um porto de abrigo, De tanto desejo de abraçar e de chegar, De tanta ânsia de conhecer o mundo, Onde vive o desconhecido. Diz-lhe que queria ver A lua, as estrelas, A bordo de um navio, Apanhar corais com um assobio! Diz-lhe que tenho um mar imenso, Para lhe dar, E que só assim posso libertar a evasão sufocada, Ainda por voar.
PARA ME ENCONTRAR | 47
Todas as horas que vivi Fazem parte de um tempo merecido. Andei sobre um cavalo louco E de tudo me esqueci. ร desgrenhados cabelos ao vento, Ainda hรก tanto vento Dentro de mim.
48 | MARCELINA AURÉLIA BAPTISTA PEREIRA
Todo o meu bem, todo o meu mal, A minha sina Foi abrir os meus braços como velas. Assim todos foram sabendo Que eu queria partir com elas. Invejaram o meu sonho, A minha temeridade, Mas eu fui nauta, fui tudo, Contra toda a tempestade. Morri e ressuscitei, Alguém me trouxe para terra, Foi um homem, foi um rei, Magalhães da minha terra.
PARA ME ENCONTRAR | 49
Varejado pelo vento seco e frio, Queria esquecer o tormento Da condição de pária, Perdido pelo mato dentro. Ouviu os uivos dos lobos, Mas não teve nenhum medo, Conhecia o homem fera, Que o levara ao degredo. Viu uma orada, sorriu, Tropeçando lá chegou, E, quando a porta se abriu, Foi um lobo que chorou.
50 | MARCELINA AURÉLIA BAPTISTA PEREIRA
Venha! Que venha a memória completa Do mar que vi na minha infância. Venha! Que venha, Com a sua material e imaterial riqueza, O assombro da sua imensidão, A sua etérea beleza E a força da sua exaltação. Venha! Que venha com todos os barcos que eu via, Alagados e longínquos, Que para os tocar eu saltava, Os meus olhos maravilhados e aflitos. Venha! Que venha toda a memória da minha infância Juntar-se à segunda que ainda tem A alegria de recordar uma criança. 10 de Setembro de 1995
PARA ME ENCONTRAR | 51
Venho do mar, De ondas, Cavalos, E crinas, De búzios, De rotas traçadas, Por povos de outros mundos. Venho e vou para o mar. Também tenho as minhas rotas P’ra traçar. Seja como for, O que me leva é a vontade de novas descobertas.
52 | MARCELINA AURÉLIA BAPTISTA PEREIRA
PENSAMENTOS DISPERSOS | 53
PENSAMENTOS DISPERSOS
54 | MARCELINA AURÉLIA BAPTISTA PEREIRA
A espreitar por um postigo De tábuas velhas e toscas Está a meditar O rosto é tosco Menos o olhar Saber o que pensa Era um mal pensar Quem sabe o que pensa Um velho olhar?
PENSAMENTOS DISPERSOS | 55
A minha presenรงa Suspensa Como uma flor seca Num velho e arruinado muro.
56 | MARCELINA AURÉLIA BAPTISTA PEREIRA
A vida o que é? Para uns é um sonho permanente E para os que não sonham Não há dia nem noite. Todas as horas são iguais, simplesmente. 13 de Abril de 1991
PENSAMENTOS DISPERSOS | 57
Abri as mãos, Estavam presas E até as julgava vazias, Mas abri-as para as dar Àquele que mais sofria. Dei as mãos, E dentro das quatro mãos, O meu coração batia.
58 | MARCELINA AURÉLIA BAPTISTA PEREIRA
Amália Portugal obteve um prémio, Que não deixou escapar. Portugal é um mistério, Na tua voz invulgar. Amália És condoeira! Voaste pelo mundo todo. Voaste de Portugal, Foste parar a Moscovo. Amália O povo da nossa terra Pode não saber ler. Ai como fico encrespada, Ao vê-lo p`ra ti correr.
PENSAMENTOS DISPERSOS | 59
Amália É ele que mais te admira, Quem te reza uma oração, Ajoelha sobre a terra Angelus… contemplação.
60 | MARCELINA AURÉLIA BAPTISTA PEREIRA
Aproximo-me da terra, Para deitar o corpo no chão. Nem banco, Nem cadeira, Nem colchão. O melhor é ficar rente à terra, A ouvir bater seu coração. 25 de Junho de 1989
PENSAMENTOS DISPERSOS | 61
Aqueles que se amam muito mal E amam os outros muito bem, Um dia h達o-de lembrar O amor de sua m達e.
62 | MARCELINA AURÉLIA BAPTISTA PEREIRA
As forças que Deus te deu, Deu-tas para lutar. Hoje és uma árvore tão grande, Que não cabe num pomar.
PENSAMENTOS DISPERSOS | 63
As nossas alegrias, Nem sempre temos p’ra dar. Às vezes tão diminutas, Como eclipse do luar.
64 | MARCELINA AURÉLIA BAPTISTA PEREIRA
Até os Santos se revoltam De ser Sísifos a vida inteira. Foram perdendo lentamente as mãos, Que se tornaram toscas e grosseiras. Rezei por eles em todas as capelas, Fiz-lhes um círculo à volta, Para que a morte não entrasse, Antes de serem revolta. Dei-lhes a faca que voasse, Para matar o mundo cruel à sua volta.