PÁGINA DO LEITOR
FICHA TÉCNICA EDIÇÃO:
Vírgula Página do Leitor AUTOR: José Alberto Silva dos Santos TÍTULO:
PAGINAÇÃO: CAPA:
Paulo S. Resende 3DWUtFLD $QGUDGH
1.ª EDIÇÃO Lisboa, )HYHUHLUR 2013 IMPRESSÃO E ACABAMENTO: ISBN:
Publidisa
978-989-8413-80-2 353561/13
DEPÓSITO LEGAL:
© JOSÉ ALBERTO SILVA
DOS
SANTOS
PUBLICAÇÃO E COMERCIALIZAÇÃO
Sítio do Livro, Lda. Av. de Roma n.º 11 – 1.º dt | 1000-261 Lisboa www.sitiodolivro.pt
José Alberto Silva dos Santos
PÁGINA DO LEITOR
Página do Leitor
Boa tarde estimados senhores. Envio em anexo um ficheiro, em formato Microsoft Word, contendo um artigo de opinião, pretendendo que o mesmo seja uma contribuição, modesta, para a vossa página do leitor. Simples artigo de opinião e de reflexão que mais não é do que um olhar sobre os outros. Às vezes sobre nós mesmos. Este artigo, baseado também naquilo que oiço, vejo, leio e sinto, durante o trajecto casa – trabalho – casa, diariamente ao atravessar a Ponte 25 de Abril, mais não é do que uma simples opinião pessoal sobre a sociedade que nos rodeia. Às vezes é reflexões e pensamentos que nos atravessam na actualidade. Como de habitual mesmo que não seja editado vale, pelo menos, a pena lê-lo. Mais do que não seja para nos obrigar a pensar. Obrigado. Bem hajam. Cumprimentos.
Durante dois anos foi, com toda esta ladainha acima referenciada que enviei artigos pessoais para vários órgãos de comunicação social escrita cá do nosso burgo à beira-mar plantado. Era só para ser durante um ano mas azelhices pessoais com os computadores levaram-me a “penar” mais um ano. Diariamente, ou quando isso era possível, escrevia curtos textos, simples, pessoais, comentando política, literatura, desporto, humanismo, sexo, artistas, justiça, amor, pessoas, e eu sei lá mais o quê. Ah! Sim, também falei de viagens. E de malandragens. De tudo um pouco como uma verdadeira salada russa regada com vinho do Porto que faria as delícias de qualquer humorista cá do nosso burgo. E não só. Por e-mail, (é um espectáculo o que nós enviamos e recebemos via e-mail, não é?), por e-mail, dizia eu, pegava no dito texto e pimba que lá vai disto. Vai de chatear, com as minhas prosas pessoais, as pessoas que estavam do outro lado de lá nas redacções dos jornais e revistas. Estavam as pessoas a trabalhar e muito bem, no seu cantinho, e de repente “azar dos Távoras”: caía, nas suas mãos, a minha prosa. 7
José Alberto Silva dos Santos
Escusado será dizer que todos os meus textos eram sempre “enormes” e que por questões de espaço de edição, dos jornais e revistas, tinham sempre de levar umas tesouradas para caberem lá dento do dito espaço. Também escusado será dizer que não consegui dizer, escrever e falar de tudo o que ouvi, falei e senti. Como é óbvio. Algumas coisas ficam omitidas por respeito a todos aqueles que faziam a viagem comigo. E olhem que não eram tão poucos como isso. Claro que todos os critérios, sobre os ditos cortes à tesoura, me escapam. Mas isso é contas de outro rosário para os quais não quero ser tido e achado. Todos os textos são opiniões e escolhas pessoais pelo que são limitados em termos de intelectualidade. É. Todos nós temos limites. Um dia vocês também vão descobrir isso. Por fim, para preparar o fim desta introdução, queria vos dizer que todos os textos que eram enviados, por via e-mail, para as redacções dos órgãos de comunicação social escrita, tinham uma data e um título. A data era a data em que os mesmos eram elaborados. Por vezes a data de envio do referido artigo para as redacções. O título do artigo era aleatório. Tinha quase sempre que ver com o sujeito e o predicado do referido artigo. Depois dividi os artigos em 12 capítulos. A cada capítulo atribui-lhe o nome de cada um dos meses que compõem um ano. Janeiro, Fevereiro, Março e até Dezembro. 12 Meses. 12 Capítulos. Não sei se este livro vai ser publicado assim mas, para que saibam, foi assim que eu construí estas folhas que aqui vos deixo à vossa crítica e consideração. Afinal a melhor crítica ainda é você amigo leitor. Nestes artigos todos creio ter tentado mostrar vários elos de ligação entre pessoas diferentes. Elos esses traduzidos na tentativa de traduzir o amor e o ódio, a guerra e a paz, a amizade e a inimizade, enfim coisas importantes da vida. Por vezes até a própria vida em si. Á data em que escrevo esta introdução ainda este livro não saiu da gaveta. O que equivale a dizer que o dito cujo ainda nem sequer viu a luz do Sol. Assim sendo partilho, ingenuamente, com você amigo leitor, todas as minhas análises, criticas, pensamentos, ideias, momentos bons, momentos nem por isso, e sobretudo sentimentos que passei para o papel ao longo destes dois anos. Os textos, penso eu, serão editados na íntegra. Sem tesouradas. 8
Página do Leitor
Escrevi-os, não porque me julgue ou sinta melhor ou mais importante que você amigo leitor. Não. Nem para merecer ser um exemplo do que quer que seja ou de quem quer que seja. Não. Aliás não sou melhor nem pior de quem quer que seja. Sou eu e pronto. Li, pensei e escrevei todos estes textos por auto recriação sem que fosse mandatado para tal. Escrevi-os e submeti-os a julgamento da melhor crítica de todo o mundo: você, amigo leitor. Sem receber dinheiro ou riquezas materiais para tal facto. A prová -lo está o facto de todos eles serem enviados para a chamada Página do Leitor de cada um dos jornais e revistas para os quais os mesmos foram enviados. Hoje, passados dois anos de reflexões, de pensamentos, de críticas, elogios, ideias, citações, actos, palavras, gestos, amor, morte, ódio, vida… leva-me, por fim, a reflectir sobre o maior enigma da Humanidade: – Quem somos nós afinal? – De onde viemos? – Para onde vamos? P.S.
No fim do livro dedicarei um espaço a agradecer a ajuda a todos aqueles que, de uma maneira ou de outra, me ajudaram a tornar possível este livro e que o mesmo chegasse a ver a luz do Sol.
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NOVEMBRO 2006
José Alberto Silva dos Santos
2006-11-22
A PONTE Oito horas e dez minutos da manhã. O comboio inicia o seu trajecto. Entra na ponte. Devolve uma vez mais as pessoas aos seus locais de trabalho. Algumas dessas pessoas, sentadas a encostadas à janela do comboio, lançam um olhar ao rio. Outras, de olhos bem fechados, acabam os sonhos que a noite não ajudou a terminar. Outras ainda as há que se perdem no tempo e no espaço da leitura de um livro. Um hábito saudável e que se vai enraizando aos poucos na nossa sociedade. Mas poucas, mesmo muito poucas pessoas, trocam palavras e ideias entre si. Quase que há uma abstinência para o diálogo. Será porque terão sono? Será porque são desconhecidos? Será que já partem cansadas para mais um dia de trabalho? Será que a desmotivação é geral? Será que a convivência entre as pessoas só é deliciosa quando existem largos momentos de silêncio entre elas? Estamos nós assim tão cansados que chegamos a um ponto em que o diálogo deu lugar a um monólogo? Será que já não podemos dizer que não concordamos? Que pensamos de uma outra maneira? Que temos outra maneira de olhar o mundo? Mesmo que seja de uma maneira que não seja a mais convencional? Será, como diz o outro, que a crise deste país não é do pelouro financeiro mas sim do pelouro humano? E se for de pessoas não será esta crise uma crise do fórum agrícola? Em que há uma enorme abundância de nabos e uma escassez terrível de tomates.
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Página do Leitor
2006-11-23
A PONTE Ao entrar no túnel o comboio esconde um dia que não se vê. Mas que se sente. Basta olhar para a enorme massa humana que dentro dele transita. Basta olhar para as suas expressões faciais para não haver margem de erro ao dizermos que as pessoas já partem cansadas, desmotivadas e porque não derrotadas à partida para mais um dia de trabalho. Quer queiramos quer não as condições climatéricas influenciam e de que maneira o estado emocional das pessoas. Um dia de Inverno, rigoroso, predispõe as pessoas para estados de alma mais pessimistas. Um dia de Primavera ou de Verão até parece que faz com que cada um de nós seja um colorido e exótico jardim. O tempo tem destas coisas. Mas claro que não podemos avaliar a personalidade e o carácter das pessoas baseados num simples olhar. Nem por uma simples observação do seu comportamento feito por uns efémeros minutos da sua companhia num simples trajecto de comboio. Não. Todo o ser humano tem três tipos de carácter. O que ele exibe. Ou seja: o carácter que ele quer que nós vejamos. O que ele realmente tem. Ou seja: aquele que ele efectivamente demonstra perante as várias circunstâncias que se lhe deparam na sua vida. E por fim aquele tipo de carácter que ele pensa que tem. Não nos precipitemos pois a avaliar as pessoas. Elas poderão não ser auilo que pensamos que sejam mas sim aquilo que elas realmente são. Ou até aquilo que não são.
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José Alberto Silva dos Santos
2006-11-28
A PONTE Amanhece. Lá fora o Sol primaveril ofusca, nos campos, os tons ocres do Outono. As árvores estão estáticas. Uma brisa doce, suave e meiga passa pelo rosto. Coloca nos lábios um sorriso do tamanho do mundo. Por incrível que possa parecer ouvem-se cantos e trinados de aves canoras que julgava eu só ouvir na Primavera. Diz o povo e com razão: depois da tempestade vem a bonança. Hoje até o azul do comboio é mais azul do que nos outros dias. Parece até que se funde com o azul do céu. Parece que os carris do comboio estão assentes em nuvens e que a viagem de hoje será a caminho da Terra do Nunca. Hoje a estação de destino será no fim do Arco-Íris. Hoje ninguém vai para a escola ou para o trabalho. Hoje ninguém vai ao médico ou ao hospital. Não. Hoje não vamos aceitar o destino. Hoje vamos nós tomar as rédeas da nossa vida. Hoje vamos dar asas à nossa imaginação. Para Einstein a imaginação era mais importante que a ciência. A ciência era limitada ao passo que a imaginação abrangia o mundo inteiro. Também há quem diga que as pessoas são livres como os pássaros numa gaiola. Podem mover-se. Dentro de certos limites. Não. Hoje vamos abrir a porta da nossa gaiola imaginária e tentar sermos verdadeiramente livres. Parafraseando Luís Sepúlveda: “…só voa quem realmente quer voar…”.
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DEZEMBRO 2006
José Alberto Silva dos Santos
04-12-2006
ERRO E QUALIDADES Só realmente desperto no regresso. Á noite. Quando o comboio atravessa a ponte e me devolve de novo ao conforto do lar. Na escuridão da noite perco o meu olhar. Hoje o relógio parece que escoou as horas muito lentamente. A vida tem destas coisas depois de três dias sem ir trabalhar. Fins-de-semana prolongados provocam-nos depois uma agonia imensa no regresso ao trabalho. Durante o dia sento-me. Levanto-me. Atendo o telefone. Leio uns e-mail. Leio relatórios. Sento-me. Levanto-me. Aborreço-me. O chefe dá-me conselhos sobre a estratégia a utilizar no método de abordar determinada tarefa. Uns mais rudes do que os outros. Parecem não produzir efeitos. Os conselhos ou as ordens dadas com rudeza produzem efeitos nefastos na minha pessoa. Parecem martelos sempre repelidos por uma bigorna imaginária. Quando estiveres irritado conta até dez. Se tiveres muito irritado conta até não te apetecer mais. Diz ele calmo, seguro e tranquilamente. Aqui apetece-me dar um pontapé numa garrafa qualquer. Se calhar ele tem razão e eu estou enganado. Todos podemos no enganar. Mas persistir no erro é uma loucura. Remata ele. Tem razão chefe. Coutier dizia que não se devia julgar os homens pelas suas qualidades mas sim pelo uso que sabiam fazer delas. E você: costuma persistir nos seus erros? E costuma saber fazer uso das suas qualidades?
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Página do Leitor
06-12-2006
A MENTIRA Ainda estou a matutar nas palavras que a minha filha me disse hoje de manhã. Já é meio da tarde e parece que ainda estou dentro do comboio. Aliás parece que ainda não consegui sair dele. Parece que entrei na ponte e fiquei imobilizado a meio dela. A força e impacto das suas palavras deixou-me sem saber como proceder ou agir. Parece que um raio me atingiu e me imobilizou. Fiquei imóvel. Não deixo de matutar. Remoer. Dói um pouco olharmos para os nossos filhos e vermos neles os nossos defeitos. Os nossos erros. E o que de pior há no ser humano: a mentira. Muitas das vezes o recurso à mentira serve de estratégia para os nossos filhos atingirem os objectivos a que se propõem. Cabe pois a nós incutir neles o conceito da verdade e da honestidade. Mas antes temos de perceber o porquê das coisas. Não podemos recriminar gratuitamente sem percebermos o porquê das coisas. O diálogo é pois a melhor via para a prevenção destas situações. Melhor do que o remédio da cura. De certeza absoluta. Senão corremos o risco de não chegarmos ao destino a que nos propusemos e ficarmos fechados eternamente no nosso comboio. Porque aquele que não encontra alegria dentro da sua casa aonde a irá pois então buscar?
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