Pingo Pernalta nas Luzes da Ribalta

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O Pingo Pernalta nas Luzes da Ribalta - Bisbilhotices

filos贸ficas de um flamingo chique e esperto SOFIA MOREIRA


FICHA TÉCNICA Edição: edições Vírgula ® (Chancela Sítio do Livro) Título: Pingo Pernalta nas Luzes da Ribalta Autora: Sofia Moreira Ilustrações e Fotografias: Gonçalo Carmine Alho, Sofia Moreira Revisão: Mafalda Falcão Paginação e composição gráfica: Patrícia Andrade Arranjo de capa: Patrícia Andrade 1.ª EDIÇÃO LISBOA, Maio 2014 ISBN: 978-989-8678-72-0 Depósito Legal: 375448/14 Sofia Moreira © PUBLICAÇÃO E COMERCIALIZAÇÃO SITIO DO LIVRO, LDA. AV. DE ROMA N.º 11 - 1.º Dt.º | 1000-261 LISBOA WWW.SITIODOLIVRO.PT


Para quem faz “bisbilhosóficas” comigo É um prazer ter, junto de nós, seres humanos excepcionais daqueles que entendemos e lemos de perto, mesmo quando não estamos perto. Vê-los nascer, crescer, dar-lhes colo, ler-lhes histórias, ir com eles ao cinema, ao teatro, à praia. E agarrar todo o retorno saudável, harmonioso e surpreendente; todo o seu respirar. A seu tempo, afinal este não pára, aconselham-nos um filme, uma música, um escritor e tantas coisas mais. Sentir que nunca desistimos de acreditar que um pouco de nós fica colado à sua memória, à emoção de viver a vida e vice-versa, dá-nos alento. Reconforto. Ter orgulho pela lealdade. Ter a oportunidade de partilhar. Obrigada, Dário Moreira, por te atreveres a permanecer junto a mim. À família que nos aconchega e, incondicionalmente, permanece connosco, nos sorrisos, nas lágrimas, em todo o nosso existir. Aos amigos que tiveram a amabilidade de dar o seu contributo, com a enorme generosidade, sabedoria e riqueza de entrelinhas. Ao Joel, pela persistência, resiliência e capacidade de sorrir. Ao Vicente, porque com ele quero partilhar a convicção de que nunca devemos desistir e dar o testemunho que seguir outros caminhos, quando o tapete nos foge dos pés, é possível.

Sofia Moreira


Pingo Pernalta, o filósofo Chega-me “às mãos” esta obra da Sofia Moreira, com quem me cruzei num dia e numa hora em que nos sentamos no chão, com um grupo de pessoas, para falar de criatividade, filosofia e outras coisas que nos inquietam. Pingo Pernalta, um flamingo cor- de- rosa, dá voz às inquietações que pertencem a muitos de nós. Quem nunca teve um acesso de bisbilhotice filosófica que atire a primeira pedra. Sofia Moreira partilha connosco uma visão do mundo que nos desafia a (re)pensar as nossas, abordando situações e temas quotidianos. Este livro é o resultado do esforço deliberado de “parar para pensar” que vai mais longe por ambicionar a partilha com os outros, através de um livro. O Pingo Pernalta não quer que eu ou tu pensemos como ele. Deseja que eu e tu, e ele e o outro, pensem. Sintam. Reflictam. Digam coisas em voz alta (e baixinho se estivermos numa biblioteca). Que se movam atrás do seu pensamento, que o sintam a fazer eco nas suas vidas.

Joana Rita Sousa Filósofa, é formadora e responsável pelo projecto filocriatiVIDAde | filosofia e criatividade. Organiza, desde 2011, encontros para pais, educadores e professores denominados sentir pensamentos | pensar sentidos.


As “pequenas” histórias movem o mundo

Os Flamingos são uma das mais emblemáticas aves selvagens existentes em Portugal e que se podem observar com relativa facilidade, mesmo às portas de Lisboa, na margem sul do Tejo, num manto rosado que mais não é do que bandos de flamingos que ali se alimentam. Pernalta Pingo é um flamingo, personagem principal destas histórias, destas pequenas reflexões, sempre em matizes cor-de-rosa. Estas são as aventuras, e desventuras, de Pernalta Pingo e dos seus amigos. Mas pergunto-me, serão estas histórias mesmo pequenas? Ou até mesmo fáceis? Quando se trata da Amizade, da Bondade, da Saudade, da Felicidade, existirão de facto “pequenas” histórias, ou serão estas sempre as (pequenas) grandes histórias que movem o Mundo e o Homem?

Falar do Pingo e desta obra levar-me-á sempre a falar da Sofia. Como é óbvio, convidar-me para escrever este prefácio foi uma enorme honra, um privilégio do tamanho do mundo, por tudo o que isso implica, e também porque as minhas mais remotas recordações de infância são partilhadas com ela. Tenho a certeza que este livro, estes contos, estas reflexões, irão inspirar todos os que os lêem. E fazer este prefácio é falar, sempre, da Sofia. Que brinca com as palavras, que se atira a elas sem medo, descrevendo tudo o que de bom existe como uma brincadeira, um floreado cheio de arabescos, quase um bailado de cisnes, não fosse este livro sobre flamingos. Falar da Sofia é falar da mulher que na adversidade encontra uma força cheia de amor e de coisas boas e fortes, inabaláveis, a mesma Sofia que quando a Vida lhe troca as voltas, ela aproveita e faz um plié, e segue dançando outra música, provavelmente “A” música para que ela nasceu, a “sua” música, orquestrada pelas palavras e pelos sentimentos.

Mónica Garcia

Gestora de Marketing e de Desenvolvimento de Negócio


Promessas e Introspecção Sofia Moreira não brinca com as palavras, nem as leva a sério usa-as para seu prazer, desfruta do seu fascínio e oferece ao leitor menos avisado da sua obra, do seu estilo, firmemente inconfundível, numa bandeja de prata decorada a finos traços de ouro, ou, se tal for de nosso gosto, em almofada de veludo azul, uma sinfonia de acordes, onde a história é criada, desenvolvida, desfrutada por quem nela se envolve. Num estilo muito próprio, onde se misturam a sensibilidade de cada descrição com a realidade de cada pormenor, transporta-nos para um mundo de fantasia, onde um flamingo, de sua graça Pingo - para ser mais preciso, Pernalta Pingo Ribalta Bingo, nome de família e pertencendo a uma ilustre comunidade de f.p.a, ganha voz, conquista opinião, oferece ternura e se transforma, lá do alto das suas “pernas”, num interlocutor interveniente nos pequenos episódios quotidianos que a autora, com mestria, vai construindo, pedaço a pedaço, como se de um puzzle se tratasse. A omnipresença do Bingo em cada recanto do texto, entre o relato da sua própria vivência que nos delicia e elucida e os pequenos retratos tipo passe de sentimentos humanos eivados de realidades que o confundem por vezes mas, a nós leitores, nos transporta para um mundo delicioso de fantasia. Mas, cuidado!, a fantasia com que deparamos em cada página é o pretexto, o acondicionar de uma essência real que o livro desenvolve em cada página e que a autora faz questão de epilogar, dando-lhe força e evidência. Aquele seu modo agaitado do partilhar de coisas íntimas, enfunado de um jeito mal disfarçado da sua natural beleza, de que faz jus e não renega, o Bingo, leva-nos para caminhos de promessas e introspecção de que a autora é perita e tão bem nos encanta em cada página. Não é um livro de poemas mas, em cada vírgula, em cada ponto de exclamação, há um ressurgir de poesia que nos delicia e agarra a uma leitura interior. E tudo se transforma numa simplicidade natural onde nos confundimos e, por isso, amamos, o flamingo de cores rosadas, pernalta, bico comprido, coração aberto que connosco quer partilhar todas as coisas que tem lá dentro. Aquelas que são pertença do seu sentir, exclusivas, únicas e todas as outras que, como observador e participante é sua a intenção de transmitir em cada recorte que povoam as páginas deste livro que nos encanta e inebria.

Alexandre Bento de Sousa

Escritor e Professor de Escrita Criativa


SOFIA MOREIRA

Trocadilhos e Metáforas Às vezes, grande parte das vezes, comunica-se com ar sério. Fácies fechado, sorrisos escassos ou fáceis sorrisos amarelos. Expressividade espontânea engavetada. Odor a naftalina, como o prêt-à-porter confinado a um roupeiro que raramente vê luz de uma estação à outra. A necessidade de arejar, desempoeirar, refrescar. Deixar fluir as sensações e informações quotidianas, de olhar para nós e para o que nos rodeia, de analisar o que faz falta e de como sentimos esse vazio, deveria ser alvo da nossa inquietude. Trata-se de espólio, de recordações daquilo que fomos, somos e seremos. A perspicácia corroída de olhar e não ver. Viajar sem partir. Ser amigo e não saber se se é. Ficar detido nas margens de programações e lugares comuns que não apelam ao melhor que pode haver em nós. Afagar sem sentido um narcisismo devoluto. Nesta absurda surdez, teimamos em seguir e julgamos que o “ar atarefado” de 5 segundos, invalida que pensemos em nós, no outro, no Mundo. Afinal, temos tanto que fazer! Vamos fazer trocadilhos, metáforas. Vamos brincar com as palavras. Esboçar sorrisos. Rir connosco, de nós, e procurar nas entrelinhas a mensagem que nos couber e aprouver. Reciclar e, acima de tudo, que tenhamos a liberdade, sem receios, de ousar e modificar a estrutura do egoísmo feroz que nos impede de salvar o bem. O bom que podemos partilhar. Vamos ler com pérolas, pétalas rosadas. Definitivamente, falar de nós, mamíferos que “herramos” e projectamos nos arredores o (des) “umano” em que habitamos. Falar de curiosidades, interessantes ou desinteressantes, mas saindo das zonas de conforto a que nos submetemos. Questionar sentimentos e enquadrá-los fora de uma listagem composta por itens. Saborear o paladar de outras paragens, desafiar os sentidos. Falar de ilusões. Identidade. Abandonar a superficialidade das coisas e agarrá-las à pele. Voltar para onde somos felizes.

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O PINGO PERNALTA NAS LUZES DA RIBALTA

- Uma cobertura madrepérola num sorbet de pétalas rosa Num dia fértil, daqueles em que o arco-íris pinta o céu, fundo cinzento, carregadinho de chuva e com um raio de sol atrevido, o “casaco” do Pernalta evidencia elegância, beleza, reflexão de cor e não só. Parece um segredo bem guardado numa pérola de Maiorca, mas, mais precisamente, na “palma” debaixo da ponte. Sabem de quem é o agasalho? É do Pernalta. Uma ave esbelta, que parece ter passado a vida a fazer castings para a televisão, para qualquer palco, passerelle e/ou sessões com flash fotográfico de calibre internacional. É inato, porque à nascença já trazia o pacote, nem precisou de upgrade. Um Flamingo que pavoneia a sua plumagem rosa-esbranquiçada. Cor mágica e vibrante. Tonalidades de impacto fabuloso, principalmente quando avistado em reuniões de flamingos pouco anónimos (f.p.a.). Num festim, a serpentear e a querer que o amigo do lado feche o bico, porque parece nunca chegar a sua vez de “botar para quebrar”. Um assombro. Nas margens do estuário do Tejo que “é lindo”, mostra a sua pose. Como se de Sa Calobra se tratasse (sem desprimor para o curso de água que dividimos com os afilamentos de nuestros hermanos). A equipa faz um drible inconfundível, e ajuda! Mas, com tamanha beleza, destreza, e habilidade, fica a dúvida: aristocrática ou monárquica fidalguia? Vamos contar esta história cor-de-rosa, onde a paleta propriamente dita importa sempre e a mensagem que a formosa deseja transmitir, também poderá importar a quem se habilitar a incorporar a pluma. Podem aprender. Partilhemos.

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O PINGO PERNALTA NAS LUZES DA RIBALTA

- Mingos Umanos Era uma vez uma família de flamingos. Viviam com vista – rio para a Ponte Vasco da Gama, no estuário do Tejo – com piscina de água doce, raramente de hidromassagem. Falar de um flamingo e pensar em corrosão parece “herrado”, mas se lermos nas entrelinhas e abraçarmos garbosamente, saberão que o seu calor pode ter muito de “umano”, de expressivo, corrosivo, mordaz, sarcástico ou, não, apenas diferente! Enérgicos! Calorosos! Decididos! Em movimentos desengonçados, mas harmoniosos, vê-los em coreografias flamejantes com “salto” alto num bailado musical, é arrepiante. Ao som de flamenco mourisco, de fado do destino, composições celtas da Irlanda, medievais aragonesas, divinais, ancestrais ou simplesmente, o canto do flamingo. A vizinhança numa fantasia filosofal enfileira-se na janela. Sem pedir licença para apreciar o momento, combina-se a acústica deste elixir. Pernalta chamava-se Pingo. Pernalta Pingo Ribalta Bingo.

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