Eis apenas pedaços de mim

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EIS APENAS PEDAÇOS DE MIM


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título: Eis

Apenas Pedaços de Mim Martins Silvestre edição: Edições Vírgula ® (Chancela Sítio do Livro) autor: António

capa:

Ângela Espinha Paulo Resende

paginação:

isbn:

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1.ª edição Lisboa, maio 2020

978­‑989-8986-18-4 468571/20

depósito legal:

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© António Martins Silvestre

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Antรณnio Martins Silvestre

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EIS APENAS PEDAร OS DE MIM


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INTRODUÇÃO

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Este novo livro do poeta António Silvestre vem na linha do anterior “Um Sorriso por Entre lágrimas” (2018). Por isso, aqui está mais uma vez a “poetisar” para descrever experiências de vida, alegrias mas também algumas tristezas com alguma ironia à mistura. Toda esta ironia é uma arma terrível. É como a autêntica literatura sempre intervindo junto dos homens. Um verdadeiro criador usa-a para o seu combate de marginal voluntário que repensa através da sátira e da fantasia a realidade quotidiana. Esta personalidade complexa, expressa-se através da poesia. É o veículo ideal para criticar o mundo onde viveu e nós vivemos. E foi essa a sua preocupação maior. De quem nos rimos nós? De nós próprios? Dos outros? Ou de um pesadelo? Pois o filósofo pode, por vezes, amar o infinito. Mas o poeta ama sempre o infinito. E por isso assim o descreve. Agora nem chama pública, nem privada, se atreve a brilhar nesta vida. Nem luz humana, nem brilho divino ficarão para contar. Eis que o seu terrível império, caos, foi restaurado senhor meu Deus. A luz apaga-se perante a Tua palavra que não queria ver. A Tua mão, grande e anarca, faz cair a cortina do universo. E a escuridão universal tudo cobre neste mundo. Pois muita gente irá dizer que era louco ao escrever todos estes pensa— 7 —


mentos. Haverá outros a discordar, pois seria bom amar, nesta vida todos os momentos.

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Nesta vida dia a dia Sempre cheia de loucura. Se há um dia de alegria Há pois, outro de amargura.

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A.M.S.

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PENSAMENTO QUE LONGE VAIS!

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O meu pensamento que tão longe tu vais Não sei porque me olhas tu desse jeito. Vagueias, vagueias… Mas não vagueies demais Vê se voltas a horas para dentro do peito. Ri, ri por aí e sente a musicalidade da poesia que te encanta Não, não te percas no tempo, entrega-te a essa essência poética Sim aquele que chama por ti para junto de mim E que eu quero guardar dentro do peito Eu só sei que sei que nada sei. E neste tempo que se faz presente Sempre que a gente se vê eu sinto Sinto que algo nasce de novo dentro da gente. Poetas são loucos e ninguém lhes presta atenção Vivem a sua vidas sempre amando, se entregam de coração. Aqui nestas sílabas e pontos, pois eu vos conto Sim, nestas sílabas mal acentuadas e pontos finais Vêm os pontos de interrogação Bolas tantos que eles são Que nem dá para contar Faço e digo tudo isto só por te amar Um dia todos nós nos iremos separar, por isto ou por aquilo, Aí sentiremos saudades de todas as conversas Tidas fora dos sonhos que tivemos Os dias vão passar, meses, anos e perde-se contacto Até esse contacto se tornará cada vez mais raro Mas um dia os nossos filhos verão aquelas fotos e perguntarão — 9 —


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Mesmo sem haver uma forte e aparente razão Quem são essas pessoas? A saudade vai bater… E com voz trémula vais responder E com os olhos cheiro de lágrimas eu direi: - Foi com eles que vivi os melhores momentos da minha vida.

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VIDA

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Não é uma despedida Mas sim… forma de falar. Nada se leva desta vida Tudo cá irá ficar. Mas… Por sorte, ou desgraça O destino se encarregou. Num balanço que se faça Foi o amor que ganhou.

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Nunca fui exigente Nas coisas desta vida. Fui feliz… estou contente Com a missão, cumprida.

Mas… Agora – velho e cansado Olho para traz e vejo. Aos amigos, um obrigado Aos meus - um grande beijo.

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CROMO

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Parecer cromo me é cruel Vivendo histórias dos amigos Vou escrever em papel Meus versos mais antigos Atrevido e cheio de surpresas Com boa vibração eu vivi Tive sempre minhas certezas Até das coisas que não vi

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De menino tímido e esperto Quebrou muitos corações Com espirito muito aberto Viveu a vida por paixões

Com grandes e livres aventuras Caminhei pela vida fora Nalgumas delas, bem duras Das quais me recordo agora

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MENTIRA

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Tu tudo queres da vida Mas depois dela perdida Não podes voltar a traz Tem cuidado rapariga Já a nada te obriga Em troca nada lhe dás

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Cantarei a todo o mundo Este amor tão profundo Que um dia me torturou Acreditei sempre eu Num amor como o teu Mas depressa acabou

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Estás agora como queres É pois o que preferes Depois de tanto mentires Na alegria e bem estar Tudo irás recordar Quando saudades sentires

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FUGA

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Já estás como querias Há muito assim era Por tudo o que fazias Já eu estava à espera De mim já não gostas Há muito que assim é Pois me viras as costas Quando sais do café

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Se andas pois chateada Muito farta mim Tu não contas é nada Há muito é assim

Tivestes pressa de partir Para bem longe de mim Mas ao ver-te pois ir Pensei ser o meu fim Mas se o fazes por amor Pode bem acontecer Já matei meu calor Quando em ti fui beber

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REJEIÇÃO

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Já não é como dantes Os eternos amantes Se crendo com paixão Pois ela amoleceu E ele assim sofreu Ferindo seu coração

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Um amor arrefecido Há muito assim tem sido Deixando suspeição Por tudo que tem feito Já mais terá jeito Para animar o coração

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São encontros atribulados Dois corpos ali deitados Nada sendo como dantes Havia sim muita entrega Mas ela agora se nega A serem bons amantes

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PERDÃO

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O ciúme é sentimento Que alimenta a paixão Tenho-te no pensamento Guardada no coração És jovem e insegura Com medo de amar É a coisa mais pura Temos que aproveitar

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Coração vai sangrando Esta pois batendo mal Mas continua amando Até à sua hora final A vida é uma ilusão A morte é coisa certa Para o meu coração Tens a porta aberta

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ELA

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O tempo é de brisa Uma brisa descontrolada Nada posso, ó Marisa És minha menina adorada O passado te tortura Não te deixa se feliz Vivemos esta loucura Foi Deus que assim quis

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Nunca amei ninguém Com tanta intensidade Quero-te a ti também Não olhando á idade

Nada vai apagar O que tenho no coração Sempre te vou amar Queiram eles ou não

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LEMBRANÇAS

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O tempo corre e avança Me ficará na lembrança Por tudo quanto passei Gozei de felicidade Senti a falsidade De quem tanto amei

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Era tudo tão evidente Aos olhos de toda a gente Só eu não queria ver Por um outro me trocou Mas sempre o negou E comigo vinha ter

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Nada é como dantes Os eternos amantes Que tudo deram do seu ser Dois corpos ali deitados A nada serem obrigados Mas com tanto para fazer

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VISÃO

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Tudo é tão evidente Que até nem queremos ver Aos olhos de toda a gente Para ele vais a correr Entrei eu no café Mas tu não me viste Fiquei ali de pé Vi coisas bem tristes

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Em conversa animada Irradiavas alegria Quem contigo estava Era quem eu previa

Muito carinho e paixão Deixavam transparecer Ao agarrar tuas mãos Mais nada quis ver Sai dali magoado Nem queria acreditar Andava bem enganado Por quem sempre irei amar

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DUAS VERDADES PARA A VIDA (1)

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Não sei se vós sabeis, que a arte de viver está em saber quando devemos agarrar com força e quando devemos largar. A vida é de fato, um paradoxo, manda que nos agarremos ás suas muitas dádivas, mesmo que mais tarde nos imponha o seu abandono. Os rabis de outrora diziam que o homem nasce com o punho fechado, mas, quando morre, a sua mão está aberta. É claro que nos devemos agarrar á vida, pois ela é cheia de uma beleza que brota de cada poro desta terra de Deus. Sabemos que é assim, mas o que normalmente acontece é que só reconhecemos esta verdade quando ao olharmos para trás nos lembramos das coisas passadas e, subitamente, nos apercebemos de que elas já não voltam a acontecer. Recordamos uma beleza que murchou, um amor que morreu. E a dor torna-se mais intensa quando nos lembramos de que não gozamos essa beleza enquanto ela floresceu, nem conseguimos corresponder a esse amor enquanto ele nos foi oferecido. Uma experiência recente comprovou-me de novo essa verdade. Foi então que me lembrei das milhentas vezes em que também fui indiferente á grandiosidade de cada dia que passa, demasiado preocupado com problemas insignificantes e mesmo mesquinhos para poder corresponder a todo o seu esplendor. A lição tirada desta vivência é tão linear como a experiencia em si.

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DUAS VERDADES PARA A VIDA (2)

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As dádivas da vida são preciosas- mas nós passamos por elas completamente à margem. Eis, pois, o primeiro pólo das exigências contraditórias que a vida nos impõe, procure estar sempre disponível para as coisas boas, e más da vida. Receba com reverência cada dia que amanhece. Aceite pressuroso, cada hora que passa; Aproveite cada minuto precioso. Agarre-se com força à vida - mas não com tanta força que não a consiga largar. Esta é outra face da moeda que é a vida. O pólo oposto do seu paradoxo, devemos aceitar as derrotas e aprender a esquecê-las. Não é uma lição fácil de aprender, sobretudo quando somos novos e achamos que o mundo é comandado por nós e que tudo o que apaixonadamente desejamos não só pode ser como será nosso. Mas porque nos devemos reconciliar com as exigências contraditórias da vida? Para quê revestir de beleza as coisas quando sabemos que a beleza é efémera? Para quê abrirmos o coração ao amor, se aqueles que amamos acabam por ser arrancados das nossas vidas?

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