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Viagem pelo Tempo
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Entre o Real e o Imaginรกrio
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TÍTULO: Viagem pelo Tempo - Entre o Real e o Imaginário AUTORA: Laurinda Ramalho EDIÇÃO GRÁFICA: edições Vírgula® (Chancela Sítio do Livro)
1.ª EDIÇÃO dezembro 2019
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PAGINAÇÃO: Susana Soares GRAFISMO DE CAPA: Ângela Espinha
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ISBN: 978-989-8986-12-2 DEPÓSITO LEGAL: 464050/19 © Laurinda Ramalho
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Laurinda Ramalho
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AGRADECIMENTOS
Agradeço, em primeiro lugar, a Deus por me ter dado vida e a eloquência necessária para escrever este livro.
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Ao meu marido, que me acompanha nesta já longa caminhada do destino; Aos meus amados filhos: Cristina, Luísa, Emanuel e Sérgio, que serão, para sempre, o meu enlevo e a minha maior fortuna;
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Aos meus queridos netos: Leonor, Pedro Joaquim, João Bernardo, Clara João, Maria Antónia e Maria Carlota nos quais deposito a esperança da minha continuidade terrena; Aos meus irmãos, às minhas irmãs e demais familiares, que guardarei para sempre no meu coração; Aos meus pais, que me protegem e acompanham, duma outra dimensão;
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E, finalmente, a todos aqueles que gostam de ler, esperando que a leitura desta obra se torne leve, envolvente e que possa acrescentar tempo ao tempo de lazer.
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Fala-me…
Fala-me de quando éramos crianças:
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das bonecas de caco, das bolas de trapos, do saltar à corda, do jogo da macaca, e de lançar o pião.
Fala-me das tuas lembranças
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e daquelas estórias, em tempos pacatos,
contadas à noite - bruxas, fantasmas e moiras encantadas -, nas férias de Verão.
Fala-me das minhas loiras tranças,
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da blusa de seda de cor azul-céu,
da saiinha bordada e dos sapatinhos que a minha mãe me deu! Fala-me da semelhança
entre o pôr-do-sol de agora,
do luar de agosto num céu estrelado, e o que guardas no teu coração.
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Fala-me, tu, do cheiro da terra, do perfume das flores, do colorido dos campos e das corridas por entre arvoredos. Fala-me dos saltos das rãs,
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dos ninhos dos pássaros, do voo das joaninhas.
Tão belos brinquedos!...
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Fala-me da escola, dos trabalhos de casa: as contas bem feitas, os reis decorados e cópia sem borrão
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ou as mãos em “brasa”.
Fala-me de quando me apaixonei
e da cor que tinha o mundo, então…
Qual arco-íris jamais avistado (só mesmo nos beijos do meu namorado),
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que guardo, para sempre, no meu coração.
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SINOPSE
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Enquanto crianças enxergamos o mundo duma forma muito diferente: a magia está presente em todos os lugares e a cada dia que passa encontram-se novas oportunidades; as horas são muito mais longas do que os 60 minutos, tudo é enorme, tudo é admirável, tudo desperta curiosidade e incita à aventura.
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É à descoberta de um mistério, que se arriscam duas crianças, duma pacata aldeia, embrenhando-se numa densa vegetação, por carreiros e trilhos labirínticos, sedentas de encontrar resposta para um enigma, do qual ninguém falava nas redondezas da povoação onde habitam.
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Dessa aventura há de surgir a personagem “Salvador”, que lhes incutirá o gosto pela leitura, através do seu “Livro da Vida”. Neste testemunho da sua existência ele explica por que passou a viver como eremita, por que optou por se isolar de tudo e de todos, vivendo exclusivamente das dádivas da Natureza. Naquele livro relata também diversos episódios da vivência de Lara, que irão despertar as mais diversas emoções. E, as outrora crianças, irão encontrar-se em plena juventude, vivenciando paixões arrebatadoras, enfrentando verdadeiros dilemas na escolha e tomada de decisões importantes ao longo da sua vida. O confronto com o sofrimento, pela perda de entes queridos e os reveses do dia a dia, que a existência de todo o ser carrega, também serão, em parte, relatados nesta obra.
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Entre o Real e o Imaginรกrio
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Índice
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CAPÍTULO I Aventura… e descoberta do mistério ............................................................... 17
CAPÍTULO II O Livro da Vida .......................................................................................................... 37
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CAPÍTULO III Passos de uma vida…, mas não da minha ................................................... 55
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CAPÍTULO IV Amor e sofrimento ................................................................................................. 155
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CAPÍTULO I
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Aventura… e descoberta do mistério
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Na confluência de duas montanhas estendia-se uma vasta planície atravessada e recortada por um pequeno rio, que, serpenteando, a percorria em toda a sua extensão. Com um solo fértil e abrigado dos ventos mais agrestes, possuía um micro clima influenciado por fatores dinâmicos da circulação atmosférica e por fatores geográficos gerais, que favoreciam uma atmosfera com pequena amplitude térmica, favorável ao desenvolvimento dos mais diversos tipos de culturas.
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O lugar era pacato. As famílias viviam, essencialmente, daquilo que lhes era possível retirar do cultivo da terra, a qual trabalhavam de sol a sol. Mas a procura de uma vida melhor levara a que muitos dos habitantes emigrassem, como na maioria das zonas rurais do país, na expectativa de conseguirem mais conforto, bem-estar, satisfação com outro tipo de trabalho e até maior poder económico. Mas os resistentes continuariam, ao longo de toda a vida, apegados às suas raízes e vivendo um dia a dia tranquilo, saudável, mesmo que trabalhando arduamente. Toda a gente se conhecia e entreajudava. Poder-se-ia dizer que tudo era calmo e tranquilo, não fora as peripécias das crianças, que sempre trazem à ribalta o rebuliço.
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Uma vez por semana, à segunda feira, acontecia um dos eventos mais importante da aldeia – a feira. Para além deste tipo de comércio havia uma meia dúzia de lojas: a indispensável mercearia que, mais tarde, os donos houveram por bem colocar, naquele espaço, duas ou três mesitas à disposição dos mais idosos, para se sentarem a cavaquear, surgindo daí o futuro e único café das redondezas; a drogaria, onde se encontrava uma panóplia de produtos, desde as ratoeiras às sacholas, pás e picaretas, ancinhos, gadanhos, alviões e machados; e desde os inseticidas aos produtos para a construção de muros e casas, não faltava nada; a retrosaria que abastecia as donas de casa, costureiras e alfaiates da aldeia com toda a qualidade de botões, elásticos, colchetes, molinhas, lãs, carrinhos de linhas, para se costurar as peças do vestuário, etc.; a barbearia onde os homens cortavam o cabelo e a barba, aproveitando para atualizarem as notícias; e uma pequena farmácia, que era também o único sítio onde se prestavam os primeiros socorros, em caso de pequenos acidentes. Havia ainda um profissional de muito préstimo, o ferreiro, a quem os agricultores recorriam, para colocarem ferraduras nas patas dos animais, que puxavam os carros, as charruas e outras alfaias agrícolas. Quanto a médicos, não havia nem um, e sempre que alguém se achava doente tinha que se deslocar até à vila mais próxima, onde existia um clínico geral, conhecido num raio de mais de cinquenta quilómetros.
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A igreja, já muito antiga, era o monumento mais importante para a comunidade, sendo local de reflexão e de oração, visitado aos domingos, religiosamente, por toda os habitantes. A população da aldeia era muito devota à Virgem Maria, havendo um altar feito em talha dourada, que era o ex-libris daquela comunidade paroquial. Mas a escola primária era um dos maiores orgulhos da singela aldeia, pois nela se preparavam os futuros homens e mulheres de sucesso, para os quais os progenitores desejavam uma vida menos esforçada, melhor do que aquela que tinham. O professor, sr. Paz, que vinha ensinando já há algumas décadas, era a pessoa mais sensata, justa e sábia daquela região. Era a ele que recorriam os aldeões, quando surgiam conflitos dos mais variados tipos, desde os causados por pequenos desacatos entre 18
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vizinhos aos mais complicados que envolviam marcos divisórios e limites de terrenos. No seu papel de Regedor encontrava sempre uma forma de fazer justiça, atribuindo o seu a seu dono, por forma a trazer a paz e a tranquilidade ao lugar. A sua entrega total à comunidade granjeara-lhe o apreço, a admiração e o respeito de toda a população da aldeia.
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Trabalhavam desde o amanhecer até ao pôr-do-sol, para cultivarem os bens alimentares, como a batata - o tubérculo essencial à alimentação das familias -, o milho, a cevada, o centeio, o feijão, várias qualidades de couves, as vinhas, entre outros, que eram semeados em terras na sua maioria arrendadas. Não passava duma agricultura de subsistência, mas todos tinham o necessário para viver, mesmo que à custa de muito e árduo trabalho. A terra tudo nos dá
como se fosse magia.
E só depende do homem
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viver em paz e harmonia o dia de amanhã
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As crianças passeavam-se pela aldeia com total segurança e liberdade. Conheciam todas as ruas, ruelas, carreiros e caminhos; percorriam e conheciam as margens do riacho, palmo a palmo; brincavam à vontade nos espaços públicos, nomeadamente no largo do coreto, onde se juntavam para jogarem à bola; subiam às árvores, para colherem fruta ou para espreitarem os ninhos dos pássaros. Sabiam distinguir os diversos tipos de ninhos, nomeadamente, os dos melros, sendo estes dos mais interessantes. Mas nos ninhos das andorinhas ninguém tocava, elas construíam-nos debaixo dos telhados e beirais das casas, presos aos barrotes de madeira já desgastados pelo tempo, e permaneciam dum ano para outro. Eram realmente intocáveis, atendendo a que garantiam o regresso dos seus donos e, com eles, a primavera também voltaria no ano seguinte, diziam os mais sábios. 19
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Para aquelas crianças até as estrelas já faziam parte dos seus encantos, havendo um fascínio tão especial que as levava a saberem localizar a Estrela Polar, na perfeição. Quantas vezes, em noites estreladas, grupos de crianças se entretinham a jogar ao “Quem é o mais rápido”: olhos fixos no firmamento, procurando, em primeiro lugar, a Ursa Maior; aumentavam cinco vezes a distância entre as guardas (Merak e Dubhé) e lá estava ela, a última estrela da cauda da Ursa Menor, que indica o Norte: a Estrela Polar. Esta não tem um brilho muito intenso, mas como quase não há nenhumas à sua volta, sobressai facilmente no escuro.
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Todas as crianças se interessavam por estes belos e fascinantes corpos celestes. Era um tema que nunca se esgotava. E o sr. Paz era o maior entusiasta, despertando nas crianças o gosto pela Astronomia, através da sua persistência e insistência na observação das estrelas e ensinando-as a papaguear o nome das constelações, das nebulosas, dos cometas, dos planetas e suas luas.
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O mundo é imenso
aos olhos duma criança, que, para o conquistar,
basta-lhe ter esperança e deixarem-na sonhar
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Mas havia uma luzinha, da qual todos evitavam falar. Ela aparecia lá ao longe, bem na linha do horizonte, onde a floresta toca no Céu, não se distinguindo das estrelas. Diziam que era misteriosa, pois era a primeira que se via… logo que começava a escurecer e desaparecia ao raiar da aurora, à primeira claridade que surgisse. Este mistério não passava despercebido para as crianças da aldeia. Um dia, dois amiguinhos – o João e o Rui, levados pela curiosidade, propuseram-se descobrir o mistério daquela “estrela”, que parecia estar pousada na montanha e para a qual tantas vezes lançavam os seu olhares. Ouviam falar de mistérios que existiam naquela floresta, mas não 20
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conheciam ninguém que, alguma vez, se tivesse atrevido a penetrar em tão densos arvoredos. Ora, aqueles dois companheiros de aventuras andavam, há algum tempo, a cismar neste assunto.
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Na aldeia, já não havia nada que desconhecessem. Todos os lugares lhes eram familiares, havendo já sido suficientemente explorados, desde o pequeno riacho, onde treinavam os dotes de nadadores e “pescando” girinos com o recipiente que conseguissem mais a jeito, aos espaços em terra batida onde se entretinham a jogar à bola, ou desde as barracas de palha onde eram arrecadadas pequenas alfaias agrícolas, às “casas da eira” onde existiam as grandes caixas de madeira, para armazenar os cereais e de enorme interesse para o jogo da “escondidinha”, servindo de esconderijo, quando se enfiavam dentro delas. O coreto, situado no centro da aldeia, era o lugar onde se encontravam para combinarem e planearem as atividades a desenvolver no próprio dia ou para o final da semana. E dava sempre tudo certo!
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Sentiam uma enorme curiosidade e uma grande vontade de investigar as montanhas, que rodeavam a aldeia e que, aos seus olhos, eram imensas, enormes e intransponíveis. Até que, numa bela tarde de fim de semana, com um sol abrasador, resolveram embrenhar-se pelos carreiros, que conduziam à densa floresta. À medida que caminhavam, as árvores apareciam-se-lhes cada vez maiores e assombrosas, impedindo a passagem dos raios de sol. Neste início da aventura, o João e o Rui consideravam-se uns privilegiados por estarem abrigados do calor que fazia, pois, frescura como aquela nunca encontraram noutro local. Havia, contudo, um senão que, embora não valorizassem, acabou por quase os surpreender: a pouca claridade. O que parecia uma vantagem não demoraria a manifestar-se uma armadilha; é que, não se aperceberam de que o sol já se tinha escondido e a noite estava próxima. Nem se deram conta do quanto já tinham caminhado, pelo meio daquele imenso arvoredo. Os enormes ramos das árvores, entrelaçados, faziamlhes lembrar fantasmas gigantes, prontos a engoli-los; o piar das inúmeras 21
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aves, que habitavam aquelas paragens, era como gritos lancinantes, que dilaceravam os ouvidos daqueles dois amigos, que começavam a sentirse perdidos e algo assustados. O caminho a percorrer apresentava-se-lhes como um labirinto, de onde não vislumbravam uma maneira de sair.
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Se o medo fosse de vender, estariam todos ricos:
os grandes e os pequenos; os feios e os bonitos,
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desde o nascer ao morrer.
- O que havemos de fazer, João? Estou já tão cansado - diz o Rui.
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- Temos que andar mais um pouco, Rui, enquanto ainda existe alguma claridade… - E quando ficar mesmo escuro e sem encontrarmos nenhuma saída? pergunta o Rui, visivelmente preocupado. - Isso se verá! Anda mas é daí, mexe as pernas; tu não querias conhecer os mistérios da floresta? Não queres desvendar que luz misteriosa é aquela, que se acende à tardinha, apagando-se pela manhã? - questiona o João.
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- Eu quero! Mas…
- Deixa-te de mas… Viemos investigar e havemos de descobrir o que é que tem inquietado tanto a nossa aldeia! - diz o João, determinado a prosseguir, sem qualquer dúvida. Resignado, o Rui acelerara o passo, forçando o amigo a despachar-se para o acompanhar. - Ui, mas o que te deu agora? Ligaste as pilhas? - É isso mesmo… liguei-as! - Responde o Rui, procurando não mostrar o cansaço nem a respiração ofegante. 22
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Os dois amigos guiados pela sua intuição, dirigiam-se para o cimo da montanha em direção a algo que, havendo ainda claridade, não conseguiam vislumbrar. Mas a persistência e o entusiasmo reinantes não tardaria a mostrar-lhes a recompensa.
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- Olha, olha, estou a avistar ali uma luz e acho que é luzinha misteriosa que se vê da aldeia! Parece ser duma casa! Ou será uma estrela? - atalha o Rui num tom deveras estranho, pois notava-se-lhe na voz um misto de admiração e entusiasmo, mas também surpresa e um certo… medo.
- Ah! Também estou a ver; é aquela além!? Deve ser a cabana do Rei da Floresta! - atira o João.
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- Cabana!? Mas então o Rei da Floresta não tem um palácio? - pergunta o Rui, discordando.
- Não, claro que não! Então tu não sabes que nos palácios moram as princesas?
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- Bom, então prefiro que aquela luz seja dum palácio! Pois!... Ó João, mas nem parece teu: se for dum Rei, também pode ser que haja lá uma princesa! - arrisca o Rui. - Vamos mas é despachar-nos e logo veremos! Qual princesa, qual quê!? - Remata o João, que não estava a gostar daquelas criancices do Rui. Mágicos, reis e princesas
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fazem histórias de encantar.
Sempre heróis e sempre fieis, protegem a Natureza
e fazem-nos todos sonhar…
Seguiam agora a passo largo e lesto, que pareciam ter recebido novas forças. Nos seus doze anitos, cheios de curiosidade e coragem, estes futuros homens sentiam-se como duas personagens, participando num filme de aventuras, que em nada tinha a ver com a realidade do dia a dia. 23
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A noite caíra. Estavam muito cansados e não podiam continuar a caminhar sem pararem um pouco para recuperarem energias. - Ó João, temos na mochila uma manta!?... E se nos sentássemos um bocadinho!?
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- Bom, lá terá que ser! Precisamos também de pensar no que havemos de fazer: se continuamos em frente ou se voltamos para trás - sentencia o João. Aquela luzinha parece estar ainda a alguns anos de luz de nós! Mas agora não devemos desistir. Vamos descansar um pouco, que achas?
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Os dois amigos remexeram a mochila, mas, para além da manta, só havia um pacote de bolachas e uma garrafinha de água. A lanterna ainda tinha carga, o que era um bem precioso. Neste momento reconheciam que não tinham sido lá muito previdentes. Há tanto tempo a pensarem nesta aventura e não se organizaram devidamente no tocante a provisões. Mas tinham que se governar com o pouco que haviam colocado no saco.
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Estenderam a manta a servir de colchão, encostaram a cabeça na mochila e, enquanto mastigavam as bolachas, sofregamente, pensavam na refeição que, por volta daquela hora, estariam a saborear as suas famílias; e na caminha quente e macia lá de casa, que estavam a desperdiçar. Sentiram algo parecido com arrependimento e ousadia, mas que de nada lhes valia naquele momento.
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Só agora se lembraram do que poderiam estar a sentir os seus pais. Não os tinham avisado de que iriam envolver-se naquela aventura. O quanto estariam preocupados! O pequeno recado, que lhes deixaram escrito num pedacito de papel, tinham-no colocado num sítio em que não seria fácil encontrá-lo, pois calcularam que chegariam a tempo de evitar que os pais soubessem daquela passeata, e a sua ausência não ultrapassasse a das habituais brincadeiras. Numa escrita bem legível, diziam: “Estamos bem; não se preocupem connosco; vamos desvendar os segredos da floresta e da sua luzinha misteriosa. João e Rui”. 24
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E com estes pensamentos a ocuparem-lhe a cabeça, não demorou nada até que o cansaço os vencesse. Adormeceram profundamente.
Certos minutos da vida são longas horas também,
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se difíceis de passar
ou quando da nossa mãe
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nos temos que separar.
O primeiro a acordar não sabia bem onde estava, sentindo-se confuso e desnorteado. E, de repente, deu um grande salto, ao sentir a seu lado algo peludo e fofo.
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- Ui…, que fazes aqui? Como é que me encontraste, Rex, meu amigo!? - Eh, pá! Cala-te! Não sou o teu cão! Estás tolo ou quê!? - repreendeu o Rui, que acordou estremunhado com aquela conversa do João. - Ó pá, olha aqui… é o meu cão!? Encontrou-nos! Estamos salvos! Estamos salvos! Ele veio ter connosco. Por isso, sabe o caminho!
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O entusiasmo do João era tanto que começou aos pulos e mais pulos, acordando e assustando a passarada toda. Agora, havia inúmeras aves a chilrearem e a esvoaçarem por cima deles - o que os fez despertar completamente. Embora ainda fosse de noite, havia muito luar, pois a lua encontrava-se quase na fase de Lua Cheia, iluminando toda a floresta. Por momentos ficaram confusos com tamanha claridade, pensando mesmo que já seriam altas horas da manhã, mas depressa entraram na realidade. Ainda nem amanhecera, o sol ainda não tinha nascido!… Então, aproveitando a presença do fiel amigo Rex, decidiram continuar a caminhada, sempre em direção à luzinha que tinham avistado.
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