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1.2. Verbos policomponenciais; classificadores; descritores
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1.2. Verbos policomponenciais; classificadores; descritores5
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Schembri (2003), baseado no trabalho de Grinevald (1996), define as propriedades dos classificadores com relevo para a sua representação referencial e semântica: “a classifier classifies in the sense that it denotes some salient inherent or perceived of the referent represented by an associated noun” (Schembri,2003, p. 21).
Esta definição base levou o investigador a questionar a designação classificador aplicada às línguas de sinais, sobretudo quando apli14 cada a verbos: I prefer to use the term policomponential verb to refer to this category os signs rather than alternatives such as classifier predicates or polymorphemic verb (...) I thus provisionally use verb as a superordinate term that includes both verbs od motion, location and handling, and adjectival-type cosntructions of visual-gemoteric description (Schembri, p. 4). Este e outros estudiosos questionaram o uso do termo classificador ainda que aplicado a nomes: “We use the term DEPICTING HANDSHAPE UNITS or DEPICTING HANDSHAPES to refer to the hand configurations used within depicting constructions rather than ‘classifier “ (Schembri, 2012, p. 329). Como se vê, a terminologia nas línguas visuais não está estável, pois, por um lado, as investigações destes sistemas linguísticos são 5 Tradução livre para polycomponential verbs; depicting strutctures (Schembri;) e classificadores. Preview
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recentes, quando comparadas com as línguas orais, por outro lado há, aumentando a investigação, tendencialmente, e surgem propostas que apontam, terminologias não importadas da línguas oroauditivas, mas mais acomodadas à modalidade das línguas gestuais.
Não é o escopo deste trabalho reflexão teórica sobre terminologia ou sequer sobre perspetivas de enfoque linguístico nas propriedades formais das línguas gestuais. Assim, por ainda ser a terminologia vigente e devido ao facto de os proponentes de novos termos admitirem que falta investigação que os sustente, mantemos o uso da palavra classificadores a par com descritores. 15 Os estudos sobre estas estruturas concordam no facto de a configuração de mão (CM) ser a unidade dominante ao representar a forma; o tamanho; a maneira [de agarrar/segurar/manusear um objeto] e outros traços semânticos do referente. Assim, em LGP, o descritor de PESSOA pode ser aquele que vemos na figura 1 que representa a pessoa em pé, que se desloca, aproxima/afasta auxiliada pelo movimento figura 1: Classificador de PESSOA em LGP Preview
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Como se vê pela sumária descrição deste recurso, MM, nomeadamente a subclasse direccionalidade, em conjunto com CM constitui uma estrutura morfossintática em que nome (Sujeito) e verbo (predicado) são executados simultaneamente e significam pela forma de CM e pelo movimento executado. Já desde os primeiros estudos sobre as línguas visuais, conduzidos por William Stokoe (1960) demonstraram que os parâmetros das línguas gestuais são executados em simultâneo, possivelmente graças à modalidade manuomotora destes idiomas. Talvez por isso seja complexo falar em morfemas presos, como nas línguas orais, uma vez que esta uni16 dades mínimas ganham não só valores gramaticais, mas também semânticos. Exemplo disso é o classificador de PESSOA que retém os traços semânticos do referente representado, mas também MM integra o valor semântico de ir/vir; aproximar/afastar e o valor gramatical de pessoa/número. A par desta complexidade linguística, resta ainda a interrogação, a nosso ver por resolver, do que é linguagem gestual ou língua. Noutro estudo (Correia, Silva, Santana 2020) tivemos oportunidade de mostrar como elementos da linguagem gestual e da cultura envolvente, no caso a portuguesa, são fatores decisivos na criação de signos gestuais e na sua execução. Retenhamos, por exemplo, o vocábulo INVEJA6 que se executa tal como a popular expressão “dor de cotovelo”, proferida oralmente ou apenas mimada. Este exemplo demonstra um cruzamento de características paralinguísticas, nomeadamente a linguagem gestual cultural do país que se transforma, na LGP, em elemento linguístico. Numa publicação recente (Nyst et al, 2021) sobre o valor icónico de CM e a 6 Consultado em www.spredthesign.com Preview
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maneira de representar a forma e tamanho de referentes, aponta-se a relevância da iconicidade como um traço importante nas línguas humanas, gestuais ou orais, e refere-se que a linguagem gestual da comunidade pode determinar a maneira de representar os objetos:
The results do allow an evaluation of the overlap in preferences in the gestural environment and in the SLs emerging in it. The results from Padden et al. (2013) for Al Sayyid Bedouin SL and American SL suggest that the patterning in these SLs is independent from that in their gestural environments. In contrast, Nyst (2019), discussing the 17 results for size depiction in the lexicons of four West African SL and three SLs of European origin and their gestural environments, shows that there is a direct correlation between the patterns in the iconic use of the hand in SLs and their gestural environments. Moreover, the patterning observed suggests that West Africa functions as one type of gestural area (with all hearing, non-signing participants using body-based size and shape gestures), and the UK and the Netherlands as another one (with no hearing participants using body-based size and shape gestures), and France and Macedonia as a third one (with older hearing participants using body-based size and shape gestures, and younger ones not). In contrast, the present study finds no evidence for a coherent areal patterning: LaSiMa shows a preference for handling handshapes, LGG and LaSiBo demonstrate no significant preference, and AdaSL, NanaSL and GSL show a clear and significant preference for object handshapes. We do see some regional patterning, however, on a smaller scale; all three Ghanaian SLs pattern more or less alike, with a clear preference for object depiction. Thus, an explanation in terms of gestural environment may hold for a much smaller area, i.e. that of (Southern) Ghana (Nyst et al, 2021, p.20) Preview
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Esta extensa citação demonstra, tal como também é apontado pelos autores no decurso do artigo, que a linguagem gestual e as potencialidades da iconicidade são um campo de estudos que precisa de ser explorado e investigado. Todavia, tal como já Schembri afirmou no estudo a que nos temos vindo a referir, há uma potencial relação entre iconicidade e MM:
signers often incorporate types of movement into these constructions that closely imitate the motion contour and features of the real-world events (...) the relationship between the use of mimetic movement in 18 signs representing the motion of people and objects and the imitative gestures of non-signers has also been the source of some contention (Schembri, p. 9) Em outros estudos, nomeadamente os de Golden Meadow (2017) descreve-se que os utilizadores de línguas visuais também usam linguagem gestual, como apoio ao discurso, ancorada no corpo, na expressão facial e em determinados movimentos. Outros estudos reconhecem que o cérebro da pessoa surda, utilizadora de uma língua visual, atribui valor gramatical a determinadas expressões faciais, algo que não corre com ouvintes também proficientes nessa língua. Desta forma, verifica-se que distinguir entre o que é gramatical e significativo daquilo que é paralinguístico pode ser ténue na análise destes idiomas. Alguns destes traços miméticos contribui, de facto para o significado, como no caso que anteriormente apontámos relacionado com os verbos ir/vir, outros reforçam-no como também veremos na execução gestual da nossa tradaptação. O que é inegável é que há um parâmetro, com ou sem base na linguagem Preview