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1. A Língua Gestual Portuguesa
As comunidades Surdas expressam as suas ideias, pensamentos, sentimentos e emoções através de uma língua visual. No território português existe uma comunidade que utiliza a Língua Gestual Portuguesa (LGP) com o é estatutariamente reconhecida ou, partindo de publicações recentes (Correia e Custódio, 2019), a Língua de Sinais Portuguesa (LSP). A LGP é um idioma minoritário, reconhecido na Constituição da República Portuguesa, no artigo 74.º, artigo 2, alínea h), afirmando-se que incumbe ao Estado “proteger e valorizar a língua gestual portuguesa, enquanto expressão cultural e instrumento de acesso à educação e da igualdade de oportunidades”. A LGP é uma língua humana que expressa os universais linguísticos em propriedades formais, tais como a arbitrariedade, a existência de nomes e verbos, a recursividade, a criatividade, entre outras materializações da capacidade da linguagem humana. Apesar disso, ainda há que desmistificar a ideia de que as línguas de sinais são sistemas paralinguísticos, semelhantes à mímica e à designada linguagem gestual. Na realidade, basta consultar um signo gestual simples, como ‘mulher’1, para percebermos que este idioma 9 1 Este vocábulo pode ser consultado em www.spreadthesign.com Preview
Amar pelos Dois
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está longe de ser uma gesticulação que mima referentes de forma aleatória e não organizada. Assim, estas línguas visuais organizam-se através de unidades mínimas e discretas, os queremas (Stokoe, 1965) que, combinadas, constituem significantes visuais de significados conceptuais. Estes queremas, com vários traços ainda por identificar, são 5: configuração da mão (CM), localização da mão (LM), orientação da palma da mão (OM), movimento da mão (MM) e expressão não manual ENM)2. Assim, estes queremas, unidades sem significado, podem combinar-se entre si de inúmeras formas e produzir 10 um sem fim de vocábulos com significado. Veja-se à direita, a título de exemplo, a representação gráfica do gesto de SURDO escrito em signwriting onde é possível constatar a existência dos 5 queremas já referidos. 2 Esta designação não é aceite nem usada por todos os linguistas. Por exemplo, Sandler e Lillo Martin (2001); Quadros & Karnopp (2004) preferem usar os mesmos termos aplicados às línguas orais, fonemas, argumentando que é necessária uma uniformização terminológica para o estudo das línguas, qualquer que seja a modalidade. Já Capovilla (2011) sugere nova terminologia, mais aprofundada ainda do que a de Stokoe (1965) que apenas se baseou na raiz grega Kyros, mão, para propor o termo chereme (querema). Capovilla assenta a proposta também na raiz grega, mas de cada um dos parâmetros, assim, propõe quiriformema (CM); quiritoposema (LM); quiricinesema (MM); Mascarema (ENM). O autor não apresenta proposta para OM, talvez por que não o considere autónomo, tal como Sandler & Lillo Martin (2006). Preview